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TALITA ARAUJO CAMPOS

ESTUDO SOBRE O ASSOREAMENTO EM


RESERVATÓRIOS

Campo Grande
2020
TALITA ARAUJO CAMPOS

ESTUDO SOBRE O ASSOREAMENTO EM


RESERVATÓRIOS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Instituição
Anhanguera/Uniderp, como requisito
parcial para a obtenção do título de
graduado em Engenharia Ambiental.
Orientador: Prof. Hugo Koji Suekame

Campo Grande
2020
TALITA ARAUJO CAMPOS

ESTUDO SOBRE O ASSOREAMENTO EM RESERVATÓRIOS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Instituição
Anhanguera/Uniderp, como requisito
parcial para a obtenção do título de
graduado em Engenharia Ambiental.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Hugo Koji Suekame

Prof. Leandro Guimarães Bais Martins

Profa. Marjolly Priscilla Bais Shinzato

Campo Grande, de de 2020.


CAMPOS, Talita Araujo. Estudo sobre o assoreamento em reservatórios. 2020.
32f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Ambiental) –
Instituição Anhanguera-Uniderp, Campo Grande, 2020.

RESUMO

Os reservatórios, independente de sua finalidade, orientação, dimensão e


particularidades de operação estão destinados a ter a sua capacidade de
armazenamento parcial ou totalmente saturada pelos sedimentos, desencadeando o
processo de assoreamento. O assoreamento em reservatórios retrata uma
consequência da diminuição da velocidade natural do curso d’água em decorrência
do represamento, resultando na deposição de materiais que não são carregados.
Conforme a localidade da deposição pode ocorrer enchentes a montante/jusante do
reservatório, além de erosão das margens de rios e do solo em geral, devido à
mudança do regime de vazões e a redução dos sedimentos. Essa deposição é
proveniente de processos erosivos ocasionados por diversos fatores como o vento, a
água, métodos químicos e físicos, intervenção humana, ou seja, aspectos que
fragmentam o solo e as rochas gerando sedimentos que são carregados e
depositados em áreas abaixo do relevo. A deposição e a emissão dos sedimentos
dentro de um reservatório têm relação com diversos fatores como: declividade de
escoamento, a geometria do reservatório, a forma como ele é manuseado, as
propriedades minerais das partículas finas e as particularidades químicas das águas.
O trabalho teve como objetivo geral, descrever as técnicas existentes a fim de
minimizar o processo de assoreamento em reservatórios. Foi realizada uma revisão
bibliográfica e descritiva. Concluiu-se que os impactos ambientais observados
possuem influência direta nos reservatórios e podem se intensificar com o tempo,
necessitando assim de ações de mitigação para o controle da qualidade do
reservatório, como: a reconstrução das matas ciliares e a recuperação das áreas
degradadas por resíduos sólidos.

Palavras-chave: Assoreamento. Reservatórios. Impactos ambientais. Sedimentação.


CAMPOS, Talita Araujo. Study on silting in reservoirs. 2020. 32f. Course Conclu-
sion Paper (Graduation in Environmental Engineering) - Anhanguera-Uniderp Institu-
tion, Campo Grande, 2020.

ABSTRACT

The reservoirs, regardless of their purpose, orientation, size and particularities of op-
eration, are destined to have their storage capacity partially or totally saturated by sed-
iments, triggering the silting process. The silting up in reservoirs portrays a conse-
quence of the decrease in the natural speed of the watercourse as a result of the dam-
ming, resulting in the deposition of materials that are not loaded. Depending on the
location of the deposition, floods can occur upstream/downstream of the reservoir, in
addition to erosion of river banks and soil in general, due to the change in the flow
regime and the reduction of sediments. This deposition comes from erosive processes
caused by several factors such as wind, water, chemical and physical methods, human
intervention, that is, aspects that fragment the soil and rocks, generating sediments
that are loaded and deposited in areas below the relief. The deposition and emission
of sediments inside a reservoir are related to several factors such as: slope of flow, the
geometry of the reservoir, the way it is handled, the mineral properties of fine particles
and the chemical characteristics of the waters. The work had as general objective, to
describe the existing techniques in order to minimize the silting process in reservoirs.
A bibliographic and descriptive review was carried out. It was concluded that the ob-
served environmental impacts have a direct influence on the reservoirs and may inten-
sify over time, thus requiring mitigation actions to control the quality of the reservoir,
such as: the reconstruction of riparian forests and the recovery of areas degraded by
solid waste.

Keywords: Silting. Reservoirs. Environmental impacts. Sedimentation.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Representação de uma área em condições normais, com pouco ou


nenhum assoreamento ......................................................................................... 16
Figura 2 - Representação de uma área assoreada, com sedimentos sendo
depositados no fundo do rio ................................................................................. 16
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AIA: Avaliação de Impactos Ambientais


ANA: Agência Nacional de Águas
ANEEL: Agência Nacional de Energia Elétrica
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MDT: Modelos Digitais do Terreno
RN: Referência de Nível
RTK: Real Time Kinematic
SGR: Sistemas Geodésicos de Referência
SIG: Sistemas de Informações Geográficas
UTM: Universal Transverso Mercator
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 8
2 PRODUÇÃO DE SEDIMENTOS E ASSOREAMENTO EM
RESERVATÓRIOS .................................................................................... 10
3 IMPACTOS AMBIENTAIS E PARTICULARIDADES DO
ASSOREAMENTO .................................................................................... 15
4 AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DO ASSOREAMENTO ................... 22
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 28
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 29
8

1 INTRODUÇÃO

A sedimentação é um processo natural decorrente de desgastes que atuam


sobre as rochas e também sobre o solo, onde a que a constituição do próprio solo é
resultado da sedimentação de formações rochosas preexistentes. O processo de
sedimentação decorre da exposição das estruturas sólidas do relevo aos agentes
externos da superfície ou agentes intempéricos, como: chuvas, transporte nos rios, os
ventos e as variações climáticas. Dessa forma, as rochas e os solos vão sendo
paulatinamente desgastados, transformando-se em partículas menores chamadas de
sedimentos.
Os sedimentos, susceptíveis ao arrasto, são retidos na entrada dos
reservatórios e nos afluentes formando um delta pluvial. Esses sedimentos são
provenientes do solo exposto em decorrência da remoção da vegetação e
esgotamento desse solo pelo se incorreto uso, ocasionando o assoreamento dos
reservatórios. Os reservatórios, independente de sua finalidade, orientação, dimensão
e particularidades de operação estão destinados a ter a sua capacidade de
armazenamento parcial ou totalmente saturada pelos sedimentos, desencadeando o
processo de assoreamento.
As construções de barragens em trechos específicos de rios geram o
armazenamento de água para irrigação, navegação, abastecimento de água,
recreação e geração de energia elétrica. Porém, esses reservatórios também causam
desequilíbrio no curso do rio, levando a uma série de prejuízos ambientais e, em
algumas situações, irreparáveis. No Brasil, um grande número de reservatórios se
encontra totalmente ou parcialmente assoreado, principalmente os de pequeno e
médio porte.
O assoreamento em reservatórios retrata uma consequência da diminuição da
velocidade natural do curso d’água em decorrência do represamento, resultando na
deposição de materiais que não são carregados. Conforme a localidade da deposição
pode ocorrer enchentes a montante/jusante do reservatório, além de erosão das
margens de rios e do solo em geral, devido à mudança do regime de vazões e a
redução dos sedimentos. Tais fatores auxiliam na deposição de sedimentos
conduzidos pelo fluxo da água, desencadeando adversidades como redução do
volume do reservatório, inundações nas áreas de remanso, erosões a jusante na
9

barragem, carência de nutrientes e outras.


Estudos mais recentes focam no cálculo da produção de sedimentos a partir de
programas de monitoramento da descarga sólida ou pela mensuração do volume de
sedimentos acumulados em reservatórios e lagos, desconsiderando a distribuição
granulométrica, bem como a análise espacial e temporal dos mesmos dentro do
reservatório.
A pesquisa pretende contribuir na busca de meios para mitigar esse processo,
através de ações capazes de minimizar e/ou controlar o aporte de sedimentos ao
reservatório. Muitos desses meios são de complexa realização, uma vez que o
sedimento é decorrente da erosão em toda a área de drenagem no local da barragem.
Uma das medidas preventivas mais perceptiva no controle de sedimentos diz respeito
às regiões das cabeceiras dos rios, a alta bacia, que têm grande contribuição de
escoamento, e pequena proporção de carga sólida. Preservar as florestas nessas
regiões é essencial para que não se tornem responsáveis por grande produção de
sedimentos.
Diante do exposto a pergunta do problema de pesquisa que surgiu foi: as
técnicas de assoreamento existentes são capazes de minimizar o fenômeno em
reservatórios?
O trabalho teve como objetivo geral, descrever as técnicas existentes a fim de
minimizar o processo de assoreamento em reservatórios. Os objetivos específicos
foram separados por capítulos, onde o Capítulo 1 pretendeu descrever as causas do
assoreamento dos reservatórios; o Capítulo 2 buscou apresentar as formas de
prevenção e redução do impacto ambiental negativo do assoreamento; e o Capítulo 3
procurou discorrer sobre o monitoramento da evolução do assoreamento em
reservatórios.
Foi realizada uma revisão bibliográfica e descritiva, com buscas nas bases de
dados Web of Science, Taylor & Francis Online, Scopus, SAGE, Google Schoolar,
sites de bibliotecas de Faculdades e Universidades; em livros, revistas científicas,
outros periódicos, monografias, dissertações e teses relacionadas à temática. A
revisão foi baseada em artigos científicos publicados, preferencialmente, nos últimos
dez anos, nas línguas portuguesa, inglesa ou espanhola, disponíveis gratuitamente e
online. Foram utilizados os seguintes descritores para busca: assoreamento,
reservatórios, transporte de sedimentos, sedimentação.
10

2 PRODUÇÃO DE SEDIMENTOS E ASSOREAMENTO EM RESERVATÓRIOS

São encontradas inúmeras causas que favorecem, consideravelmente, o


aumento da exploração dos recursos naturais, onde o crescimento econômico
impulsionou demasiadamente o potencial de exploração dos sistemas naturais, no
que se refere ao uso dos sistemas ambientais, com maior interferência no ambiente
natural. Esse desenvolvimento tem desencadeando impactos ambientais cada vez
mais agressivos, favorecendo o desequilíbrio dos padrões que regem políticas de
sustentabilidade ambiental (CRISPIM; SOUZA, 2016).
Crispim e Souza (2016) explicam que são escassos os estudos direcionados
às bacias de drenagem, principalmente relacionados aos projetos de construção de
barragens e atividades agropastoris, o que prejudica o planejamento territorial das
áreas urbanas e rurais. As bacias hidrográficas representam áreas importantes e que
realizam a drenagem de água para um único local. Elas possuem grande importância
na recuperação de áreas degradadas, devido ao fato de grande parte dos danos
ambientais que ocorrem na superfície terrestre estarem situados nas bacias
hidrográficas.
A carga de fluxos entre matéria e energia de uma bacia hidrográfica está
relacionada de montante para jusante da bacia, ocasionando alterações em todo o
quadro ambiental da bacia. A degradação ambiental da cobertura vegetal gera um
desgaste dos solos, que leva a processos de erosão, bem como um expressivo
aumento no transporte de sedimentos ao longo do canal fluvial, além da progressiva
redução da matéria orgânica do solo (CRISPIM; SOUZA, 2016).
Sedimento pode ser caracterizado como todo o material gerado da
fragmentação ou decomposição das rochas ou de materiais biológicos possíveis de
serem transportados por um fluido. Entre 70 a 90% de todo o sedimento carreado
pelos cursos d’água afluem em épocas de chuvas, já que nesses períodos a erosão
causada pelo impacto das gotas de chuva é maior, principalmente durante as
precipitações de maior magnitude (RIBEIRO, 2017).
A erosão, o transporte e a deposição de sedimentos são ocorrências naturais
do meio ambiente, quem vem ocorrendo celeremente e de forma exacerbada pela
ação do homem. Outros prejuízos ambientais e econômicos despontam de irregulares
desmatamentos, de agricultura e pastagem extensivas e abundantes, de
11

levantamento de edificações sobre a bacia hidrográfica, que geram consequências


como a ampliação dos processos erosivos, o deslocamento de sedimentos e
contaminantes nos cursos de água e o assoreamento de rios e reservatórios. A
degradação das matas ciliares, bem como a utilização das bacias hidrográficas na
agricultura cooperam no estímulo do processo de assoreamento e erosão das
margens dos cursos hídricos, além de prejudicarem o equilíbrio do ecossistema, a
qualidade da água, expansão do transporte de sedimentos e a perda de nutrientes.
(PEIXOTO, 2019).
A edificação de uma barragem e a constituição do seu reservatório alteram as
condições naturais do curso d’água. No que se refere à condição sedimentológica, as
barragens produzem uma atenuação da velocidade da corrente levando a deposição
progressiva dos sedimentos conduzidos pelo curso d’água, podendo acarretar o
assoreamento, reduzir gradativamente a capacidade de armazenamento do
reservatório e dificultar o desempenho do aproveitamento, além de desencadear
problemas ambientais de diversas naturezas (CARVALHO et al., 2008).
A deposição e a emissão dos sedimentos dentro de um reservatório têm
relação com diversos fatores como: declividade de escoamento, a geometria do
reservatório, a forma como ele é manuseado, as propriedades minerais das partículas
finas e as particularidades químicas das águas (LIMA et al., 2007).
Lima et al. (2007) relatam sobre as duas categorias de transporte sólido em
suspensão, uma correspondente à carga de lavagem da bacia e outra que equivale
ao transporte do material que constitui o material do leito. Em relação à carga de
lavagem, o material normalmente é muito fino, com dimensões na faixa de silte e
argila, e permanece quase que constantemente em suspensão, sem chegar a se
depositar. Já a fração mais grossa da carga de lavagem, quando penetra no
reservatório pode se depositar, conforme o do tempo de residência ou outros fatores
de natureza físico-química que viabilize a floculação e posterior decantação.
Lima et al. (2007) continuam elucidando sobre a fração mais fina, que é capaz
de se manter em suspensão por mais tempo na configuração até de suspensão
coloidal, podendo transpor os limites do barramento, sem chegar a assorear. Com
relação aos sedimentos em suspensão decorrentes do leito do rio, são
moderadamente mais graúdos, nas faixas da areia fina.
Os recentes reservatórios desempenham diversas finalidades, dentre elas, o
12

controle de cheias, abastecimento de água, produção de energia elétrica, irrigação,


navegação, pesca e lazer. A estrutura da barragem também representa um obstáculo
para o transporte de sedimentos. O assoreamento diminui a capacidade de
armazenamento de água reduzindo a vida útil da função ao qual o reservatório foi
construído (MEZINE, 2015).
Os grandes reservatórios no Brasil, como por exemplo, aqueles construídos
para geração de energia, em decorrência do aumento da demanda, acabam
ampliando a quantidade de edificações. A gestão inadequada dessas obras acaba
levando a redução do seu tempo de vida útil, em decorrência do processo de
assoreamento dos reservatórios, desencadeando uma redução do volume de água
utilizável e consequente diminuição da quantidade de energia gerada. O acúmulo de
material particulado nas bacias representa uma situação irremediável, devido a
atenuação no regime de fluxo, no entanto, o assoreamento é um processo capaz de
ser administrado e reduzido. Alguns estudos, realizados nos últimos anos e referentes
ao assoreamento de reservatórios de usinas hidrelétricas tencionaram a manutenção
e a redução da perda de sua vida útil (CABRAL, 2009).
O assoreamento do reservatório é um processo que ocorre em virtude da
formação de um lago manso no lugar de um curso d’água que fluía celeremente. Tal
fato se sucede devido à alteração da morfologia do rio, levando a sedimentação e
deposição no leito, podendo preencher um espaço no lago e reduzir a capacidade do
reservatório. As adversidades relacionadas à sedimentação advêm das condições
locais de cada reservatório, onde poucos não sofrerão impactos, enquanto outros
podem ter a capacidade reduzida em cerca de 5% ao ano (MEZINE, 2015).
Geralmente, o curso d`água indica o equilíbrio em relação ao transporte de
sedimento, tanto pelo arrasto e saltitação próximo ao leito, como pela suspensão na
corrente, apontando uma propensão natural para que o sedimento seja depositado
durante o fluxo natural da água com menor velocidade (ou alteração do fluxo),
segundo a maior ou menor granulação das partículas e a menor ou maior turbulência
do escoamento (CABRAL, 2005).
Cabral (2005) esclarece que a ocorrência da construção de um reservatório
leva a uma alteração das particularidades hidráulicas da passagem, entre a barragem
e a montante, podendo modificar o estado de equilíbrio do fluxo, acarretar inúmeras
mudanças no processo fluvial, que possibilita a desaceleração do movimento das
13

partículas na direção da corrente, fazendo com que as partículas sólidas de maior


diâmetro, como areia grossa e pedregulhos se depositem adjacentes a entrada do
reservatório (final do remanso). A sustentação das partículas finas recebe influência
da viscosidade, acumulando-se trecho mais baixo do reservatório ou conservando-se
em suspensão, atingindo os órgãos de descarga.
Cabral (2005) segue explicando que os sedimentos são suscetíveis ao arrasto,
ficando estagnados na entrada do reservatório e nos afluentes produzindo um delta
pluvial. Esses sedimentos se principiam do solo exposto em decorrência da evasão
da vegetação e depleção do mesmo pelo emprego incorreto, gerando o assoreamento
dos reservatórios.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2008, realizou uma
Pesquisa de Informações Ambientais e constatou que o assoreamento de corpos
d’água é o terceiro impacto ambiental que mais acomete a qualidade de vida da
população urbana, sendo referida por mais de 50% dos municípios brasileiros (IBGE,
2008).
Os sedimentos que se depositam pela ação do reservatório se alastram para
montante e para jusante, sem distribuição uniforme, mesmo dentro do lago. A
deposição de montante recebe o nome de depósito do remanso (backwater deposit),
uma alusão ao episódio hidráulico, sendo também remontante conforme o aumento
dos depósitos nessa área. As deposições ocorridas dentro do reservatório são
denominadas delta, depósito de margem (overbank) e depósito do leito (bottom-set
deposit). O delta é constituído de sedimentos grossos; já os depósitos do interior, com
sedimentos mais finos. As enchentes concebem outro tipo de deposição,
desenrolando-se no decorrer do curso d’água e do reservatório, composto por
sedimentos finos e grossos e recebe o nome de depósito de várzea ou depósito de
planície de inundação (CARVALHO et al., 2008).
São encontrados alguns métodos para se estipular a descarga sólida em
suspensão, do leito ou total, e são realizadas por medições diretas e indiretas. A
medição direta necessita de um cálculo simples, enquanto a indireta se estabelece de
forma mais intrincada, onde o valor final da descarga sólida é determinado por
fórmulas de maior complexidade e com valores menos usuais. A medição da descarga
sólida em suspensão é verificada para se ter conhecimento do valor do transporte em
suspensão, concentração de sedimentos e da distribuição granulométrica, sendo suas
14

grandezas fundamentais a concentração e descarga líquida (RIBEIRO, 2017).


Ribeiro (2017) diz ainda que, para realização de estudos de trechos de rios ou
de reservatórios é necessário ter conhecimento ou monitoramento da afluência de
sedimentos em, pelo menos, 80% da bacia contribuinte, sendo importantes
informações da descarga solida em suspensão e da sólida total. Já A avaliação do
assoreamento é essencial para a determinação da vida útil do reservatório. Do ponto
de vista sedimentológico, o final de sua vida útil é quando os sedimentos passam a
interferir diretamente na função do reservatório.
Existem vários tipos de equipamentos de medida ou de amostragem em
suspensão que são categorizados como: instantâneos ou integradores; portáteis ou
fixos; de bocal ou com bico, instantâneos pontuais, pontuais por integração e por
integração na vertical; amostrador de tubo horizontal, de garrafa, de saca
compressível, de bombeamento, de integração, fotoelétrico, nuclear, ultrassônico
ótico, ultrassônico de dispersão, ultrassônico Doppler. Os equipamentos também
podem ser classificados pela inclinação de seus bicos ou bocais como na direção da
corrente ou em 90° com a corrente (CARVALHO et al., 2008).
Carvalho et al. (2008) explicam que os equipamentos mais utilizados no país
para amostragem de sedimento em suspensão são os da série norte-americana, do
tipo de garrafa, de saca compressível e medidor pontual com recipiente, para
determinação da carga sólida por método indireto. Os equipamentos para coleta de
sedimento do leito, para medição indireta, são aqueles do tipo de penetração
horizontal ou vertical.
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3 IMPACTOS AMBIENTAIS E PARTICULARIDADES DO ASSOREAMENTO

Miranda (2010) explica que impacto ambiental representa qualquer alteração


física, química ou biológica do meio ambiente, gerada por alguma matéria ou energia,
derivada das atividades humanas que atingem a saúde, a segurança e o bem-estar
da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e
sanitárias do meio ambiente e a qualidade dos recursos ambientais, levando a
grandes alterações no meio.
A partir do momento em que o homem passou a modificar a natureza para os
mais diversos fins, ele passa a ser um agente transformador bem importante ou até
mesmo um acelerador das ações ou contra as ações naturais. Com isso, os seres
humanos vêm constantemente remodelando os seus arredores ambientais, trazendo
diversas mudanças, principalmente as mais negativas para a natureza. Os rios são
constantemente degradados pelos seres humanos ao longo dos tempos por inúmeros
objetos, principalmente o descarte de lixos, de esgoto não tratados (MIRANDA, 2010).
O processo de assoreamento segue o seguinte fluxo: através das chuvas, o
solo é lavado, onde a sua camada superficial sofre remoção, e os sedimentos
(partículas de solo e rochas) são transportados por escoamento na direção dos rios,
onde são depositados. Na ausência de obstáculos para conter esses sedimentos,
função normalmente exercida pela vegetação, um grande volume se deposita no
fundo das redes de drenagem (PENA, s/d).
O material depositado é carregado pelo próprio rio e, nos locais mais planos,
onde se observa a desaceleração da velocidade do curso d'água, ele se deposita ao
fundo formando acúmulos, e posteriores bancos de areia no decorrer do curso d'água.
Quando o volume de sedimentos é amplo e pesado, o mesmo é transportado por
rolamento (no fundo dos rios) ou se acumulam no leito normal, gerando danos ao
escoamento fluvial. Quando os indivíduos removem a vegetação, particularmente a
mata ciliar (vegetação localizada nas margens dos cursos d'água), o processo de
assoreamento se acentua, além de despontar o aparecimento de erosões nas
proximidades do próprio rio, de acordo com a Figura 1 e a Figura 2 (PENA, s/d).

Figura 1 - Representação de uma área em condições normais, com pouco ou nenhum


assoreamento
16

Fonte: PENA, s/d

Figura 2 - Representação de uma área assoreada, com sedimentos sendo


depositados no fundo do rio

Fonte: PENA, s/d

O assoreamento torna-se ainda pior quando, além dos sedimentos, lixo e


esgoto são depositados sobre o rio, acumulando ainda mais dejetos em seu leito. Para
suprimir o assoreamento, a melhor maneira é trabalhar na sua prevenção, refreando
os processos erosivos em áreas próximas às drenagens, além de impor barreiras para
que os sedimentos não se acumulem rapidamente sobre elas (PENA, s/d).
O assoreamento observado nos rios tem diferentes causas, mas a mais
importante é o desmatamento. Além disso, nas cidades, a areia utilizada na
construção civil também pode ser carreada para os rios, ocasionando o
17

assoreamento. As questões de conservação que afetam os rios, principalmente os


tropicais, são complexas e resultam de combinações específicas de fatores
socioeconômicos e respostas ecológicas que estamos apenas começando a entender
(SMITH et al., 2019).
As realidades socioeconômicas que levam a ocupação desordenada das áreas
de preservação permanente, bem como a especulação imobiliária, resultam na
degradação dos rios, ao mesmo tempo em que estes respondem à degradação de
forma que não podem ser esperadas com base em nossa compreensão atual.
Estratégias bem sucedidas de conservação requerem uma compreensão clara de
como os fatores socioeconômicos atuam como forças motrizes e como os rios
respondem a essas forças (SMITH et al., 2019).
As consequências dos impactos ambientais ao homem são difíceis de
mensurar, pois, o ser humano não compreende a manifestação real natural do meio
ambiente em prol de uma verdadeira recuperação dos prejuízos causados a esse
meio. O homem é responsável pelas transformações e modificações catastróficas que
alteram os cursos de rios, secam os lagos, geram barramentos, ou encurtam os
caminhos da água para o mar através de construções de estradas, áreas pecuaristas,
sem pesquisas adequadas, no intuito de facilitar o acesso dos veículos (SILVA et al.,
2018).
O homem cria camadas impermeabilizantes de borracha ou de concreto na
superfície das águas, impossibilitando que a mesma se infiltre no solo e cumpra o seu
papel de abastecer os lagos e rios subterrâneos. O indivíduo não reflete sobre as
sérias consequências ao meio ambiente, desencadeando ações antropogênicas,
inclusive pelo acesso rápido das águas através da superfície para lugares mais
baixos, provocando alagamentos, deslocamento de materiais para lagos, rios, mar
que irão se decantar e gerar assoreamento, além de outros transtornos e diversos
problemas de saúde e ao meio ambiente (SILVA et al., 2018).
Para que os rios possam ser valorizados pela população, é necessário um
trabalho de conscientização e elaboração de projetos participativos que os
qualifiquem, mais do que a simples aprovação de leis e regulamentos. O
desassoreamento é um procedimento de dragagem ou limpeza do leito do rio. A causa
das enchentes não se resume ao rio e está associada também ao volume de chuvas,
ao escoamento superficial, à impermeabilização do solo, às condições dos tributários
18

(córregos, afluentes do rio principal), entre outros. A extração de materiais dos rios
incide em efeitos imediatos na dinâmica fluvial, uma vez que ocasiona mudanças nos
padrões ligados ao fluxo de sedimentos, bem como o seu transporte. Essas
modificações no canal do corpo hídrico podem ser propagadas na porção a jusante e
a montante, impactando negativamente os ecossistemas aquáticos e alterando os
parâmetros físicos e químicos da água (nutrientes, materiais sólidos em suspensão)
(OLIVEIRA; MELLO, 2016).
Observam-se, no Brasil, perdas de solos superiores a 20 toneladas por hectare,
por ano. Isto equivale à retirada de quatro caminhões de terra de cada hectare,
anualmente. Perde-se, assim, o que há de mais precioso nos solos, que é sua camada
superficial, onde se encontra a maior parte dos nutrientes. Mesmo os solos
originalmente férteis, como as lendárias “terras roxas”, se manejados incorretamente,
serão degradados em menos de uma geração. As baixas produtividades e os
prejuízos são as etapas seguintes do processo, cujas consequências finais serão
sentidas nos grandes centros urbanos, destino da maior parte dos deserdados da terra
(MORAES; JORDÃO, 2002).
Os prejuízos do processo erosivo extrapolam a fronteira, levando o sedimento
aos cursos d’água, particularmente o mais grosseiro (areia), que irá preencher as
calhas dos rios e o fundo dos lagos e reservatórios. Depois, na época das chuvas, o
escoamento dos rios, que originalmente não causa problemas, se eleva a níveis de
enchentes, pois o sedimento está ocupando sua calha natural. O tratamento dos
efeitos é mais eficaz do que cuidar das causas. O caso do assoreamento não é
diferente. Como ele é apenas o efeito final do processo de erosão e degradação
generalizada na bacia, os melhores resultados (e os mais duradouros) são obtidos por
meio de ações conservacionistas integradas na mesma (MORAES; JORDÃO, 2002).
Cabral (2005) apresenta algumas orientações para o controle do assoreamento
de reservatórios como: informar-se sobre o local da formação de sedimentos; da
deposição dele; e tentar realizar o controle da deposição. O processo de
assoreamento pode ser monitorado e diminuído através de três parâmetros: redução
da quantidade final de sedimentos que penetra no reservatório através da contenção
da erosão da bacia e da retenção de sedimentos; retirada dos sedimentos de forma
mecânica como, por exemplo, a dragagem e; passagem do escoamento saturado de
sedimentos através do reservatório e posterior liberação por descarga de fundo
19

situada na barragem.
Conforme a sua localização no reservatório, os depósitos são geralmente
classificados como (CABRAL, 2005):
• Depósito de remanso: formados pelos materiais de maior granulometria, como
os seixos, que se depositam no final do remanso, ligeiramente acima do nível máximo
do reservatório. Na teoria esses depósitos podem progredir tanto para dentro do lago
como para montante, já que o crescimento do depósito implica na extensão do efeito
de remanso. Esse crescimento será limitado, à medida que o escoamento ajusta seu
canal através dos depósitos, atingindo uma relação largura - profundidade ótima seja
pela eliminação dos meandros, ou pela variação da forma do fundo. Os impactos deste
tipo de depósito são as enchentes a montante;
• Deltas: a formação do delta é condicionada pela variação do nível d’água.
Possui partículas do tamanho de areia ou maiores, que geralmente se depositam logo
que o escoamento penetra o reservatório. Este tipo de depósito reduz gradualmente
a capacidade útil do reservatório;
• Depósito de fundo ou leito: reduzem o volume morto do lago com as partículas
de silte e argila que são geralmente transportadas para jusante dos deltas e se
depositam no trecho mais baixo do reservatório. A forma desses depósitos depende
principalmente das características minerais das argilas e das características químicas
da água.
Outros depósitos citados pelos autores supracitados são os depósitos de
margem (overbank), que são provocados pela deposição dos sedimentos trazidos
pela água e pelo vento e; os depósitos de várzea ou de planície de inundação, que
são produzidos pelas enchentes, ocorrendo ao longo do curso d’água e do
reservatório, formado por sedimentos finos e grossos (CABRAL, 2005).
As medidas corretivas e preventivas do assoreamento necessitam de
pesquisas específicas, que levem em consideração a dinâmica sedimentar desde as
áreas fonte até as áreas de deposição. Tais pesquisas devem considerar amostragens
diretas (conseguidas por draga e piston core) e indiretas, através de dados geofísicos
e ensaios laboratoriais, além da caracterização qualitativa e quantitativa dos
depósitos. As medidas preventivas pressupõem o controle e a prevenção da erosão
nas áreas de produção de sedimentos e a corretiva, pressupõe-se a dragagens,
aproveitamento mineral dos depósitos e obras hidráulicas específicas (GÓES FILHO,
20

2004).
No método de dragagem hidráulica, as dragas hidráulicas se diferenciam das
mecânicas em seu mecanismo que, ao invés de escavar o material, usa bombas de
dragagem que fazem a sucção e bombeamento do material sedimentado. A partir de
uma diferença de pressão, a bomba forma vácuo na entrada da tubulação de sucção
e faz com que a pressão da coluna de água force a entrada do sedimento a ser sugado
pela draga. As dragas hidráulicas são mais eficientes, versáteis e econômicas. Por
terem dimensões menores, elas são indicadas para locais de difícil acesso. Após a
sucção dos sedimentos, esses são dispostos em uma cisterna, que é responsável
pela separação do material mais pesado da água (GÓES FILHO, 2004).
A areia retirada é depositada no fundo da cisterna e, a partir de vertedores na
região superior, a água sugada no processo é devolvida para o meio. As cisternas
cheias, então, são enviadas para a disposição final do sedimento retirado. Devem ser
realizadas análises do material retirado do fundo do reservatório, visando sua correta
destinação final de acordo com a norma Resolução n° 344/2004 do CONAMA,
responsável pelas diretrizes e procedimentos de avaliação e disposição final do
material dragado (GÓES FILHO, 2004).
Mesmo quando não se observam volumes significativos de depósitos dentro da
porção útil do reservatório, o assoreamento passa por mais dois problemas principais:
a impossibilidade de operação de comportas de órgãos de adução e descarga, devido
ao acúmulo de material junto à barragem; e o prolongamento do efeito de remanso,
com a consequente elevação de níveis de enchente a montante, devido a depósitos
de material grosseiro na entrada do reservatório, uma vez que o prolongamento de
remanso implica na perda efetiva de capacidade útil (CABRAL, 2005).
Também é bem frequente ocorrer em áreas de remanso de lagos e
reservatórios, a forma de deltas arenosos, que contribuem com a retenção dos
sedimentos vindos de montante. Os materiais argilosos são transportados mais
facilmente para o interior dos lagos, sendo os primeiros a atingirem a tomada d'água
nos reservatórios (CABRAL, 2005).
21

4 AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DO ASSOREAMENTO

O estudo geomorfológico dos canais fluviais é de fundamental importância para


a compreensão do aumento da degradação ambiental nas encostas fluviais. Sabe-se
que a degradação das margens tem relação direta com o desmatamento ciliar para
ocupação irregular, ou seja, os problemas ambientais estão relacionados ao uso
incorreto do solo e a exploração dos recursos naturais. Dessa forma, a retirada da
cobertura vegetal nas margens intensifica a erosão do solo, contribuindo com o
assoreamento dos rios (SOUSA et al., 2013).
Alguns processos de assoreamento são mais céleres que o planejado, cuja vida
útil média dos reservatórios existentes em todos os países no mundo decresceu de
100 para 22 anos nos últimos 50 anos, calculando-se em seis bilhões de dólares
anuais as despesas para promover a remoção dos volumes que vão sendo
assoreados, e esse problema vem se agravando com o aumento da erosão nas bacias
hidrográficas. No Brasil, a perda anual de volume dos reservatórios, é de
aproximadamente 0,5% O assoreamento ocorre em regiões rebaixadas como o fundo
de vales, rios, mares ou qualquer outro lugar em que o nível de base da drenagem
permita um processo deposicional (MIRANDA, 2007).
O assoreamento dos reservatórios compreende o reflexo das condições
naturais da bacia hidrográfica, como o grau de desenvolvimento e metodologias das
suas atividades antrópicas. O método contemporâneo para determinação do valor do
assoreamento do reservatório representa a utilização dos fundamentos do
georocessamento. Esta metodologia é chamada levantamento batimétrico
automatizado (MIRANDA, 2007).
A batimetria é a medição da profundidade dos oceanos, lagos e rios e é
expressa cartograficamente por curvas batimétricas que unem pontos da mesma
profundidade com equidistâncias verticais, à semelhança das curvas de nível
topográfico. A batimetria serve para posterior geração de um modelo topográfico do
relevo, da superfície do terreno submerso. Diversos instrumentos podem ser
empregados na medição de profundidades, dentre eles: o prumo de mão, a máquina
de sondar, as estádias e os ecobatímetros. O princípio fundamental de funcionamento
de um ecobatímetro consiste em que um feixe de ondas sonoras seja emitido
verticalmente por um dispositivo instalado na embarcação. O feixe atravessa o meio
22

líquido e atinge o fundo submerso, reflete e retorna para a superfície, onde é captado
por um receptor (CARVALHO, 2008).
O levantamento batimétrico é uma ação de um levantamento hidrográfico e tem
a finalidade de calcular a profundidade do fundo submarino, rios, córregos, lagos
artificiais e naturais, aliando com a sua posição espacial. Na coleta de informações
são empregados ecobatímetros, sonares de varredura lateral, perfilamento a laser,
imagens de satélites, entre outros (KUWAJIMA, 2012).
Os levantamentos batimétricos também possuem o intuito de medir o volume
de reservatórios de águas artificiais. Através de séries temporais de informações é
possível conseguir o volume assoreado, confrontando com os Modelos Digitais do
Terreno (MDT). Esta comparação pode ser realizada utilizando dados obtidos
inicialmente, antes do preenchimento do reservatório, e um levantamento batimétrico
realizado após a formação do lago, ou comparando duas campanhas batimétricas
realizadas em diferentes momentos após o preenchimento do lago. A coleta de dados
envolve as fases: planejamento do recobrimento batimétrico, levantamento de campo,
processamento dos dados e elaboração de mapas digitais, geração de curvas cota
área e cota volume, e MDT (KUWAJIMA, 2012).
Os principais objetivos de um levantamento batimétrico, com intuito de avaliar
o assoreamento são: Determinação do volume de água do reservatório na época do
levantamento; Determinação da área do espelho d’água na época do levantamento;
Obtenção das curvas cota x área x volume para época do levantamento;
Determinação da geometria do leito; Análise dos sedimentos acumulados;
Monitoramento temporal do sedimento assoreado, através da comparação de
levantamentos realizados em épocas distintas; Cálculo da capacidade de retenção de
sedimentos; Outros (PEDROTE, 2018).
A ANA (2013) recomenda que seja instalada na área de execução do
levantamento batimétrico pelo menos uma seção de réguas linimétricas, e no mínimo
uma Referência de Nível (RN) vinculada a esta seção. A quantidade de réguas
depende da declividade do espelho d’água do lago. Como alternativa para redução
das quantidades de seções de réguas linimétricas podem ser utilizadas as
coordenadas altimétricas obtidas pelo Real Time Kinematic (RTK) instalado no barco
em movimento.
Ecobatímetro: os ecobatímetros podem ser classificados pela frequência em
23

feixe simples (um transdutor) e multifeixe (um projetor e um hidrofone). A sonda de


feixe simples requer o conhecimento dos ângulos roll e pitch, descritos a seguir. A
largura do feixe depende do tamanho do transdutor e do comprimento da onda
acústica. Maior frequência ou maior transdutor está relacionada a menor feixe. Feixes
mais estreitos 2º (graus) a 5º (graus) são aplicados quando se deseja alta precisão
(ARTILHEIRO, 2006).
Em contrapartida, o geoprocessamento é um método complexo que possibilita
a representação do mundo, através da captura, armazenamento, processamento e
modelagem de dados especificados em um sistema de coordenadas geográficas ou
UTM (Universal Transverso Mercator) em meio digital. Cada ângulo, variável,
característica e/ou propriedade deste mundo real é representado por um único mapa
(plano ou camada e informação), gerando um conjunto. Cada mapa significa um
desenho plano apontando a natureza, a posição relativa e o tamanho da característica
selecionada dentro de uma área geográfica (MIRANDA, 2007).
Os instrumentos computacionais (softwares) do geoprocessamento recebem o
nome de Sistemas de Informações Geográficas (SIGs) e permitem a realização de
análises complexas com o uso das informações geográficas, sendo as principais
técnicas de aquisição de dados o sensoriamento remoto e o posicionamento por
satélites. Os SIGs tornam viável a automatização da produção de documentos
cartográficos. A utilização de técnicas de geoprocessamento vem sendo aplicada em
diversas áreas do conhecimento científico, como cartografia, transporte, saúde,
telecomunicações, saneamento, recursos hídricos e, principalmente, gestão do meio
ambiente (MIRANDA, 2007).
Monitorar o assoreamento de reservatórios artificiais destinados a geração de
energia elétrica é essencial, já que os depósitos de sedimentos diminuem a
capacidade de armazenamento de água, influenciando o funcionamento e
manutenção da usina. O volume assoreado dos reservatórios pode ser mensurado
utilizando dados cartográficos provenientes de épocas distintas, métodos, técnicas e
sistemas geodésicos de referência (SGR). Comparar dados levantados em diferentes
épocas com técnicas divergentes é relativamente complexo, pois, muitas vezes, as
diferenças encontradas entre os produtos utilizados nas análises não representam o
assoreamento. As divergências deminstrada por diferentes metodologias e
tecnologias afetam diretamente a análise dos resultados (MEZINE et al. 2016).
24

A medição do assoreamento do reservatório identifica se o depósito de


sedimentos não reduzirá a sua vida útil (econômica). Essa diminuição ocorre quando
os depósitos de sedimentos alcançam a soleira da tomada d'água impossibilitando a
operação adequada do empreendimento. Normalmente, o estudo da produção de
sedimentos é calculado a partir de programas de monitoramento da descarga sólida
ou através da medição do volume de sedimentos acumulados em reservatórios e
lagos, sendo ignorada a distribuição granulométrica, análise espacial e temporal dos
mesmos dentro do reservatório. No ano de 2002 o Brasil enfrentou uma grave crise
nesse setor, defrontando-se com reservatórios em níveis operacionais limitantes,
devido à diminuição do índice pluviométrico (ANEEL, 2003).
Monitorar e avaliar o assoreamento é fundamental para tomada de decisões.
Preocupada com esta situação a Resolução Conjunta Agência Nacional de Águas
(ANA)/Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) N° 03, de 10 de agosto de 2010,
tornou obrigatório o monitoramento da sedimentação através da análise quantitativa
de série de dados temporais. A avaliação do assoreamento é importante, pois mais
de 90% da matriz energética brasileira é proveniente de fontes hidráulicas.
Geralmente os estudos realizados são incompletos e não é dada atenção necessária,
pois a influência do assoreamento em grandes reservatórios, maior parte da geração
de energia elétrica brasileira, é de longo prazo. O volume assoreado calculado
utilizando séries de dados temporais nem sempre representam de fato a
sedimentação. É necessário avaliar os métodos, técnicas, época, escala e
compatibilizar os sistemas geodésicos de referência (CARVALHO et al., 2008).
Barbosa et al. (2014) explanam sobre algumas medidas para a redução do
assoreamento:
• Levantamento das condições de erosão da bacia (uso do solo,
desmatamentos etc.);
• Levantamento de postos sedimentométricos existentes ou desativados;
• Estudos existentes sobre o tema para a bacia;
• Coleta de dados hidrológicos e sedimentológicos necessários (série de
vazões, descarga sólida, granulometria do sedimento em suspensão e do leito e
outros). Na ausência de dados sedimentométricos e, também de hidrológicos, é
necessário a instalação e de operação de posto ou de rede hidrossedimentométrica
em curto prazo.
25

Os estudos referentes à previsão do assoreamento que deve ser efetuados


são:
• Processamento dos dados (obtenção de parâmetros, valores médios, peso
específico aparente, eficiência de retenção de sedimentos no reservatório, aumento
da taxa de erosão ou do transporte de sedimento, e outros);
• Tempo de assoreamento total do reservatório;
• Tempo de assoreamento até a altura da tomada d'água (vida útil);
• Alturas de depósitos no pé da barragem para 50 e 100 anos ou outros
tempos;
• Distribuição de sedimentos no reservatório para 50 e 100 anos, ou outros
tempos;
• Traçado das curvas cota x áreas x volume, originais e curvas com o
reservatório assoreado;
• Porcentagens do assoreamento do reservatório para os períodos
determinados;
• Quantidade de sedimento depositado no volume reservado para controle
de cheias;
• Declividade da camada de topo;
• Declividade da camada frontal;
• Efeitos das grandes enchentes e o transporte de sedimentos (para
pequenos reservatórios);
• Caso o assoreamento seja um problema dentro do dobro do tempo da vida
útil do aproveitamento (2x50 anos), considerando, inclusive, a taxa de aumento do
transporte de sedimento com o tempo, determinar quais as medidas preventivas de
controle do sedimento;
• Estudos de previsão dos efeitos de erosão no canal de jusante da
barragem;
• Controle preventivo de sedimento nas fases de planejamento;
• Controle preventivo e corretivo de sedimento na fase de operação;
• Outros estudos podem ser contemplados como o dos efeitos secundários
devido aos depósitos e à verificação do remanso considerando o assoreamento do
reservatório.
Na literatura foram encontradas outras formas de medição como movimentos
26

da embarcação: as medidas de profundidades são realizadas com a embarcação em


movimento, e devem estar vinculadas a um sistema de referência único. A origem
deste sistema não necessariamente deve coincidir com o centro de massa da
plataforma. Em levantamentos batimétricos e topobatimétricos realizados em
reservatórios artificiais e rios para estudos de vazão e assoreamento, o sistema de
coordenadas da embarcação coincide com a posição do transdutor e do receptor
GNSS, instalados na mesma linha de referência (vertical), e geralmente posicionados
na lateral da embarcação. Para calcular as profundidades reduzidas é necessário
corrigir os movimentos de translação e rotação que afetam o movimento uniforme da
embarcação. O sistema de coordenadas tridimensionais ortogonais da plataforma tem
origem no centro de massa da embarcação e é definido pela regra da mão direita
(NARDEZ, 2010).
Velocidade de propagação do som na água: as ondas eletromagnéticas se
propagam muito pouco nos líquidos, porém como solução para obtenção de
profundidades, as ondas acústicas, sônicas ou ultrassônicas apresentam uma
propagação adequada em meios elásticos, submetidos à vibração em função da
pressão (OHI, 2005).
Rêgo (2016) lembra que impactos ambientais no reservatório atingem todos
que utilizam o mesmo, sendo necessário um estudo destes impactos, ou seja, uma
Avaliação de Impactos Ambientais (AIA). Portanto, a AIA desponta como um estudo e
identificação dos possíveis efeitos ambientais de uma política, programa ou projeto,
com proposta de alternativas e medidas a serem adotadas para proteger o ambiente.
Uma das ferramentas mais comuns para AIA corresponde a uma matriz de impactos
ambientais. Esta matriz é composta por linhas e colunas onde são correlacionadas as
ações ou atividades degradantes e os componentes ou elementos ambientais
comprometidos
27

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos mostraram que os impactos causados nos reservatórios foram


decorrentes dos usos antrópicos nas bacias de drenagem e, principalmente, nas áreas
de preservação permanente e afetam a quantidade e qualidade da água dos
reservatórios. Atividades como a agricultura e a ocupação das margens podem levar
a um ambiente vulnerável, pela demanda elevada e pela retirada de água sem
autorização.
Os impactos ambientais observados possuem influência direta nos
reservatórios e podem se intensificar com o tempo, necessitando assim de ações de
mitigação para o controle da qualidade do reservatório, como: a reconstrução das
matas ciliares e a recuperação das áreas degradadas por resíduos sólidos.
Portanto os processos de assoreamento e erosão devem ser previstos como
forma planejamento o seu controle, com o intuito de aumentar o tempo de vida útil do
reservatório. Torna-se necessário cuidar de todos os fatores sociais e econômicos nos
projetos que envolvam barragens, principalmente, nos setores de assoreamento e
erosão.
28

REFERÊNCIAS

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x área x volume. Brasília: Superintendência de Gestão da Rede
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