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Fig. 1 | O primeiro dia 2A familia et Processos relacionais e comportamento profissional 1. A socializagao No dia em que nascemos, comecamos a ser integrados numa determinada sociedade © modo como o parto decorteu, o modo como fomos tratados e a roupa que nos vestiram iniciaram 0 nosso processo de socializacio, e este é um processo que nunca estaré aca- bado. Jé ouviste a expresso de que 0 homem é um animal social. Esta expresso transmite-nos a ideia de que o ser humano sé realiza a sua natureza no relaciona~ mento individual e grupal, isto 6, socialmente. De facto, como somos muito pouco providos de instintos, muito do que somos aprendemo-lo com os outros seres humanos. Através da socializacao, aprendemos a linguagem e 0 pensamento e, através destes, temos acesso & experiéncia acumulada por muitas geragdes. Por fim, nao nos podemos esquecer de que é através do proceso de socializacio que o ser humano constréi a sua propria identidade. A socializagao é o processo através do qual 0s individuos assimilam as normas e os valores do grupo social em que esto Inseridos, tornando-os desse modo membros desse grupo. Assim, © processo de socializago implica a aprendizagem de uma cultura especifica, que permite aos individuos integrarem-se e interagirem socialmente. Ed Aso «A vinculagao do bebé & pessoa que cuida dele marca a sua entrada no mundo socal. Este & pponto de partide da socialzacao, processo pelo qual a crianca adquire os padres de pensa mento e comportamento carateristicos da sociedade em que nasce. Mas a socializagéo 36 adquire importéncia mais tarde, durante a infincia, quando o individuo comeca a aprender 0 que deve fazer como memibro de uma sociedede.» acao H.Gletman, Pszologe Lisboa, Fundagio Calouste Gulbenkian, 198, Socializacao priméria e secundaria Existem dois tipos de socializagao: a socializagao priméria e a socializacao secundétia. Socializacao priméria Esta € a primeira fase da socializagio. Decorre durante a infancia e pode ser caraterizada como o primeiro pro- so de integrac3o do individuo no mundo social. A socializacao primaria desenvolve-se, sobretudo, no seio da familia e é um proceso marcado por uma forte com- ponente afetiva. Este tipo de socializacao esta habitual- mente ligado a aprendizagens genéricas, que servirao a todos independentemente das escolhas que fagam no seu percurso de vida, como os habitos de higiene, comer com talheres ou falar a lingua materna, Esta forma de sociali- zago é muito importante, pois constitui a base ou o fun- damento de todo 0 processo de socializagao futuro. ces 100 Socializagao secundaria Este tipo de socializagao inicia-se quando a crianga comeca a desenvolver aprendiza- ‘gens socials fora da familia e com a sua entrada na escola. Esta situacdo faz com que a crianga se integre em pequenos grupos, fora da familia, grupos esses que fazem parte de um grupo maior que é a sociedade. Este processo decorte, muitas vezes, em simultineo com a socializagao priméria, mas tem carater‘sticas muito diferentes. Tem um cardter mais formal e institucional e menos afetivo. Este tipo de socializagdo est habitualmente ligado a aprendizagens particulares, das quais dependerd 0 percurso de vida de cada um. Por exemplo, saber quais sao as responsabilidades de um pai é muito importante para quem tem filhos ou os quer vir a ter. Vejamos os seguintes exemplos. Quando a crianga entra para a escola e aprende as regtas de convivio e de trabalho daquela instituigdo, adaptando- se ao relacionamento com colegas, professores ¢ funcionérios, esta a realizar uma sociali- zago secundaria, Quando um jovem entra no mercado de trabalho e inicia o seu primeiro emprego, adaptando-se a novas responsabilidades contratuais, est4 também a realizar uma socializagao secundaria brocessos de socaizacso «A socializacao primara di respeito aos primeiros contactos sociais da crianca e dé-se com a presence daqueles que sao sig. rificativos € que Ihe apresentam a realidade em que vivem e como a percebem. E também neste contacto que a crianga comega a dar significado acs elementos culturas presentes na sociedade em que esté inserida. Faz parte desse processo 2 familia e as pessoas mais proximas da crianga Quando atinge a idade escolar, nica-se o processo de socia lzacZo secundér'a, no qual as pessoas envolidas s30 principal mente os professores & os colegas de escola No processo de socializacio primaria, nao ha escolha dos outros significativos. Nesta etapa estéo presentes os pais, irmios, avés,tios e todos aqueles que participam diretamente da vida da crianga, que passa a identificar-se automaticamente com eles, interiorizando a realidade particular das pessoas a sua volta passando a conhacer o mundo do outro como sendo o Unico mundo existente, por iss0, © mundo interiorizando pela ctianga ne socializagSo primaia torna-se muito mais enraizado na sua consciéncia do que os possiveis mundos conhecidos na sua socializagao secundaria\ Assim, deve-se considerar aimpor- tncia do cuidado que os outros significatives devem ter com ela, pois, estes serdo os responséveis pela maneira como a tianga olharé para si mesma, para os outros e para o mundo.» Prisca Tea ibeo, Pocessos de soialagio do lang. aguas consceragdes esis (adaptado) ano urimapbrpheg/monrasccemca/anai/mostal4/S51 pal Fig. 3 | Socializagio secundaria 101 Processos relacionais e comportamento profissional 2. A percecao do «self» 2.1. A formacado do autoconceito Todos nés temos ideias a respeito de nés préprios, ‘© é muito provavel que, em algum momento da nossa vida, coloquemos a questo: quem sou eu? Saber quem somos parece ser muito importante para nés. Muitas vezes, quando alguém nos prope uma determinada tarefa ou desafio, dizemos: «isso nao é para mim» ou «isso parece que foi feito para min». Isto revela que, ao longo da nossa vida, vamos construindo naturalmente uma imagem do nosso «eu», do nosso self —utilizando a designacao inglesa. A imagem ou a percecio que temos do self, 0 conhecimento que temos do self, é aquilo de os investigadores designam por autoconceito. A cons- trugdo do autoconceito comega na infancia e decorre ao longo da vida dos individuos. Fig. 4 | Que percegio temas de nds préprios? O autoconceito tem uma grande importancia para os individuos, pois tem implicagies na sua autoestima ¢ nos seus comportamentos. Algumas estratégias publicitarias explo- ram muito este aspeto ¢ funcionam no pressuposto de que, se alterarem o autoconceito de uma pessoa, alteram os seus comportamentos. O self foi estudado por varios investigadores, e nem todos dao a mesma relevancia aos ‘seus variados aspetos. William James, hd mais de cem anos, identificou dois aspetos do self. o self conhecido e o self conhecedor. O primeiro é aquele que mais nos interessa para compreendermos 0 que é 0 autocon- ceito. O self conhecido é 0 conjunto de crengas que temos acerca de nds proprios e, na verdade, corresponde ao autoconceito, Como afirma W. James, o self conhecido éyno 56 seu corpo e as suas faculdades psiquicas, mas também as suas roupas, a sua esposa € 0s seus filhos, além de antepassados e amigos, reputacao e obras, terras e cavalos, iate e conta bancéria». O self conhecido é composto por trés dimensdes: o self material, o self social e o self espiritual. Isto quer dizer que o nosso autoconceito tem trés dimensées. Fig. 5 | William James, +(Q self mate. Este diz respeito & ideia que temos acerca da nossa aparéncia ou caraleristicas fisicas. Por exemplo, uma pessoa pode achar-se bonita ou feia,frdgil ou robusta. = Este refere-se Aquilo que os outros conhecém de nés préprios. Por Seria es Giis pate pode be dela lo que €o une podson eaporceslo aber Thadora, 0s teus amigos podem ter a ideia de que és uma pessoa aventureira ¢ leal € 0s teus colegas podem tera ideia de que és uma pessoa competente, mas individua- lista, Em parte, a ideia que temos de nés proprios depende da ideia que os outros tém de nés. +O self espiritual Este tem a ver com conhecimento que temos acerca dos nossos Tragos de personalidade, dos nossos valores, das nossas atitudes e das nossas perce- Ses sociais. Por exemplo, podes considerar-te uma pessoa teimosa, solidaria e sim patie, 102 O segundo, o self conhecedor, é 0 puro ego, responsdvel por criar representagdes i Atividades «Solicitou-se, num estudo, a proprietarios de residéncias suburbanas que acedessem a um. pedido inécuo, 0 de colocarem uma tabuleta de aviso de 7,5 em na janela defendendo a segu- ranga automével. Duas semanas mais tarde, outro experimentador veiovisitar os proprietarios ue haviam concordado em colocar o pequeno aviso. Desta vez, pediu-se-Ihes que acedessem a um pedido muito maior, que permitissem a instalagdo de uma enorme tabuleta no relvado da frente, dizendo“conduza com cuidado”, em enarmes letras e tapando a maior parte da casa, Os resultados mostraram que 0 acordo dependia do acordo anterior. Tendo acedido a0 primeico pedido, os individuos acediam mais frequentemente ao pedido maior (Freeman ¢ Fraser, 1966). Uma interpretagao desta e de outras descobertas semelhantes consiste numa mudanga de percegdo de si proprio (Snyder e Cunningham, 1975). Tendo anuido em colocar um pequeno aviso, 0s sujeitos passaram a considerar-se cidaddos ativos envolvidos numa questao piiblica. Como ninguém os forgara a colocar o aviso, atribuiram a sua agao as convicges proprias. Dado que se consideravam agora individuos ativos, convictos ¢ aplicados, estavam prontos a desempenhar esse papel numa maior escala.(...].» 1H. Gleitman, Pscoaga Lisboa, Fundagio Calouste Gulbenkian 1998 1. Por que razio as pessoas aceitaram fazer uma coisa que, a partida, nao seria provével que aceitassem, como o colocar uma tabuleta enorme no seu jardim? 2.0 que demonstra esta experiéncia? 2.2. O sentimento de valor: a autoestima Se 0 autoconceito responde a pergunta «Quem sou eu?», a autoestima resulta da ava- liagao, positiva ou negativa, que os individuos fazem de si mesmos. Estas avaliagdes sio feitas a partir das percegdes e das ideias que os individuos tém acerca de si mesmos, isto 6, do autoconceito. E por esta razdo que a autoestima e 0 autoconceito, apesar de serem conceitos diferentes, sao indissocidveis, Sea autoestima resulta de uma avaliagdo que os individuos fazem de si mesmos, como se constréi a autoestima durante esse processo de avaliacao? Se o individuo valoriza muito determinadas carateristicas ou qualidades e perceciona em si esas mesmas qualidades num grau muito elevado, é natural que desta percegdo resulte uma autoestima elevada. Pelo contrétio, se um individuo valoriza muito determinadas carateristicas ou qualidades ‘e nao as perceciona em si ou perceciona-as num grau pouco significante, entdo é natural que desta percecdo resulte uma autoestima baixa. A infancia & um period muito importante no desenvolvi- mento da autoestima. Brik Erikson, ao referir-se a segunda idade, autonomia versus vergonha e drivida, mostra-nos que na resolugao positiva desta idade a crianga deverd desenvolver 0 sentido de controlo sobre si prépria e a crenca de que € capaz de realizar as suas tarefas sozinho. Ora, isto pressupée 0 desenvolvimento positivo da sua autoestima. A autoestima dos individuos tem uma grande influéncia nas suas atitudes e nos seus comportamentos. Uma autoestima elevada 6 geradora de sentimentos de bem-estar e uma baixa autoestima ¢ geradora de infelicidade. Estudos demonstram que pessoas com baixa autoestima tém mais stresse, sao menos socidveis e mais inseguras na realizagao das tarefas, quando comparados com individuos com uma autoestima elevada Fig. 6 | Uma autoestima elevada? © penkkteoute Bt «dod. iid Atividades dnvestigadores que examinaram os estilos educativos de criangas referem uma forte influéncia das primeiras experiéncias sobre a autoestima (Baumrind, 1967,1991). Quando os pais dao liberdade as criangas ou quando thes explicam as razSes que estdo por trés das res- trigdes, a autoestima desenvolve-se. As criangas com maior autoestima provém de familias com estilos educativos “indulgentes” ou “autoritativos” (democréticos). Os pais indulgentes envolvem-se com dificuldade com os seus filhos, mas permitem-Ihe fazer as suas proprias escolhas. Os pais autoritativos explicam as razSes das suas regras e permitem as criangas ‘questionar as suas restrigGes. Por outro lado, as criangas com a autoestima mais baixa so origindrias de familias que sio“autoritérias” ou “negligentes”. Os pais autoritirios exigem submissio inquestiondvel no se envolvem com os seus filhos. Os pais negligentes ndo exigem uma disciptina estrita nem se envolvern com os seus filhos.» IN Flix Pscolngi Soil, Lisboa, Universidade Abeta, 2004, 1 Segundo o texto, quais so os estilos educativos que favorecem o desenvolvimento de uma autoestima clevada? Porque? 2. Segundo o texto, quais as situacdes que originam uma baixa autoestima nas criangas? 104 3. A percecao dos «outros» 3.1. As atitudes que é uma atitude «Como diferentes passoas tém frequentemente diferentes atitudes, tendem a interpretarsituardes sociais de modos diversos; a mesma multido pode parecer um grupo de manifestantes pacfices, para um abservador, e uma multidéo desordeira para outro, Segundo a aceco dos psicélogos sociais hoje, uma atitude é uma posigo mental estével, assumida com respeito a uma ideia, objeto ou pessoa. Conhecermos 2s atitudes sobre a energia nuclear, a legali- za¢80 da marijuana, a integracdo escolar récica ou pequenos-almocos empacotados. Toda a atitude & uma combinacéo de crengas, sentimentos e avaliacées, e uma predisposicao para agir de acordo com elas.» H Gletman,Peicolagia, Lisbos, FundasSo Calaute Gulbenkian, 198 *~ Compreender as atitudes é muito importante, se ndo mesmo indispensével, para compreendermos as interagdes € os com- portamentos sociais. O que sao as atitudes? As atitudes sio predisposigdes internas do sujeito, para que este se com- porte de uma determinada maneira perante pessoas, obje- tos ou situacdes. No entanto, apesar de terem um carater estavel e duradouro, as atitudes vao sofrendo transformasies. Quando dizemos que as atitudes io predisposig6es internas do sujeito para um determinado comportamento, devemos lem- brar-nos de que estas predisposigdes podem ser positivas ou negativas. Para compreenderes melhor, propomos-te que con. sideres os seguintes exemplos: se uma pessoa tem uma atitude positiva relativamente a solidariedade, é normal que se associe a campanhas de solidariedade, contribuindo com donativos ou mesmo com o seu trabalho. Se uma pessoa tem uma atitude negativa para com a situagao de abandono de animais, é natural que tenha predisposigo para ajudar as associagdes que reco- Them e cuidam de animais abandonados. As atitudes tém fungdes psicolégicas muito importantes. Os investigadores nem sempre esto de acordo entre si, e uns dao mais importncia a umas fungGes do que outros, Apresentamos: A. -te as fungdes mais importantes das atitudes: + Ajudam no proceso de identificagao do individuo. Certa- ‘mente, sabes quem foi Martin Luther King Jr. Nao é pos. sivel separar a sua vida da sua atitude relativamente & discriminagao racial. + Ajudam no proceso de identificagéio dos grupos sociais. Imagina que pertences a um grupo de escuteiros ou de guias, Ser escuteiro implica ter um conjunto de atitudes Fig, §|Asatitudes também séo partilhadas em grupo. 105 Processos relacionais e comportamento profissional prdprias de todos os escuteiros. Certamente nenhum escuteiro aprovard o compor- tamento daquelas pessoas que tém pouco cuidado com a natureza ou que néo tém ‘um modo de vida pacifico e solidrio. * Guiam 0 pensamento e a aco dos individuos. Considera os ativistas da Greenpeace. Aquilo que defendem, 0 modo como estéo atentos a determinados acontecimentos eas ages que desenvolvem de protegio da natureza dependem das suas atitudes As atitudes so indissociéveis dos comportamentos. Por um lado, as atitudes sao pre- disposigdes para os comportamentos e, por outro, s6 temos acesso a elas observando com- portamentos. Por exemplo, dizemos que aquela pessoa tem uma atitude intolerante para com um determinado grupo étnico provavelmente porque jé a vimos ter comportamentos que evidenciam, mesmo que subtilmente, essa predisposi¢ao. Apesar de indissoctéveis, devemos tet presente que atitudes e comportamentos sio coisas diferentes: as atitudes sao predisposigdes e os comportamentos sao respostas a estimulos. $F 3.1.1. Componentes das atitudes Podemos identificar nas atitudes as seguintes componentes: a cognitiva, a afetiva e a ‘comportamental. Componente cognitiva Esta componente esté relacionada com as ideias, crengas e valores que o individuo tem, Por exemplo, se uma pessoa se torna vegetariana por razdes morais, é porque esta con- vencida de que com o seu comportamento contribui para a diminuigao do sofrimento dos animais e, sobretudo, de que o ser humano nao tem o direito de Ihes infligir sofrimento, Componente afetiva Esta componente diz. respeito aos aspetos emocionais e sentimentais das ati- tudes. Retomemos o iiltimo exemplo: uma pessoa pode deixar de comer carne por- que considera que o ser humano nao tem o direito de infligir sofrimento aos, animais. Imaginemos agora que a mesma pessoa se sente horrorizada com aquilo que se passa num matadouro. Existem campanhas de sensibilizacao que visam alterar a atitude das pessoas relativamente ao consumo de carne e exploram estes aspetos afetivos, apresentando imagens do sofrimento dos animais antes e durante o abate, bem como o desmanchar das carcagas e o,aspeto de um matadouro depois de um dia de atividade. Componente comportamental As atitudes constituem predisposigdes para os comportamentos e a sua funca0. € otienté-los. No entanto, nem sempre os comportamentos so consistentes com as atitudes, Existem muitas pessoas que estariam dispostas a deixar de comer came pelas razdes jé evocadas, mas nao o fazem porque sabem que o seu tipo de vida J As aitudes condicionam no o permite. ns comportamentos. 106 3.1.2, Formagio e desenvolvimento de atitudes As atitudes no sio inatas, isto é ndo nascem com os individuos. As atitudes sto for- madas e desenvolvidas durante o processo de socializacao ¢ através de certos tipos de aprendizagem que se realizam ao longo da vida.! O processo de socializagao & um proceso de aprendizagem social e resulta da inte- gracdo dos individuos na sociedade e do contacto que estabelecem com a cultura que é inerente a essa mesma sociedade. Se pensarmos que a familia é o principal agente de socializagao priméria, nao seré estranho pensarmos que é na familia que os individuos formam de modo mais duradouro as suas atitudes. A educagao dada pelos pais as criangas é muito importante na formagao das suas atitudes, pois é a familia que forma as crengas e os valores das criangas. No entanto, a formacao das atitudes nao se esgota na familia. O con- texto escolar é, também, muito importante na formagao das atitu- des. Aqui a crianca forma e desenvolve as suas atitudes através da educagao de carater mais formal e institucional, mas também atra- vés de uma educagao de cardter informal, que resulta do relaciona- mento pessoal que estabelece com professores, funcionarios, colegas e amigos. Neste iiltimo caso, estamosa falar dos grupos de pares que sio muito importantes na formacao das atitudes durante ainfancia e, sobretudo, durante a adolescéncia. Os meios de comu- nicagao social e os meios multimédia sao, também, muito rele- vantes para a formagao das atitudes. Os noticiarios, os filmes ea publicidade so um importante veiculo de transmissao de valores e crengas, ¥°°3.1.3, A mudanca de atitudes Devemos ter em mente que as atitudes podem softer alteragbes. Por exemplo: uma pessoa pode ter uma atitude negativa relativa- mente a um grupo étnico e, depois de ter uma boa experiéncia com uma ou varias pessoas desse mesmo grupo, alterar a sua atitude. Nas sociedades moderna, e apesar das atitudes tenderem para a estabilidade, existe uma grande probabilidade destas mudarem. Por que motivo isto se verifica? A resposta nao é muito dificil. Desde logo porque a discussdo racional permite-nos eliminar crencas fal- 8. Por outro dado, na nossa sociedade, estamos permanentemente expostos a grandes quantidades de informagao e estamos constan- temente a ser persuadidos através da propaganda e da publicidade. Assim, é muito natural que as nossas atitudes mudem. Os investigadores encontraram algumas causas das mudangas das atitudes. Vamos destacar apenas algumas: as comunicagoes persuasivas e as dissonancias cognitivas. ‘No médulo 8 aorerderds 03 wis tpos de eprercitagem nos quais também se formam as attudes, nome lonamanteelitsic,o eondionamento operate = = aprendaagem soca 107 Fig. 10| Aprender com os pais. Fig. 11 [A publicidade influencia as nossas atitudes, mente cond: Processos relacionais e comportamento profissional Somos constantemente expostos a comunicagdes persuasivas que nos indicam o que comprar e até como viver. Algumas destas comunicagdes tm um grande poder de per- suasio, ¢ este poder esté relacionado com dois fatores: a credibilidade da fonte, por um lado, 0 conteiido de mensagem, por outro. Analisemos a seguinte situagdo: se alguém nos quer persuadir de algo e se estamos convencidos de que essa pessoa sabe realmente daquilo que fala e que nao tem interesse pessoal algum com a situagao, entdo é muito provavel que nos deixemos persuadir por cla. Neste caso, a ctedibilidade da fonte é determinante para a eficdcia da comunicagao. ‘Vejamos outra situagao: se alguém nos quer persuadir acerca de algo que esta muito distante daquilo que pensamos, sentimos e fazemos, somos mais resistentes a tentativa de persuaséo do que quando alguém nos tenta persuadir acerca de algo que, sendo dife- rente do que pensamos, sentimos e fazemos, ndo esté assim tdo distante. Jé vimos que as atitudes condicionam o comportamento, mas os comportamentos tam bém podem mudar as atitudes. Isto acontece muitas vezes como forma de reduzir a dis- sonncia cognitiva’. Imagina que uma pessoa tem um comportamento que vai contra as suas atitudes. £ natural que se sinta mal com tal inconsisténcia e contradigéo. Ora, uma vez. que esta pessoa nao pode alterar o que jé esté feito, a alternativa é alterar a sua atitude, resolvendo assim a inconsisténcia e a contradicao que o inquietava. iia: Atividades 1. Identifica as afirmagdes verdadeiras e as afirmagies falsas e corrige as falsas. 1.1. As atitudes ¢ os comportamentos so uma e a mesma coisa. 1.2. Asatitudes tém fungdes muito importantes, como ajudar no processo de identificagio do individuo. 1.3, As atitudes e os comportamentos sao indissociaves. 114, A familia 6 o principal agente de socializagio e tem uma importancia fundamental na formagao das atitudes, 1.5, Uma ver. formada uma atitude, esta jamais sofre qualquer alteragao, 1.6. As atitudes mudam. Essas mudangas acontecem, algumas vezes, como resolugdo das dissondncias cognitivas. 1,7. As atituces condicionam 0 comportamento, mas os comportamentos no podem rmudar as atitudes. 1.8, As nossas atitudes estdo sempre a sofrer alteracées. 2. Lé o texto 2 responde as 5 2.1. O texto apresenta varias componentes das atitudes. Indica quais e justifica a tua res: posta com expressées do texto. sguintes questoes, 2.2. O autor do texto afirma que as atitudes variam de pessoa para pessoa. Como podemos constatar isso? anc pn po eT Gc cr en eg in inde MH. Gletmar 108 3.2. Percecao social e categorizacio Genericamente, 0 nosso conhecimento passa, entre muitos outros aspetos, por um pro- cesso de organizacao da realidade. Por exemplo, sabemos que existem atividades perigosas ¢ atividades inofensivas, sabemos que existem alimentos saudaveis e alimentos pouco saudaveis, ete. Esta organizagao implica um processo pelo qual identificamos objetos, os diferenciamos ¢ classifica mos em fungao do género, da espécie ou do grupo a que per- tencem, Este processo de organizacao designa-se por categorizacao. ‘A tealidade social é muito complexa e as interagSes sociais também. Para isso, catego- rizamos a realidade social, simplificando-a. De outro modo teriamos muitas dificuldades em prever os comportamentos dos outros e ajustar os nossos as situagSes com que somos confrontados. Por esta razo, construimos impressdes, esterestipos e representagées socials, como formas de organizarmos o complexo mundo social Se a categorizagao social é um processo importante na orientaco das interagGes sociais, a verdade & que as formas de simplificagdo que encontramos nem sempre nos permitem construir crengas verdadeiras, acerca de realidade. Muitas vezes, as nossas impressiies sdo construgdes que sofrem de uma forte carga de subjetividade, o que nao nos permite conhecer as coisas tal como elas sao. Isto quer dizer que vemos os outros apenas como nos parecem e nao como sao. Vemos os outros a luz das nossas expetativas, das nossas atitudes e dos nossos esterestipos. Fig. 12 | Asimpressoes. Categorizacao social «Como afirma Allport, as leis cientifcas s20 exemplos de categorias racioneis: tém a sua origem num. “ndcleo de verdade’, alargando-se e solidificando-se através do aumento de experiéncias relevantes. ‘Algumas categoria sociais também partihem esta caraterstica: os Portugueses falam melhor portugués do que érabe ov finlandés, Mas seré verdade que os Alentejanos s8o preguigosos ou que os Judeus s80 avarentos? A probebilidede de comprovar estas afirmacies parece ser muito baixa, podendo mesmo ser de order de zero quando comparada com outros grupos regionais ou étnicos. No entanto, o nosso ‘mecanismo cognitive nao parece notar esta diferenca: forma categorias racionaise irracionais com a mesma facilidade.» M.8. Montara, «Confita et Paicologia Soci coperagaonesrelagdeintergrvpas, In Vala, J. Mert, MB. (Org), Calouste Guberkian, 1993, 3.2.1. Formacao de impressées «Format uma impressio significa organizar a informagao disponivel acerca de uma pessoa de modo 2 podermos integré-la numa categoria significativa para nos.» Solomon Asch ‘As impressdes sao formas de percegao social que resultam de um processo de simpli- ficagdo da realidade social. A partir da pouca informagao disponivel acerca de uma deter- minada pessoa, avaliamo-la e construimos uma ideia acerca dela, 109 Processos relacionais e comportamento profissional Existem varias abordagens acerca do modo como se formam as impressdes. Vamos aqui apresentar apenas duas delas: a abordagem configuracional e a abordagem da integragao da informagao. A primeira apresenta-nos uma perspetiva holistica, enquanto a segunda apresenta-nos uma perspetiva linear. Abordagem configuracional Solomon Asch fez. seguinte experiéncia, Foram apresentadas a dois grupos diferentes duas listas diferentes (A e B) com sete carateristicas que descreviam uma determinada pessoa. As listas tém as mesmas carateristicas, com excegdo de uma delas. Na lista A, a pessoa é calorosa e, na lista B, é fria. oy Determinado Cauteloso O resultado da experiéncia foi o seguinte: as impresses provocadas pela lista A foram invariavelmente muito mais positivas do que as impress6es provocadas pela lista B. Asch tirou a seguinte conclusao desta experiéncia: existe um processo de discriminagao entre tragos centrais e tragos periféricos, e o facto de um trago ser central ou periférico depende do contexto. Se no caso dos tragos centrais, a sua modificagao altera a impressao global, no caso dos periféricos isso nao acontece. Neste caso, a razao pela qual as carate risticas «caloroso» e «frio» sao tragos centrais deve-se ao facto de estarem acompanhadas das outras carateristicas que Ihe proporcionam essa Fungo. O nosso raciocinio poderé ser este: uma pessoa fria poderd usar para fins nefastos carateristicas que, numa pessoa calo- rosa, seriam sempre usados para objetivos louvavels. A inteliggncia e a determinaco, por exemplo, sao carateristicas que gostariamos de ver numa pessoa calorosa, mas estas mes- ‘mas carateristicas numa pessoa fria apenas fariam com que tivessemos mais razbes para no gostar dela. Esta experiéncia permite-nos também concluir que a impressdo nao resulta da mera soma das carateristicas que percecionamos nos outros, mas de uma visio do conjunto das carateristicas percecionadas. Abordagem da integracao da informacao Segundo esta aborciagem, na formagao das atitudes nao existem tragos centrais e tragos periféricos, e as impressties nao resultam de uma perspetiva de conjunto das carateristicas que percecionamos numa pessoa. As impressOes resultam de um processo linear de adigao, multiplicagao ou média de caraterfsticas independentes umas das outras, que teré como consequiéncia uma avaliagao positiva ou negativa. no See ee Cease eee Fatores que afetam a formacao das impressées Os fatores que influenciam a formacao das atitudes so os seguintes: 0 efeito de ordem, 0 efeito de halo e a distorcao de positividade e negatividade Efeito de ordem Asch realizou a seguinte experiéncia, Elaborou duas listas com o mesmo conjunto de carateristicas que descreveriam uma determinada pessoa. Estas listas apresentam as mes- mas carateristicas pela ordem inversa, Na lista A as carateristicas esto ordenadas da mais positiva para a menos positiva e na lista B as carateristicas esto ordenadas da menos posi- tiva para a mais positiva Inteligente Invejoso Industrioso “Teimoso Impulsive Caiteo Criteo Impulsive ‘eimoso Industrioso Invejaso Inteligente as impressdes geradas por esta lista resultassem da soma ou da média do valor das carateristicas consideradas isoladamente, tal como defende a abordagem da integracao da informagao, entdo as impressdes daf resultantes ndo poderiam ser diferentes. A verdade é que nao se verificou isso. A lista A gerou impresses muito mais positivas do que a lista B. Asch concluiu com esta experiéncia que a ordem de apresentacdo das carateristicas interfere na construgdo das impressdes da seguinte forma: «os primeiros termos criam na maioria dos sujeitos uma direggo que vai exercer um efeito continuo nos iiltimos termos. Quando 0 sujeito ouve o primeiro termo, surge uma impressao global, nao cristalizada, mas dirigida.» Assim, Asch concluiu que existia na construcao das impresses um efeito de precedancia, isto é, as carateristicas apresentadas primeiramente condicionam a valo- rizagdo que fazemos das seguintes. Efeito de halo Quando criamos uma impressao acerca de uma pessoa, temos tendéncia para Ihe atribuir outras carateristicas que cor- roborem essa impressio. O efeito de halo € construido a partir de comportamentos verbais, indicios ndo verbais evidenciadios pelos individuos, ou de ambos. Dion, Berscheid e Walster rea~ lizaram um estudo em 1972 que mostou que existe uma ten- déncia em atribuir as pessoas fisicamente atraentes outras carateristicas positivas que nada tém a ver com a sua beleza fisica, nomeadamente o serem bem-sucedidas profissional \ mente, socialmente realizadas e felizes. | Estaremos perante uma equipa de profissionais bem-sucedidos? un jowveres negre> dggune tas.) Da selec oe sso + dyer Vad Vanav b> Processos relacionais comportamento profissional Distoreao de positividade e negatividade Se parece estar demonstrado que estamos mais predispostos a criar impressdes posi tivas do que impresses negativas (efeito de distorgao de positividade), também parece estar demonstrado que quando nos apercebemos de uma carateristica que contradiz pela negativa a impressao inicial, a primeira impressao fica exageradamente deteriorada (efeito de distorgaio de negatividade). Isto acontece, sobretudo, quando as carateristicas negativas evidenciadas pela pessoa permitem uma avaliagao afetiva ou moral desfavordvel. 3.2.2, Esterestipos e preconceitos Ja viste que a categorizagao social é feita através de um processo de simplificagao da realidade, No complexo mundo das interagdes sociais, apesar de a informagao disponivel. ser quase sempre insuficiente, nao deixamos de construir ideias simplificadas acerca de pessoas e de grupos de pessoas. Estas ideias permitem-nos construir expetativas ¢ orientar comportamentos. * Oconjunto das ideias que se acredita definirem as carateristicas de um determinado ‘grupo social é designado por esterestipo Fig. 14 | Muitas vezes, a diferenca é geradora de preconceito socal No entanto, quando os esteredtipos se tomnam uma atitude tencencialmente negativa em relagdo as pessoas pertencentes a um grupo social, produzindo comportamentos dis- criminat6rios, estamos perante preconceitos sociais. Estando diretamente relacionados com atitudes, os precanceitos tém uma dimensdo cognitiva, afetiva e comportamental. * Um preconceito social é uma ideia preconcebida e sem fundamento imparcial ou objetivo. Visa discriminar negativamente um conjunto de individuos, atribuindo a cada um as carateristicas abusivamente dadas ao grupo a que pertencem. 12 Os preconceites sio uma das causas dos comportamentos hostis. Gordon Allport mostrou que a expresso do preconceito através da hostilidade pode assumir diferentes graus de intensidade: * Verbalizagao negativa ~ os individuos limitam-se a verbalizar os seus prdprios preconceitos; & F * Evitamento ~ os individuos evitam o contacto com membros do grupo hostilizado; 4 © Discriminagao — os membros do grupo hostilizado so alvo de diversas formas de exclu: **t © Ataque fisico ~ os individuos exercem a violéncia fisica contra os membros do grupo hostilizado; + Exterminagao ~ esta é a forma extrema de hostilidade e traduz-se na anulagio e extingdo dos membros do grupo hostilizado (linchamentos, genocidios étnicos, etc.) Fig. 15 | Muitas vezes, 0 preconceito é gerador de hostili dade. fii: Atividades 1. Identifica as afirmagaes verdadeiras e as afirmagbes falsas ¢ comrige as falsas. 1.1. A categorizacao social tem uma grande importancia para a previsio dos comporta- ments dos outros ¢ na orientagao dos nossos préprios comportamentos sociais. No entanto, este processo é, muitas vezes, impreciso e superficial, pois tem uma forte com- ponente de subjetividade. 1.2. Os processos de categorizacio social que realizamos no presente so influenciados por processos de categorizagao social elaborados no pasado, 13. As impressies sio formas simplificadas de compreensao da realidade social. 1.4, Segundo a abordagem configuracional, as impresses resultam de um processo linear de adiggo, multiplicagio ou média de carateristcas independentes umas das outras. 15. Solomon Asch defendeu que, na formagdo das atitudes, existem tragos mais impor- tantes do que outros, e essa importincia depende dos contextos das restantes carate risticas percecionadas. 1.6. Quando construimos uma impressdo acerca de uma pessoa, temos a tendéncia para procurar carateristicas nessa pessoa que corroborem a impressio inicial. Este efeito designa-se por efeito de ordem, 1.7. O conjunto das ideias negativas que se acredita definirem as carateristicas de um deter: minado grupo social é designado por esterestipo. 1.8. Os preconceitos sociais esto na base de comportamentos discriminatérios, mas nada tém a ver com as atitudes @ o texto 3 responde a seguinte questio. 2.1, Segundo o texto, 0 processo de formagdo das leis cientificas & semelhante ao processo de formagao das categorias sociais? Justifica a tua resposta 13 Processos relacionais e comportamento profissional 4. A percecao e a dinamica do «nds» 4.1. Conceito e carateristicas dos grupos O que é um grupo? Nao é facil definir 0 conceito de grupo social, quer porque os grupos sociais sao realidades complexas, quer porque existem grupos sociais com carateristicas muito diferentes Essas carateristicas sao: + A dimensao do grupo; * O tipo de relagdes que se estabelecem entre 0 seus membros; * O tipo de comunicagio que estabelecem entre si; * O tipo de abjetivos do grupo; * O modo como os grupos estdo estruturados, nomeadamente os estatutos assu- midos e os papéis desempenhados pelos seus membros. Existem intimeras definigies de grupo. Umas do mais relevancia a determinados aspe- tos do que outras, mas todas elas se complementam. Apresentamos-te algumas destas definigdes: Define grupo como um conjunto de individuos que comunicam Sarees, entre si, de forma deta, durante um ciclo temporal Donwin Cartwright Detinem grupo como um conjunto de inviduos que se rela- ‘Alvin F Zander cfonam entre si de forma sigifcativa Define grupo como um conjunto de individuos que se teconhecem enone como membros da mesma categoria social | pate Define grupo como um conjunto de individuos que cooperam para \ eb realizar uma tarefa ou alcancar um objetivo Define grupo como um conjunto de individuos que estabelecem pe) uma interrelagio dindmica Mae eee Desens come ee ne ee we ces ene sem conformidade com um estatutoestabelecido, de Carolyn Sherif acordo com normas ¢ valores que regulam o eu comportament. Imagina que ests num elevador com mais quatro pessoas. Consideras que as cinco pessoas que estio dentro do elevador séo um grupo? Parece que nao. No entanto, se 0 elevador tiver uma avaria e estas cinco pessoas tiverem de se organizar, interagir, comu- nicar e cooperar para pedir ajuda e, eventualmente, evacuar todos os elementos presentes, entéo, considerando as definigées apresentadas, dirfamos com toda a certeza de que esta- riamos perante um grupo. a mememenas | Os investigadores destas temiticas classificam os grupos de varias formas. Apresenta~ mos a seguir duas das mais conhecidas. Charles Cooley, em 1909, classificou os grupos em grupos primérios e grupos secundérios. Grupos primarios — J4 viste que o processo de socializacio implica a integragao dos individuos em grupos. Neste processo, os individuos atuam sobre o grupo, ¢ o grupo atua sobre eles ~ 0 que pres- supe a interagao dos elementos do grupo entre si. O conjunto destas interages & 0 que se designa por interacao grupal. Existe um conjunto alargado de estudos sobre o modo como se desenvolvem as interagdes entre os membros de um grupo, nomeadamente quando esta em causa a resolugdo de tarefas e a realizacao de abjetivos. Robert Bales desenvolveu nos anos 50 do século XX varios estudos sobre esta matéria ¢ identificou duas categorias de interagao. As de cardter mais instrumental, como dar ou pedir sugestées, opinides e orientagdes, e as de cardter mais socioemocional, como mostrar solidariedade ou antagonismo. Os estudos realizados no ambito das interades grupais mostram que os individuos que ocupam posigdes centrais nas redes de comunicagao intervém mais do que aqueles que ocupam posicées periféricas. Mostram, também, que a atitude, a motivacao e a com- peténcia dos membros do grupo influenciam a intensidade e a qualidade das suas intera~ Wes. 4.1.2. 0 desenvolvimento do grupo Bruce Tuckman desenvolveu uma teoria do desenvolvimento dos grupos. Segundo este investigador, o desenvolvimento grupal acontece em quatro fases. Cada uma destas fases € composta por dois aspetos: a estrutura do grupo e o seu comportamento. * Formagao (forming) Nesta fase, existe uma elevada dependéncia da orientagio do lider, pois existem davi- das quanto aos papéis a desempenhar e as regras ainda nao sao claras. O lider deverd estar preparado para responder a estas diividas e disponivel para todos os esclareci- mentos necessérios. Deverd, também, saber mostrar-se tolerante. Existem diividas no grupo relativamente a aspetos de cardter estrutural e também exister dtividas rela- tivamente ao modo de realizar as tarefas. * Confrontacio (storming) Nesta fase, os problemas estruturais identificados anteriormente aumentam, bem como a hostilidade entre os membros do grupo e entre os membros do grupo e 0 lider. Criam-se divisdes, e os aspetos emocionais controlam a maior parte dos com- portamentos. Assiste-se ainda ao aumento das resisténcias relativamente 3s tarefas determinadas pelo lider, que deverd estar focado nos objetivos e nao se deixar influen- iar pelos aspetos emocionais._ 7 » Estabelecimento de normas (110/ming) Nesta fase, estabilizam-se os processos estruturais ¢ surge um consenso no grupo relativamente aos papéis e & lideranga, dai resultando um sentimento de unidade, 16 +» Execugdo (performing) O grupo foca-se na realizacdo das tarefas e sabe claramente como as realizar. Nesta fase, 0 grupo funciona de forma auténoma como uma equipa determinada em alcan- ‘sar 0s objetivo. Os membros da equipa apoiam-se mutuamente. A equipa nao neces- sita de ser auxiliada pelo lider na realizacao das tarefas com que o grupo se confronta, ~ Md A tividades 1. Identifica as afirmagées verdadeiras e as afirmagies falsas e corrige as falsas. 11. A familia é um grupo secundatio, pois tem uma grande duracéo e nele predominam as relagdes emocionais. 1.2, Um grupo primério, como a familia, jamais podera ser um grupo planeado. 1.3. A intensidade e a qualidade da interaco grupal dependem exclusivamente das cara- teristicas do grupo em que o individuo esta inserido. 1.4. Tuckman defende que 0 desenvolvimento do grupo tem varias fases, compostas por aspetos que se relacionam com a estrutura do grupo eo modo como realizam as tarefas. Na fase de confrontacio, existem duividas quanto aos papéis que cada um desempenha (estrutura) e ctividas quanto ao modo de realizar tarefas. 1.5, Hi uma relacdo entre a coesdo grupal e o grau de satisfagao com que os membros do ‘grupo realizam as tarefas. 4.1.3, Kurt Lewin e a dindmica de grupo BOWE Atividades «No obstante Kurt Lewin ter sido, como se tentou dar a entender, mais uma personalidade incentivadora de novos desenvolvimentos do que um teérico de referéncia, a sua contribuigso, ‘mormente no que respeita a dindmica de grupo, pode ser resumida assim: 1. Sempre que um homem se junta a um grupo & significativamente mudado e induz mudancas os outros membros. Quanto mais atrativo for o grupo, mais pressdo exerce sobre os seus mem- bros; um grupo fraco no exerce este poder. 2, Para se conseguir uma mudanca num grupo 6 indispensavel alterar o seu equilibrio. Tentar ‘mudar apelandbo individualmente a cada um dos seus membros é muito pouco efciente. O com- ‘portamento de um grupo como um todo pode ser mais facilmente alterado que o dos seus membros. 3. Odesejo de se manterem juntos, ou coeséo de grupo (resultante des forgas de atracao e repul- 40 entre membros), é a carateristca essencial do grupo como tal. Sem ela, no seria lctofalar- se de grupo. 4, Um dos fatores que mais contibuiram para 2 coesdo é 2 verificagao individual de que, no grupo, ha mais probebilidade de ating as proprias finalidades. Por isso, 0s grupos formam-se espon- taneamente sempre que hé dificuldades em resolver tarefas coletivas e no ha barreiras a sua formacio. 417 Processos relacionais comportamento profissional MB: Atividades 5. Com o tempo e com as interagées no grupo, desenvolvern-s finalidades e padres de aco ‘comuns, 0s membros so levados a eformular as suas proprias finaidades pessosis. A partir de entéo, pertencer a um grupo significa aderr aos seus padres, isto &, 30 cédigo do grupo. Pela mesma razo, um grupo pode servr de referéncia, Jos tém membros muito diversos. Nao é a similaridade 6 Os grupos bem organizados e produt! entre pessoas que mantém um grupo, mas sim 2 interdependéncia. Em termos de grupo, © todo nao 6 apenas mais que a soma das partes, & qualitativamente diferente. In Vala, J. @ Montero, MB. (Org, 0.6 Pereira «A emergénea do paradigm america 3 adaptade Psicologia Sociale. 31-47), isda, Fundagie Calouse Gubberkian Tarefa: Escolhe a opgao que te pareca mais explicativa das dinamicas de grupo. Justfica a tua resposta apelando tua prépria experiéncia, 4.2. Papéis e estatutos Nos processos de integracao e interacao grupais é fundamental conhecermos 0 nosso papel e 0 nosso estatuto. Certamente jé ouviste, em situagao de crise entre os membros. cde um grupo, alguém perguntar «Afinal, qual é 0 meu papel aqui?» ou «Afinal de contas, quem é que manda em quem?». De facto, 0 individuo tem tantos papéis e estatutos quantos os grupos a que pertence. Por exemplo, um individuo adulto desempenha simultaneamente estatutos e papéis, enquanto pai, profissional, condémino e membro da associagao recreativa do seu local de residénciay | Papeis e estatutos, ne Por outro lado, um estatuto tem sempre um papel que Ihe corresponde e vice-versa, Para compreenderes esta afirmagéo, terés de compreender o que € um estatuto e o que € um papel, * Cestatuto de um individuo 6 o que Ihe permite esperar legitimamente um conjunto de comportamentos por parte dos restantes membros do grupo em virtude da sua posigao na hierarquia. Por exemplo, o estatuto de um professor confere-lhe o poder de esperar dos alunos um comportamento adequado em sala de aula. O estatuto identifica-se com 0 conjunto de direitos que temos. * O papel ¢ 0 conjunto de comportamentos que legitimamente os outros membros do grupo esperam do individuo. Por exemplo, os alunos esperam que o professor cumpra o seu papel de ensinar, que os trate de forma justa e correta e e que os avalie com rigor e competéncia. O papel identifica-se com © conjunto de deveres que temos. Conhecermos os nossos estatutos e papéis ¢ muito importante para podermos orientar (05 nossos relacionamentos sociais adequadamente. Por outro lado, conhecermos os esta tutos e os papéis dos outros é também muito importante, pois permite-nos construir expe tativas acerca do seu comportamento. Por exemplo, se nos dirigimos a um banco para tratarmos de um assunto de grande importancia, procuramos o gerente e nao o funcionério que est na caixa 4.3. Os conflitos Os preconceitos sd uma das causas principais dos conflitos entre grupos. Estes con- flitos s40 também condicionados por aspetos como a frustracao, a necessidade de bodes expiatérios ou a privagao. Basicamente, estes aspetos estao incluidos naquilo que Muza~ fer Sheriff identificou como antagonismo de interesses, que se da quando dois grupos se consideram no direito de alcangar um objetivo que, efetivamente, s6 pode ser atingido por um deles, gerando-se, assim, comportamentos agressivos e violentos. A natureza dos confltes. ns 8 | Conflitos, Processos relacionais e comportamento profissional Estes fatores estio também presentes nos conflitos entre membros de um grupo, os conflitos intragrupo. As causas dos conflitos entre membros de um grupo podem ser classificadas da seguinte forma: as que estdo relacionadas com as realizacies de tarefas as que estdo relacionadas com aspetos relacionais de ordem emocional. 4.3.1. Estratégias individuais aa gestio do conflito Existem varios modelos explicativos das estratégias de resolugao de conflito. Propo: mos-te que estudes o modelo de Robert Deluty. Segundo este investigador, existem trés tipos de tendéncias ou estratégias de resolugao dos conflitos interpessoais: as agressivas, as submissas ¢ as assertivas, A agressividade como estilo de resolucao de conflitos ‘A agressividade manifesta-se de formas diversas: pode ser explicita ou velada, fisica ou psicoldgica. Estas formas de agres- sividade sao condicionadas por fatores culturais e sociais, mas também biolégicos. Albert Bandura explica de que forma a aprendizagem social, nomeadamente através da observagio de modelos, condiciona os comportamentos agressivos.° De entre as ages agressivas utilizadas na resolugao de conflitos con- tam-se: a agressao fisica e verbal, a intimidacGo, a provocagio, a ameaga, a caltinia, gestos de desprezo, etc. Este tipo de estratégia de resolugao de problemas é muito comum, mas parece-o ainda mais, pois as consequéncias desta estratégia, os comportamentos violentos, tém um ele- vado grau de visibilidade. Esta estratégia est muito préxima da nossa dimensio animal No reino animal, a agressividade destina-se a finalidades como a defesa pessoal, a demar cago do territério, a selegdo entre rivais e a defesa da prole, tal como acontece, em parte, no ser humano. A estratégia agressiva é uma forma coerciva de enfrentar o conilito que implica uma desconsideragao do outro, isto é, dos seus sentimentos e dos seus direitos. Por exemplo, quando alguém ofende 0 outro como forma de resolucao do conflito, esta a enfrentar 0 conflito, coagindo o outro a ceder e desconsiderando os seus direitos, A submissio como estilo de resolucao de conflitos Este tipo de estratégia implica uma fuga ao conflito, isto €; 0 individuo resolve o conflito no o enfrentando. Ao decidir nao enfrentar 0 conflito, 0 individuo abdica dos seus direitos pontos de vista em favor do outro. Esta é uma forma passiva de resolver os conflitos € tem por base o raciocinio pratico de que ceder perante os conflitos é a melhor estratégia que 0 individuo tem ao seu alcance para nao se prejudicar a si prprio. Existem autores que defendem que este comportamento 6 muito condicionado pela educacao, que pode dar ao individuo a ideia de que esta é uma boa estratégia de adaptacao social. Esta estra~ tégia de resolugdo de conflitos também ¢ frequente mas tem pouca visibilidade. 120 Aassertividade como estilo de resolucao de conflitos Por definigio, a aco assertiva é um ato praticado por um agente de forma intencional, que afirma inequivocamente a sua posicdo. Segundo muitos investigadores, esta é a forma mais desejével de resolugao de problemas, pois implica enfren- taro problema, considerando os seus direitos ¢ 0s direitos e os sentimentos dos outros. Segundo alguns investigadores, esta forma de resolugao de confltos é uma habilidade social porque envolve a capacidade do individuo controlar a ansiedade e a agressividade e, ao mesmo tempo, superar a passividade. Aida Atividades 1. [dentifica as afirmagdes verdadeiras e as afirmagdes falsas e corrige as falsas. 11. O papel de um individuo é 0 que Ihe permite esperar legitimamente um conjunto de comportamentos por parte dos restantes membros do grupo em virtude da sua posigio na hierarquia. 1.2. Os estatutos e os papéis sio correlativos. 113. A frustragao é uma das causas dos conflitos intragrupais, 1.4, A agressividade tem como causa fatores exclusivamente bioldgicos, 15. A submissio é a forma desejavel de resolugio dos confltos, Fig. 19| Uma resolugdo assertiva do confit. 4.4, Conformismo e obediéncia Quando nos integramos num grupo social, aceitamos as normas, 0s interesses e os objetivos desse grupo. De alguma forma, somos influenciados nas inter-relagdes que esta~ belecemos com esses grupos. Chama-se a isso influéncia social. Verificamos no nosso dia a dia comportamentos conformistas e obedientes nos outros ‘© em nés proprios. Verificamos, também, que este tipo de comportamento social nao tem a mesma intensidade em todos os individuos, existem individuos mais conformistas do que outros ¢ existem individuos menos obedientes do que outros. Por que razao isto acon tece? Os estudos realizados mostram que, apesar das diferengas comportamentais entre os individuos, existe uma tendéncia para o conformismo e para a obediéncia. Devemos, no entanto, ter presente que conformismo e obediéncia nao sio sindnimos. * O conformismo é a tendéncia para a aceitagao das normas, atitudes e comporta~ mentos do grupo. * A obediéncia é a tendéncia dos individuos para se submeterem a normas e cum: prirem instrugdes ditadas por outro, normalmente ocupando uma posigio hierar- quicamente superior no grupo, 1a Processos relacionais Fig. 20 | Temos mesmo uma tendéncia para 0 confor dca comportamento profissional Conformismo Solomon Asch investigou 0 fendmeno do conformismo. Asch nao estava satisfeito com as conclusdes anteriormente encontradas para a explicacdo deste fenémeno, nomeada~ mente as conclusdes comportamentalistas de Moore. Concor- dava coma constatacdo de Moore de que existe uma tendéncia nos individuos para 0 conformismo em fungdo da pressao da maioria, mas nao estava de acordo com a explicago encon- trada por Moore. Este investigador defendia que, na vida quo- tidiana, 0 conformismo é reforgado e 0 inconformismo é punido, o mesmo acontecendo nas relagées grupais. Asch tinha uma visao diferente, pensava que esta explicagiio nao considerava a complexidade psicolégica dos individuos no seu todo. Segundo Asch, a abordagem comportamentalista ignora © facto da forma psicolégica dos individuos funcionar como um todo, e, quando alteramos uma das partes, o todo muda completamente. Asch estava convencido de que isto era valida para os comportamentos obedientes e para a formagao das impressdes. Experiéncia de Asch Foram colocados cito estudantes em frente a um quadro, & distancia de um metro. O quadro tinha dois cartes retangu- lares; 0 da esquerda tinha desenhada uma linha eo da direita tinha desenhadas trés linhas, cada uma com tamanhos dife- rentes, sendo que, neste cartdo, uma das linhas tinha a mesma dimensao da linha desenhada no cartdo esquerdo. Destes oito estudantes, 0 sétimo era o elemento «ingénuo» e estava con- vencido de que os colegas estariam a participar na experiéncia nas mesmas condigdes que ele. Na verdade, estavam a ser orientados pelo experimentador, dando as respostas que este Ihes indicava. As provas consistem na identificagao, no cartéo da direita, da linha. mostrada no cartéo da esquerda. Na pri- meira prova, todos os elementos dio a resposta certa. Na segunda prova, o primeiro dé uma resposta errada, mas com muita convicgao. Na terceira prova, os elementos que dao a resposta errada, os elementos coniventes com 0 experimenta- dor, sao em maior nimero, e esta tendéncia vai aumentando a0 longo das provas. Em dezoito das provas realizadas, os ele- mentos que estavam sob a orientagao do experimentador deram, unanimemente, doze vezes a resposta ertada 122

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