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Joaquin Xirau Karl Polanyi Ernest Hunter Wright Charles Edwyn Vaughan ESTUDOS SOBRE SEAU ORGANIZAGKO César Benjamin César Benjamin iana Aguiar Vera Ribeiro Verrah Chamma contraponto Rousseau e as ideias politicas modernas* Joaquin Xirau A doutrina de Rousseau delimita o fim do debate de origem renas- centista sobre ética ¢ politica ¢ inaugura, de modo as vezes vago € confitso, mas sempre sedutor, uma nova maneira de propor e solu- Gionar tais questdes. Kant foi quem recolheu esses lampejos geniais, essas intuigées de uma obra apaixonada ¢ flutuante, conferindo- -lhes a forma rigorosa e sistematica de uma construgio filosofica, Destacaremos aqui alguns aspectos da obra rousseauniana, tio exuberante em imaginagao e sentimentos; talvez sejam os mais in- teressantes, mas nem por isso tém sido tratados com precisio. © Renascimento langa as premissas de uma concepsao subje- vista do mundo. De uma ou de outra forma, os sistemas pos- -renascentistas tendem a um idealismo subjetivo, que € empirico ¢ relativista na Inglaterra, metafisico e dogmitico no continen- te. As duas tendéncias aparecem claramente na cultura pritica. Rousseau aspira a superd-las, mas suas aspiragdes as vezes se in- serem em uma ideologia que é contraditéria com seu pensamento central Para destacar 0 que, na doutrina de Rousseau, aponta para 0 progresso das concepgdes politicas e juridicas, precisamos vé-la em ampla perspectiva historica. Partindo do passado, vamos pro- jetar essas ideias no futuro, destacando, sobretudo, 0 que ainda hoje € objeto de importantes reflexdes. Talvez nossa exposigio pa- reca um pouco torta, afastada da letra do Contrato e até mesmo oposta a algumas partes dele. f isso mesmo, Huminaremos alguns aspectos — especialmente os que constituem 0 ponto de partida 1sseau, Cidade do México, Universidade Nacional ‘Autonoma de México, 1973. Tadugao de César Benjamin. a da corrente idealista que comeya forma jente com Kant e conti- nua nas escolas neokantianas — e deixaremos outros na sombra Nossa avaliagio ¢ historica, nao doutrinar gar o valor intrinseco da doutrina, mas sua eficacia na historia, 1. 0 ambiente ideolégico © Renascimento O espirito humano, sujeito dural {80 tempo a todo tipo de hierarquias, adquire plena consciéncia de si no movimento renas- centista. O clerigo, 0 servo, 0 senhor — que, como tais, ¢ s6 como tais, tinham claramente delimitado o circulo de seus deveres e di- reitos — se dio conta de que, acima de tudo, sto homens. A des- coberta do homem pelo homem poe fim a um ciclo da cultura e abre uma nova época na exist Contra toda aut -se a consciéncia individual como ultima e maxima autoridade, O homem, criador da cultura, eleva-se com independéncia plena como tinico juiz dessa mesma cultura. Os embates que surgem no ocaso da filosofia medieval indicam uma vida laica mais vigorosa que a eclesidstica. As correntes sub- terraneas que durante um milénio, reforgando-se continuamente, acompanharam o movimento religioso na vida intelectual dos po- vos ocidentais irrompem agora de forma decisiva, e sua vit6ria, conquistada depois de lutas longas e lentas, molda nos séculos de transigao o carater distintivo da idade moderna Uma busca apaixonada de novidade, inici preenche os espiritos. Em nenhuma época foi tao vivo o desejo de vas de encontrar a novidade absoluta nun- idas. A vida intelectual al. O fermento mente confusa, asten ¢ a vida pritica sofrem uma transformagao ra desse movimento foi o contraste entre a cultura medieval em de- cadéncia ¢ os pensadores gregos jé conhecidos no século XV, Diante de uma natureza boa, amavel e plena de racionalidade, © ser humano levanta-se com autonomia, rompendo toda sujeig0 2 ¢ rechagando todo preconceito com o instrumento da razao.2 Em contato direto com a natureza, procura capta-la na forma precisa inguagem matemitica. Nasce a fisica experimental e matems- tica,a fisica moderna: a unica fonte de realidade é a experiéncia: a nica fonte de verdade € razao. Encontrar ideias clarase distin- ica, eis a maxima aspiragao dos mento, ressurgimento do espirito puramente tedrico ¢ 0 verdadeiro sentido do Renascimento cientifico, que também nisso coincide com 0 pensamento grego. A subordinagao da ciéncia aos fins da vida pra i osa —, predominante nas filosofias greco-romana ¢ medieval, cessa quando 0s novos tem- pos comegam. O conhecimento puro da verdade volta a ser 0 tini- co fim da investigacao cientifica. A atividade intelectual aspira a uma concepgao da natureza livre de qualquer interesse.’ O retorno 0 antigo prepara o trabalho original do espirito moderno, que busca vigor na cultura grega para criar algo novo. ‘© mesmo ideal humano penetra na esfera da arte, procurando novos caminhos ¢ orientades inéditas, misturando-se por sutis afinidades com a arte grega, de profundo humanismo. Mas esse enlace, assim como 0 teérico, nao é uma tentativa de repetir ou uma tendéncia a imitar. Ao contririo, a arte renascentista, como todo o Renascimento, é imensamente criadora. Tenta-se retomar a formidavel trajet6ria do mundo helénico e criar ao modo grego, ‘ou seja, com independéncia, © homem joga com a natureza, a retorce de mil maneiras ¢ a recria com potente impulso em suas obras geni em toda parte 0 vigoroso esforgo do génio que vence as forgas passi tentativas (bem-suc mente h . predominante na época medieval, jonada até mesmo no seu proprio B mento. O restante € consequiénsi E facil compreender que o i ificuldade para se dico. A agitagao atingia a crente do puro pensar gados a conduta ¢ a vontade, os forga: autoridade © farer € d morais sio tambem menos independentes, po S.A ctica nio © re mais diretamente nesses domi 1 filosofica. Na Idade Media, a et 2 ¢ a filosofia do direito foram parali- ica catolica € a8 normas aristotelicas. ma tentativa de pensar uma moral lardo propoe que os antigos, embo- tos Nao se Po- independ: Fa pagaos, po dia sequer ate. O Renascit problema de Abelard idade, retorna ao que entao adquire a maxima importin- cia teorica. A ode o homem tornar-se moral por si so, com seus me’ 7 Oua moral esté vincu- lada a religiao e, espec &? Bo pro- blema, tao controverso na €poca, da possibilidade de uma moral independente.* Em meio as turbuléncias claramente as vozes de Bruno e de Montaigne, ) caminho para a independéncia da preparado, Bacon estabelece a © supremo bem é 4 ymanticas do primeiro Renascimen- re- to escutam-se presentativas dessa aspirag moral havia sido laboriosan cisao definitiva. Para ele, a questao € clara >em-aventuranga em outra vida; a rel 4 aventuranga eterna ¢ outro para a tem ir de ma- reais hie. inte uns do ns 1880, No. merado de indy tros. Como reconstruir, sobre essa Cultura terica Ja temos 0 homem independente. so: de sua rarao € de sua consciéncia, diante ousada de edificar uma cultura propria, humana, com m: tamente humanos.? Surge entao, em todos os dominios, um p que valor tém essa cultura, essa ciencia, essa significam? Qual a sua génese? Qual o seu tipo de O pensamento antigo tinha bases solidas: a ciéncia, a moral a arte eram garantidas pela religia : ia de um Deus e de um mun ido a cul oral, ewsa arte? Que nos interessa di ctamente, May € NECESSITiO ptO ema praticn dep tao teorica da qual o rigamente, Awi ‘epoca da seguinte 1 somo ovorrera Na Grecia. as ideias se desenvolvent nes a: a um primeiro periodo co mente ant pologica, na qual o estoryo teorice se transforma em estorgo pra- ase converte eM expevie de sabedoria da vida samento renasc gos metodos, proc dos. De um : Jama © principio exper a: nie podemos descobrit a os da escolastica, puramente formais: € jos de conteudo. Precisamos encontrar . a0 mesmo tempo, a um encadea- ¢ essas condigdes sio as defi- nta harmonicamente ta, mi . geometricas. Galileu a fisica moderna. 9 pensador a trabalhar filosoficamente essas aspi- Descartes, que introduz clareza na confusio do Renas- primeira vez um problema filoséfico fun- a matemitica, 08 dois sis O pr races € Propo p damental; 0 conhecimento cientifico — a fisica, depois a fisica matematica — implica afirmagoes objetivas, de cariter universal, baseadas em principios que sao formais, interio- res 20 pensamento, e também reais. Os conceitos de causa, espago. tempo sio 0 fundamento da ciéncia fisico-matematica. O cientista no duvida deles. Mas que valor eles tém? Qual a sua origem! Que do pensamento humano? Resultados da experiencia? : Para oferecer uma explicagao racional do Universo, € precis® a ciéncia. Isso exige definir 0 homem de modo @ a do mun fornecer elementos suficientes para consteuir um sistem: issas de um idealismo racionalista, se seguem nao fazem mais que desenvolver ccartesiana parte do eu; -monstrado, Solucao empirista rar seguranga — seja nas ideias puras, seja na experiéncia sensivel. © mundo das sensagdes € © mundo das ideias se dissolvem em entidades subjetivas. A tendéncia empirista ina em Berkeley, com a afirmagao Esse est precipi (Ser € ser percebid 2 culmina em Leibniz, cujo sistema monado- ogico, em ultima instincia, é um idealismo absolute. ‘© pensamento pés-renascentista fica preso em um circulo de ferro dificil de romper; nao temos das coisas nada mais que 0 nos- so conhecimento delas, ou seia, as coisas si0 0 que sabemos delas. A verdade ¢ 0 que € mensuravel e pode ser reduzido a uma formu Ja matematica rigorosa. O ser das coisas é sua mensurabilidade, caracteristica da mens [mente]. Sem mens que fixe, limite e defina nao hi medida, nem ser verdadeiro e exato das coisas. A mens & © eu; portanto, tudo depende do eu. Bis o centro do sistema de pensamento que procede da critica renascentista Caracteristica dessa modalidade — e origem dela — ¢a duvida metédica cartesiana, cuia solucdo € o cogito, As coisas parecem ser, mas sera que, na verdade, sio? Do ser ao parecer ha um abismo de ssibilidades, precisamente © que separa o duvidoso € 0 certo, Onde se pode encontrar algo indubitavel, evidente, que sirva de fundamento ao restante? Como se consegue evitar qualquer divi- ranga nas coisas relativas a0 no, a ndo ser como correlatos de minha conviegio, como cogi- tages. O ser das coisas sio mes pensees, partes de moi méme, desse ue chose qui pense — que 0 centro de todo pensa- mento moderno. As coisas sio como fragments de mim mesmo. Assim, 0 et se estende por todo o Universo, chegando a sero lugar das coisas, onde elas adquirem seu verdadeiro ser, convertem-se aide: m realidades psiquicas. Para Leibniz, 0 mundo é um co formado por infinitas monadas, poderes de representagao." Cultura pratica A filosofia moral e juridica segue um can como indicamas, depende da concepgio de Universo que a cul- tura tedrica propoe. Seus desenvolvimentos estao sujeitos & con- cepsao subietivista da epoca. As tendéncias metafisica e empirica mostram-se claramente, ambas fazendo enorme esforgo para en- contrar algo objetivo onde se possa assentar a realidade juridica e atica, Chegam a um subjetivismo mais ou menos consequente, pois os principios da atividade pratica se dissolvem em sensagdes ‘ou em ideias — em ultima anslise, elementos subjetivos. A realidade pratica corresponde a teoria. A sociedade carece de uma sustentagao firme em que se possa apoiar. Dai decorre, logi- ‘camente, a monarquia absoluta: nao existindo nenhum direito le- n0, 0 direito ¢ substituido pela forga, e 0 mais forte comanda, ‘A combinagao desse modo de pensar subjetivo com o cansa- ¢0 filoséfico reinante deu lugar ao pensamento relativista, de va gos fundamentos tesricos, do Aufklarung [Iluminismo] e da Enci- clopédia. A reacdo rousseauniana se dirige contra isso. A sofistica is energia € mais valor. 0, pois, grega repete-se com mais intensidade, m: Em ambas as épocas predominam 0 mesmo privilégio do sujeito individual, 0 mesmo desprezo & metafisica, a mesma predilesio por uma contemplagdo empirico-genética da vida psfquica do ho- ‘mem, a mesma paixao por debater os problemas éticos e soci tudo isso se difunde penetra no ambiente da cultura geral.” Como indicamos, a primeira meditagdo pés-renascentista — me- tafisica e puramente te6rica — sucede um segundo perfodo de interesse exclusivo em problemas praticos. As premissas estavam dadas; 0 ceticismo — nesse caso, a anarquia — era uma ameaga generalizada. ‘A filosofia do diteito nasce depois do Renascimento em conse- quéncia ao impulso humanista e as exigéncias da vida moderna. 18 Estas se manifestam com urgencia, pois era necessario justificar 0 oral autonomo, Para isso, era preciso encontrar um dircito vilido para qualquer tempo € baseado em uma natureza «que pudesse ser conhecida pela razao. Para formuli-lo chegou-se ‘a usar analogias pueris que relacionavam os principios do direito com as leis da fisica. ‘Alcangou-se um terreno mais s6lido ao se substituir 0 estudo «da natureva pelo estudo do homem, ideia de Hugo Grotius. A par- tir dai, o postulado da sociabilidade passou a ser o principio fun- damental do direito natural, cujo desenvolvimento se fez pelo mé- todo da dedugao logica. Em harmonia com a natureza social do homem, a razio dé origem ao direito natural, ideia de um direi- to absoluto independente do poder estatal ‘Tal concepgao recebe as mais severas criticas. Montesquieu in- siste na diversidade das leis dos diferentes povos; trata-se, pois, de encontrar uma moral independente nao s6 da religiao, mas de toda metafisica. Instala-se nas consciéncias um naturalismo indi- vvidualista que, mediante uma anilise dos instintos, harmoniza 0 egoismo ¢ o altruismo na natureza humana, Considera-se que 0 homem sé reconhece fins utilitérios: cada um tende a sua propria felicidade; para alcangé-la necessita-se apenas de alguma prudén- cia individual e uma boa organizagao social Dadas as premissas renascentistas, era inevitavel que o indiv duo assumisse cada vez mais importancia, ampliando-se 0 debate sobre felicidade, moralidade, sociedade, Estado. Eis 0 principal problema dos tempos enciclopédicos: como pode o individuo es- tabelecer uma lei de vida que o ultrapasse e o insira na sociedade? E facil compreender a questJo: 0 individuo, com suas carac- teristicas naturais originarias, € 0 nico dado de que dispomos; é preciso partir dele ¢ explicar suas possiveis relagdes."? Nascem ai 6s problemas, cada vez mais urgentes, do fundamento da realida- de politica e do valor d lade na sociedade humana, nas ins- piiblicas e na evolucio historica. O que existe e tem rea- idade historica deixa de ter validade imediata; € preciso que seja onstre seu dire gens QUE Possa trazer para a f isso conduza ezae historia, ula do modo mais pasam ade rminar a razao ultima jecinica do Estado encon trato, derivada do dite) samento pés-renase Des de forgas, ref andrquico da monarquia abso a disputa. Suprimindo-se Deus como fund rina de Rousseau em contato ireto com a de Hobbes, Veremos como atrapoe primeira se primeita ver, 0 direito a0 A doutrina de Hobbes lavel. Sua obra € a construcio sis- cas. £ um exem: Juz inexoravelmente. Alem disso, busca usar tase ideias podem ser organizadas em trés grupos, sem 6 ando 0 que, para ele, € palavrorio oco € retorica va, Suas acao de con. ideias sobre ao co Ele nao se interessa pela price ia em si, Mas seu sistema, que busca funda ntar e definir a sociedade politica, procura investi. nal dessa sociedade, Para isso, € pre nit o homem; € prec porem, é ap ma dercrigao d a sociedade politica, enqu pois, re rer a psicol homem natural, 10 os pr tragos psicolo- IM — 08 tragos especi © material unico © sto as semsaydess as q 9.0 complexe espi semsagoes de praver e de d todo 0 contetide da a JOAQUIN xIRAU ‘Como os animai mas em mais alto grau, o homem guarda memiéria das sensagdes, trazendo-as do pasado ao presente ¢ combinando-as. A partir delas, forma ideias, que sentagies de objetos anteriores e gerais; a estas tiltimas nada de novo se acrescenta, a nao ser a memoria de uma repres gular que recebew um nome que a torna aplicivel a v Com esses elementos o homem raciocina. prazer ea dor que acompanham esses processos dao apetites, desejos ¢ ayes. O homem tende a repetir 0 que zer0s0 € a fugit do que foi doloroso; forma ideias pela repetigio de sensacdes e forma a vontade, ou a tendéncia a buscar o prazer € fugir da dor, pela repeticdo de prazeres e dores. Esse é um me- canismo natural. Mas 0 homem possui a raz3o, capaz de prever, € por meio dela tenta obter 0 prazer e evitar a dor. Descartes define os animais como puros mecanismos; Hobbes afirma que o homem é um mecanismo controlado por uma inte~ ligencia."* Sua psicologia sensualista ¢ sua logica nominalista 0 conduzem a uma ética estritamente utilitaria. Para ele, a felici- dade, que é a finalidade da moral, equivale ao desfrute, ou seja, 0 desejo satisfeito. ‘Ao tentar classificar desfrutes e bens, Hobbes chega a conclusio, evidente — dada a sua psicologia — de que nao faz sentido falar em bens nao sensoriais. Eis os bens fundamentais: em primeiro lugar, a conservacao do individuo; em segundo lugar, a previsio, a conservagio tendo em vista 0 futuro, a seguranga da vida no futuro. O restante dos bens é acrescentado a esses para tornd-los mais prazerosos."” Isso é a felicidade. O resto € literatura, metafisi- ca abstrata e sem contetido. O homem, como os animais, esta no mundo e € dotado de li berdade fisica; enquanto nao encontra um obstaculo, pode fazer 0 que quiser. Nessa situagao, 0 que acontece? Como os animais, °° homens lutam uns contra os outros. Hobbes combate severamen- te a ideia aristotélica de que a sociedade é natural para 0 homem- demais, visando as orcionar. © homem nao se adapta a sociedade por natureza, ¢ sim por disci I do homem € a luta de todos contra todo direito, liberdade e dever sio palavras fagao do propr estado natu ha direito que impega is varias, sem contetido; 0 tinico dircito € a sa prazer. O homem faz 0 que pode e tem dircito ao que pode fazer. ‘Quem tem forga para matar tem o direito de matar, se assim Ihe convém. A nogao de justica nao pertence ao estado natural, s6 existe no estado civil e politico. A relagao natural entre os homens é um puro balango de forgas. ‘A luta de todos contra todos nao tem limites, ou, melhor, nao tem outros limites além dos obsticulos exteriores, que podem vir da natureza ou da agao de outro homem. © homem luta contra 6 homem porque o inimigo natural do homem € homem: sea ‘um apetece 0 mesmo que a outro, € preciso decidir a qual dos do vai pertencer o que ambos desejam."* Como se funda um estado social a partir do estado natural? A propria luta de todos contra todos produz a necessidade dessa organizagio. Por meio da razio, o homem percebe que a luta é desvantajosa para seus interesses. Busca o prazer ¢ evita a dor, mas com a Juta continua segue 0 pior caminho para evificar uma vida de prazeres e sem dores. HA, pois, uma espécie de contradigio interna no estado de na- tureza. Quando 0 homem reflete sobre ele, ve que um dos maio~ ido em qualidade, pois o primeiro € a propria res bens — 0s existéncia — esta ausente, pois no estado natural nao pode haver tranquilidade, Como obté-La? A reflexao racional sobre as dores e as penas do estado natural produz a lei nat cia da razio sobre aquilo que se deve f conservar a vida e as partes nijo € pecado, mas estupidez, fazer ou deixar de fazer pat portale de que do stia mentali Je: ¢ preciso indicar ate Ea de um homen, dome a ¢ a liberdade individual devem ser et c decid as ques mo que deve ser feito. Os ini m possil ea violar o contrato. M tir um poder, uma forca, que persegue ¢ pune aquele que A necessiria, obtém a tranguilidade de espirito que permite levat uma vida feliz. n coibidos, os homens se toleram e, nicessi0 em troca de Tal é a origem da soberania, ou a origem do principe, com? se dizia na época. Ela se explica pela cessio que todos fazems ¢™ proveito proprio, de seu direito e de sua liberdade. No estado d& natureza, 0 direito equivale a poder ou forga. Ao abandonarmos# istae defendido de um modo dialética, Eu ico. Este .. ida, se ela for consider io. A justiga al se baseia na vontade joda oposicto € iniusta, venha de onde vier, pois © de que a lei nao seia cum principe define a justiga, A mesmo tempo, a teoria de Hobbes possibilita 1 considerado o fundador, Bem ob- ¢ € 0 retorno ao estado s dos que os possuem, Is Tevo= lucionarias, servada, stia teoria de natureza, Pois, retiando-se os poder. fica suprimido 0 corpo politico € retornamos ao estado natural 25 gra moral, Ceder a forga é um ato — de vontade; é um ato de prudéncia, nao um deve oaauin mas nio € pecado Hobbes diz que isso ¢ absurd ¢ irracion3 {ilicito, nao ¢ injusto, Justamente porque cle politico a nenhuma afirmagto metafisica ou relig €e 0 que nio € justo, nada impede que se desfaga a alianga do contrato ¢ se estabeleca outra ou mesmo nenhuma. Bis o fundamento da monarquia abyoluta: cada um cede 0 dom da liberdade para dispor de tranguilidade. Se o que esta made tudo € a forca, entao também se pode cortar a cabeca do re Hobbes pretende afastar de seu rigoroso absol oes extremas. Rousseau as recolhe e as transforma no ponto de partida de suas criticas. Hobbes deixa a sociedade ¢ 0 Estado a mercé de qualquer movimento da forga. Ea consequéncia inevité- el do modo de pensar iniciado no Renascimento, cujos produtos Jnos sdo a monarquia absoluta, no terreno dos fatoss € .a de Hobbes, no terreno ideologico. mos agora a critica rousscauniana, Ver nario, tenta estabelecer, com base no absolutismo \es — anarguia absoluta, segundo Rousseau —, 0 funda- mento de uma sociedade corretamente ordenada. associa © corpo sa sobre 0 que na absol II. A ctitica rousseauniana Forcae direito Contra a doutrina de Hobbes ¢ 0 Estado que ele representa ¢ fun- da, 1s do seu Contato social: Se eu levasse em conta apenas a forga ou 0 efeito que dela deriva, \do a obedecer € obedece, age rta, age ainda melhors scau estabelece os princip diria: quando um povo é ob bem; se ele pode se ‘que foi usado para tré-a Direito do mais for uma poténcia fisica,e seus efeitos nao pe 26 | nent iit ioe NTSC IE 1m discurso ininteligivel € «toda te the succdera no plano Iegitimo faré-lo; como 0 mais forte sempre tem razao, trata-se de te. Que sentido pode ter rca? Quando se tem fazer o possivel para ser sempre o mais i tum direito que desaparece quando cessa a ide obedecer pela forca, nao ha necessidade de obedecer pelo de- ‘ce nao ha necessidade, tampouco ha obrigasao de obedecer. da a palavra “Assim, a palavra “diteito” nao actescenta n. hada tem a ver com ela. Sio dois conceitos independentes, que nao podem ser deduidos um do outro.” “Obedeca ao poder" diz Hobbes. Se isso quer dizer "ced a for ava sugestao € boa, mas supertlua; nunca sera recusada. E uma {questio de fato. E certo que todo poder vem de Deus, ma enfermidade também; nio obstante, 0 medi cura-la. £ cla ro que se deve sofrer com um mau governo, quando € 0 caso, mas ‘6 problema reside em encontrar um que seia bom. A pis assaltante também é um poder consideravel, mas nem por isso se busca extrair dela algum direito.” Ha que se aceitar, pois, que a forga nao produz direito € que so & preciso obedecer aos poderes wea clara mente o problema juridico. Quais sio os poderes jurtdicos? Que forga é a0 mesmo tempo, diteito? Qual direito justitica € torna legitimo 0 exercicio da forya? Nenhum homem tem autoridade natural sobre outros homens. No estado de natureza, tal como Hobbes 0 descreve e Rousseau aceita, ndo ha autoridade legitima, Somente as conve 1 ser a base da autoridade legitimay 6 estado juridico obrigatorio deve ser um estado dotado de con- mos, Assim se co des pow vengoes opostas ao primitive estado natural ‘0 “homem natural” e 0 “estado de natureza” Em Rousseau, estado de natureza significa dias coisas diferen tes: de um lado. em concondane al oposte an estads social. a Eo estado ni cultura, a animalidade oposta # evihiagao O- aturesa. um ser fisen que se moviMenta junto com os demars. fenomencs fisiwos, Mas. alem disse, € um ser rae civil que se move no reIN doe valores, Isso fica Caro em toda a ‘obra de Rousseau No primeira sentido, o homem natural seria o homem pnmutiva Voltaire retere-se a este conceit culariza ¢ obra de Rousseau dizende que ext zit @ animainiace primitiva €” pus faire marcher aq Voltaire cantunde os tran O Contrate sai 6 Dascurwe sobre a eve pente salvar a civilizayan € a ¢ por uma a nem eral, Para tal, nado al mas o ida por mntrar a es © permitem dizé-lo, 0 ny cima do homem de seu tempo, © que Rousseatt came se pode concebé-to der o homer & fem direyao ao, perfewto, dle puirera, Asam, em wer de ret m, ele 0 prime’ primitiva € selva 1 nae 40 de toelas as comeustas realrzadas na his lesen possvers, Nesse sequndo mento atuial da talvear nla a JOAQUIN XIRAU ‘Além disso, ao tratar da educagao no G no Tratado de economia politica, Rousseau nunca defende uma dual ¢ isolada. Ao contririo, ele a condena e pro- s de educagao social a educagao in poe a criacdo de ginasios ¢ esco formar cidadaos, ou seia, homen sociaveis Devemos buscar outra interpretagao para 0 “individualismo abstrato” de Rousseau, Ser que a verdade nao esté precisamente na énfase nesse matiz abstrato, conscientemente abstrato? No Emilio, por exemplo, Rousseau nao pretende apresentar um trata do pratico de educagio, mas dara ideia de educagao, ideia no sen- tido platonico ¢ kantiano, Ele oferece o ideal de educagao, irreal e izavel. A pedagogia, em sentido pratico, sera social. Chega a propor que todo filho de cidadao seja obrigado a frequentar esco- las publicas, mesmo que a familia insista em Ihe oferecer uma edu- cago particular. Uma das propostas essenciais de Rou smo de sua época mediante 0 con sau é a superasio do rato social, obra da individ vontade geral. Ele faz um enorme esforgo para encontrar um con- ceito que concilie a liberdade com a vida em sociedade. Acaba afir- mando que s6 na civilizagio ha perfeita liberdade: “Somente a li- berdade moral torna o homem 0 mestre de si mesmo, pois o mero impulso do apetite é escravidio, enquanto a obediéncia a lei é berdade.” Liberdade é a sujeigao a lei da razao objetiva que, como se da negagio do individua- veremos, é a “volonté générale” Tra lismo subjetivista da época precedente. A liberdade individual subjetiva €a liberdade natural de Hobbes Rousseau também a denomina liberdade natural, no primeiro sentido da palavra natural, idéntico ao de Hobbes; tal liberdade ¢ apenas a auséncia de compulsio. Também é, naturalmente, am xima dependéncias € a “dependence des choses” e dos homens con” siderados como coisas; & 0 dominio da pura forga fisica. Quand? contrapomos ambos os conceitos, adquire sentido a ideia de ob gar um ser humano a ser livre. 30 Fato e direito, natureza e cultura Estado natural e estado civil, fato e direito, natureza e cultura, rea- lade e valor — eis as dualidades fundamentais percebidas por Rousseau. O problema do Estado nao é um problema de fato, de naturera, de realidade, e sim um problema de direito, de cultura, de valor; nao se trata de investigar realidades, mas de estabelecer Qual 0 fundamento — ou seja, a justficagao juridica, moral € ética — do fendmeno social? Rousseau percebe com clareza esse aspecto do problema, independentemente das dimensoes histéri- logica. E preciso encontrar um fundamento €tico para a organizacao social, 6rf’ de todo fundamento desde a revolugio renascentista. Afinal, 0 que torna possivel qualquer estado social?” A ordem é um direito sagrado, pois sustenta os demais, mas do nasce na natureza, na qual s6 existem fatos, nio se outorgam direitos; a ordem baseia-se em convengdes que s6 existem no ter~ reno das ideias, da cultura, dos valores. Quais sio essas conven- ‘GOes? De que ideias fundamentais, do ponto de vista ético e logico, elas decorrem? Rousseau diz — e Hobbes também poderia ter dito — que Grotius confunde os dois ambitos de investigagio: “Ele frequentemente estabelece o direito a partir do fato.”” 0 pacto soci: ndamento ideal do fato soci Trata-se, pois, de encontrar 0 E necessério estabelecer as condigoes da sociedade perfeita — uma sociedade juridica e ética, O que é um povo, ou, melhor, 0 que € um povo no estado civil? Um rebanho de homens com um chefe que os conduz no € um povo, é um agregado; nele nao ha ‘0 nem corpo politico. O governo desaparece quando a1 norre, “como cinzay que 0 fogo oe Grotius diz que um povw pode xe necessariamente ant sociedade.” a concreta,¢ governo é um ia sociedade. Esse do depois de atenta meditayao, pois esse conceito contém atros, como vontade geral, soberania e ite entre anima- manidade. O aglomerado em estado natural vai se jade organizada: as normas devem dis- mais p lidade e converter em uma coletiv \\ idos, obedega a si mesmo e permanega tao livre quanto era antes. O contrato social é uma tentativa de s\ sse problema, E provivel que tal contrato nunca tenha existido, mas suas cliusu- las, mesmo sem terem sido form de qualquer sociedade; quando violadas, o estado civil se € 08 homens retornam ao primitivo estado natural. constituam a esséncia de toda sociedade possivel: fa 30 indo sua pers tado, da sociedade, Rousseau “Cada um de n6s poe sua pessoa e ‘a0 da vontade geral € re sontratante. sar da pessoa particular de cad al € formado por tantos integr. tam na assembleia em que ele recebe sua unidade, seu eu comum, coletivo em Esse corpo quantos exis- Fa veiamos como pode ocorrer esse pacto, que € o ea origem de efeito da volonte generale, baseia-se dame todo o nda sociedade. Para Rousseau, ele € Em que consiste essa “vontade gers tema politico rousseauniane? A volonté générale a para que ade Lea vontasle moral, 1 obe ‘vet devera ser constrangt 4 forgado a ser livre’ 1 social, OW Sela, Assim se pode interpretar essa frase paradoxal algudm € forgado g ot livre quando € forgado a ser racional, humano, bertado da Avontade particular tende pura animatidade do homem natur as prefereéncias: a vontade geral, 2 igualdade, Ea razdo em sua dimensio pratica’ Nem sempre as deliberagdes do povo sio adequadas. Podem far de acordo com a vontade geral, mas tambem podem divergir dela, expressando como vontade particular, irracional, subjeti- va, puramente psicologica, movida por impulsos ou sensagdes. Nesse caso, a vontade da maioria, ou de todos, € diferente e até mesmo contraria a vontade geral. Esta s6 vé 0 interesse comum, enquanto aquela vé 0 interesse privado, constituindo-se como uma soma de vontades particulares.” A primeira e mais importante consequencia desses principios que soa vontade geral pode dirigir as forcas do Estado de acordo com a finalidade para a qual ele foi instituido, o bem comum. In- res em conflito tornaram necessdrio fundar a so- teresses partic iedade, enquanto o acordo entre esses mesmos interesses tornou possivel fundar o Estado: se no houvesse nenhum ponto de con- vergéncia entre eles, nenhuma sociedade e nenhum Estado pode- riam existir. A sociedade deve ser governada tendo em vista so- mente esse interesse comum. Os lacos que nos unem ao corpo social s6 so obrigatérios se forem reciprocos, Para ser genuina, a vontade geral deve ser a de todos, no objeto e na esséncia; deve partir de todos e ser aplicada a todos. Ela deixa de ser legitima quando se dirige a algum objeto individual determinado, pois nesse caso deixamos de ser guiados pelo principio da equidade. Segue-se que a vontade geral —a razio em sua dimensio pré- tica — nunca pode se anular ou se corromper. Ela € constants, inaltervel e pura, embora as vezes seja subordinada a outras von- tades impuras. Mesmo quando alguém isola o seu interesse do interesse comum, vé que nao pode separd-los completamente. Obtém um bem particular & custa do mal puiblico, mas, excetua"” 34 dose esse bem, continua a deseiar 0 bem geral, Quando se vende nao se extingue a vontade geral de quem age le momentaneamente. A falta que se comete € terar a questao ¢ responder algo diferente do que foi perguntado, im ver de dizer “isso € vantajoso para o Estado’, se diz “isso é van- tajoso para tal partido ou para mim", ‘ompreende-se entao que seja possivel permanecer livre € se submeter a lei das maiorias, se esta representar a vontade geral." Com efeito, 0 cidadao consente em todas as leis, mesmo aque- las feitas & sua revelia ¢ as que o castigam quando viola alguma. A vontade permanente de todos os integrantes do Estado é a von- tade geral, por meio da qual eles sao livres. Quando alguém pro- poe uma lei a assembleia, o que pergunta nao € se ela deve ser aprovada ou nao, mas se esti de acordo com a vontade geral. Ao votar, cada um se posiciona sobre isso. assim; ela s6 se A soberania A soberania e a lei sio entidades derivadas dessa construcao geral. A soberania é a vontade geral armada de forca impositiva, ou seia, @ razio assistida pela forga. A razio implicita na vontade geral s6 age mediante a forga que a constitui como soberana: soberania é a razao pratica assistida pela forga,a razio que domina. A soberania nao pode ir além das convengoes gerais.” Qual- ‘quer ato de soberania — ou seja, qualquer ato auténtico da vonta- de geral — obriga ou favorece igualmente todos os cidadaos, pois © soberano s6 conhece © corpo da nagie como um todo e nao distingue aqueles que © compoem. O ato de soberania nao liga 0 superior ao inferior, mas o corpo da nagao a cada um de seus in- tegrantes. E uma convengio legitima, pois se baseia no contrato social; € equitativa, pois é comum a todos é util, pois s6 pode ter como objeto o bem gerak:é social, pois tem como garantia a forga Publica e o poder supremo. Submetidos a essas convengdes, os sujeitos obedecem também as suas proprias vontades: “Perguntar até onde 1 0s direitos do soberano ¢ os dos cidadios € c esten 35 ate que panto estes podent gat-se entre si, cada un ant todas ¢ todos com ead y Jasin comto a naturesa contere a cata home wm poder abso- Jato sobre os membros de sett proprio corpo. o pacto social cons integrantes, Dirigido pela vontade geral tal poder chama-se soberania. Sen fore ao corpo potion um poder absolute sobre se dow ercreicio da vontade gota a soberania nao pode ser atienada, © soberano ¢ um poder coletives* Alei © produto d vontade geral em evercicio € a Tei, que, part Rous- seaundo deve ser pensida de forma metati i “Enquanto se ae jas metatisicas, a incompree oguee uma s do Est jo continuara® atural tambem nio esclarece nada so gue nao ha vontade geral que incida sobre um obje- estabelece uma relagio entre © objeto ado ponto de vista ¢ 0 objeto inteiro, .2 sobre a gual se trabalha € geral como a vontade: doa Ligdes da asso. cio civil, sio um ato da vontade O objeto de uma lei deve ser sempre de cariter geral. A Tei fera os st Jos em geral ¢ as agdes em abstrato, nunca um m como in ividuo ou uma agio especifica, Nenhuma de- Gsio que se refira a um objeto particular pertence ao dominio legislative.® E preciso evitar qualquer atentado 3 universalidade Ja lei. O contrato social da vida ao corpo politico, enquanto a sto Ihe confere movimento e vontade. Nao obstante, geralmente consideram-se leis — que sio ates © soberano nao é ais forte que © poder legislativo, pois s6 ..O Estado subsiste pelo poder legislative, Al necessariamente obriga hoje, mas © consen- timento tacito expresso no pacto social persiste em todas as va- riage 1a por meio das de ontem 1 Agora temos comple condigoes sais de qualquer socie- dade. O estado civil se constitu por meio do pacto, expressio pri maria da vontade |, € se perpetua nas leis que essa vontade, fixa. A vontade geral torna-se soberania quando adquire poder para se constituir em realidade estatal, O restante € secundario e derivado; sio problemas de politica concreta, nio de fundamenta- io ultima — ética e juridica — do estado civil geral 0 governo Duas causas atuam para produzir qualquer acio livre: uma é moral, a vontade que determina 0 ato; a outra ¢ fi a, 0 poder que o executa. Também no corpo politico distinguem-se uma vontade — o poder legislativo — e uma forga — o poder execu- tivo. O exercicio desse poder consiste em atos particulares que no sio de competéncia da lei nem, por conseguinte, do soberano, cujas agdes s6 podem tomar a forma de leis.» E necessirio que a forga publica conte com uma diregio que a mobilize e a coloque em ago, seguindo a vontade geral. Essa é a razio de ser do gover- no, erroneamente confundido com o soberano, do qual é apenas © ministro. O governo é um corpo intermediirio, estabelecido en- tre 0s sueitos e 0 soberano para que haia uma correspondéncia entre as duuas partes: ele se encarrega de exccutar a lei e manter a liberdade civil e politica.** Os integrantes desse corpo sio magistrados — ou seja, gover- nantes —e o corpo inteiro recebe o nome de principe. Tém razio da vontade soberana — decisGes que se tomam por atos de s0- berania, como declarar a guerra e fazer a paz, Isso & inexales pois cada um desses atos nado € uma lei, mas somente a ap cio de uma lei, um ato particular que a determina em cada 8 concreto. os que afirmam que nao ¢ pelo contrato que um povo se submete a determinados chefes. O governo ¢ apenas uma comissio: fun- cionarios exercem o poder m nome do soberano, que os no- meou para essa tarefa e pode limitar, modificar e recuperar esse a7 poder quando o desejar. Diz. Rousseau: “Denomino governo, o4 no do poder executive, Denomino principe, ou magistrado, a0 corpo ou aos corpos en. carregados dessa administragio” Ha uma diferenga essencial entre 0 soberano € 0 governo: o primeiro existe por si mesmo, enquanto 0 outro existe por meio suprema administragao, ao exercicio leg do soberano, A vontade dominante do principe é ou deve ser, a n ato absoluto e 4 a se enfraquecer; se chegar a ica que esté em vontade geral expressa na lei se ele produzir alg independente, o lago social come projetar a sua von! ide particular sobre a forca pi sua maos — de modo a existirem, por assim dizer, dois sobera- 0 —, a uniao social desaparecerd nos, um de fato ¢ outro de dit €0 corpo politico sera dissolvido. O corpo pol continuamente contra a vontade nente a soberani 10 mais se reforg co tende ratua particu pois a vor eral. O governo ameaga per- mais altera a soberano ¢, finalmente, rompe o pacto. su de modo q ndo scu poder; ccessdria para pe 8 necessiria para que si se presery nao pode ser modificad 0 sober no reconhesa um supel urdo qt obedecer a.um senhor é toy Jonar o governo da razao e do Além disso, esse contr retornar ao imy 1 alo particul , ilegitimo. As partes ¢ um ato de sober de natureza, sem nenhuma garantia de que seus compromissos reciprocos seriam respeitados. Isso corresponderia ao absolutic, mo, 0 equivalente da anarg quem tem a forca nao pode arbitrar sobre seu uso, Nesse caso, dar-se-iao nome de contrato a0 ato em que um homem dissesse a ntrego-te os meus bens a8 © que quiseres."* © contrato da associagao primitiva, euja na- tureza exclui a possibilidade de qualquer outro. Nao se pode co ceber nenhum outro que nao seja uma violacao do primeiro, com a supressao do estado civil como consequéncia O ato de instituir um governo é complexo. Compoe-se de do ‘ou mais atos, a saber: estabelecer uma lei e executar essa lei, No primeiro, 0 soberano define que haver um corpo ps verno, organizado segun tro: ico de go- » uma forma predeterminada; esse ato é 9, Homeia as pessoas que Vio exercer a che! esse € um ato particular, Nao € uma lei, mas uma consequi ma fungao de governo,"® O soberano executa o primeito, ncia ando democraticamente,"' instituindo um ‘nas cumprem sei Hobbes. © pacto — expressio da vontade eral. dividual — é a lei fundamental medi tituem uma unidade superior as leis objetivas do novo estado, © homem passa a ser governado pela ravio, Mas para que o estado civil perdure € preciso que a vontade geral est a pela forga; a sober: duas. Uma poténcia ir aria da lei. © Contrato enquanto a segunda ‘Alembert. A legitimida- € uma so para to- a assist a € a assoc ional, gniada por my — por uma vontade partic tem o direito de ay ver a servigo da razao universal, Na realidade p isa da forga. to das vos particulares 1 —, sera forga, nao dite’ ar para a forga, cuj0 Uso 36 se Cada determinagao legal abarca setores mais ou ma série de condigoes arregado de s derivam do necessitia, ou seja, objetiva: a lei, em si, s6 afeta c itos humanos. O 1 do pacto se ramifica em idade social. S6 em um sentido a lei € u tos grupos de (os € apenas um da vontade ge Comentarios breves tade geral ria’ Porém, pode-se deduzir essa hipotese do que na socia Pusemos? E claro que na obra rousseau ideias vivas que criaram uma das mais fortes correntes do pensa- induzem a isso, mas essa nio € u E simplesmente a t sarar em Rousseau 0 que € produto do ambiente, in- jana ha passagens qu ideia genuina de Re pan sposigdo da soberania do ret abs nente ¢ 0 que é episédico ¢ circunstancial na obra rousseauniana, romano e moderno — para 0 povo, co de lado 0 que Rousseau tem ado entre o R todo 0 pensamento si rapor a ques: rica, contr, mos na mudanga f aco ; criticos de empirico ed meta- Rousseau disse que em suas mos destac morta € impessoal de sua obra. O qu Js. Insiste-se na sua afirmagaio de uma le escapa a maioria del fodos os homens d ra atenta nao permite deduzir isso. Ao contrario, Rousse: infin i ou, se & € boa, ma quea legislagio empiri 40 Pois expressa a vontade geral lei que se impoe a todos? Em que se ba to oferece? Com que dircito se fundamente a assim € a vontade geral, Como a rar tiva, universal e necessana, Para Rouss o governo nao éo sober: overno ocupara um lugar tao de, com a nogio de soberania em h rania € aw ade geral mai Assim, Kear 0 conceito de soberania de Rousseau a partir da 4 dade do Estado.” O responsavel nao é 0 sobe — como poderia sé-lo, se ele € a razao armada de pr overnantes, ou seia, os func car as normas da v ade geral em cada caso concret cada ver mais disse- esseniciais, interessantes ¢ tente de fn diferente da iéncia sobre a ex eaproveitavel le esta mistu- concepgbes am: Mio eles 0s responsaveis por isso. A concep- Assim se explica, por exempl associagdes ou sociedades de Renascimento como um res lece por rardes de po 4 forte oposicio de Rousseau as rater parcial, conde > medieval tica eleitoral, como uma real a vontade geral." Trata-se, pois, de um que nio afeta as ideias capitais do conte: As criticas mais duras ao Cont toricista e, de modo mais geral, po: deseo dico para o estado social ele vé a possibilidade de um acito, que € a afirmagao primaria da vontade geral. Para Jade empirica de cada Estado, defende o su- a lei de maiorias, mas nao recusa — ao ria da lei, Pois ambas as solucoes, € todas as demais, s40 compativeis com a afir- magao absoluta, prévia, de uma lei geral, universal e necess: oposiao a lei particular e contingente. O que ele busca 6a objet vidade da lei. E preciso preservé-la do subjetivismo de cada época, Essa foi a preocupayao central dos mais importantes p desde 0 Renascimento até hoje. Naturalmente, as objegdes decorrentes da interpretagio abs Juta da soberania rousseauniana desmoronam quando se destacd 0 sentido profundo de algumas de suas teses. Por exemplo, ele ni se opoe a ideia de federagoes de varios tipos — que podem sf sociedades territoriais ou espirituaiy — compativeis com a cepgao que acabamos de resumir, Mais a ree 0 universal, mediante hee N © problema filosotico do dever ser, que fun- ‘ta, justifica € valora toda a real € positivismo tentam averiguar apenas os vem na forn ia,em 10 € no desenvolvimento do direito, buscam a raiz nila do direito € do Estado, suas causas e fo 40 direito e pern 19,90 € posivel encontrar os princi direito no tempo, eo mé- sa empirica dos fatos, i 42 1 0s fatos. A origem da sociedade est Fm Rousseau, trata-se dy Mas nao basta const: de factum na interdependéncia soci vontade geral, Porém, mais do que a solugio concreta, deve-se valorizar a nova, bela ¢ interessante maneira de colocar 0 pro- blema da filosofia moral e juridica. Os positivistas, principalmen- te os de mais fina percepgio, nao veem 0 problema de Rousseau, que é principalmente o da Iegitimagio das sociedades, a busca dos fundamentos que as tornam possiveis. Falam de fatos, nao de direitos. Rousseau critica isso textualmente quando se refere a Grotius e Hobbes. Antes, a sociedade estava fundada em Deus. Com a separagao entre direito e teologia, onde se pode encontrar seu fundamento? © que Rousseau representa de contrério a Hobbes pode ser comparado — com outros desenvolvimentos e problemas, ¢ claro — com a postura dos modernos neokantianos contra as ten\ cias historicistas e positivistas. Rousseau realiza 0 primeiro esbogo desse pensamento. Sua influéncia sobre Kant € extraordinaria, conforme o proprio Kant confessa. Tentemos precisar um pouco ando algumas hipsteses sobre a influéncia ais esse ponto, enuncis i de Rousseau na corrente idealista que tem origem em Kant Rousseau e Kant Rousseau influenciou decisivamente Kant e, portanto, todo o pen- samento idealista do século XIX. Kant diz isso explicitamente, afir- mando que suas maiores influéncias foram Hume, no plano te6- rico, ¢ Rousseau, no pritico. Compara Rousseau a Newton: este ples que une as leis da natureza havia encontrado o principio material, enquanto Rousseau descobrira a nogio de uma mora: lidade simples e pura, pela qual podemos conhecer em profund- dade a alma Nio éd belecer uma analogia entre a vontade indivi duak caprichosa, movida pelo psiquismo [Willkir], diferente é 2 [Willen], e a distingio feita no Com Je propriamente dita en ade geral. O prazer ¢4 jal entre a vontade de todos e a vont, von 44 tade individual cm diresao a agao. A vontade pura se determina pela pura razao, pela ideia da universalidade do ato, Se todos os homens a oncordariam entre si. Todas as vontades puras coinei- seguissem, dem na universalidade da lei. A vontade de todos, soma das vontades individuais, se move por capricho, diferenciando-se claramente da vontade geral. As vontades individuais podem concordar por motivos externos, mas nem por isso deixam de ser plurais, existindo sem atingir a tot dade estrita e necesséria. A sociedade nao é soma dos individuos; isso € uma pluralidade. A sociedade € unidade na pluralidade, ou seja, totalidades é uma ideia que independe dos individuos e do territ6rio. Ha perfeita correspondéncia entrea Willkiirkantiana ea volon- 16 de tous, de um lado, ea Willen kantiana e a volonte générale, de outro. Por isso Rousseau nao defende de modo absoluto o sistema de maiorias, como poderia convir ao seu temperamento democri- tico. Pelo menos isso nao é essencial em seu sistema. Ele admite a possibilidade de se aproximar da vontade geral por outros proce- dimentos. Chega a se referir a legisladores unicos, como Licurgo, que representam a vontade geral. Para ele, 0 parlamento nio € a linica forma de praticar a democracia, e a democracia absoluta nao € possivel. Como toda ideia, ela € irrealizavel; a0 penetrar na realidade, perde sua pureza primitiva. O restante do sistema rous- seauniano € técnica politica, ou seja, estudo dos meios mais ade- dade com o minimo de perda. quados para trazer a ideia a re. O sistema de maiorias baseado na volonté generale € apenas uma das tentativas para se aproximar da volonte generale pura. A técn ca varia conforme as condigoes geograficas, histéricas, sociolé- agicas: a volonté générale é eterna e pura. També sistema de Rousseau a origem — mesmo vaga e sentimental — da “auto- kantiana, O Contrato, no plano politico, e 0 am claramente esse ideal de perfei- \ividualista e liberal Jo seria d ia da vont lio. no pedagogico, trang ta autonomia. A imposigdo de fora para dentro — mor, A imposigao da lei raciot — seria a heteronomia. —a volo générale, no plano pol Contrato, quando todos seguem somente sua liberdade, coincidem na lei universal e necessitia d générale, condigao para a prom ocasides Rousseau se refere & indica; Kant a demonstra. Outra influéncia forte e evidente é a da ideia de estado de na- tureza. Vimos que Rousseau supoe que essa primitiva situacao social corresponde ao estado perfeito do homem — uma imagi ‘a, ndo uma realidade historica. O homem sai desse > que o esta- co — seria a autonomia da vontade, No a sua propria lei, a lei da volonté 0 social. Em varias gaye do pa versalidade da lei Rousseau a nagio poet estado ¢, desgragadamente, entra no estado social. N: do social seia ruim em si. Ao contrario, ja tratamos disso. O que é Tuim € que essa passagem no atende aos principios fundamentais de toda sociedade; ocorre ao acaso, sem seguir nenhuma lei. No século XV1il a injustiga social era enorme. Existiam castas, dife- rengas entre os homens, opressio e dominagao. Como vimos, o ideal nao € 0 retorno ao estado de n: sim ao estado social natural; 0 melhor estado social sera 0 mais préximo do estado de natureza. Esse estado social natural é justa- mente 0 que esté esbogado no Contrato social, Kant desenvolve essa ideia de modo sistematico ¢ rigoroso. A vida humana, na hu- manidade inteira, segue uma evolugao. De modo vago, Rousseau situa 0 estado ideal dessa evolugao — que Ihe serve de norma para julgar os estados particulares como bons ou ruins — na origem dos tempos, enquanto Kant o coloca no futuro. £ a ideia do reino dos justos, a ideia geral que rege toda evolugio racional. Ambos coincidem ao afirmar que o estado atual deve se transformar em is perfeito € que as transformagdes nao sio acidentais, lureza, e outro ma mas guiadas pela ideia pura. Para terminar, vejamos como essas ideias éticas e pol vergem para outra, de cardter mais geral, que Rousse: indica e Kant desenvolve claramente. cas con- uy apenas 1“ isseca os arg sidera sem valor — tedrica pura nao € capar de resolver esses problemas sicos, como Kant dirs: isso pertence ao dom p coragao, nos dis isso. Porem, que sig- 2 £ preciso me Sentimos que Deus existe, 0 coraca Tigoroso pode ter essa a0 cor terpreta-la. Poderiamos interpreta-la assim: a razao humana é incapaz de demonstrar a existéncia de Deus, da alma ete. por meio de argu- seia, a metafisica & impossive por isso mentos tedricos: devemos nos aproximar do mater bach e dos enciclopedistas: nao se pode demonstrar a existencia de Deus, mas isso nao significa que ele nao existe. Ha uma voz na fi ncia. Sera que oda exube- na mio se pode perceber a origem ea separagao entre 0 tedrico € 0 pritico? A existéncia de Deus, ditia almente possivei nao sio irracionais; si raci exige; logo, € preciso crer neles. Se, como podemos presumir, Kant r pectivas na obra de Rousseau, explica-se perteitamente a decisiva influéncia a que se refere. a” rime que temporal. O problema de Abe ch compat lavcenane 10 da moralidade, ™ ol nova aque irrompim fusi de textos rabeseartticns Hane «sorgando-s para conservar sa pip vel Wa defender seu poder expr tradigao (Windelband, op. cit.) ” 7.Gom ase ‘3s ae no posso fazer agui, mas que no aetam o sentido desea afire 8, Recorde-se como a psicologia moder R chamou as coisas, em certo cor ‘contetidos de consciéncia’:O idealisn que nasceu, por diversi vas, do. sum produz um fendmeno paradoxal: 0 Uni a {Que 0 espirito individual tem de si mesmo 80 se sabe algo por meio das idcias le seus estados; dos outros espiitos te se referem aos corpos e, por analog, aos inte representagao no esp lade de todo 0 egoismo, como entio se ‘chamava (Windelband, op. cit.) 9. Windelband, op. cit 10. Por iplo, Alberto Gentile com o di 1s gentes, objeto primordial das investigasdes de Gro- la ideia de uma filosofia da historia, desenvolvida depois F as principais influéncias que Hobbes sofre ecanismo cartesiano, eve extraordinsria inluéncia sobre e ‘de Hobbes, sob determinado aspecto, como a aplicasao do me- 0 de Descartes a0 dominio social ¢ moral. (b) Hobbes viveu em plena Re ue 0 espeticulo revolucionsrio explique, total ot te, seu Gdio contra todo enfraquecimento da autoridade;talver Ihe Jo tambem a ideia do estado de natureza; além disso, ele foi muito in 2: contrao a Revolugao, assist a0 triunfo desta eaderi 20 ® verno de Cromwell, que pouco depots cai talvez essa radical inadapragio cont para explicar seu pessimismo ¢ sua ideia de um estado de natureza reals (c) Percebem-se claramente as influéncias do meio tipicamente ingles um orialista, um declarado utilitarismo que ganha formas cia npirista e _——_—_—___e__ sma comnparasso de prazctes. Com indi= 4 Weia de Bentham de uma “aritmetica do stad de nature o leva a xa 1a a evolugao que comesa num pastado ainda acangado pela Embora deva ter exstidoo estado de naturera ele no € objeto de XVUL XVII e XX do € supersticio estdo na mesma relagio que ural na politica, Supetstigao soos fantasmas individuais da vals, 04 5 ‘estado civil estado hhomem natural religito s4o os mesmos fantasmas, porem eh tudo para um dialético tao rigoroso, Ele ecapa da dificuldade com ificasdo dos atos do poder, mesmo que sejam arbitrérios. Ndo pode hhaver revolugio de fato. A necessdade de sempre obedecer ao ditito postive ba- Seia-senalei natural com efit, arazio manda cftwat o mais conveniente,€ 0 mais conveniente ¢ lei posiiva, que traz tranquilidade, A vontade que recebe 0 poder das demais vontades nio pode errr, pois seu fim € sempre a conservagio da order, 3, um bem superior aos males que peeriam vir de supostos rtos do monar- is errossio sempre menos danosos que o estado de natureza. Ecerto que o faz 0 que quer, mas esse €0 prego da tranquilidade eda paz, Mas no estado de nat feza ocorte © mesmo. Tendo-se ac uilidade,o restante se dedue ‘© maior bem € tran 26. bid, p. 9-10, 27. Ibid. p. We 8. 2K. E.Vial, Rousse educa 29... Rousseau, 30, Rousseau fo de 31. J. Rousseau, 32.].]- Rousseau, Du Co an des Sciences Sociales . XLII, p. 103-106, Ed. Nelson, ¥. I. lema da sociedaie com 0 do Estado, Dat so em todas a suas investigagdes ry ar a preciosa aquisi ddo Renascimento, UE Rousseay (64.1, p19, a meso tempo sper, inuindo a individual 65. Ibid. Sua obra consist, em grande pate, ness critica ymo7 114 a um grave problema, 16. 1b. p13, (67. Ibid. p60. (8, Rousseau, Du Contra sociah p. 32, Setanta smog “oF ominere mance deposi Se sas kage cer dedur da natureza do 0 cxige unanimidade: cada um ¢ livre ‘que os descontentes nao inva 2763334, USSCOL SUH UE © SUFFARIO Mostra a vo pote p02 cs supondo-se, come Rouseld tade do pov. 3

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