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Nota de Autora
Olá, meus amores!
Quem está acompanhando a Saga da Dinastia de
Tamrah, sabe que Majdan voltou da clínica de
reabilitação disposto a permanecer solteiro. Todas as
vezes em que via Saqr e Yusuf surtando por causa de
Kismet e Malika, ele ria, provocando principalmente o
Yusuf.
Coloquei no roteiro do livro de Majdan uma cena
em que Yusuf teria a oportunidade de fazer o mesmo,
rindo dele quando estivesse apaixonado e sofrendo pela
Thara. O problema é que Yusuf só descobre que o irmão
estava apaixonado em um momento muito crítico da
história de Majdan e não vi ali espaço para Yusuf brincar
com algo tão sério. Quem leu A Esposa Desejada Pelo
Sheik, sabe que Yusuf foi o irmão que mais ajudou
Majdan durante todo o tempo. Nos capítulos seguintes do
livro, os eventos se sucederam de uma tal maneira que
também não houve como encaixar a cena desse bônus,
por isso eu a retirei. Como o livro já estava muito grande,
decidi não a colocar.
Então aconteceu que recebi algumas mensagens
de leitoras dizendo: “Lettie, faltou os irmãos também
rirem dele por estar apaixonado”. Pensei logo: Eu não
deveria ter cortado.
Foi assim que surgiu a ideia de escrever este
bônus, que além desta cena com os irmãos, tem também
uma outra que constava do roteiro inicial e que também
cortei. Trata-se da cena com Wilson Cox, um personagem
que ia aparecer no livro A Esposa Desejada Pelo Sheik,
mas que ficou de fora.
Para além dessas duas cenas extras, vocês
também vão encontrar neste bônus duas cenas
importantíssimas para o livro de Sabirah & Assad, que
será o próximo a ser publicado da série. Não percam essa
leitura, meus amores!
O que mais teremos aqui? Cenas quentíssimas
com o nosso Leão de Tamrah Majdan Al Harbi e a sua
jovem (e afortunada) esposa Thara Ayad.
Preparadas para rever todo o clã Al Harbi e viajar
de novo no tapete mágico? Pois venham comigo,
meninas! Rolem as páginas e mergulhem na magia do
mundo árabe que só a Saga da Dinastia de Tamrah pode
proporcionar.
Com muito amor,
Lettie S.J.
Tamrah
Majdan
— Quero que comecem a trabalhar na campanha
publicitária do Festival White Star de Hipismo. Me
apresente o projeto o mais rápido que puder.
O diretor de marketing da Two Visions meneou a
cabeça em assentimento e olhou para o assistente dele,
que imediatamente fez anotações em um bloco.
A agência que contratamos tinha feito um
excelente trabalho de divulgação do moderno e luxuoso
polo turístico de Tamrah e eu apostava que esse novo
projeto teria o mesmo sucesso do anterior.
— Vou providenciar, alteza. Inclusive, venho
pensando em uma abordagem um pouco diferente nessa
campanha. Em vez dos modelos europeus que usamos na
campanha anterior, gostaria da autorização de Vossa
Alteza para contratar algumas pessoas da própria Tamrah
para a divulgação do festival.
Franzi a testa, sem entender o que ele realmente
pretendia.
— Explique melhor esta sua ideia, Wilson.
Wilson Cox era um homem com pouco mais de
trinta anos e considerado um gênio do marketing. Diziam
que era adorado pela equipe que liderava e temido pelos
concorrentes. Eu o havia conhecido pessoalmente há
apenas duas semanas, quando ele chegou de Nova York
para assumir o projeto de Tamrah, que antes estava sob a
responsabilidade de George Smith, o sócio majoritário da
Two Visions.
Ao contrário de Wilson Cox com a sua juventude,
George devia ter a idade do meu pai e era um homem
excepcional a nível profissional, mas também pessoal.
Entendi perfeitamente quando ele precisou voltar a
Londres por motivos familiares. O pai foi hospitalizado
em estado grave e possivelmente não sobreviveria ao AVC
que teve.
Os dois sócios da Two Visions pareciam pai e
filho, apesar de não terem nenhuma ligação familiar.
— Pessoas comuns muitas vezes fazem a
diferença em uma campanha, ainda que um modelo
profissional acabe por ser o rosto que mais vai aparecer
nos anúncios — Wilson explicou o seu ponto de vista. —
Para este caso em especial do festival de hipismo, acho
que colocar pessoas nativas causará um excelente
impacto. É a cultura do país sendo mostrada em um
festival que acontecerá aqui.
Não vi muita inovação naquilo, mas achei melhor
não ser tão duro com o homem.
— Já fizemos isso na outra campanha —
simplesmente lembrei-o.
— É verdade, mas eles foram coadjuvantes que
apareciam em segundo plano. Desta vez, a minha
intenção é que o protagonismo do anúncio seja mesmo de
pessoas comuns de Tamrah e não de modelos
profissionais europeus.
— Apesar de sermos um país bastante moderno
se comparado a outros da região, só existe uma única
agência de modelos na capital. Mesmo assim, a grande
maioria dos agenciados são homens. São poucas as
mulheres que se aventuram na profissão de modelo aqui,
simplesmente porque não há trabalho para elas nessa
área. É uma questão cultural difícil de ser mudada.
— Conheço a agência e ninguém de lá se encaixa
no perfil que preciso. Também não pretendo contratar
modelos profissionais. Quero a naturalidade de pessoas
comuns, alteza. Desde que cheguei, tenho observado o
seu povo com atenção e até já identifiquei uma das
mulheres que gostaria de contratar. Logicamente, com a
autorização de Vossa Alteza. Sei das regras existentes no
país e garanto que não vou ultrapassar o decoro exigido
ao tratar com nenhuma delas. Será a minha
coordenadora Wendy Bellamy quem ficará responsável
por fazer a proposta de trabalho para as mulheres que
nos interessarem, caso Vossa Alteza concorde. Só preciso
de autorização para dar início à contratação.
Não vi motivos para negar, mas eu tinha todos os
motivos para impor limites ao que ele pretendia.
— Desde que mantenham o respeito com as
nossas mulheres e ofereçam um contrato justo, está
autorizado.
Wilson Cox sorriu com satisfação.
— Começaremos a selecionar os candidatos ainda
esta semana, inclusive as mulheres. Tem uma em especial
que me interessou bastante para este trabalho. Eu a vi
nos corredores da Global Harbi e a Wendy está só
esperando o meu sinal verde para falar com ela.
Eu não esperava por aquilo.
— Na Global Harbi?
— Sim, alteza, aqui mesmo, mas foi muito
rapidamente e ainda não a identifiquei. Mesmo assim, vi
logo que é perfeita para o trabalho. Tenho um olho clínico
para rostos que podem dar certo no mundo da moda.
Posso dizer que o meu faro é muito apurado na hora de
caçar talentos no meio da multidão — elogiou a si mesmo
com uma certa arrogância. — Quero esta mulher na
campanha e agora que recebi autorização de Vossa Alteza
para falar com ela, pretendo contratá-la. O rosto dela é
bastante exótico. Possui os traços faciais mais procurados
hoje em dia no mundo da moda. Se for bem agenciada,
fará bastante sucesso na carreira de modelo fotográfico.
O interesse dele era visível em cada palavra, o que
me fez olhá-lo com desconfiança. Daquela vez eu teria de
ser duro, impondo taxativamente os limites que ele não
poderia ultrapassar.
— Não vou admitir nenhuma falta de respeito
com as mulheres do meu país, seja dentro ou fora da
Global Harbi. Aqui os homens não abordam as mulheres
que não conhecem para fazer propostas, seja de que tipo
for. Tenha muito cuidado ao lidar com esse assunto.
Encarei-o friamente, reforçando o alerta que
estava dando, para não dizer a ameaça que estava
fazendo.
Wilson Cox arregalou os olhos de susto com o
meu tom de voz seco e incisivo.
— Jamais faria isso, alteza. Tem a minha palavra
de honra.
Eu esperava que sim ou ele teria os dias contados.
— Se esta mulher trabalha aqui na empresa, vocês
vão precisar falar com o departamento de pessoal. Eles
tentarão identificá-la para você e dizer se poderá ser
liberada das funções que desempenha na Global Harbi
para se juntar à campanha publicitária. Isso, caso ela
concorde em fazer esse trabalho. A decisão será
unicamente dela. E lembre-se: qualquer contato com as
mulheres do meu país tem que ser feito pela sua
coordenadora e não por você.
— Não se preocupe, alteza. Seguirei todos os
trâmites legais. A campanha do festival de hipismo será
um sucesso.
Capítulo 2
Majdan
Dos meus quatro filhos, acabei por eleger o
Ibrahim como o mais dorminhoco de todos. Com pouco
mais de oito meses, ele caía pesadamente no sono sempre
que mamava. Podíamos dar uma festa no quarto dele sem
que o mais novo príncipe Al Harbi fizesse outra coisa que
não fosse se virar para o outro lado no berço e continuar
dormindo.
Comentei aquilo uma vez com a minha mãe, que
soltou uma risada ao ver a minha cara de preocupação.
— Thara é uma mãe tranquila, amorosa e
confiante, que passou tudo isso para o filho durante a
gravidez. Normalíssimo que ele seja assim. É uma benção
para qualquer mãe ter um filho tranquilo, ainda mais
sendo o primeiro. O mais calmo dos bebês que tive foi o
Jamal. Você e os seus irmãos deram muito mais trabalho
na hora de sossegarem para dormir.
Obviamente que eu não fazia ideia de como fui
quando bebê, mas a minha mãe tinha razão com relação à
Thara. Se eu já não tivesse a certeza de que ela seria uma
excelente mãe ao vê-la lidar com os meus outros filhos e
com as crianças das casas de acolhimento, sem dúvida
que teria aquela certeza ao vê-la cuidando de Ibrahim.
Para nossa alegria, ele compensava as
imperturbáveis horas de sono com uma enérgica
vivacidade quando estava acordado, sendo bastante
amoroso. De início, cheguei até a pensar que Hud, Imad e
Abia ficariam enciumados, o que não aconteceu. Ibrahim
distribuía beijos e abraços em quem o pegasse ao colo,
conquistando imediatamente a todos.
Acostumei-me rápido com aquela nova rotina
dentro da Ala do Leão. Eram dias cheios de plenitude e
felicidade como nunca pensei que teria mais na minha
vida. Allah1 realmente havia me abençoado.
À medida que Ibrahim crescia, Thara passou a ir
mais vezes à Global Harbi para trabalhar no Ministério da
Mulher. Combinamos que ela aguardaria mais um tempo
para voltar a visitar as casas de acolhimento, onde o
trabalho era mais exigente. Ali no escritório ela também
ficava mais perto de mim.
Nos dias em que Thara ia dar expediente na
Global Harbi, íamos e voltávamos juntos. Quando o meu
horário não coincidia com o dela, Sabirah a levava. As
duas continuavam amigas inseparáveis.
Aos meus olhos apaixonados, a minha mulher
estava cada dia mais linda e sensual. O corpo havia
recuperado totalmente a antiga forma, com exceção dos
seios que ainda permaneciam maiores por causa da
amamentação. Raramente ela saía de Taj com os cabelos
soltos, indo para o trabalho com uma longa trança nas
costas e um hijab2 de tecido leve cobrindo os fios
castanhos. Aquilo não diminuía em nada a beleza
marcante de Thara. Ao contrário, enfatizava mais ainda
as sobrancelhas arqueadas e a boca naturalmente
volumosa.
Foi aquela boca que beijei dentro do carro antes
de descermos no estacionamento privativo da Global
Harbi.
— Aqui não, Majdan! — ela reclamou, olhando
para os lados com receio.
— Ninguém vai nos ver.
Ignorei tudo e aprofundei o beijo, sendo
correspondido no instante seguinte. Thara havia
aprendido a me enlouquecer de tesão com pequenos
gestos, como o suspiro de entrega que soltou ao abrir a
boca e me deixar invadi-la com a língua.
Hoje, eu não passava de um marido sedento, um
leão esfomeado que nunca saciava a fome que sentia por
aquela mulher. A minha mulher.
— Tenho fome de você — grunhi na boca
deliciosa.
Uma risadinha sensual arrepiou o meu corpo
inteiro.
— Não saciou a sua fome ontem à noite?
— Ando sofrendo de algum mal desconhecido
quando estou perto de você que me deixa assim. —
Segurei a mão dela e coloquei na minha virilha para que
sentisse como o meu pau começava a endurecer.
— Majdan!
Daquela vez o tom era de repreensão e suspirei
conformado quando ela afastou a mão.
— Você tem razão. Mesmo que não haja câmeras
nesse lado de cá do estacionamento, é melhor parar.
Desci do carro e fui abrir a porta para ela.
— Tem certeza de que ninguém vai perceber
nada? — Thara desceu olhando significativamente para a
minha virilha.
— Tenho. — Foi mais um rosnado do que uma
resposta.
Fechei o carro e fomos para o elevador, ficando
cada um no seu andar.
Capítulo 3
Majdan
A minha manhã de trabalho se resumiu a entrar
na sala de reuniões assim que cheguei e sair dela na hora
do almoço, depois de horas de conversas e de decisões
tomadas com a minha equipe pessoal de assessores.
Assim que tudo terminou, consultei o relógio no
pulso. Ainda faltava cerca de vinte minutos para terminar
o expediente de Thara, mas resolvi descer logo para o
andar do Ministério da Mulher.
Em vez de encontrá-la na sala, encontrei-a no
corredor que levava à diretoria. Thara não estava sozinha,
mas com a Sabirah. Para minha surpresa, ambas
conversavam com um homem alto e magro vestido com
um terno ocidental preto. Eu o reconheci de imediato,
apesar de ele estar de costas.
O que Wilson Cox faz aqui?
O marido superprotetor e possessivo que havia
em mim cerrou logo os punhos ao vê-lo falando com
Thara, enquanto Sabirah ouvia tudo com atenção. Não
gostei. Na verdade, odiei e foi difícil controlar a vontade
de afastá-lo com um safanão da minha mulher.
Allah me segurou a tempo de cometer uma
loucura no meio do corredor do Ministério da Mulher, o
território intocável da minha mãe.
Lembrei-me da mulher que Wilson Cox queria
contratar para a campanha do festival de hipismo e só
então entendi o motivo da presença dele ali. A tal mulher
devia ser uma das funcionárias do ministério e ele tinha
vindo falar com Thara para que o ajudasse na proposta
que queria fazer. Na ausência da minha mãe, era sempre
uma das princesas Al Harbi que assumia os assuntos da
diretoria e Thara era mais experiente do que Sabirah ao
lidar com o ministério.
Mais tranquilo ao perceber a real motivação de
Wilson, aproximei-me deles, apesar de ainda sentir os
músculos rígidos de tensão. Havíamos combinado que ele
não falaria com nenhuma mulher de Tamrah. Apenas a
coordenadora dele cumpriria aquela missão.
Sabirah me viu de imediato e notei com
desconfiança o olhar cauteloso que me lançou. Thara
tinha o corpo de Wilson bloqueando a visão do fundo do
corredor e só percebeu a minha aproximação quando
parei de frente para ele.
A primeira coisa que percebi foi o sorriso
insinuante com que ele falava com Thara e toda a minha
cordialidade foi embora.
Encarei-o com a expressão muito séria.
— Posso ajudar também?
Ele nem conseguiu disfarçar o susto ao me ver ali,
mas sorriu amistosamente para mim.
— Claro, alteza. Lembra-se da mulher que
comentei para a campanha? Encontrei-a. É ela!
Wilson Cox olhou para Thara e gelei na hora.
A minha mulher?!
Fiquei tão perplexo que tive dificuldades de
reagir. Paralisei, mas logo depois o gelo se converteu em
raiva ardente ao ficar sabendo que a minha Thara era a
mulher que ele queria transformar em uma modelo
internacional.
— Não viu a aliança no dedo dela? — Avancei um
passo, rosnando na cara dele.
— Claro que vi, alteza. Inclusive, pretendo falar
com o marido dela.
— Pode falar. Ele está à sua frente.
Os olhos de Wilson Cox se arregalaram. Vi
surpresa, receio, temor e desespero neles.
Quebrando todo o protocolo que tanto defendia,
Thara segurou com força o meu pulso direito cerrado, que
estava pronto para acertar em cheio a cara do gênio
mundial do marketing.
— Majdan, o senhor Cox falou muito
educadamente comigo para apresentar a proposta da
campanha.
Não desviei o olhar dele, apesar de responder a
ela.
— Quem deveria estar falando com você era a
Wendy Bellamy, que é a coordenadora da agência e
responsável por entrar em contato com as mulheres de
Tamrah. Não ele. Não foi isso o que ficou acertado,
Wilson?
— Foi e peço mil perdões por ter vindo eu mesmo
falar com ela, alteza. Aconteceu de tê-la visto por acaso e
não quis perder a oportunidade.
— E o que fazia aqui no andar do Ministério da
Mulher? Ficou perdido no prédio “por acaso”?
— Eu a vi quando o elevador estava fechando as
portas e vim atrás no andar onde ele parou, apenas isso.
Nem sabia que aqui era o Ministério da Mulher.
— Foi isso mesmo, Majdan — Sabirah interferiu
para me acalmar. — Estávamos voltando para a diretoria
quando o senhor Cox se apresentou como sócio da
agência e fez a proposta para Thara. Não aconteceu nada
de mais.
Fosse o que fosse que houvesse acontecido,
aquele não era um dia bom para eu ver o fenômeno do
marketing dando em cima da minha mulher com aquele
sorrisinho sedutor no corredor da Global Harbi.
— Vão as duas para a sala da diretoria e me
aguardem lá enquanto resolvo isso.
Usei um tom tão autoritário que nem a Sabirah
questionou, mesmo sendo normalmente rebelde. Thara
segurou-a pelo braço e as duas se afastaram em silêncio
pelo corredor.
Não deixei de encarar Wilson Cox nem por um
segundo, obrigando-o a fazer o mesmo comigo. Se ele
virasse o rosto para olhar Thara afastando-se, eu
quebraria a cara dele no instante seguinte, estivesse ou
não em pleno corredor do Ministério da Mulher.
— Tem uma sala aqui onde podemos conversar
em particular.
Indiquei uma das salas de reunião do andar e
Wilson Cox se dirigiu para lá com o corpo rígido. Assim
que entramos, fechei a porta e peguei-o pelo colarinho
engomado do paletó, quase estrangulando-o com a
gravata.
Com os olhos esbugalhados, ele soltou um
gemido angustiado de quem sentia falta de ar.
— A próxima vez que mentir para mim, o
contrato com a Two Visions estará desfeito. Só não faço
isso agora e expulso você do meu país, porque tenho
muita consideração por George Smith, que é um homem
honrado. Ele não merece perder um contrato importante
tendo o pai na UTI. — Apesar da raiva que sentia, o meu
tom de voz foi gélido. — Se você ousar falar com a minha
esposa novamente, pode ser a última vez que tenha a sua
língua na boca. Se voltar a olhar para ela, corre o risco de
ficar cego. Na época do meu avô, cortávamos a língua de
homens que falavam com quem não deviam e
arrancávamos os olhos de quem olhava para a mulher
errada.
Wilson Cox ficou pálido e pensei se o homem
desmaiaria na minha frente, mas pouco me importei. A
aparência de sedutor irresistível escondia um covarde na
hora de enfrentar outro homem.
Desde o início desconfiei que havia mais do que
apenas interesse profissional dele pela tal mulher, que
agora eu sabia ser a “minha” mulher. Eu conhecia muito
bem homens como Wilson Cox, que agenciavam as
modelos só depois que elas passavam pela cama deles.
Ibn sharmouta!3
Larguei-o antes que cometesse a loucura de o
estrangular de vez.
— Você está proibido de entrar em contato com
Thara ou com qualquer outra mulher dentro do meu país
até o dia em que sair de Tamrah. O andar do Ministério
da Mulher não é um local onde você possa vir treinar o
seu faro de caça-talentos de modelos internacionais.
Aconselho que preze a sua língua e os outros membros do
seu corpo também. Por fora sou um homem moderno,
mas por dentro sou um bárbaro do deserto. A fama que
tenho não é à toa, Wilson Cox. Se repetir o que fez hoje,
decepo o seu pênis e ainda o forço a comê-lo. Pode
escolher se quer inteiro ou picadinho. Agora vá trabalhar
a sério.
Pálido como um cadáver, Wilson Cox não emitiu
uma única palavra. Apenas meneou a cabeça em
assentimento e se afastou meio cambaleante em direção à
porta. Saí da sala atrás dele e fiquei parado no corredor,
aguardando até o elevador chegar e o levar embora do
Ministério da Mulher.
Só então fui para a sala da diretoria com um
furioso sentimento de posse no peito. Nunca me senti tão
o Leão de Tamrah quanto naquele momento. Eu
estraçalharia sem piedade o Wilson Cox só pelo
sorrisinho insinuante que deu para Thara, quanto mais
pelo interesse pessoal que agora eu sabia que o filho da
puta sentia por ela.
Capítulo 4
Thara
— O meu irmão está furioso! — Sabirah
sussurrou no caminho para a sala da diretoria. — Se bem
o conheço, ele só não vai meter um soco na cara do pobre
homem, porque está no prédio da Global Harbi.
Infelizmente, eu tinha de concordar com Sabirah.
Já conhecia bem o meu marido para saber até onde ele
era capaz de chegar quando estava furioso.
— Só não entendi por que tanta raiva. O senhor
Cox não fez nada de errado. Foi extremamente educado e
não nos faltou ao respeito.
Sabirah fechou a porta da sala e foi se sentar em
um dos sofás. Fiz o mesmo, sentando-me ao lado dela.
— Humm, desconfio que o problema seja outro.
— Ela fez uma cara engraçada enquanto batia o polegar
pensativamente no queixo. — Você achou o senhor Cox
bonitão?
Comecei a rir da maneira como ela se referiu ao
homem.
— Sim, ele é um homem bonito, mas é uma
beleza que não me atrai nem um pouco. Você se sentiu
atraída por ele?
— Não. Tenho a mesma opinião que você.
Fiquei sem entender aonde ela queria chegar.
— E o que a beleza dele tem a ver com o que
aconteceu?
Sabirah olhou para a porta fechada e baixou o
tom de voz antes de responder.
— Acho que o meu irmão ficou com ciúmes
quando viu o bonitão ocidental falando com você.
Abri a boca, ficando literalmente de queixo caído.
— Com ciúmes?! Mas o Majdan sabe que eu o
amo e que jamais sentiria nada por outro homem!
Fiquei verdadeiramente preocupada que ele
sequer pensasse aquilo.
— O meu irmão sabe disso, fique tranquila.
Quando um homem sente ciúmes de outro homem, não
quer dizer que desconfie da mulher dele.
— E o que quer dizer então?
— Que se sente inseguro, com receio de perder a
mulher que ama.
Olhei-a com curiosidade. Aquele era um
comentário bastante maduro para uma garota tão jovem
quanto Sabirah, que não era casada e nunca havia sequer
namorado na vida.
— Como sabe disso? Não acredito que tenha
aprendido isso com aquele homem por quem se
apaixonou. Pelo que me disse, ele nunca se interessou por
você, então não sentiria ciúmes.
Sabirah contraiu os lábios em um gesto
conformado de tristeza.
— Ele nunca se interessou mesmo. Aprendi isso
com a minha mãe. Ela me disse certa vez que é normal
um homem sentir ciúmes quando outro homem se
aproxima da mulher que ele ama. Tem a ver com o medo
de perdê-la. Apesar de serem fortes, muitos ficam
inseguros.
Olhei pensativamente para o jarro de flores sobre
a mesa de canto, analisando a reação de Majdan sob
aquele ângulo. Tinha toda a lógica.
— Isso tudo é tão estranho. O senhor Cox nem
estava interessado em mim. Só queria me fazer uma
proposta de trabalho.
— Também acho isso, mas o meu irmão deve ter
os motivos dele para achar o contrário. Um homem
sempre conhece melhor outro homem do que nós
mulheres.
— Agora fiquei mais preocupada ainda. Será que
Majdan vai fazer algo contra o senhor Cox por minha
causa? Ele pode até cancelar o contrato com a agência,
Sabirah! Não quero prejudicar a campanha de divulgação
que eles estão fazendo de Tamrah.
— Se o Majdan não fizer nada agora, com certeza
vai fazer assim que puder. Os meus irmãos são
extremamente superprotetores. Não existe diplomacia
para eles quando o assunto envolve a família,
principalmente as mulheres. — Ela se remexeu no sofá e
se sentou bem de frente para mim. — Você se interessou
em fazer o anúncio da campanha?
— Quem, eu? — Apontei o dedo para mim
mesma. — Claro que não! Jamais teria coragem de
aparecer em um anúncio para o mundo inteiro me ver.
— Mesmo que fosse para ajudar o nosso país?
Talvez você até servisse de exemplo para as mulheres de
Tamrah que gostariam de seguir a carreira de modelo,
mas não têm coragem.
Suspirei pensativamente. Eu não tinha visto a
situação por aquele lado, mas era algo importante a se
pensar.
— Confesso que estou confusa com tudo isso. Não
tenho como dar uma resposta agora.
— Você tem razão, não fique preocupada. —
Sabirah sorriu de repente, olhando para mim com uma
certa provocação. — O interessante de tudo foi ver o
Majdan com ciúmes de você. Foi a primeira vez que o vi
assim. Ele pouco se importava com a ex-esposa traidora,
mas é visível para todos nós o quanto o meu irmão ama
você.
Um sorriso involuntário curvou os meus lábios e
senti o rosto corar de prazer.
— Eu também o amo muito.
Capítulo 5
Majdan
Thara me conhecia o suficiente para identificar
as minhas oscilações emocionais e saber quando eu
estava no limite entre o rígido autocontrole que mantinha
sobre mim mesmo e o momento em que a explosão ia
acontecer. E era prestes a explodir que eu estava ao
entrar na sala da diretoria do Ministério da Mulher.
Ela e Sabirah se levantaram de imediato do sofá e
senti o olhar preocupado das duas sobre mim.
— Deixe-me sozinho com a Thara, Sabirah.
— Sim, claro! — Ela olhou para Thara e se
despediu com um aceno rápido da mão. — Vou esperar na
sala de reuniões. Voltamos juntas?
Thara olhou para mim em dúvida.
— Voltam juntas — confirmei. — Saqr marcou
uma reunião no início da tarde aqui no prédio.
— Aguardo lá, então.
Sabirah saiu e caminhei decidido em direção à
Thara.
A minha esposa!
A cada minuto que passava desde que a vi
conversando com Wilson Cox, mais crescia dentro de
mim a frustração por não ter descarregado nele a raiva
que estava sentindo.
Havia preocupação na fisionomia de Thara.
— Está tudo bem?
— Não, nada está bem! — Foi o que rosnei ao
enlaçá-la pela cintura com firmeza e pressionar contra o
meu corpo. — Me acalme ou sou capaz de mudar de ideia
e acabar com ele agora mesmo.
Thara segurou o meu rosto com as duas mãos,
olhando-me serenamente.
— Não aconteceu nada de mais, habibi4. Mal
tínhamos começado a conversar quando você chegou.
Recebi um beijo molhado, os lábios macios e
sedutores enlouquecendo-me e a língua ousada tomando
a iniciativa de invadir a minha boca. Grunhi, excitado,
mas também em paz comigo mesmo ao receber os
carinhos dela. Aquele era o efeito que Thara tinha sobre
mim. Só ela.
Sem controle algum sobre a necessidade que
sentia de possuí-la ali mesmo em plena Global Harbi,
afastei-me o tempo suficiente para ir fechar a porta da
sala à chave.
— Majdan! — ela exclamou quando entendeu as
minhas intenções.
Não respondi, não emiti uma única palavra sobre
o que pretendia fazer. Apenas tirei o thobe5 pela cabeça e
o joguei sobre o encosto do sofá, voltando a envolvê-la
pela cintura.
— Você escolhe se quer tirar a roupa ou não.
— Não vou ficar nua aqui! Estamos na sala de
Farah. — Tentou me fazer voltar à razão, mas eu já não
tinha razão nenhuma dentro de mim, só desejo.
Beijei-a, tomando a boca carnuda com voracidade
enquanto tirava o hijab da cabeça dela, soltando os
cabelos compridos. Ergui o corpo delgado e tirei-a do
chão, levando-a para a mesa redonda de reuniões.
Se ela não queria tirar a abaya6, eu a deixaria
ficar com ela, mas nada me impediria de possuir a minha
mulher naquele exato instante.
Deitei-a sobre a mesa, erguendo a abaya pelas
pernas torneadas até chegar à calcinha de renda azul
marinho que ela usava. Quis rasgá-la, mas me controlei a
tempo. Não estávamos em casa e Thara não voltaria para
o palácio sem uma calcinha inteira por baixo da abaya.
Puxei a lingerie delicada pelas pernas dela, que
separei para sorver com a boca a umidade que já molhava
o sexo da minha esposa, da minha mulher, da minha
Thara. Era deliciosa e viciante. O cheiro, o sabor, a
maciez, tudo me enlouquecia.
Quis chupar, sugar e morder e foi o que fiz,
arrancando gemidos de prazer que ela tentava sufocar
sem sucesso. As mãos ansiosas se afundaram nos meus
cabelos, segurando-me no lugar onde queria que eu
ficasse. Ali mesmo, entre as pernas dela.
— Então não quer tirar a roupa?
Estimulei o clitóris com o dedo, que deslizava na
umidade cada vez maior, uma mistura dela mesma com a
minha saliva.
Como sempre acontecia quando estava dominada
pela excitação, Thara se esqueceu do pudor e tirou ela
mesmo a abaya pela cabeça, arqueando o corpo sobre a
mesa em um movimento sexy e estimulante. O sutiã foi a
peça seguinte a ser jogada sobre a madeira, deixando-a
completamente nua e aberta à minha frente.
Duro, rígido e ansioso, baixei a calça e puxei o
meu pau para fora, roçando-o na entrada apertada.
— É isso o que você quer, habibti? — provoquei-a
com a voz enrouquecida, a visão estonteante do sexo
aberto roubando a minha razão na mesma velocidade
com que aumentava o meu tesão.
— Quero e agora! — exigiu, usando as pernas para
me puxar pela cintura e forçar a penetração.
Foi o que fiz no instante seguinte, possuindo-a
com ímpeto e arrancando um gemido excitante de prazer
da garganta dela. Inclinei-me sobre a mesa e tomei um
mamilo com a boca, sugando-o com ansiedade premente.
Gememos, enlouquecemos juntos. A cada
estocada que eu dava no interior macio e úmido, um novo
gemido enchia a sala, junto com o som de sexo contra
sexo.
O meu coração batia no mesmo compasso das
investidas vigorosas dentro dela.
— Mais, mais, habibi! — ela me incitou,
agarrando-se em mim.
Aquelas exigências de Thara em pleno ato sexual
quebravam a minha resistência e daquela vez não foi
diferente. Explodi sem controle algum e ela veio comigo,
em uma sintonia perfeita, em um orgasmo poderoso.
Ofegantes, beijamo-nos com um certo desespero,
enquanto eu respirava profundamente e sentia a paz
tomar conta do meu coração.
Thara havia me acalmado da melhor maneira
possível.
Thara
— Espere aqui. Vou pegar a sua camisola.
Havíamos acabado de tomar o ghusl janabat10 e
fiquei aguardando no banheiro enquanto terminava de
me enxugar. Majdan voltou ao banheiro já vestido com o
pijama.
— Perdi a hora de dormir. Já sei que vou chegar
atrasado amanhã na reunião.
— Você tem reunião logo de manhã? Devia ter me
avisado.
— E o que você ia fazer? Segurar o desejo e
guardá-lo para uma hora mais adequada? — ele brincou,
abraçando-me pela cintura. — A reunião é com os meus
irmãos nos serviços secretos e posso me atrasar.
Fomos para o quarto e nos deitamos na cama.
Majdan me puxou para dormirmos agarrados um no
outro.
— Está acontecendo alguma coisa muito séria
para vocês se reunirem nos serviços secretos?
— Não é nada sério. Depois de um mês sem dar
notícias, o Assad ligou para avisar que volta amanhã.
O Assad?!
Ergui a cabeça do peito de Majdan e o olhei
tentando não demonstrar muito interesse.
— O Assad está voltando?
— Parece que sim. Pelo menos é isso o que Yusuf
me disse. Ele convocou essa reunião para conversarmos
com o Assad quando ele chegar.
Mordi a ponta do lábio, disfarçando o quanto
estava feliz. Sabirah ia ficar radiante quando soubesse.
Ou será que já sabe?
— Isso é segredo ou todos já estão sabendo?
— Pelo que entendi, ninguém sabe ainda. Yusuf
prefere primeiro deixá-lo chegar e conversar com ele,
para depois informar a todos. O que tem certa lógica. Se o
Assad estiver vindo apenas para dar uma satisfação e
depois ir embora definitivamente, não há necessidade de
informar aos militares dos serviços secretos que estavam
sob o comando dele.
Nem à Sabirah, pelo jeito.
Agora eu tinha certeza de que ela não sabia de
nada, exceto se o próprio Assad tivesse informado. Se não
fosse tão tarde e hora de dormir, eu daria um jeito de
ligar para ela.
— Espero que dê tudo certo.
— Será feita a vontade de Allah.
Fomos dormir e só no dia seguinte pude falar
com Sabirah. Liguei assim que Majdan saiu.
— Posso ir no seu quarto?
— Claro que sim, Thara. Mas se quiser vou aí.
— Então, vem. Assim fico mais um tempo com o
Ibrahim.
Pela maneira como ela falou comigo, tive a
certeza de que não sabia de nada ainda. Assim que
Sabirah chegou, tranquei-me sozinha com ela no quarto
de Ibrahim, que foi logo para os braços da tia.
— Seu fofinho, como está hoje?
Ela o beijou no rosto e recebeu um outro beijo de
volta. Rindo muito, Sabirah olhou para mim.
— Eu amo esse jeito carinhoso dele. — Sentou-se
ao meu lado no sofá com o meu filho nos braços.
Desde que Assad foi embora, Sabirah havia
emagrecido e parecia mais abatida. Não era nada muito
evidente para os outros que não sabiam da tristeza pela
qual ela estava passando, mas para mim, que sabia de
tudo e a observava com atenção, a perda de peso não
passava despercebida.
— O que você queria conversar comigo?
Fui direto ao assunto.
— Parece que o Assad volta hoje. Foi Majdan
quem me contou.
Sabirah arquejou de olhos arregalados,
visivelmente pega de surpresa.
— Você não sabia de nada — deduzi.
— Não! De absolutamente nada. — Estava
nervosa e peguei logo o meu filho dos braços dela antes
que o deixasse cair do sofá. — Nunca mais ouvi sequer
falarem o nome dele aqui em Taj, quanto mais saber que
estava voltando hoje.
— Parece que não é nada certo ainda. Depois de
tanto tempo sem entrar em contato, Yusuf está preferindo
ter certeza antes de comunicar oficialmente a volta dele.
Sabirah baixou o rosto, contraindo os lábios
tensamente.
— Ele sequer entrou em contato comigo para
avisar que estava voltando. — Meneou a cabeça com
tristeza. — Não significo nada mesmo.
Segurei a mão dela com carinho.
— Não vamos julgá-lo antes do tempo. Não
sabemos o motivo que o fez partir nem porque está
voltando agora. Só Allah sabe de tudo e devemos confiar
n’Ele.
Analisei as emoções sucedendo-se no rosto dela.
— Sinto uma mistura de alegria e de tristeza ao
mesmo tempo. — Ela cobriu o rosto com as mãos. — Nem
sei como agir. Acho que estou em estado de choque.
Coloquei o Ibrahim sobre o tapete cheio de
brinquedos e voltei para o sofá, segurando as duas mãos
de Sabirah e forçando-a a olhar para mim.
— Vamos rezar pedindo a Allah que nos dê
sabedoria para lidar com a situação. Ainda não sabemos
de nada concreto, mas em algum momento saberemos. Se
Yusuf não comunicar nada à família, perguntarei a
Majdan como foi a reunião.
Ela me abraçou, emocionada.
— Shukran, Thara! Não sei o que seria de mim
sem você neste último mês para me dar tanta força.
— Somos irmãs. Eu disse que ia ajudar e vou
mesmo! — reafirmei o que havia dito antes. — Ainda hoje
saberemos de alguma coisa. Agora vamos rezar.
A manhã chegou ao fim e nada de notícias.
Sabirah ficou comigo na Ala do Leão, ansiosa demais para
ficar sozinha.
Na hora do almoço, liguei para Majdan.
— Você vem almoçar em casa?
— Não, habibti. A reunião se prolongou demais.
Vou almoçar com os meus irmãos nos serviços secretos.
— Então deu tudo certo e o Assad voltou mesmo?
— Ele até agora nem chegou. Apenas ligou para
avisar que ficou retido na fronteira. Acabamos por tratar
de outros assuntos enquanto esperamos ele chegar.
Fiquei decepcionada, mas disfarcei bem quando
nos despedimos. Ao meu lado, Sabirah suspirou com
desânimo ao ver a minha cara.
— Já vi logo que ele não veio.
— Ainda não chegou. Acho que só saberemos de
algo à noite.
Ela caiu deitada sobre o tapete do quarto de
Ibrahim.
— Eu não acredito nisso! — Pegou o celular para
ver se havia alguma mensagem, um gesto que repetia a
cada hora.
— Almoce aqui comigo. Hoje é o meu dia de folga
e Abia deve chegar daqui a pouco das aulas.
Acabamos por passar o dia inteiro juntas. À tarde
fomos ao encontro semanal de mulheres no majlis de
Farah. Sabirah tentou se concentrar nas conversas, mas
estava o tempo todo olhando o celular.
Eu entendia a ansiedade dela, mas Farah era
muito observadora e me preocupei que desconfiasse de
algo.
— Daqui a pouco a sua mãe vai notar que algo de
estranho está acontecendo — alertei-a. — Se aquela
pessoa voltar hoje, Farah pode somar dois mais dois e
descobrir tudo. Intuição de mãe não falha!
— Você tem razão. — Sabirah largou o celular e
estampou um sorriso forçado na cara. — Quer saber?
Chega! Cansei de viver um mês inteiro esperando um
contato, sonhando com quem não sente nada por mim.
Nem quero saber se voltou ou não.
Levantou-se da cadeira que ocupou desde que
havia chegado e foi para o meio do majlis.
— Ninguém dança nesse encontro? Coloquem
uma música para animar ou sou capaz de dormir na
cadeira. Yalla!11
Farah sorriu ao ver a filha animando o encontro.
Alguém colocou uma música e Sabirah arrastou Kismet
para o centro de uma roda de mulheres batendo palmas.
Depois foi a vez de Malika dançar, seguida pela própria
Sabirah.
As mulheres que sabiam a dança do ventre iam
revezando-se e me juntei àquelas que não dançavam,
apenas batiam palmas. Apesar da balbúrdia que fazíamos,
as crianças continuaram brincando sob os cuidados das
babás e a tarde se arrastou em um clima mais alegre.
Quando o encontro acabou, cada uma foi para a
sua ala dentro do palácio se preparar para o jantar em
família. Sabirah veio se despedir de mim com o rosto
corado de tanto dançar e não tocou no assunto do retorno
— ou não — de Assad.
Foi com um suspiro que fui embora com Ibrahim,
Abia e a babá, rezando para tudo dar certo.
Majdan chegou em cima da hora do jantar depois
de um dia inteiro de reuniões. Estávamos aguardando-o
na sala de jogos, onde ele passou para dar um beijo em
cada um dos filhos.
— Vou tomar um banho rápido antes de irmos.
Não vamos nos atrasar.
E realmente não nos atrasamos. Chegamos no
mesmo instante em que Saqr chegava com Kismet.
Conversa vai, conversa vem, só quase no fim do jantar foi
que Yusuf tocou no nome de Assad.
— Eu queria informar a todos que o Assad voltou
hoje à Jawhara. Ele volta a liderar a nossa equipe de
seguranças e vai assumir também o departamento de
investigações.
O meu coração pulou de contentamento, mesmo
sabendo da decisão que Sabirah havia tomado naquela
tarde. Apesar de tudo, a jovem princesa ainda estava
apaixonada.
Evitei olhar de imediato para ela. Qualquer
deslize da minha parte poderia expor aquele segredo
guardado há tanto tempo.
— Ah, então ele voltou mesmo? — Farah foi a
primeira a comentar algo. — Que boa notícia.
— Voltou, sim, Farah — Malika confirmou com
entusiasmo. — Quando Yusuf me contou, fiquei radiante.
Sem querer desmerecer os outros seguranças, a verdade é
que me sinto mais segura quando é o Assad quem está
comigo.
— Nunca vou me esquecer que foi ele quem
colocou todo mundo para correr em Rummán — lembrei-
os daquele momento trágico da minha vida. — Se ele não
estivesse lá com Malika, acho que o meu pai teria
conseguido me tirar da casa de acolhimento.
— Nem quero me lembrar disso! — Majdan
rosnou ao meu lado, subitamente tenso.
Toquei-o na perna por baixo da mesa,
acalmando-o.
— Tudo acabou bem, isso é o que importa. —
Bastante sensível, Malika comentou com um sorriso para
amenizar a tensão de Majdan.
— Assumindo essa nova função no departamento
de investigações, ele deixará de fazer a segurança de
Sabirah? — Farah perguntou de testa franzida.
— Para mim tanto faz quem seja o segurança que
esteja comigo, mãe — Sabirah ergueu os ombros com
indiferença. — Deixe o homem trabalhar em paz no
departamento. Gostei bastante dos seguranças que Yusuf
escolheu para o substituir.
Farah não pareceu gostar nada daquilo e olhou
para Yusuf, esperando uma explicação.
— Conversei com ele sobre isso. Assad vai ficar
responsável pela segurança de Sabirah quando ela se
ausentar de Jawhara. Aqui na cidade, os outros
seguranças cuidarão dela.
Sabirah não ergueu os olhos da comida no prato,
que revirava de um lado para o outro, comendo
eventualmente.
— Ótimo! Está tudo resolvido — o Sheik Rashid
comemorou, erguendo o copo de jellab12 — Um brinde ao
homem que tirou Malika da prisão, que ajudou a trazer
Thara para cá e que salvou a minha filha da morte. Que
Allah o abençoe com uma vida longa.
Todos ergueram os copos.
— Ao Assad!!! — brindamos em uníssono.
Aquela foi a primeira vez que cruzei o olhar com o
de Sabirah e notei o quanto ela estava emocionada com
aquele brinde ao homem que amava.
FIM
Obrigada pela leitura e não deixe de avaliar o livro. A sua avaliação é
muito importante para mim.
Em 2023 teremos o livro único de Sabirah & Assad dando
continuidade à Saga da Dinastia de Tamrah.
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Aos 41 anos, ele achava que não tinha mais idade para o amor, até
conhecer uma garota 16 anos mais nova e viver em um dilema.
Afinal, um príncipe que errou muito no passado, que se envolveu em
escândalos e foi condenado por todos, não podia desejar a filha de
um religioso. Uma garota pura e proibida, que vai precisar da
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1 - Deus no Islã.
2 - Véu islâmico, usado para cobrir os cabelos, as orelhas e o pescoço
das mulheres, deixando o rosto inteiro descoberto; atualmente tem
de várias cores e tecidos, mas tradicionalmente era de cor preta.
3 - Filho da puta!
4 - Meu amor.
5 - Thobe, Kandura ou Dishdasha, é uma túnica longa até o
tornozelo, de mangas compridas, usada pelos homens árabes.
6 - Vestido longo de mangas compridas que cobre a mulher do
pescoço aos pés, escondendo o corpo inteiro; tradicionalmente de
tecido grosso de cor preta, hoje existem de vários modelos, cores e
tecidos, como a seda; algumas são até bordados com fios de ouro e
pedras preciosas.
7 - Se Deus quiser!
8 - Obrigado.
9 - “Meus olhos”, com sentido de “vou te dar o que você quiser, não
importa o que aconteça”.
10 - Banho que deve ser tomado após as relações sexuais que liberem
fluidos corporais, como a ejaculação.
11 - Vamos lá!
12 - Bebida típica do Oriente Médio feita de tâmaras, alfarroba,
melaço de uva e água de rosas, podendo ser servido com pinhões e
passas.