Você está na página 1de 83

lettiesj.

com
Instagram: lettie.sj
Página Facebook: lettiesj
Newsletter

___________________________________

Copyright © 2022 Lettie S.J.


1ª Edição | Dezembro de 2022
Obra registrada na Câmara Brasileira do Livro

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamento ou transmissão de


qualquer parte desse livro, por quaisquer meios existentes, sem a prévia autorização por
escrito da autora.
Esta é uma obra de ficção. Todos os nomes, personagens e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, pessoas ou fatos reais
é mera coincidência.
Edição Digital | Brasil
___________________________________
Sumário
Sinopse
Playlist
Nota de Autora
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Epílogo
Biografia e Redes Sociais
Sinopse
O Sheik Majdan Al Harbi sempre riu dos irmãos
apaixonados por suas esposas. Achava que eram
excessivamente preocupados, superprotetores e
estressados com tudo o que dizia respeito a elas.
Pretendia nunca mais se casar, permanecendo solteiro e
aproveitando o prazer que as mulheres tinham a oferecer.
Isso até conhecer uma garota bem mais jovem que o
conquistou em um piscar de olhos e transformou o Leão
de Tamrah em mais um príncipe Al Harbi apaixonado.
Agora, casado e feliz com a mulher que ama, ele sente na
pele o que os irmãos passaram quando uma proposta
inesperada surge para a sua jovem esposa.
Esqueceram de avisar ao homem que fez a
proposta para nunca se meter com a esposa do Sheik
Leão.
Playlist
The One — Elton John
Derin Özledim — Halil İbrahim
You and I — Scorpions
Maktoub — Mehdi Mouelhi
Wahashtiny — Amr Diab
Hold On My Heart — Phill Collins

Ouça no Youtube e siga o meu canal:

Ouça no Spotify clicando no ícone ou posicionando o seu celular no


código abaixo dentro da App. Siga o meu perfil:

Faça parte da minha Newsletter e receba todas as novidades dos


meus livros em primeira mão:

Newsletter
Nota de Autora
Olá, meus amores!
Quem está acompanhando a Saga da Dinastia de
Tamrah, sabe que Majdan voltou da clínica de
reabilitação disposto a permanecer solteiro. Todas as
vezes em que via Saqr e Yusuf surtando por causa de
Kismet e Malika, ele ria, provocando principalmente o
Yusuf.
Coloquei no roteiro do livro de Majdan uma cena
em que Yusuf teria a oportunidade de fazer o mesmo,
rindo dele quando estivesse apaixonado e sofrendo pela
Thara. O problema é que Yusuf só descobre que o irmão
estava apaixonado em um momento muito crítico da
história de Majdan e não vi ali espaço para Yusuf brincar
com algo tão sério. Quem leu A Esposa Desejada Pelo
Sheik, sabe que Yusuf foi o irmão que mais ajudou
Majdan durante todo o tempo. Nos capítulos seguintes do
livro, os eventos se sucederam de uma tal maneira que
também não houve como encaixar a cena desse bônus,
por isso eu a retirei. Como o livro já estava muito grande,
decidi não a colocar.
Então aconteceu que recebi algumas mensagens
de leitoras dizendo: “Lettie, faltou os irmãos também
rirem dele por estar apaixonado”. Pensei logo: Eu não
deveria ter cortado.
Foi assim que surgiu a ideia de escrever este
bônus, que além desta cena com os irmãos, tem também
uma outra que constava do roteiro inicial e que também
cortei. Trata-se da cena com Wilson Cox, um personagem
que ia aparecer no livro A Esposa Desejada Pelo Sheik,
mas que ficou de fora.
Para além dessas duas cenas extras, vocês
também vão encontrar neste bônus duas cenas
importantíssimas para o livro de Sabirah & Assad, que
será o próximo a ser publicado da série. Não percam essa
leitura, meus amores!
O que mais teremos aqui? Cenas quentíssimas
com o nosso Leão de Tamrah Majdan Al Harbi e a sua
jovem (e afortunada) esposa Thara Ayad.
Preparadas para rever todo o clã Al Harbi e viajar
de novo no tapete mágico? Pois venham comigo,
meninas! Rolem as páginas e mergulhem na magia do
mundo árabe que só a Saga da Dinastia de Tamrah pode
proporcionar.
Com muito amor,

Lettie S.J.

Se você está lendo este livro em outro lugar que


não seja na Amazon e no Kindle Unlimited, onde ele foi
originalmente publicado, saiba que está colaborando
indiretamente com a distribuição ilegal da obra e
deixando de ajudar a autora. Conheça o Kindle Unlimited
da Amazon, um sistema de leitura online onde terá acesso
a milhares de livros por um preço acessível.
Conheça a Saga da Dinastia de Tamrah
• Livros únicos com casais diferentes
• Podem ser lidos separadamente

A Única Esposa do Sheik (Saqr, o Falcão & Kismet)


Leia aqui: https://amzn.to/3lmXIMX

A Esposa Intocada do Sheik (Yusuf, o Guepardo & Malika)


Leia aqui: https://amzn.to/3FhngSo

A Esposa Desejada Pelo Sheik (Majdan, o Leão & Thara)


Leia aqui: https://amzn.to/3T03r8B
Capítulo 1

Tamrah
Majdan
— Quero que comecem a trabalhar na campanha
publicitária do Festival White Star de Hipismo. Me
apresente o projeto o mais rápido que puder.
O diretor de marketing da Two Visions meneou a
cabeça em assentimento e olhou para o assistente dele,
que imediatamente fez anotações em um bloco.
A agência que contratamos tinha feito um
excelente trabalho de divulgação do moderno e luxuoso
polo turístico de Tamrah e eu apostava que esse novo
projeto teria o mesmo sucesso do anterior.
— Vou providenciar, alteza. Inclusive, venho
pensando em uma abordagem um pouco diferente nessa
campanha. Em vez dos modelos europeus que usamos na
campanha anterior, gostaria da autorização de Vossa
Alteza para contratar algumas pessoas da própria Tamrah
para a divulgação do festival.
Franzi a testa, sem entender o que ele realmente
pretendia.
— Explique melhor esta sua ideia, Wilson.
Wilson Cox era um homem com pouco mais de
trinta anos e considerado um gênio do marketing. Diziam
que era adorado pela equipe que liderava e temido pelos
concorrentes. Eu o havia conhecido pessoalmente há
apenas duas semanas, quando ele chegou de Nova York
para assumir o projeto de Tamrah, que antes estava sob a
responsabilidade de George Smith, o sócio majoritário da
Two Visions.
Ao contrário de Wilson Cox com a sua juventude,
George devia ter a idade do meu pai e era um homem
excepcional a nível profissional, mas também pessoal.
Entendi perfeitamente quando ele precisou voltar a
Londres por motivos familiares. O pai foi hospitalizado
em estado grave e possivelmente não sobreviveria ao AVC
que teve.
Os dois sócios da Two Visions pareciam pai e
filho, apesar de não terem nenhuma ligação familiar.
— Pessoas comuns muitas vezes fazem a
diferença em uma campanha, ainda que um modelo
profissional acabe por ser o rosto que mais vai aparecer
nos anúncios — Wilson explicou o seu ponto de vista. —
Para este caso em especial do festival de hipismo, acho
que colocar pessoas nativas causará um excelente
impacto. É a cultura do país sendo mostrada em um
festival que acontecerá aqui.
Não vi muita inovação naquilo, mas achei melhor
não ser tão duro com o homem.
— Já fizemos isso na outra campanha —
simplesmente lembrei-o.
— É verdade, mas eles foram coadjuvantes que
apareciam em segundo plano. Desta vez, a minha
intenção é que o protagonismo do anúncio seja mesmo de
pessoas comuns de Tamrah e não de modelos
profissionais europeus.
— Apesar de sermos um país bastante moderno
se comparado a outros da região, só existe uma única
agência de modelos na capital. Mesmo assim, a grande
maioria dos agenciados são homens. São poucas as
mulheres que se aventuram na profissão de modelo aqui,
simplesmente porque não há trabalho para elas nessa
área. É uma questão cultural difícil de ser mudada.
— Conheço a agência e ninguém de lá se encaixa
no perfil que preciso. Também não pretendo contratar
modelos profissionais. Quero a naturalidade de pessoas
comuns, alteza. Desde que cheguei, tenho observado o
seu povo com atenção e até já identifiquei uma das
mulheres que gostaria de contratar. Logicamente, com a
autorização de Vossa Alteza. Sei das regras existentes no
país e garanto que não vou ultrapassar o decoro exigido
ao tratar com nenhuma delas. Será a minha
coordenadora Wendy Bellamy quem ficará responsável
por fazer a proposta de trabalho para as mulheres que
nos interessarem, caso Vossa Alteza concorde. Só preciso
de autorização para dar início à contratação.
Não vi motivos para negar, mas eu tinha todos os
motivos para impor limites ao que ele pretendia.
— Desde que mantenham o respeito com as
nossas mulheres e ofereçam um contrato justo, está
autorizado.
Wilson Cox sorriu com satisfação.
— Começaremos a selecionar os candidatos ainda
esta semana, inclusive as mulheres. Tem uma em especial
que me interessou bastante para este trabalho. Eu a vi
nos corredores da Global Harbi e a Wendy está só
esperando o meu sinal verde para falar com ela.
Eu não esperava por aquilo.
— Na Global Harbi?
— Sim, alteza, aqui mesmo, mas foi muito
rapidamente e ainda não a identifiquei. Mesmo assim, vi
logo que é perfeita para o trabalho. Tenho um olho clínico
para rostos que podem dar certo no mundo da moda.
Posso dizer que o meu faro é muito apurado na hora de
caçar talentos no meio da multidão — elogiou a si mesmo
com uma certa arrogância. — Quero esta mulher na
campanha e agora que recebi autorização de Vossa Alteza
para falar com ela, pretendo contratá-la. O rosto dela é
bastante exótico. Possui os traços faciais mais procurados
hoje em dia no mundo da moda. Se for bem agenciada,
fará bastante sucesso na carreira de modelo fotográfico.
O interesse dele era visível em cada palavra, o que
me fez olhá-lo com desconfiança. Daquela vez eu teria de
ser duro, impondo taxativamente os limites que ele não
poderia ultrapassar.
— Não vou admitir nenhuma falta de respeito
com as mulheres do meu país, seja dentro ou fora da
Global Harbi. Aqui os homens não abordam as mulheres
que não conhecem para fazer propostas, seja de que tipo
for. Tenha muito cuidado ao lidar com esse assunto.
Encarei-o friamente, reforçando o alerta que
estava dando, para não dizer a ameaça que estava
fazendo.
Wilson Cox arregalou os olhos de susto com o
meu tom de voz seco e incisivo.
— Jamais faria isso, alteza. Tem a minha palavra
de honra.
Eu esperava que sim ou ele teria os dias contados.
— Se esta mulher trabalha aqui na empresa, vocês
vão precisar falar com o departamento de pessoal. Eles
tentarão identificá-la para você e dizer se poderá ser
liberada das funções que desempenha na Global Harbi
para se juntar à campanha publicitária. Isso, caso ela
concorde em fazer esse trabalho. A decisão será
unicamente dela. E lembre-se: qualquer contato com as
mulheres do meu país tem que ser feito pela sua
coordenadora e não por você.
— Não se preocupe, alteza. Seguirei todos os
trâmites legais. A campanha do festival de hipismo será
um sucesso.
Capítulo 2
Majdan
Dos meus quatro filhos, acabei por eleger o
Ibrahim como o mais dorminhoco de todos. Com pouco
mais de oito meses, ele caía pesadamente no sono sempre
que mamava. Podíamos dar uma festa no quarto dele sem
que o mais novo príncipe Al Harbi fizesse outra coisa que
não fosse se virar para o outro lado no berço e continuar
dormindo.
Comentei aquilo uma vez com a minha mãe, que
soltou uma risada ao ver a minha cara de preocupação.
— Thara é uma mãe tranquila, amorosa e
confiante, que passou tudo isso para o filho durante a
gravidez. Normalíssimo que ele seja assim. É uma benção
para qualquer mãe ter um filho tranquilo, ainda mais
sendo o primeiro. O mais calmo dos bebês que tive foi o
Jamal. Você e os seus irmãos deram muito mais trabalho
na hora de sossegarem para dormir.
Obviamente que eu não fazia ideia de como fui
quando bebê, mas a minha mãe tinha razão com relação à
Thara. Se eu já não tivesse a certeza de que ela seria uma
excelente mãe ao vê-la lidar com os meus outros filhos e
com as crianças das casas de acolhimento, sem dúvida
que teria aquela certeza ao vê-la cuidando de Ibrahim.
Para nossa alegria, ele compensava as
imperturbáveis horas de sono com uma enérgica
vivacidade quando estava acordado, sendo bastante
amoroso. De início, cheguei até a pensar que Hud, Imad e
Abia ficariam enciumados, o que não aconteceu. Ibrahim
distribuía beijos e abraços em quem o pegasse ao colo,
conquistando imediatamente a todos.
Acostumei-me rápido com aquela nova rotina
dentro da Ala do Leão. Eram dias cheios de plenitude e
felicidade como nunca pensei que teria mais na minha
vida. Allah1 realmente havia me abençoado.
À medida que Ibrahim crescia, Thara passou a ir
mais vezes à Global Harbi para trabalhar no Ministério da
Mulher. Combinamos que ela aguardaria mais um tempo
para voltar a visitar as casas de acolhimento, onde o
trabalho era mais exigente. Ali no escritório ela também
ficava mais perto de mim.
Nos dias em que Thara ia dar expediente na
Global Harbi, íamos e voltávamos juntos. Quando o meu
horário não coincidia com o dela, Sabirah a levava. As
duas continuavam amigas inseparáveis.
Aos meus olhos apaixonados, a minha mulher
estava cada dia mais linda e sensual. O corpo havia
recuperado totalmente a antiga forma, com exceção dos
seios que ainda permaneciam maiores por causa da
amamentação. Raramente ela saía de Taj com os cabelos
soltos, indo para o trabalho com uma longa trança nas
costas e um hijab2 de tecido leve cobrindo os fios
castanhos. Aquilo não diminuía em nada a beleza
marcante de Thara. Ao contrário, enfatizava mais ainda
as sobrancelhas arqueadas e a boca naturalmente
volumosa.
Foi aquela boca que beijei dentro do carro antes
de descermos no estacionamento privativo da Global
Harbi.
— Aqui não, Majdan! — ela reclamou, olhando
para os lados com receio.
— Ninguém vai nos ver.
Ignorei tudo e aprofundei o beijo, sendo
correspondido no instante seguinte. Thara havia
aprendido a me enlouquecer de tesão com pequenos
gestos, como o suspiro de entrega que soltou ao abrir a
boca e me deixar invadi-la com a língua.
Hoje, eu não passava de um marido sedento, um
leão esfomeado que nunca saciava a fome que sentia por
aquela mulher. A minha mulher.
— Tenho fome de você — grunhi na boca
deliciosa.
Uma risadinha sensual arrepiou o meu corpo
inteiro.
— Não saciou a sua fome ontem à noite?
— Ando sofrendo de algum mal desconhecido
quando estou perto de você que me deixa assim. —
Segurei a mão dela e coloquei na minha virilha para que
sentisse como o meu pau começava a endurecer.
— Majdan!
Daquela vez o tom era de repreensão e suspirei
conformado quando ela afastou a mão.
— Você tem razão. Mesmo que não haja câmeras
nesse lado de cá do estacionamento, é melhor parar.
Desci do carro e fui abrir a porta para ela.
— Tem certeza de que ninguém vai perceber
nada? — Thara desceu olhando significativamente para a
minha virilha.
— Tenho. — Foi mais um rosnado do que uma
resposta.
Fechei o carro e fomos para o elevador, ficando
cada um no seu andar.
Capítulo 3
Majdan
A minha manhã de trabalho se resumiu a entrar
na sala de reuniões assim que cheguei e sair dela na hora
do almoço, depois de horas de conversas e de decisões
tomadas com a minha equipe pessoal de assessores.
Assim que tudo terminou, consultei o relógio no
pulso. Ainda faltava cerca de vinte minutos para terminar
o expediente de Thara, mas resolvi descer logo para o
andar do Ministério da Mulher.
Em vez de encontrá-la na sala, encontrei-a no
corredor que levava à diretoria. Thara não estava sozinha,
mas com a Sabirah. Para minha surpresa, ambas
conversavam com um homem alto e magro vestido com
um terno ocidental preto. Eu o reconheci de imediato,
apesar de ele estar de costas.
O que Wilson Cox faz aqui?
O marido superprotetor e possessivo que havia
em mim cerrou logo os punhos ao vê-lo falando com
Thara, enquanto Sabirah ouvia tudo com atenção. Não
gostei. Na verdade, odiei e foi difícil controlar a vontade
de afastá-lo com um safanão da minha mulher.
Allah me segurou a tempo de cometer uma
loucura no meio do corredor do Ministério da Mulher, o
território intocável da minha mãe.
Lembrei-me da mulher que Wilson Cox queria
contratar para a campanha do festival de hipismo e só
então entendi o motivo da presença dele ali. A tal mulher
devia ser uma das funcionárias do ministério e ele tinha
vindo falar com Thara para que o ajudasse na proposta
que queria fazer. Na ausência da minha mãe, era sempre
uma das princesas Al Harbi que assumia os assuntos da
diretoria e Thara era mais experiente do que Sabirah ao
lidar com o ministério.
Mais tranquilo ao perceber a real motivação de
Wilson, aproximei-me deles, apesar de ainda sentir os
músculos rígidos de tensão. Havíamos combinado que ele
não falaria com nenhuma mulher de Tamrah. Apenas a
coordenadora dele cumpriria aquela missão.
Sabirah me viu de imediato e notei com
desconfiança o olhar cauteloso que me lançou. Thara
tinha o corpo de Wilson bloqueando a visão do fundo do
corredor e só percebeu a minha aproximação quando
parei de frente para ele.
A primeira coisa que percebi foi o sorriso
insinuante com que ele falava com Thara e toda a minha
cordialidade foi embora.
Encarei-o com a expressão muito séria.
— Posso ajudar também?
Ele nem conseguiu disfarçar o susto ao me ver ali,
mas sorriu amistosamente para mim.
— Claro, alteza. Lembra-se da mulher que
comentei para a campanha? Encontrei-a. É ela!
Wilson Cox olhou para Thara e gelei na hora.
A minha mulher?!
Fiquei tão perplexo que tive dificuldades de
reagir. Paralisei, mas logo depois o gelo se converteu em
raiva ardente ao ficar sabendo que a minha Thara era a
mulher que ele queria transformar em uma modelo
internacional.
— Não viu a aliança no dedo dela? — Avancei um
passo, rosnando na cara dele.
— Claro que vi, alteza. Inclusive, pretendo falar
com o marido dela.
— Pode falar. Ele está à sua frente.
Os olhos de Wilson Cox se arregalaram. Vi
surpresa, receio, temor e desespero neles.
Quebrando todo o protocolo que tanto defendia,
Thara segurou com força o meu pulso direito cerrado, que
estava pronto para acertar em cheio a cara do gênio
mundial do marketing.
— Majdan, o senhor Cox falou muito
educadamente comigo para apresentar a proposta da
campanha.
Não desviei o olhar dele, apesar de responder a
ela.
— Quem deveria estar falando com você era a
Wendy Bellamy, que é a coordenadora da agência e
responsável por entrar em contato com as mulheres de
Tamrah. Não ele. Não foi isso o que ficou acertado,
Wilson?
— Foi e peço mil perdões por ter vindo eu mesmo
falar com ela, alteza. Aconteceu de tê-la visto por acaso e
não quis perder a oportunidade.
— E o que fazia aqui no andar do Ministério da
Mulher? Ficou perdido no prédio “por acaso”?
— Eu a vi quando o elevador estava fechando as
portas e vim atrás no andar onde ele parou, apenas isso.
Nem sabia que aqui era o Ministério da Mulher.
— Foi isso mesmo, Majdan — Sabirah interferiu
para me acalmar. — Estávamos voltando para a diretoria
quando o senhor Cox se apresentou como sócio da
agência e fez a proposta para Thara. Não aconteceu nada
de mais.
Fosse o que fosse que houvesse acontecido,
aquele não era um dia bom para eu ver o fenômeno do
marketing dando em cima da minha mulher com aquele
sorrisinho sedutor no corredor da Global Harbi.
— Vão as duas para a sala da diretoria e me
aguardem lá enquanto resolvo isso.
Usei um tom tão autoritário que nem a Sabirah
questionou, mesmo sendo normalmente rebelde. Thara
segurou-a pelo braço e as duas se afastaram em silêncio
pelo corredor.
Não deixei de encarar Wilson Cox nem por um
segundo, obrigando-o a fazer o mesmo comigo. Se ele
virasse o rosto para olhar Thara afastando-se, eu
quebraria a cara dele no instante seguinte, estivesse ou
não em pleno corredor do Ministério da Mulher.
— Tem uma sala aqui onde podemos conversar
em particular.
Indiquei uma das salas de reunião do andar e
Wilson Cox se dirigiu para lá com o corpo rígido. Assim
que entramos, fechei a porta e peguei-o pelo colarinho
engomado do paletó, quase estrangulando-o com a
gravata.
Com os olhos esbugalhados, ele soltou um
gemido angustiado de quem sentia falta de ar.
— A próxima vez que mentir para mim, o
contrato com a Two Visions estará desfeito. Só não faço
isso agora e expulso você do meu país, porque tenho
muita consideração por George Smith, que é um homem
honrado. Ele não merece perder um contrato importante
tendo o pai na UTI. — Apesar da raiva que sentia, o meu
tom de voz foi gélido. — Se você ousar falar com a minha
esposa novamente, pode ser a última vez que tenha a sua
língua na boca. Se voltar a olhar para ela, corre o risco de
ficar cego. Na época do meu avô, cortávamos a língua de
homens que falavam com quem não deviam e
arrancávamos os olhos de quem olhava para a mulher
errada.
Wilson Cox ficou pálido e pensei se o homem
desmaiaria na minha frente, mas pouco me importei. A
aparência de sedutor irresistível escondia um covarde na
hora de enfrentar outro homem.
Desde o início desconfiei que havia mais do que
apenas interesse profissional dele pela tal mulher, que
agora eu sabia ser a “minha” mulher. Eu conhecia muito
bem homens como Wilson Cox, que agenciavam as
modelos só depois que elas passavam pela cama deles.
Ibn sharmouta!3
Larguei-o antes que cometesse a loucura de o
estrangular de vez.
— Você está proibido de entrar em contato com
Thara ou com qualquer outra mulher dentro do meu país
até o dia em que sair de Tamrah. O andar do Ministério
da Mulher não é um local onde você possa vir treinar o
seu faro de caça-talentos de modelos internacionais.
Aconselho que preze a sua língua e os outros membros do
seu corpo também. Por fora sou um homem moderno,
mas por dentro sou um bárbaro do deserto. A fama que
tenho não é à toa, Wilson Cox. Se repetir o que fez hoje,
decepo o seu pênis e ainda o forço a comê-lo. Pode
escolher se quer inteiro ou picadinho. Agora vá trabalhar
a sério.
Pálido como um cadáver, Wilson Cox não emitiu
uma única palavra. Apenas meneou a cabeça em
assentimento e se afastou meio cambaleante em direção à
porta. Saí da sala atrás dele e fiquei parado no corredor,
aguardando até o elevador chegar e o levar embora do
Ministério da Mulher.
Só então fui para a sala da diretoria com um
furioso sentimento de posse no peito. Nunca me senti tão
o Leão de Tamrah quanto naquele momento. Eu
estraçalharia sem piedade o Wilson Cox só pelo
sorrisinho insinuante que deu para Thara, quanto mais
pelo interesse pessoal que agora eu sabia que o filho da
puta sentia por ela.
Capítulo 4
Thara
— O meu irmão está furioso! — Sabirah
sussurrou no caminho para a sala da diretoria. — Se bem
o conheço, ele só não vai meter um soco na cara do pobre
homem, porque está no prédio da Global Harbi.
Infelizmente, eu tinha de concordar com Sabirah.
Já conhecia bem o meu marido para saber até onde ele
era capaz de chegar quando estava furioso.
— Só não entendi por que tanta raiva. O senhor
Cox não fez nada de errado. Foi extremamente educado e
não nos faltou ao respeito.
Sabirah fechou a porta da sala e foi se sentar em
um dos sofás. Fiz o mesmo, sentando-me ao lado dela.
— Humm, desconfio que o problema seja outro.
— Ela fez uma cara engraçada enquanto batia o polegar
pensativamente no queixo. — Você achou o senhor Cox
bonitão?
Comecei a rir da maneira como ela se referiu ao
homem.
— Sim, ele é um homem bonito, mas é uma
beleza que não me atrai nem um pouco. Você se sentiu
atraída por ele?
— Não. Tenho a mesma opinião que você.
Fiquei sem entender aonde ela queria chegar.
— E o que a beleza dele tem a ver com o que
aconteceu?
Sabirah olhou para a porta fechada e baixou o
tom de voz antes de responder.
— Acho que o meu irmão ficou com ciúmes
quando viu o bonitão ocidental falando com você.
Abri a boca, ficando literalmente de queixo caído.
— Com ciúmes?! Mas o Majdan sabe que eu o
amo e que jamais sentiria nada por outro homem!
Fiquei verdadeiramente preocupada que ele
sequer pensasse aquilo.
— O meu irmão sabe disso, fique tranquila.
Quando um homem sente ciúmes de outro homem, não
quer dizer que desconfie da mulher dele.
— E o que quer dizer então?
— Que se sente inseguro, com receio de perder a
mulher que ama.
Olhei-a com curiosidade. Aquele era um
comentário bastante maduro para uma garota tão jovem
quanto Sabirah, que não era casada e nunca havia sequer
namorado na vida.
— Como sabe disso? Não acredito que tenha
aprendido isso com aquele homem por quem se
apaixonou. Pelo que me disse, ele nunca se interessou por
você, então não sentiria ciúmes.
Sabirah contraiu os lábios em um gesto
conformado de tristeza.
— Ele nunca se interessou mesmo. Aprendi isso
com a minha mãe. Ela me disse certa vez que é normal
um homem sentir ciúmes quando outro homem se
aproxima da mulher que ele ama. Tem a ver com o medo
de perdê-la. Apesar de serem fortes, muitos ficam
inseguros.
Olhei pensativamente para o jarro de flores sobre
a mesa de canto, analisando a reação de Majdan sob
aquele ângulo. Tinha toda a lógica.
— Isso tudo é tão estranho. O senhor Cox nem
estava interessado em mim. Só queria me fazer uma
proposta de trabalho.
— Também acho isso, mas o meu irmão deve ter
os motivos dele para achar o contrário. Um homem
sempre conhece melhor outro homem do que nós
mulheres.
— Agora fiquei mais preocupada ainda. Será que
Majdan vai fazer algo contra o senhor Cox por minha
causa? Ele pode até cancelar o contrato com a agência,
Sabirah! Não quero prejudicar a campanha de divulgação
que eles estão fazendo de Tamrah.
— Se o Majdan não fizer nada agora, com certeza
vai fazer assim que puder. Os meus irmãos são
extremamente superprotetores. Não existe diplomacia
para eles quando o assunto envolve a família,
principalmente as mulheres. — Ela se remexeu no sofá e
se sentou bem de frente para mim. — Você se interessou
em fazer o anúncio da campanha?
— Quem, eu? — Apontei o dedo para mim
mesma. — Claro que não! Jamais teria coragem de
aparecer em um anúncio para o mundo inteiro me ver.
— Mesmo que fosse para ajudar o nosso país?
Talvez você até servisse de exemplo para as mulheres de
Tamrah que gostariam de seguir a carreira de modelo,
mas não têm coragem.
Suspirei pensativamente. Eu não tinha visto a
situação por aquele lado, mas era algo importante a se
pensar.
— Confesso que estou confusa com tudo isso. Não
tenho como dar uma resposta agora.
— Você tem razão, não fique preocupada. —
Sabirah sorriu de repente, olhando para mim com uma
certa provocação. — O interessante de tudo foi ver o
Majdan com ciúmes de você. Foi a primeira vez que o vi
assim. Ele pouco se importava com a ex-esposa traidora,
mas é visível para todos nós o quanto o meu irmão ama
você.
Um sorriso involuntário curvou os meus lábios e
senti o rosto corar de prazer.
— Eu também o amo muito.
Capítulo 5
Majdan
Thara me conhecia o suficiente para identificar
as minhas oscilações emocionais e saber quando eu
estava no limite entre o rígido autocontrole que mantinha
sobre mim mesmo e o momento em que a explosão ia
acontecer. E era prestes a explodir que eu estava ao
entrar na sala da diretoria do Ministério da Mulher.
Ela e Sabirah se levantaram de imediato do sofá e
senti o olhar preocupado das duas sobre mim.
— Deixe-me sozinho com a Thara, Sabirah.
— Sim, claro! — Ela olhou para Thara e se
despediu com um aceno rápido da mão. — Vou esperar na
sala de reuniões. Voltamos juntas?
Thara olhou para mim em dúvida.
— Voltam juntas — confirmei. — Saqr marcou
uma reunião no início da tarde aqui no prédio.
— Aguardo lá, então.
Sabirah saiu e caminhei decidido em direção à
Thara.
A minha esposa!
A cada minuto que passava desde que a vi
conversando com Wilson Cox, mais crescia dentro de
mim a frustração por não ter descarregado nele a raiva
que estava sentindo.
Havia preocupação na fisionomia de Thara.
— Está tudo bem?
— Não, nada está bem! — Foi o que rosnei ao
enlaçá-la pela cintura com firmeza e pressionar contra o
meu corpo. — Me acalme ou sou capaz de mudar de ideia
e acabar com ele agora mesmo.
Thara segurou o meu rosto com as duas mãos,
olhando-me serenamente.
— Não aconteceu nada de mais, habibi4. Mal
tínhamos começado a conversar quando você chegou.
Recebi um beijo molhado, os lábios macios e
sedutores enlouquecendo-me e a língua ousada tomando
a iniciativa de invadir a minha boca. Grunhi, excitado,
mas também em paz comigo mesmo ao receber os
carinhos dela. Aquele era o efeito que Thara tinha sobre
mim. Só ela.
Sem controle algum sobre a necessidade que
sentia de possuí-la ali mesmo em plena Global Harbi,
afastei-me o tempo suficiente para ir fechar a porta da
sala à chave.
— Majdan! — ela exclamou quando entendeu as
minhas intenções.
Não respondi, não emiti uma única palavra sobre
o que pretendia fazer. Apenas tirei o thobe5 pela cabeça e
o joguei sobre o encosto do sofá, voltando a envolvê-la
pela cintura.
— Você escolhe se quer tirar a roupa ou não.
— Não vou ficar nua aqui! Estamos na sala de
Farah. — Tentou me fazer voltar à razão, mas eu já não
tinha razão nenhuma dentro de mim, só desejo.
Beijei-a, tomando a boca carnuda com voracidade
enquanto tirava o hijab da cabeça dela, soltando os
cabelos compridos. Ergui o corpo delgado e tirei-a do
chão, levando-a para a mesa redonda de reuniões.
Se ela não queria tirar a abaya6, eu a deixaria
ficar com ela, mas nada me impediria de possuir a minha
mulher naquele exato instante.
Deitei-a sobre a mesa, erguendo a abaya pelas
pernas torneadas até chegar à calcinha de renda azul
marinho que ela usava. Quis rasgá-la, mas me controlei a
tempo. Não estávamos em casa e Thara não voltaria para
o palácio sem uma calcinha inteira por baixo da abaya.
Puxei a lingerie delicada pelas pernas dela, que
separei para sorver com a boca a umidade que já molhava
o sexo da minha esposa, da minha mulher, da minha
Thara. Era deliciosa e viciante. O cheiro, o sabor, a
maciez, tudo me enlouquecia.
Quis chupar, sugar e morder e foi o que fiz,
arrancando gemidos de prazer que ela tentava sufocar
sem sucesso. As mãos ansiosas se afundaram nos meus
cabelos, segurando-me no lugar onde queria que eu
ficasse. Ali mesmo, entre as pernas dela.
— Então não quer tirar a roupa?
Estimulei o clitóris com o dedo, que deslizava na
umidade cada vez maior, uma mistura dela mesma com a
minha saliva.
Como sempre acontecia quando estava dominada
pela excitação, Thara se esqueceu do pudor e tirou ela
mesmo a abaya pela cabeça, arqueando o corpo sobre a
mesa em um movimento sexy e estimulante. O sutiã foi a
peça seguinte a ser jogada sobre a madeira, deixando-a
completamente nua e aberta à minha frente.
Duro, rígido e ansioso, baixei a calça e puxei o
meu pau para fora, roçando-o na entrada apertada.
— É isso o que você quer, habibti? — provoquei-a
com a voz enrouquecida, a visão estonteante do sexo
aberto roubando a minha razão na mesma velocidade
com que aumentava o meu tesão.
— Quero e agora! — exigiu, usando as pernas para
me puxar pela cintura e forçar a penetração.
Foi o que fiz no instante seguinte, possuindo-a
com ímpeto e arrancando um gemido excitante de prazer
da garganta dela. Inclinei-me sobre a mesa e tomei um
mamilo com a boca, sugando-o com ansiedade premente.
Gememos, enlouquecemos juntos. A cada
estocada que eu dava no interior macio e úmido, um novo
gemido enchia a sala, junto com o som de sexo contra
sexo.
O meu coração batia no mesmo compasso das
investidas vigorosas dentro dela.
— Mais, mais, habibi! — ela me incitou,
agarrando-se em mim.
Aquelas exigências de Thara em pleno ato sexual
quebravam a minha resistência e daquela vez não foi
diferente. Explodi sem controle algum e ela veio comigo,
em uma sintonia perfeita, em um orgasmo poderoso.
Ofegantes, beijamo-nos com um certo desespero,
enquanto eu respirava profundamente e sentia a paz
tomar conta do meu coração.
Thara havia me acalmado da melhor maneira
possível.

Minutos depois, já vestidos, ela me olhou por


sobre o ombro enquanto colocava o hijab colorido nos
cabelos.
— O que você fez com Wilson Cox quando fui
embora?
— Quase acabei com ele — admiti com um sorriso
de desprezo.
— Ah, não, Majdan! Ele não fez nada.
A ingenuidade de Thara jamais a deixaria ver a
verdade que eu enxergava de maneira gritante. Ela não
tinha maldade no coração, enquanto eu já tinha visto e
vivido de tudo na vida, possuindo uma bagagem nefasta
que contrastava totalmente com a pureza dela.
— O que ele lhe disse quando conversaram? —
exigi saber ao abraçá-la de novo.
— Apenas que precisava de alguém como eu para
participar da campanha de divulgação do festival de
hipismo. Disse que o meu rosto era o que a indústria da
moda procurava hoje em dia, que eu era perfeita para
representar o país nos anúncios. Perguntou se eu
concordava em assinar um contrato com a agência para
fazer esse trabalho.
Isso, nunca!
— Você não vai assinar nenhum contrato com ele!
— neguei severamente.
Thara franziu a testa.
— O contrato não era com ele, mas com a agência
que você contratou. Lembro que falou tão bem do senhor
George Smith.
Segurei-a pelo rosto com as mãos.
— George é um homem correto e confiável. Esse
Wilson Cox não é. Quero-o bem longe de você.
Ela ergueu os ombros em um gesto de
indiferença.
— Por mim, tudo bem. Não me interessei mesmo
pela proposta que ele fez. Sei que é para ajudar a divulgar
o festival de hipismo que você tanto ama, mas acho que ia
morrer de vergonha de dar o meu rosto para essa
campanha. Eu só faria se você fizesse questão. Só se fosse
por você, entende?
Trinquei os dentes e enrijeci a mandíbula para
conter a emoção diante do que ela disse. Eu imaginava o
quanto seria difícil para ela, tímida do jeito que era,
participar de um comercial apenas para ajudar o primeiro
festival de hipismo que eu estava promovendo em
Tamrah depois da punição que recebi da federação
internacional por causa da morte de White Star.
Thara, mais uma vez, estava provando o quanto
me amava.
Foi com as emoções à flor da pele que admirei a
beleza exótica e marcante do rosto dela que Wilson Cox
tanto queria comercializar.
— Você está me olhando de um jeito! — Ela riu,
tocando as faces rosadas. — Estou com o rosto sujo?
— Não. Está mais bela do que nunca e estou mais
apaixonado do que jamais estive.
Capítulo 6
Majdan
— Que história é essa que me contaram? Fiquei
sabendo que você hoje quase socou o dono do cérebro
mais invejado das campanhas publicitárias em todo o
mundo — Yusuf me provocou assim que entrei na sala de
reuniões onde o Saqr e ele me aguardavam.
Enchendo-me de paciência, coloquei o celular
sobre a mesa e me sentei em uma das cadeiras.
— Quem foi o fofoqueiro que correu para lhe
contar isso? Ou você colocou espiões dos serviços secretos
nos corredores da Global Harbi?
Ele riu, visivelmente bem-humorado.
— Foi uma fofoqueira chamada Sabirah.
— Logo vi! Sorte nossa que os fofoqueiros são
todos da família. — Ignorei a risadinha que ele soltou,
notando a falta de Jamal na sala de reuniões. —
Aconteceu alguma coisa com o Jamal?
— Ligou para avisar que vai se atrasar — Saqr
informou consultando o relógio de pulso. — Deve chegar
daqui a pouco.
— Não pense que vai escapar de nos contar tudo o
que aconteceu. — Yusuf não me deu trégua. — Sabirah
disse que não sabia nada sobre a melhor parte, que é o
teor da sua conversa com o pobre homem depois que
ficaram sozinhos. Quero todos os detalhes. Os meus
informantes dos serviços secretos ficaram sabendo que a
vítima passou o dia inteiro vomitando no banheiro. O que
foi que você disse para ele?
Olhei-o com satisfação pela primeira vez desde
que havia entrado na sala.
— Ele passou mal?
Saqr sorriu com ironia.
— Parece que você andou assustando mesmo o
homem.
— Ele veio para Tamrah sem saber direito quem
era o homem para quem ia trabalhar. Agora já sabe.
— Isso eu não duvido. O infeliz está colocando as
tripas para fora de tanto vomitar. — Yusuf apoiou os
braços sobre a mesa e se inclinou na minha direção. —
Abre o jogo, Majdan. O que você disse para o Wilson Cox?
Sem poder socá-lo, você deve ter jogado duro na ameaça.
— Eu aposto que ameaçou deixá-lo sozinho no
meio do deserto com as mãos amarradas, os olhos
vendados e um bando de hienas a persegui-lo — Saqr
opinou, recostando-se sobre a cadeira e cruzando os
braços no peito.
— Não, isso é pouco — Yusuf negou. — Majdan
deve ter ameaçado jogá-lo dentro de uma jaula com leões
famintos. Há quem faça isso por aí.
— Nem uma coisa nem outra. Acho que ele está
vomitando ao imaginar que vai comer o próprio pênis
decepado. Dei-lhe a opção de ser inteiro ou aos pedaços.
A sonora gargalhada que Yusuf soltou se
espalhou pela sala de reuniões. Ele caiu contra o encosto
da cadeira sem conseguir controlar a crise de riso. Saqr,
bem mais comedido, apenas meneou a cabeça com
divertimento.
A porta da sala se abriu e o Jamal entrou,
olhando com curiosidade para Yusuf contorcendo-se na
cadeira de tanto rir.
— O que aconteceu com ele? A única coisa que se
ouve lá fora é a gargalhada de Yusuf.
— Está tendo um ataque incontrolável de riso.
Vamos ter que adiar a reunião e levá-lo para a urgência.
Yusuf riu ainda mais ao me ouvir e, obviamente,
não parou de me provocar.
— Você deve estar morrendo de medo de ver a
Thara se transformando em uma top model árabe
internacional ou não teria ameaçado o homem com essa
barbárie. Até eu estou chocado. — Colocou a mão sobre o
peito e fingiu estar horrorizado.
— Thara vai seguir a carreira de modelo? —
Jamal perguntou inocentemente. — Isso é novidade para
mim.
Trinquei os dentes de raiva, encarando Yusuf e
Saqr.
— Não é nada disso que vocês estão pensando!
Não estou com medo que Thara se transforme em uma
modelo, caso seja isso o que ela queira. — Olhei muito
sério para eles dois. — Até saber que ela era a minha
esposa, aquele cachorro estava interessado nela e não era
como modelo.
— Por Allah! E o homem ainda está vivo? — O
Jamal parecia não acreditar que deixei o cachorro do
Wilson Cox com vida.
— Está, mas a ponto de morrer de tanto vomitar
no banheiro — Saqr informou com um sorriso ácido, bem
típico dele. — Também deve estar se mijando nas calças
de tanto medo.
— Ah, entendo.
A risadinha de Yusuf foi irritante.
— Apesar de todas as ameaças que você fez ao
homem, aposto a minha faixa preta em karatê que ainda
está louco para meter um soco na cara dele. — Yusuf
acertou em cheio e olhei-o de cara feia. — E pelo jeito na
minha também.
— Acertou duas vezes.
Yusuf se recostou preguiçosamente contra o
espaldar da cadeira, exibindo um sorriso excessivamente
bem-humorado.
— É, meu irmão, quem diria que um dia eu o
veria carrancudo e preocupado desse jeito por causa de
uma mulher, soltando ameaças para todos os lados,
inclusive para mim. — Ele olhou para Saqr. — Lembra
quando o antigo solteirão ali se gabava dizendo que
nunca ia se casar de novo e que nós dois éramos uns
dramáticos, porque vivíamos preocupados demais com
Malika e Kismet?
Saqr me olhou com um sorriso gozador.
— Claro que me lembro. Um dia é da caça, o
outro é do caçador.
— Como era mesmo que ele dizia, Saqr? Ah, já me
lembrei! “Boa sorte para vocês dois. É muito drama
para mim.”
Yusuf imitou a minha voz colocando um tom
bastante arrogante. A interpretação cômica arrancou uma
risada de Saqr.
— Você disse que um dia ele viria chorando nos
pedir ajuda quando se apaixonasse e que o deixaria sofrer
antes de ajudar — Saqr lembrou-o.
— Eu disse isso? Já tinha me esquecido. Obrigado
por me lembrar, Saqr.
— Que memória boa a sua, Saqr — ironizei.
— Tenho essa qualidade.
Apesar de me sentir irritado, era preciso
reconhecer que eles tinham razão. Cansei de rir da cara
deles, principalmente de Yusuf, quando pareciam viver
em eterno estresse por causa das esposas. Agora, nada
mais justo que rissem de mim.
— Muito bem. Agora que já cansaram de rir da
minha cara, podemos começar a reunião?
Jamal só acompanhava aquela troca de farpas
com uma expressão tranquila. A típica tranquilidade de
homem solteiro e feliz que nunca se apaixonou na vida.
— Podemos começar a reunião, mas como Saqr e
eu somos bons irmãos e não guardamos rancor, vamos
ajudar você sem deixar que sofra muito. Wilson Cox será
vigiado noite e dia até que a campanha esteja concluída e
ele embarque daqui no primeiro avião, a menos que você
pretenda rescindir o contrato com a agência de
publicidade deles.
— Não vou fazer isso agora, mas é só por causa de
George Smith. Quando ele voltar de Londres,
conversaremos a sério. Quanto à Wilson Cox, está
proibido de falar com qualquer mulher dentro de
Tamrah, exceto as funcionárias dele.
Jamal fez um gesto com a mão pedindo a atenção
de todos.
— Deixa eu entender isso direito. Era para a
agência desse Wilson Cox que Thara ia trabalhar como
modelo?
— Não! — neguei de imediato.
— Era, sim — Yusuf confirmou. — Sabirah me
contou que ele queria contratar a Thara para participar
da campanha do festival de hipismo. Obviamente que
depois ela teria um contrato com a Two Visions.
— Isso está fora de questão — esclareci logo para
não deixar dúvida alguma.
— Não sei como esse homem ainda não foi
embora, fugindo às pressas de Tamrah — Jamal opinou,
confuso. — Tem certeza que ele vai ficar para dar
continuidade à campanha?
— Vai ficar! — afirmei com convicção. — Ele não
foi embora e nem vai por um motivo muito simples: o
dinheiro fala mais alto. Wilson Cox não vai querer perder
uma conta milionária para o concorrente.
— Era só a Thara que ele queria contratar ou a
Kismet também?
Saqr aprumou o corpo na cadeira e olhou duro
para Jamal.
— O que Kismet tem a ver com isso?
— Ela é bastante bonita com aqueles olhos
verdes.
— Não meta a minha mulher nessa história! —
rosnou de cara fechada.
A reação de Saqr pegou a nós três de surpresa.
— Até você, Saqr? — Yusuf voltou a cair na risada.
— Por Allah, nunca pensei que a minha tarde ia ser tão
divertida com vocês dois surtando por causa disso!
Capítulo 7
Majdan
— Tudo bem? — Foi a primeira coisa que Thara
perguntou quando cheguei em casa no final da tarde.
Abracei-a. Como sempre acontecia, senti-me
mais calmo ao tê-la em meus braços.
— Sim e com você? — grunhi no ouvido dela,
amando o gemidinho de prazer que soltou.
— Estou bem, apesar de ter ficado preocupada
com você depois daquela situação toda.
Espalmei a mão na base das costas dela,
acariciando a curva acentuada das nádegas cheias. Thara
sequer imaginava o tamanho do poder que tinha sobre
mim.
— Não precisava se preocupar comigo. Ficou tudo
definitivamente resolvido.
Pelo menos foi o que pensei, até o maldito
assunto voltar à tona no dia seguinte durante o jantar em
família.
Assim que entramos na sala onde todos estavam
reunidos, a minha mãe se aproximou para abraçar Thara.
— Estou tão feliz com a proposta que você
recebeu para trabalhar na campanha do festival. Será um
grande incentivo para as mulheres do nosso país fazerem
o mesmo. Temos jovens muito bonitas em Tamrah que
poderiam representar o nosso país tanto em concursos de
beleza quanto em trabalhos de moda e publicidade.
Quase não acreditei no que tinha acabado de
ouvir.
Parecendo mais surpresa do que eu, Thara olhou
para mim por sobre o ombro da minha mãe, que a
abraçava efusivamente.
— Eu não aceitei a proposta, Farah. Não tenho
jeito nenhum para esse tipo de trabalho.
— Não tem jeito porque nunca fez algo assim. É
só aprender.
Quase rangi os dentes de raiva.
— Não custava nada ter ficado calada, Sabirah —
repreendi a minha irmã, que me olhou toda desconfiada
do sofá que dividia com Kismet e Malika.
— Ela fez bem em me contar, Majdan. Na
verdade, as minhas noras são mulheres lindas que
poderiam muito bem ser modelos. — A minha mãe
continuou com entusiasmo, sem sequer imaginar o caos
que causava dentro de mim.
— Mãe, não inventa! — Saqr reclamou com
irritação, no que agradeci em silêncio.
— Não estou entendendo a cara amarrada de
vocês dois. Pelo menos o Yusuf parece aceitar bem que
Malika faça algum trabalho nessa área.
Yusuf se ergueu abruptamente da poltrona de
onde acompanhava a conversa e já não havia nenhum
divertimento na expressão dele.
— Eu, aceitar bem? Nunca disse isso!
— Pois saibam que adorei a ideia. Inclusive, estou
pensando eu mesma em agenciar as belas mulheres que
temos no nosso país. A agência faria parte do Ministério
da Mulher, onde elas teriam todo o apoio jurídico e
trabalhista. O que vocês acham?
A pergunta era para as três noras que estavam
presentes e para Sabirah, que se entreolharam com
perplexidade.
— Nunca pensei nisso, Farah, mas concordo que
seria algo inovador — Malika opinou com aparente
cautela. — O problema é que já temos tantos projetos em
andamento no ministério. Será que não seria demais?
— Concordo com o que a Malika disse — reforcei
as dificuldades daquele projeto. — Ainda temos as
refugiadas da guerra de Sadiz para ajudar. Fora isso, é
preciso combater a resistência enorme que existe nas
cidades do interior com relação às novas leis a favor das
mulheres. Uma coisa de cada vez, mãe.
— Não vejo tanto impedimento assim para esse
novo projeto. Este convite para Thara participar da
campanha é um sinal de Allah.
É um sinal de que devo meter um soco na cara
de Wilson Cox!
— Se Thara for ser modelo, eu também quero ser,
papai! — Abia pediu cheia de contentamento.
Até estremeci de tanta raiva que senti.
— Pai, diga alguma coisa! — apelei para ele em
um rosnado frustrado antes que perdêssemos o controle
daquele assunto.
Quando a minha mãe colocava uma coisa na
cabeça, só com a votação maioritária dos homens da
família é que conseguíamos vencê-la.
Os meus irmãos e eu olhamos para ele, exigindo
uma posição a nosso favor. Ciente daquilo, a minha mãe
contra-atacou logo.
— O que acha, Rashid? Não é um excelente
projeto para o “meu” ministério?
Ela sabia que tudo que fosse do Ministério da
Mulher ele aprovava sem questionar.
— O que acho é que estou com fome e quero
jantar com a paz de Allah. — Ele se levantou do sofá
muito tranquilamente, evitando se comprometer com ela,
mas também com os filhos. — Vamos todos para a mesa e
sem assuntos polêmicos. Para isso temos as nossas
reuniões do conselho.
No caminho para a sala de jantar, Yusuf se
aproximou de mim.
— Se precisar de ajuda para quebrar a cara de
Wilson Cox, é só me chamar — sussurrou entredentes,
afastando-se depois para o lado de Malika.
Capítulo 8
Majdan
— A minha mãe vai pressionar você para fazer
esse trabalho em nome das mulheres do país. Não quero
que se veja forçada a aceitar para agradar a ninguém,
nem a mim.
Deitados na cama depois de um jantar tenso,
Thara ergueu a cabeça do meu peito e me olhou na
semiescuridão do nosso quarto, iluminado pela suave luz
indireta do teto.
— Eu já disse que não me sentiria à vontade
diante das câmeras, mas se for preciso fazer para que o
festival de hipismo seja um sucesso, eu faço. Isso não
quer dizer que pretenda seguir a carreira de modelo
depois. Seria mesmo só pelo festival. Tem tantas
mulheres bonitas e talentosas nesta área. Acho que
qualquer uma delas faria esse trabalho melhor do que eu,
que não tenho experiência alguma.
Acariciei os cabelos longos que estavam soltos.
— Você é muito mais bonita do que pensa.
Thara riu, tocando o rosto a mão.
— Me achei muito estranha na primeira vez em
que vi o meu rosto em um espelho. A minha boca parecia
grande demais e demorei para me acostumar com aquela
mulher refletida à minha frente.
Contornei os lábios dela com o polegar, tão
deliciosamente sensuais.
— A sua boca é a minha perdição.
Ela riu ainda mais.
— Já percebi. — Havia uma mistura de timidez e
malícia naquele comentário. — Gosto que me ache bonita,
mas não me importo se os outros acham ou não.
Suspendeu o corpo sobre o meu, os seios fartos
livres de qualquer sutiã quase pulando para fora da
camisola.
O meu coração acelerou e o sangue passou a
correr com mais rapidez no corpo, concentrando-se na
região da virilha. O meu pau reagiu logo, endurecendo
contra ela, que percebeu de imediato, um leve sorriso de
satisfação curvando os lábios convidativos.
Thara se sentou com as pernas abertas sobre a
minha virilha e inclinou o corpo para me beijar com
voracidade. Se eu já estava excitado, fiquei mais ainda.
Com as mãos ansiosas, puxei o tecido diáfano da
camisola, sentindo sob a palma a maciez da pele sedosa.
Foi com sofreguidão que acariciei as nádegas cheias cuja
calcinha exígua se perdia no meio delas. Apertei-as com
força, gemendo de prazer quando Thara se esfregou de
encontro ao meu pau duro.
Unidos por um beijo carnal, gememos ofegantes
em um abraço apertado. Completamente liberada do
recato que apresentava em público, Thara ergueu o corpo
e tirou a camisola de vez, exibindo a nudez imoralmente
deliciosa do corpo que possuía.
Estremeci, pulsei de tesão. Sem pensar duas
vezes, segurei a tira da calcinha e arrebentei-a,
desnudando Thara por completo. Com ela ainda sentada
em cima de mim, tirei o meu pijama e urrei de prazer
quando nossos corpos nus se tocaram.
Nem tive tempo de respirar e Thara já se
inclinava sobre mim, usando a boca para me enlouquecer
de vez. Aquela boca que roubava a minha sanidade e me
endurecia de paixão a cada beijo que dava no meu peito,
no abdômen e, por fim, no meu pau.
— Oh, Thara, Thara! — gemi desesperado diante
do prazer que ela me dava com a boca. — Porra, como
você faz gostoso.
Acostumada com o meu jeito pesado de foder e
com as palavras sujas que eu falava durante o sexo, ela
me incitou ainda mais. A minha garota, sempre tão cheia
de pudor e de recato, já havia me confidenciado que
gostava de ouvir as obscenidades que eu dizia e que
amava a pegada dura que eu usava quando “fazíamos
amor”.
Sim, era verdade que fazíamos amor, mas muitas
vezes o que fazíamos era mesmo uma boa foda. Uma foda
dura e gostosa, como a que ela estava fazendo comigo
naquele exato instante, ao enfiar o meu pau inteiro na
boca e chupar, mamar, fodê-lo até me deixar à beira do
gozo.
— Senta nele! — exigi antes que acabasse gozando
sem dar prazer a ela.
Thara obedeceu, sentando-se sobre o meu pau
inchado, que entrou por completo no sexo apertado,
úmido e macio. Rocei o clitóris saliente com o dedo,
arrancando gemidinhos ofegantes dela, cujos seios
pesados balançavam eroticamente a cada movimento que
fazia sobre o meu corpo.
Agarrei um deles com firmeza e estimulei o
mamilo intumescido de prazer.
— Me avisa.
Ela sabia e avisou logo a seguir.
— Vou gozar!
Foi trincando os dentes para controlar o meu
próprio desejo urgente que deixei Thara gozar tudo o que
ela merecia. Só depois, rápido e firme, segurei-a pela
cintura e virei-a de bruços na cama.
— De quatro!
Ela obedeceu e ficou de quatro na cama,
terminando de roubar o meu mísero controle com aquela
posição deliciosamente obscena. Penetrei-a com
profundidade, segurando as nádegas polpudas e fodendo
com ímpeto o interior da minha mulher, mais molhado
ainda do gozo dela.
Foi uma foda dura, rápida e visceral. Fechei os
olhos quando a força do orgasmo me arrastou com ele,
sacudindo o meu corpo em espasmos poderosos.
— Que foda gostosa do caralho! — rugi
roucamente dentro do quarto, o leão de ouro e diamantes
sobre a mesa de cabeceira assistindo a tudo um silêncio
aprovador.
— Goza, habibi! Goza tudo dentro de mim. —
Thara rebolou os quadris, sugando o resto das minhas
forças.
Ainda que eu não tivesse gozado, gozaria naquele
exato instante. Ela sabia como derrubar totalmente a
minha resistência.
Capítulo 9
Majdan
— Pensei bastante e decidi que quero fazer a
campanha — Thara disse de repente dois dias depois,
quando estávamos a caminho da Global Harbi.
Diminuí a velocidade do carro e desviei a atenção
do trânsito por um rápido instante, olhando-a, perplexo.
— A campanha do festival?
Parecia meio idiota fazer aquela pergunta, mas eu
estava mesmo sem acreditar que ela havia decidido ser o
rosto principal do anúncio.
— Sim, do festival. Não me acho muito capaz para
isso, mas acredito que posso fazer algo aceitável se
tiverem paciência de me ensinar. Se realmente der certo,
vou ficar muito feliz. Depois de tudo o que você e White
Star sofreram, acho que é o mínimo que posso fazer por
um festival que vai homenagear o seu ganharão preferido.
A emoção travou a minha garganta. Eu não
cansava de me surpreender com as coisas que Thara fazia
por amor a mim, um homem que errou tanto no passado
a ponto de achar não ter direito a mais nada na vida,
muito menos ao amor. Um amor como o dela.
Voltei a prestar atenção ao trânsito, tentando
esconder a súbita umidade nos olhos. Eu me sentia por
demais emocionado, mas também muito dividido com
aquela decisão que ela tomou.
O meu lado de marido possessivo, ciumento e
apaixonado queria mantê-la só para mim, sem expô-la ao
mundo que a veria nos comerciais da campanha. Por
outro lado, o homem racional que havia em mim estava
determinado a fazer com que o festival de hipismo fosse
um sucesso e conquistasse um espaço importante no
calendário hípico mundial, mesmo com todas as punições
que recebi por causa da morte do meu garanhão
premiado. Aquela vontade ferrenha me dominava. Em
memória de White Star, aquele sonho tinha que dar certo.
— Acho que agora quem precisa de um tempo
para pensar sobre o assunto sou eu.
Ela riu e me olhou de um jeito que parecia
entender muito bem tudo o que eu sentia.
— Leve o tempo que precisar, habibi.
Sou mesmo um homem afortunado por ter
Thara na minha vida. Que Allah seja louvado!

— Ela quer mesmo fazer isso? — Takeshi


perguntou com a sua habitual serenidade.
— Disse que faria por mim, para que o festival de
hipismo seja um sucesso.
— É uma prova de amor, Majdan. A sua esposa
sabe o quanto este festival é importante para você. Se ela
não se opõe nem está sendo obrigada por ninguém, deixe
que faça o trabalho.
Sentado no tatame de karatê com Takeshi à
minha frente, inspirei profundamente e fechei os olhos.
Em silêncio, analisei as minhas emoções com
honestidade, como ele mesmo havia me ensinado a fazer
durante o tratamento de desintoxicação em Nova York.
— Estou inseguro, Takeshi. Tenho medo de
perder Thara para o mundo novo que ela vai conhecer
quando fizer este trabalho. Sinto ciúmes dos homens que
vão admirar e desejar a minha esposa quando a verem
nos comerciais. Thara é linda, jovem e...
— E ama você, o marido dela. Os outros homens
vão respeitá-la por ser a esposa do Príncipe Majdan Al
Harbi. Vão invejá-lo pela sorte de ter uma esposa tão
linda e apaixonada, apenas isso.
— Já fiz tanta merda na minha vida! Não são
poucas as vezes em que não me acho merecedor dela.
Reconheço que tenho medo que Allah tire-a de mim a
qualquer instante.
— Não há o que temer, meu amigo. O que você
sente são inseguranças normais de um homem
apaixonado. Confie no seu Allah e tudo dará certo.
Aquele era o conselho final que eu precisava para
tomar uma decisão.
Naquele mesmo dia conversei com Wendy, a
coordenadora da campanha. Ela havia substituído quase
cem por cento o trabalho que antes era feito por Wilson
Cox. O homem praticamente não saía mais do seu quarto
no hotel onde estava hospedado, reunindo-se lá mesmo
com a equipe, à espera que George Smith pudesse voltar a
assumir o contrato comigo.
Com o afastamento de Wilson Cox da linha de
frente, descobri que Wendy Bellamy possuía muito mais
talento do que aparentava. Ela não era apenas uma mera
coordenadora que colocava em ação as ideias geniais do
chefe arrogante. Na minha opinião, a mulher era o
verdadeiro cérebro por trás daquele idiota.
Foi o que conversei com Thara certa noite antes
de dormir, quando as gravações já haviam começado e as
duas estavam trabalhando juntas na campanha.
— Desconfio que seja isso mesmo, habibi. Wendy
comentou comigo que o senhor Cox é um machista
centralizador que nunca deu oportunidade para ela
mostrar tudo o que sabia. Inclusive, muitas das ideias que
ele apresentava como sendo dele, na verdade eram dela.
— Foi bom saber disso. Assim que George voltar,
vou ter uma conversa séria com ele sobre Wilson Cox.
Mesmo que demorasse um pouco para aquilo
acontecer, o assunto não ficaria esquecido por mim.
Wilson Cox que se preparasse.

Foi Wendy quem organizou as gravações em que


Thara apareceria para divulgar o país e o evento hípico.
Estive presente em todos os momentos, mesmo quando
Thara já se sentia confiante o suficiente para gravar
sozinha.
— Você pode ir trabalhar se quiser, habibi. Não
precisa ficar aqui comigo o tempo todo. Sabirah tem
vindo todos os dias e me faz companhia. Se precisarmos
de alguma coisa, temos o Assad. Ele não sai de perto.
Mesmo sabendo que Assad estava responsável
pela segurança delas, eu não conseguia simplesmente ir
embora.
— Vou ficar. Não se preocupe comigo.
Ela sorriu e até perdi o fôlego. Estava linda com o
penteado elaborado e a maquiagem que fizeram nela para
as cenas que seriam gravadas no interior do palácio. Dias
antes, a filmagem foi ao ar livre, no haras onde estavam
os meus melhores cavalos. Wendy havia proposto que
Thara aparecesse com um dos animais que participariam
do evento e pedi que trouxessem o Diablo.
O antigo medo que Thara sentia do meu
garanhão havia se transformado em carinho e admiração.
Hoje em dia, ela não tinha receio algum de estar ao lado
dele.
Foi com um sorriso de orgulho que a vi montando
com elegância em Diablo. Os dois deram uma volta
completa na pista de treino enquanto a filmagem era
feita. A intenção era mostrar que no nosso país as
mulheres tinham as mesmas oportunidades que os
homens e poderiam se inscrever nas várias provas do
festival de hipismo. Eu não queria apenas as corridas de
cavalos, mas também os saltos e o adestramento.
— Eu poderia gravar uma cena de corrida, já que
Thara não tem tanta experiência assim. O que acha,
papai? — Abia perguntou cheia de esperança certa noite
durante um dos nossos jantares em família na Ala do
Leão.
Hud provocou a irmã antes mesmo que eu
pudesse responder.
— Para quê? Você vai cair do cavalo e nos
envergonhar.
— Caso tenha se esquecido, cavalgo melhor do
que você. — Ela o lembrou com confiança, olhando
novamente para mim. — Posso, papai?
— Não sei se haverá espaço para tantas cenas,
mas vou conversar com Wendy sobre isso.
Incrivelmente, Wendy concordou
entusiasticamente e tive que me conformar de ver duas
das mulheres mais importantes da minha vida
participando da campanha publicitária.
— Só falta agora a senhora para eu me desesperar
de vez — comentei com a minha mãe durante uma de
nossas reuniões no majlis.
— Que exagero! Qual o problema se eu também
participasse? Não me importaria nada, mas não tenho a
beleza de Thara nem a graciosidade de Abia sobre um
cavalo.
A minha mãe não notou, ou fingiu não notar, o
olhar carrancudo que o meu pai lançou para ela.
— Que triste sina a sua, meu irmão. Eu não
queria estar no seu lugar. —Yusuf não deixou passar a
oportunidade de me irritar.
— Vai varrer o deserto, Yusuf! — Joguei uma das
almofadas do sofá na cara dele, que a pegou com
agilidade. A segunda, porém, bateu em cheio e me senti
satisfeito. — Allah ainda vai fazer você ter uma menina na
próxima gravidez de Malika.
— Inshallah!7 Seria uma benção — nossa mãe
comemorou. — Está mesmo na hora de ter mais mulheres
nessa família.
Yusuf ficou subitamente sério.
— Você agora pegou pesado, Majdan!
Nem o Saqr conseguiu ficar sério diante da cara
assustada de Yusuf, que havia sofrido horrores de
preocupação na primeira gravidez de Malika e vivia
repetindo que tão cedo queria ter outro filho.
— Qual é o problema em ter uma menina, Yusuf?
— Jamal parecia não entender os motivos do irmão. —
Acho que Malika ia adorar.
Yusuf ergueu as mãos para o alto.
— Por Allah, vamos mudar de assunto! Pai,
comece logo essa reunião.
Capítulo 10
Thara
Foi durante uma das filmagens que descobri o
grande segredo de Sabirah. Eu poderia dizer que foi por
acaso, mas como não acreditava em acaso e sim em Allah,
tenho certeza de que foi pela vontade d’Ele.
Majdan teve que ir para uma reunião na Global
Harbi e fiquei sozinha com Sabirah no set de filmagens
durante a tarde.
— Que estranho. O Assad não veio hoje — ela
comentou repentinamente, pegando-me de surpresa.
Estávamos sentadas, aguardando que a equipe
analisasse as várias gravações que haviam sido feitas para
ver se alguma delas precisaria ser repetida.
Assim que a ouvi, olhei para o segurança parado
há poucos metros de distância de onde estávamos, atento
a tudo ao nosso redor. Do lado de fora, eu sabia que havia
outro segurança no carro estacionado em frente ao set.
— Ele deve estar ocupado com alguma outra
missão, mas não se preocupe, Sabirah. Estamos em
segurança.
Desde que ela quase perdeu a vida quando fomos
sequestradas por Musad Faez, o meu ex-odiável-noivo,
Sabirah ficava nervosa toda vez que o segurança que nos
acompanhava não era o Assad. Achei compreensível
aquela reação da parte dela, afinal, foi ele quem a salvou
na ocasião.
Eu entendia perfeitamente que Sabirah tivesse
passado a associar a presença de Assad com a sensação de
segurança, mesmo existindo vários outros profissionais
capacitados nos serviços secretos liderados por Yusuf.
Com um sorriso compreensivo, segurei a mão
dela em um gesto de conforto.
— Nada de mal vai nos acontecer. Daqui a pouco
Majdan chega da reunião.
— Sim, claro. — A resposta soou com um tom
conformado e triste.
Fomos chamadas por Wendy e o assunto ficou
esquecido. Contudo, no meio da tarde levei um susto
tremendo quando Sabirah se ergueu de supetão da
cadeira e ficou de pé.
— Ele chegou!
Achei que fosse o Majdan que havia chegado da
reunião na Global Harbi, mas o homem alto e forte
parado na entrada do set de filmagens era o Assad.
Para minha surpresa, Sabirah foi imediatamente
falar com ele e de uma maneira tão urgente que fiquei
desnorteada.
Não sei o que me fez observar os dois com
atenção e desconfiar de que havia algo mais na maneira
como olhavam um para o outro enquanto conversavam.
Talvez tenha sido uma intuição qualquer ou Allah
mesmo. Foi como se um véu tivesse sido retirado dos
meus olhos e, de repente, eu enxergasse algo que sempre
esteve à minha frente, mas que antes nunca enxerguei
verdadeiramente.
“Acho que estou apaixonada por alguém. Pensei
que seria maravilhoso quando acontecesse, mas é tão
ruim. Vivo pensando nele o tempo todo, mas tenho
certeza de que o mesmo não acontece com ele.”
As palavras de Sabirah na praia de Noor vieram à
minha mente e olhei-os, perplexa. Precisei piscar várias
vezes para ter a certeza de que não estava imaginando
coisas que não existiam. Contudo, quanto mais eu
piscava, mais parecia ver o elo que ligava um ao outro,
envolvendo-os de um jeito intangível, mas extremamente
forte.
Por Allah! Não é possível!
Fiquei tão desorientada que demorei a voltar à
realidade. Desviei o olhar e o fixei nas mãos que cruzei
sobre o colo, a minha mente relembrando todas as vezes
em que Sabirah havia falado sobre o homem por quem
estava apaixonada.
“Ele nunca se interessou mesmo.”
“Não vejo futuro para o que sinto.”
Eu também não via futuro para os dois, caso o
homem por quem ela havia se apaixonado fosse mesmo o
Assad. Ele não era um sheik, muito menos um príncipe
para estar à altura de se casar com a Sabirah. Yusuf se
sentiria traído, Saqr ficaria furioso e Majdan seria capaz
de matá-lo. E o Sheik Rashid, como reagiria depois de
tentar várias vezes encontrar um homem que a única filha
aceitasse como marido?
Sabirah precisaria muito do apoio da mãe e das
três cunhadas para impedir que uma desgraça
acontecesse com o Assad.
Fechei os olhos e rezei para que as minhas
suspeitas não passassem de suspeitas mesmo. Orei para
Allah ter piedade dela, uma verdadeira amiga e irmã que
ganhei quando fui morar no palácio.
Eu continuava rezando quando senti alguém se
sentar ao meu lado. Abri os olhos e vi Sabirah com o rosto
rigidamente contraído, parecendo se controlar a custo.
Virei-me para a entrada do set, esperando ver Assad
fazendo a nossa segurança, mas ele não estava mais lá.
— Ele veio para substituir os outros? Não o estou
vendo.
— Foi embora. — A resposta saiu sufocada
demais, como se ela estivesse com dificuldades de falar.
— Foi embora? — repeti, sem entender mais
nada. — Por que veio, então?
Ela permaneceu calada com as mãos crispadas
uma na outra. Estava tensa como nunca a vi antes e me
preocupei seriamente, cogitando até a possibilidade de
ter acontecido algo realmente grave com alguém da
família e o Assad ter vindo para dar a má notícia.
O meu coração se apertou de angústia ao me
lembrar de Majdan, do meu filho, da família inteira.
— Por Allah, Sabirah! Aconteceu alguma coisa
ruim com alguém da família?
— Não, estão todos bem.
— Então, o que aconteceu para você estar assim?
— O Assad está indo embora de Tamrah. Veio se
despedir de mim!
O quê?!
Olhei-a, boquiaberta.
— Ele está indo para alguma missão fora do país,
é isso?
Sabirah fez um meneio negativo com a cabeça e
cobriu o rosto com as mãos, que tremiam visivelmente.
Começou a chorar e eu, chocada demais, não consegui
fazer mais nada além de abraçá-la pelos ombros com
força.
Fiquei consolando-a em silêncio, com medo até
de falar sobre o assunto, mas chegou um momento em
que já não dava para calar.
— É ele, não é? — sussurrei no ouvido dela. — O
homem por quem está apaixonada.
Sabirah voltou a menear a cabeça, mas daquela
vez em um gesto afirmativo, deixando o meu coração
condoído por ela e por aquele amor impossível.
O choro dela era contido, sufocado, silencioso,
assim como era o amor que sentia pelo segurança que a
protegia com a própria vida, um amor que escondia de
todos. Algo me dizia que o Assad também sentia algo por
ela, mas que se mantinha afastado por saber que jamais
poderiam ser mais do que protegida e protetor.
Senti vontade de chorar também.
— Não fique assim, Sabirah. Ele vai voltar, não
vai?
— Eu... eu não sei. Disse que ia viajar e passar
algumas semanas fora.
Respirei, aliviada.
— Então não é definitivo. Ele vai voltar.
Para o meu desespero, ela soltou um gemido
sofrido e as lágrimas caíram com mais abundância.
— Ele disse que não sabia quando ia voltar,
Thara. Nem... nem se ia voltar. Parecia mais uma
despedida definitiva. Pediu que eu me cuidasse, que não
quebrasse o esquema de segurança saindo sem os
homens designados para me protegerem, que não
andasse sozinha fora do palácio. — Ela soltou um soluço
que abafou com a mão, limpando depois o rosto com
discrição para ninguém perceber. — Eu queria ele perto
de mim, ainda que nunca acontecesse nada entre nós
dois. Saber que poderei nunca mais o ver de novo está
doendo demais. Eu não estava preparada para isso!
Oh, Allah! Tenha misericórdia dela!
— Confie em Allah, Sabirah. Só Ele poderá mudar
o destino de vocês dois. Não perca a esperança. —
Aconcheguei-a com carinho nos meus braços. — Veja o
meu caso, que também amava o seu irmão em silêncio,
achando-me inadequada para ele. Allah nos uniu, mas
demorou para isso acontecer.
Ela sorriu tristemente.
— Estou tentando.
— E vai conseguir. É uma mulher forte e decidida.
Não vai se deixar abater. — Baixei mais ainda o tom de
voz. — Fique tranquila, o seu segredo está bem guardado
comigo. Se ele voltar, prometo que vou ajudar vocês dois
a se entenderem de vez ou até mesmo a ficarem juntos.
Sabirah me abraçou com mais força ainda.
— É tão bom ter alguém com quem posso falar
abertamente sobre ele e ainda mais sendo você. Obrigada,
Thara. Você é uma irmã para mim, muito mais do que
apenas uma amiga.

Naquela noite, durante o jantar em família, Yusuf


informou à Sabirah sobre a mudança no esquema de
segurança dela.
— O Assad me pediu dispensa para resolver
alguns assuntos particulares e ficará ausente de Tamrah.
Designei dois novos seguranças para você. São os
mesmos que ficaram no set de filmagens hoje.
— Sim, claro. Obrigada por me avisar. — Foi a
resposta automática dela, seguida por um sorriso vazio
que parecia ter sido ensaiado à frente do espelho.
Foi Malika quem fez as perguntas que Sabirah
evitou fazer.
— Ele explicou o motivo? Espero que não tenha
acontecido nada sério.
— O Assad nunca foi de fazer confidências sobre a
vida dele, muito menos sobre o passado que teve antes de
trabalhar para nós, mas desconfio que seja algum assunto
familiar. Algo realmente importante ou ele não teria
pedido para se ausentar por tanto tempo. Cansei de
oferecer férias a ele, que nunca aceitou. Sempre preferiu
continuar trabalhando e tirar apenas um dia ou outro de
descanso.
Majdan franziu a testa com preocupação.
— Do jeito que você está falando, até parece que
ele não vai mais voltar.
Olhei para Sabirah, que comia maquinalmente,
mas eu sabia que ela estava atenta à conversa sobre o
Assad.
— Talvez eu esteja falando assim por ter achado
tudo muito estranho. Ele nunca quis tirar férias e de
repente surge com uma viagem que pode durar semanas,
se não meses? Claro que estou cogitando a possibilidade
de ele não voltar mais. O que seria uma pena. Considero o
Assad como um grande amigo.
— Tenho um carinho muito grande por ele e nem
preciso dizer o porquê — Malika desabafou com emoção.
— Já estou rezando para o Assad conseguir resolver tudo
o que precisa e voltar para cá. Mas se ele preferir ficar no
lugar para onde foi, vou rezar para que seja feliz.
Foi Saqr quem ergueu o copo dele para um
brinde.
— Proponho um brinde ao Assad. Um homem de
confiança e excelente militar. Que Allah o proteja nessa
viagem e o guie nas decisões que terá de tomar.
Todos ergueram o copo em um brinde e cruzei o
olhar com o de Sabirah. Pela primeira vez desde que o
jantar havia começado, ela sorria. Ainda era um sorriso
triste, mas era melhor do que nada.
Se o Assad voltasse, eu daria um jeito de
descobrir se o segurança sentia algo por ela.
Capítulo 11
Majdan
— Que evolução a sua, meu amigo. — Recebi um
abraço caloroso de Takeshi assim que cheguei à clínica de
reabilitação de toxicodependentes. — Parabéns pelo
sucesso da campanha publicitária do festival. A cada
reportagem que vejo nos noticiários da televisão ou leio
nos jornais e revistas, mas orgulho sinto de ver como você
vem evoluindo interiormente de maneira firme e
equilibrada.
— Shukran8, meu amigo, mestre e conselheiro.
Que Allah seja abençoado por tê-lo colocado no meu
caminho. — Retribuí o abraço com eterna gratidão. — Eu
não teria conseguido que a campanha fizesse tanto
sucesso sem a participação de Thara. Ela foi fundamental.
— O amor de vocês se solidificou com este
desafio.
— Muito! — Agora eu podia sorrir aliviado ao
falar do assunto. — Não vou dizer que deixei de sentir um
ciúme meio obsessivo por ela, mas aquela insegurança
diminuiu bastante. Thara tem um jeito especial de me
deixar confiante de que não vou perdê-la.
Sentamo-nos nas cadeiras do escritório que ele
ocupava na clínica. Nossas salas ficavam lado a lado na
diretoria, em uma posição de igualdade que fiz questão de
manter quando o convidei para ser o meu sócio. Ali não
existia uma hierarquia superior do Príncipe Majdan Al
Harbi sobre ele, um profissional experiente que vinha
dedicando a sua vida inteira à causa dos
toxicodependentes.
— E o que aconteceu com o Wilson Cox? Você
nunca mais falou dele.
— Conseguiu escapar dessa com vida, mas sem a
sociedade que tinha com George Smith.
Pela maneira como Takeshi me olhou, percebi
logo que estava achando que dei um jeito de prejudicar o
homem.
— Não tive nada a ver com isso, mas admito que
colaborei bastante. A fama mundial que o homem tinha
era uma fraude e o cachorro merecia ser desmascarado.
Lógico que conversei com George quando ele voltou do
funeral do pai. Ele precisava saber sobre o interesse nada
profissional de Wilson por Thara, mas a pessoa que
causou o fim da sociedade foi a coordenadora Wendy
Bellamy.
Takeshi arqueou as sobrancelhas, interessado.
— Acho que a vi dando uma entrevista durante as
gravações da campanha.
— Isso mesmo. Ela e Thara se tornaram muito
amigas durante a campanha e a mulher fez algumas
confidências que fiquei sabendo depois. Decidi conversar
com Wendy, incentivando-a a contar para George a
verdade que ficou escondida durante anos. Wilson
percebeu o talento de Wendy assim que ela entrou na
Two Visions como estagiária. Astucioso e oportunista, ele
passou a se apoderar das ideias dela, apresentando-as
para George como se fossem dele. De lá para cá, o homem
se tornou um gênio das campanhas publicitárias e ela foi
“compensada” com o cargo de coordenadora. Eu não sei o
motivo que a fez se calar durante tanto tempo. Talvez
sentisse medo de perder o emprego, mas pelo menos
agora encontrou coragem de contar a verdade para
George, que ficou revoltado com a falta de ética do sócio.
Um sorriso de sabedoria curvou os lábios de
Takeshi.
— Talvez o incentivo que faltava para Wendy dar
um basta nesta situação tenha sido a convivência com
Thara, uma mulher que luta ativamente pelos direitos das
outras mulheres em um país onde o Ministério da Mulher
tem uma atuação muito forte. A permanência em Tamrah
fez fluir a força interior de Wendy e lhe deu coragem para
lutar pelos próprios direitos. A opressão de trabalhar
anos à sombra de Wilson Cox, vendo o seu talento ser
usurpado, chegou ao fim. O trabalho que a sua mãe e as
princesas fazem aqui é um exemplo para todas as
mulheres, até para as ocidentais.
Fiquei atônito com aquela visão de Takeshi. Ele
tinha razão, como sempre.
— Você está certo, meu amigo. Sinto muito
orgulho da minha mãe pelo legado que tem construído
em favor das mulheres.
— A Rainha Farah é uma mulher admirável.
Comecei a rir ao me lembrar da mais nova
iniciativa da minha mãe.
— Você nem imagina o que ela está inventando
agora. Desde que Thara assumiu o lugar da modelo
internacional que ia trabalhar na campanha, a minha mãe
ficou tão feliz que resolveu criar uma agência de modelos
em Jawhara e promover um concurso de Miss Tamrah.
Ela está enlouquecendo o meu pai por causa disso.
Takeshi soltou uma risada e me olhou com uma
certa malícia.
— Enlouquecendo só o seu pai ou a todos os
homens da família?
— A todos nós, claro! Eu mesmo já não aguento
mais ouvir a Abia falando disso.
Ele me deu um abraço de ombros.
— É, meu amigo, novos tempos estão chegando a
Tamrah.
— Tudo indica que sim. Só espero estar bastante
equilibrado para não surtar a cada nova decisão da minha
mãe.
Capítulo 12
Thara
— Nem parece que sou eu! — comentei pela
milésima vez, completamente pasma.
Deitados na cama depois de um dia atribulado de
trabalho, Majdan e eu estávamos assistindo a um dos
comerciais que gravei para o Festival White Star de
Hipismo, que estava passando naquele exato instante
durante o intervalo do telejornal.
Os anúncios começaram a ser veiculados a nível
mundial há um mês e eu não cansava de repetir a mesma
coisa sempre que me via neles.
— Ficou perfeito. — Majdan virou o corpo e se
deitou de frente para mim, beijando-me levemente nos
lábios. — Você está perfeita nele.
— Nunca pensei na minha vida que um dia faria
isso, mas confesso que gostei da experiência. Mas
também Wendy teve uma paciência incrível comigo. Na
verdade, a equipe inteira foi maravilhosa. O resultado é
mais mérito do profissionalismo deles do que meu com a
minha inexperiência.
— Eles são muito bons — Majdan reconheceu,
acariciando o meu rosto. — Gostou da experiência o
suficiente para querer repetir?
Soltei uma risada, abraçando-o pelo pescoço.
— Não, de jeito nenhum! A experiência foi
interessante, mas não pretendo fazer outro trabalho
nessa área. — Pela expressão do olhar dele, notei que
havia qualquer coisa a mais ali. — Por que a pergunta?
Achei que já tinha deixado isso bem claro antes.
— Wendy não falou nada com você sobre novos
trabalhos?
— Não. — Analisei-o com atenção. — E deveria?
— Talvez. Ela me ligou hoje para informar que
recebeu alguns contatos de empresas interessadas em
contratar você.
Fiquei literalmente de queixo caído de tão
abismada.
— Me contratarem?
— Isso mesmo. Eles desistiram depois que Wendy
informou que você é a minha esposa, mas posso falar com
ela para confirmar o seu interesse caso surja alguma
outra proposta.
— Não acredito! — exclamei de olhos arregalados.
— O que aconteceu com você para estar falando com esta
calma toda?
Ele fez uma careta involuntária e me abraçou com
mais força pela cintura.
— E quem disse a você que estou calmo? Fui para
o tatame hoje com Yusuf e lutei bastante para aceitar bem
a sua decisão. Já estou preparado.
Soltei uma risada, enroscando as pernas entre as
dele, que me prendeu logo contra o corpo.
— Oh, habibi! Você não precisava ter receio da
minha resposta. Não vou aceitar nenhuma proposta. Amo
o trabalho que faço no ministério e quero dedicar o meu
tempo a isso. A minha missão de vida é ajudar as
mulheres vítimas de violência e cuidar das crianças
refugiadas. Também quero terminar o meu curso e
colaborar com o crescimento de Tamrah — sussurrei
depois no ouvido dele. — Além disso, quero bastante
tempo livre para cuidar dos nossos filhos, para amar
muito o meu marido, aproveitar o nosso convívio familiar
e dar uma irmãzinha para Abia. Alguém me disse que
fazer amor em uma noite de lua cheia funciona muito
bem.
Aquilo foi o suficiente para quebrar o
autocontrole dele. Majdan desistiu de aparentar calma,
deixando transparecer a tensão que havia sentido. Uma
tensão que foi liberada em forma de desejo urgente e
intenso, do jeito que eu gostava de ver nele. O corpo
musculoso cobriu o meu no instante seguinte e gemi de
prazer ao sentir toda aquela potência masculina
pressionando-me contra a cama.
Eu não cansava de me encantar com a maneira
rápida com que o membro dele ficava grande e duro
sempre que o meu príncipe se excitava. Aquilo me
excitava também. Aprendi muito com ele, que me
ensinava coisas que eu jamais teria coragem de falar para
alguém, de tão íntimas — e deliciosas — que eram.
Ainda que aquilo tudo fosse pecado, era o pecado
que eu precisava, como o próprio Majdan costumava
dizer em relação a ele mesmo.
Aprendi que o calor que sentia no corpo e que
deixava a minha calcinha molhada, era na verdade
excitação sexual. Antes da nossa lua de mel, eu não sabia
o que era aquela umidade entre as pernas. Hoje em dia,
sabia isso e muito mais. Tudo ensinado pelo meu
príncipe.
As nossas roupas de dormir foram retiradas e
enroscamos os nossos corpos em um abraço apertado,
enquanto nos beijávamos com sofreguidão crescente. Os
lençóis foram afastados para que pudéssemos ter mais
liberdade de movimentos, mas também para apreciarmos
o corpo um do outro à medida que nos amávamos.
Majdan tinha um corpo magnífico que eu não
cansava de admirar. Os ombros largos, o peito amplo e os
braços cheios de músculos que ondulavam e eram duros
ao toque, excitavam-me muito mais do que o meu pudor
gostaria de admitir.
Eu me molhava toda só de ver o membro
endurecido apontando para cima e não resistia à tentação
de tocá-lo e chupá-lo só para ouvir os rosnados de prazer
que ele não conseguia segurar. Gostava de vê-lo perder o
controle e gozar na minha boca, mas também gostava
quando ele fazia o mesmo comigo.
Foi o que aconteceu daquela vez e me abri toda
para ele, deixando-o fazer o que quisesse de mim. Aquela
língua quente estava elevando rápido demais o meu
prazer e em poucos minutos já me vi a ponto de gozar.
Ele sentiu que eu estava no limiar de um orgasmo
e me chupou com firmeza. Estremeci e vi estrelas.
— Vem comigo, habibi, ou vou gozar agora.
Majdan mudou de posição e fui penetrada de um
golpe só, toda aquela dureza invadindo o meu sexo
profundamente. Arqueei a cabeça para trás e soltei um
longo gemido de prazer à medida que ele imprimia um
ritmo alucinante dentro de mim.
Abracei-o com força, enfiando as unhas na carne
rija dos ombros largos, que mordi quando o orgasmo se
espalhou pelo meu corpo.
— Isso, morde o teu homem com força — ele
rosnou ofegante, entrando com tudo dentro de mim. —
Goza que vou gozar também.
A sensação deliciosa só aumentou ao sentir que o
meu príncipe vinha comigo. Majdan acelerou o ritmo até
gozar instantes depois.
— Porra, que foda! — grunhiu com a voz
enrouquecida e sorri intimamente ao vê-lo expressar a
força do prazer que sentia com aquelas palavras duras.
De início, choquei-me um pouco com o linguajar
de Majdan quando fazíamos amor. Acostumei-me depois,
a ponto de me excitar quando ele perdia o controle
daquele jeito.
— Diz também — ele exigiu certa vez quando
havíamos acabado de gozar juntos.
— Dizer o quê?
— Que foi uma foda gostosa da porra.
Naquela época, eu ficava horrorizada com a
naturalidade com que ele falava tão cruamente de sexo.
— Majdan! — exclamei sentindo o rosto arder de
vergonha. — Não vou dizer isso!
Ele me olhou com uma intensidade
desconcertante.
— Você gostou muito ou pouco do prazer que
sentiu agora?
— Muito! — não hesitei em confirmar.
— Então diz para o teu príncipe que foi uma foda
gostosa da porra.
Hesitei, a rígida educação religiosa que recebi
duelando dentro de mim contra a mulher apaixonada que
estava descobrindo o prazer nos braços do marido. Um
marido cuja expressão firme me deu a coragem que
faltava.
— Foi uma foda gostosa da porra, meu príncipe.
Eu nunca ia me esquecer do olhar quente que
recebi e do leve sorriso satisfeito no rosto barbado.
— Somos um só, ayouni9.
De lá para cá, a nossa intimidade sexual
aumentou a cada dia e o amor se fortaleceu. Tornámo-
nos um só com a benção de Allah.
Epílogo

Thara
— Espere aqui. Vou pegar a sua camisola.
Havíamos acabado de tomar o ghusl janabat10 e
fiquei aguardando no banheiro enquanto terminava de
me enxugar. Majdan voltou ao banheiro já vestido com o
pijama.
— Perdi a hora de dormir. Já sei que vou chegar
atrasado amanhã na reunião.
— Você tem reunião logo de manhã? Devia ter me
avisado.
— E o que você ia fazer? Segurar o desejo e
guardá-lo para uma hora mais adequada? — ele brincou,
abraçando-me pela cintura. — A reunião é com os meus
irmãos nos serviços secretos e posso me atrasar.
Fomos para o quarto e nos deitamos na cama.
Majdan me puxou para dormirmos agarrados um no
outro.
— Está acontecendo alguma coisa muito séria
para vocês se reunirem nos serviços secretos?
— Não é nada sério. Depois de um mês sem dar
notícias, o Assad ligou para avisar que volta amanhã.
O Assad?!
Ergui a cabeça do peito de Majdan e o olhei
tentando não demonstrar muito interesse.
— O Assad está voltando?
— Parece que sim. Pelo menos é isso o que Yusuf
me disse. Ele convocou essa reunião para conversarmos
com o Assad quando ele chegar.
Mordi a ponta do lábio, disfarçando o quanto
estava feliz. Sabirah ia ficar radiante quando soubesse.
Ou será que já sabe?
— Isso é segredo ou todos já estão sabendo?
— Pelo que entendi, ninguém sabe ainda. Yusuf
prefere primeiro deixá-lo chegar e conversar com ele,
para depois informar a todos. O que tem certa lógica. Se o
Assad estiver vindo apenas para dar uma satisfação e
depois ir embora definitivamente, não há necessidade de
informar aos militares dos serviços secretos que estavam
sob o comando dele.
Nem à Sabirah, pelo jeito.
Agora eu tinha certeza de que ela não sabia de
nada, exceto se o próprio Assad tivesse informado. Se não
fosse tão tarde e hora de dormir, eu daria um jeito de
ligar para ela.
— Espero que dê tudo certo.
— Será feita a vontade de Allah.
Fomos dormir e só no dia seguinte pude falar
com Sabirah. Liguei assim que Majdan saiu.
— Posso ir no seu quarto?
— Claro que sim, Thara. Mas se quiser vou aí.
— Então, vem. Assim fico mais um tempo com o
Ibrahim.
Pela maneira como ela falou comigo, tive a
certeza de que não sabia de nada ainda. Assim que
Sabirah chegou, tranquei-me sozinha com ela no quarto
de Ibrahim, que foi logo para os braços da tia.
— Seu fofinho, como está hoje?
Ela o beijou no rosto e recebeu um outro beijo de
volta. Rindo muito, Sabirah olhou para mim.
— Eu amo esse jeito carinhoso dele. — Sentou-se
ao meu lado no sofá com o meu filho nos braços.
Desde que Assad foi embora, Sabirah havia
emagrecido e parecia mais abatida. Não era nada muito
evidente para os outros que não sabiam da tristeza pela
qual ela estava passando, mas para mim, que sabia de
tudo e a observava com atenção, a perda de peso não
passava despercebida.
— O que você queria conversar comigo?
Fui direto ao assunto.
— Parece que o Assad volta hoje. Foi Majdan
quem me contou.
Sabirah arquejou de olhos arregalados,
visivelmente pega de surpresa.
— Você não sabia de nada — deduzi.
— Não! De absolutamente nada. — Estava
nervosa e peguei logo o meu filho dos braços dela antes
que o deixasse cair do sofá. — Nunca mais ouvi sequer
falarem o nome dele aqui em Taj, quanto mais saber que
estava voltando hoje.
— Parece que não é nada certo ainda. Depois de
tanto tempo sem entrar em contato, Yusuf está preferindo
ter certeza antes de comunicar oficialmente a volta dele.
Sabirah baixou o rosto, contraindo os lábios
tensamente.
— Ele sequer entrou em contato comigo para
avisar que estava voltando. — Meneou a cabeça com
tristeza. — Não significo nada mesmo.
Segurei a mão dela com carinho.
— Não vamos julgá-lo antes do tempo. Não
sabemos o motivo que o fez partir nem porque está
voltando agora. Só Allah sabe de tudo e devemos confiar
n’Ele.
Analisei as emoções sucedendo-se no rosto dela.
— Sinto uma mistura de alegria e de tristeza ao
mesmo tempo. — Ela cobriu o rosto com as mãos. — Nem
sei como agir. Acho que estou em estado de choque.
Coloquei o Ibrahim sobre o tapete cheio de
brinquedos e voltei para o sofá, segurando as duas mãos
de Sabirah e forçando-a a olhar para mim.
— Vamos rezar pedindo a Allah que nos dê
sabedoria para lidar com a situação. Ainda não sabemos
de nada concreto, mas em algum momento saberemos. Se
Yusuf não comunicar nada à família, perguntarei a
Majdan como foi a reunião.
Ela me abraçou, emocionada.
— Shukran, Thara! Não sei o que seria de mim
sem você neste último mês para me dar tanta força.
— Somos irmãs. Eu disse que ia ajudar e vou
mesmo! — reafirmei o que havia dito antes. — Ainda hoje
saberemos de alguma coisa. Agora vamos rezar.
A manhã chegou ao fim e nada de notícias.
Sabirah ficou comigo na Ala do Leão, ansiosa demais para
ficar sozinha.
Na hora do almoço, liguei para Majdan.
— Você vem almoçar em casa?
— Não, habibti. A reunião se prolongou demais.
Vou almoçar com os meus irmãos nos serviços secretos.
— Então deu tudo certo e o Assad voltou mesmo?
— Ele até agora nem chegou. Apenas ligou para
avisar que ficou retido na fronteira. Acabamos por tratar
de outros assuntos enquanto esperamos ele chegar.
Fiquei decepcionada, mas disfarcei bem quando
nos despedimos. Ao meu lado, Sabirah suspirou com
desânimo ao ver a minha cara.
— Já vi logo que ele não veio.
— Ainda não chegou. Acho que só saberemos de
algo à noite.
Ela caiu deitada sobre o tapete do quarto de
Ibrahim.
— Eu não acredito nisso! — Pegou o celular para
ver se havia alguma mensagem, um gesto que repetia a
cada hora.
— Almoce aqui comigo. Hoje é o meu dia de folga
e Abia deve chegar daqui a pouco das aulas.
Acabamos por passar o dia inteiro juntas. À tarde
fomos ao encontro semanal de mulheres no majlis de
Farah. Sabirah tentou se concentrar nas conversas, mas
estava o tempo todo olhando o celular.
Eu entendia a ansiedade dela, mas Farah era
muito observadora e me preocupei que desconfiasse de
algo.
— Daqui a pouco a sua mãe vai notar que algo de
estranho está acontecendo — alertei-a. — Se aquela
pessoa voltar hoje, Farah pode somar dois mais dois e
descobrir tudo. Intuição de mãe não falha!
— Você tem razão. — Sabirah largou o celular e
estampou um sorriso forçado na cara. — Quer saber?
Chega! Cansei de viver um mês inteiro esperando um
contato, sonhando com quem não sente nada por mim.
Nem quero saber se voltou ou não.
Levantou-se da cadeira que ocupou desde que
havia chegado e foi para o meio do majlis.
— Ninguém dança nesse encontro? Coloquem
uma música para animar ou sou capaz de dormir na
cadeira. Yalla!11
Farah sorriu ao ver a filha animando o encontro.
Alguém colocou uma música e Sabirah arrastou Kismet
para o centro de uma roda de mulheres batendo palmas.
Depois foi a vez de Malika dançar, seguida pela própria
Sabirah.
As mulheres que sabiam a dança do ventre iam
revezando-se e me juntei àquelas que não dançavam,
apenas batiam palmas. Apesar da balbúrdia que fazíamos,
as crianças continuaram brincando sob os cuidados das
babás e a tarde se arrastou em um clima mais alegre.
Quando o encontro acabou, cada uma foi para a
sua ala dentro do palácio se preparar para o jantar em
família. Sabirah veio se despedir de mim com o rosto
corado de tanto dançar e não tocou no assunto do retorno
— ou não — de Assad.
Foi com um suspiro que fui embora com Ibrahim,
Abia e a babá, rezando para tudo dar certo.
Majdan chegou em cima da hora do jantar depois
de um dia inteiro de reuniões. Estávamos aguardando-o
na sala de jogos, onde ele passou para dar um beijo em
cada um dos filhos.
— Vou tomar um banho rápido antes de irmos.
Não vamos nos atrasar.
E realmente não nos atrasamos. Chegamos no
mesmo instante em que Saqr chegava com Kismet.
Conversa vai, conversa vem, só quase no fim do jantar foi
que Yusuf tocou no nome de Assad.
— Eu queria informar a todos que o Assad voltou
hoje à Jawhara. Ele volta a liderar a nossa equipe de
seguranças e vai assumir também o departamento de
investigações.
O meu coração pulou de contentamento, mesmo
sabendo da decisão que Sabirah havia tomado naquela
tarde. Apesar de tudo, a jovem princesa ainda estava
apaixonada.
Evitei olhar de imediato para ela. Qualquer
deslize da minha parte poderia expor aquele segredo
guardado há tanto tempo.
— Ah, então ele voltou mesmo? — Farah foi a
primeira a comentar algo. — Que boa notícia.
— Voltou, sim, Farah — Malika confirmou com
entusiasmo. — Quando Yusuf me contou, fiquei radiante.
Sem querer desmerecer os outros seguranças, a verdade é
que me sinto mais segura quando é o Assad quem está
comigo.
— Nunca vou me esquecer que foi ele quem
colocou todo mundo para correr em Rummán — lembrei-
os daquele momento trágico da minha vida. — Se ele não
estivesse lá com Malika, acho que o meu pai teria
conseguido me tirar da casa de acolhimento.
— Nem quero me lembrar disso! — Majdan
rosnou ao meu lado, subitamente tenso.
Toquei-o na perna por baixo da mesa,
acalmando-o.
— Tudo acabou bem, isso é o que importa. —
Bastante sensível, Malika comentou com um sorriso para
amenizar a tensão de Majdan.
— Assumindo essa nova função no departamento
de investigações, ele deixará de fazer a segurança de
Sabirah? — Farah perguntou de testa franzida.
— Para mim tanto faz quem seja o segurança que
esteja comigo, mãe — Sabirah ergueu os ombros com
indiferença. — Deixe o homem trabalhar em paz no
departamento. Gostei bastante dos seguranças que Yusuf
escolheu para o substituir.
Farah não pareceu gostar nada daquilo e olhou
para Yusuf, esperando uma explicação.
— Conversei com ele sobre isso. Assad vai ficar
responsável pela segurança de Sabirah quando ela se
ausentar de Jawhara. Aqui na cidade, os outros
seguranças cuidarão dela.
Sabirah não ergueu os olhos da comida no prato,
que revirava de um lado para o outro, comendo
eventualmente.
— Ótimo! Está tudo resolvido — o Sheik Rashid
comemorou, erguendo o copo de jellab12 — Um brinde ao
homem que tirou Malika da prisão, que ajudou a trazer
Thara para cá e que salvou a minha filha da morte. Que
Allah o abençoe com uma vida longa.
Todos ergueram os copos.
— Ao Assad!!! — brindamos em uníssono.
Aquela foi a primeira vez que cruzei o olhar com o
de Sabirah e notei o quanto ela estava emocionada com
aquele brinde ao homem que amava.

FIM
Obrigada pela leitura e não deixe de avaliar o livro. A sua avaliação é
muito importante para mim.
Em 2023 teremos o livro único de Sabirah & Assad dando
continuidade à Saga da Dinastia de Tamrah.
Leia também minhas outras obras na Amazon:
A Esposa Desejada Pelo Sheik — Livro Único:
Aos 41 anos, ele achava que não tinha mais idade para o amor, até
conhecer uma garota 16 anos mais nova e viver em um dilema.
Afinal, um príncipe que errou muito no passado, que se envolveu em
escândalos e foi condenado por todos, não podia desejar a filha de
um religioso. Uma garota pura e proibida, que vai precisar da
proteção do Leão de Tamrah.
https://amzn.to/3T03r8B
A Única Esposa do Sheik — Livro Único:
https://amzn.to/3lmXIMX
A Esposa Intocada do Sheik — Livro Único:
https://amzn.to/3FhngSo
CEO Blackwolf - A Vingança do Lobo Negro de Wall Street
— Livro Único:
https://amzn.to/36GGhRZ
Um Tempo Para Aceitar — Livro Único:
https://amzn.to/2IAsRuc
Ao Teu Encontro:
https://amzn.to/32JvfqV
Ú
Sob o Olhar de Iris — Livro Único:
https://amzn.to/3dhNmH4
O Desaparecimento de Mary Anne — Livro Único:
https://amzn.to/2JwTL7O
Uma Esperança No Amanhã — Livro Único:
https://amzn.to/34ivV6U
Todos os meus livros na Amazon:
https://amzn.to/3q29a0j

Aproveite e siga o meu perfil de autora na Amazon para ficar


recebendo notificações a cada lançamento que eu fizer.
Biografia e Redes Sociais
Reside em Portugal com os filhos desde 2007.
Apaixonada por livros desde sempre, começou a escrever
romances aos 18 anos, mas só os publicou em 2016
através do Wattpad. No mesmo ano, foi premiada com o
Wattys da plataforma online, atribuído ao romance new
adult Linhas do Destino. Em 2017, tornou-se
Embaixadora do Wattpad. Em 2020, foi novamente
premiada com o Wattys, desta vez com o romance policial
O Desaparecimento de Mary Anne. Atualmente, tem
várias obras publicadas na Amazon que a tornaram uma
autora best-seller no ranking dos mais vendidos no
Brasil, além de ter livros físicos publicados por editoras
no Brasil e em Portugal.
Conheça mais sobre a autora no site lettiesj.com
Instagram: lettie.sj
Página Facebook: lettiesj
Wattpad: @lettiesj
Perfil Autora na Amazon: Lettie S.J.
Canal do Youtube: Lettie S.J.
Skoob: Lettie S.J.
Grupo de leitoras no Facebook: Lettie SJ - Romances

1 - Deus no Islã.
2 - Véu islâmico, usado para cobrir os cabelos, as orelhas e o pescoço
das mulheres, deixando o rosto inteiro descoberto; atualmente tem
de várias cores e tecidos, mas tradicionalmente era de cor preta.
3 - Filho da puta!
4 - Meu amor.
5 - Thobe, Kandura ou Dishdasha, é uma túnica longa até o
tornozelo, de mangas compridas, usada pelos homens árabes.
6 - Vestido longo de mangas compridas que cobre a mulher do
pescoço aos pés, escondendo o corpo inteiro; tradicionalmente de
tecido grosso de cor preta, hoje existem de vários modelos, cores e
tecidos, como a seda; algumas são até bordados com fios de ouro e
pedras preciosas.
7 - Se Deus quiser!
8 - Obrigado.
9 - “Meus olhos”, com sentido de “vou te dar o que você quiser, não
importa o que aconteça”.
10 - Banho que deve ser tomado após as relações sexuais que liberem
fluidos corporais, como a ejaculação.
11 - Vamos lá!
12 - Bebida típica do Oriente Médio feita de tâmaras, alfarroba,
melaço de uva e água de rosas, podendo ser servido com pinhões e
passas.

Você também pode gostar