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Filosofia Da Natureza
Filosofia Da Natureza
NATUREZA
PROF. DR. RENATO MORAES
Dr. Roberto Cezar de Oliveira
REITOR
Reitor:
Dr. Roberto Cezar de Oliveira
Pró-Reitoria Acadêmica
Maria Albertina Ferreira do
Nascimento
Diretoria EAD:
Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à Prof.a Dra. Gisele Caroline
UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
Novakowski
Primeiramente, deixo uma frase de Sócrates
para reflexão: “a vida sem desafios não vale a
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
pena ser vivida.”
Diagramação:
Cada um de nós tem uma grande Edson Dias Vieira
responsabilidade sobre as escolhas que Thiago Bruno Peraro
fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida
acadêmica e profissional, refletindo diretamente Revisão Textual:
em nossa vida pessoal e em nossas relações Camila Cristiane Moreschi
com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade
é exigente e busca por tecnologia, informação Danielly de Oliveira Nascimento
e conhecimento advindos de profissionais que Fernando Sachetti Bomfim
possuam novas habilidades para liderança e Luana Luciano de Oliveira
sobrevivência no mercado de trabalho. Patrícia Garcia Costa
De fato, a tecnologia e a comunicação têm Renata Rafaela de Oliveira
nos aproximado cada vez mais de pessoas,
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e
Produção Audiovisual:
nos proporcionando momentos inesquecíveis. Adriano Vieira Marques
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Márcio Alexandre Júnior Lara
Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, Osmar da Conceição Calisto
capaz de formar cidadãos integrantes de uma
sociedade justa, preparados para o mercado de Gestão de Produção:
trabalho, como planejadores e líderes atuantes.
Cristiane Alves
Que esta nova caminhada lhes traga muita
experiência, conhecimento e sucesso.
© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
01
DISCIPLINA:
FILOSOFIA DA NATUREZA
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................................5
1. FILOSOFIA DA NATUREZA, DEFINIÇÃO E RELAÇÃO COM OUTROS RAMOS DA FILOSOFIA.............................6
1.1 DEFINIÇÃO DE FILOSOFIA DA NATUREZA.............................................................................................................6
1.1.1 FILOSOFIA DA NATUREZA COMO FILOSOFIA.....................................................................................................6
1.1.2 A FILOSOFIA DA NATUREZA E OS ENTES MATERIAIS...................................................................................... 7
1.2 CONCEITO DE NATUREZA......................................................................................................................................8
1.2.1 SENTIDOS ANALÓGICOS DE NATUREZA............................................................................................................8
1.2.2 O CONCEITO FILOSÓFICO PRIMÁRIO DE NATUREZA......................................................................................9
1.2.3 O DINAMISMO E A NATUREZA.......................................................................................................................... 10
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
2. O ATO E A POTÊNCIA............................................................................................................................................... 11
2.1 AS POSIÇÕES DE PARMÊNIDES E DE HERÁCLITO............................................................................................. 11
2.2 O PAR ATO E POTÊNCIA........................................................................................................................................ 13
2.3 OS TIPOS DE POTÊNCIA E DE ATO...................................................................................................................... 14
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................ 16
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
O primeiro que conhecemos são os seres materiais. Nossos sentidos se deparam com
eles de maneira imediata. Pouco a pouco, vamos nos habituando a eles e entendendo suas
características, que são captadas por nós.
O conhecimento humano chega a ideias e conceitos a partir do que é apreendido pelos
sentidos. Esta é uma tese aristotélica, que apresenta força e interesse. Por isso, os entes materiais
são nossa primeira experiência. Porém, não paramos naquilo que vemos, cheiramos ou tocamos:
alcançamos algo que subjaz aos fenômenos, àquilo que podemos experimentar.
Há um universo, um todo, um cosmos ao nosso redor. Filosofaremos a respeito dele.
Em nossa disciplina, o objeto de estudo serão os entes móveis, as coisas que se alteram, que são
geradas e se corrompem. Não as analisaremos enquanto vivas ou inanimadas, mas enquanto
materiais.
Veremos alguns conceitos que serão posteriormente aprofundados na metafísica e
empregados na ética, na teoria do conhecimento e na antropologia filosófica. Daí a importância
de adquirir uma base sólida no estudo da natureza. Por ela, começamos a filosofar, inclusive
porque é mais fácil partir daquilo que está mais ao nosso alcance. E o primeiro conhecimento que
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Uma das definições da Filosofia da Natureza, chamada de Física pelos antigos, é o estudo
da extensão, do movimento e do tempo. De fato, esses três aspectos estão presentes no mundo
material em que vivemos e sobre os quais refletiremos. O movimento, com tudo o que gira ao
redor dele, é o eixo da filosofia da natureza. Quem se movimenta são as substâncias, dotadas
de acidentes. Os entes materiais têm extensão, porque esta é uma nota intimamente ligada à
materialidade. Finalmente, o tempo é uma medida do movimento que se dá nos entes físicos.
Em outras palavras, a filosofia da natureza é o conhecimento filosófico a respeito dos
entes móveis ou materiais. Nessa definição simples e inicial – em certos sentidos, insatisfatória,
mas útil –, há dois elementos que nos chamam a atenção. Primeiro, que a filosofia da natureza é
um ramo da filosofia, e não de outro tipo de saber, como a ciência ou a técnica. Segundo, que seu
objeto são os seres materiais, sujeitos à mudança. Estudaremos agora cada um desses aspectos.
Sendo parte da filosofia, nossa disciplina não se satisfaz com um conhecimento parcial
e limitado do seu objeto. Antes, procura compreender suas causas primeiras, seus fundamentos:
chegar às suas explicações mais profundas e radicais. Não basta, para o filósofo, constatar que um
objeto pesa ou que ele esquenta e por isso se dilata, ou mesmo alcançar uma fórmula capaz de
mensurar o aumento ou a diminuição da velocidade de um planeta ou um carro. Tampouco lhe
seria suficiente averiguar que há entes que mudam de estado, sem que isso altere sua substância
ou que suas cores e formas se modifiquem sob o efeito de determinadas ações externas. Tudo isso
serve de ponto de partida para a filosofia, que procurará saber o porquê desses acontecimentos, o
que eles são de forma última e principal.
Para exemplificar, o filósofo pergunta-se o que é a cor, não simplesmente constata que
uma árvore verde se tornou marrom. Ele quer entender o fenômeno da dimensão espacial, do
volume, do peso, e não simplesmente medi-los com maior ou menor precisão. Por que as coisas
têm consistência e custa levantá-las? Pode existir matéria sem peso ou sem posição no espaço?
Por quê? Perguntas desse tipo e suas respostas são as que interessam ao filósofo.
No começo da Física, Aristóteles afirma que um conhecimento é completo quando
abarca os primeiros princípios, as causas e os elementos do item estudado (Fis., l. 1, c. 1; 184, a,
10 – 6). Alcançamos inicialmente os princípios, que se aplicam ao geral e mais usual, porque os
apreendemos melhor do que os detalhes e as particularidades. A partir deles, chegamos aos casos
menos gerais e individuais, indo por último aos elementos. A filosofia da natureza segue essa
trajetória.
Erros nos princípios levam a equívocos ainda mais graves nas causas segundas e nas
situações individuais. Além disso, não podemos admitir afirmações que vão contra o evidente ou
o necessário, que fundamentam o desenvolvimento de qualquer saber. Por isso, Aristóteles critica
o pensamento de Heráclito, de Parmênides e Melisso (Fis., l. 1, c. 2; 185, a, 5 – 12). De fato, uma
dúvida radical pode servir como método, em certa medida; porém, a partir dela, não se consegue
construir nada, caso ela seja levada às últimas consequências.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
As ciências não chegam aos princípios mais fundamentais, mas partem deles. Assim, a
química ou a biologia buscam leis, repetições de padrões, que frequentemente podem ser descritas
inclusive com o emprego da matemática. Não se questionam sobre a origem de um padrão no
universo, do porquê existe uma série de eventos que se repetem em situações semelhantes. As
ciências têm como pressuposto a existência das leis e nossa capacidade de descobri-las e formulá-
las. Elas não discutem a respeito de seus primeiros princípios, os quais são estabelecidos, validados
e articulados anteriormente pela filosofia.
Vemos aqui a importância da relação entre ciência e filosofia da natureza. Ambas têm
objetos semelhantes, mas os estudam em âmbitos distintos. São saberes complementares, não
antagônicos ou contrários. Uma filosofia da natureza consistente permite que a ciência se
desenvolva de maneira segura e confiante; os conhecimentos adquiridos pela ciência ajudam a
aprofundar e aperfeiçoar a filosofia através de novas questões que deverão ser respondidas de
maneira coerente – ou não, exigindo rupturas – com o que se considerava antes verdadeiro.
Alguns autores sustentam que a ciência se preocupa com os fenômenos, relacionados às
manifestações exteriores e sensíveis dos entes, enquanto a filosofia se voltaria para o que está por
trás de tais fenômenos, que talvez não seja evidente, mas é alcançável pela reflexão. Essa divisão
não é exata, porque também a filosofia se preocupa com os fenômenos, mas serve como um
parâmetro. A filosofia vai além do sensível, enquanto a ciência física está mais presa à experiência.
A reflexão filosófica é mais profunda e radical que a científica, sem que isso tire o mérito
e a importância do labor levado a cabo pelos cientistas. Ao mesmo tempo, a filosofia parte do que
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
No sentido físico, a natureza abarca os entes materiais, que estão sujeitos ao movimento
e apresentam características próprias, ausentes nos seres imateriais. Com nossos sentidos,
percebemos esses seres – dentre eles, nós mesmos – e podemos refletir sobre eles. Tais entes
formam a natureza, o cosmos, o que acrescenta uma nova nota: certa harmonia e ligação entre os
distintos seres materiais, formando um todo, em certo sentido interdependente.
Podemos contrapor a noção de “natureza” àquelas de “artificial”, “cultural”, “espiritual” e
“sobrenatural”. Artificial é tudo o que foi produzido pela intervenção do ser humano, comumente
através de uma arte. Tal intervenção conta e se vale das características naturais do objeto no qual
incide, mas acrescenta algo a ele, por vontade do artífice. Outro modo de entender o artificial é o
que foi obrigado, que não surgiu sem intervenção, mas é fruto de uma opção que vai contra uma
inclinação primeira e “natural”.
“Cultural” é frequentemente usado em antítese a “natural”, especialmente na filosofia
moderna e contemporânea. Nessa acepção, o natural é aquilo espontâneo, que não depende de
uma ação humana para se realizar. O cultural, ao contrário, é fruto do agir humano, transmitido de
geração em geração, fixando-se na linguagem, em costumes e expressões. A cultura vai moldando
o ser humano antes que ele seja consciente disso, enquanto a natureza seria aquilo que está em
estado puro, cru, decorrente de elementos biológicos e físicos.
Também se pode distinguir entre natural e espiritual. Então, o natural seria o propriamente
material, aquilo que reage de acordo com suas leis intrínsecas e imutáveis, enquanto o espiritual
apresenta o reino da liberdade, das possibilidades, do conhecimento e da intimidade.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Os entes influenciam uns aos outros em termos materiais, conforme estudaremos mais
adiante. Tais influências apenas são possíveis por características próprias de cada ente, tanto
do influenciador quanto do influenciado. Essas características são advindas da natureza, que é
justamente o que torna possível e inicia o movimento e a mudança a que todos estão sujeitos.
O cultural e o artificial usam das notas naturais dos entes para construir coisas novas, com
um sentido específico, entendido e realizado pelo artífice. Ademais, no ser humano, o espiritual
e o natural andam juntos, porque somos entes dotados de matéria e espírito. Logo, é natural
para o ser humano comportar-se como um ser espiritual, no qual estão presentes as distintas
possibilidades da liberdade.
A natureza faz com que o ente se desenvolva e se mantenha na existência. Por outro
lado, quando ela se enfraquece, o princípio do movimento vai se incapacitando de garantir a
integridade do ente. Isso pode-se dar pela influência do exterior, bem como por um esgotamento
da força da natureza. Dizemos que a morte é natural no sentido de que ela sempre sucede aos
seres vivos materiais. Ao mesmo tempo, de maneira mais exata, ela decorre não propriamente da
natureza do ente, e sim da debilitação e final destruição dessa natureza como princípio.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Há uma espécie de sinfonia no cosmos, que pode ser harmônica ou mais dissonante, mas
que depende das causas que vão gerando efeitos, que se tornam causas de novos efeitos, e assim
por diante. Ainda que seja criticada por Aristóteles, no sentido em que foi enunciada, a expressão
“Tudo tem a ver com tudo”, de Anaxágoras, é verdadeira em muitos sentidos (ARISTÓTELES,
Fis., l. 1, c. 4; 187, b, 1 – 3; POLO, p. 50).
2. O ATO E A POTÊNCIA
Parmênides foi um filósofo da Magna Grécia, cidade de Eleia. Ele propôs uma explicação
radical sobre a questão do movimento, que também é surpreendente e contraintuitiva. Ele
simplesmente negou que algo pudesse mover-se.
Para Parmênides, há o Ser, aquilo que existe. Tudo que existe é parte desse ser, que seria
completo, imutável, perfeito. O que não existe, é não ser, ou melhor, não é. No movimento, algo
que é de determinada maneira muda o seu ser; ou seja, torna-se o que antes não era. No entanto,
isso é impossível, pois coisa alguma pode passar do ser para outra realidade, porque esta última
não é. Seria sair do ser para o não ser; ora, como o não ser não existe, é impossível que algo se
torne ele.
A distinção entre ser e não ser, levada às últimas consequências, conclui que não há
movimento. Algo é, ou não é, não podendo passar por estágios intermediários entre um tipo de
ser para outro, pois ou o primeiro tipo ou o segundo serão o não ser. Se o primeiro for o não ser,
dele não é possível vir ser algum, pois ele é um nada; daí que o movimento é impossível. Caso o
segundo estágio seja o não ser, ir em direção a ele não representa mudança, porque ele não existe
efetivamente.
A conclusão de Parmênides, a partir do seu entendimento do Ser, é que o movimento é
impossível. Logo, o que experimentamos como movimento é uma ilusão.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Sendo tudo parte do Ser, tampouco há diferença real entre os entes. Todos são o mesmo,
o Ser. Então, de modo similar ao movimento, a distinção entre os entes é ilusória. Na verdade,
apenas existe o uno, o ser; as supostas diferenças teriam que se fundamentar em algo que não é,
pois o que é é o Ser. Ora, isso é impossível, porque o não ser não existe, e por isso não serve como
diferença.
A explicação de Parmênides levou à negação do movimento e da diferença. Por isso, é
chamada de monismo estático. Parmênides foi estudado por Platão, que escreveu um diálogo
importante com o nome desse filósofo de Eleia.
No extremo oposto de Parmênides, encontramos Heráclito de Éfeso. Esse filósofo
considerava que o movimento era a única realidade que se mantinha, sendo todo o resto passageiro
e sem estabilidade. O que percebemos em um instante é modificado; logo, o que vemos a seguir
não é o mesmo que havia antes. O ar se move, o corpo cresce ou diminui, o cabelo cai ou cresce,
o sangue corre, vejo o que antes não via, a água do rio desce pela correnteza... Nossos sentidos
mostram essa mutação constante, que indicaria que nada existe em si, a não ser o movimento.
As coisas não são mais o que eram; portanto, deixam de ser algo para se tornar outra realidade.
Melhor: nunca tiveram uma entidade própria.
Heráclito considera que o movimento, o processo de mudança, permanece; todo o resto
é veículo mutável e descartável para esse processo. Em seus aforismos, o filósofo reconhece
a existência do logos, que garante certa ordem e previsibilidade na mudança. Apesar disso, a
diferenciação entre os entes também é, em certo sentido, ilusória, pois está fundada em seres que
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Podemos distinguir tipos de ato e potência a partir de suas aplicações ao ser e ao agir. O
próprio ser é um ato, que chamamos de ato primeiro, porque todos os demais atos e realidades
daquele ente dependem desse ato. O existir de um ente inanimado, bem como o viver de um ser
animado, são atos primeiros.
Aqui é importante apontar que ato não significa mover-se; pode haver ato em algo
absolutamente imóvel, se ele se apresenta como aquilo que é de maneira plena e perfeita. A
palavra ato, em português, veio do latim actus. Essa expressão latina, por sua vez, é uma tradução
de duas expressões gregas: entelechia e enérgeia.
Entelechia foi traduzida também por enteléquia, um conceito completo e perfeito. Está
relacionada ao ato estável, que se mostra no ato primeiro dos entes que mantêm a própria
existência íntegra. Enérgeia se aproxima da noção de ato enquanto ação, que normalmente se dá
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Assim, as potências ativas são possibilidades, aberturas para o ente. Em muitos casos,
elas não estão sujeitas à liberdade dos seus sujeitos. No ser humano, contudo, potências
importantes estão, em medidas distintas, sob o controle do sujeito. É o que se dá com as emoções,
a inteligência e a vontade. Podemos impedir o uso de um sentido externo, mas isso apenas se dá
quando colocamos um obstáculo físico para que ele se atualize (tapar os olhos ou os ouvidos, por
exemplo). Em si mesmo, os sentidos funcionam independentemente da intenção do sujeito. O
mesmo vale para alguns sentidos internos, como a imaginação e a memória.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
02
DISCIPLINA:
FILOSOFIA DA NATUREZA
MOVIMENTO, AS CAUSAS
DOS ENTES MATERIAIS
PROF. DR. RENATO MORAES
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO................................................................................................................................................................ 19
1. A EXPLICAÇÃO DO MOVIMENTO............................................................................................................................20
1.1 A NOÇÃO DE MOVIMENTO.....................................................................................................................................20
1.2 TIPOS DE MOVIMENTO......................................................................................................................................... 21
1.3 OS ELEMENTOS DO MOVIMENTO.......................................................................................................................22
2. AS CAUSAS DOS ENTES MATERIAIS.....................................................................................................................24
2.1 AS QUATRO CAUSAS DA NATUREZA.....................................................................................................................24
2.1.1 A CAUSA MATERIAL E A FORMAL.......................................................................................................................25
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
Vamos agora estudar o movimento do ponto de vista filosófico. Como sabemos, não se
trata de uma descrição científica, no sentido das ciências naturais, mas de uma reflexão mais
profunda a partir do que observamos com os sentidos e abstraímos com nossa inteligência. O
movimento em sentido filosófico deve poder fundamentar e explicar o movimento que interessa
à ciência.
Conforme visto, as noções de ato e potência indicam um dinamismo nos entes, que não
se mantêm sempre de maneira estável, mas se encontram sujeitos a alterações no seu modo de ser.
A seguir, analisaremos as quatro causas presentes nos entes materiais, identificadas por
Aristóteles e que nos auxiliam a compreender a configuração de boa parte da realidade. Trata-se
de uma teoria central para o pensamento clássico, e sua riqueza permanece com as descobertas
científicas contemporâneas.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
1. A EXPLICAÇÃO DO MOVIMENTO
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Há tantos tipos de movimento quantos tipos de entes materiais. Como se trata do ato de
algo em potência, tudo o que está em potência pode se movimentar. Dependendo de qual seja o
ente em potência, teremos diversas espécies de movimentos.
A principal divisão entre as categorias de entes é a que os distingue entre substâncias
e acidentes. Estudaremos melhor essas categorias mais adiante. Agora, cabe-nos afirmar que
substâncias são os entes que têm o ser em si mesmos, e não em outros. Contrariamente, os
acidentes não são em si mesmos, mas em outros.
As substâncias são sujeitos, nelas se inserem os acidentes. Um cachorro possui uma forma
característica, é capaz de latir, tem pelos de certa cor, determinado peso, e assim por diante. Essas
características – peso, cor, forma – não são em si mesmas, mas no cachorro. Ele, por sua vez, não
é em outro, não depende de agregar-se a outro ente para existir; antes, sua existência está nele
mesmo, de maneira completa.
O ser em si das substâncias não é radical, como se elas não dependessem de coisa alguma
para começar a existir. Praticamente todas as substâncias são causadas, recebendo o ser de outras.
Porém, uma vez que são, não são em outro, mas em si. O sentido principal ou estrito de ente é
justamente a substância. Os acidentes são de maneira derivada, participada, secundária. Indicam
um modo de ser, mas não o que a coisa é no seu sentido mais radical. A orquídea é roxa: orquídea
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Ocorrendo outros movimentos em entes materiais, podemos estar certos de que algum
transporte local sucedeu ali. Ele é o movimento mais básico, frequentemente não atinge a
profundidade do ente, mas é relevante.
O outro acidente no qual há movimento é a quantidade. Vemos que os entes aumentam
ou diminuem de altura, peso e volume. Medimos essas variações através de padrões - quilograma,
grama, centímetro, metro, litros etc. –, que nos permitem relacionar as quantidades de distintos
entes, e de um mesmo ente no decorrer de determinado período. Portanto, o movimento na
quantidade é notório. Ele pode ser de dois tipos: aumento ou diminuição.
Finalmente, o movimento acidental pode ser na qualidade. A cor, a temperatura, a forma
geométrica, tudo isso está sujeito ao movimento. Imaginemos um corpo humano que, mantendo
seu peso – ou seja, a quantidade continua igual no todo da substância –, perde gordura e adquire
músculos. Há uma mudança qualitativa na forma daquele corpo. O movimento desse tipo, ligado
ao acidente qualidade, é a alteração.
Qualquer alteração costuma pressupor o movimento local e o quantitativo. No exemplo
que demos, ainda que o peso do sujeito tenha se mantido, houve uma mudança na quantidade
de gordura e de músculos. Também sucedeu movimento local, com a gordura saindo do corpo
e os músculos crescendo através da agregação de proteínas. É comum que a mudança espacial
impacte na forma ou qualidade, bem como o peso e o volume sejam influenciados pelo aumento
de temperatura. Enfim, um tipo de mudança costuma promover outros movimentos acidentais
simultaneamente.
Percebemos que o movimento tem princípios. Ou seja, realidades que necessitam estar
presentes para que ele se dê. Sem um princípio, não pode haver os consequentes; se o movimento
é uma consequência, ele deve estar precedido por uma série de condições, ou seja, de princípios.
O movimento inicia-se com um ente em potência, pois o movimento é exatamente o ato
desse ente. Sem a potencialidade nos entes em que o movimento ocorrerá, ele seria impossível.
Sabemos quando um movimento pode ou não se dar, justamente quando conhecemos as
potências dos entes nos quais o movimento se iniciaria. Ninguém alimentará o fogo com areia ou
fará uma cadeira com fios de ovos. O próprio movimento local depende das potências do ente a
ser mobilizado e do tipo de força a atuar nele para que sua posição local seja alterada. Algo que
está fincado ao solo com cimento não vai ser deslocado com a força bruta de apenas um homem
e suas mãos.
Podemos dizer que o primeiro elemento do movimento, portanto, é o ente em potência.
A seguir, é preciso que esse ente não esteja em ato em relação àquilo a que o movimento se
encaminha. Não há movimento em esquentar a água que já está na temperatura desejada; apenas
poderemos falar de alteração se a temperatura que se busque ainda não esteja presente na água.
Esse segundo elemento do movimento é a privação, a ausência da atualidade concreta para a qual
tende o movimento.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Um dos temas mais importantes da filosofia clássica, no campo da física, são as quatro
O primeiro que convém estabelecer é o que seja causa. Quando identificamos algo como
princípio, significa que ele esteve presente antes, no início de determinado movimento ou no
surgimento de um efeito. A noção de princípio é muito ampla, e podemos chegar a princípios
morais, a água como princípio da vida, o Big Bang como princípio do universo, a genética como
princípio do desenvolvimento dos animais, e assim por diante. Sempre que algo esteja relacionado
com o início de algo, tenha estado presente para que houvesse um efeito, podemos denominá-lo
princípio.
As causas são uma espécie – a mais importante – dos princípios. No gênero princípio,
a causa é a espécie a partir da qual é causado o ser do posterior, do efeito. Até aqui, temos uma
definição circular, porque a causa é o que gera o causado. Indo mais adiante, concluímos que
causar significa uma dependência do ser do efeito em relação ao princípio que o fez surgir. Um
princípio que esteja presente, mas em relação ao qual o efeito não teve uma dependência, não é
uma causa.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Dentre os elementos do movimento que estudamos, vemos que a matéria é uma causa,
porque a estátua depende dela para existir. Também a forma é causa, pois, sem ela, não há estátua,
mas uma quantidade informe de bronze. A privação, porém, mesmo sendo um princípio que
necessariamente está no início do movimento, não é uma causa do ente. O ser da estátua não
depende da privação de forma; ao contrário, superará a privação para vir a ser.
Portanto, a noção de causa acrescenta algo ao conceito de princípio. Aquilo que é primeiro,
anterior, é reconhecido como princípio. Mas só é causa aquele anterior a partir do qual é causado
o ser do posterior. Por isso, causa é aquilo de cujo ser sucede algo. Desse modo, o operário é
princípio do cutelo, porque da sua operação deriva o ser do cutelo.
Aqueles aspectos, dos quais o movimento se inicia, não podem ser chamados apenas por
isso de causas, mas de princípios. Por isso, a privação é classificada entre os princípios, não entre
as causas. Ela seria causa apenas se o ser do movimento dependesse dela, o que não se dá.
Um exemplo pode nos ajudar. Quando algo é movido do verde para o vermelho,
podemos considerar que o verde é princípio desse movimento, pois tudo aquilo do qual se inicia
o movimento é chamado de princípio. Contudo, o verde não é causa do vermelho que surgirá, ou
seja, não é do verde que depende o ser da cor vermelha que estará no tomate. O verde só importa
como privação do vermelho, e não por influenciar no resultado.
As causas produzem seus efeitos de acordo com as potências que possuem e conforme
aquilo que são. Se encontrarmos os restos de uma fogueira, ordenada e no meio de um terreno
com marcas de pés humanos, sabemos que ela foi causada por homens ou mulheres. Conclusão
Conforme vimos, para que haja um movimento ou mudança, três coisas são requeridas:
o ente em potência, que é a matéria; não ser em ato, que é a privação; e aquilo pelo qual se
torna em ato, isto é, a forma. Em uma árvore, a matéria é aquilo do qual ela é formada: madeira,
folhas, galhos, raízes etc. Todo esse material, tratando-se de uma árvore viva, e não apenas de um
amontoado que foi serrado e morto, é unificado por um princípio interior que a conserva como
árvore. Esse princípio é a forma, a causa que faz com que algo seja o que é.
A forma de uma árvore é chamada de substancial, porque determina a árvore como uma
substância. O verde das folhas é uma forma acidental, porque, por essa forma, estabelece-se um
modo como a substância é, sem alterá-la essencialmente. Mais adiante, estudaremos melhor a
distinção entre substância e acidentes.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
No exemplo da estátua de cobre, uma quantidade desse metal foi empregada para fazer a
estátua. O cobre, que é a potência para a forma da imagem, é a matéria. Aquilo que é sem forma
ou indisposto é chamado de privação. A figura, pela qual é chamado de imagem, é a forma. No
entanto, a forma de estátua não é substancial, porque o cobre, antes do advento da forma ou da
figura, tem o ser em ato e o mantém plenamente depois do surgimento da imagem. Ou seja, seu
ser não depende daquela figura. Essa figura é uma forma acidental, do tipo qualidade, como
estudaremos mais adiante.
Percebemos facilmente como é distinta a situação da árvore, na qual a matéria é
determinada e unida pela forma. Inclusive, a matéria surgiu porque a vida da árvore a foi
sintetizando através da alimentação e digestão. Assim, são formas substanciais aquelas que
determinam a substância de um ente. Por exemplo, o ser uma pedra ou uma mangueira ou um
mosquito. Nelas, os elementos que formam o ente não são perfeitos ou completos em si mesmos,
mas se ligam naquela substância de modo a gerarem algo novo, distinto do que existia antes
nos elementos separados. Os diferentes elementos juntam-se na pedra, fazendo um todo novo,
diferente dos seus componentes isolados. Isso ainda é mais claro nos seres vivos.
Algumas vezes, a matéria é designada com privação; outras, sem. Ela teria privação se
fosse, por exemplo, o bronze antes de ser forjado como estátua. Desaparece a privação na matéria
quando a estátua está terminada, completa nela. São mudanças acidentais, porque o bronze
continua sendo tão bronze quanto antes, uma vez que o artista terminou o seu trabalho.
Outro exemplo que pode nos ajudar é o da produção do pão, empregando a farinha de
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Sabe-se que a matéria-prima e a forma não são geradas nem corrompidas, pois toda
geração é para algo a partir de algo. Aquilo a partir do qual se dá a geração é a matéria; aquilo
para o qual se dirige a geração é a forma. Então, se a matéria ou a forma fossem geradas, haveria
matéria da matéria e forma da forma, o que nos levaria ao infinito. Portanto, a geração é apenas
do composto, falando propriamente.
Se a matéria está relacionada à potencialidade, a forma diz respeito à atualidade. Como a
perfeição é ser aquilo que se deve de maneira plena, ela se liga à atualidade. Um animal perfeito
é aquele que está totalmente atualizado como tal; se faltar algum elemento, estaremos diante de
um ente imperfeito em relação àquela forma. Sem dúvida, essa perfeição é uma noção relativa:
um frango ainda não crescido pode ser um galeto perfeito, ao mesmo tempo em que é um frango
imperfeito. De qualquer modo, a perfeição sempre indicará a completude em determinada forma.
Se a matéria não é cognoscível, porque ela é potência, e a potência apenas pode ser
conhecida pelo ato, então, a forma é justamente aquilo que torna o ente perceptível e inteligível.
Nossa capacidade cognitiva chega à realidade através da atualidade dela, que é estabelecida no
ente pela forma.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
De tudo o que examinamos, fica claro que existem quatro causas: material, eficiente,
formal e final. É correto empregar “princípio” e “causa” reciprocamente, como sustenta Aristóteles
na Metafísica. No entanto, na Física, ele propõe quatro causas e três princípios. Ele aceita como
causas tanto as intrínsecas quanto as extrínsecas: matéria e forma são denominadas intrínsecas da
coisa, pois são partes constituintes dela; final e extrínseca são consideradas extrínsecas. Contudo,
o Filósofo considera princípios apenas as causas intrínsecas. Tampouco inclui a privação entre as
causas, porque é princípio por acidente.
Ainda que Aristóteles coloque os princípios como causas intrínsecas na Física, como
é explicado na Metafísica, princípio é dito propriamente das causas extrínsecas. Por sua vez,
elementos são as causas partes da coisa, isto é, as causas intrínsecas. No entanto, às vezes um é
trocado por outro. Portanto, toda causa pode ser chamada princípio, e todo princípio, causa.
Essa variação no emprego dos termos, da parte de Aristóteles, não deve ser motivo de
estranhamento. Ele, como outros grandes filósofos, modificou aspectos do seu pensamento ou
simplesmente foi mais exato em um momento ou outro. O que importa é percebermos que há
causas intrínsecas e extrínsecas e que todas são princípios dos entes.
As causas não são princípios independentes uns em relação aos outros. Ao contrário, elas
se implicam e se explicam mutuamente. Entender isso ajuda a perceber como se dá o dinamismo
entre as causas, como uma vai fazendo com que a outra gere seus efeitos.
Sendo quatro os gêneros das causas, sabe-se que é possível que a mesma coisa tenha
várias causas. Como a estátua, cujas causas são o cobre e o artífice, mas o artífice como eficiente
e o cobre como matéria. Também sucede que dois contrários apresentem a mesma causa, como
o piloto pode ser causa da salvação do navio e do seu afundamento: no primeiro caso, pela sua
presença e competência; no segundo, pela sua falha ou inaptidão.
Por último, é possível que algo seja causa e causado a respeito de si mesmo, mas de modos
diversos. A caminhada é causa da saúde, como eficiente, bem como a saúde é causa da caminhada
como fim, pois se caminha para manter ou aprimorar a saúde. De maneira similar, o corpo é
matéria da alma, e a alma é a forma do corpo.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
A causa eficiente é dita a respeito do fim, pois o fim apenas se torna perfeitamente em ato
pela operação do agente. Por outro lado, o fim é considerado causa do eficiente, porque este opera
visando ao fim. Apesar dessa dependência recíproca entre causa eficiente e fim, não é o agente
que faz com que o fim seja fim. Em outras palavras, não é ele causa da causalidade do fim, pois
não faz o fim ser final. É o que se dá com o médico ou os exercícios físicos em relação à saúde: eles
a promovem e a realizam em ato, mas não fazem com que a saúde seja fim.
Também o fim não é causa daquilo que é eficiente, mas é causa para que o eficiente seja
eficiente. Pois a saúde não faz o médico ser médico, mas o médico é eficiente porque ajuda a
produzir a saúde. Donde o fim é causa da causalidade eficiente, porque faz o eficiente ser eficiente.
Do mesmo modo, faz a matéria ser causa material e a forma ser causa formal, pois a
matéria recebe a forma apenas pelo fim, e a forma não aperfeiçoa a matéria a não ser pelo fim. O
fim é a causa das causas, porque é a causa da causalidade em todas as causas. Afinal, a matéria,
a forma e as operações que se apresentarão para a realização do ente dependerão do fim que se
almeja alcançar. Porque planejo ter um roseiral (causa final), empregarei mudas de rosas (causa
material), contratarei um jardineiro para cultivá-las (causa eficiente) e terminarei com rosas
perfeitas (causa formal). Se desejasse uma horta, usaria materiais e cultivos distintos.
Há outras relações importantes entre as distintas causas. A matéria é causa da forma, na
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Uma relação importante entre as causas é a que se dá entre matéria e forma. Por essa
união de causas, podemos explicar os distintos entes naturais. Todos eles são uma composição de
matéria e forma, com a união da causa material à formal. A teoria que defende ser essa composição
a melhor explicação a respeito da estrutura dos entes naturais é chamada de “hilemorfismo”,
palavra técnica da filosofia formada pela união de hyle, que é a matéria, e morpho, que é a forma.
Não há ente material que não tenha matéria. Ao mesmo tempo, a matéria apenas existe
ligada a alguma forma. Mais uma vez, vale frisar que não se trata de uma forma preexistente,
imaterial, que se une a uma matéria informe que era por si mesma. Sempre que há a forma de
um ente natural ou material, teremos também uma causa material. E a materialidade apenas se
manifesta com uma forma, que determina o que aquele ente é.
As teorias que estudamos nesta unidade ajudam a que você compreenda melhor
o mundo que o cerca? Ou tudo parece um conjunto de palavras complica-das, sem
muito sentido?
A prova da vitalidade e verdade de uma teoria filosófica é sua capacidade de
expressar o que observamos ao nosso redor, com conceitos que intuímos, mas
não conseguimos formular, até que os aprendemos e reconhecemos sua força.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
03
DISCIPLINA:
FILOSOFIA DA NATUREZA
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO................................................................................................................................................................35
1. SUBSTÂNCIAS E ACIDENTES NOS ENTES FÍSICOS.............................................................................................36
1.1 AS SUBSTÂNCIAS E SUAS NOTAS.........................................................................................................................36
1.1.1 QUAIS SÃO AS SUBSTÂNCIAS?...........................................................................................................................36
1.1.2 ENTENDENDO AS SUBSTÂNCIAS MATERIAIS..................................................................................................38
1.2 ACIDENTES, SUBSTÂNCIAS E CRÍTICAS A ESSES CONCEITOS........................................................................39
1.2.1 A RELAÇÃO ENTRE ACIDENTES E SUBSTÂNCIA..............................................................................................39
1.2.2 CRÍTICAS ATUAIS À NOÇÃO DE SUBSTÂNCIA.................................................................................................40
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
O estudo das substâncias e dos acidentes é parte fundamental da filosofia. Eles são
categorias, e aprender a distingui-los é necessário para pensar de maneira ordenada e profunda.
As relações entre substância, acidente, potência, ato, matéria e forma são íntimas e nos fornecem
instrumentos para contemplarmos o cosmos e nós mesmos de maneira sutil.
Nesta unidade, analisaremos as substâncias materiais, o que é importante por si mesmo e
prepara o estudo da metafísica. Além disso, aprofundar-nos-emos no mais intimamente ligado à
matéria, que é a quantidade. Dela, decorrem a extensão, a divisibilidade e a mensurabilidade dos
entes materiais, bem como a explicação de sua individuação e multiplicidade.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Em sua definição clássica, a substância é o ente a cuja essência compete ser em si, e não
em outro. Como todos os entes, ela possui uma essência, que a identifica como algo específico,
um ente determinado. Essa essência tem como característica fazer com que aquele ente seja por
Segundo a filosofia clássica, a substância é o modo principal de ser dos entes e o objeto
mais importante no estudo da filosofia. De fato, nosso espanto e curiosidade diante do mundo
são despertados pelos entes que estão nele; tais entes têm notas muito distintas entre si. Porém, o
que primeiramente nos chama a atenção é que as coisas são, estão aí; são sujeitos que existem em
si mesmos, surgem e desaparecem, mudam e influenciam-se mutuamente. Em tudo, temos como
centro um indivíduo que é; ou seja, uma substância.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Para Aristóteles, são substâncias em sentido mais evidente os seres animados, nos quais as
notas de individualidade, de ser sujeitos e de subsistência, são nítidas. São igualmente substâncias
os que ele denominava corpos naturais, como a água, a terra, o ar, o fogo e as partes de cada um,
bem como aquilo que era produzido pela mistura dos corpos naturais. A física científica, na
Grécia Antiga, era muito menos desenvolvida que hoje e considerava que os elementos formavam
todas as coisas, em termos materiais. Hoje, sabemos dos elementos químicos, das moléculas,
células e átomos, o que influencia a noção filosófica de substância.
Podemos dizer, com os conhecimentos de hoje, que os seres vivos são, de fato, substâncias.
Quarks, que são a menor parte da matéria atualmente conhecida, os átomos, as moléculas, as
partículas subatômicas, quando isolados, são todos substâncias. Por outro lado, quando vários
quarks se unem em uma partícula subatômica, deixam de ser substâncias autônomas e passam
a fazer parte da partícula isolada. Se várias partículas se unem em um átomo, elas deixaram de
ser substâncias individualizadas e se tornam parte de uma nova, justamente o átomo, e assim por
diante. Assim, o critério de substancialidade é o ser algo distinto, um novo sujeito, muitas vezes
originado a partir de sujeitos anteriores, que se corrompem para gerar uma nova substância.
Alguns autores, como Artigas (2017, p. 66), chegam a defender que cada molécula de água,
em um copo cheio, seria uma substância. Então, o copo estaria com um agregado de moléculas
de água, de várias substâncias. É uma explicação defensável. No entanto, parece melhor pensar
que é uma substância – água – com determinada quantidade. A quantidade aumenta e diminui,
sem alterar a substância como tal. Nessa linha de raciocínio, toda junção de moléculas do mesmo
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Muitos filósofos não aceitam a noção de substância, tal qual ela foi formulada pelo
pensamento clássico. É comum que considerem que ela foi superada pelo desenvolvimento das
ciências, que seriam suficientes para explicar a realidade sem lançar mão de conceitos “misteriosos”
ou não comprováveis com os sentidos. Há pensadores que consideram que apenas a matéria, que
pode ser percebida, tocada, cheirada e vista, explica toda a realidade.
O problema dessas soluções unilaterais é que mutilam parte da realidade. A mentalidade
cientificista pode levar a isso, porque falta a alguns cientistas uma visão de conjunto, a procura de
respostas mais radicais e fundamentais. Em outras palavras, pode estar ausente uma concepção
filosófica, que busque o todo e não se contente com explicações parciais, que deixem de lado
fenômenos e aspectos importantes que experimentamos no mundo.
Uma linha de pensamento contrária às substâncias é a sustentada pelo empirismo, que
defende que apenas aquilo que é percebido pelos sentidos externos configura um conhecimento
verdadeiro. Em consequência, o que chamamos de substância nada mais é do que uma mistura
confusa de várias sensações, que se mantêm ligadas a um núcleo, que sequer sabemos se existe
ou não. O que podemos conhecer são as cores, as formas externas, o peso, o cheiro e elementos
materiais da realidade; afirmar que há algo por trás deles é motivo de erro ou vem de uma ilusão.
Dentre os filósofos empiristas, talvez o mais importante e influente seja David Hume, um
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Substância é o sujeito ou substrato dos acidentes, conforme uma das definições que
estudamos. Nela, a causa material e a formal se unem, surgindo, então, os entes naturais. Faz parte
dessas substâncias ter um aspecto material que as determine e limite. Dentre os entes físicos ou
naturais, nenhum é pura matéria, mas estará composto por ela e algo não diretamente material,
que é a forma. Tampouco há entes naturais que sejam simplesmente formas; a causa formal é um
Alguém poderia sugerir que, por existir matéria quantificada em todos os entes naturais
ou físicos, ela não seria um acidente, mas algo essencial ao ente. Logo, seria parte da forma
substancial, e não uma forma acidental. Essa sugestão não é descabida, porque é verdade que
todos os entes materiais apresentam uma quantidade específica, que pode ou não ser facilmente
medida, mas está ali. Pedaços de pedra do Pão-de-Açúcar e as asas de uma borboleta têm pesos
e dimensões concretos, e é inimaginável que se tornassem imateriais e permanecessem sendo o
que são.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
A matéria entra abstratamente no conceito dos vários entes físicos – cavalo, mangueira,
água, e assim por diante –, mas não com uma quantidade determinada de antemão. As flores,
como as orquídeas, têm distintos tamanhos; essa variação não altera a essência delas. Todas são
orquídeas. Portanto, é algo acidental o ter um peso ou dimensão determinados, mesmo que
necessariamente precisarão ter algum peso ou dimensão.
A materialidade, entendida de modo universal, é propriedade dos seres físicos ou
naturais. Porém, ter uma medida determinada, que é justamente aquilo a que se refere o acidente
quantidade, é contingente, não alterando a essência do ente. No mundo real, as distintas espécies
de seres costumam ter uma variação nas suas dimensões; são seres humanos tanto os pigmeus
quanto os gigantes que jogam basquete. Porém, não conhecemos seres humanos desenvolvidos
de 10 cm ou de 5 m de altura.
A quantidade se refere à concretização da materialidade. Não há ente natural que não a
apresente, e ela é chamada de primeiro acidente, porque os demais acidentes afetam a substância
através da quantidade. As cores se darão em uma superfície quantitativa; a ação frequentemente
pressuporá a quantidade – basta pensar que a força de um animal frequentemente é proporcional
à sua massa –, o tempo e o espaço são contados em seres quantificados, e assim por diante.
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Tudo o que é extenso é divisível. Ao menos conceitualmente. Uma partícula de quark, que
é a menor unidade de matéria conhecida, pode ser matematicamente dividida, ainda que não o
seja materialmente. A divisibilidade é infinita potencialmente, mas sempre finita atualmente. Isso
será mais bem estudado ao tratarmos do infinito, que é um conceito relacionado à potencialidade
de algo, e não a uma atualidade.
O que pode ser dividido, pode ser mensurado, medido. As medidas são padrões; se uma
quantidade pode ser dividida em um número qualquer desses padrões, ela é mensurável. A
distância entre cidades é medida em quilômetros; o volume de um balão é figurado em litros; a
temperatura de um metal pode ser calculada em graus, e assim por diante.
É possível medir inclusive qualidades, ainda que isso não seja tão fácil nem intuitivo. A
cor, a maciez, a temperatura, a dureza... Usamos padrões que permitem comparar e, de certo
modo, medir. Isso é possível devido à íntima ligação que se dá, nos entes materiais, entre os
acidentes quantidade – à qual se relaciona a medida – e qualidade.
A mensuração nos leva aos números, entes abstratos, com fundamento na realidade,
pelos quais podemos medir quantidades.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Isso não significa que a matéria é o que realmente conta, enquanto a forma seria algo
posterior e secundário. Ao contrário, a forma é o que mantém a matéria unida, descartando e
absorvendo constantemente novas quantidades. No entanto, aquela forma estará unida a uma
matéria determinada pela quantidade, que representará seus limites físicos.
Podemos, então, explicar as propriedades e acidentes diferentes, presentes nos vários
indivíduos de uma espécie – pensemos nos diversos cavalos ou nas várias palmeiras imperiais ou
nos insetos de um tipo –, como decorrência da diversidade de matérias a que formas semelhantes
se ligaram. Um gato gerado trará características dos seus genitores, que serão transmitidas através
da matéria, isto é, do código genético; ele também terá seu desenvolvimento influenciado por sua
alimentação e criação. Tudo isso impacta na matéria, fazendo com que a forma desenvolva, de
um modo ou outro, as suas potencialidades.
A quantidade está intimamente ligada aos números. Não examinaremos aqui a filosofia
da matemática com profundidade, porque é um tema primordialmente de filosofia da ciência. Por
sinal, foi bastante estudado no começo do século XX, inclusive por autores importantes, como
Husserl. Aqui, analisaremos o que são os números e outros aspectos relevantes para a filosofia da
natureza.
A seguir, examinaremos o problema do infinito, que é uma questão longe de estar definida
no âmbito da filosofia ou das ciências.
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Pensar na quantidade medida pelos números leva à questão do infinito, que seria uma
quantidade sem limites e, por isso, incomensurável. O infinito pode ser entendido como algo
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Com relação ao tempo, Tomás de Aquino afirmava que o universo poderia, ou não, ser
eterno segundo a filosofia. A dúvida apenas poderia ser dissipada pela fé, e não pela razão. Ou
seja, seriam possíveis, do ponto de vista racional, tanto um universo que sempre existiu quanto
um que teve começo. A ciência moderna apresentou a hipótese do Big Bang, um momento de
início do tempo, que, então, solucionaria a questão a favor da não infinitude temporal do universo.
Contudo, há autores que consideram que mesmo o Big Bang pode ser um movimento repetido,
porque o universo se expandiria e contrairia indefinidamente, sem começo ou fim nesse processo.
Tratando agora da dimensão quantitativa e espacial, não pode haver um corpo infinito,
porque é próprio da matéria poder ser percorrida, ter uma extensão. Qualquer ente material
tem uma superfície, que justamente pode ser percorrida e numerada. Isso implica limitação, o
que afasta o infinito. Em outras palavras, a própria noção de matéria descarta um ente físico de
dimensão infinita. Ademais, um corpo infinito não teria limite em qualquer sentido. Logo, ele
estaria em todos os lugares. Ao mesmo tempo, por ser infinito, não ocuparia propriamente um
lugar determinado, mas todos ao mesmo tempo. Isso não parece possível.
O movimento local, que faz com que algo saia de um ponto e vá para outro, não sucederia
em um corpo infinito, que estaria em todos os pontos simultaneamente. Não lhe seria possível
passar da potência ao ato em relação a um ponto no espaço, porque ele já estaria ali. Tampouco
qualquer número pode ser infinito, porque, se é número, é numerável, mensurável; logo, apresenta
limites que podem ser apreendidos.
Além do infinito possível do tempo – que pode ou não existir –, temos o infinito da
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Por que o infinito é um tema que sempre atrai os filósofos e a nós mesmos?
A matéria não permite a infinitude em ato, apenas em potência; apesar disso,
muitas pessoas agem como se o finito não fosse suficiente. Alguns sustentam que
há necessidade de algo superior à matéria, que possibilite que nossos desejos de
bem e verdade ilimitados nos envolvam e tenham sentido. Será tudo isso ilusão,
porque somos efetivamente seres voltados para um fim total, ou haverá um infinito
ligado ao imaterial?
Responder a isso é uma das principais preocupações de um autor como Pla-tão
e, até hoje, não conseguimos um consenso à solução desses problemas fun-
damentais.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estamos circundados de substâncias materiais, nas quais se inserem acidentes que são
apreendidos pelos nossos sentidos e trabalhados pela nossa razão. Esses conceitos não são
uma mera construção mental, que poderia ser facilmente substituída por outra. Ao contrário,
os filósofos que a formularam parecem ter captado verdades importantes, que não podem ser
afastadas sem grave prejuízo.
Distinguir entre os entes que são em si mesmos e os que são em outros é um passo
necessário para compreendermos que há realidades que permanecem, enquanto outras se esvaem.
Dentre os acidentes, a quantidade é o primeiro e o mais diretamente relacionado à materialidade.
Dela derivam outras notas dos entes materiais, como a extensão e a mensurabilidade. Por isso é
que ela interessa tanto à filosofia da natureza.
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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
04
DISCIPLINA:
FILOSOFIA DA NATUREZA
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO................................................................................................................................................................ 51
1. QUALIDADES NOS ENTES NATURAIS....................................................................................................................52
1.1 QUALIDADES, FORMAS E PROPRIEDADES. OBJETIVIDADE...............................................................................52
1.1.1 FORMAS SUBSTANCIAIS, MATÉRIA E QUALIDADES........................................................................................52
1.1.2 AS PROPRIEDADES E AS QUALIDADES CONTINGENTES................................................................................53
1.1.3 OBJETIVIDADE E SUBJETIVIDADE NAS QUALIDADES......................................................................................54
1.2 ESPÉCIES DE QUALIDADES..................................................................................................................................56
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INTRODUÇÃO
Nesta unidade final, veremos alguns acidentes presentes nos entes físicos. São as
qualidades, o local e o tempo. Os três estão ligados à quantidade e, evidentemente, à substância,
mas são realidades com características próprias, que merecem ser estudadas uma por uma.
Os pensadores clássicos, notadamente Aristóteles, conseguiram distinguir várias espécies
de qualidades. Por elas, podemos identificar as substâncias, saber o que a coisa é e como é.
O espaço e o tempo são coordenadas dos entes materiais. Somos em uma época e lugar e
vamos nos modificando de acordo com o antes e o depois, o aqui e o ali. Estando nós na corrente
espaço-temporal, precisamos refletir sobre ela para não a substancializar nem diminuir a sua
importância.
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O modo de ser principal dos entes é determinado por sua forma substancial. Ela, unida
à matéria, constitui o composto, que é o ente natural. Pela forma substancial, estabelece-se o
que aquele ente é, o que decorre de sua essência. A maior parte das características de um ente
depende da sua substância; os acidentes, que inserirão nela, precisam ser recebidos nela. Em
grande medida, ela é que define quais são os possíveis acidentes de um ente, ainda que possa
haver uma variedade enorme de acidentes concebíveis para aquela espécie de substância.
Além do modo de ser substancial, diretamente relacionado à forma substancial, há modos
de ser no ente que são acidentais. Dentre os últimos, estão as qualidades, que podem ou não estar
em um ente, sem que ele deixe de ser o que é de modo fundamental. Elas o determinam, mas em
uma dimensão menos radical do que o faz a forma substancial.
As qualidades são possibilidades do ente que foram atualizadas em virtude das mais
diversas circunstâncias. Uma flor desprende bom odor, porque ela tinha essa possibilidade
em virtude da sua essência; por haver se desenvolvido convenientemente, essa virtualidade foi
atualizada, configurando um acidente qualidade. Portanto, os acidentes são atos relativos a uma
forma acidental, pela qual são efetivamente em outro, ou seja, na substância.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Sempre que nos referimos a alguma atualização, estamos de algum modo dependendo de
uma forma, porque ela é o que atualiza ou é atualizada. O ente, portanto, sempre apresenta uma
forma. Os acidentes são entes; afinal, são realidades efetivamente existentes, que são. Portanto,
eles têm também sua forma própria. Tal forma não faz parte de um ente que é em si mesmo – uma
substância –, mas de um ente que é em outro, ou seja, um acidente. Logo, há formas substanciais e
acidentais, de acordo com o ente que elas determinam: substância ou acidentes, respectivamente.
Como fazem os demais acidentes, a qualidade determina a substância através da
quantidade, que é o primeiro acidente. As distintas qualidades, nos entes materiais, sempre estão
relacionadas a um aspecto quantitativo, à materialidade. Porém, diferenciam-se da quantidade,
pois esta determina a medida de matéria do ente, enquanto os outros acidentes dizem respeito
a outros aspectos do ente que não diretamente o quantum de matéria e ao que está unido à
materialidade, como a dimensão, a altura, a profundidade, o peso etc.
A quantidade é um acidente intimamente ligado à causa material, servindo como uma
medida dela, enquanto a qualidade determina aspectos relativos à causa formal, que marca a
essência da substância. Evidentemente, em um composto, a forma e a matéria estão intrinsecamente
unidas; apesar disso, elas se distinguem, ainda que não sejam princípios autônomos e preexistentes
ao composto. Existem no composto, como princípios distintos entre si e diferentes do composto.
De modo similar, a quantidade e a qualidade estão unidas, sendo diversas. Trataremos
sobre a relação entre esses acidentes mais adiante, mas adiantamos que um reclama, depende
do outro, ainda que a quantidade venha lógica e filosoficamente antes da qualidade nos entes
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
São exemplos de propriedades: o cavalo ter uma crina e dentes, as folhas de uma árvore,
o lobo poder uivar, a dureza do diamante, e assim por diante. São acidentes, porque sua ausência
não implica uma mudança substancial ou a destruição da essência. Por outro lado, são qualidades
que nos ajudam a reconhecer de qual substância se trata, exatamente por serem características,
próprias das substâncias definidas por aquela essência.
Conforme estudamos anteriormente, não somos capazes de conhecer diretamente a
substância dos entes. A substância é o que está por baixo, é o substrato dos assistentes, algo que
permanece mesmo quando outras características – essas sim perceptíveis – são modificadas ou
eliminadas. Por outro lado, a essência costuma vir acompanhada de certas qualidades, que são
justamente as denominadas propriedades.
No ser humano, a capacidade de falar, possuir dois pulmões e dois rins, o sorrir, a faculdade
de pensar, são exemplos de propriedades. Quando escutamos uma voz articulada expressando-
se em alguma língua, sabemos que se trata de um homem ou de uma mulher; pode ser uma
gravação, mas há a participação do ser humano na emissão daquela voz. Estamos diante de uma
propriedade. Alguém mudo também é dotado plenamente de humanidade – que é a essência –,
mas está privado de uma qualidade intimamente ligada a ela.
Usualmente, dizemos que os elementos químicos têm certas propriedades, como o nível
de condutividade elétrica, a massa específica, o coeficiente de dilatação, e assim por diante.
Também há propriedades nas moléculas e diferentes células.
Se as propriedades são modos de ser que costumam acompanhar uma determinada
As qualidades são entes. Acidentais, mas elas são; logo, são entes. Não são em si mesmas,
mas sim nas substâncias; ainda assim, são. Portanto, são entes, dotados de uma forma que lhes é
própria e que as faz reais, perceptíveis e inteligíveis.
Essa concepção das qualidades é objetiva, porque as considera modos de ser da substância,
que existem independentemente da percepção que possamos ter delas. Elas se diferenciam da
quantidade, que é o acidente do quantum, do quanto, do medido, do tamanho, do número e
da extensão; ao contrário, a qualidade diz respeito ao qualis, ao qual, ao como, ao observado e
avaliado.
O mecanicismo de Descartes e o empirismo, escola filosófica que se desenvolveu
especialmente na Inglaterra e, em menor medida, na França, propuseram uma visão das qualidades
distinta da sustentada pela filosofia clássica. Para esses pensadores, as características quantitativas
dos entes, como a magnitude, a extensão, a figura externa e o movimento local, seriam qualidades
primárias, relacionadas ao número e ao que pode ser medido. Tais características seriam
propriedades reais dos entes, algo que eles efetivamente apresentam por si mesmos.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Por outro lado, teríamos qualidades secundárias, que não são propriedades reais
das coisas, mas meros efeitos que elas produzem naqueles que as percebem. Entrariam nesse
grupo de qualidades a cor, a temperatura, o som, o sabor... Enfim, aquilo que captamos pelos
nossos sentidos e não é diretamente mensurável ou numerável. Nós apreendemos essas notas
como se fossem existentes nos entes, mas não significa que elas estejam ali de fato; são por nós
assim consideradas, sem que disso decorra que sejam algo efetivamente presente no objeto que
conhecemos.
Um fundamento para essa distinção é que as qualidades primárias podem ser descritas
e percebidas de maneira objetiva por todos, enquanto as qualidades secundárias dependem do
gosto e da situação do sujeito. O que para alguém é amargo em um dia pode não o ser no outro,
dependendo de como está seu paladar. Se estamos com frio, uma água morna nos parecerá quente;
mas, se sairmos de uma banheira quente, a água morna vai ser percebida por nós como fria. As
qualidades primárias podem ser compartilhadas e entendidas de maneira numérica, matemática,
o que não se dá com as secundárias, nas quais haveria a influência de quem as percebe.
Ao contrário do que acontecia com os filósofos antigos – que de ingênuos não tinham
nada –, somos hoje dotados de aparelhos que nos mostram a influência dos órgãos sensoriais
na percepção. Como já expusemos, há sons, temperaturas e cores que estão além da capacidade
humana de percepção, mas são acessíveis a outros animais. Além disso, o que é frio para nós não
o seria para um peixe de regiões antárticas. O modo como recebemos as sensações influencia
nossa percepção delas.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Quando estamos nos sentindo bem, dizemos que estamos bem dispostos. Essa é uma
expressão filosoficamente correta, que indica que nossa natureza, nosso modo de ser, está
adequado: não há nada que nos atrapalhe ou incomode. É uma disposição, porque pode facilmente
desaparecer. A doença e a saúde são qualidades que caem na classificação de disposições, assim
como o cansaço ou a energia para fazer algo.
Dentre os hábitos, encontramos as virtudes, que aperfeiçoam a inteligência, a vontade e
a sensibilidade dos entes racionais. A virtude é uma qualidade que possibilita compreender ou
fazer algo de modo perfeito, com a melhor qualidade e com facilidade. Também chamamos de
hábitos às maneiras costumeiras com que agimos, sem que reflitamos muito nelas; é um sentido
empobrecido, mas correto.
Nessas qualidades de primeira espécie, estão aquelas que dizem respeito ao que é fácil
ou dificilmente movido. Uma pessoa educada é aquela que rápida e certeiramente sabe como se
comportar de acordo com o ambiente em que está. Isto é, ela se movimenta conforme o adequado
para a sua natureza e o faz de modo estável. Como a natureza é o primeiro a ser considerado
em uma coisa, igualmente o hábito, que aperfeiçoa o agir conforme à natureza ou o degrada, é
colocado na primeira espécie de qualidade.
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A materialidade nessas qualidades de terceira espécie é mais marcante do que nas duas
anteriores. O poder ser percebido, ainda que exija a existência da forma, está estreitamente ligado
à matéria. Afinal, só o que é material pode ser apreendido pelos sentidos. Além disso, é próprio
da matéria sofrer a ação de outros, receber algo em si de maneira passiva; é o que acontece com as
nossas características que são apreendidas pelos demais. A ação está no sujeito que conhece, e não
no objeto conhecido. Ser percebido não representa uma alteração no ente objeto da percepção,
mas sim no agente que pode sentir.
As qualidades da terceira espécie são denominadas afetivas no sentido de que geram afeto,
são sentidas pela sensibilidade de um ente com os sentidos apropriados para perceber as coisas.
Elas afetam as capacidades cognitivas de outros. A cor, a temperatura, a consistência externa,
o odor, o som e a densidade são qualidades desse tipo. Elas são estudadas de modo especial na
filosofia da natureza, devido à sua cercania com a materialidade. As potências – qualidades de
segundo tipo – são muitas vezes objeto da antropologia ou psicologia filosóficas, enquanto os
hábitos e disposições – qualidades de primeiro tipo – serão primordialmente objeto da ética.
Por fim, quando a determinação ou modo do sujeito é tomado segundo a quantidade,
temos uma qualidade da quarta espécie. De acordo com o que foi explicado anteriormente, as
distintas qualidades, quando estão em entes materiais, quase sempre pressupõem a matéria e,
consequentemente, a quantidade. No entanto, as qualidades da quarta espécie têm uma relação
mais direta com a quantidade, enquanto as de primeira espécie se ligam à natureza; as de segunda,
à forma e à ação; e as de terceira, à matéria e à paixão.
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2. ESPAÇO E TEMPO
Os seres materiais têm extensão e duração. Essas características configuram duas
realidades: o espaço e o tempo. O movimento local é pressuposto em todos os demais movimentos
e ele indica que se passou de um ponto para outro no espaço. Ademais, qualquer mudança se dá
em um transcurso de tempo, mesmo que ínfimo. Portanto, não é possível estudar a filosofia da
natureza de maneira completa sem tratar das dimensões espacial e temporal.
Distintos autores forneceram explicações de ambos os aspectos, e o avanço das ciências
trouxe novos dados e maiores complexidades. Aqui, analisaremos esses fenômenos de maneira
filosófica, partindo do que os sentidos nos trazem e tendo em consideração o que os instrumentos
de observação modernos tornaram acessível.
Há uma relação íntima entre o acidente local e o espaço. Ambos são frutos da materialidade
de certos entes, que, por possuírem uma causa material, são enquanto ocupam determinado
espaço. O estudo do local nos leva ao espaço.
Esse mesmo estudo nos mostra que há presenças não espaciais, que não têm propriamente
Um dos acidentes é o local, realidade com a qual nos deparamos constantemente. Vemos
que as coisas ocupam um determinado espaço, que está a certa distância de outros pontos de
referência. Podemos inclusive mensurar essa realidade, afirmando que uma pessoa está a 300 m
de altura, em uma planície, ou que a jarra está a 2 m de mim ou que a minhoca rastejou por 60
cm em 10 minutos.
O local é um acidente extrínseco da substância, porque não define o modo como ela
é, mas sim a relação dela com outras substâncias; concretamente, em relação à posição no
espaço. Sair da cadeira e dirigir-se ao sofá não altera internamente o sujeito, mas são realidades
diferentes, que podem ser percebidas e compreendidas. Portanto, o local é um acidente real, que
afeta a substância de maneira extrínseca a ela, ao contrário do que sucede com a quantidade e a
qualidade.
É um acidente importante. Tanto que, em relação aos entes naturais, o não ocupar lugar
algum significa não existir. Logo, podemos afirmar que o modo de ser dos entes materiais exige
que eles estejam em algum lugar, exatamente porque têm extensão, que é uma decorrência da
quantidade e da matéria. Sabemos que, sem a causa material, não temos o composto de matéria
e forma, que é o sujeito.
O espaço, na visão de Aristóteles, é algo que envolve todas as coisas. A água ocupa um
determinado espaço; uma vez que ela sai de lá, esse local é preenchido por ar ou por outra
realidade material. Tais mudanças se dão no espaço e são locais. O próprio vácuo apenas pode se
definir a partir do espaço, porque o vácuo é um local desprovido de quaisquer corpos.
Pode-se concluir que os entes físicos ocupam uma posição no espaço, estão presentes
nele. Aqui, pode nos ajudar diferenciar os modos pelos quais dizemos que algo está presente em
outro. A partir dessas distinções, poderemos entender melhor como os entes se encontram no
espaço e o que significa estar localizado.
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Na presença localizada, ou seja, aquela em que um ente está em um local, há uma nota
fundamental que, em parte, a diferencia das demais formas de presença. O espaço ou continente
circunda a coisa, ao mesmo tempo em que é separado dela. Essa separação física, mensurável, não
se dá na presença da parte dentro do todo ou do ato na potência ou da forma na matéria. Se o que
a circunda fosse contínuo à coisa, então ela estaria no que a circunda não como em um local, e
sim como a parte no todo. É o que se dá entre a raiz e o caule de uma árvore: são contínuos e não
se separam, a não ser idealmente; por isso, um está no outro, não localmente, mas como partes
de um todo.
A noção de local implica a de separação entre o ente material e o espaço que o envolve,
independentemente do que esteja nesse espaço (água, ar, vácuo, pedra, e assim por diante). Por
outro lado, ela depende do conceito de presença, de estar aqui ou acolá.
Em vista dessas considerações, podemos definir, seguindo Aristóteles, que o local é o
limite do corpo continente, enquanto tangente ao conteúdo, entendendo-se por conteúdo o corpo
que pode ser movido por locomoção (Fis., l. 4, c. 4, 212, a, 6 - 7). Em outras palavras, o local será
o limite daquilo que envolve o corpo natural ou material. Assim, se estou em uma piscina, o local
será o limite da água que me circunda, a tantos metros da superfície ou do fundo. Esse será o meu
local, que pode ser percebido com precisão.
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Por sua vez, a piscina encontra-se circundada pelo terreno de uma casa e, por isso,
também estaria correto afirmar que estou na casa, dentro da piscina. A casa está em uma rua, que
se encontra em uma cidade, e assim por diante. Todos esses elementos são compreendidos como
local, cada vez com maior amplitude e menos exatidão.
Quanto ao espaço, a questão inicial é qual seria a sua natureza. Entendemos que ele é o
continente contíguo e separado dos entes que nele estão localizados. Como se fosse um vaso ou
vasilha que guardasse os distintos entes materiais em seu interior. Aceitamos que as coisas naturais
estão no espaço; ora, ele não pode ser um corpo. Se o fosse, teríamos dois corpos ocupando
o mesmo ponto: a substância e o espaço. Tampouco é uma causa, porque não se encaixa em
nenhuma das que estudamos anteriormente, ainda que se relacione de alguma maneira com elas.
Partindo do significado dominante de presença, que é o de estar em um recipiente ou
em local, de modo similar como a farinha está no saco ou o óleo está na lata, Aristóteles afirma
que, inicialmente, o local é o que contém a coisa da qual é local, sem ser parte da coisa. Para o
Filósofo, só nos preocupamos com o espaço porque queremos explicar o movimento local. Se os
entes fossem imóveis ou imateriais, não atentaríamos ao espaço nem aos locais. Assim é porque
o espaço deriva da relação entre entes que ocupam distintos locais. Podemos medir, dimensionar
as distâncias entre os locais ocupados pelos corpos e, dessas relações, surge a compreensão da
noção de espaço.
Em termos físicos, o espaço engloba todas as extensões e todas as relações de distância.
Tais relações e extensões dão-se no espaço e, de certo modo, o constituem. O espaço não tem
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A existência dos distintos seres materiais dá-se no decorrer de um lapso temporal; eles
estão sujeitos a uma duração, a uma permanência sucessiva que pode inclusive ser medida e
relacionada com outras. O movimento, tal qual o conhecemos, não sucede de maneira imediata
ou, o que seria mais radical, atemporal. Antes, ele pressupõe um desenvolvimento paulatino, que
se dá passo a passo – ainda que os passos sejam extremamente curtos e fugazes – em um sujeito
que permanece.
Se recordarmos a definição do movimento, como o ato do ente em potência enquanto
tal, sabemos que ele implica o ato de algo que ainda não se atualizou plenamente, mas está em
direção de fazê-lo. De modo análogo ao movimento espacial, relacionado à quantidade e à
extensão, também sucede um movimento temporal. Somos capazes de perceber que o tempo
passou exatamente pelos movimentos que identificamos durante um período. É comum, em
filmes, mostrarem a passagem do tempo pela diferença que se dá na luz do Sol ou pelo que
acontece nas árvores e plantas naquela cena.
A duração é algo real, mas não existe em si mesma. Entes que se movem terão duração;
logo, ela está relacionada ao acidental, ao que é em outro. A sucessão temporal, que caracteriza
a duração, é contínua e só vai em uma direção. Não podemos adiantar ou atrasar o tempo, mas
apenas observar como ele se esvai ou avança. O que aconteceu não volta nem pode ser modificado.
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Os filósofos perceberam que a duração não se dá do mesmo modo nos distintos entes. Em
seres imóveis, o tempo não se daria; eles são de maneira imediata e plena, não se completando nem
se desenvolvendo em uma sucessão, porque seriam completos em si mesmos. A eternidade seria
o característico desses entes fora do tempo, e ela pode ser compreendida como a uniformidade
daquilo que está totalmente isento de movimento (S. T., I, q. 10, art. 1, co.). Ou, na definição do
filósofo Boécio, a eternidade é a possessão total, simultânea e completa da vida interminável. Na
metafísica, mostra-se que, de modo cabal, apenas Deus é plenamente imóvel, porque não tem
qualquer potencialidade.
Os entes puramente imateriais, mas não imóveis, não estão sujeitos à passagem do
tempo como os seres materiais. Uma vez que existam, não podem ser destruídos. Por outro lado,
tampouco possuem a posse total e simultânea da existência. Apresentam mudanças próprias do
ser espiritual, como são os atos sucessivos de conhecer, amar e agir de determinada maneira. Se
Deus está na eternidade, os seres puramente espirituais estão na eviternidade.
Os seres materiais estão sujeitos à temporalidade e às mudanças substanciais e acidentais.
Neles, também podemos identificar graus, de acordo com a maneira como se desenvolvem no
tempo. Os seres vivos, e em especial os intelectuais, têm uma consciência do tempo e das próprias
ações, o que permite dizer que são responsáveis pela própria história. Por sinal, a História, como
área do conhecimento, deriva do tipo de relação que os seres humanos têm com o tempo e a
sucessão de eventos que nele ocorrem.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
As qualidades são muito diversas e ilustram a riqueza da realidade à nossa volta. Nos
entes físicos, elas estão ligadas à quantidade e à matéria. De modo semelhante ao espaço e ao
tempo, que são entendidos a partir do movimento dos entes materiais.
Ao fim das quatro unidades, esperamos que tenha ficado claro que as várias noções
estudadas na filosofia da natureza estão bastante interligadas, uma exigindo a outra. Dominando
todas elas, podemos chegar mais perto da compreensão do todo, meta da filosofia em geral.
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ENSINO A DISTÂNCIA
REFERÊNCIAS
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1973.
ARISTOTELE. Fisica. Texto greco a fronte. A cura de Roberto Radice. Milano: Bom-piani, 2011.
ARTIGAS, M. Filosofia da natureza. 2. ed. Tradução de José Eduardo de Oli-veira e Silva. São
Paulo: IBFCRL, 2017.
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Paulo: IBFCRL, 2017.
FESER, E. Aristotle’s revenge: the metaphysical foundations of physical and biological science.
Neunkirchen-Seelscheid: Editiones Escolasticae, 2019.
MARITAIN, J. A filosofia da natureza. Tradução de Luiz Paulo Rouanet. São Paulo: Loyola, 2003.
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