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Aula 4
Aula 4
Apresentação
Você estudou nas aulas anteriores as questões mais gerais sobre os gêneros
acadêmicos, sobre os planos de textos, sobre os usos da linguagem na esfera
acadêmica, sobre Responsabilidade Enunciativa e sobre o discurso de outrem. Muito
provavelmente, você, na sua vida acadêmica, deve ter se deparado com a
necessidade de produzir gêneros acadêmicos diversos. Possivelmente, tenha até se
angustiado quando começou a pensar nos modos de dizer dessa esfera. Nessa
perspectiva, entendemos que o assunto a respeito das instâncias enunciativas
possibilita uma reflexão a respeito do modo como o produtor de textos acadêmicos se
posicionam em relação aos diferentes pontos de vistas.
Concordamos com Rodrigues (2010, p. 141) ao considerar que na qualidade
de interlocutores, a expectativa de que o autor de um gênero discursivo, circunscrito
ao domínio acadêmico-científico, traga alguma contribuição à memória discursiva da
área colabora, pois, para que assuma um ponto de vista, ou seja, tome uma posição,
demonstrando a compreensão acerca do tema, interpretando o objeto de análise.
Nesta aula, complementando e articulando os assuntos já estudados, você
aprenderá sobre as instâncias enunciativas no texto acadêmico, especificamente, por
meio dos conceitos teóricos de Rabatel (1997, 2004, 2005, 2008) a respeito de locutor
e de enunciador. Para você compreender com mais clareza, a aula estará assim
subdividida: uma apresentação teórica do que se concebe sobre instâncias
enunciativas, análise de textos e atividades que lhe auxiliarão a sistematizar o
conteúdo. É fato que as várias discussões sobre os temas discutidos nesta aula serão
sucintamente apresentadas, por isso, é de suma importância você consultar e estudar
as outras referências complementares que serão indicadas na aula.
Objetivo
Definir instâncias enunciativas: locutor e enunciador.
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Em meio à diversidade de perspectivas e à falta de consenso no que diz respeito às definições de
PDV e locutor/ enunciador, optamos pelos direcionamentos rabatelianos.
enunciador. Essas definições são resumidas da seguinte maneira: o locutor como
produtor do enunciado e o enunciador como instância de responsabilização. Em
outros termos, nas palavras do autor, locutor
Atividade 12
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LIRA, João Augusto. A polifonia na novela “Com meus olhos de cão” de Hilda Hilst: uma
aventura pela Estilística da Enunciação. Disponível em:
<http://www.revistaaopedaletra.net/volumes/vol%201/Joao_Lira-
A_polifonia_na_novela_Com_meus_olhos_de_cao_de_Hilda_Hilst
uma_aventura_pela_Estilistica_da_Enunciacao.pdf>. Acesso em 05 de jun de 2010.
A Revista ao Pé da Letra encontra-se disponibilizada nas versões virtual e impressa. Essa revista foi
criada em 1998 pelo Departamento de Letras da Universidade Federal do Pernambuco e tem
publicação semestral composta por artigos elaborados por alunos da graduação de Letras, com ênfase
na produção científica do campo do conhecimento sobre a linguagem. A referida revista possui como
objetivos: (a) estimular e valorizar a escrita acadêmica dos futuros professores e pesquisadores na área
de Letras, (b) legitimar a escrita acadêmica em línguas materna e estrangeira e (c) divulgar as
pesquisas realizadas em diferentes instituições de ensino superior no Brasil, possibilitando o
intercâmbio entre alunos e professores de graduação. Acesse o endereço
http://www.revistaaopedaletra.net/).
uma série de informações determinantes de características específicas, identificadas
nos processos de apresentação da enunciação e no conteúdo dos próprios
enunciados. Nisto reside o caráter socializante das pesquisas de Bakhtin. Cada voz
deve ter a sua vez e seu lugar garantido dentro do discurso. A forma como são
introduzidas revela a sua face, ou seja, uma ideologia através do seu próprio discurso
[grifos nossos].
No exemplo citado, evidencia-se um caso de mediação epistêmica, isto é, a
remissão a outras fontes do saber. O discurso de outrem é marcado pela remissão à
voz do autor citado, no caso Bakhtin. Além disso, a alteridade é percebida pelas aspas
que delimitam o início e o fim de uma proposição-enunciado constituída da voz de
outrem. Inicialmente, na abertura do fragmento, a expressão “acuidade de Bakhtin” já
revela um distanciamento do produtor do artigo com o conteúdo veiculado, mostrando
que a responsabilidade do que será dito é atribuída ao teórico Bakhtin.
No fragmento acima, constatamos que o produtor do artigo faz recorrência ao
uso do conector segundo, para introduzir a citação de Bakhtin atribuindo a
responsabilidade do conteúdo veiculado ao autor Bakhtin. Além disso, o produtor do
artigo faz uso das aspas, marcando ainda mais um distanciamento do que é dito e, de
certa forma, utilizando o nome de Bakhtin introduzido pela conjunção de conformidade
como uma modalidade de discurso de autoridade e para relacionar o texto escrito com
as leituras realizadas para elaborar seu artigo.
Verificamos que no fragmento acima que ocorre a não assunção do locutor,
sendo dessa forma classificado como um PdV creditado a uma outra fonte do saber
(mediação epistêmica). Identificamos, no fragmento acima exposto, a presença da
heterogeneidade mostrada (marcada) através do uso das aspas, da conjunção
“segundo” e do verbo dicendi afirma. Observamos um caso explícito de modalização
em discurso segundo.
Se analisarmos o fragmento ora exposto, a partir dos apontamentos feitos por
Adam (2008) sobre a Responsabilidade Enunciativa, verificamos que o conector e as
aspas foram utilizadas para marcar o discurso do outro e apontam o distanciamento
do locutor no que concerne à Responsabilidade Enunciativa pelo conteúdo do
enunciado. Quando o produtor do artigo utiliza em seu texto uma citação da obra de
Bakhtin, podemos dizer que a responsabilidade pelo dizer recai diretamente sobre o
autor citado, no exemplo Bakhtin, e não no produtor do artigo que utilizou os estudos
bakhtinianos para fundamentar seu trabalho de pesquisa.
O produtor do artigo neste fragmento é considerado um locutor, já que ele não
assume o PDV e nem se posiciona quanto ao conteúdo apresentado no excerto.
Ainda sobre o referido fragmento, podemos afirmar que o produtor do artigo
isenta-se da Responsabilidade Enunciativa. Ele remete os pontos de vistas ali
apresentados à fonte do saber: Bakhtin.
Realize a atividade!
A partir do exposto nesta aula, explique a sua compreensão sobre os conceitos
de locutor e de enunciador, exemplificando e analisando fragmentos de gêneros
acadêmicos diversos, para tanto acesse o link da revista online
http://www.letras.ufscar.br/linguasagem/edicao20/ e leia os artigos publicados nesse
suporte virtual. Por conseguinte, selecione alguns excertos de textos e observe como
os autores dos textos destacados se apresentaram na produção dos seus textos, no
que concerne ao modo que assumiu ou não a responsabilidade pelo dito, destacando
as marcas linguísticas que sinalizam para a identificação das instâncias enunciativas
no texto.
Como atividade prática, selecione fragmentos de gêneros acadêmicos e
identifique as marcas linguísticas, exemplificando, ou seja, explanando se o produtor
do enunciado em análise é considerado um locutor ou um enunciador, abordando se
ele (não) assume o PDV e se (não) posiciona quanto ao conteúdo apresentado no
excerto.
Leituras complementares
http://www.cchla.ufrn.br/visiget/pgs/pt/anais/Artigos/Maria%20das%20Vit%C3%B3ria
s%20Nunes%20da%20Silva%20Louren%C3%A7o%20%28UFRN%29%20e%20Vil
ma%20Nunes%20da%20Silva%20Fonseca%20%28UFT%29.pdf
No link sugerido anteriormente, você pode acessar o texto Análise textual dos
discursos: a responsabilidade enunciativa no gênero memorial acadêmico, de
Lourenço e Fonseca (2012).
Resumo
Autoavaliação
Referências