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CONTABILIZAÇÃO PELO REGIME DE COMPETÊNCIA E PROVISÕES

CONTÁBEIS

Paulo Henrique Teixeira

1. Período de Competência

O Art. 9º, da Resolução 750, de 29/12/93, do CFC, estabelece  a seguinte definição de


Período de Competência: as receitas e as despesas devem ser incluídas na apuração do
resultado do período em que ocorrerem, sempre simultaneamente quando se
correlacionarem, independentemente de recebimento ou pagamento.

O art. 177, da Lei 6.404/76 estabelece que a escrituração da companhia será mantida em
registros permanentes, com obediência aos preceitos da legislação comercial e desta lei
e aos princípios de contabilidade geralmente aceitos, devendo observar métodos ou
critérios contábeis uniformes no tempo e registrar as mutações patrimoniais segundo o
regime de competência.

O Decreto 3.000/99 (RIR/99), define o seguinte:

Art. 247.  Lucro real é o lucro líquido do período de apuração ajustado pelas adições,
exclusões ou compensações prescritas ou autorizadas por este Decreto (Decreto-Lei nº
1.598, de 1977, art. 6º).

§ 1º A determinação do lucro real será precedida da apuração do lucro líquido de cada


período de apuração com observância das disposições das leis comerciais (Lei nº 8.981,
de 1995, art. 37, § 1º).

§ 2º Os valores que, por competirem a outro período de apuração, forem, para efeito de
determinação do lucro real, adicionados ao lucro líquido do período de apuração, ou
dele excluídos, que impõe ao Fisco a observância do preceito serão, na determinação do
lucro real do período de apuração competente, excluídos do lucro líquido ou a ele
adicionados, respectivamente, observado o disposto no parágrafo seguinte (Decreto-Lei
nº 1.598, de 1977, art. 6º, § 4º).

- Art. 248.  O lucro líquido do período de apuração é a soma algébrica do lucro


operacional (Capítulo V), dos resultados não operacionais (Capítulo VII), e das
participações, e deverá ser determinado com observância dos preceitos da lei comercial
(Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art. 6º, § 1º, Lei nº 7.450, de 1985, art. 18, e Lei nº
9.249, de 1995, art. 4º).

Art. 273.  A inexatidão quanto ao período de apuração de escrituração de receita,


rendimento, custo ou dedução, ou do reconhecimento de lucro, somente constitui
fundamento para lançamento de imposto, diferença de imposto, atualização monetária,
quando for o caso, ou multa, se dela resultar (Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art. 6º, §
5º):

I – a postergação do pagamento do imposto para período de apuração posterior ao em


que seria devido; ou
II – a redução indevida do lucro real em qualquer período de apuração.

§ 1º O lançamento de diferença de imposto com fundamento em inexatidão quanto ao


período de apuração de competência de receitas, rendimentos ou deduções será feito
pelo valor líquido, depois de compensada a diminuição do imposto lançado em outro
período de apuração a que o contribuinte tiver direito em decorrência da aplicação do
disposto no § 2º do art. 247 (Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art. 6º, § 6º).

§ 2º O disposto no parágrafo anterior e no § 2º do art. 247 não exclui a cobrança de


atualização monetária, quando for o caso, multa de mora e juros de mora pelo prazo em
que tiver ocorrido postergação de pagamento do imposto em virtude de inexatidão
quanto ao período de competência (Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art. 6º, § 7º, e
Decreto-Lei nº 1.967, de 23 de novembro de 1982, art. 16).

- Art. 274.  Ao fim de cada período de incidência do imposto, o contribuinte deverá


apurar o lucro líquido mediante a elaboração, com observância das disposições da lei
comercial, do balanço patrimonial, da demonstração do resultado do período de
apuração e da demonstração de lucros ou prejuízos acumulados (Decreto-Lei nº 1.598,
de 1977, art. 7º, § 4º, e Lei nº 7.450, de 1985, art. 18).

§ 1º O lucro líquido do período deverá ser apurado com observância das disposições da
Lei nº 6.404, de 1976 (Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art. 67, inciso XI, Lei nº 7.450, de
1985, art. 18, e Lei nº 9.249, de 1995, art. 5º).

-Art. 344, do RIR/99. Dispões que os tributos e contribuições são dedutíveis, na


determinação do lucro real, segundo o regime de competência (Lei nº 8.981, de 1995,
art. 41).

§ 1º O disposto neste artigo não se aplica aos tributos e contribuições cuja exigibilidade
esteja suspensa, nos termos dos incisos II a IV do art. 151 da Lei nº 5.172, de 1966, haja
ou não depósito judicial (Lei nº 8.981, de 1995, art. 41, § 1º).

-Art. 366.  São admitidos, como despesas de propaganda, desde que diretamente
relacionados com a atividade explorada pela empresa e respeitado o regime de
competência, observado, ainda, o disposto no art. 249, parágrafo único, inciso VIII (Lei
nº 4.506, de 1964, art. 54, e Lei nº 7.450, de 1985, art. 54).

Concluí-se, então, que é dever do Contador registrar as RECEITAS e DESPESAS pelo


regime de Competência.

2. Provisão

Provisão é uma reserva de um valor para atender a despesas que se esperam. A provisão
visa a cobertura de um gasto já considerado certo ou de grande possibilidade de
ocorrência.

Também é um fundo de proteção a riscos  sobre perdas que se esperam ou que já


ocorreram e reduziram o valor do ativo, mas que, sendo reversíveis ou com
probabilidade de redução. (Dicionário de Contabilidade, 9ª Edição, Editora Atlas).
O Art. 13, da Lei 9.249/95, determina que para efeito de apuração do lucro real e da
base de cálculo da contribuição social sobre o lucro líquido, são vedadas as seguintes
deduções, independentemente do disposto no art. 47 da Lei nº 4.506, de 30 de novembro
de 1964:

I - de qualquer provisão, exceto as constituídas para o pagamento de férias de


empregados e de décimo-terceiro salário, a de que trata o art. 43 da Lei nº 8.981, de 20
de janeiro de 1995, com as alterações da Lei nº 9.065, de 20 de junho de 1995, e as
provisões técnicas das companhias de seguro e de capitalização, bem como das
entidades de previdência privada, cuja constituição é exigida pela legislação especial a
elas aplicável;

Portanto as provisões são indedutíveis para fins de apuração do Imposto de Renda e da


Contribuição Social sobre o Lucro, exceto as provisões de férias, 13º salário e as
provisões técnicas de companhias de seguro, capitalização. A Lei 10.833/2003, alterou
o artigo 8º, da Lei 10.753/2003 e permitiu a dedutibilidade da provisão para perda de
estoque para Editor de Livros, Distribuidoras de Livros e Livreiros.

O fisco não aceita a dedutibilidade das provisões por serem consideradas incertas, são
gastos prováveis, mas não podem ser corretamente mensurados na data do balanço,
dependem de eventos futuros, tais como: sua realização (venda), cotação do Dólar, da
Bolsa de Valores  e etc.

3. Contabilização  pelo Regime de Competência x Provisão

Uma das grandes dificuldades do Contador na área tributária é diferenciar a


contabilização pelo Regime de Competência e a contabilização da Provisão.

A contabilização pelo Regime de Competência é uma obrigação do Contador, conforme


vimos na definição de Competência pelo  Conselho Federal de Contabilidade (CFC),
pela Lei das Sociedades Anônimas e pelo Fisco Federal.

Por exemplo:

-Contabilização  no próprio período das  despesas incorridas em dezembro e  não no


mês de janeiro e fevereiro do ano seguinte, quando foram pagas;

-Contabilização dos fornecedores na data do faturamento e não período data do


pagamento;

-Contabilização dos juros e atualizações  sobre financiamentos até a data do balanço, em


conformidade com contrato firmado com a Instituição Financeira;

-Contabilização dos Tributos, juros e multas de mora exigidos pela Legislação no mês
de sua competência, mesmo que não pagos ( PIS, Cofins, INSS, FGTS, IPI, ICMS, etc.)

-Contabilização de despesas de aluguel, água, luz, telefone, seguros no mês de


referência e não no mês de pagamento;
-Contabilização das despesas de comissões, embora ainda não pagas ao representante
comercial, no entanto, os valores são devidos, as duplicatas já foram recebidas,
mediante relatório fornecido pelo sistema de comissões, as quais são líquidas e certas.

A provisão é um lançamento que depende de um evento futuro, que provavelmente vai


ocorrer, mas  na data do balanço não está totalmente definido ou quantificado, por
exemplo:

- Provisão para Imposto de Renda, ao fechar o Balanço de 31/12, no mês de janeiro ou


fevereiro do ano seguinte, o Contador faz a referida provisão, no entanto até a data da
entrega da Declaração de Imposto de Renda, em 30/jun,  poderá haver mudanças no
cálculo do IRPJ, com diferimento do Imposto, dedução do PAT, etc.

- Provisão para Férias, o funcionário com menos de um  ano pode pedir demissão e não
ter direitos às férias, bem como o funcionário pode ser demitido por justa causa ou
abandonar o emprego.

- Provisão de Estoques,  reserva constituída quando o preço de venda é menor que o


preço de aquisição da  mercadoria. Depende de um evento futuro: a venda.

- Provisão para Contingências judiciais – A empresa discute na justiça uma determinada


ação, vai se tornar uma despesa apenas  quando a empresa perder a ação e ainda o valor
da ação somente será conhecido ao  término da ação. Na data do Balanço é apenas uma
provisão.

- Provisão para pagamento de despesas de comissões,  por valores aproximados,cujas 


as duplicatas não foram ainda recebidas pela empresa.

Normalmente utiliza-se incorretamente o termo provisionar, por exemplo, provisionar


fornecedores, provisionar juros sobre contrato, provisionar Pis e a Cofins  quando na
realidade o termo correto seria contabilizar fornecedores, contabilizar juros sobre
contrato e contabilizar Pis e a Cofins, pois é um valor líquido e certo, por exigência
contratual ou legal. Parece ser simples, no entanto o uso incorreto do termo  traz
dúvidas na ocasião da  interpretação da Lei, muitas vezes o Contador deixa de
contabilizar uma despesa totalmente dedutível e pagar menos IRPJ e CSLL, devido ao
fato de confundir com provisões que são indedutíveis.

Texto extraído da obra: Contabilidade Tributária

Paulo Henrique Teixeira é Contador e autor de diversas obras tributárias e contábeis,


entre as quais: Defesa do Contribuinte, Manual de Auditoria Tributária , Auditoria
Contábil e Gestão Tributária Empresarial.

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