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GUERREIRO RAMOS: RESGATANDO © PENSAMENTO DE UM Soci6Ltoco Critrico pas ORGANIZAGOES ‘Ana Paula Paes de Paula* ResuMO bjetiva-se com este artigo apontar as contribuicBes de Alberto Guerreiro Ramos para os estudos criticos em administracdo, evidenciando 0 quanto o autor antecipa {aS preocupagées © proposigies dessa corrente dos estudes organizacionals. Tenta- se, também, cemonstrar as bases da sociologia critica das organizacdes utilizadas pelo auter e que 0 conduziram para uma nova teoria organizacional, resgatando sua agen- dda de pesquisa para os estudiosos da temitica. Em linhas gerais, abordam-se os principais trabalhos de Guerreiro Ramos, 0s quais séo examinados a partir de uma perspectiva analitica culdadosamente estruturada. Para conclulr, resgatam-se os trabalhos de seus discipulos, avaliam-se os limites do artigo ¢ sBo feltas recomendacées para futuras pes quisas, frisando que trazer & tona o pensamento de Guerreiro Ramos é uma forma de Preservar @ forca do movimento de critica 8 administracdo, ABSTRACT he purpose of this article is to point out the contributions of Guerreiro Ramos to the gritical management studies, highlighting his anticipation over the propositions of this research area on organizational studies. Beyond that, the article also makes an effort to reveal the bases of his critical organization sociology, which helped him to build a new form of organizational analysis. His theory is still precious for many scholars that work on this thematic, To accompl'sh this purpose, we examine the most important works of the author, through @ careful analytical structure. In the end, we evaluate the limitations of this research and make recommendations for futures works. It ig emphasized that retrieving Guerreiro Ramos’ thought is a way to preserve the force of the critical movement in Administration Science, “Prof® CEPEAD/UFMG os = 14 = 9.40 + Joneio/Marco - 2007 169 TRODUGAO |\\ | 2 década de 1990, alguns socidlogos das organizacées incomodados com a \ instrumentalizagdo que circunda 0 mundo do management fundaram uma corrente de estudos criticos em administragdo, Segundo essa corrente {ALVESSON; WILLMOTT, 1992), tais estudos tém uma agenda para pesqui- sa, ensino e prética organizacional que entende o management como um fenéme- 1 politico, cultural e ideolégico, Sua intengo é dar voz aos gerentes n3o somen- te como administradores, mas como pessoas, e também a outros grupos sociais, cujas vidas sao afetadas pelas atividades e Ideclogias do management. Os estudos criticos em administracéo esto voltados para a emancipacéo, pois buscam criar °...sociedades @ lugares de trabalho livres de dominagao em que todos os membros tém igual oportunidade para contribuir para a producao de sistemas que venham ao encontro das necessidades humanas e conduzam ao progressivo de- senvolvimento de todos” (ALVESSON; DEETZ, 1996: 238). As contribuicées geradas por esses estudos podem oferecer insumos para a reflexdo da carreira profissio- nal, recursos intelectuais para contrariar as tendéncias totalitérias da socializagao corporativa © um conjunto mais apurado de critérios para a tomada de decisées. Embora essa corrente tenha se organizado fundamentalmente na Inglater- ra, analisando 0 caso brasileiro, nota-se que estudos com este mesmo teor vm sendo realizados ha décadas por Alberto Guerreiro Ramos, Mauricio Tragtenberg e Fernando Prestes Motta. Em outras palavras, existe no Brasil uma tradicéo aut6- noma de estudos criticos em administracao, que merece ser analisada com maior rigor. Baseada em tal hipétese, estruturei um projeto de pesquisa que aborda os trés socidlogos das organizacées, os quais se destacam pela adesdo a uma pers- pectiva humanista e ndo comportamentalista, advogando a centralidade do indivi duo frente a organizacéo, e por defenderem novos caminhos para o ensino dos administradores Dessa forma, objetivou-se com este artigo apontar as contribuigdes de Alberto Guerreiro Ramos para os estudos criticos em administraco, evidenciando 0 quan- to 0 autor antecipa as preocupagées e proposicdes dessa corrente dos estudos organizacionais, Pretende-se, ainda, demonstrar as bases da sociologia critica das organizacées utilizadas pelo autor e que 0 conduziram para uma nova teoria organizacional, resgatando sua agenda de pesquisa para os estudiosos da tematica, Por sua atuago junto ao Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) e sua viséo nacional-desenvolvimentista, Guerreiro Ramos costuma ser apontado como um autor datado, cuja obra no pode mais ajudar na elucidagdo de ques- t6es contemporéneas, Para OLIVEIRA (1995), Guerreiro Ramos foi esquecido por- que suas andlises, assim como as do ISEB, esto muito comprometidas com as circunst&ncias histéricas que as geraram, Contudo, Oliveira (1995) afirma que suas preocupagées metodolégicas continuaram atuals, em especial a critica na eficacia imanente das teorias e instituigdes importadas. Concordo apenas parcialmente com a autora sobre o que é atual no pensa- mento de Guerreiro Ramos. Em primeiro lugar, porque em seus tltimos trabalhos 0 autor renovou sua visio de nacionalismo e de desenvolvimento. Por outro lado, a partir de sua saida do ISEB, em 1958, € da publicacdo de "Mito e verdade da revolucdo brasileira’, que foi recolhido das livrarias com a sua cassacao como de- putado, em 1963, 0 autor realizou o ponto de inflexao necessério para revitalizar sua obra, As dificuldades com os companheiros do ISEB e com a carreira politica 0 levaram @ uma atuacdo Independente que o conduziu, gradativamente, para a sociologia das organizagées. Nesse percurso, Guerreiro Ramos se manteve fiel aos principios de seu pensamento sociolégico, além de fundar as bases para uma nova teoria das organizacées. 170 8s = 14 = n140 = Jneio/tarco = 2007 ‘Gvorreire Ramos: Resgatande © Pensamento de um Socisoge Crltco das Organtzaeb No que se refere & metodologia, este artigo foi elaborado a partir de uma anilise sistematica da obra de Guerreiro Ramos. O critério de escolha dos textos estudados e 0 recorte analitico utilizado se baseiam, fundamentalmente, nos sen- tides da redugo sociolégica, e sé abordados detalhadamente na primeira secdo do artigo. Na segunda secdo, retomo os sentidos da reducdo sociolégica para demonstrar os alicerces de sua sociologia critica das organizacées. Na terceira seco, aprofundo a andlise do livro “A nova ciéncia das organizacées” para evi denciar como seu posicionamento critico possibilitou a elaboracéo de uma nova teoria organizacional. Na quarta seco, apresento o trabalho de alguns discipulos de Guerreiro Ramos. Na Ultima secdo, exponho sua agenda de pesquisa para estudiosos das organizacées, além de apontar os limites do artigo € as recomen- dagées para futuras pesquisas. Um Recorre ANAL{TICO Nesta seco, realizo algumas consideracées de natureza metodolégica, jus- tificando a escolha dos textos a serem analisados, bem como explicando o recorte analitico utilizado para examinar a obra de Guerreiro Ramos & luz do objetivo proposto neste artigo. Na primeira parte, me apoio nas andlises de Franca (1983) sobre autor e, na segunda parte, demonstro a importancia da redugdo sociolégica na sue estrutura de pensamento, apontando os motives para utilizar este concel- to como suporte para entender Sua sociologia critica das organizagées. TWREs PossmiiDADES PARA ANALISAR GUERREIRO RAMOS A obra de Guerreiro Ramos é vasta e permite varias leituras, de modo que para analisd-la de acordo com o objetivo proposto foi indispensavel buscar critérios de escolha dos textos que deveriam ser lidos e dos elementos que deveriam ser observados. Neste sentido, Franca (1983) realiza uma importante contribuicSo, pois aponta trés possibilidades de abordagem da obra de Guerreiro, Para o autor, 2 primeira possibilidade seria utilizar como referéncia os pontos que compéem a agenda basica que permeia sua obra Ponto 1 [uma avaliagéo historica da teorla politica @ administrativa, pols a auséncia de uma consciéncia sistemética das origens e destinacdo histérica destas teorias estaria nos incapacitando de compreender corretamente os fenémenos sociais e organizacionais; Ponto2 [um humanismo radical, que percebe o potencial de destruigso presente no fenémeno organizacional moderno, sobretudo nas formas de organizacio utilitaristas e dominadas pelo ethos do mercado Ponto 3 [uma andlise da sindrome comportamentalista, que impossibiita o estabelecimento da superioridade do individuo como centro objeto dos sistemas sociais, fazendo da teoria organizacional e social contemporanea mais um instrument de conformagao social do que uma ciéneia; Ponto [a critica da burocracia enquanto _instancla _intrinsecamente modernizadora e também do potencial benéfico da sociedade ‘organizacional Ponto 5 [a conceituacéo da mulliplicdade de instrumentos de produgio & disposi¢lo dos sistemas socials; Ponto6 [a critica do mercado enquanto categoria de entendimento das realidades sociais; Ponto 7_[o problema da bidimensionalidade do conceito de racionalidade. ORs = 14 = 9.40 + Joneieo/Marco - 2007 171 Vale ressaltar que boa parte desses pontos faz parte da agenda de pesqul- sa dos novos criticos da administracéo (ALVESSON, WILLMOTT, 1992 e 1993; ALVESSON, DEETZ, 1996), mas foram elencados por Franca pelo menos dez anos antes do movimento do critical management studies se consolidar na Inglaterra. ‘A segunda possibilidade apontada por Franca (1983) para abordar a obra de Guerreiro Ramos seria examinar esta mesma agenda a partir de duas catego- ras conceituais propostas pelo autor no inicio da década de 1950: 1) a hipercorregao é a tendéncia dos atores sociais a atribuirem uma eficién- cia direta as idéias e teorias importadas, negligenciando os contextos nas quais estas foram criadas e estdo sendo aplicadas; 2) 0 pragmatismo critico é a caracteristica dos atores sociais que se identifi- cam com 0 elemento nacional e so sensivels as condicdes contextuais do melo em que vivem, de questionarem a exemplaridade abstrata das idéias e teorias importadas, servindo-se oportunisticamente delas. A terceira possibilidade apontada por Franca (1983) para estudar a obra de Guerreiro Ramos é revisitar o livro “Administrag3o ¢ estratégia do desenvolvimen- to” (GUERREIRO RAMOS, 1983 [1966]) com dois objetivos: 1) avaliar as percep- Bes de Guerreiro Ramos sobre o fenémeno administrativo; e 2) verificar a evolu Go destas percepcdes até a publicacao do livro “A nova ciéncia das organizacoes” (GUERREIRO RAMOS, 1989 [1981]). Na visio de Franca (1983), nesses livros, Guer- reiro Ramos prioriza um exame sociolégico e histérico do fendmeno administrativo, além de enfatizar a importéncia de impedir que a categoria da hipercorreggo se tornasse dominante no Ambito da politica e da administragao, Considerando 0 objetivo deste artigo, acredito que a terceira abordagem apontada por Franca (1983) € a mais apropriada para fazer a andlise da obra de Guerreiro Ramos. Pretendo, também, ter como referencial a agenda basica que circunda sua obra, bem como as categorias de hipercorrecao e pragmatismo criti 0, pois sao elementos que contribuem para definir 0 posicionamento critico de Guerreiro Ramos perante os fenémenos organizacionais. Dessa forma, para ela- borar este artigo, analisei os livros “Cartilha brasileira do aprendiz do sociélogo” (1954), “Introdugo critica & sociologia brasileira” (1957), "A redugdo sociolégica” (1958), "Mito e realidade da revolucdo brasileira” (1963), “Administracdo e contex- to brasileiro” (1966) e "A nova ciéncia das organizacées” (1981), além de alguns artigos contemporaneos a estas publicacées, nos quais Guerreiro Ramos desen- volve as principais categorias tedricas apontadas por Franca, Os ‘Tris Senrios DA REDUGAO SOCIOLOGICA Na década de 1950, Guerreiro Ramos atuava no ISEB, no Rio de Janeiro, Instituto que se opunha & escola sociolégica paulista organizada em torno de Florestan Fernandes, na Universidade de So Paulo. Em sua critica aberta & situ- aco da sociologia brasileira, Guerreiro Ramos (1995 [1957] considerava que esta sofria dos seguintes defeitos: Tende 8 adotar Iteraimente o que se considera mais avancado nos centros europeus ¢ norte-americanos; ‘costuma realizar uma conciliag3o de doutrinas que, mesmo nos paises de origem, so incompativeis; tende a adotar extensivamente os argumentos de 3) Dogmatismo | autoridade, alm de discutir e avaliar os fatos por meio da justaposico de autores prestigiosos; 41) Simetria 2) Sincretismo 172 8s = 14 = n.40 = Janeio/Marco = 2007 Guorreire Ramos: Resgatande © Pensamento de um Sociéoge Crltco das Organtzacbes Tende a emprastar dos sistemas estrangelros 0 cardter de 4) Dedutivismo | validade absoluta e utilizé-los como referéncia para explicar os fatos da vida brasileira; 1ndo € fruto de esforgos para promover @ autodeterminagao da sociedade brasileira, mas da observacao do contexto nacional através dos olhos do estrangeiro que nos interpreta; € inauténtica, porque nao se guia por experiéncias, cognitivas genuinas, e é desarticulada, porque cada geracSo repete desde o zero os esforcos da geracso, anterior, 5) Alienagao 6) Inautencidade Na visio de Guerreiro Ramos, a sociologia nacional deveria realizar uma autocritica para colaborar com a autoconsciéncia nacional, ganhando uma funcio- nalidade, intencionalidade e organicidade que a tornaria uma teoria militante da prépria realidade nacional. Esta posigSo se consolidou quando suas proposicdes para a sociologia latino-americana foram negadas no II Congresso Latino-Ameri- cano de Sociologia, em 1953, O episédio o levou a publicar artigos sobre a polémi- ‘ca no “Diario de Noticias” do Rio de Janeiro e, também, resultou no texto da *Cartilha brasileira do aprendiz do socidlogo” (GUERREIRO RAMOS, 1954). Em uma entrevista concedida ao jornal "Ultima Hora” em 28/07/1956, Guer- reiro Ramos retoma essas questdes e declara sua preocupacao em criar um méto- do que ajude o pesquisador a evitar a hipercorrecdo: “Comeco a me preocupar com a criagao de uma técnica de redugao sociolégica, que habilite 0 estudioso a "suspen- der” 0s produtos sociolégicos, a fim de assimilé-los, sem perigo de deixar-se envolver por sua intencionalidade ou de alienar-se,” Pouco depois Guerreiro Ramos publicaria “Introdugao Critica & Sociologia Brasileira” (GUERREIRO RAMOS, 1995 [1957]), no qual articula todas suas criticas & sociologia nacional e abre o caminho para o livro seguinte, "A reducao sociolégica” (GUERREIRO RAMOS, 1965 [1958]) No prefacio da segunda edicdo desse livro, publicada em 1965, 0 autor res- gata a trajetéria de seu pensamento, afirmando o que j mencionara em seus trabalhos anteriores, no que diz respeito & prética do socidlogo brasileiro de usar a producdo estrangeira sem se dar conta de seus pressupostes histéricos. Na sua vis8o, a0 invés de senso critico, 0 socidlogo brasileiro parecia preferir exibir conhe= cimento de conceitos e técnicas importadas, Ainda no prefacio, Guerreiro Ramos afirma que a redugéo sociolégica foi focalizada apenas parcialmente nesse livro, pois em "Mito e Verdade da Revolucao Brasileira” (GUERREIRO RAMOS, 1963) tra” balhou um outro sentido do conceit. Anos mais tarde, o autor iré reapresentar 0 conceito no prefacio & edicao brasileira do livro "A nova ciéncia das organizacdes” = publicado no Brasil em 1981 -, no qual desenvolve o terceiro sentido da reducdo sociolégica, completando 0 trabalho iniciado na década de 1950, GUERRERO RAMOS (1989 [1981]) assim definiu os sentidos da reducéo so- clolégica: T] um método para a assimilagio critica da cultura e produggo sociologica estrangeira 2 | uma atitude parentética, isto é, um adestramento cultural do individuo para habilité-lo a transcender, no limite do possivel, as pressdes socials organizadas que mas sificam as condutas impedindo a autonomia e a livre expressao; 3 | uma superacio da sociologia nos termos institucionais € universitarios em que se encontra. Os sentidos da reducao sociolégica, que so permeados pelos conceitos de hipercorrecdo e pragmatismo critico, também constituem a base a partir da qual Guerreiro Ramos iré desenvolver sua sociologia critica das organizacées, Conside- os = 14 = 9.40 + Joneieo/Marco - 2007 173 rando que tais sentidos compdem o eixo de sustentacdo de sua obra, utilizarei os mesmos como referencial para estruturar a discussao sobre as contribuices do autor aos estudos criticos em administragdo. GUERREIRO Ramos: SOCIGLOGO #& Critico DAS ORGANIZACOES Nesta seco, abordo os sentidos da redugio sociolégica para analisar as bases da sociologia critica das organizagdes de Guerreiro Ramos: a nacionaliza- 0 da teoria organizacional, a centralidade do individuo frente as organizagbes, a Facionalidade orientada pelos valores e a sociologia voltada para a aco. O obje- tivo & apontar como o autor antecipa as preocupagées e proposicées dos atuais criticos da administracdo, alm de preparar o terreno pare discutir sua nova teoria das organizacées. © PriMEIRO SENTIDO DA REDUGAO SOcIoLoGic. A NACIONALIZAGAO DA TEORIA © método da redugdo sociolégica, que é um dos pilares fundamentais do pensamento de Guerreiro Ramos e que orientou seus estudos sobre as organiza- Bes, tem uma inspiragéo eminentemente critica. Na visdo do autor, a mudanca has condigdes materiais que se observava na economia e sociedade brasileiras, na década de 1950, deveria ser acompanhada do abandono da importacéo da teoria sociolégica © da pratica de uma assimilacao critica da mesma, que ele vai chamar de reducao sociolégica. Para Guerreiro Ramos, reducio é a eliminago de tudo que perturba o esforco de compreensdo e obtencdo essencial de um dado, seja este teérico ou empirico. Ou seja, a reducgo é uma *...atitude metédica que tem por fim descobrir os pressupostos referenciais de natureza hist6rica, dos objetos e fatos da realidade social.” (GUERREIRO RAMOS, 1965 [1958]: p.81) Para um melhor entendimento do conceito de reducdo, & preciso levar em consideracdo seus antecedentes filoséficos e sociolégicos. ‘Segundo o autor, as bases filosdficas da redugdo sociolégica se encontram na fenomenologia de Husserl, mais precisamente no conceito de reducdo fenomenolégica. Esta também € conhecida como epoqué, que significa "suspensdo do julgamento” (ver MOREIRA, 2002). Em outras palavras, na reduc3o fenomenolégica suspendemos nossas crencas na tradig3o e nas ciéncias para se ater a0 dado como tal e descrevé-lo na sua pureza, O dado pode ser fornecido pela percepcéo, intuic&o, recordacdo ou imaginacéo, mas qualquer que seja sua fonte é preciso “suspender” ou “colocar entre parénteses” as doutrinas conheci- das acerca da realidade, separando 0 fenémeno do conhecimento que se cons- truiu em torno dele. J4 os antecedentes sociolégicos da redugéo se encontram no 4mbito da Sociologia do Conhecimento, em especial entre os adeptos da fenomenologia como Max Scheler, Alfred Schutz, Georges Gurvitch e especialmente Karl Mannheim, que & considerado, por Guerreiro Ramos, a fonte da redugao sociolégica. O historicismo, 2 fenomenologia, a sociologia do conhecimento e o existencialismo constituem as bases do pensamento de Guerreiro Ramos, o que & admitido em varias oportuni- dades pelo préprio autor (ver OLIVEIRA, 1995). Partindo de tais referéncias teéricas e autores, Guerreiro Ramos (1965 [1958]) procura deduzir uma reducao sociolégica, ou seja, um método de observacdo da realidade social que, a0 avalié-la, permitisse a0 analista suspender seus julga- mentos e conhecimentos prévios, preservando, porém, os elementos do contexto histérico. Com a intengo de delinear o método, ele discute as caracteristicas es- senciais da redugdo sociolégica, propondo quatro leis: 174 ots = 1 19 « Janeio/Marco - 2007

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