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V.

AS ORDENANÇAS DA IGREJA

O Cristianismo no Novo Testamento não é uma religião ritualista; a essência do Cristianismo é


o contato direto do homem com Deus por meio do Espírito. Portanto, não há uma ordem de
adoração dogmática e inflexível, antes permitindo à igreja, em todos os tempos e países, a
liberdade de adotar o método que lhe seja mais adequado, para a expressão de sua vida. Não
obstante, há duas cerimônias que são essenciais, por serem divinamente ordenadas, a saber, o
batismo nas águas e a Ceia do Senhor. Em razão de seu caráter sagrado, elas, às vezes, são
descritas como sacramentos, literalmente, "coisas sagradas", ou "juramentos consagrados por
um rito sagrado". Também são elas mencionadas como ordenanças porque são "ordenadas"
pelo próprio Senhor. O batismo nas águas é o rito do ingresso na igreja cristã, e simboliza o
começo da vida espiritual. A Ceia do Senhor é o rito de comunhão e significa a continuação da
vida espiritual. O primeiro sugere a fé em Cristo; o segundo sugere a comunhão com Cristo. O
primeiro é administrado somente uma vez, porque pode haver apenas um começo da vida
espiritual; o segundo é administrado frequentemente, ensinando que a vida espiritual deve ser
alimentada.

1. O batismo. (a) O modo. A palavra "batizar", usada na fórmula de Mateus 28:19.20. significa
literalmente mergulhar ou imergir. Essa interpretação é confirmada por eruditos da língua
grega e pelos historiadores da igreja. Mesmo eruditos pertencentes a igrejas que batizam por
aspersão admitem que a imersão era o modo primitivo de batizar. Além disso, há razões para
crer que para os judeus dos tempos apostólicos, o mandamento de ser "batizado" sugeriria
"batismo de prosélito", que significava a conversão dum pagão ao Judaísmo. O convertido
estava de pé na água, até ao pescoço, enquanto era lida a lei, depois do que ele mesmo se
submergia na água, como sinal de que fora purificado das contaminações do paganismo e que
começara uma nova vida como membro do povo da aliança. De onde veio, então, a prática da
aspersão e de derramar a água? Quando a igreja abandonou a simplicidade do Novo
Testamento, e foi influenciada pelas idéias pagãs, atribuiu importância antibiblica ao batismo
nas águas, o qual veio a ser considerado inteiramente essencial para se alcançar a
regeneração. Era, portanto, administrado aos enfermos e moribundos. Posto que a imersão
não era possível em tais casos, o batismo era administrado por aspersão. Mais tarde, por causa
da conveniência do método, este generalizou-se. Também, por causa da importância da
ordenança, era permitido derramar a água quando não havia suficiente para praticar a
imersão. Notem a seguinte citação dum antigo escritor do segundo século, agora concernente
ao batismo, batiza assim: havendo ensinado todas essas coisas, batiza em nome do Pai, do
Filho, e do Espírito Santo, em água viva (corrente). E se não tiveres água viva, batiza em outra
água; e se não podes em água fria, então em água morna. Mas se não tiveres nem uma nem
outra, derrama água três vezes sobre a cabeça, em o nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo. Não obstante, o modo bíblico e original é imersão, o qual corresponde ao significado
simbólico do batismo, a saber, morte, sepultura e ressurreição. (Rom. 6:1-4.)

(b) A fórmula. "Batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo" (Mat. 28:19).
Como vamos reconciliar isso com o mandamento de Pedro: "...cada um de vós seja batizado
em nome de Jesus Cristo"? (Atos 2:38). Estas últimas palavras não representam uma fórmula
batismal, porém uma simples declaração afirmando que recebiam batismo as pessoas que
reconheciam Jesus como Senhor e Cristo. Por exemplo, o "Didaquê", um documento cristão
escrito cerca do ano 100 A.D., fala do batismo cristão celebrado em nome do Senhor Jesus,
mas o mesmo documento, quando descreve o rito detalhadamente, usa a fórmula trinitária.
Quando Paulo fala que Israel foi batizado no Mar Vermelho "em Moisés", ele não se refere a
uma fórmula que se pronunciasse na ocasião; ele simplesmente quer dizer que, por causa da
passagem milagrosa através do Mar Vermelho, os israelitas aceitaram Moisés como seu guia e
mestre como enviado do céu. Da mesma maneira, ser batizado em nome de Jesus significa
encomendar-se inteira e eternamente a ele como Salvador enviado do céu, e a aceitação de
sua direção impõe a aceitação da fórmula dada por Jesus no capítulo 28 de Mateus. A tradução
literal de Atos 2:38 é: "seja batizado sobre o nome de Jesus Cristo". Isso significa, segundo o
dicionário de Thayer, que os judeus haviam de "repousar sua esperança e confiança em sua
autoridade messiânica". Note-se que fórmula trinitária é descrita duma experiência. Aqueles
que são batizados em nome do triúno Deus, por esse meio estão testificando que foram
submergidos em comunhão espiritual com a Trindade. Desse modo pode-se dizer acerca deles:
"A graça do Senhor Jesus Cristo e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com
vós todos" (2 Cor. 13:13).

(c) O recipiente. Todos os que sinceramente se arrependem de seu pecado, professam a fé no


Senhor Jesus, são elegíveis para o batismo. Na igreja apostólica o rito era acompanhado das
seguintes expressões exteriores: 1) Profissão de fé. (Atos 8:37.) 2) Oração. (Atos 22:16.) 3)
Voto de consagração. (1 Ped. 3:21.)

Visto que os infantes não têm pecados de que se arrepender e não podem exercer a fé,
logicamente são excluídos do batismo nas águas. Com isso não os estamos impedindo que
venham a Cristo (Mat. 19:13,14), pois eles podem ser consagrados a Jesus em culto publico.

(d) A eficácia. O batismo nas águas, em si não tem poder para salvar; as pessoas são batizadas,
não para serem salvas, mas porque já são salvas. Portanto, não podemos dizer que o rito seja
absolutamente essencial para a salvação. Mas podemos insistir em que seja essencial para a
integral obediência a Cristo. Como a eleição do presidente da nação se completa pela sua
posse do governo, assim a eleição do convertido pela graça e pela glória de Deus se completa
por sua pública admissão como membro da igreja de Cristo.

(e) O significado. O batismo sugere as seguintes idéias: 1) Salvação. O batismo nas águas é um
drama sacro (se nos permitem falar assim), representando os fundamentos do Evangelho. A
descida do convertido às águas retrata a morte de Cristo efetuada; a submersão do convertido
fala da morte ratificada, ou seja, o seu sepultamento; o levantamento do converso significa a
conquista sobre a morte, isto é a ressurreição de Cristo. 2) Experiência. O fato de que esses
atos são efetuados com o próprio convertido demonstra que ele se identificou espiritualmente
com Cristo. A imersão proclama a seguinte mensagem: "Cristo morreu pelo pecado para que
este homem morresse para o pecado." O levantamento do convertido expressa a seguinte
mensagem: "Cristo ressuscitou dentre os mortos a fim de que este homem pudesse viver uma
nova vida de justiça." 3) Regeneração. A experiência do novo nascimento tem sido descrita
como uma, "lavagem" (literalmente "banho", Tito 3:5), porque por meio dela, os pecados e as
contaminações da vida de outrora foram lavados. Assim como o lavar com água limpa o corpo,
assim também Deus, em união com a morte de Cristo e pelo Espírito Santo, purifica a alma. O
batismo nas águas
simboliza essa purificação. "Levanta-te, e lava os teus pecados (isto é, como sinal do que já se
efetuou)" (Atos 22:16). 4) Testemunho. "Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já
vos revestistes de Cristo" (Gál. 3:27). O batismo nas águas significa que o convertido, pela fé,
"vestiu-se" do caráter de Cristo de modo que os homens podem ver a Cristo nele, como se vê o
uniforme no soldado. Pelo rito de batismo, o convertido, figurativamente falando,
publicamente veste o uniforme do reino de Cristo.

2. A ceia de Senhor. Pontos principais. Define-se a Ceia do Senhor ou Comunhão como o rito
distintivo da adoração cristã, instituído pelo Senhor Jesus na véspera de sua morte expiatória.
Consiste na participação solene do pão e vinho, os quais, sendo apresentados ao Pai em
memória do sacrifício inexaurível de Cristo, tornam-se um meio de graça pelo qual somos
incentivados a uma fé mais viva e fidelidade maior a ele. Os seguintes são os pontos-chave
dessa ordenança: (a) Comemoração. "Fazei isto em memória de mim." Cada ano, no dia 4 de
julho, o povo norte-americano recorda de maneira especial o evento que o fez um povo livre.
(*) Cada vez que um grupo de cristãos se congrega para celebrar a Ceia do Senhor, estão
comemorando, dum modo especial, a morte expiatória de Cristo que os libertou dos pecados.
Por que recordar a sua morte mais do que qualquer outro evento de sua vida? Porque a sua
morte foi o evento culminante de seu ministério e porque somos salvos, não meramente por
sua vida e seus ensinos, embora sejam divinos, mas por seu sacrifício expiatório.

(b) Instrução. A Ceia do Senhor é uma lição objetiva que expõe os dois fundamentos do
Evangelho: 1) A encarnação. Ao participar do pão, ouvimos o apóstolo João dizer: "E o Verbo
se fez carne e habitou entre nos" (João 1:14); ouvimos o próprio Senhor declarar: "Porque o
pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo" (João 6:33).

* Por ser Dia de Independência dos Estados Unidos da América. (Nota do tradutor)

2) A expiação. Mas as bênçãos incluídas na encarnação nos são concedidas mediante a morte
de Cristo. O pão e o vinho simbolizam dois resultados da morte: a separação do corpo e da
vida, e a separação da carne e do sangue. O simbolismo do pão partido é que o Pão deve ser
quebrantado na morte (Calvário) a fim de ser distribuído entre os espiritualmente famintos; o
vinho derramado nos diz que o sangue de Cristo, o qual é sua vida, deve ser derramado na
morte a fim de que seu poder purificador e vivificante possa ser outorgado às almas
necessitadas.

(c) Inspiração. Os elementos, especialmente o vinho, nos lembram que pela fé podemos ser
participantes da natureza de Cristo, isto é, ter "comunhão com ele". Ao participar do pão e do
vinho da Ceia, o ato nos recorda e nos assegura que, pela fé, podemos verdadeiramente
receber o Espírito de Cristo e ser o reflexo do seu caráter.

(d) Segurança. Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue"! (1 Cor. 11:25). Nos tempos
antigos a forma mais solene de aliança era o pacto de sangue, que era selado ou firmado com
sangue sacrificial. A aliança feita com Israel no Monto Sinai foi um pacto de sangue. Depois que
Deus expôs as suas condições e o povo as aceitou, Moisés tomou uma bacia cheia de sangue
sacrificial e aspergiu a metade sobre o altar do sacrifício, significando esse ato que Deus se
havia comprometido a cumprir a sua parte do convênio; em seguida, ele aspergiu o resto do
sangue sobre o povo, comprometendo-o, desse modo, a guardar também a sua parte do
contrato (Êxo. 24:3-8). A nova aliança firmada por Jesus é um pacto de sangue. Deus aceitou o
sangue de Cristo (Heb. ?); portanto, comprometeu-se, por causa de Cristo, a perdoar e salvar a
todos os que vierem a ele. O sangue de Cristo é a divina garantia de que ele ser benévolo e
misericordioso para aquele que se arrepende. A nossa parte nesse contrato é crer na morte
expiatória de Cristo. (Rom. 3:25,26.) Depois, então poderemos testificar que foram aspergidos
com o sangue da nova aliança. (1Ped. 1:2.)

(e) Responsabilidade. Quem deve ser admitido ou excluído da Mesa do Senhor? Paulo trata da
questão dos que são dignos do sacramento em 1Cor. 11:20-34. "Portanto, qualquer que comer
este pão, ou beber este cálice do Senhor indignamente, será culpado (uma ofensa ou pecado
contra) do corpo e do sangue do Senhor." Quer isso dizer que somente aqueles que são dignos
podem chegar-se à Mesa do Senhor? Então, todos nós estamos excluídos! Pois quem dentre os
filhos dos homens é digno da mínima das misericórdias de Deus? Não, o apóstolo não está
falando acerca da indignidade das pessoas, mas da indignidade das ações. Sendo assim, por
estranho que pareça, é possível a uma pessoa indigna participar dignamente. E em certo
sentido, somente aqueles que sinceramente sentem a sua indignidade estão aptos para se
aproximar da Mesa; os que se justificam a si mesmos nunca serão dignos. Outrossim, nota-se
que as pessoas mais profundamente espirituais são as que mais sentem a sua indignidade.
Paulo descreve-se a si mesmo como o "principal dos pecadores" (1Tim. 1:15). O apóstolo nos
avisa contra os atos indignos e a atitude indigna ao participar desse sacramento. Como pode
alguém participar indignamente? Praticando alguma coisa que nos impeça de claramente
apreciar o significado dos elementos, e de nos aproximarmos em atitude solene, meditativa e
reverente. No caso dos coríntios o impedimento era sério, a saber, a embriaguez.

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