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28 uo Secedie Dever DE CACA: A POESIA DE Cacaso ‘A. Mavis Donincues ne Quivrra Universidade Estadual Paulista ~ Assis Resume O esto perone a posse de Anno Carls de Bt, Caco ese sun obtain, A paler cea, ate seus Ulmos oem, cbservande come lito etext com a poe fi braslesacannica etorads pep poeta de format ‘ents Se os prmeiespoemas, patra ¢ de everenia¢ © tom dos longs texts €slen, ts itimos poemas os ‘esos de Caso assurem Un dean mn nee, monet «conc, reveindoo “ever de ea do tere de rapa, fue se vols pata a wadico poiea basen em busca do stimenc pas sua ob Aosta ‘Theor amines he poet product of Ann Cares de nto, Cacao, fom hs erie work Apalera cere, pt san poms, uresing how the terest ron eed hana raaton pry tirade oun varios nays inthe early poems is atades eee and he tone of the lng tts elem, telat prs Casein tae 2 more, bing and conceding the “hat ork” ofthe Brain sparrow oferty. which tars tothe ‘Brac potc ation ce nowdhmen for Bs work Felons ce Poesia marginal lnterecude eos Maria et ‘neta. ean Ds Oe Dowd ae ps do ase 27 bieum dado aural ds mins tert bom exo eo gue mais berm onde cana 0 xb descr no war de minha sna tootico de rptna guem lea me be CLeter", Cras) Da vida C.. = pseudonimo de Antonio Carlos Ferreira de Brito — nasceu em. Uberaba (MG) em 13 de margo de 1944. Depois de moras em cidades do interior de Sto Paulo, fixou residéncia no Rio de Janeiro, em Copacabana, onde viveu até sua morte, em 1987, vicina de um infsro, Bacharelou-se em Filosofia em 1969 pela Universidade do Brasil ¢ cursou 0 tmestrado em Letras na Universidade de Sto Paulo. Nas déeadas de 1960 e 1970, lecionow Teoria da Literatura e Literatura Brasileira na Pontificia Universidade Catolica do Rio de Janeiro, Ao mesmo tempo, escrevia paia periédicos como Opi nido e Movimento produzia poemase letras de msica, ‘Como letrsta, comps cangdes em parceria com Sueli Costa, Edu Lobo, Francis ‘Hime, entre outros. Seu primeito liv de poemas, A palavra cerzia, foi publicado ‘em 1967. Depois dessa primeira obra, publicou Grupo escolar (1974), Beijo na boca (1975), Segunda classe (1975, em co-autoria com Luiz Olavo Fontes), Na Reba de pars", Rate de Males (Campinas, ¥ 2, p. 78-9, 196, a Ha cs Oo, anc depen de Cae 33 "Nao suport eit cota bored que brota De minias macs Gees, que morte e tase, ‘Naxos de quem ere pedi a mink ce? © comhecido “Retro” de Cecilia Meireles, de seu livro Viagem (1939), € a referencia dbvia do poeta. Aqui, entretanto,diferentemenie do que acontece nos poemas de A palavra cercida, explicita-seafonte para reerié-I segundo uma nova Visio. No caso dos poems dos anos 70 e 60, seria possivel ver, de fato, poste em. prética 0 principio da imertextualidade segundo a concepcdo de Kristeva i ees consr comme mos de ations, ot ett pine ransormation tin aur tote Ale pee dele ration Faerun Ena ele Pintenuai, ee ngage posique elias moins, comme doable Para citar outro exemplo, veja-se 0 poema “Ji ja", de Mar de mineiro (1982): Sea more ¢ nein cre (que seis ten pr fae ases quero GU ns Tet, & td, Gate oa Sewer ma lor ds aes oi eno que vena ja as anes quero as mil mulheres marvias do atone stad Aor da ade Nresze? fue enka 8 more fas que enka, oma, « mesmo perme da lor do marie Benvinda benvinda 4 mie awe a mone veh je © poema rele a famosa *Cangao do exfio” de Casimiro de Abreu, que, por sua vez, uma releiura da “Cangio do exilo” de Goncalves Dias, Citoa primeira estroe: ‘See tee de moses m flor dos anos, Mee Devs ao sa, Es quero ouvi a lara, tarde, (Cantar oe [Nao € necessrio um grande empenko do leitor para perceberarelagio parédica ‘que se estabelece entre 0s poemas de Cacaso e de Casimiro de Abreu, Estdo pre~ ‘sentes em ambos a nogdo da morte prematura, a vontade de ouvir canto do sabi, a larenjelra, et. Oprépri titulo do poema de Cacaso parece ter sido retitade de uma cacofonia existente no final do segundo verso do poema de Casimiro: “seja ja". A silaba repetida € reeortada c transformada em titulo, razendo & tona novos aspectos parddicos, jf que a repetigio é um recurso intensificador do sentido da palavra.“}a “Juin Krister, “Baling, le mot, le dilgue ete voman", Cru, v 29, p. 43865. [Maan e Seale js" tem o sentido de algo muito mais imediato do que *}",acentuando ainda mais ‘a imingncia da morte, Alem disso, esse recurso ta2 a0 poema um ganho inegavel de coloquialidade, uma das marcas fortes da poesia de Cacaso posterior a 1970. 0 poeta assegura, assim, a seu poema, caracteristicas parddicas bastante eficentes e, além disso, desentranhadas do proprio texto orginal 11s ainda, uma outra referencia intrtextual no poema de Cacaso, evidenciada no final da segunda estrofe: as mulheres do sabonete Araxa, de Manuel Bandeira, que, no poeta original, s4o trés, aqui transformam-se em trés mil. Cacaso, além, ddeampliar o numero das mulheres, acrescenta a elas um atrbuto que condensa e cexpressa o deslumbramento revelado por Bandeira em seu poema: "tres mil mu: Theres maravilhas/do sabonete araxa". O uso do substantive com valor adjetivo, por sua vez, introduz no texto uma referéncia da cultura de massas: a mulher. ‘maravilha, protagonista de um seriado americano bastante popular nos anos 70, sem deixar de evocar também a expressio “as mil maravilas", corrente no port ues coloquial brasileiro, ‘A presenga das mulheres do sabonete Araxd pode se justficar também pelo aspecto sonoro, uma ver que as rimas para sabid marcam as muitas recriag6es da ‘Cancto do exilio” original de Goncalves Dias. A prova disso esta, por exemplo, nna "Cangao de ex facilitada” de José Paulo Paes (Meia palavra, 1973), compos ‘a apenas com palaveas sola que rimam com sabié we a sbi. pips sl ate ‘Arima estraturada em tomo da palavra “sabia, portanto, €uma das referencias ais fortes da *Cangto do exilio", também da maior de suas recriagbesfetas por outros poetas. Cacaso nio foge a regra Além diss, traz para o poema Mant cl Bandeira, ator de varios poemas que tematizam a morte, sobretudo a morte prematura. Talvez até mesmo seja Bandeira, em seu "Preparacao para a morte” (Estrela da tarde, 1960), a fonte para os versos finals de Cacaso, Em Bandeira “Bendita a morte, que € 0 fim de todos os milagres". Em Cacaso: * Benvinds benvinda a morte ‘A releitura da poesia brasileira feita por Cacaso nao detxa de fora nem mesmo seus proprios poemas. Em seu movimento de condensar o poeta retoma “Fibula” de A palavra cerzda e dele aproveita somente os dois primeiros versos, com outro tuuulo, em "Lar doce lar”, de Na conda bamba (1978): Fabula Miah psa € ina infnia, Aux as Oo, Devs de cys aia deca 35 “aver 0 barco conte deste perearso no tenpo. De como sei 9 een ‘eno de a xl, Minka pitria¢ sb a pel (Crp no mar denon Antigamente or conics De como que neds store em que es done a cenea como fact, ceagolnds propa Lina, De come se libra ‘9s mos pesos na oa co esto epanto vindo dat, dor gesos do inpenoe tae dover Mauri Masts Minka pra ¢ mia fini: Pot 5s vo no exo Ea diego solene do poems original, nada ficou. O titulo “Fabula*, cheio de £605 elssicos, foi substituido pelo cologuial “Lar doce lar". Os quatro quartetos {que se seguiam ao disticoinicial foram eliminados, Restaram os dois versos nici, ue concentram ¢ fundem ogoes de tempo (“minha infancia") com nogBes de «spaco (“patra” “exilio"). Ao mesmo tempo, #retniao, em apenas dois versos, das ralavras “infancia", “patria” e “exilio", az & tona novamente 6 mesmo Ca. simiro de Abreu ja evecado no poema citado anteriormente: volta sua “Cangio do cexilio™, agora acompanhada do nde menos conhecido “Meus oito anos" (Ob! que saudades gu tenho De autora da minha va Da minha nice guid (Que 9 nat no tazen mas! (Os dois versos de “Lar dace lt* roubados por Cacaso de seu poemna anterior, ‘abula”, de fato constituem um testersunho inegivel de sua eapacidade de con Aensagio e de aproveitamento hibil da tradigio, habilidades als indispensiveis aos poeta, i uma imagem eriada por Cacaso em uma de suas cangdes que poderia, da ‘mestra forma, condensar metaloricamente essas habilidades do préprio pocta: 0 “ticotico de rapina”. Sob 0 manto da cologuialidade, das coisas pequenss, do cotidinno, da espontancidade, enfim, da aparéncia quase insgnificante do tico. tico, sta ave de rapina, que se alimenta da tradigdo para renovar-se. Assim € a produeio da maturidade de Cacaso, ap6s os anos 70: na superficie, uma “conversa Ae tica-tieo”, coloquial, prosaica, mas estruturada e alimenteda em profundidade. pela substancial rapina da melhor tradicdo poética brasileira ealizada pelo esctiton

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