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1ª.

Parte

Gênero Leishmania
As leishmanioses

Prof. Maria Jania Teixeira


DPML/FAMED/UFC
Fonte: OMS, 2019

• 12 milhões de pessoas infectadas (leishmanioses)


Panorama mundial • 310 milhões sob risco (102 países)
das leishmanioses • +/-1 milhão de casos de LC - 300 mil casos de LV
(cutânea e visceral)
Importância na Saúde
Pública
• Expansão e Urbanização (LV):
Campo Grande, Natal, Teresina, Fortaleza,
Porto Alegre, etc.

• Co-infecção: Leishmania/HIV
Agente etiológico das
leishmanioses
Leishmania

Protozoário intracelular obrigatório

*Supergrupo: Excavata
• Grupo: Euglenozoa
• Subgrupo: Kinetoplastea
(Presença do cinetoplasto)
• Gênero: Leishmania
(20 espécies causam doença
humana)

*Classificação proposta pela Sociedade Internacional


de Protistologistas – baseada na ultra-estrutura,
genética e biologia molecular. Amastigota de Leishmania spp.
(Adl et al., 2005)
Agente etiológico das leishmanioses:
Leishmania

Formas evolutivas:

A A. Amastigota – intracelular
(hospedeiro vertebrado)

B. Promastigota – extracelular
(hospedeiro invertebrado e meio
de cultura)

B
Aspectos morfológicos - Promastigota

Mede de 15 a 20 µm
cinetoplasto
núcleo Forma alongada (fusiforme)
flagelo

Núcleo grande e central (N)

Cinetoplasto (K) próximo à


extremidade anterior e a
base do flagelo

Flagelo exteriorizado -
região anterior (F)
Habitam o aparelho
digestivo dos
insetos vetores (HI)

Foto: M.J. Teixeira


núcleo Aspectos morfológicos
Amastigota
cinetoplasto

C
Macrófago
N

- Mede 2 a 5 µm (M.O ou M.E)


- Formas arredondadas/ovaladas

- Sem flagelo externo (F)


- Núcleo volumoso e excêntrico (N)
Intracelulares,
habitam células do - Cinetoplasto bem visível (C)
SFM dos HV

Foto: M.J. Teixeira


Espécies do gênero Leishmania que parasitam o homem
(Lainson & Shaw, 1987)

Subgênero Leishmania Subgênero Viannia


Leishmaniose L. (Leishmania) donovani L. (Viannia) braziliensis
visceral no L. (L.) infantum* L. (V.) guyanensis
mundo
L. (L.) chagasi (Américas) L. (V.) panamensis
L. (V.) peruviana
L. (L.) tropica L. (V.) lainsoni Leishmaniose
Leishmaniose cutânea ou
cutânea (Velho L. (L.) aethiopica L. (V.) naiffi tegumentar
Mundo) (Américas)
L. (L.) major L. (V.) shawi
L. (L.) killicki
L. (V.) colombiensis
L. (L.) mexicana L. (V.) lindenbergi
L. (L.) amazonensis
L. (L.) venezuelensis L. chagasi = L. (L.) infantum
L. (L.) pifanoi *Li e Lc são geneticamente idênticas

L. (L.) garnhami
Tropismo das leishmanias
Subgênero

Velho Mundo

Américas

Principal tropismo Viscerotrópica Dermotrópica Dermotrópica Mucotrópica


Vetores - flebotomíneos
- Insetos dípteros, pequenos, gostam de
ambientes sombreados, com temperatura
entre 20 e 30oC Comprimento: 2 a 4 mm

Ordem: Diptera Antenas: 14 flagelômeros


cilíndricos
Família: Psychodidae
Pilosidade
Subfamília: Phlebotominae
Gêneros:
Plebotomus (VM)
Lutzomyia (Américas)
Abdome
♀≠♂

Leishmaniose tegumentar: Cibário

Lutzomyia intermedia, Lu. whitmani,


Lu. wellcomei, Lu. migonei
Palpos
Pernas: Maxilares
longas e finas (artículos)
Leishmaniose visceral:
Lu. longipalpis e Lu. cruzi (Mato grosso)
Reservatórios das leishmanioses
Reservatórios: mamíferos
§ Leishmaniose tegumentar – Brasil:
roedores, edentados (tatu, tamanduá), Bolomys spp. Rattus rattus
marsupiais (gambá), e outros (depende espécie causadora)

§ Leishmaniose visceral - Brasil:


canídeos (cão, raposa)
Mecanismos de transmissão

• Vetorial: através da picada de


fêmeas de flebotomíneos. Fêmea de flebotomíneo
adulto fazendo repasto
Ø Inoculam promastigotas (ingurgitada)
metacíclicas durante o repasto
sanguíneo

• Transfusão de sangue?
• Transmissão congênita?
nAmastigota intracelular
Hospedeiro
mamífero
nProlliferação
nFagolisossomo

nRuptura
nCaptação

Ciclo nRe-invasão

biológico nInteração

(heteroxênico) nPicada do inseto nPicada do inseto

nPromastigotas metacíclicas

nAmastigotas

nPromastigotas procíclicas

CHAPPUIS, 2007
Flebotomíneo nProliferação no intestino do vetor
Homem - doença
Fatores do
Parasito

Diversidade de
Formas Clínicas

Fatores Fatores do
Ambientais Hospedeiro
Aspectos clínico-patológicos
manifestações clínicas

• Formas tegumentares:
Espectro clínico
Cutânea (LCL)
Cutânea Difusa (LCD)
Mucocutânea (LMC ou LCM)
Cutânea Disseminada (LD)

• Forma visceral:
Leishmaniose Visceral (Calazar) - LV
Leishmaniose tegumentar americana

• Cutânea localizada (LCL)

Várias espécies de Leishmania envolvidas

Infecção localizada no local da picada do


flebotomíneo

Úlcera típica: “aspecto de cratera lunar”,


indolor, com bordas elevadas, fundo
necrosado, com/sem exsudação

Parasitos abundantes no início da infecção e


escassos nas úlceras crônicas.

Pode ser autolimitada

Neves, Parasitol. Humana, 12ª ed., 2012


Leishmaniose tegumentar americana
• Mucocutânea (LMC)
(0-10% dos casos cutâneos)

Espécie envolvida: Leishmania braziliensis

Lesão secundária que atinge as mucosas


do nariz, boca e faringe

Pode surgir na vigência da lesão primária


ou tempos depois da sua “cura”

Inflamação exacerbada (ausência de


parasitos)

Complicações respiratórias por infecções


secundárias.
Leishmaniose tegumentar americana
• Cutânea Difusa (LCD)
Espécie envolvida: L. amazonensis (40%)

Caracteriza-se por anergia do organismo


à L.a.

Lesões múltiplas, não ulceradas,


nodulares e se disseminam pelo corpo
(grande número de parasitos)

Curso crônico, progressivo e não


responde ao tratamento

Rey, Parasitologia, 2008


Leishmaniose tegumentar americana

• Cutânea disseminada (LD)


Pode ser observada em 2% dos casos
de LTA

Espécies envolvidas: Lb 230


e La BJID 2006; 10 (June)

Múltiplas lesões papulares, maculares,


Disseminated Cutaneous Leishmaniasis: A Patient with 749 Lesions

nodulares e acneiformes (face e no


tronco).

Indivíduos imunossuprimidos: AIDS,


alcoolismo, outras doenças
imunossupressoras (Lúpus, etc.)

Fonte: A.Q. de Sousa, 2006


Leishmaniose
Visceral
Espécie envolvida - L. infantum

Visceralização das amastigotas:


Hepato-esplenomegalia (Baço e Fígado)

Redução do tecido hematopoiético na Medula Óssea:


- Pancitopenia (anemia/leucopenia/plaquetopenia)
- Imunossupressão

Hipoalbuminemia e hipergamaglobulinemia Þ inversão


no proteinograma

Emagrecimento progressivo com ascite, e caquexia (em


uma fase crônica mais duradoura)

90% de mortalidade nos casos não tratados.


Fonte: MS/Brasil
Diagnóstico
das
leishmanioses

Deve-se basear em:

v Achados clínicos

v Aspectos
epidemiológicos

v Exames laboratoriais
Diagnóstico Laboratorial

o Parasitológico:
– Exame direto
• LT: Biópsia (pequeno pedaço da borda) da lesão
• LV: Aspirado M.O – punção Baço e Fígado?
• Aspirado de Linfonodo (LV e LT)

Confecções de lâminas coradas


Obtenção de material de lesão cutânea (Amastigotas intracelulares)
Diagnóstico Laboratorial
o Parasitológico:
– Exame indireto
o Isolamento do parasito em meio de cultura (in vitro)

§ Material de biopsia (LT) ou aspirado de M.O (LV)


§ Meio de cultura (N.N.N + Schneider/LIT) – pH 6,0
§ Cultivo: 23-25oC (temp. intestino do vetor)
§ 7-14 dias (Amastigota - Promastigota)
Imunológico

o Sorologia
- Pesquisa de anticorpos
- RIFI, ELISA, k39 (imunocromatográfico)
- Apresentam bons resultados (LV)
Diagnóstico
Laboratorial o Intradermorreação de Montenegro
(IDRM)
- Avalia resposta imune celular contra o
parasito
- Resultado positivo - indica infecção; em
alguns casos, doença ativa (ex. LCM)
Intradermorreação de Montenegro (IDRM)

• Inoculação intradérmica de
Leishmania (promastigotas mortas)
na face interna do antebraço. 0,1mL

• Verificar reação inflamatória local


(nódulo ou pápula) 48-72h após
inoculação.

• Teste é considerado reagente


>5mm

LCD e LV (at*) - Não reagente


LCL, LCM e LV (pt*) - Reagente

*at e pt = antes e pós-tratamento


www.tulane.edu
Tratamento
• Drogas de Primeira Escolha:
Antimoniais pentavalentes (Sb+5)
§ Glucantime® (Brasil)
§ Pentostam® (não comercializado
no BR)

• Inconveniências: via de aplicação I.M.


ou E.V.; administração diária (20-40
doses), cepas resistentes às drogas.

• Efeitos colaterais: toxicidade cardíaca


e hepática, teratogênica, artralgias,
mialgias, náuseas, vômitos, etc.
Tratamento
• Drogas de Segunda Escolha:

Anfotericina B lipossomal:
desoxicolato de Anfotericina B
Pentamidina: Isotionato ou
Mesilato de pentamidina

Inconveniências: Efeitos
colaterias (Isuf. renal, alterações
cardíacas, etc), via de aplicação
I.M ou E.V., alto custo Anfotericina B

• Outras drogas utilizadas (Brasil):


Mitelfosina e Fluconazol (oral)
¯ X
Controle dos Prevenção e Controle dos
vetores
Controle reservatórios

Tratamento dos indivíduos doentes


Profilaxia e controle A transmissão ao homem tem caráter:
domiciliar e peridomiciliar (na LV); - caráter
extra-domiciliar (na LT)
Medidas cabíveis:

1. Prevenção do contato com o vetor - uso de


repelentes, mosquiteiros e telas em portas e
janelas; construção de casas a uma distância
mínima da mata (500m).

2. Combate aos insetos adultos - uso de


inseticidas (piretroides) em áreas de
transmissão (domicílio e peridomicilio) (LV).

3. Controle dos reservatórios (LV) - eutanásia de


cães infectados em áreas de transmissão
urbana e periurbana, uso de coleiras (com
deltametrina).

4. Notificação e tratamento precoce dos casos de


infecção humana: a) Diminui a morbidade da
infecção; b) Permite a busca ativa em áreas de
alta incidência ou de difícil acesso
Controle dos reservatórios (cão)
Profilaxia e
Controle Ponto de vista epidemiológico:

ü Parasitismo cutâneo intenso: fonte de infecção para o


vetor
ü Principal elo na cadeia de transmissão doméstica.

o Cães infectados podem desenvolver ambas as formas:


cutânea e visceral

o Apesar da natureza viscerotrópica da L. infantum as


manifestações de pele são as mais frequentes

o Imunossupressão: doenças oportunistas

o Tratamento: Cura clínica transitória, mas sem cura


parasitológica (recidiva)

o Não há ainda vacina com ótima eficácia comprovada


Coleira impregnada com
deltametrina (repelente
preconizado para
flebotomíneos)
Bibliografia consultada
• COURA, R.J., Dinâmica das Doenças Infecciosas, vol. 2, cap.66, Editora
Guanabara Koogan, 2005.
• DE CARLI, G. A., “Parasitologia Clínica - Seleção de métodos e técnicas de
laboratório para o diagnóstico das parasitoses humanas”, 2ª ed. Editora
Atheneu, 2007.
• REY, L., “Parasitologia”, 4ª ed., Editora Guanabara Koogan, 2008.
• NEVES, D.P., “Parasitologia humana”, 13ª ed., São Paulo: Editora Atheneu,
2016.
• FERREIRA, M.U., FORONDA, A.S. & SCHUMAKER, T.T.S., “Fundamentos
Biológicos da Parasitologia Humana”, 1ª ed., Editora Manole, 2003.
• FERREIRA, M.U., “Parasitologia Contemporânea, 1ª ed., Ed. Guanabara
Koogan, 2012.
• AMATO-NETO, V., GRYSCHEK, C.B., AMATO, V.B. & TUON, F.F.,
Parasitologia – Uma Abordagem Clínica, 1ªed., Editora Elsevier, 2008.

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