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EU DESIMPEDIDO E AUTÔNOMO?

GÁLATAS 2.20

Rev. Nátsan P. Matias

INTRODUÇÃO:
Uma filosofia chamada de Individualismo, de um modo mais simples para que a gente possa
compreender melhor para nossa exposição, defende que o paraíso, o Éden para o ser humano é
o fato desse indivíduo ser livre, autônomo. De modo que possa governar a si próprio, sem que
tenha necessariamente que seguir regras impostas de quaisquer dogmas ou autoridades. Que
o homem é como um átomo solto no vazio, onde se atraem ou se repulsam de acordo com os
interesses, sem ligações superiores além de si mesmos.
O individualismo, que tem como um de seus defensores Nietzche, sustenta que podemos
até convivermos em sociedade, que de todo não é ruim, desde que a esse indivíduo seja
garantida a liberdade para criar suas próprias regras. Entre outras coisas, Nietzche defendia
essa espécie de liberdade radical e a repulsa a imposição de uma moralidade que pode ser
encontrada na tradição. O que danifica a plena liberdade são as imposições de grupos diversos
que acaba colocando limites para a autonomia de cada individuo. Em resumo mais ainda, o que
o individualismo de outras coisas prega a ideia do “EU DESIMPEDIDO” sem laços morais ou
cívicos que eles não decidiram ter. Para esse pensamento a maior conquista desse ser humano
é ter de volta a sua natureza livre, para poder criar a si mesmos, suas próprias regras.
Aspectos da sociedade desta época, influenciados diretamente por este tipo de pensamento
filosófico:
O eclético jovem pós-moderno (O Eclético é relativo ao ecletismo, que se trata de método filosófico ou científico
que reúne diversos enunciados, deixando de lado o que essas teses, pensamentos ou ideias têm de incompatíveis entre si. O
filósofo francês Vítor Cousin, defensor do ecletismo, destaca que cada pessoa é detentora de uma verdade que coopera com a
formulação de uma verdade total. Uma Pessoa eclética é aquela que se advoga proprietária da liberdade para escolher o que
se julga melhor, na política, nas artes, na religião etc.)
Deslimite, prazer e liberdade – uma combinação perigosa
Superação, uma atitude pouco praticada Uma pessoa resistente é aquela que “segura as pontas”, resistindo
a situações de pressão. Já uma pessoa resiliente, além de suportar a pressão, aprende com as dificuldades e os
desafios, usando sua flexibilidade para se adaptar e sua criatividade para encontrar soluções alternativas”)
Materialismo e consumo, dois ídolos do jovem pós-moderno (coisificação das pessoas e
personificação das coisas – usar as pessoas como coisas e as coisas como pessoas) Zigmund
Bauman

Por que estou trazendo isso aqui? Porque consigo ver claramente nos dias atuais um tipo de
crente com essa filosofia individualista, que não admite normas, preceitos ou códigos que lhes
impeçam de agir como bem entenderem em relação aos seus pressupostos , onde rompe com
tudo aquilo que lhe impõe limites. (Exemplo do debate sobre comunicação... “Eu sou crente
com meu jeito de ser...” Por isso não vejo problemas em me associar com coisas que “vocês
crentes velhos e quadrados” julgam como sendo torpes)
Obviamente que aqui não estou entrando no aspecto da liberdade que devemos usufruir
em termos políticos, de expressão, de religião, etc, mas sim no fato de que junto a isso, eu
queira ser auto governável, “auto-nomos”. Minha vida, minhas regras. Esse último aspecto
pode ser comum, e é, para uma pessoa não religiosa, não cristã, por assim dizer.
Mas você vai entender a diferença do que me refiro, no decorrer da exposição de único
versículo aqui de nossa exposição
O versículo 20 é o resumo final dos versículos anteriores quanto à obra Justificadora e
graciosa do Evangelho de Cristo.
Este versículo conclusivo destaca princípios que evidenciam a salvação graciosa proposta
pelo evangelho, princípios que precisam gerir a minha vida, se de fato me considero um cristão,
não autônomo, desimpedido, livre para criar minhas próprias regras, seguindo a orientação da
corrente do atual século, cujos pensamentos tentam falsificar o caminho seguro.
Quais são eles?

EXPOSIÇÃO 010 – GL 2.20


PRINCÍPIO 01 – RENDIÇÃO (ENTREGA TOTAL)
“LOGO JÁ NÃO SOU EU QUEM VIVE...”
Dr. Jerome Groopman, médico americano, autor do livro “Anatomia da
esperança” afirma que: “A esperança ... pode dar ânimo ao paciente para que ele continue a
lutar pela sua melhora. Ela inspira coragem para superar o medo durante um processo difícil
de tratamento...É da esperança que ele tira a energia para continuar tentando – para não se
render, mesmo quando sabe que são poucas as possibilidades de sobrevivência.” Sem sombra
de dúvidas, acredito que essa resiliência é sim muito positiva.
Há um poema de autor desconhecido que numa de suas frases diz assim: Não te rendas,
por favor, não cedas, Não te rendas, por favor, não cedas,
Um poeta mais famoso, no poema “Invictus”, William Ernest Henley, escreveu: "Sou o
mestre do meu destino, sou o capitão da minha alma."
Paulo Vieira, um dos famosos coachs brasileiros, que vem sendo usado para construção de
uma espécie de uma pseudo-teologia coach, sustenta uma espécie de formação pragmática de
comportamentos a base de sugestões de modo que o ser humano, no conhecimento de sua
“plasticidade neural”, pode ocasionar novos comportamentos a partir de si próprio, ignorando
ou rejeitando outros costumes que impedem sua crença na autorrealização. Ele chama a fé
religiosa, ou quaisquer outras crenças de crenças limitantes. Crença para ele não tem e nem
deve ter quaisquer ligação com religião, mas sim uma espécie de conexões neurais, que vão te
libertar para que você se auto governe, que seja realmente livre.

Seria uma boa teologia coach para nós e nossa própria redenção pessoal, se no meio do
caminho não encontrássemos essa pedra “Logo já não EU quem vive...” No que tange à
salvação - Comparativamente é exatamente o contrário que Paulo fala aqui. Paulo fala de
Rendição – renúncia, resignar-se – Para viver (cf. Mt.5.3 – Humildes de espírito herdam a vida
eterna). Rendição que demonstra submissão a um mais forte.
Paulo defende que a única maneira de salvação – “logo...” (além do mais), é o
reconhecimento de que sem esta rendição não há qualquer chance de ser salvo, o
cumprimento das promessas começam com a rendição a graça de Deus em Cristo. Não mais
lutar para encontrar formas quaisquer para ser justo.
“Logo...” a palavra "logo" é utilizada como uma conjunção conclusiva, indicando uma
consequência lógica da primeira parte da frase para a segunda parte. Ou seja, o final do
vers. 19: “estou crucificado com Cristo...”
Paulo diz: “logo já não eu...” encontrei alguém que supera logicamente a mim
mesmo. Diante de tamanha santidade eu não tenho qualquer chance de prevalecer por
mim mesmo para satisfazer a perfeição exigida por Deus, a não que renuncie a minha
própria vida.
Esta rendição foi exigida à Paulo, Pedro, Tomé, João, aos irmãos da Galácia e
também a mim e a partir dela fomos feitos filhos de Deus pela Graça de Cristo Jesus.
Não há mais nenhuma necessidade de buscar auto-justificação, a não ser a
rendição à justificação Graciosa de cristo. Eu fui crucificado, não vivo eu mais, AFIRMA PAULO
Aplicar: Compreenda esta necessária rendição, renúncia de uma vida menor, finita, por uma
maior eterna por causa da obra de Cristo. Sua salvação requer rendição a Deus. Renda-se! A
Graça é o recurso para libertar o pecador e colocá-lo na condição de justificado diante de Deus.

PRINCÍPIO 02 – IDENTIFICAÇÃO
“MAS CRISTO VIVE EM MIM...”:

W. Hendrikssen diz sobre essa frase de Paulo: “Portanto, ‘é Cristo mesmo que agora vive em
mim: é dele que recebo toda minha força. Nele confio plenamente. Em sua justiça, a qual me
foi imputada, fundamento toda minha esperança para a eternidade. ‘Em Cristo, a Rocha sólida,
estou apoiado; qualquer outro solo não passa de areia movediça ”
“Mas...” essa é uma conjunção adversativa em relação a afirmação anterior. Uma conjunção
adversativa é usada para conectar duas ideias contrárias ou opostas, indicando uma oposição
ou uma ressalva entre elas. Ou seja, Não vivo eu.... primeira ideia, mas... a ressalva da frase,
enfatizada pela conjunção: CRISTO VIVE EM MIM.
Cristo VIVE: Zāo – vive, ou seja, podemos afirmar que Paulo está dizendo: Não eu que tenho
vida, mas Cristo vivo, tem o poder sobre minha própria vida e tem o poder sobre a minha alma.
Está no presente, ativo - O tempo presente é usado para descrever ações que estão
ocorrendo no momento em que são relatadas, bem como para expressar verdades universais e
situações habituais. O tempo presente ativo é usado para descrever ações realizadas pelo
sujeito da frase. E o sujeito da frase é CRISTO, Paulo é quem recebe vida de Cristo, e continua
recebendo enquanto fala, enquanto existir. Isso é identificação contínua,
No entanto, não se trata apenas uma questão de verbalização de determinada frase.
A salvação enfatizada pelo evangelho ressalta a identificação com Cristo, identificação em
tudo, na sua rejeição, morte e ressurreição Paulo destaca que estamos, como cristão,
identificados com cristo, crucificados nele. Mortos para nós mesmos.
Porém, para nos fortalecer, não é somente no padecimento, mas também na consolação
estamos identificados com ele. Somos convocados a procedermos no mundo tal qual ele : 1
João 1:6 Se dissermos que mantemos comunhão com ele e andarmos nas trevas, mentimos e
não praticamos a verdade.; 1Jo.3.6 Todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo
aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu; (1 João 2:6) “aquele que diz que
permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou.” ou ainda “Porquanto para
isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos
exemplo para seguirdes os seus passos,” (1 Pedro 2:21)
Há 4 vezes em que o verbo VIVER aparece apenas no vers. 20, e todos relacionados com
essa identificação com Cristo. Ele impõe vida sobre Paulo e somente Jesus pode fazer isso.

Aplicar: A identificação com cristo é o alvo do verdadeiro cristão. Pergunte-se: tenho sido
confundido com cristo? Às vezes gostamos de ser comparados com os melhores deste mundo.
Mas não somos chamados para parecer com ninguém senão com cristo. Sua vida não pode ser
usada para ofuscar a imagem de cristo, mas para refleti-la. Cristo VIVE no verdadeiro salvo por
um ato de pura graça. É dele, de Cristo, que recebo condição para viver crendo na minha
salvação e justificação!

PRINCÍPIO 03 – MOTIVAÇÃO
“ESSE VIVER QUE TENHO NA CARNE, VIVO PELA FÉ NO FILHO DE DEUS...”
O texto destaca a razão principal da existência a fé no filho de Deus. Paulo no verso anterior
afirma fui crucificado com Cristo. Isso aconteceu no passado, mas que influencia o seu
presente e seu futuro. “tenho sido crucificado com cristo” – afetando permanentemente sua
relação com Deus. Observe mais uma vez o verbo viver, como um ato contínuo de Jesus na
vida de Paulo.
Esse aspecto é destacado pela fé que é o fôlego de nossa existência como aceitos no céu
pela Graça Justificadora de Cristo. Não pode haver mudança plena somente com o
despojamento das regras da lei, mas também com o preenchimento das certezas de que a Cruz
de Cristo nos dá: só vivo por causa do filho de Deus, que por mim morreu e me deu garantia de
salvação. Nisso ponho toda minha confiança (fé)
Não é uma espécie de Fé na fé (Lembrar da minha primeira bicicleta – a tigrão – em
Pirapora)
O sentido da vida justificada se encontra na fé que me dá convicção da perfeita obra de
Cristo, uma fé que me convence que só existo por ele e para ele.
O apóstolo, no entanto, não caiu na inexistência, não foi privado de sua vida. Paulo pensa,
come, bebe, se cansa, se entristece, chora, ri, mas há agora uma união muito forte de sua
pessoa com O senhor. Cristo é o meio pelo qual Paulo pode existir e manter comunhão com
Deus. É em Jesus que ele encontra razão pra viver, mesmo sendo pecador rumo à perfeição
no céu.
W. Hendrikssen, escreveu: “Ele ainda é Paulo, o indivíduo que pensa, exorta, testemunha,
se regozija. No entanto, o laço que o une a seu Senhor é muito forte e íntimo, porquanto é a
união da fé.”
João Calvino também esclarece quando escreveu no seu comentário de gálatas:
"Pela fé, não obtemos somente um conhecimento da bondade de Deus para conosco, mas
também um amor ardente para com ele, de modo que, dedicando-nos a ele de todo o
coração, repousamos em sua bondade com completa confiança. Nada é melhor do que
descansar nesse amor. É necessário que, como Paulo, estejamos crucificados com Cristo e
que Cristo viva em nós, para que o Espírito Santo nos transforme em um novo ser."

O pronome pessoal “eu” aparece 12 vezes nos vers. 19-21, o que reflete uma salvação, uma fé
muito pessoal. Ninguém pode substituir a relação pautada pela fé entre Paulo e o filho de
Deus.

Aplicar: Esteja convicto de que a morte de cristo na cruz significou a sua também e que só por
ela você existe. Você não é capaz de simplesmente pela observância de ritos religiosos obter a
salvação, a salvação é pela fé. Essa que possibilita a sua existência e sua entrada no céu.

Conclusão:
1. Veja bem o que afirma o versículo e verifique se é possível você ser um cristão com um EU
AUTONOMO? Não! Não é possível. GRAÇAS A DEUS!
2. SIM! O crente é escravo de Jesus, GRAÇAS DEUS. o cristianismo tem regras estabelecidas
por ele e não se pode deixar de seguir os passos dele e pensar que continua sendo cristão.
3. Sua fé não pode ser eclética, o crente não deve perder o senso dos limites bíblicos para
elaborar aquilo que lhe dê prazer e liberdade, olhando para cruz ele é motivado para ser
resiliente e acima de tudo sendo escravo de Cristo ele sabe que seu tesouro maior está no
céu e não aqui, por isso mesmo que lhe falte os bens “duráveis” não lhe faltará o bem maior
que é eterno.

“ aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou.
(1 John 2:6)

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