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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CCSA – CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS – BACHARELADO
TURMA 2021.1
CINTIA CAMILLA SOARES AZEVEDO
CINTIA.CAMILLA@UFPE.BR

O Surgimento do Racismo no Brasil

RECIFE, 2021
O Surgimento do Racismo no Brasil

Há muitos séculos os negros sofrem apenas por ter a cor de pele mais
escura. Não tem como falar de racismo sem contar a história da escravidão no
Brasil, foi por volta da década de 1530 que ela se estabeleceu no país, a
princípio foram escravizados os nativos indígenas, como conta Lília Moritz
Schwarcz, em Racismo no Brasil, entretanto, foram substituídos pouco a pouco
pelos africanos que chegavam no país pelo tráfico negreiro, por volta dos
séculos XVI e XVII. A escravidão no Brasil foi cruel e desumana, a quantidade
de africanos trazidos ao país nessa época foi tão grande que a imagem da
escravidão foi associada à sua cor de pele, negra.
Dentro desse tempo, inúmeras formas de resistência dos escravos foram
desenvolvidas, foi por meio de revoltas, fugas coletivas e individuais, criação de
quilombos e mocambos, entre muitas outras, que os escravos conquistaram
gradativamente a sua liberdade, com o importante ponto de partida em 1850,
quando foi considerado a proibição do tráfico negreiro, por meio da Lei Eusébio
de Queirós. Foi então, 38 anos depois, que foi aprovada depois de muita pressão
de toda a população, a Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel, que
determinava o fim da escravidão no Brasil. Entretanto, a lei não previu nenhum
projeto de sociedade e política pública ampla aos negros libertos e seus
descendentes, que não tinham comida e nem onde morar. Pelo contrário, foram
apenas largados e tornou-se crime manifestações culturais ou religiosas de
origem negra além do desenvolvimento de teses racistas e higienistas por
cientistas, e, assim, começou uma nova luta e um novo sofrimento para eles, os
antigos escravos se tornaram agora vítimas de violência, falta de acesso aos
estudos e a falta de boas oportunidades, que por muitas vezes por não ter ao que
recorrer entravam para vida do crime para ter o que comer e iam construir
favelas para morar.
E foi assim que nasceu o racismo no Brasil, e, infelizmente, o preconceito
que eles sofrem ainda é uma realidade atualmente, sendo a população negra a
mais afetada pela desigualdade e pela violência no país, de acordo com a
Organização das Nações Unidas (ONU). Dados de 2015 mostram que os
brasileiros brancos ganham o dobro de salário que os negros, a ONG britânica
Oxfam, dedicada a combater a pobreza e promover a justiça social, afirma que
apenas em 2089, brancos e negros terão uma renda equivalente no Brasil, isso
apenas se a desigualdade continuar diminuindo no ritmo que está atualmente.
Além desse triste fato, a situação é ainda pior quando falamos de
mulheres negras. Como citado no texto ‘Enegrecer o Feminismo: A Situação da
Mulher Negra na América Latina a Partir de uma Perspectiva de Gênero’, ainda
é intacta as relações de gênero segundo a cor ou a raça definidos no período da
escravidão, segundo a autora, mulheres negras têm identidade de objeto. Essas
mulheres são as maiores vítimas de violência doméstica, violência obstétrica,
mortalidade materna e feminicídio no Brasil, dados do Mapa da Violência 2015,
da Faculdade Latino-Americana de Estudos Sociais, mostram que entre 2003 e
2013 o número de mulheres negras assassinadas cresceu 54%, enquanto o de
mulheres brancas diminuiu 10%. José Murilo de Carvalho argumenta: a
igualdade de todos perante a lei, como determina o artigo 5 da Constituição, é
balela. Em seu texto ‘Brasileiro: Cidadão?’ ele cita um exemplo de
desigualdade com uma mulher negra que vivenciou e afirma que existe sim
diferença de tratamento entre brancos ricos e negros pobres, dizendo ainda que
tudo isso acontece em um país em que o capítulo de direitos políticos da
Constituição está em pleno funcionamento.
Ao mesmo tempo, esses fatos nos mostram que vivemos apenas em uma
falsa sensação de democracia, o sociólogo e professor Octavio Ianni afirma que
o governo é exercido em favor de interesses restritos, em detrimento da maioria,
de tal maneira que o povo é levado a sentir-se diferente, estranho ou excluído,
ou seja, que ainda não ocorreu a consolidação da democracia, e isso atinge,
especialmente, as mulheres negras. A luta dessas mulheres contra a opressão de
gênero e de raça vem incentivando e fortalecendo a ação política feminista e
antirracista na sociedade brasileira.
Falando agora sobre os jovens negros, os dados continuam absurdos,
mostrando que esses jovens são 80% dos que morrem violentamente, em
relação aos brancos. A quantidade de negros jovens procurando emprego é
quase o dobro, sendo 4,36 milhões de negros e 2,32 milhões de brancos
desempregados. Mais de 65% dos jovens que não estudam e não concluíram o
ensino superior são negros, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com Boaventura de Sousa Santos, a
injustiça histórica do colonialismo hoje continua sob a forma de racismo, de
discriminação racial, que tem excluído os jovens negros de uma educação de
qualidade, sobretudo universitária. O professor conta também toda que toda a
lógica do neoliberalismo que vivemos é uma lógica contra a educação e contra a
ciência, que não quer necessariamente cortar a pesquisa, mas sim direcioná-la
de maneira autoritária para as aplicações tecnológicas, industriais e de serviços.
David Harvey conta em seu livro a história do neoliberalismo, que afirma
que o pressuposto de que as liberdades individuais são garantidas pela liberdade
de mercado e de comércio é um elemento vital do pensamento neoliberal e o
professor Benamê Kamu Almudras conta casos de situações neoliberais que
conheceu, de alunos que se acham no direito questionar seus professores
universitários com coisas que não fazem se quer sentido, e um deles afirma
‘Parece revolução, mas é só neoliberalismo’. No Brasil, o modelo de Estado
neoliberal começa sua consolidação a partir do governo de Fernando Henrique
Cardoso, em 1994, quando foi retrocedido o investimento público em saúde,
educação, moradia, etc. e a privatização de setores econômicos como
telecomunicações, ferrovias, rodovias, setor elétrico, etc. A estrutura do Estado
foi remodelada através do sucateamento dos serviços prestados à população, o
esmagamento dos salários dos trabalhadores e a terceirização. Isso levou ao
empobrecimento da população trabalhadora, em sua grande maioria, negros, que
agora teriam que recorrer a empregos pouco qualificados, com baixa
remuneração e proteção social, se popularizou os trabalhos de ‘bico’ entre os
negros. Sob as condições do capitalismo neoliberal, a política se converterá em
uma guerra mal sublinhada, uma guerra racial, explica Achille Mbembe.
O racismo foi também extremamente presente no fascismo. Inúmeros
fatos comprovam que atualmente vivemos em um governo fascista. Um estudo
realizado por Theodor Adorno mostra que pessoas com personalidade
autoritária, característica do atual Presidente da República, tendem muito mais a
aceitar e praticar o fascismo e um dos exemplos da tendencia autoritária, citado
por Tiago Bernardon de Oliveira, foi o golpe de 2016, aplicado a ex-presidente
Dilma Rousseff. Derrotar o fascismo é um dos passos para derrotar o racismo,
afirma o pesquisador Osvaldo José da Silva, contando também que documentos,
dados antropológicos científicos e testemunhos demonstram que uma das
grandes características do fascismo na modernidade possui como estrutura a
dominação de uma elite branca, que se consideram eleitos para oprimir,
escravizar, torturar e matar pessoas de etnias diferentes.
Com essa perspectiva, ficou claro de que nada de bom está em pauta
quando falamos sobre racismo. Esse problema, que persiste no Brasil desde a
era escravocrata até os dias de hoje é um dos maiores sofrimentos para os
negros, que têm dificuldades até para arrumar um emprego, e que muitas das
vezes não conseguem se quer caminhar nas ruas e até em lojas do país sem
serem vistos como alvos. É de fato um sofrimento que só quem é negro sente na
pele. Tristemente, esse preconceito está longe de acabar, mas, aos poucos, segue
diminuindo, com políticas públicas e leis que visam a igualdade e inclusão de
todos, a luta continua.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Racismo no Brasil, 2001


CARVALHO, José Murilo de. Brasileiro: Cidadão?, 1998
IANNI, Octavio. Raízes da Antidemocracia na América Latina
OLIVEIRA, Tiago Bernardon de. O golpe de 2016: breve ensaio de
história imediata sobre democracia e autoritarismo
SANTOS, Boaventura de Souza. A democracia que temos não tem futuro
HARVEY, David. O Neoliberalismo: história e implicações
MBEMBE, Achille. A era do humanismo está terminando
ADORNO, Theodor. A Personalidade Autoritária
ALMODURAS, Bename Kamu. Parece revolução, mas é só
neoliberalismo
Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a
partir de uma perspectiva de gênero
https://www.ihu.unisinos.br/publicacoes/563765-a-democracia-que-
temos-nao-tem-futuro-entrevista-com-boaventura-de-sousa-santos
https://www.geledes.org.br/enegrecer-o-feminismo-situacao-da-mulher-
negra-na-america-latina-partir-de-uma-perspectiva-de-genero/?noamp=available
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/parece-revolucao-mas-e-so-
neoliberalismo/
https://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil/escravidao-no-
brasil.htm
https://brasilescola.uol.com.br/historiab/a-resistencia-dos-escravos.htm
http://www.fpc.ba.gov.br/2020/05/1800/Pos-abolicao-no-Brasil.html
https://www.cartacapital.com.br/sociedade/seis-estatisticas-que-mostram-
o-abismo-racial-no-brasil/
https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/trabalho-e-formacao/
2020/11/4888994-negros-de-14-a-29-anos-desempregados-sao-quase-o-dobro-
dos-brancos.html
https://www.correiocidadania.com.br/colunistas/consciencia-negra/1889-
04-06-2008-neoliberalismo-capital-financeiro-e-a-populacao-negra
https://www.generonumero.media/fascismo-racismo-brasil-eua/

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