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m R C IO XAVIER COELHO

FUNDAMENTOS DA
RESPONSABILIDADE
CIVIL ESTATAL
m I ■ /

EDITORA I
FUNDAMENTOS DA
RESPONSABILIDADE CIVIL ESTATAL
MÁRCIO XAVIER COELHO

FUNDAMENTOS DA
RESPONSABILIDADE
CIVIL ESTATAL

EDITORA
Roberto Antonio Busato
P re s id e n te d a O A B e P re s id e n te H o n o rá rio d a O A B E D IT O R A

Jefferson Luis Kravchychyn


P re sid e n te E xe c u tiv o d a O A B E D IT O R A

Francisco José Pereira


E d ito r

Rodrigo Pereira
C a p a e P ro je to G ráilc o
(F o to da c a p a d e M a rc e lo G alli)

Usina da Imagem
D ia g ra m a ç ã o

Dacio Luiz Osti


fíei'/sáo

Aline Machado Costa Timm


S e cre tária E xe c u tiv a

C o n se lh o E d ito ria l
Jefferson Luis Kravchychyn (P reside n te )
Cesar Luiz Pasold
Hermann Assis Baeta
Pauto Bonavides
Raimundo César Britto Aragâo
Sergio Ferraz

X3f Xavier, Mareio Coelho


Fundamentos da responsabilidade civil estatal. -
Brasília; OAB Editora, 2005.
96 p.

1. Direito 2.Responsabilidade do Estado. I. Título

347.51

ISBN - 85-87260-49-9

EDITORA
SAS Quadra 05 • Lote 01 • Bloco M
Edifício Sede do Conselho Federal da OAB
Brasília, DF ■ CEP 70070-050
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Aos que cuidam de nosso país, cuidando de si mesmos.
Aos que constrocm nosso país, cuidando do próximo.
AGRADECIMENTOS

A D eus, m in h a fortaleza.
À Lilliane M aia R o drig ues, m e u p o rto seguro.
A os m e u s p a is A tair Xavier d e Faria e M aria L u iza C oelho
Xavier, base só lida d e m e u d e se n v o lv im e n to h u m a n o .
À s m in h a s irm ãs G ilm ara C oelho Xavier e A le x a n d ra C oelho
Xavier, p elo ca rin h o e respeito q u e g u a r d a m p o r m im .
A os m e u s fam iliares e am igos, cuja a m iz a d e se fez fecund a
e m m e u coração.
A os pro fissio n ais q u e a ju d a m a p ra tic a r o d ire ito e m busca
d a justiça.
A to d o s que, d ire ta e in d ire ta m e n te , c o n trib u íra m p a ra a ela­
b o ra ç ã o d e s ta obra, esp e cialm en te a O rd e m d o s A d v o g a d o s do
Brasil, m in h a p ro f u n d a gratidão.
E s e o levassem dali à força, obrigando-o a galgar a áspe­
ra e escarpada subida, e não o largassem antes de tê-lo ar­
rastado à presença do próprio Sol, não crês que sofreria e se
irritaria, e uma vez chegado até a luz teria os olhos tão ofus­
cados por ela que não conseguiria enxergar uma só das coi­
sas que agora chamamos realidade?"

P la tã o
SUMÁRIO

1 IN T R O D U Ç Ã O ..............................................................................................15

1.1 DELIMITAÇÃO DO T E M A ............................................................16

1.2 DEFINIÇÕES E T E R M IN O LO G IA S ......................................... 16

2 EVOLUÇÃO DO INSTITUTO NO ORDENAM ENTO


JU RÍDICO B R A S IL E IR O ............................................................................. 17

2.1 PERÍODO C O L O N IA L ...................................................................18

2.2 PERÍO DO IM P E R IA L .................................................................. 18

2.2.1 Constituição Política do Império do Brasil,

de 25 de março de 1 8 2 4 .......................................................... 18

2.3 PERÍODO R E P U B LIC A N O ......................................................... 22

2.3.1 Constituição da República dos Estados Unidos


do Brasil, de 24 de fevereiro de 1891 .................................... 22

2.3.2 Constituição da República dos Estados Unidos

do Brasil, de 16 de julho de 1 9 3 4 .......................................... 26

2.3.3 Constituição da República dos Estados Unidos

do Brasil, de 10 de novembro de 1 9 3 7 ................................. 28

2.3.4 Constituição da República dos Estados Unidos

do Brasil, de 18 de setem bro de 1946................................... 30


2.3.5 Constituição do Brasil, de 24 de janeiro de 1967 .... 31

2.3.6 Em enda Constitucional n. 01, de 17 de outubro

de 1969 ........................................................................................ 31

2.3.7 Constituição da República Federativa do Brasil,


de 05 de outubro de 1 9 8 8 ................................. 33

3 TEO RIAS ACERCA DA RESPONSABILIDADE CIVIL ESTATAL ... 34

3.1 TEO RIA REGALIANA OU DA IRRESPONSABILIDADE .... 36

3.2 TEORIAS CIVILISTAS DA R E S P O N S A B IL ID A D E ............... 38

3.2.1 Teoria dos atos de império e de g e s tã o ...................... 39

3.2.2 Teoria da responsabilidade subjetiva

pela preposição c iv il................................................................... 41

3.3 TEO RIAS P U B L IC IS T A S .............................................................43

3.3.1 Teoria da culpa administrativa (faute du se rv ic e ) 44

3.3.2 Teoria do risco a d m inistra tivo ........................................ 47

3.3.3 Teoria do risco in te g ra l.............. 48

4 FATO GERADOR DA RESPONSABILIDADE CIVIL ESTATAL;


ALGUM AS H IP Ó T E S E S ...............................................................................50

4.1 ACIDENTES A U T O M O B ILÍS TIC O S ..........................................50

4.2 REVOLTAS, GUERRILHAS E G U E R R A ..................................55

4.3 SEG UR ANÇ A PÚBLICA E P EN ITE N C IÁ R IA ..........................58

4.4 DANO AO MEIO A M B IE N T E ......................................................62

4.5 DANO N U C L E A R .......................................................................... 63

4.6 LEGALIDADE E XTR AO RD IN ÁRIA............................................65


5 FORMAS DE COM POSIÇÃO DO DANO: C AR ACTERÍSTICAS

E S P E C IA IS .......................................................................................................66

5.1 PRO CESSO A D M IN IS T R A T IV O ............................................... 67

5.2 PRO CESSO J U D IC IA L ................................................................ 69

5.2.1 Privilégios p ro c e ss u a is ....................................................70

5.2.2 Pagamento ao credor: regras co n stitu cio n a is 76

5.2.3 Ação re g re s s iv a ................................................................ 86

6 CONCLUSÃO ................................................................................. 87

7 R E F E R Ê N C IA S ........................................................................................... 90
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B ILID A D E C IV IL ESTATAL - .......... 15

1 INTRODUÇÃO
C om a consolidação d o s E stados m o d e rn o s , n o ta d a m e n te os
im b u íd o s d o ideal dem o crático, perso nificou-se u m a e s tru tu ra
jurídica q u e p a ss a v a a a d m in is tra r n o interesse coletivo. Logo,
p a s so u -s e a co n v iv e r com u m a no v a re alid ad e, p o is já n ã o se
p o d ia m ais n e g a r aos a d m in istra d o s a c o n d u ç ã o d e interesses
q u e a te n d e s s e m aos fins sociais e estivesse b a se a d a n a g a ra n tia e
m a n u te n ç ã o d e direitos.
A ssim , a d m itin d o a existência d e falhas na c o n d u ç ã o da a d ­
m in istração , p a s s a ra m os E stados a tra ta r de corrig ir os d a n o s
ca u sa d o s, le g itim a n d o to d o s aqu eles q u e so fre rem d a n o s a plei­
tea r a d e v id a reparação.
C urioso n o tar a evolução d o assu nto e suas m o d a lid a d e s, tanto
sob o â n g u lo d e seu d es e n v o lv im e n to histórico, q u a n to re la tiv a ­
m e n te às posições a d o ta d a s. O certo é q u e d e u m m o d o o u o u ­
tro, a re s p o n sa b ilid a d e civil da A d m in istraçã o Pública está in-
culcada n as o rg an izaçõ es estatais.
N ã o se p o d e o lv id a r o rá p id o d e se n v o lv im e n to d a s relações
sociais e a n ec essid ad e de in te r\ enção estatal p a ra s u a regulação,
o q u e desafia a m o b ilid a d e d este instituto p ara a d e q u a r-se a cada
situ ação surgida.
A r e s p o n sa b ilid a d e civil d o E stado sinaliza s e g u ra n ç a d e seus
atos e re sp eito aos d ireito s d o s cidad ãos, m a n te n d o o equilíbrio
d a s relações jurídicas en tre A d m in istraçã o e A d m in is tra d o s .
1 6 - ...... - M Á R C IO X A V IE R C O E L H O

1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA


A a tiv id a d e estatal é com plexa e se e ste n d e e m d iv e rso s n í ­
veis d e c o m p e tê n c ia , re p a rtin d o -s e a in d a e m três fu n ç õ es ou
" P o d e re s " , co m o assim são c h a m a d o s o Executivo, o Legislativo
e o Judiciário.
E m b o ra seja o E stado falível em q u a lq u e r nível d e c o m p e tê n ­
cia, o u e m q u a is q u e r d e su as funções, o p re s e n te tra b a lh o d esen -
volve-se a b o r d a n d o u m a a tiv id a d e específica, q u al seja, a a d m i ­
nistrativ a, n ã o tra ta n d o exclu siv a m e n te so b re o P o d e r E xecuti­
vo q u e c u id a p re c ip u a m e n te d a a d m in istra ç ã o e m geral, m a s a
to d a s as fu n ç õ es d o E stad o q u e p ra tiq u e m atos a d m in istrativ o s.
P o rtan to , t u d o o q u e se d isser em term o s d e re s p o n sa b ilid a ­
d e d a A d m in is tra ç ã o P ública, d ev e ser e n te n d id o com o a res­
p o n s a b ilid a d e da e n tid a d e estatal, to d a s as v ez es q u e atu a , p o r
seus agentes, ó rg ã o s e en tid a d e s, exe rce n d o atos m e ra m e n te d e
ad m in istraç ão , inclu sive p ra tic ad o s p elo Legislativo, Judiciário
e d e m a is ó rg ã o s constitucionais.
O u tro s s im , lim itam o -n o s a a b o rd a r o tem a ex c lu siv a m e n te
so b re a r e s p o n s a b ilid a d e aq u ilian a , n ã o a d e n t r a n d o n o s atos
co n tra tu a is d a A d m in istraçã o Pública, q u e se re g e m p o r regras
e p rin c íp io s pró p rio s.

1.2 DEFINIÇÕES E TERMINOLOGIAS


S e g u n d o o en s in a m e n to d e M aria Silvia Z anella di P ie tro ’ , o
co rreto é d iz e r q u e há re s p o n sa b ilid a d e d o E stad o e n ã o d a A d ­
m in istra çã o P ública, p o rq u a n to a p e rs o n a lid a d e jurídica, o u seja,
a titu la rid a d e a trib u íd a às p esso a s p a ra o exercício d e direito s e
obrigações, é a trib u íd a à e n tid a d e estatal e n ã o à d esig n a ç ã o g e ­
nérica d e A d m in istraçã o Púbica.

' D ireito Adm in istra tivo. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 511.
F U N D A M E N T O S DA R E S P O N S A B ILID A D E CIVIL E S T A T A L ------------- 1 7

A c o n c lu sã o d a d o u t a p ro f e s s o ra d e v e ser c a lo ro s a m e n te
a p la u d id a , p o is o b se rv o u com m aestria os f u n d a m e n to s d a p e r ­
s o n a lid a d e jurídica. E n tretanto, p re ferim o s a d esig n a ç ã o g e n é ri­
ca d e A d m in is tra ç ã o Pública, u tiliz ad a em q u a s e to d a s as o b ra s
juríd icas, a te n d e n d o aos fins d este trabalho, v is a n d o d e se n v o l­
v e r a re s p o n sa b ilid a d e d o s ato s d e ad m in istração .
Portanto, ao referir-se à A dm inistração Pública, m enciona-se
todos os níveis d e com petência d as entid ades estatais, inclusive por
seus órgãos descentralizados. De u m m o d o geral, tu d o o q ue se
disser sobre o nom e de A dm inistração Pública, se estará d ize n d o
d e todas as pessoas, que, a teor d o m an d a m e n to constitucional, res­
p o n d e m pela reparação d o dan o provocado pela atividade estatal.

2 EVOLUÇÃO DO INSTITUTO NO
ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
O e s tu d o a p r o f u n d a d o d o s institutos jurídicos n ã o p o d e d is ­
p e n s a r o co n h e cim en to histórico q u e auxilia a ciência d o direito.
P o rta n to , o e s tu d o siste m a tiz a d o d a s tran sfo rm açõ e s q u e o s fa­
tos so frem n o correr d o te m p o é m é to d o in d isp e n sá v e l, u m a vez
q u e se d e v e p ro c u ra r nos m o ld es p re té rito s a lição d e ix a d a e
co n fo rm á-la com a re a lid a d e p a ra os erro s n ã o se p e rp e tu a re m .
D essa form a, n ão só os in stitu to s jurídicos m e re c e m o b s e rv a ­
ção, m a s to d o o contexto social a q u e estão s u b m e tid o s n o te m ­
p o e espaço. A ssim , a p ó s a verificação d a s s e m e lh a n ç a s e dife­
re n ças d a so c ie d a d e n o tem p o , tais com o as d e o r d e m política,
cu ltu ra l, fam iliar e d e m a is seg m en to s d e a tu a ç ã o h u m a n a , d e v e
p ro c e d e r-se à c o m p a ra ç ã o d o d ireito objetivo p re té rito com o
d ireito objetivo p resen te, c o m p re e n d e n d o -s e nesta g lo sa g e m a
apreciação d a s leis, d a d o u trin a , da ju ris p ru d ê n c ia , d o s c o s t u ­
m es, e, a in d a , d o s prin cíp io s gerais d e direito.
1 8 M Á R C IO XAVIER C O E L H O

C o m p re e n d id a s as falh as d o m o d e lo p retérito , tona-se m ais


s e g u ro o a p r im o r a m e n to e co m p re en são d o d ireito v ig e n te p a ra
torn á-lo m ais claro, eficaz e justap o sto , co n fo rm e o s cla m o res
sociais, m o tiv o ú n ico d a existência d o direito. Verificar-se-á com
isto u m a m e lh o r cognição d a gênese, form ação, co n so lid aç ão e
te n d ê n c ia s d a m a té ria e m n o sso o rd e n a m e n to jurídico.
O a s s u n to tra z id o a lu m e p o s su i larga d iscu ssão , e hoje, em
especial, com a elevação d o E stado n o m ais im p o rta n te , e m b o ra
n ã o ú nico, en te m o d ific a d o r d as e s tru tu ra s sociais.

2.1 PERÍODO COLONIAL


N ã o h a v e n d o a existência d e u m " E sta d o ", m a s sim d e u m a
"C olônia", n ã o se p o d e falar e m re s p o n sa b ilid a d e d a A d m in is ­
tração Pública n este período.
C o m o n ão p o d e ria ser d e outra form a, v igorava e m no sso ter­
ritório o o rd e n a m e n to jurídico p o rtu g u ês, q u e p o r su a v e z aco­
lhia os p o stu la d o s d a teoria d a irresp onsabilidade d o Estado.
O ra, a d o ta n d o a C o ro a P o rtu g u e s a a teoria d a g ra ça d iv in a
d o rei, na q u a l este era escolhid o p o r D e u s p a ra g o v e rn a r, e p o r
isso m e s m o a v o n ta d e d este era a v o n ta d e d a q u e le , o m e s m o
to rn av a -se irre sp o n sáv el, assim com o a p ró p ria A d m in is tra ç ã o
Pública, q u e se c o n fu n d ia com o p ró p rio g o v ern an te.

2.2 PERÍODO IMPERIAL


2.2.1 Constituição política do Império do Brasli,
de 25 de março de 1824
C o m a in d ep e n d ên cia política, su rg iu o p ro b lem a d e se estab e­
lecer a u n id a d e nacional e a afirm ação d o p ró p rio Estado, e isso
só ocorreria com o a d v e n to de u m o rd e n a m e n to jurídico p róprio,
o q ue foi feito, ten d o sido o u to rg a d a a C arta Política d e 1824.
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B ILID A D E C IV IL E S TA TA L 19

A in d a q u e a C o n stitu içã o d e 1824 te n h a sid o o u to rg a d a pelo


Im p e r a d o r, n ã o a b d ic a n d o d e seus priv ilég io s, m a n te n d o e m
p rim e iro p la n o o seu status d e m o n a rc a , n o ta d a m e n te com a
im p la n ta ç ã o d o P o d er M o d e ra d o r, d e q u e h o u v e , n ã o resta d ú ­
vidas, g r a n d e s av a n ço s na seara d a r e s p o n s a b ilid a d e civil da
A d m in istra ç ã o Pública.
A m aio ria d o s d o u trin a d o re s p re g a m q u e n ã o h o u v e n o Bra­
sil a pre v alên c ia d a tese d a irre sp o n sa b ilid a d e d a A d m in is tr a ­
ção P ública, p o is os ag e n tes d a ad m in is tra ç ã o e r a m civilm ente
re sponsáv eis, s e n d o esp o n tâ n e o p re s u m ir q u e isto im plicaria em
so lid a rie d a d e co m o erário e, n a tu ra lm e n te , aí estaria a essência
d a re s p o n sa b ilid a d e d a A d m in istraçã o Pública.
A ssim , " n o Brasil, n ã o p a ss a m o s p ela fase d a irre sp o n sa b ili­
d a d e d o Estado. M esm o à falta d e d isp o siç ão legal específica, a
tese d a re sp o n sa b ilid a d e d o P o d er Público s e m p re foi aceita com o
p rin c íp io geral e fu n d a m e n ta l de D ireito" {Sérgio C avalieri Fi­
lho, 2000, p. 163).
Celso A ntônio Bandeira de Mello- é taxativo ao afirm a r q u e
e m nosso país n unca foi adm itid a a tese d a irre sp o n sab ilid a d e da
A dm inistração Pública. R obustece sua afirm ativa com a citação
d e a lg u n s dispositivos legais, os quais foram postos e m v igo r ao
te m p o desta constituição, tais com o o Decreto 1.930, d e 26 d e abril
d e 1857 (relativo aos d a n o s ca u sad o s p o r serv id o r pú blico e m es­
trad a d e ferro) e o Decreto 9.417, d e 25 d e abril d e 1885.
Ao seu m o d o , p o ré m n ã o d e ix a n d o d e a p r e s e n ta r as citações
d e A m a ro C avalcanti, D io g en e s Gasparini"' re v e la -n o s q u e no
p e r ío d o im p e ria l n ã o h av ia q u a lq u e r d isp o siç ão geral q u e aco-

^ C uida d e fu n d a m e n ta r suas a firm ativas nas palavras de m estres co m o A m a ro C avalcanti, Ruy


Barbosa, Jo ã o Luiz A lves e Se ab ra Fagundes: op. dl. 2001, p. 831/834.
= O p .c //., 2001, p. 833/834.
2 0 M Á R C IO X A V IE R C O E LH O

lhesse a re s p o n sa b ilid a d e p atrim o n ial d o E stado, e m b o ra esta


fosse a d o ta d a e m leis e decretos específicos, in fo rm a n d o , d e n tre
o u tro s, o D ecreto d e 8 d e janeiro d e 1835; o D ecreto d e 1" de
d e z e m b ro d e 1845; o D ecreto d e 22 d e jan eiro d e 1847, q u e re s­
p o n s a b iliz a v a m o T eso u ro Público pelo extravio, p o r c u lp a o u
fra u d e d o re sp ectiv o funcionário, d e objetos re co lh id o s às su a s
caixas e cofres.
D e a c o rd o com o m ag istério d e H ely L opes M eirelles^, d e s d e
o Im p é rio foi p ro c la m a d a a ad o ç ão d a teoria d a re s p o n s a b ilid a ­
d e sem culpa, o q u e n ã o aconteceu, to d av ia, haja vista q u e a teo­
ria d o s civilistas co n se g u ira m e lh o r aceitação à época.
S e g u n d o M aria Silvia Z anella di P ie tro ^ o E stad o n ã o a s s u ­
m ia a resp o n sa b iliz açã o d ire ta e n e m ta m p o u c o a a trib u ía exclu­
siv a m e n te a seus agentes. Era, pois, a esta épo ca constitucional,
solidária com estes.
A m aio ria d o s d o u trin a d o r e s são te n d e n te s e m a firm a r q u e a
A d m in istra ç ã o Pública a d o ta v a a tese d e sua resp o n sab ilização ,
em b o ra d e m o d o m e n o s a p a ren te , conform e fossem c u lp a d o s os
ag e n te s p ú b lic o s n a prática d e seu s atos.
A s afirm ativ as acim a são b e m convincentes, m o rm e n te q u a n ­
d o p ro f e rid a s p o r r e n o m a d o s ju ristas. E n tre ta n to , o a m o r ao
d e b a te se faz n ec essário , to rn a n d o p o ssív el u m a o u tr a v isã o d o
assu n to .
N e sse m o m e n to histórico, p e n sa m o s, erigia-se o E stad o com o
en te irre sp o n sá v e l n o s atos p ra tic a d o s em nível d e A d m in is tr a ­
ção Pública, a d m itin d o , tão-som ente, a re sponsabilização d e seu s
a g e n te s e m casos específicos, se m p re p re v ia m e n te d e fin id o s em
n o rm as.

‘ Op. c /f.,2 0 0 1 , p. 612/613.

^ Op. c/f., 2001, p. 516.


F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B ILID A D E C IV IL E STATAL 21

Só p a r a exem plificar, citam os em nível con stitu cio n al o item


29 d o artig o 179 d a C o n stitu ição d o Im pério, verbis: " O s e m p r e ­
g a d o s p ú b lic o s são estritam ente re sp o n sá v e is p e lo s a b u s o s e
o m issõ e s p ra tic a d o s n o exercício d e s u a s fu nções e, p o r n ã o fa­
z e re m e fetiv am en te resp o n sá v eis ao s seus su b a lte rn o s" .
Verificar-se-á, ain d a , q u e os itens 30 e 35 d o artigo 179 ta m ­
b é m p re v ia m ex p re ss a m e n te a resp o n sa b iliz açã o d a A u to rid a ­
d e P ública, n o s casos q u e especifica, e m n a d a m e n c io n a n d o da
r e s p o n sa b ilid a d e d a A d m in istraçã o Pública.
C o m a in stitu içã o d e leis posterio re s, fo ram c ria d a s n o v as
m o d a lid a d e s d e re sp o n sa b ilid a d e, to d av ia, d e s tin a d a s a p esso ­
as d ife re n te s d o s se rv id o re s c o n v e n cio n ais d a A d m in is tra ç ã o
P ública, referia-se aos V eread o res e C o n selh eiro s d e Estado.
D eve ser le m b ra d o , tam b ém , q u e a C o n stitu içã o d o Im pério
n ã o sujeitava a p esso a d o Im p e r a d o r à re s p o n sa b ilid a d e a lg u ­
m a, e n q u a n to , e m seu art. 143, p re o c u p a v a -se e m d e te rm in a r e
a d m itir a re s p o n sa b ilid a d e d o s C o n selh eiro s d e E stad o, p elos
conselhos q u e d e r e m o p o sto s às leis e aos interesses d o E stado,
m a n ife sta m e n te dolosos.
C om isso, o E stado n ã o estav a a d m itin d o s o lid a rie d a d e pelo
d a n o c a u s a d o p o r seus agentes, m u ito pelo co n trá rio , seu objeti­
vo era n ã o to rn a r o serv id o r público, seja d o m ais b aix o o u do
m ais alto p o sto d a ad m in istraç ão , irre sp o n sá v e l na p rática de
seu s atos, to rn a n d o -a , g u a r d a d a s as d e v id a s p ro p o rç õ e s , com
p o d e re s tão su p e rio re s aos d o p ró p rio Im p e ra d o r, p o is so m en te
esse era o ú n ico " a g e n te " d a A d m in is tra ç ã o Pública brasileira
q u e n ã o e n c o n tra v a lim itações e m seu s atos, p o r ser s u a p esso a
inviolável e sag rada.'’
D aí n ã o h a v e r n a d a expresso neste sentido. O E stado adm itia

^ V er artigo 99 d a C on stitu içã o d o Im pério.


2 2 - ........— M Á R C IO X A V IER C O E L H O

a falha d e se u s servidores, e re s g u a rd a v a direito s d e terceiros


lesados, p e r m itin d o a responsabilização d aq u e les, d ire ta e re s­
tritam en te, s e m q u a lq u e r colaboração com a e n tid a d e estatal.
Assim , o E stad o legislava as h ipó teses d e falhas d e su a a tiv id a ­
d e a d m in istrativ a p ra tic ad as p o r seu s agentes, p o is n ã o in cid in d o
n a h ip ó te se d a lei, n ão hav e ria d e se falar em responsabilização,
in clu siv e d o p ró p r io agente.
A dem ais, conform e os dispositivos constitucion ais vistos, n ão
verificar-se-á a h ip ó tese d e contribuição d o erário p a ra p a g a m e n ­
to d o s d a n o s p ra tic a d o s pelos servidores, tem -se é a p re v is ã o de
resp o n sa b iliz açã o estrita d o servid or, p ra tic a d a s nos m o ld e s d o
d ireito p r iv a d o , en tã o vigente.
D esta form a, ao m en o s em tese, o E stado era, na época, irres­
p o nsável p o r seus atos adm inistrativos, pois, "prevalecia, co n tu ­
do, o princípio d e q u e o servidor, q u a n d o p o r ação o u om issão
p rovocav a u m d a n o a terceiros, n ão agia legitim am ente em n o m e
d o Estado, m as com o servidor com excesso d e representação, pelo
q u e era p esso alm en te responsável pela rep aração d o d a n o ' /
F u n cio n av a com o se fosse a d o u trin a d a leg a lid a d e em d ire i­
to p en a l, e m que, h a v e n d o a c o n d u ta descrita na lei, hav e ria o
d a n o a ser ressarcid o pelo servidor, caso a c o n d u ta n ão estivesse
descrita na lei, inexistiria d a n o a ser ressarcid o pelo servidor.
A ssim , a cu lp a era d ireta e estrita d o serv id o r, situ açã o na
q u a l o erário n ã o participava.

2.3 PERÍODO REPUBLICANO


2.3.1 Constituição da República dos Estados Unidos
do Brasil, de 24 de levereiro de 1891
Sob o D ecreto d e n. 01, d e 15 d e n o v e m b ro d e 1889, n a Sala

^ P etrónio Braz, M anual de D ireito Adm inistrativo, LED Editora, Leme/SP, 1999. p. 556.
FU N D A M E N TO S D A R E S P O N S A B ILIO A O E C IV IL E S TA TA L 2 3

d a s Sessões d o G o v e rn o P rovisório, o C h efe d o G o v e rn o P ro v i­


sório - M arech a l M an u e l D e o d o ro d a Fonseca, fez sab er a p r o ­
clam a ção d e g o v e rn o d a N ação Brasileira a R epública F ed erati­
v a, e s tab e lece n d o as n o rm a s p elas q u a is se d e v e ria m re g er os
E stad o s Federais.
O G o v e rn o P rovisório d a R epública d o s E stad o s U n id o s do
Brasil, c o n stitu íd o p elo Exército e a A rm a d a e m n o m e e assenso
d a N ação, p elo D ecreto n. 510, d e 22 d e ju n h o d e 1890, p u b lic o u
a C o n stitu içã o d o s E stad o s U nidos d o Brasil, h a v e n d o e n tra d o
e m vigor, d e p ro n to , a m atéria especificada n o artig o 3", re feren ­
te ao P o d e r Legislativo.
Tratou-se d e o rdem jurídica provisória, até a elaboração da C ar­
ta C onstitucional que, em 24 de fevereiro d e 1891, pelos " re p re ­
sentantes d o p o v o brasileiro, re u n id o s em C on g resso C o n stitu in ­
te, p a ra o rg a n iz a r u m regim e livre e d e m o c rá tic o " ’^, estabelece­
ra m e d ec reta ram a C onstituição d o s E stados U n id o s d o Brasil.
A C onstitu ição, a p ó s p ro p o s ta d e e m e n d a s a p r o v a d a s pelas
d u a s C â m a ra s d o C o n g resso N acional, n as sessões o rd in á ria s de
1925 e 1926, sofreu e m e n d a s em 1926.
N essa fase constitucional, com o na anterio r, n ã o h av ia d is p o ­
sitivo constitucio nal exp resso sobre a re s p o n sa b ilid a d e estatal
p o r ato s ad m in is tra tiv o s c a u sa d o re s d e d an o . E n tre ta n to , note-
se, já se vivia u m m o m e n to diferente, n ã o m ais se tin h a u m E sta­
d o U n itá rio Im perial, m a s sim u m a R epública F ed erativa.
E n tre ta n to , com o na o rd e m con stitucio nal an te rio r, a C o n sti­
tuição R ep u b lican a m a n te v e a p revisão d e re sp o n sa b iliz açã o dos
fu n c io n á rio s públicos, pois "os fu n cionários p ú b lico s são estri­
ta m e n te re sp o n sá v e is p e lo s ab u so s e om issões, e m q u e in co rre­
re m n o exercício d e seus cargos, assim c o m o pela in d ulgência

** P a rle integrante d a C arta Política,


2 4 •• - — M Á R C IO X AV IE R C O E L H O

OU negligência em n ã o re sp o n sa b iliz are m e fetiv am en te os seus


subalternos".'^
O u tro s sim , com a existência d e m u d a n ç a s rad icais na e s tru ­
tu ra d o E stado, m o d e la d o à con dição d a q u e la so cied a d e, in s p i­
ra d a e m m o v im e n to s liberais, o u tro n ão p o d e ria ser o s e n tim e n ­
to d e re sp o n sa b iliz açã o estatal.
S en d o este p e r ío d o m a rc a d o p o r conflitos in tern o s, m u ita s
fo ram as a titu d e s p ro v o c a d a s p elo s p o d e r e s a d m in is tra tiv o s ,
p rin c ip a lm e n te p elo P o d e r C entral, q u e a to d o cu sto q u e ria a
d estru iç ã o d o s resq uícios d o regim e im perial.
N ã o havia, c o n tu d o , u m a conscientização d a re s p o n s a b ilid a ­
d e d a A d m in is tra ç ã o Pública, pois o P resid en te F loriano Peixo­
to, ao p ro c e d e r u m a reform a u rb a n a na capital d o país, n o m e a n ­
d o com o P refeito d o D istrito F ederal, e m 1892, C â n d id o Barata
Ribeiro, tra to u este d e p e rse g u ir v e n d e d o re s a m b u la n te s, d e m o ­
lin d o q u io sq u e s e cortiços, re sta n d o à p o p u la ç ã o a sa íd a p a r a os
m o rro s, n o s q u a is e r g u ia m se u s casebres. A p e sa r d e existir à
época u m a lei q u e p re v ia a co n stru ç ão d e casas p o p u la re s a se­
re m a lu g a d a s p elos operários, esta n ão teve aplicação, te n d o os
p o p u la r e s , p o rta n to , p re ju íz o p ro v o c a d o p e la A d m in is tr a ç ã o
P ública, sem , c o n tu d o , ter a p o ssib ilid ad e d e re p a ra ç ã o d o d an o ,
haja vista o colapso social existente.
P revaleceu, tam b ém , a tese de q u e o E stad o só se re s p o n s a b i­
lizaria, n o s casos cujos seus ag e n tes p ro c e d e sse m d e ac o rd o com
os m a n d a m e n to s d o G o v e rn o N acional, pois, le m b ra n d o o e p i­
só d io d a "R evolta d a E s q u a d ra " e m 1910, n o Rio d e Janeiro, v e ­
rificou-se q u e o Judiciário e n te n d e u isen tar o E stad o p e lo s ato s
p raticad o s pelos revoltosos, pois q u a n d o p raticad o s p o r tais nessa
con dição, d e ix a v a m d e ser p re p o s to s daqu ele.

®A rtigo 82 d a C on stitu içã o de 1891.


F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C I V I L E S T A T A L ----------- 2 5

C o m m u ita p ro p rie d a d e , o professor José C retella Júnior'" traz


citações d e fatos o co rrid o s n esse p erío d o , q u e refletem a re s p o n ­
s a b ilid a d e d a a d m in istra ç ã o brasileira em se u s asp ecto s, ain d a
c o n s tru tiv o s p elo s pretórios.
A exem p lo, tem -se o episód io d o " B o m b ard eio d e M a n a u s" ,
n o q u al a M arin h a d e G u e rra N acional b o m b a rd e o u a c id a d e d e
M a n a u s , a m a n d o d o G o v e rn o N acional, a fim d e q u e a m esm a
se su b m etesse. P ro ce d id o o b o m b ard e io , h o u v e a ocorrência de
d an o s, ocasião n a q u al os p o p u la re s atin g id o s re s o lv e ra m in te n ­
ta r ju n to ao P o d e r Ju diciário ação p a ra a re p a ra ç ã o d o s d a n o s
co n tra o E stado, a p rin cíp io n ã o lo g ra n d o êxito, m as, p o s te rio r­
m en te, a lg u n s ju lg ad o s co n feriram d ireito a essas p esso a s p a ra
o b ter o d e v id o re ssa rcim en to p elos d a n o s sofridos.
E n tre ta n to , d a d a a n ã o -lu c id e z co n stitu c io n a l e legislativa
so b re o a ssu n to , m u ito se há d e lo u v a r o P o d e r Judiciário, p o r ­
q u e em to d a s as vezes q u e foi in sta d o a m an ife sta r-se , o fez com
s a b e d o ria , o b s e r v a n d o os p rin c íp io s m ais c o n c la m a d o s p elo
povo.
A p e sa r d a p o u ca im p o rtân cia d a d a pela C o n stitu içã o ao as­
su n to , as leis o rd in á ria s tra ta ra m d e fixar a re s p o n sa b ilid a d e d o s
fu n c io n á rio s p o r ab u so s o u om issões n o exercício d e su as ativi­
d ad e s. É ex e m p lo a Lei n. 221, d e 1894.'*
Por fim, com o o p e n s a m e n to jurídico já h av ia fixado a re s­
p o n sab ilizaç ão d a A d m in istraçã o Pública, re so lv e u -se o p ro b le ­
m a da lacu n a d a lei com a criação d a m ais im p o rta n te lei civil, o
p ró p r io C ó d ig o Civil brasileiro (Lei n. 3.071, d e 1" d e jan eiro de
1916), u m m a rc o p a r a to d o o o rd e n a m e n to ju ríd ic o nacional.

M anual de D ireito Adm in istra tivo, 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1992, p. 357/363.

" Artigo 13. O s ju iz e s e Tribunais Federais proce ssa rã o e ju lg a rã o a s ca u sa s que se fundarem


na lesão de d ire ito s individuais por a tos ou d ecisõ e s das auto rid a de s a dm in istrativa s da União.
2 6 M A R C lO X AV IE R C O E L H O

d e v id o à su a im p o rtân cia com o o rd e n a d o r e o rie n ta d o r d a soci­


e d a d e civil.
O C ó d ig o Civil trato u especificam ente so b re o assu n to , em
seu art. 15, d is p o n d o d a form a seguinte;

[...] A r t . 15. A s p e s s o a s j u r í d i c a s d e d i r e i t o p ú b l i c o s ã o civil-


m e n te re sp o n sá v e is p o r atos d e se u s re p re s e n ta n te s q u e , n essa
q u a l i d a d e , c a u s e m d a n o s a te rc e iro s, p r o c e d e n d o d e m o d o c o n ­
t r á r i o a o d i r e i t o o u f a l t a n d o a d e v e r p r e s c r i t o p o r L ei, s a l v o o
d i r e i t o d e r e g r e s s o c o n t r a o s c a u s a d o r e s d e d a n o . [...]

2.3.2 Constituição da República dos Estados Unidos


do Brasil, de 16 de julho de 1934
C o m a R evolução d e 193Ü, h o u v e u m a tran sfo rm açã o radical
d a so cied a d e, tra ç a n d o n o v a s p rio rid a d e s com o o en sin o p ú b li­
co, legislação trabalh ista, m oralização de c o stu m e s e o u tro s, p o ­
rém , to d o s v o lta d o s a políticas sociais. T odavia, com o fortaleci­
m e n to d o to talita rism o d e direita e a p o lariz açã o m u n d ia l, as
elites q u e c o n tro la v am a so ciedade, a in d a e m in e n te m e n te a g rá ­
ria, colocaram o E stad o a seu serviço. C o m isso, b u s c o u -se na
d ita d u ra d o E stad o N o v o o seu sucesso.
C o m o D ecreto n. 19.398, d e 11 de n o v e m b ro d e 1930, foi in s­
titu íd o o G o v e rn o P rovisório d o s E stados U n id o s d o Brasil, e de
seu s d ez o ito artigos, m ere ce m d e s ta q u e os seguintes:

[...] A r t i g o 1" ( c a p u t ) - O G o v e r n o P r o v i s ó r i o e x e r c e r á d i s c ric i -


o n a ria m e n te e m toda sua p le n itu d e as fu n ç õ es e atribuições,
n ã o s ó d o P o d e r E x e c u t iv o , c o m o t a m b é m d o P o d e r L e g i s l a t i ­
v o , a t é q u e , e le ita a A s s e m b l é i a C o n s t i t u i n t e , e s t a b e l e ç a a r e o r ­
g a n i z a ç ã o c o n s t i t u c i o n a l d o p a ís .
A r t i g o 5" - F i c a m s u s p e n s a s a s g a r a n t i a s c o n s t i t u c i o n a i s
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C IV IL ESTATAL ---------

e e x c lu íd a a a p re c ia ç ã o judicial d o s d e c re to s e a to s d o G o v e r ­
no P ro v isó rio ou d o s In te rv e n to re s F ederais, p ra tic a d o s na
c o n f o r m i d a d e d a p r e s e n t e L ei o u d e s u a s m o d i f i c a ç õ e s uU e -
r i o r e s . [...]

Ao m e n o s e m tese, até o su rg im e n to d a n o v a C onstituição,


verificam os q u e a re s p o n sa b ilid a d e da A d m in is tra ç ã o Pública
foi jo g a d a a descaso. O ra, com o se o b serv a d o s d is p o sitiv o s s u ­
p ra , com a s u sp e n sã o d o s direitos fu n d a m e n ta is e a n ã o - apre­
ciação pelo P o d e r Judiciário d o s decretos e ato s d o G o v e rn o P ro ­
visó rio o u d e seu s in terv e n to res, to rn av a -se im p o ssív e l a res­
p o n sab ilizaç ão da A d m in istraçã o Pública.
T o d av ia , s e g u n d o o texto e la b o rad o pela A ssem bléia N a c io ­
nal C o n s titu in te in stalad a aos 15 d e n o v e m b ro d e 1933, na for­
m a d o D ecreto n. 22.621, d e 05 d e abril d e 1933 ( D O - 08.04,1933),
a C o n stitu içã o d a R epública d o s E stados U n id o s d o Brasil foi
p r o m u lg a d a e m 16 d e julho d e 1934, p re v e n d o e x p re ss a m e n te a
re s p o n sa b ilid a d e estatal, ao d ec lara r e m seu texto que:

l-..] A r t - 171. O s f u n c i o n á r i o s p ú b l i c o s s ã o r e s p o n s á v e i s s o l i d a ­
ria m e n te c o m a F a z en d a N acion al, e s ta d u a l o u m u n ic ip a l, p o r
q u a is q u e r p re ju íz o s d e c o rre n te s d e n e g lig ê n cia , o m is s ã o ou
a b u s o n o e x e r c íc i o d o s s e u s c a r g o s . [...]
§ 1". N a a ç ã o p r o p o s t a c o n t r a a F a z e n d a P ú b l i c a , e f u n d a d a e m
lesão p r a tic a d a p o r fu n cio n ário , este se rá s e m p r e c ita d o c o m o
l it i s c o n s o r t e .
§ 2". E x e c u t a d a a a ç ã o c o n t r a a F a z e n d a , e s t a p r o m o v e r á e x e ­
c u ç ã o c o n t r a o f u n c i o n á r i o c u l p a d o . [...J

S om ente d e p o is d e p a s s a d o alg u m te m p o da e n tra d a em vi­


g o r d o C ó d ig o Civil, veio a falar-se em s o lid a rie d a d e d o ag en te
2 8 M Á R C iO XAVIER C O E L H O

público, fato im p o rta n te p a ra fixar u m m a rc o so b re a p o sição d o


agente.
N o s term o s d esta C onstituição, a re s p o n sa b ilid a d e era soli­
d á ria e n tre o ag e n te e o Estado, o u en tã o d o E stado , com ação
re g ressiv a c o n tra o agente.
Q u e stã o a ser o b servada é q u e o processo contra a F azenda
Pública tinha a participação d o agente ca u s a d o r d o d a n o com o
litisconsorte obrigatório, o q u e propiciava à F aze n d a Pública, caso
fosse c o n d e n ad a, e a p ó s extinta a execução contra si, m a io r celeri­
d a d e p ara ob ter o ressarcim ento em face d o ag en te solidário, pois
a sentença d e condenação d a adm inistração já era b astan te para
conferir título hábil à p ro m o çã o de execução contra o seu agente.

2.3.3 Constituição da República dos Estados Unidos do


Brasil, de 10 de novembro de 1937
U s a n d o com o d e sc u lp a a am eaça d e u m golpe c o m u n ista, às
v ésp e ras d a s eleições presidenciais, o G o v e rn o tra m o u s u a p e r ­
m a n ê n c ia i n s ta u r a n d o u m re g im e a u to ritá rio d e d ireita. Pelo
p re â m b u lo d a C o n stitu içã o o u to rg a d a é fácil d e m o n s tra r-s e a
situ açã o social v iv id a na época:

[...] O p r e s i d e n t e d a R e p ú b l i c a d o s E s t a d o s U n i d o s d o Brasil:
A t e n d e n d o às leg ítim a s a sp ira ç õ e s d o p o v o b rasileiro , à p a z
p o l ít i c a e so c ial, p r o f u n d a m e n t e p e r t u r b a d a p o r c o n h e c i d o s f a ­
tores d e d e s o rd e m , re su lta n te s d a cresce n te a g ra v a ç ã o d o s
d issíd io s partid á rio s, q u e u m a notó ria p ro p a g a n d a d e m a g ó g i­
ca p r o c u r a d e s n a t u r a r e m l u t a d e c la s s e s , e d a e x t r e m a ç ã o d e
co n flito s id eo ló g ico s te n d e n te s , p e lo s e u d e s e n v o lv i m e n t o n a ­
tu ral, a reso lv er-se e m te rm o s d e v iolência, c o lo c a n d o a N a ç ã o
s o b a f u n e s t a i m i n ê n c i a d e g u e r r a civil;
A t e n d e n d o a o e s t a d o d e a p r e e n s ã o c r i a d o n o p a í s p e l a infil-
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C IV IL E S T A T A L 29

t r a ç ã o c o m u n i s t a , q u e s e t o r n a d in a d i a m a i s e x t e n s a e m a i s
p r o f u n d a , e x ig in d o r e m é d io s d e c a r á te r radica] e p e r m a n e n t e ;
A t e n d e n d o a q u e , sob as instituições a n te rio res, n ã o d i s p u n h a
o E stado d e m eios n o rm ais de p reserv ação e d e defesa d a paz,
da seg u ran ça e d o bem -estar d o povo;
C o m o a p o io d a s forças a r m a d a s e c e d e n d o à s a sp ira ç õ e s da
o p in iã o n acional, u m a s e o u tra s ju s tific a d a m e n te a p re e n s iv a s
d ia n te d o s p erig o s q u e am e a ça m a n ossa u n id a d e e d a ra p id e z
co m q u e se v e m p ro c es san d o a d e c o m p o siç ã o d a s n o ss a s insti­
t u i ç õ e s c iv i s e p o lític a s ;
R esolve a s s e g u ra r à N a ç ão a su a u n id a d e , o respeito à sua ho n ra
e à s u a in d e p e n d ê n c ia , e ao p o v o b rasileiro , so b u m re g im e d e
p a z p o l í t i c a s o c ia l, a s c o n d i ç õ e s n e c e s s á r i a s à s u a s e g u r a n ç a ,
ao seu b em -estar e à sua p ro sp e rid ad e ;
D e c r e t a n d o a s e g u i n t e C o n s t i t u i ç ã o , q u e s e c u m p r i r á d e s d e ho je
e m t o d o p a ís . [...]

A C o n stitu içã o d e 1937 m a n te v e a re sp o n sa b iliz açã o d o E sta­


d o d e form a solidária co m seus agentes, sem , c o n tu d o , fazer cons­
tar e m seu texto a posição d o ag en te a d m in is tra tiv o com o litis-
co n so rte o b rig ató rio n o processo d e co n h ecim en to , o u a p ó s ex­
tin ta a execução contra a F azenda Pública, a p ro m o ç ã o d a exe­
cução d e s ta co n tra o funcionário cu lp a d o . A titu d e q u e se justifi­
ca, p o is as re ferid a s p rev isõ es tra ta m d e q u e stõ e s p rocessu ais,
as q u a is p o d e r ia m ser re le g ad a s à lei o rd in á ria fixar.
A p re v is ã o con stitucional se fez co n star n o art. 158, d e c la ra n ­
do q u e "O s fu ncion ários públicos são re sp o n sá v eis s o lid a ria m e n ­
te c o m a F a z e n d a N acional, E stadual o u M u n ic ip a l p o r q u a is ­
q u e r pre ju íz o s d e c o rre n te s d e negligência, o m issã o o u a b u s o no
exercício d o s seus c a rg o s”.
A p e s a r d e m a n tid a a re s p o n s a b ilid a d e d a A d m in is tr a ç ã o
Pública, m ostrava-se frágil a estabilidade jurídica d o país, governa­
3 0 M Á R C IO X AV IE R C O E L H O

d o de form a totalitária pelo Chefe d o Executivo, o q u al enfeixava,


em su as m ãos, u m a direção q u e não conhecia limites, pois a p rá ti­
ca era d e q u e " to d o o país estava e m estado d e em e rg ên c ia ".’^

2.3.4 Constituição da República dos Estados Unidos do


Brasil, de 18 de setembro de 1946
D u r a n te o p e r ío d o e m q u e v ig o ro u , a C o n s titu iç ã o tev e v i n ­
te e u m a E m e n d a s e q u a tro A tos In stitu cio n ais, s e n d o o ú ltim o
A to, o q u e c o n v o c o u o C o n g re s s o N a c io n a l p a r a d is c u s s ã o ,
v o ta ç ã o e p r o m u lg a ç ã o d o P rojeto d e C o n s titu iç ã o a p r e s e n t a ­
d a p e lo P re s id e n te d a R epública, c u lm in a n d o n a C o n stitu iç ã o
d e 1967.
Seguiu-se a ed ição d e A tos Institucionais, le g a liz a n d o os atos
d o s C o m a n d a n te s d o Estado, s e m p re ju stifican d o s u a s posições,
sob o p ris m a d e se ev itar u m su p o s to d o m ín io com un ista.
A p ó s c o n so lid ar a re sp o n sa b ilid a d e d a A d m in istra ç ã o P ú b li­
ca n a s C on stitu içõ e s d e 1934 e 1937, ao a d m itir a so lid a rie d a d e
d o E stad o , a C o n stituição d e 1946, foi o p o n to forte p a r a a e v o lu ­
ção d a teoria d a re sp o n sa b ilid a d e em no sso país.
N ã o se cogitava, agora, s e g u n d o o texto constitucional, d e re s­
p o n sab ilid ad e com culpa o u dolo, lim itando-se a m e n c io n a r a res­
p o n sab ilid ad e objetiva d o Estado, com a conseq üente ação regres­
siva contra o funcionário, sen do q u e "as pessoas jurídicas de d i­
reito público in terno são civilm ente responsáveis pelos d a n o s q u e
os seus funcionários, nessa qualidade, causem a terceiros".'^
T o d o s os d e m a is m o d elo s constitucionais seg u in tes, o b e d e ­
ce ra m ao m e s m o sen tid o , ficando o artig o 15 d o C ó d ig o Civil

D isp o siçõ e s Finais e Tra n sitória s d a C onstituição.

Trata-se d o a rtigo 194 d a C arta Política. C um pre notar, ainda, que o p a rá g ra fo único deste
artigo ainda prescre via ca b e r a ção regressiva contra os funcio n á rio s ca usadores do dano, q ua n ­
d o tive r havid o c u lp a destes.
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C IV IL ESTATAL -3 1

com o m e ra referência, p o is co n te m p la v a-se a benefício d e to d o s


a re s p o n sa b ilid a d e objetiva d o Estado.

2.3.5 Constituição do Brasii, de 24 de janeiro de 1967


S u s p e n d e n d o as g aran tias fu n d a m e n ta is e ex c lu in d o da a p r e ­
ciação d o P o d er Judiciário to d o s os atos p ra tic a d o s d e acordo
com o A to Institucional, a C onstituição d e 1967, com exceção da
C o n stitu içã o d e 1937, foi m ais a u to ritá ria q u e as d em ais.
A p ó s a co n so lid ação d o conceito objetivista d a C a rta d e 1946,
a n o v a o rd e m constitucional am p lio u esta m o d a lid a d e d e res­
p o n sa b ilid a d e , acrescendo o conceito d e d o lo n a c o n d u ta d o fu n ­
cionário c a u s a d o r d o d an o , q u a n d o da in terp o siçã o d a c o m p e ­
te n te ação regressiva.
A ssim d iz ia o texto constitucional:

í...| A r i . 105 - A s p e s s o a s j u r í d i c a s d e d i r e i t o p ú b l i c o r e s p o n ­
d e m p e lo s d a n o s q u e os seus fun c io n á rio s, n e ssa q u a lid a d e ,
c a u s e m a te r c e ir o s.
P a rá g ra fo ú n ico - C a b erá ação regressiva c o n tra o fu n c io n á rio
r e s p o n s á v e l , n o s c a s o s d e c u l p a o u d o l o . (...)

2.3.6 Emenda Constitucíonai n. 01, de 17 de


outubro de 1969
S en d o c o n s id e ra d a E m e n d a C onstitucional, d o p o n to d e vis­
ta técnico-jurídico afig ura-se com o au tên tica C onstituição.
T rouxe inovaçõ es com o a fa c u ld a d e d e se criar o contencioso
a d m in istra tiv o '^ , o qu al n u n ca ch egou a existir.

D izia 0 art. 110 - O s litígios deco rre n te s das relações d e tra b altio dos se rvid o re s co m a União,
inclu sive a s a uta rq u ia s e a s em pre sa s públicas led e rais, q u a lq u e r que se ja o seu re gim e ju ríd i­
co, p ro ce ssa r-se-ã o e julg a r-s e -ã o perante os J u ize s Federais, d e v e n d o s e r inte rp o s to recurso,
se couber, para o T ribunal Federal d e Recursos. A p revisão estava d itad a no a rtigo 111, em que
"a lei p oderá cria r c o n te ncio so adm in istrativo e atribuir-lhe co m pe tê n cia p a ra o ju lg a m e n to das
ca u sa s m e ncio n a d a s no artigo ante rio r’’.
3 2 M Á R C IO X AV IE R C O E L H O

T odavia, m e sm o colocado e m prática, a m atéria q u e seria li­


d a d a p o r esta ju risd ição n ão co nheceria d a s q u estõ es relativas à
re s p o n sa b ilid a d e d a A d m in istraçã o Pública n o s ato s extracon-
tratu a is q u a n d o lesivas a terceiros, pois so m en te trata ria d a s ca u ­
sas d e d issíd io s e n tre serv id o res e ad m in istração .
M ais tard e , a E m e n d a n. 17 m odificou os re ferid o s d is p o siti­
vos, com a o b serv ân cia d o artigo 153, § 4" d o m e s m o artigo, ao
d iz e r q u e a lei n ã o p o d e ria excluir d a apreciação d o P o d e r J u d i­
ciário q u a lq u e r lesão d e d ireito ind iv idual.
C o m isso, c o n tin u o u com o P o d e r Judiciário a p re rro g a tiv a
d e d iz e r o d ire ito e m se tra ta n d o d e lesão p ra tic a d a p o r a to da
A d m in istra ç ã o Pública.
Foi interesse jurídico m an ter-se a re sp o n sa b ilid a d e d a A d m i­
n istraç ão n a form a d o o rd e n a m e n to anterior.
Eis o texto d a C onstituição;

[...] A r t . 1 0 7 - A s p e s s o a s j u r í d i c a s d e d i r e i t o p ú b l i c o r e s p o n d e ­
rã o p e lo s d a n o s q u e s e u s fu n cio n ário s, n e ssa q u a lid a d e , c a u ­
s a r e m a te r c e ir o s.
P a rá g ra fo ú nico - C a b erá ação regressiva c o n tra o funcio n á rio
r e s p o n s á v e l , n o s c a s o s d e c u l p a o u d o l o . [...1

Em definitivo, n ã o m ais se cogitou e m a lterar a m o d a lid a d e


d a r e s p o n sa b ilid a d e d a A d m in istra ç ã o P ública, ta n to é q u e a
p ró p r ia " C o n s titu iç ã o C i d a d ã " so m e n te a lte ro u a o r d e m d a s
p a la v ra s d o lo e cu lp a e m seu texto, p a ra o caso d e re sp o n sa b ili­
zação d o fu n c io n á rio c a u s a d o r d o d a n o , e s te n d e n d o , ain d a , a
r e s p o n sa b ilid a d e objetiva q u a n to às pessoas ju ríd icas d e d ireito
p riv a d o p re s ta d o ra s d e serviço público.
F U N D A M E N T O S DA R E S P O N S A B ILID A D E C I V I L ESTATAL -

2.3.7 Constituição da República Federativa do Brasil, de


05 de outubro de 1988
Em n o v e m b ro d e 1986 foram re alizad a s as eleições direta s
p a ra os g o v e rn o s e sta d u a is e p a ra o C o n g resso N a cio n al C o n sti­
tuinte.
Em fe v ere iro d e 1987, a A ssem bléia N a cio n al C o n stitu in te
re u n ia -se sob a p re sid ê n cia d e Ulisses G u im a rã e s, fig u ra f u n d a ­
m e n ta l n o p ro c esso d e re d em o cra tiz aç ão d o país.
D e p o is d e lo n g a s e m o ro sa s discussões, a C o n stitu içã o foi fi­
n a lm e n te p ro m u lg a d a em 5 d e o u tu b ro de 1988.
A p e sa r d e m u ito s p o n to s ind efinidos, m u ito s av a n ço s há d e
se lo u v a r, esp e cialm en te no tocante aos direito s e g a ra n tia s fu n ­
d a m e n ta is, os direito s políticos e os direitos sociais.
A C o n stitu içã o C id a d ã , n o m e pelo q u al ficou co n h e cid a, a d o ­
to u , e m seu texto, os p o s tu la d o s d a re s p o n s a b iliz a ç ã o d a A d ­
m in is tra ç ã o P ública, esp e cifica m e n te n a fo rm a objetiva. D e v e ­
ras, o u tr a fo rm a n ã o caberia, d a d o o m o m e n to h istó rico , a ex­
p e riê n c ia ju ríd ica e os cla m o res d a so c ie d a d e lib erta d e u m re ­
g im e d e o p re ssã o .
A ssim se fez co n star e m seu texto:

[...] Ar(- 37. A a d m i n i s t r a ç ã i ) p ú b l i c a d i r e t a e i n d i r e t a d e q u a l ­


q u e r d o s P o d e r e s d a U n iã o , d o s L s t a d o s , d o D i s t r i t o F e d e r a l e
d o s M u n ic íp io s o b e d ec erá aos p rin cíp io s d e leg a lid a d e , im p e s ­
s o a l i d a d e , m o r a l i d a d e , p u b l i c i d a d e e e f ic iê n c ia e, t a m b é m a o
s e g u i n t e : [...]
§ b". A s p e sso a s ju ríd ic as d e d ireito p ú b lic o e as d e d ire ito p r i ­
v a d o p re s ta d o ra s d e serviços pú b lic o s re s p o n d e rã o p e lo s d a ­
n o s q u e s e u s a g e n t e s , n e s s a q u a l i d a d e , c a u s a r e m a te r c e i r o s ,
a s s e g u r a d o o d ire ito d e re g resso co n tra o r e s p o n s á v e l n o s c a ­
s o s d e d o l o o u c u l p a , [...j
3 4 M Á R C IO XAVIER C O E LH O

M o d e r n iz a n d o o conceito d a re sp o n sa b iliz a ç ã o , in se riu -se


com o sujeito d e obrigações, d ec o rre n te s d e ato lesivo a terceiros,
as p esso a s ju ríd icas d e d ireito p riv a d o p re s ta d o ra s d e serviços
públicos.
Fato cu rio so é a inclusão, n o art. 21, XXIII, c, d o texto consti­
tucio nal, d a re sp onsabilização em ra zão d e a tiv id a d e n uclear,
q u e p a re c e a p e n a s reforçar a re sp o n sa b ilid a d e sob objetiva da
A d m in istra ç ã o Pública, pois:

[...] A rt. 21. C o m p e t e à U n i ã o ; [...]


XXIII - e x p l o r a r o s s e r v i ç o s e i n s t a l a ç õ e s n u c l e a r e s d e q u a l ­
q u e r n a tu re z a e exercer m o n o p ó lio estatal so b re a p esq u isa, a
lavra, o e n riq u e c im e n to e re p ro c e ssa m e n to , a in d u stria liz a ç ã o
e o co m é rcio d e m in é rio s nu c le a re s e seu s d e riv a d o s, a te n d i­
d o s o s s e g u i n t e s p r i n c í p i o s e c o n d i ç õ e s : I...]
c) a r e s p o n s a b i l i d a d e civ il p o r d a n o s n u c l e a r e s i n d e p e n d e d a
e x i s t ê n c i a d e c u l p a ; [...]

E n tre ta n to , n o s te rm o s d o p e n s a m e n to d e João F ran cisco


S a u w e n F i l h o '\ a in tro d u ç ã o d o a lu d id o d isp o sitiv o re a b re n o ­
vas discu ssõ es q u a n to à re s p o n sa b ilid a d e civil estatal, in fo rm a n ­
d o, a in d a , q u e m u ito s d o u trin a d o re s v êe m a re sp o n sa b ilid a d e
p o r d a n o n u cle ar sob a ótica d o risco integral.

3 TEORIAS ACERCA DA
RESPONSABILIDADE CIVIL ESTATAL
A s Teorias acerca d a re sp o n sa b ilid a d e estatal n a d a m ais são
d o q u e as d o u trin a s e m p re g a d a s a fim d e se estabelecer a res­
p o n s a b ilid a d e d a A d m in istraçã o Pública.
V a rian te n o te m p o e espaço d ese n v o lv e u -se d a fase d a irres-

ín: R e sp o n sab ilid ad e Civil d o Estado, R io de Janeiro: Lum en Juris, 200 1 , p. 87.
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C IV IL ESTATAL ---------- 3 5

p o n s a b ilid a d e p a ra a fase d a re s p o n sa b ilid a d e d a A d m in is tr a ­


ção P ública, to d av ia, as fo rm as q u e d e s e n v o lv e m esta últim a,
são div ersific ad as e a p o n ta d a s s e g u n d o os critérios a d o ta d o s em
cada Estado.
O E stad o é, n priori, u m a co nstrução d o h o m e m v o lta d a p ara
satisfazer os interesses d o p ró p rio h o m em . É u m c o n tra to social,
com o a firm o u R usseau'^ , o n d e to d o s alien a m u m p o u c o d e sua
lib e rd a d e e a u to n o m ia , p a r a v iv ere m u n s p a r a o s o u tro s. Dessa
form a, o E stado é a co n stru ç ão h u m a n a p a ra v iv e r e m so cied a­
de, s e m p re v o lta d o p a r a o b em -e star d e to d o s, m u ito e m b o ra
te n h a m a lg u n s u tiliz a d o o E stado p a ra os p ró p rio s e ú n ic o s fins.
N e sse sentido, se n d o o E stado criado p a r a p ro p o r c io n a r ser­
viços e p ro te ç ã o aos co n cid ad ão s, su rg e a q u e s tã o d e se p e n sa r
q u e o m e s m o E stado, criado p ara p ro p o rc io n a r serviços e asse­
g u r a r o b e m -e s ta r d o s cid a d ão s tam b ém p o d e c a u s a r p reju ízo
aos m esm o s, p o r ser u m a ficção legal criada p ara n ã o errar. T o­
d av ia , n ão fu nciona s o m e n te atra v és d e seu texto escrito, o Esta­
d o é im p u ls io n a d o p o r h o m en s, esses sim im p õ e m s e n tim e n to
ao E stado, fazem seu funcio nam en to .
A ssim s e n d o , o E stado é passível d e falhas, a ssim c o m o o
h o m em .
R esta saber, e n tre tan to , se o E stad o d e v e resp o n sa b iliz ar-se
d e form a a in d e n iz a r a q u e m tenlia sid o lesado. P ara isso, há
v ariaçõ es d e e n te n d im e n to n o te m p o e espaço.
A d im ensão d a responsabilização d o Estado variará, então, com
a sociedade, pela m elh o r forma q ue o p tar o u lhe for im posta, con­
form e as características d o p o d e r a tu a n te e m cada Estado.

'N e a n Ja q u e s R ousseau, in: Do C ontrato Social - D iscurso sobre a Econom ia P olítica. T ra d u ­


ção d e M á rcio Pugliesi e N orberto de Paula Lima, 7 ed. São Paulo; H em us, 1998.
3 6 M Á R C I O X A V IE R C O E L H O

3.1 TEORIA REGALIANA OU DA IRRESPONSABILIDADE


D e sd e os p rim ó rd io s d o su rg im e n to d o E stado, ad o ta v a -s e o
p o s tu la d o d a irre sp o n sa b ilid a d e , o q u al consiste e m isentar-se
d e r e p a ra r o u in d e n iz a r q u e m ten h a sid o p o r ele o u p o r ag en te
d e s te pre ju d ic ad o .
O E stad o co n fu n d ia -se com a p esso a d e seu g o v e rn a n te . A s­
sim , a v o n ta d e d a q u e le era d e c o rre n te d a v o n ta d e deste.
C o m o ilu m in ism o e as teorias d o liberalism o, o E stad o se
torna laico, c o n sistin d o em p o d e r e v e rd a d e ira c o n stru ç ã o d o
p o v o , a p e s a r d e a lg u n s co n tin u a re m p o r m u ito te m p o sob a for­
ça e c o m a n d o d e g o v e rn o s autoritários.
P or m u ito te m p o foi a d o ta d a a teoria d a irre sp o n sa b ilid a d e ,
contra a q u al n in g u é m p o d e ria se o p o r ao E stad o p o r d a n o s c a u ­
s a d o s p elo m esm o.
S e g u n d o José C retella a teoria d a irre s p o n sa b ilid a d e é
ta m b é m c o n h e cid a co m o teoria feu dal, regalista o u re g alian a
(''re g a lia n a ” e "regalis").
V erificava-se a ad o ç ão d e tal p o s tu la d o p elo fato d e o E stad o
estar sen d o dirig id o p o r m onarcas absolutistas, e, m o d ern a m en te,
p o r d ita d u ra s , q u e im p u n h a m su a violência n o E stad o, reflexo
d e sua v o ntad e.
A s teses de irrespon sabilid ade d o E stado ficaram conhecidas
p ela s frases: The King cnn not cio wrong (o rei n ã o p o d e errar), le roi
nc pent mnl fnrir (o rei nào p o d e fazer mal), ou quad principi placiiit
habet legis (aquilo q ue ag rad a ao príncipe tem força de lei).
C o m a q u e d a d o s m o n a rc a s a b s o lu tis ta s e d a s d ita d u r a s ,
abriu-se n o v o s te m p o s à dem ocracia, em con seqüência, p a s s o u
o E stado a o rien ta r seu s atos para o b e m -e star d e todos. C o m
isso, já n ã o era m ais adm issível sua irre sp o n sab ilid a d e.

M anual de D ireito Adm inistrativo, 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1992, p. 350.
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B ILID A D E C I V I L E S T A T A L 3 7

N e sse sen tid o , chega-se a concluir q u e os E stad o s d e m o c rá ti­


cos, re sp e ita d o re s d o s direitos d e seu s c id a d ã o s, v o lta d o s p a ra a
realização d o s fins sociais a q u e se p re sta m , a d o ta m a teoria da
re sp o n sa b ilid a d e , e n q u a n to só os E stad os g u ia d o s p o r d i t a d u ­
ra s a d o ta m a teoria d a irre sp o n sab ilid a d e.
Bem, se a afirm ativ a acim a é v e rd a d e ira , colocam o -no s d i a n ­
te d e u m d ilem a. C o m o explicar q u e p aíses com o Inglaterra e
E stados U n id o s d a A m érica, tidos com o re s p e ita d o re s d o s d irei­
tos d e se u s hab itan te s, fo ram os últim o s a a d o ta r, e m seu s o r d e ­
n a m e n to s jurídicos, a teoria da responsabilização?
C o m o Crown Proceeding A ct d e 1947, e pelo Federal Tort Claims
d e 1946, In g late rra e E stad o s U n id o s d a A m éric a fo ram os ú lti­
m o s países, d e n tre os co n s id e ra d o s m o d e rn o s e civilizados, a
a d o ta r e m a teoria d a irre sp o n sab ilid a d e, e n tra n d o p a r a o rol dos
p aíses q u e p a s s a ra m a a d o ta r a resp o n sa b iliz açã o d a A d m in is ­
tração Pública.
A irre sp o n s a b ilid a d e d o E stado m anifesta-se p e lo p o s tu la d o
The King can do no ivrong - extensiva, inclusive, ao s seu s re p re ­
sen tan tes.
H á, e n tre ta n to , q u e m diga q u e a irre sp o n sa b ilid a d e estatal
d a Inglaterra se re strin g ia so m en te q u a n to ao s atos judiciais, sen ­
d o re sp o n sá v e l n o s d em ais. É o a firm a d o p elo p ro fe sso r João
S ento Sé."^
N o s e u e n te n d e r, o Crown Proceeding A ct d e 1947 concedia
im u n id a d e à C o ro a Britânica, nos atos p ra tic a d o s p o r q u a lq u e r
a g e n te pú b lico n as fun ções judiciais, p re v a le c e n d o o p rin cíp io
d a irre s p o n sa b ilid a d e n o s d e m a is re la cio n am e n to s d o Estado.
Jocoso é ob servar, e m c o n tra p a rtid a , q u e em locais o n d e me-

Professor Adjunto de Direito Adm inistrativo da U niversidade Federal da Bahia, citado pelo Minis­
tro d o S uperior Tribunal de Justiça - STJ, José A ugusto D elgado (RJ n. 226 - A G O ./96. p. 5).
3 8 M Á R C IO X AV IE R C O E L H O

n o s se p erceb ia a dem ocracia, ap a re c e u a teoria d a re s p o n sa b ili­


za ção estatal, co m o o correu na extinta URSS.''^
D ecerto, a teoria d a re sp o n sa b ilid a d e, assim co m o a d a irre s­
p o n s a b ilid a d e , trata-se d e opção legislativa d e ca d a E stad o, e n ­
tre ta n to , n ã ó se a d m ite a tu a lm e n te , q u e os p a íse s civilizados,
o rie n ta d o s sob os valores sociais e h u m a n o s , livres e d e m o c rá ti­
cos, a d o te m a teoria d a irre sp o n sa b ilid a d e d o E stado, p o is este
existe p a r a p ro p ic ia r o b e m -e star d e todos.
A teoria d a irre sp o n s a b ilid a d e n ã o te m m o d a lid a d e , é ex p re s­
sa p o r u m a ú n ica form a, ten d o a p e n a s fu n d a m e n to sociojurídico,
q u al seja, o da infalibilidade d o Estado.
C o n q u a n to a teoria da irre sp o n sa b ilid a d e n ã o tenh a m o d a li­
d a d e , verifica-se, na teoria da re sp o n sa b ilid a d e, d iv e rs a s form as
d e su a ocorrência, ora v o lta d a s co m p e s o d e d ireito p riv a d o , ora
c o m p eso d e d ireito público.

3.2 TEORIAS CIVILISTAS DA RESPONSABILIDADE


S u p e ra d a s as resistências à teoria d a re sp o n sa b iliz a ç ã o da
A d m in is tra ç ã o Pública, d eix am os E stados d e p a tro c in a r a teo­
ria d a irre s p o n sa b ilid a d e e d ã o condições p a ra florescer e m seus
o rd e n a m e n to s jurídicos, a teoria d a responsabilização.

C o n s titu iç ão d a U n iã o d a s R ep úblicas Socialistas S o viéticas (A p rova d a n a sé tim a s e s ­


sã o extra ord in ária d o S oviete S uprem o da URSS. da nona legislatura, em 7 de o utu bro d e 1977)

Art. 58. Os c ida d ã os d a U RSS tê m dire ito a interp o r recurso co ntra as a ç õ e s d o s fu n cio n á rio s e
do s órgã o s e sta d ua is e sociais. A s queixas devem ser e xam inadas d en tro d a ordem e no prazo
e sta b ele cid o s p ela lei.

C on tra as a çõ e s dos funcionários, com etidas com viola ç ão d a lei, e a bu so s de a uto rid a de que
p re ju diq u em o s direitos dos cidadãos, podem ser m ovidos p rocessos em trib un a l d en tro da
o rdem e sta b e le cid a p ela lei.

O s cida d ã os da U R S S tê m dire ito à in d e n iza çã o p e lo s p re ju ízo s ca usa d o s p o r a ç õ e s ilic ita s de


o rg a n iza çõ e s e s ta ta is e sociais, a ssim co m o p o r lu n cion á rio s d ura n te o d e se m p e n h o das suas
funções.
F U N D A M E f'n’O S O A R E S P O N S A B IL ID A D E C I V I L E S T A T A L - 3 9

P ensou-se, a p rincíp io , em se fixar a re s p o n sa b ilid a d e d a A d ­


m in is tra ç ã o P úb lica n o s m o ld e s p riv atístico s e n tã o existentes,
b a s e a d o s na id éia d e culpa, p a s s a n d o a ser a p lic a d a larg a m e n te
a d o u tr in a subjetiva.
A té o a d v e n to d a C o n stituição d e 1946, n o Brasil, ocasião em
q u e se p a s s o u a a d o ta r a d o u trin a objetiva p a r a resp o n sa b iliz ar-
se a A d m in is tra ç ã o Pública, en c o n tro u a d o u tr in a subjetiva, com
d e s ta q u e n as C onstituições de 1934 e 1937 e e s p e cialm en te no
artig o 15 d o C ó d ig o Civil brasileiro.
E m b o ra re p re s e n ta s s e av a n ço o u tro ra n e g a d o ao s c o n c id a ­
d ã o s , a d o u tr in a su b jetiv ista te n d e a d e s a p a re c e r , p o r q u e n ão
re a liz a s a tis fa to ria m e n te o d ire ito à in d e n iz a b ilid a d e , p o r v e n ­
tu ra c a u s a d o ao le sa d o p e la A d m in is tra ç ã o P ública. C o n fro n ­
tam -se , n e ss e s e n tid o , a aplicação d a d o u tr in a s u b je tiv ista e a
objetivista.
N a d o u trin a subjetiva, o ilícito é o seu fato g e ra d o r, d e v e n d o
p ro v a r, o p re ju d ic a d o , q u e o fato se d e u com d o lo o u culpa.
Já n a d o u tr in a objetiva, o fato g e ra d o r p o d e ser o r iu n d o in­
clusive d e a to lícito, assim , a p e n a s d e v e ser d e m o n s tr a d o o nexo
ca u sai e n tre a c o n d u ta d o ag en te e o re s u lta d o dano.
C o n fo rm e se percebe, a d o u trin a objetiva c o m b in a m ais com
as teorias publicistas, e n q u a n to a d o u trin a subjetiva g u a rd a m aior
correlação com as teorias civilistas.

3.2.1 Teoria dos atos de império e de gestão


Teoria o rig in a d a na França, p o r m eio d a q u a l os ju ristas te n ­
ta v a m a m e n iz a r a d e m a n d a d e cau sas p ro p o s ta s co n tra o Esta­
d o francês, p elo s c id a d ão s q u e tiv era m p re ju íz o s e m seu p a tr i­
m ônio.
N ecessário n o ta r q u e com a R evolução Francesa, in s ta u ro u -
4 0 M Á R C IO XAVIER C O E L H O

se, m o m e n ta n e a m e n te , u m caos social, d e v id o à total tra n s fo r­


m a ç ã o d o e sta d o político.
C o m o o sistem a d e contro le d o s atos ad m in istra tiv o s era exer­
cido pelo P o d e r Judiciário e pelo C o n tencioso A d m in istrativ o ,
d ec id iu -se q u e os A tos d e Im pério seriam co n h e cid o s p elo C o n ­
tencioso A d m in is tra tiv o e os A tos de G estão, co n h e cid o s pelo
P o d e r Judiciário.
D istin g u e-se os A tos d e Im pério d o s A tos d e G estão pelos
tópicos seguintes:
-os A tos d e Im p ério - iure im perii - são p ra tic a d o s a p re ­
texto d e se exercer a soberania nacional, co m o p o d e r d e
m ando;
-n os A tos d e G estão, o E stado assem elh a-se ao p artic u la r
n a g estão d e seu p a trim ô n io , n esse caso, o E stado a d m i­
nistra a coisa pública;
-n os A tos d e Im p ério o E stado classifica-se c o m o E stado-
S oberano, e é im u n e, n ã o se su jeitan d o ao d e v e r d e in d e ­
nizar;
-n os A tos d e G estão o Estado classifica-se com o E stado-
E m p re sa , sujeitando-se p o r su a característica d e g e sto r ao
d e v e r d e in d e n iz a r, ficando sujeito às re g ra s p ró p r ia s d o
D ireito Civil.
N ã o há co m o se defin ir com exatidão q u a is são os atos d e
im p é rio e q u a is são os atos d e gestão, o q u e im p o rta ria à livre
d e te rm in a ç ã o d a p ró p r ia A d m in istraçã o Pública classificá-los.
Levar-se-ia, assim , ao ac o lh im e n to d a teoria d a irre s p o n s a b i­
l id a d e d e form a disfarçada, p o is b astaria a declara ção d e q u e o
ato a d m in is tra tiv o c a u s a d o r d o d a n o foi p ra tic a d o co m o exercí­
cio d a soberan ia, p o rta n to , ato d e im pério, p a r a q u e n ã o h o u v e s ­
se o d e v e r d e in d e n iz a r p o r p a r te d a A dm inistração.
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C IV IL ESTATAL 41

De a c o rd o com Luís A ntô n io d e Camargo^*':

S e n d o o E s t a d o u m a p e s s o a m o r a l , o u u m a ficç ão leg a l, é
im possível a d iv isão d e su a p erso n alid ad e: in d e p e n d e n te de
a g i r p o r si ( a g e p e r si) o u a a ç ã o d e c o r r e r d e q u a i s q u e r a g e n t e s
p ú b l i c o s o u p o lít i c o s . O E s t a d o é u n o , e s e m p r e a g e n a q u a l i ­
d a d e d e E s t a d o [...]

3.2.2 Teoria da responsabilidade


subjetiva pela preposição civil
C o n siste a teoria subjetivista n a obrigação d a A d m in istra ç ã o
Pública e m re p a ra r o d a n o pela m e s m a p ro v o c a d o , p o is "o in te­
resse em restabelecer o equilíbrio ec onôm ico-ju rídico a lterad o
p elo d a n o é a causa g e ra d o ra d a re s p o n sa b ilid a d e civil" (José de
A g u ia r Dias, 1995, p, 42}.
A teoria subjetivista, fu n d a d a nos m o ld e s e in stitu to s d o D i­
reito Civil, p a s s o u a ser a d m itid a nos o rd e n a m e n to s ju ríd ico s de
d iv e rso s p a íse s em afronta à teoria reg alian a, e a d o ta d a , n o Bra­
sil, ex p re ssa m e n te , n as C onstitu ições d e 1934 e 1937.
E sta n d o p re se n te na consciência ju rídica o d e v e r d e in d e n i­
zar, há q u e se b u sc a r o seu fato g erad o r, p o is n ã o é q u a lq u e r
c o n d u ta q u e vai g e ra r tal resp o n sa b ilid a d e. L ogo, é a m o v im e n ­
tação h u m a n a q u e vai p ro p icia r o fato característico d a re s p o n ­
sab ilid ad e, p o rta n to , u m a co nd uta.
A c o n d u ta , com o p ro v o c a d o ra d o d e v e r d e r e p a r a r o d an o ,
d e v e v ir re v estid a d e certos re quisitos o u d e ce rtas característi­
cas, e p a ra a teoria subjetivista, é a cu lp a o seu fato gerad o r.
A teoria regaliana excluía o E stado d o d e v e r d e in d en iza r,
p e rm itin d o , p o ré m , e m a lg u n s casos, q u e o a g e n te p ú b lico res­
p o n d e s s e p elo s pre ju íz o s causados, in d iv id u a lm e n te .

” In. A R e sp o n sab ilid ad e Civil do E stado e o Erro Judiciário. Porto A legre: Sín te se , 1999, p. 59.
4 2 M Á R C IO XAVIER C O ELH O

A teoria civilista d a cu lp a a d m ite a re sp o n sa b iliz açã o d o Es­


ta d o p e lo s ato s p ra tic a d o s p o r seu s ag e n tes (prepostos). N ote-se
q u e o E stad o só existe n a prática, com a m o v im e n ta ç ã o a d m in is ­
trativa a q u a l só se verifica com u m fazer h u m a n o .
A cu lp a d o E stado é d e c o rre n te n ã o d e si m esm o , m a s d e seus
agentes, p o r ag ire m e m su a representação.
A s s e n ta n d o n o prin cíp io fu n d a m e n ta l d a culpa, a A d m in is ­
tração P ública re p a ra rá to d o p reju ízo q u e a lg u m ag e n te seu te­
n h a c a u sa d o nessa qu alid ad e .
N o entanto, para o surgim ento do dever d e in denizar e, conse­
qüentem ente, o direito d e exigir tal reparação, necessária é a ocor­
rência n ão só d e culpa na conduta d o agente público, m a s tam bém
a ocorrência efetiva d e u m d a n o a alguém , assim com o o ineq uí­
voco nexo causai en tre a c o n d u ta d o agente e o d a n o ocorrido.
C o m o se observa, exige-se p a ra a teoria subjetivista q u a tro
condições p a ra o d e v e r de in d en iza r, a saber:
a)ação o u om issão, d e m o d o co n trário ao d ire ito o u fa lta n ­
d o a d e v e r p re sc rito n a lei;
b)a efetiva ocorrência d e u m dano;
c)haja nex o d e ca u sa lid a d e e n tre a c o n d u ta d o a g e n te p ú ­
blico {que ag iu nesta q u alid ad e ), e o re su lta d o d an o ; e
d )a culpa.
A ssim , a teoria subjetivista, d ife re n te m e n te d a teoria objeti-
vista e n c o n tra seu fu n d a m e n to na ocorrência d a culpa, a b r a n ­
g e n d o , o conceito culpa, tod a c o n d u ta o m issiv a o u com issiva,
a b a rc a n d o e v id e n te m e n te o dolo.
C o m o se percebe, a posição d o E stado é com o g a r a n tid o r d o
resta b elec im e n to econôm ico e jurídico d a vítim a p elo d a n o p r o ­
v o ca d o p o r p re p o s to d a A dm inistração. D essa fo rm a , o ag en te
p ú b lico s e m p re será o b rig a d o a re p a ra r o d a n o su b sid ia ria m e n -
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C IV IL E S T A T A L 4 3

te, T odavia, n u n c a será ac io n ad o pela v ítim a d o d a n o , p o is os


d e v e re s e stão s e p a ra d o s assim; o E stado in d e n iz a a v ítim a, e o
ag e n te p ú b lic o in d e n iz a o Estado.

3.3 TEORIAS PUBLICISTAS


C o m as sensíveis m u d a n ç a s na e s tru tu ra d o s E stados, p ro v o ­
c a d as p ela s tran sfo rm açõ e s d o modus vivendi d a so cied a d e, im ­
p r im id a s p o r d iv e rso s fatores políticos, ec o n ô m ic o s e sociais,
a m a d u re c e u o p er\sam en to juríd ico n o s e n tid o d e b u s c a r u m a
n o v a teoria a d e q u a d a com os anseios d a q u e la sociedade.
Sob os im p u lso s d o constitucionalism o e d o E stad o D e m o ­
crático d e Direito, to rn a ra m -se insuficientes os m o ld e s e in s titu ­
tos d e d ireito p riv a d o p a ra re solv er as q u estõ es re la tiv a s à re s­
p o n s a b ilid a d e d o Estado. C o m eçou a su rg ir a teoria objetiva da
re sp o n sa b iliz açã o d o Estado.
S altan d o à frente, com v e rd a d e ira co n stru ç ão teórica d o s tri­
b u n a is, o E stado francês com eça a d e s e n v o lv e r as teorias p u b li­
cistas d a re sp o n sa b ilid a d e d o Estado.
O caso d e m a io r expressão, q u e re p re s e n ta a q u e b ra d o s in s­
titu to s d e d ireito p riv a d o p a ra decisões co n tra o P o d e r Público
acerca d a re sp o n sa b ilid a d e extracontratual, é o caso Blanco, ocor­
rid o na França em 1873, ocasião cujo T rib u n a l d e C onflitos, pelo
voto d o C o n selh eiro D avid, se m an ife sto u d iz e n d o q u e - ':

[...] A r e s p o n s a b i l i d a d e q u e i n c u m b e a o E s t a d o p e l o s p r e j u í ­
z o s c a u s a d o s a o s p a r t i c u l a r e s p o r a t o s d a s p e s s o a s q u e e le e m ­
p re g a n o serviço púb lico n ã o p o d e ser reg id a p o r p rincípios
q u e e s t ã o f i r m a d o s n o C ó d i g o C i v il, q u a n d o r e g u l a a s r e l a ç õ e s
d e p a r t i c u l a r a p a r t i c u l a r . T al r e s p o n s a b i l i d a d e n ã o é n e m g e -

A p u d J . C retella Jr., 1992, p. 383, op . d l.


4 4 M Á R C IO X A V IE R C O E L H O

ra l n e m a b s o l u t a , t e m r e g r a s e s p e c i a i s q u e v a r i a m c o n f o r m e a s
n e c e s s id a d e s d o se rv iço e a im p o s iç ã o d e conciliar o s d ire ito s
d o E stad o c om os d ireitos p riv a d o s

A p a rtir d e então, o p en sa m e n to jurídico q u a n to à re sp o n sa b i­


lid a d e d o E stado teve outro s rum os, desen v o lv en d o -se n ã o nos
ac an h ad o s m o ld es d o direito priv ad o , m a s n o c a m p o d o direito
público, p ró p rio p ara as relações d e responsabilização d o Estado.
D e se n v o lv era m -se três su b teo ria s publicistas: a d a c u lp a a d ­
m in istra tiv a (falta d o serviço público); a d o risco a d m in istra tiv o
e a d o risco integral.

3.3.1 Teoria da culpa administrativa {faute du service)


A teoria d a cu lp a d o serviço público,/í7híc’ du service, s u rg id a
n a França p o r elaboração d o C o n selh o d e E stado, re p re s e n ta o
m arc o d e transição da teoria subjetiva p a ra a teoria objetiva, pois,
nesta m o d a lid a d e , n ã o m ais se p re n d e ria a verificação d a re s ­
p o n s a b ilid a d e , to m a n d o -s e os atos d o s p re p o sto s d a A d m in is ­
tração, m a s sim , o p ró p rio serviço público.
D essa fo rm a , a falta d o serviço p ú b lico é c u lp a d a A d m in is ­
tração. Percebe-se q u e a falta é im p u ta d a ob jetiv am en te ao E sta­
d o , e n ã o su b jetiv am en te a seus prep o sto s.
Exige-se u m a c u lp a d a A d m in istraçã o , to d av ia, n ã o é u m a
cu lp a q u a lq u e r, é u m a cu lp a especial, com o n o m e d e c u lp a a d ­
m inistrativa.
A ssim , p a ra a configuração d a responsabilização atra v és d essa
teoria, o u tro s são os re quisitos de su a verificação. D esse m o d o ,
p a ra q u e a lg u é m seja in d e n iz a d o , d ev e rá p ro v a r q u e h o u v e u m
d a n o in d en izá v el, h o u v e falha d o serviço p úblico, e o nex o c a u ­
sai e n tre o d a n o e a falha d o serviço público.
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C IV IL ESTATAL

S e g u n d o P a u l Duez^-, a teoria d a falta d o serviço p ú b lic o se


caracteriza p o r q u a tro essenciais pontos:
a)a re s p o n sa b ilid a d e d o serviço p ú b lic o é u m a re s p o n sa ­
b ilid a d e p rim á ria , ou seja, a A d m in istraçã o é re sp o n sá v e l
n ã o p ela relação q u e p o ssu i co m seu p re p o sto , co m o sim ­
ples p re p o n e n te e p re p o sto , m a s sim p elo fato d e este in te ­
g ra r aquele;
b)a falta d o serviço pú blico n ão d e p e n d e d e falta d o a g e n ­
te, d e s te conceito, a re sp o n sa b ilid a d e d o p re p o s to da A d ­
m in istração , n ã o retira o d e v e r d o ó rg ão jurisd icio n al sen ­
ten c ia r p ela ineficácia d o serviço p ú b lico , a tr ib u in d o à
A d m in is tra ç ã o Pública, a culpa;
c)o q u e ac arreta a re sp o n sa b ilid a d e é a falta, n ã o o fato de
serviço, n ã o p o d e n d o a teoria d a falta a d m in istra tiv a ser
a ssim ila d a à teoria d o risco;
d )n e m to d o defeito d o serviço acarreta a re s p o n s a b ilid a ­
de: re q u e r-se , p a r a q u e esta se ap erfeiço e, o c a rá te r de
d efectib ilid ad e, cuja apreciação varia s e g u n d o o serviço, o
lugar, as circunstâncias.
A falta d o serviço p ú b lico p o d e o co rrer d e três m o d o s , se­
g u n d o José d e A g u ia r D i a s - \ a saber: m a u fu n c io n a m e n to d o
serviço; d o n ão -fu n cio n am e n to d o serviço; e d o seu ta rd io fun ci­
o n am e n to .
N a p rim eira m o d a lid a d e verificar-se-á a re s p o n sa b ilid a d e da
A d m in is tra ç ã o Pública to d a s as vezes q u e o serviço pú b lico a p r e ­
s e n ta r u m a falha na su a prestação. É, p o rta n to , u m a falta comis-
siva. O serviço público atua, po ré m , fora da n o rm a lid a d e , c a u ­
s a n d o pre ju íz o s d e d iv ersas form as.

d p u d J o s é de A g u ia r Dias, 1995, p. 565/566, op . d l.

^^Op. cü , 1995, p. 568.


4 6 M Á R C IO X AV IE R C O E L H O

O serviço p o d e funcionar m al, seja n o seu funcionam ento, seja


n a su a execução. O correrá a prim eira hipótese q u a n d o se consta­
tar q u e a falta foi o riu n d a d e q u a lq u e r m o vim ento, q u a lq u e r ati­
v id a d e da A d m in istração Pública, sem se cogitar qual era o obje­
tivo a atingir. O correrá a falta d o serviço pela execução, q u a n d o
se verificar q u e falhou a A dm inistração Pública, d ese n v o lv e n d o
sua atividade-fim . A s eg u n d a m o d a lid a d e diz respeito ao não-
fu n cio n am en to d o serviço público, o co rren d o to das as vezes q u e
a A d m in istração n ão atuar. A falha decorre de sua om issão.
H á a ex p ectativ a d o serviço, e m c o n tra p a rtid a , n ã o h á a a t u a ­
ção d a A d m in is tra ç ã o Pública. Exem plo; falta d e o b ra s d e infra-
e s tru tu ra básica d e hig ien e pú b lica e m d e te rm in a d a localidade,
c a u s a n d o d a n o s à s a ú d e d o s h a b ita n te s locais; falta d e re p a ro s
em e s tra d as, d a n d o ensejo a d iv erso s acidentes.
A falta d o serviço d ecorre, em su a terceira m o d a lid a d e , a tra ­
vés d o fu n c io n a m e n to tard io d a A d m in istraçã o Pública. O corre
a re s p o n sa b ilid a d e nessa m o d a lid a d e q u a n d o o serviço público
a tu a com len tid ão , m o ro sid a d e , fazendo com q u e o c id a d ã o te­
n h a p re ju íz o s d e div ersa s ordens. Exem plo: d e m o ra n a d e s o b s ­
tru çã o d e via p ú b lica p ro v o c a d a pela A d m in istraçã o , im p e d in ­
d o o trâ n sito d e carros q u e levam alim entos perecíveis, v in d o
estes a se d e g r a d a r e m , o u d o deslo ca m en to d e u m e n fe rm o p a ra
u m h o sp ita l, a tra s o n o serviço d o s correios, p r e ju d ic a n d o o u
i m p e d in d o negócios d o s particulares.
A teoria d a falta d o serviço exige, e n tre ta n to , q u e a v ítim a
p ro v e a falta d o serviço, p o r q u a lq u e r m o d a lid a d e , e p a r a carac­
teriz ar o d e v e r d e in d en iza r, a v ítim a terá q u e d e m o n s tra r o nexo
causai en tre a falha d a a d m in istra ç ã o e o d a n o sofrido.
C h a m a m -n a ta m b é m d e teoria d o ac id en te adm inistrativo.-^

José C refella Jr., 1992, p. 354/355, op . cil.


F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C IV IL ESTATAL -

3.3.2 Teoria do risco administrativo


A teo ria d o risco a d m in istra tiv o é a a d m itid a e a p lic a d a no
o rd e n a m e n to ju ríd ico brasileiro. C o n sa g ra d a e m a n tid a d e s d e a
C o n stitu içã o d e 1946, está p re se n te na a tu a l C a rta M ag n a , n o §
6" d e seu artig o 37. Aliás, o m e n c io n a d o d isp o sitiv o co n stitu cio ­
nal é n o rm a d e eficácia im ediata, com efeito ex mine, o u seja,
inaplicáv el a fatos oco rrid o s an te rio rm e n te à su a vigência. É o
q u e n o s en sin a o ju rista Alcio M anoel d e Souza.
P ara a teoria subjetivista d a cu lpa civil, o f u n d a m e n to d a o b ri­
gação d o E s ta d o e m in d e n iz a r é a cu lp a d a A d m in is tra ç ã o o u de
ag e n te desta. P ara a teoria publicista da falta d o serv iço público
exige-se u m a falha d o m esm o. P ara a teoria d o risco a d m in is tra ­
tivo, os re quisitos s u p ra m e n c io n a d o s são to ta lm e n te d is p e n s á ­
veis, p elo q u e, p erm ite-se à vítim a ser in d e n iz a d a , s e m p re q u e
o correr, p o r ação o u om issão, u m fato lesivo p ra tic a d o pela A d ­
m in istra çã o Pública.
C o n sta ta-se q u e a form a é objetiva, ex ig in d o -se p a ra a c o n s u ­
m aç ão d o d e v e r d e in d en iza r, três requisitos;
1)a ocorrência d e u m a c o n d u ta com issiva o u o m issiv a da
A d m in is tra ç ã o Pública;
2 )efetiv am en te u m dano;
3)existir nex o d e c a u salid ad e e n tre a c o n d u ta d a A d m in is ­
tração e a ocorrência d o dano.
A o se co n s titu ir em fonte irra d ia n te d e p o d e r, o E stad o torn a-
se n ã o só a b ase d e v a lid a d e d e toda a c o n d u ta d e seus h a b ita n ­
tes, m a s ta m b é m o ag en te p rim ário re sp o n sá v e l pela A d m in is ­
tração Pública.
U m a d a s funções d o E stado é a d e p ro p o rc io n a r o b em -e star
social, a tra v é s d e sua fu nção a d m in istrativ a. Esta, n e m s e m p re

P u blicada no Ju ris S ín te se n. 2 2 - M AR./ABR. de 2000.


4 8 M Á R C IO XAVIER C O E L H O

co n se g u e c u m p rir s u a finalid ade com perfeição, a b a la n d o , em


a lg u m a s ocasiões, a situação jurídico-econôm ica d o p articular.
P o r isso a teoria se d e n o m in a d e risco ad m in is tra tiv o , pois
n i n g u é m a d m in is tra sem incorrer n o s riscos d e sta a tiv id a d e . "A
p re s e n te teoria te m n o risco e n a s o lid a rie d a d e social, seu s u p o r ­
te essencial, v is a n d o à p artilh a d o s en carg o s p a r a u m a perfeita
d istrib u iç ão d e justiça".-''
O b s e r v a n d o -s e o p rin c íp io da d istrib u iç ã o d o s e n c a rg o s s o ­
ciais, to d o s os c o m p o n e n te s d a c o m u n id a d e d e v e m p a r tic ip a r
n o re s ta b e le c im e n to d a situ açã o econ ô m ic o -ju ríd ica d a v ítim a,
via erário.
M as n ã o é só a constatação d o nexo de c a u s a lid a d e en tre a
c o n d u ta lesiva da A d m in istra ç ã o Pública e o d a n o a m a rg a d o
p elo p a rtic u la r q u e vai ensejar o d e v e r d e in d en iza r. H á fatores
q u e q u a n d o n ã o excluem esta obrigação, ao m e n o s d im in u e m o
v alor a se a p u ra r. São casos com o os de p artic ip a çã o cu lposa d o
p a rtic u la r n o evento, com m e n o r o u m a io r in te n s id a d e , fato de
terceiro, caso fortuito, força m aio r, enfim , q u a lq u e r fato a n u la n ­
d o o n ex o causai.
E n tre ta n to , este onus probandi p ertence à A d m in is tra ç ã o e n ão
ao p a r tic u la r v itim ad o , pois se p e rm ite à A d m in is tra ç ã o p ro v a r
a q u e b ra d o nexo d e cau salid ad e, d ireito n ã o extensivo à teoria
d o risco integral.

3.3.3 Teoria do risco integral


Foi Leon Duguit-" q u em criou a teoria d o risco integral, a qual,
p a ra ele, sim b o liz av a u m a form a d e s e g u ro social s u s te n ta d o

O n o fre M endes Jr., N atureza d a responsabilidade da adm in istraçã o pública, 1951, p. 142 -
a p u d R u i Stoco. 1995, p, 314.

In: L a s tra n s fo rm a c io n e s d e l D erecho Público, p. 3 0 6 e s e g s ., a p u d C a io M ário da Silva Perei­


ra, 1990, p. 141.
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C IV IL ESTATAL - 49

pela c o m u n id a d e , p o d e n d o ser beneficiário q u a lq u e r p artic u la r


q u e sofresse lesão e m seu p atrim ônio.
O objetivo da teoria d o risco integral é d e tra n s f o rm a r o E sta­
d o e m u m g a ra n tid o r, u m s e g u ra d o r d o e q u ilíb rio econ ôm ico e
juríd ico d o s particulares.
P o r essa teoria se form aria u m a caixa c o m u n itá ria co n stitu í­
d a p e lo erário, se n d o o beneficiário o p a rtic u la r q u e viesse a s o ­
frer u m a lesão.
Pela teo ria d o risco in teg ra l, o E stad o ficaria na o b rig aç ão
in d e c lin á v e l d e in d e n iz a r q u a lq u e r d a n o a m a r g a d o p e lo s p a r ­
ticu lares. A A d m in is tra ç ã o n ã o p o d e ria , s e q u e r, o p o r a s e u fa­
v o r n e n h u m a ca u sa q u e a m e n iz a s s e o u excluísse o v a lo r d a in­
d e n iz a ç ã o , c o m o a c u lp a c o n c o rre n te e a c u lp a ex c lu siv a d a v í­
tim a.
Ig u a lm e n te n ã o p o d e ria aleg ar a ausê n cia d o n e x o d e c a u sa ­
lid a d e d e su a c o n d u ta , co m o o fato d e terceiro, força m a io r e
caso fortuito, a in d a q u e agisse a v ítim a c o m c u lp a o u dolo.
N esse sentido, d em o n stra com m uita p ro p r ie d a d e o a ssu n to o
d o u trin a d o r Sergio CavaÜeri Filho {1999, p. 162/163), afirm ando;

A t e o r i a d o ri s c o i n te g r a l, c o m o já e n f a t i z a m o s , c m o d a l i ­
d a d e e x t r e m a d a d a d o u t r i n a d o r i s c o p a r a j u s t if i c a r o d e v e r d e
i n d e n i z a r m e s m o n o s c a s o s d e c u l p a e x c l u s i v a d a v í t i m a , fa to
d e t e r c e i r o , c a s o f o r t u i t o o u d e fo rç a m a i o r . É o q u e o c o r r e , p o r
ex em p lo , n o caso d e a cid e n te d e trabalho, e m q u e a in d e n iz a ­
ção é d e v id a m e s m o q u e o a c id e n te te n h a d e c o rr id o d e c u lp a
e x c l u s i v a d a v í t i m a o u c a s o f o r t u it o . S e f o s s e a d m i t i d a a t e o ri a
d o r i s c o i n t e g r a l e m r e l a ç ã o à A d m i n i s t r a ç ã o P ú b l i c a , fic a r i a o
E stado o b rig ad o a in d en iz ar se m p re e em q u a lq u e r caso o d an o
s u p o r t a d o p e lo p a rtic u la r, a in d a q u e n ã o d e c o r r e n te d e su a
a tiv id a d e , p o s to q u e e staria i m p e d i d o d e in v o c a r a s c a u s a s d e
5 0 M Á R C IO X AV IE R C O E L H O

e x clu sã o d o nexo causai, o que, a to d a e v id ê n c ia , c o n d u z iria ao


a b u s o e à in iq ü id a d e .

A ssim , conclui-se q u e os re quisito s necessários p a r a a confi­


g u ra ç ã o d o d e v e r d e in d e n iz a r são d e a p e n a s d u a s o rdens;
1) a existência d e u m dano;
2) q u e este d a n o ten h a sido p ro v o c a d o p o r ato d a A d m i­
nistraç ão Pública.
C o m o a A d m in is tra ç ã o Pública n ã o p o d e ria o p o r e m seu fa­
v o r a q u e b ra d o n ex o d e c a u salid ad e, m e s m o n o caso d e culpa
exclusiva o u co n co rren te d a vítim a, a m e sm a teria o d e v e r d e
in d e n iz a r s e m p re q u e d e su a a tiv id a d e a d m in is tra tiv a dec o rre r
d a n o s aos particulares.
T o d o s os estu d io s o s d o a s su n to são u n ifo rm e s e m d iz e r q u e
a teoria d o risco integral é radical e e x tre m a d a , c o n d u z in d o à
in iq ü id a d e s u a aplicação.
Jean D efroitm ont^” chegou a cogno m iná-la d e brutal.

4 FATO GERADOR DA RESPONSABILIDADE


CIVIL ESTATAL: ALGUMAS HIPÓTESES
C o m o a d in â m ic a d a v id a é algo im previsível, n ã o se p r e te n ­
d e te n ta r d e m o n s tra r to d a s as form as e m q u e se p o d e r á o correr
o fato g e r a d o r d a re s p o n sa b ilid a d e civil estatal.
E n tre ta n to , a lg u m a s situações m ere ce m ser e x a m in a d a s, seja
p o r serem m ais corriqueiras, seja p o r serem m ais in u sita d as.

4.1 ACIDENTES AUTOMOBILÍSTICOS


P a ra a realização d e certas ativ id ad e s, os entes estatais neces­
sitam a d q u irir a u to m ó v e is p a ra a p rática d e d e te rm in a d a s ativi-

2: In: La scien ce d u D roit Posítif, p. 339, a p u d W la d im ir Valler, 1993, p. 33.


F U N D A M E N T O S DA R E S P O N S A B IL ID A D E C I V I L ESTATAL — 51

d ad e s, p o d e n d o utilizá-los p a r a d iv erso s fins, sejam d e s tin a d o s


aos ó rg ã o s d e se g u ra n ç a pública (viaturas), ao tra n s p o r te d e e n ­
ferm os (am bulâncias), ao tra n sp o rte d o s chefes d e p o d e re s e u m a
série d e o u tra s atividades.
C o m o n ã o p o d e ria ser diferente, q u a n d o c o n d u z id o s d e fo r­
m a e rrô n ea , p ra tic a n d o atos q u e p o ssa m c a u s a r d a n o s a tercei­
ros, d ev e a e n tid a d e estatal resp o n sáv el re p a ra r os d a n o s p o r ­
v e n tu ra c a u sad o s, cabendo-lhe, p o ste rio rm e n te , v o ltar-se con ­
tra o s e rv id o r q u e o b ro u com dolo ou culpa.
A plica-se a teoria d a re sp o n sa b ilid a d e objetiva, in scu lp id a no
§ 6° d o artig o 37 d a C on stitu ição Federal, e m q u e necessário é a
d e m o n s tra ç ã o d e três requisitos, a saber: a) a existência d e u m
d an o ; b) a c o n d u ta d a a d m in istra ç ã o pública; c) o nex o d e c a u sa ­
lid a d e e n tre esse d a n o e a conduta.
P o d e rá a A d m in istraçã o Pública, p ara exim ir-se d o d e v e r de
in d e n iz a r, d e m o n s tra r a q u eb ra d o nexo d e c a u sa lid a d e , o u ao
m e n o s d im in u ir su a re sp onsabilidade.
A q u e b ra d o nex o d e ca u sa lid a d e p o d e rá ser feita a tra v é s da
d e m o n s tra ç ã o d a cu lp a exclusive o u c o n c o rre n te d a vítim a, s e n ­
d o q u e nesse ú ltim o caso h a v e rá tão -so m e n te a d im in u iç ã o d a
re sp o n sa b ilid a d e. P o d erá d e m o n stra r, ta m b é m , o caso fortuito,
a força m aior, fato d e terceiro, en tre o u tro s aspectos q u e q u e ­
b re m o nexo d e causalidade.
N e sse sen tid o n ã o p a ira m d ú v id a s, se n d o m u ito c o m u m tais
ac o ntecim entos, q u e p o r várias vezes são ju lg a d o s p o r nossos
tribunais. A p ro p ó s ito , v ale ob serv ar os s e g u in te s julgados;

M U N IC ÍP IO - RESSA R C IM E N T O D E D A N O S C A U S A D O S
E M A C I D E N T E DE V E Í C U L O DE V IA T E R R E S T R E - R E S P O N ­
S A B I L I D A D E C IV I L O B J E T IV A - S E G U R A D O R A - D IR E IT O
M A R C IO X A VIER C O E LH O

D E REGRESSO - IS E N Ç Ã O D O P A G A M E N T O D E C U S T A S -
LEI C O M P L E M E N T A R E S T A D U A L N " 1 6 1 / 9 7 - E X E G E S E -
REEXAME - PR O V IM E N T O PA R C IA L - E x v i d o a r t. 37, § 6",
d a M a g n a C a rta , d e m o n s tra d o o n e x o d e c a u s a lid a d e e n tre o
a to e o p re ju íz o d e c o r r e n te d e s u a p rá tic a, in a r r e d á v e l é o p a ­
g a m e n to , e m face d a re sp o n sa b ilid a d e d o p o d e r p ú b lic o p e lo
risco a d m in is tr a tiv o . H á isen ção d o m u n ic íp io n o p a g a m e n to
d e c u s t a s , d i a n t e d a Lei C o m p l e m e n t a r E s t a d u a l n " 1 6 7 / 9 7 .
(T jS C - A C 0 0 .0 0 6 0 7 1 -2 - 6 ' C .C ív . - Rei. D e s. F r a n c i s c o O l i v e i ­
r a F i l h o - J . 30.11.2000)

R E S P O N S A B I L ID A D E C IV IL D O M U N I C Í P I O - A C I D E N T E D E
T R Â N S I T O - C O L I S Ã O DE V E ÍC U L O S - M O R T E D A V Í T IM A
- R E S P O N S A B I L I D A D E O B J E T IV A - D A N O M A T E R I A L -
D A N O M O R A L - E L E V A Ç Ã O - R E S P O N S A B I L I D A D E C IV IL
- A c i d e n t e o c o r r i d o c o m c o lis ã o d e v e íc u l o e m v ia p ú b l i c a , c o m
re tro e sc av a d e ira d e p r o p r ie d a d e d o M u n icíp io , q u e tran sita v a
n a p i s t a , e m v e l o c i d a d e l e n t a e c o m d e f ic i e n t e i l u m i n a ç ã o t r a ­
se ir a , s e m b a t e d o r e s o u q u a l q u e r e s q u e m a d e s e g u r a n ç a . R e s ­
p o n s a b i l i d a d e o b je tiv a . N e s t a s c ir c u n s t â n c i a s , o f a to d o v e íc u l o
h a v e r c o lid id o co m a p a rte traseira d a m á q u in a n ã o i n d u z a
r e s p o n s a b i l i d a d e e x c l u s i v a d a v ítim a . F a l e c i m e n t o d e a m b o s os
o c u p a n te s d o carro. O b rig ação d e in d e n iz a r as v iú v a s p o r d a ­
n o s m a te ria is e m o rais. P ro ced ên cia d o s p e d id o s . C o n firm a ç ão .
R e p a r o s e m re la ç ã o a o (jm n tu n i a r b i t r a d o a t ít u l o d e d a n o s m o ­
ra is, a s e r e l e v a d o . P r o v i m e n t o p a r c i a l d o p r i m e i r o r e c u r s o e
i i n p r o v i m e n t o d o s e g u n d o . (TJRJ - A C 2 1 2 3 8 / 1 9 9 9 - ( 0 4 0 9 2 0 0 0 )
- 5" C .C ív . - Rei. Des. R o b e r to W i d e r - J. 06.06.2000)

R E S P O N S A B I L I D A D E C IV IL - E S T A D O E M U N I C Í P I O - RES­
P O N S A B I L I D A D E C IV IL - A C I D E N T E D E T R Â N S I T O - A T O
D E A G E N T E M I L IT A R - C o l i s ã o d e v e í c u l o d i r i g i d o p o r s o l d a ­
d o d a PM , n a c o n tra m ã o d e direção. Q u a n d o e m p e rse g u iç ã o d e
s u p o s t o s m e l i a n t e s na d e s c i d a d e se rra . O r d e m d e a u t o r i d a d e
im p ro v a d a . - O E stado, p o r u m a d e s u a s e n tid a d e s d e d ireito
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C IV IL E S T A T A L---------------

p ú b lic o , te m r e s p o n s a b i l i d a d e objetiva, p e lo a to d a n o s o q iie s e u


a g e n t e c a u s a r. O a to d e p e r s e g u iç ã o n ã o e x i m e o a g e n t e d e c u lp a ,
p o i s é e x ig i d a a p r u d ê n c i a . I n v a d ir a c o n t r a m ã o , n o tr â n s it o de
v e íc u lo s, c a u s a n d o d a n o s é i m p r u d ê n c i a q u e n ã o é d e sfe ita p e la
p e r s e g u i ç ã o a s u s p e i t o s d e p r á tic a c rim in o s a . (T A C R j - A C 5 8 3 2 /
90 - (Reg. 3650) - C ó d . 90.001,05832 - 6" C. - Rei. ] u i z A r r u d a
F ra n c a - ]. 05.06.1990) { E m e n tário TA C R J 2 3 / 9 5 - E m e n t a 33439)

N ã o se p o d e esquecer q u e é a A d m in istraçã o P ública q u em


re g u la a a tiv id a d e d e trân sito, facilitando aos a d m in is tra d o s a
re g u la çã o d a s re g ra s d e circulação e as vias d e p assa g em .
N esses casos ta m b é m o co rrem acidentes, m u ita s d a s vezes
n ã o p o r colisão en tre veículos d a A d m in istra ç ã o Pública e te r­
ceiros, m a s sim pelo fato d e n ão h a v e r sin alização a d e q u a d a ou
até m e s m o su a falha, b e m com o a falta d e re p a ro e m pistas, com o
v e m o s d a s s ú m u la s d o s acó rd ão s abaixo transcritos.

R E S P O N S A B I L I D A D E C IV IL D O M U N I C Í P I O - A C I D E N T E
DE T R Â N S IT O - S E M Á F O R O C O M D E FE IT O - N Ã O -C O L O -
C A Ç Ã O DE AG EN TE C O N TR O LA D O R N O LOCAL ATÉ O
SEU C O N S E R T O - O M IS S Ã O D O PO D E R P Ú B L I C O - N E G L I­
G Ê N C IA C O N FIG U R A D A - Ô N U S IN D E N IZ A T Ó R IO -S e d e ­
m o n strad a à n lic n te r tn n fu n i a e x is tê n c ia d e n e x o c a u s a i e n t r e o
a c id e n te d e trân sito e o n ã o -f u n c io n a m e n to d o s e m á fo ro n o
c r u z a m e n t o o n d e o c o r r e u e q u e o P o d e r P ú b l i c o foi o m i s s o ,
p o r n ã o te r s e q u e r c o l o c a d o u m a g e n t e c o n t r o l a d o r d o t r á f e g o
n o local a t é q u e o s e m á f o r o v o l t a s s e a f u n c i o n a r , fica c o n f i g u ­
r a d a s u a m a n i f e s t a n e g l i g ê n c i a e, \ ia d e c o n s e q ü ê n c i a , s u a r e s ­
p o n s a b ilid a d e p e lo s d a n o s m ate ria is re su lta n te s d e sse a c id e n ­
te. - A p e l a ç ã o C í v e l n. 2 3 9 . 9 9 1 -3 / 0 0 - C o m a r c a d e U b e r l â n d i a
- R e la to r: D e s. H y p a r c o Im m esi.-''

Acó rdã o p ublicado no D iário do Judiciário do TJM G - “M inas G erais", e m 06 de m aio de 2003.
5 4 M Á R C IO XAVIER C O E L H O

I N D E N IZ A Ç Ã O - S IN IS T R O - V E ÍC U L O - T R E C H O EM
O B R A S - M Á S IN A L IZ A Ç Ã O - R E SP O N S A B IL ID A D E D O
M U N I C Í P I O - C U L P A - N E G L IG Ê N C IA - T EO R IA D A FA L­
T A D O SE R V IÇ O PÚ B L IC O - V erificad a a m á sin a liz a ç ã o d o
lo c a l d o a c i d e n t e , o n d e o m u n i c í p i o r e a l i z a o b r a s , i m p õ e - s e
s u a c o n d e n a ç ã o n a rep aração d o s d a n o s m ateria is e fe tiv am en ­
te c o m p r o v a d o s , e is q u e n ã o c o m p r o v o u c u l p a e x c l u s i v a d a
v í t i m a (art- 37, § 6 "', d a C F). D e s c a b i m e n t o d e l u c r o s c e s s a n t e s
p o r fa lta d e p r o v a s d e s u a o c o r r ê n c i a . ( T J M G - A C 000.205.800-
6 / 0 0 - 1" C .C ív . - Rei. Des. P a r i s P e i x o t o P e n a - J. 08,02.2001)

A C I D E N T E DE T R Â N S I T O - P O N T E C O M E S T R U T U R A D E ­
F E I T U O S A - Q U E D A DE V E ÍC U L O - O B R I G A Ç Ã O D E R E P A ­
R A R O S D A N O S - R E S P O N S A B I L ID A D E C IV I L O B JE T IV A -
C U S T A S - 1. Se o a c i d e n t e d e tr â n s it o o r i g i n o u - s e d e d e f e i t o n a
e s tru tu ra d e p o n te e m ro d o v ia m u n ic ip al, d e v e o m u n ic íp io re s­
sa r c ir o s d a n o s d e l e r e s u l ta n t e s . 2. O m u n i c í p i o e s t á i s e n t o d o
p a g a m e n t o d e c u s t a s j u d i c i a i s {LC n" 1 5 6 / 9 7 ) . {TJSC - A C
99.016257-5 - 6 ” C .C ív. - Rei. Des. N e w t o n T r i s o t t o - j . 30.11.2000)

A con teceu, nesses casos, u m a falha d o serviço p ú blico, e x a ta ­


m e n te n o s m o ld e s d a teoria falte du service. T o d av ia , e m b o ra p a ­
reça n ã o ser possível a busca d a re p a ra ç ã o d o d a n o , já q u e a
teoria a d o ta d a pela C o n stitu ição F ederal é a teoria d o risco a d ­
m in istra tiv o , resolve-se o im p asse p ela aplicação d a re g ra d e d i ­
reito civil co m u m .
P ortan to , q u a n d o os a d m in istrad o s se d e p a ra re m com o sofri­
m e n to d e d a n o s p o r falha d o serviço público, p o d e rã o b u sc a r a
d ev id a reparação, d e sd e q u e d em o n stra d o em juízo as caracterís­
ticas d a responsab ilidade subjetiva, o u seja: a) a ocorrência d e u m
dano; b) a c o n d u ta (ação o u om issão) da A d m in istração Pública;
c) a culpa da A dm inistração Pública; d) o nexo d e ca u salid ad e.
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C IV IL ESTATAL - 55

4.2 REVOLTAS, GUERRILHAS E GUERRA


C o m o é cediço, os m o v im e n to s sociais acon tece m n este país
com g r a n d e freqüência, m u ita s vezes a trib u íd o s às d e s ig u a ld a ­
d e s so cioeconô m icas d e nossa e s tru tu ra social.
A ssim , d e s d e o início d e nossa história, p a s s a m o s p o r v árias
revoltas, m o tin s e g u errilh as, se n d o o fe n ô m e n o d a g u e rra u m
ta n to q u a n to in c o m u m , salvo o e p isó d io d a 2 ' G u e rra M u n d ial,
cujo E stado brasileiro p artic ip o u ativam ente.
O q u e s tio n a m e n to a esse respeito é sab er se a A d m in istraçã o
Pública re sp o n sa b iliz a-se p o r d a n o s c a u s a d o s e m d ecorrên cia
d e tais atitudes.
A m e lh o r re sp o sta parece e star com João Francisco S a u w e n
Filho^", q u a n d o o ilu stre D o u to r v e m a firm a r q u e os atos p r o ­
v o ca d o s p o r terceiros só p o d e r ã o ser a trib u íd o s c o m o re s p o n s a ­
b ilid a d e d a A d m in istraçã o Pública se o E stado tin h a o d e v e r ju ­
rídico d e evitá-lo e p o d e ria fazer a te m p o e n ã o o fez.
P arece ser im p e rtin e n te q ue a A d m in istraçã o P ública, p o r não
co n se g u ir im p e d ir os atos d e m o v im e n to s sociais com o o MST -
M o v im e n to d o s Sem -Terra, o M o v im en to d o s S em -C asa, entre
outros, seja re sp o n sa b iliz ad a p elos d a n o s q u e p o rv e n tu r a sofram
terceiros, pois, se assim fosse, estaria se n d o ap lica d a a teoria do
risco integral, o q u e n ã o se adm ite. A dem ais, isto c a u saria o to­
tal r o m p im e n to com a seg u ran ça e a ordem .
M as o q u e d iz e r d e atos q u e n ão im p o rte m e m m o v im e n to s
sociais com o os acim a m en c io n a d o s, m as sim v e r d a d e ira s re v o l­
tas e g u errilh as, tal com o a fam o sa R evolta d a s C h ib a ta s ocorri-

In: D a R esp o n sab ilid ad e C ivil d o Estado, São Paulo: Lum en Júris, 2001, p. 92: “Q u a n to aos
d an o s provo ca d os p o r terceiros, co m o na hipótese das dep re d açõ e s p op u lare s d e co rre n te s de
tu m ultos de ruas e outras m anifestações do gênero, sem prejuízo da posiçã o o bjetivista adotada
pela C onstituição, só pod e rã o ser levados à responsabilidade do Estado, se este, tendo o dever
ju rid ic o de p revê-lo e evitá-lo e podendo fazé-lo, não o taz”
5 6 -------- M Á R C IO XAVIER C O E LH O

d a n o Rio d e Janeiro n o ano d e 1910, b e m com o a g u e rrilh a u r b a ­


n a in sta la d a n o p aís e m ra zão d o s an o s d e re g im e m ilitar.
Tais fatos, an te s su p o s ta m e n te tidos co m o in ad m issív e is p ara
a resp o n sa b iliz açã o d a A d m in istraçã o Pública, a p ó s lo n g o s anos,
saem d o s alicerces d a s instituições constitu cio nais com u m a re s­
p o s ta concreta e positiva.
N o d ia 21 d e o u tu b ro d e 2003, o C o n g re sso N acio n al reco­
n h e c e u a anistia e ind en iza ção p a r a a fam ília d o m a rin h e iro João
C â n d id o Felisberto, líder da Revolta d a s C h ibatas, oco rrid a no
início d o século p assa d o . Tal decisão p arece ser e m c o m u m a c o r­
do d a C o m issã o d e C onstituição e Justiça (CCJ) da C â m a ra d o s
D e p u ta d o s e G o v e rn o Federal.'*
N o m e sm o sen tid o , a U n ião in d en iza rá a fam ília d e u m m ili­
ta r vítim a d a g u errilh a u rb a n a d u ra n te o re g im e m ilitar n o Bra­
sil. T rata-se d a família d o s o ld a d o M ário Kozel Filho, m o rto p o r
ocasião d a ex plosão d e u m carro-bom ba, n a se d e d o Q u arte-G e-
n eral d o Exército e m São Paulo, e m ju n h o d e 1968, b e m com o
L uiz Felippe M o n teiro Filho, filho d e Lydia M onteiro, m o rta n u m

N oticia e xtraída d o jorn a l “ E stado de Minas", de 22 de a gosto de 2003, o nd e se lê: " 0 C on ­


gresso deu ontem m ais um p asso para reconhecer, 93 anos depois, a a nistia e inden iza çã o à
fam ília do m a rintieiro João C ândido Felisberto, líder da ch am ada Revolta das C hibatas, ocorrida
no Rio, em 1910. A C om issã o de C onstituição e Justiça (CCJ) da C âm ara, e m co m um acordo
com 0 governo, pratica m e n te decidiu que a fam ília de Felisberto receberá um a in d e n iza çã o da
União. “ A Justiça ao marinheiro será feita", afirmou o presidente da CCJ, Luiz Eduardo Greenhalgh
(PT-SP). S e gu n d o G reenhalgh, a C âm ara tam bém deve rá e stip u la r o va lo r da indenização,
b ase a n do -se no períod o em q ue Felisberto teria passado na ÍVlarinha. 0 m arin h eiro liderou, no
início do século passado, um m ovim ento contra a punição aplicada pelos oficiais, q u e surravam
08 m arinheiros com chibatas, Felisberto foi anistiado pelo então presidente H erm es d a Fonseca,
mas, p ouco depois, foi d esliga d o da Iviarinha. Na sessão de ontem , a C CJ a na liso u o ca so do
m arinheiro, m as a proposta (oi retirada de pauta para m odificar o te xto orig ina l do Senado. "Só
q ue re m o s fa z e r as ada ptações jurídicas e legislativas. Isso não quer dize r que não irem o s a p ro ­
v a r a a nistia ”, e xplicou o presidente d a com issão. 0 processo de anistia do m a rin h eiro foi relata­
d o pelo S e na d o r Ruy Barbosa, em 1912, mas, a p e sa r de ter sido publicado, Felisberto nunca
recebeu q u a lq u e r inden iza çã o ou reconhecim ento. D esligado da (VIarinha, ele to rnou-se p esca­
dor, p rofissão qu e exerceu por 40 anos, até pouco a ntes da morte, e m 1969, aos 89 anos."
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B ILID A D E C IV IL ESTATAL - 5 7

a te n ta d o à s e d e da O rd e m d o s A d v o g a d o s d o Brasil (OAB) no
Rio, e m 1980.^^
O E stad o brasileiro, tu d o indica, a s s u m in d o os e rro s d o p a s ­
sado, está u tiliz a n d o o in stituto d a re s p o n sa b ilid a d e civil p ara
g a r a n tir justiça aos lesad o s p o r d a n o s o r iu n d o s d e re v o lta s e
g u e rrilh a s o co rrid as e m n osso país.
C o m o d ito alh u res, n ã o tem o s experiência c o m g u e rra s en tre
p aíses, p o rta n to , casos concretos são difíceis d e arrolar. E n tre­
tanto, p e n s a m o s , no c a m p o teórico, a p o ss ib ilid a d e d e a A d m i­
n istraç ão Pública in d e n iz a r e v e n tu a is v ítim as d e s u a agressão.
E o caso, p o r exem plo, de o Brasil p ro v o c a r injusta a g ressão a
o u tro país, sem os re quisitos co n stitucionais q u e a u to riz e m , d e ­
v id a m e n te prescritos, a tu a lm e n te n o T ítulo V d a C o n stitu ição
Federal.
Tal situação, além d e p e rm itir q u e os a g r e d id o s d e o u tro s
países, pelo ato b elig eran te d as Forças A rm a d a s, p o s tu le m junto
ao P o d e r Judiciário a d e v id a reparação, p e rm itirá a in d a os pró-

N otícia e xtra íd a do lornal “Estado de Minas", de 22 de a gosto de 2003, onde se ié "Pela


p rim eira vez. a U niã o inde n iza rá a fam ília de um m ilitar vitim a da gue rrilh a u rbana dura n te o
regim e m ilitar no Brasil. 0 casal M ário e Teresinha KozeI receberá R $3 3 0 ,0 0 m ensa is pela
m orte do filho, o sold a d o M ário Kozei Filho, m orto na explo sã o de um ca rro-b o m ba , na sede do
Q ua rte l-G e ne ra l do E xército em S ã o Paulo, em ju n h o d e 1968, Kozei Filho m o rreu num suposto
a ta q u e de gue rrilh e iro s de esquerda, q uando esta va de se ntinela n um a guarita d o QG d o Exér­
c ito na capital paulista. 0 caso do soldado tra n sform ou-se num a p olê m ica d en tro do M inisténo
da Justiça, desde 1996. q uando o gove rn o decidiu indenizar as fa m ílias d o s desa p a recid os
políticos. 0 en tã o tdealizador da lei, o e x-m inistro Jo sé Gregori, foi um d e fe n so r do pagam ento
da p ensão para os p ais d o militar, m as as restrições sobre o alca n ce do d ecre to presidencial,
que a pe n a s bene ficiava vítim a s do regim e ditatonal, não a lca n ça va o caso d e Kozei Filho. 0
assun to passou, então, a s e r analisado pela C om issã o de A n istia do M inistério da Justiça, que
estipulou 0 p a g a m e nto aos pais de Kozei Filho, de R $330,00, va lo r co rre sp o n d e n te a um soldo
de p raça das f^orças A rm adas. O utro que tam bém foi bene ficiad o nos últim os dias com indeni­
za ç ão do gove rn o federal foi Luiz Felippe M onteiro Filho, filho de Lydia ivtonteíro, m orta num
ate n ta do â se d e da O rd e m dos Ad vog a d os do Brasil (OAB) no Rio, em 1980. Até hoje, não ficou
co nclu íd o se o ato foi d e re sponsabilidade de grup o s esqu e rd istas da época. 0 va lo r da ind e n i­
za ç ão a s e r paga não foi d ivu lga d o pelo governo."
5 8 M A R C IO XAVIER C O E L H O

p rio s nac io n ais a g re d id o s d e se v erem re p a ra d o s , caso haja re ta ­


liação p o r p a r te d a nação agredida.

4.3 SEGURANÇA PÚBLICA E PENITENCIÁRIA


A o a s s u m ir a A d m in istraçã o Pública, o E stad o in clu iu , com o
seu ôn u s, o d e v e r d e m a n te r a o rd e m . A ssim , criou a se g u ra n ç a
p ú b lica e os ó rg ã o s d e a p a re lh a m e n to d a justiça, tais com o os
órg ã o s policiais, estabelecim entos p risio n ais e outros.
A C o n stitu içã o Federal p re scre v e e m seu artig o 144 q u e "a
se g u ra n ç a pública, d e v e r d o E stado, d ireito e re s p o n sa b ilid a d e
d e todos, é exercida p a ra a pre serv a ção d a o rd e m p ú b lic a e d a
in c o lu m id a d e d a s pesso as e d o p a trim ô n io ".
Será, o u tro ssim , q u e a violação d e n o ssa in c o lu m id a d e física
e d e n o sso p a trim ô n io , a u to riz aria a busca d a re p a ra ç ã o co n tra o
Estado?
A respeito, traz em o s a lu m e as seg u in tes passagens:

[...] O g o v e r n o d o E s t a d o d e S ã o P a u l o foi c o n d e n a d o p e l o ju iz
d a 4 ' V a ra d a F a z e n d a Pública, L u iz P a u lo A lie n d e R ibeiro, a
p a g a r i n d e n i z a ç ã o à v i ú v a e d o i s filh o s m e n o r e s d o d e s e m p r e ­
g a d o M á r c i o C o l o t t í M a g a l h ã e s , d e 27 a n o s , a s s a s s i n a d o e m
I t a q u e r a , z o n a le s te d a c a p i t a l , e m 20 d c s e t e m b r o d e 2000. O
j u i z d e c i d i u q u e o c r i m e d e c o r r e u d e f a lh a d a P o líc ia M i l i t a r a o
n ã o a t e n d e r p e d i d o s d e a j u d a p e l o t e l e f o n e 190. A v i ú v a P a u l a
O l i v e i r a d e C a r v a l h o M a g a l h ã e s e o s f i l h o s M . e P. r e c e b e r ã o
m en s alm en te , c ad a u m , p e n sã o d e u m salário m ín im o , a p artir
d a d a t a d a o c o r r ê n c i a a t é j a n e i r o d e 2038, q u a n d o a v í t i m a c o m ­
p l e t a r i a 65 a n o s . O E s t a d o v a i p a g a r t a m b é m à f a m í l i a i n d e n i ­
z a ç ã o d e 500 s a l á r i o s m í n i m o s p o r d a n o s m o r a i s . O j u i z e n t e n ­
d e u q u e h o u v e "fa lh a n o se rv iço p ú b lic o ".

N otícia e xtraída do jorn a l “Estado de M inas” , d e 05 de se te m bro de 2003.


FU N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C I V I L E S T A T A L-

I...] A d e c i s ã o d o T r i b u n a l d e Justit^a d e M i n a s G e r a i s , o n t e m ,
d e m a n t e r a c o n d e n a ç ã o d o E s t a d o p o r o m i s s ã o d a P o líc ia M i ­
l it a r n a m o r t e d a d o n a d e c a s a V e r a Liicia C o m e s , a s s a s s i n a d a
pe lo cab o re fo rm a d o L in d e m b e rg h M a rtin s d e A raújo, e m m aio
d e 1997, à s v é s p e r a s d o D ia d a s M ã e s , e s t á p r e s t e s a s e t r a n s ­
f o r m a r n o p r i m e i r o c a s o d e p u n i ç ã o n o B rasil p o r f a l h a n o s i s ­
t e m a d e s e g u r a n ç a p ú b l ic a .
O m a r i d o e o s tr ê s f i lh o s d a v í t i m a t e r ã o d i r e i t o à i n d e n i z a ç ã o
d e R$80 m i l r e a i s p o r d a n o s m o r a i s e à p e n s ã o m e n s a l n o v a l o r
t o ta l d e d o i s s a l á r i o s m í n i m o s , a t é q u e o m a i s n o v o , h o j e c o m
15 a n o s , c o m p l e t e 25. O s c á l c u lo s p r e l i m i n a r e s a p o n t a m q u e o
v a l o r a s e r p a g o d e p e n s ã o a o l o n g o d o s p r ó x i m o s 10 a n o s e q ü i ­
v a l e r á a R$57.600. O r e s s a r c i m e n t o d a s d e s p e s a s c o m h o n o r á ­
r i o s a d v o c a t í c i o s c o r r e s p o n d e a RS146.Ü80, a c r e s c i d o d e j u r o s
e c o rre ç ã o m o n etá ria .
O G o v e r n o d e M i n a s G e r a i s já r e c o r r e u d a d e c i s ã o , a t r a v é s d e
r e c u rso especial, q u e d e v e r á se r ju lg a d o p e lo S u p e r io r T r ib u ­
n a l d e J u s ti ç a (STJ), e m Brasília. " E l e s d e r a m e n t r a d a c o m u m
r e c u r s o e s p e c i a l , a r g ü i n d o m a t é r i a f a tí d i c a , a r g u m e n t o c a b í ­
vel a p e n a s e m caso s o n d e há v io la ç ão d a C o n s titu iç ã o Fed eral,
o que não é o caso ", d e sta c o u o irm ã o d a v ítim a, o a d v o g a d o
José A n tô n io Gom es.
Ele e x p l i c o u q u e fe z q u e s t ã o d e a t u a r c o m o a d v o g a d o n o p r o ­
cesso m o v id o p o r E x p ed ito A lves, m a r id o d a s u a irm ã , p a ra
e v i t a r q u e a m o r t e d e V e r a L ú c ia fic a s s e i m p u n e . " H á a i n d a o
p ro c e s so o n d e o c a b o é a c u s a d o d e p rá tic a d e h o m ic íd io q u a li­
f i c a d o " , e x p li c a , d e s t a c a n d o o a p o i o q u e r e c e b e u d o d e p u t a d o
e s t a d u a l D u r v a l  n g e l o (PT), d a C o m i s s ã o d e D i r e i t o s H u m a ­
n o s d a A s s e m b l é ia .
P o r d i v e r s a s v e z e s , V e r a L ú c ia c h e g o u a ac io n a r a P M , d e n u n ­
c i a n d o a m e a ç a s d e m o r t e fe ita s p e l o m il i t a r , q u e n a é p o c a ti­
n h a m a i s d e 50 a n o s . Hle \ i n h a a s s e d i a n d o a filh a m a i s v e lh a
d e l a , e n t ã o c o m 15 a n o s , O b a r r a c ã o d a v í t i m a e r a s e p a r a d o
a p e n a s p o r u m a p a r e d e d o q u a r to d e L in d e m b e r g h , q u e aleg a-
6 0 - - - M Á R C IO /A V IE R C O E LH O

v a ter p r o b le m a s m e n ta is e c o s tu m a v a lim p a r s u a s a r m a s d e ­
b a ix o d a jan ela d a vítim a, c o m o fo rm a d e in tim id á-la.
A d o n a d e c a s a e s t a v a c o m 36 a n o s q u a n d o foi b a l e a d a p e l o
a c u s a d o n a cabeça, b a rrig a e p e rn a . E m s e g u id a , o e x-P M a te o u
f o g o n o c o r p o d a v í t i m a . O s f i lh o s d e V e r a L ú c ia , h o j e c o m 15,
17 e 20 a n o s , a p a g a r a m a s c h a m a s e t e n t a r a m s o c o r r e r a m ã e .
O c a b o se tra n c o u e m casa e co lo co u fo g o n o p r ó p r i o b a rra c ã o ,
m a s s o b r e v i v e u . Ele m o r a e m B rasília, o n d e a g u a r d a j u l g a m e n ­
to e m lib e rd a d e .

E m b o ra seja d e v e r d o E stado a vigilância e c u id a d o d o s co n ­


d e n a d o s n o s estabelecim entos p risio nais, tal d e v e r n ã o é c u m ­
p rid o , p o is d e n tro d a q u e le s estabelecim entos e n c o n tra m o s to­
d o s os tip os d e crim es, tais com o tráfico d e d ro g a s, h o m icíd io s e
outros. A d e m a is, é m u ito c o m u m os p re s o s fu g ire m d o s estab e­
lecim entos prisionais, com eterem crim es fora, e re to rn a re m , “sem
q u e os ag e n tes pen iten c iário s p e rc e b a m ”.
E m to d a s essas situações, d e v e a A d m in istraçã o Pública se
resp o n sa b iliz ar, haja vista o d e v e r constitucional^’^ e legal^' q ue
lhe é im posto.
M as a A d m in is tr a ç ã o P ú b lic a ta m b é m tem o d e v e r d e z e ­
la r p e la i n t e g r i d a d e física e m o ra l d e s e u s p re s o s , p o r q u e os
m e s m o s ali e stã o p a r a se re sso c ia liz a r e n ã o p a r a c u m p r i r c a s ­
tig o c ru e l e d e s u m a n o . É ta m b é m u m d e v e r c o n s titu c io n a ] e
legal, e u m a v e z d e s a te n d id o , d e v e r á s u p o r t a r o ô n u s d a in ­
d e n iz a ç ã o , N e ss e s e n tid o , o b s e rv e m o s as s ú m u la s d o s s e g u in ­
tes ju lg ad o s:

N otícia e xtraída do jorn a l “Estado de M inas” , de 16 de m aio de 2002.

V ide artigo 5®, inciso XLIX d a CF: “é a ssegurado aos presos o respeito à integ rida d e fisica e
moral".

Vide a rtigo 6 3 0 d o CPP, bem co m o Lei n. 7.210, de 11 de julh o d e 1984 (Institui a Lei de
E xe cuçã o Penal).
F U N D A M E fíT O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C IV IL E S T A T A L-

R E S P O N S A B [ L I D A D E C I V IL D O E S T A D O - H O M I C Í D I O -
M O R T E D E D E T E N T O EM P E N I T E N C I Á R I A - C U L P A !N

V J G IL A N D O - R E S P O N S A B I L I D A D E O B J E T IV A D O E S T A ­
D O - A R T . 37 ~ § 6" - C O N S T I T U I Ç Ã O F E D E R A L D E 1988 -
D A N O M O R A L - IN D E N IZ A Ç Ã O - R E SPO N SA B ILID A D E
C I V I L D O E S T A D O - A ç ã o p r o p o s t a p o r c o m p a n h e i r a e filh o s
cie d e t e n t o a s s a s s i n a d o , j u n t a m e n t e c o m o u t r o s , n o i n t e r i o r d o
P resíd io H É L IO G O M ES, o n d e c u m p ria pen a, p o r p e n ite n c iá ­
r io s i n t e g r a n t e s d o c h a m a d o C O M A N D O V E R M E L H O , d u ­
r a n t e m o t i m q u e t e r ia c o l h i d o d e s u r p r e s a a a d m i n i s t r a ç ã o . A
a ç ã o , a q u e a l u d e o a r t i g o 37, § 6", d a C o n s t i t u i ç ã o d a R e p ú b l i ­
ca e n g l o b a t a n t o a c o n d u t a c o m i s s i v a c o m o a o m i s s i v a . S e a
r e s p o n s a b ilid a d e o b jetiv a d o E sta d o n ã o se c o n f u n d e c o m a
t e o r i a d o ri s c o i n t e g r a l , fica rá e le i s e n t o d e i n d e n i z a r s e o fa lo
h o u v e r o c o r r i d o p o r a t o d e t e r c e i r o o u e m d e c o r r ê n c i a d e fe­
n ô m e n o d a n a tu re za . M as a form ação, d e n tro d o p resíd io , d e
u m g r u p o c rim in o so revela ao m e n o s o m is sã o d o s a g e n te s a d ­
m i n i s t r a t i v o s e, a s s i m , o m o t i m n ã o s e r e v e s t e d o s r e q u i s i t o s
d a im p r e v is ib ilid a d e e irresistib ilid ad e. A o m is s ã o d a A d m i ­
nistração , d e sta rte , situa-se n o n e x o d e c a u s a lid a d e , d e m a n e i­
ra a a c a r r e t a r a i n c i d ê n c i a d o a r t i g o 37, § 6", d a C o n s t i t u i ç ã o , o
q u e e n s e ja a p r o c e d ê n c i a d o p e d i d o i n d e n i z a t ó r i o q u a n t o a o
d a n o m o r a l , já q u e i n d e m o n s t r a d a a o c o r r ê n c i a d e l e s ã o p a t r i ­
m o n i a l , {TJRJ - A C 5 4 9 4 / 9 6 - Reg. 170497 - C o d . 9 6 .001.05494
- C a p i t a l - 5 “ C .C ív . - Rei. D e s. H u m b e r t o M a n e s - J . 04.03.1997)

A P E L A Ç Ã O C ÍV E L - A ç ã o In d e n iz a tó ria . A s s a s s in a to d e p r e ­
so n o re c in to d e P en ite n c iá ria. R e s p o n s a b ilid a d e o b jetiv a d o
e n te pú b lico . C u l p a in v i^ ila n d o . D a n o s m ateria is e m o ra is re ­
q u e r i d o s c o n t r a o E s t a d o d e S e r g i p e p o r f ilh o e c o m p a n h e i r a .
P ro\ a d a u n iã o co n cu b in ãria d a re q u e re n te com o dc c u ju f. L e­
g itim id a d e . P ro c e d ên c ia . P r o v a d a a u n iã o c o n c u b in ã ria , a p ó s
a s e n t e n ç a d e 1" G r a u , p o r j u l g a d o p r o f e r i d o p o s t e r i o r m e n t e , e
a c o n c u b in a p a r te leg ítim a p a ra p le ite a r in d e n iz a ç ã o p o r m o r-
6 2 M Á R C IO X AV IE R C O E LH O

te d o c o m p a n h e i r o . E s t a b e l e c i d o o n e x o c a u s a i e n t r e a m o r t e e
a a u sê n c ia d e s e g u ra n ç a p r e s ta d a a o d e te n to , e d e v id a pe lo
E s t a d o a i n d e n i z a ç ã o p o r d a n o s m a t e r i a l e m o r a l a o f i lh o e à
c o m p a n h e i r a d o fa le c id o , e m d e c o r r ê n c i a d a r e s p o n s a b i l i d a d e
o b j e t i v a . R e c u r s o p r o v i d o e m p a r t e . D e c i s ã o u n â n i m e . (TJSE -
A C 5 0 6 / 9 7 - Ac. 2 9 / 9 8 - A r a c a j u - Rei'’. D e s '\ C l a r a L e ite d e
R e z e n d e - DJSE 10.02.1998)

P arece esta r e m v o g a a respo nsabilização d a A d m in istra ç ã o


P ública na form a d a te o riafaiite dii service, p ro v a n d o -s e , destarte,
a cu lp a d a A d m in istraçã o Pública.
D eve ser visto, o u tro ssim , q u e n ão é o sim p le s fato d e sofrer
violação e m nossa in te g rid a d e física o u p a trim o n ia l q u e vai ca u ­
sar o d e v e r d e in d e n iz a r, há q u e se d e m o n s tra r ca b a lm e n te a
falha d a a d m in istraç ão , q u a n d o tinha o d e v e r ju ríd ico d e evitar
o u p re v e r e p o d ia fazê-lo e n ão o fez.

4.4 DANO AO MEIO AMBIENTE


A C onstituição Federal, pelo capiit d e seu artigo 225, prescreve
que: 'T o d o s têm direito ao m eio am biente ecologicam ente equili­
b ra d o , b e m d e uso c o m u m d o p o v o e essencial à sadia q u a lid a d e
d e vida, im p o n d o -se ao P oder Público e à coletividade o d ev e r de
defendê-lo e preservá-lo para as p resentes e fu tu ra s gerações".
O s p a rá g ra fo s q u e d ã o seqüência ao artig o p re sc re v e m d eve-
res p a ra p a rtic u la re s e p a ra a p ró p ria A d m in istraçã o Pública.
De ac o rd o com os e n sin a m e n to s d a jurista A d ria n a F a g u n d e s
B u rg e r’^, a E C O /9 2 foi realizada com base n o R elatório B ruden-
tla n d d a C o m is sã o M u n d ia l p a r a o D e se n v o lv im e n to e M eio

In: R esp o n sab ilid ad e Civil p o r Dano C ausado ao Meio A m biente. (P ublicada na RJ n. 241 -
NOV./1997, p. 5). (CD n. 37 de sé rie J S 1 6 4 - 3 7 - Juris Síntese M illennium L egislação. J u risp ru ­
dência, D outrina e Prática Processual n. 37], C D-R O M .
F U N D A M E N T O S OA R E S P O N S A B ILID A D E C IV IL E S T A T A L 63

A m b ien te d a s N a ç õ e s U n id as, o n d e o s d o is p rim e iro s artigos d o


re latório prescrevem : "cad a ser h u m a n o te m o d ireito fu n d a m e n ­
tal d e v iv er em u m a m b ie n te a d e q u a d o à su a s a ú d e e ao seu
b e m -e s ta r”, e n o s e g u n d o artigo: "O s E stad o s d e v e m co n s e rv a r
e u tiliz a r o m eio a m b ie n te e os recursos n a tu ra is d e form a a p r o ­
teg e r as gerações p re sen tes e fu tu ra s ”.
C o m o vem os, o m eio am b ien te ec o logicam ente e q u ilib ra d o é
d ire ito p ú b lico subjetivo, d e v e n d o o in fra to r ser p e n a liz a d o na
fo rm a d a lei, sem prejuízo da rep aração am biental.
Vale n o ta r q u e o d ireito tu telad o é da sociedade, p o r se tra ta r
d e u m d ire ito coletivo, se n d o lícito, conform e o caso, o ajuiza-
m e n to d e ações p o p u la re s o u ações civis púb licas.
A s p esso a s físicas o u jurídicas, inclusive concessionárias de
serviços p ú b lico s, q u e c a u sare m d a n o s ao m eio am b ien te , com o
n ã o p o d e r ia ser diferente, d e v e m ser re sp o n sa b iliz ad as.
Tal d e v e r é extensivo à A d m in istraçã o Pública, co n c lu sã o q u e
c o m u n g a m o s com a ilustre p rofessora M arli A p a re c id a d a Silva
Siqueira'*^, ap lica n d o -se ao caso o d isp o sto n o § 6" d o artig o 37
d a C o n stitu içã o Federal, b em co m o as d isp o siç õ es c o n stan te s d o
artig o 225, s e m p reju ízo d as obrigações co n tra íd a s e m d e c o rrê n ­
cia d e ac o rd o s o u tra ta d o s internacionais.

4.5 DANO NUCLEAR


A a tiv id a d e n u c le a r é u m a a tiv id a d e d e risco excepcional,
d iferen te d a s d e m a is a tiv id a d e s e x e c u ta d a s pela A d m in is tra ç ã o
Pública. P o rtan to , verificam os u m a exceção à d o u trin a a d o ta d a
n o o rd e n a m e n to jurídico brasileiro q u a n to à resp o n sa b iliz açã o
estatal.
In: R esponsabilidade P atrim onial do Estado por seus A tos Lícitos e Ilícitos (P ublicada no Juris
S íntese n. 2 7 - J A N ./F E V ./20 0 1 ), [C D n. 37 de série J S 1 6 4-37 - Ju ris Sín te se M ille nn ium L e g is­
lação. J u risp ru dê n cia, D outrina e Prática Processual n. 37j. C D-R O M .
6 4 M Á R C IO X A VIE R C O E L H O

N e sse s e n tid o , le m b re m o s o q u e c o n c lu iu Jo ão F rancisco


S a u w e n Filho :

P o r o u t r o l a d o , e ra p r i n c í p i o a ce ito p a c i f i c a m e n t e p e la m e l h o r
d o u t r i n a e i te r a ti v a j u r i s p r u d ê n c i a p á t r i a q u e o s d a n o s d e c o r ­
r e n te s d e c a s o s fo rtu ito s e fatos d a n a tu r e z a n ã o e r a m in d en iz áv e is.
Isso, e v i d e n t e m e n t e , r e s t o u a l t e r a d o p e lo d i s p o s t o n a já r e f e r i d a
r e g r a d a a lí n e a c d o in ciso XXlll d o a r t i g o 21 d a C o n s t i t u i ç ã o
vigente, p e rm a n e c e n d o , a n o sso ver, p e rfeitam en te v ig o ra n te e m
r e la ç ã o a t o d o s o s d e m a i s c a s o s f o r t u it o s , a t é p o r q u e f o r a m e x ­
c l u í d o s d e l i b e r a d a m e n t e d o te x to c o n s t i t u c i o n a l (...]

P arece q u e os co n stitu in tes re so lv e ram a d o ta r a teo ria d o ris­


co in teg ra l p a ra a responsabilização p o r d a n o s d e c o rre n te s de
a tiv id a d e nuclear, p ois, conform e se verifica d o artig o 21, III, c,
da C o n s titu iç ã o F ederal, "a r e s p o n s a b ilid a d e civil p o r d a n o s
n u cle are s in d e p e n d e da existência d e culpa".
N esse sen tid o , m ais u m a vez é necessário re co rrer aos en si­
n a m e n to s d e M arli A parecida da Silva Siqueira'’*’;

N o ta -se q u e o d a n o p r o d u z id o está re la c io n a d o d i r e ta m e n te
c o m o c o m p o rta m e n to p o sitiv o e stata l e e m d e c o rrê n c ia d a si­
tu a ç ã o d e risco o u p e la p r o x im id a d e d o s locais d a s fo n tes
p ro p ic ia d o ra s d o s d a n o s. N a h ip ó te se d a s in stalaçõ es e se rv i­
ç o s n u c l e a r e s , a p r ó p r i a C o n s t i t u i ç ã o F e d e r a i d e 1988, e s t a b e ­
lec e e m s e u a r t i g o 21, XXIII, l e t r a " c " , q u e a r e s p o n s a b i l i d a d e
e stata l p e lo s d a n o s n u c le a re s i n d e p e n d e d a e x istê n c ia d e c u l­
p a , p e l a s i t u a ç ã o d e e x t r e m a p o t e n c i a l i d a d e d e risco.
V e ri f ic a -s e q u a n d o o E s t a d o d e s e n v o l v e a t i v i d a d e s c o m a l t o

In: Da R esp o n sab ilid ad e C ivil d o Estado. Rio de Janeiro; Lum en Juris, 2001. p. 92.
In: R esponsabilidade P atrim onial d o Estado por seus A tos Lícitos e Ilicitos (Publicada no Juris
Síntese n. 27 - J A N ./F E V ./20 0 1 ). [C D n. 37 d e série JS 1 64 -3 7 - Ju ris Síntese M ille nn ium Legis­
lação, Jurisp ru dê n cia, D ou tn n a e Prática Processual n. 37]. C D-R O M .

&
FU N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C IV IL ESTATAL --------- 6 5

g r a u d e risco, m e s m o a o c o r r ê n c i a d a t o r ç a m a i o r n ã o a f a s t a r á
a s u a r e s p o n s a b ilid a d e , logo a d o u t r in a p r e d o m i n a n te e s ta b e ­
le c e q u e a r e s p o n s a b i l i d a d e e s t a t a l é b a s e a d a n o ri s c o i n te g r a l,
s e n d o i r r e l e v a n t e o f a to d e t e r c e i r o o u fo rç a m a i o r .

Lógico é concIuir-se q u e q u a n d o se tra ta r d e d a n o s ca u sad o s


p o r a tiv id a d e n u cle ar aplicar-se-á a teoria d o risco in teg ra l, d a d a
a e x c ep cio n a lid a d e d a a tiv id ad e , p o rta n to , p a r a a co n fig u ração
d a re s p o n sa b ilid a d e será necessário a p e n a s a p ro v a d o d a n o e o
nex o com a a tiv id a d e nuclear.

4.6 LEGALIDADE EXTRAORDINÁRIA


D iz o capiit d o artig o 141 d a C onstituição F ederal q u e, "cessa­
d o o e s ta d o d e defesa o u o estad o de sítio, cessarão ta m b é m seu s
efeitos, sem prejuízo d a re s p o n sa b ilid a d e p e lo s ilícitos co m e ti­
d o s p o r se u s executores ou a g e n te s”.
C o m a ocorrência d o s m o tivos q u e d e te rm in a m o e sta d o de
defesa o u o e s ta d o de sítio, os ag e n tes d a A d m in is tra ç ã o Pública
p a s s a m a p ra tic a r vários atos p a ra c o n to rn a r as situ açõ e s p re v is­
tas n o s artig o s 136 e 137.
Ao co n trá rio d o q u e se p en sa , com a d e te rm in a ç ã o d e tais
estados, n ã o ocorre ileg alid ad e o u au sê n cia d e o rd e n a m e n to ju ­
rídico, o corre sim a c h a m a d a " L eg alid ad e E x tra o rd in á ria " , c o m
p re v isã o p ró p r ia n o â m a g o da C o n stituição Federal.
C o m o se percebe, o texto constitucional d elim ita e elenca cla­
ra m e n te as situações d o e sta d o d e defesa e e sta d o d e sítio, com
vária s restrições aos direitos in d iv id u a is e coletivos d o s cid a­
dãos. A ssim , se os agentes ou executores d e tais m e d id a s ex tra­
p o la m os lim ites legais, d ev e rá a A d m in istraçã o Pública re p a ra r
o d a n o p o rv e n tu r a causado.
6 6 M Á R C IO X A V IE R C O E L H O

A A d m in is tra ç ã o Pública ta m b é m será re s p o n sá v e l n o caso


d e p re te riçã o d e fo rm a lid a d e, pois, n esse caso, a form a é d a s u b s ­
tância d o ato, haja vista q u e h á g rave r e p rim e n d a a direito s in d i­
v id u a is e coletivos. Vale p ara o caso o p rin cíp io d a legalidade,
com o o co n c eb em o s p a ra o d ireito penal.
N e sse caso, há perfeita conson ância d o § 6” d o artig o 37 com
o d isp o sitiv o c o n stan te d o artigo 141 d a C o n stitu içã o Federal,
ocasião na q u al, d e p o is de r e p a ra d o o d an o , a A d m in is tra ç ã o
P ública tem aç ão regressiva contra seus ag e n tes o u executores.

5 FORMAS DE COMPOSIÇÃO
DO DANO: CARACTERÍSTICAS ESPECIAIS
O d a n o consiste na alteração d o estad o e m q u e se e n c o n tra a
vítim a, p o d e n d o ser d a n o p a trim o n ia l o u ex tra p atrim o n ial, o q u e
lhe p ro voca desequilíbrio e p erd as, m u ita s d a s vezes irreparáveis.
A b ase d e v a lid a d e p a ra a seg u ran ça d e n o sso s d ire ito s en-
con tra-se n a C o n stitu içã o F ederal, q u e n o s a s s e g u ra a v id a, a
lib erd a d e, a in te g rid a d e física, a p ro p rie d a d e , a p ro te ç ã o a o m eio
a m b ie n te ecolog icam ente eq uilibrado, d e n tre outros.
P o rtan to , verificam os q u e a lg u n s d o s d a n o s p o rv e n tu r a c a u ­
sad o s atin g e m o ra a esfera p erso n alíssim a d a pessoa, co m o é o
caso d a violação a direitos d a p e rs o n a lid a d e , ora a coletiv id ade,
com o é o caso d o d a n o am biental.
C o m o se vê, o d a n o p o d e consistir n a violação de direito s da
p e rso n a lid a d e , inclu in do-se os d a n o s à im a g e m , ao c o rp o , à h o n ­
ra, v id a p riv a d a , ao n o m e, e outros.
P o d e rá co n sistir ta m b é m e m d a n o s p u r a m e n t e p a t r i m o n i ­
ais, c o m o a s u b tra ç ã o o u d e s tru iç ã o d e b e n s e o u tro s , co n fo rm e
ca d a caso.
F U N D A M E S fT O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C IV IL E S T A T A L 6 7

5.1 PROCESSO ADMINISTRATIVO


T o d o s os ato s a d m in istra tiv o s estão sujeitos a controle. Este
controle, no en ta n to , p o d e ser feito pela p ró p r ia A d m in is tra ç ã o
o u p elo Judiciário.
O co n tro le feito pela p ró p ria A d m in istraçã o é d e c o rre n te d e
seu p o d e r d e fiscalização hierá rq u ica e em g ra u d e re c u rso s a d ­
m in istra tiv o s. A fin alid ad e é corrigir os atos q u e estejam d e for­
m a co ntrária à lei, à o rd e m jurídica e aos p rin cíp io s co n stitu cio ­
nais. N e sse aspecto, o p ró p rio S u p re m o T rib u n a l F ed eral já re­
c o n h e ceu esta fa c u ld a d e e d ita n d o a S ú m u la 473.■*'
T o d av ia , a coisa ju lg ad a n o â m b ito a d m in is tra tiv o p o d e ser
re v is a d a p elo P o d e r Judiciário, a q u e m c o m p e te d iz e r a ú ltim a
p a la v ra so b re a leg a lid a d e d o s atos d a A d m in istraçã o , p o s to q u e
é a d o ta d o n o o rd e n a m e n to constitucional b rasileiro o sistem a
d e ju risd ição única, d e e n te n d im e n to inserto n o artig o 5", inciso
XXXV d a C o n stitu içã o Federal, d iz e n d o q u e a lei n ã o p o d e rá
excluir da apreciação d o P o d e r Jud iciário lesão o u am eaça a d i­
reito. A a tu a ç ã o d o P o d e r Judiciário é u n ic a m e n te so b re a legali­
d a d e , sob p e n a d e tra n sfo rm a r a conven iência e o p o rtu n id a d e
d o a d m in is tra d o r na conveniência e o p o r tu n id a d e d o juiz.
O P o d e r Legislativo tam b ém efetua certo con tro le so b re os
atos ad m in istra tiv o s, a ex e m p lo d o T rib u n al d e C o n tas, órgão
d o legislativo q u e fiscaliza as contas d o s entes ad m in istrativ o s.
A ssim , a C o n stituição brasileira d esc arta o sistem a d o c o n ­
tencioso a d m in is tra tiv o e m isto, p u g n a n d o p ela existência d o
sistem a d c ju risd ição única.
Q u a n d o se fala e m processo, logo se p osiciona o p e n s a m e n to

S ú m ula 473 d o STF: "A adm in istraçã o pode anular seus próprios atos, q uando eivados de
V ÍC IO S q u e os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por m otivo de
c o n ve n iên cia ou o po rtunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os
casos, a a p re ciaçã o jud icia l."
6 8 M Á R C IO X A V IE R C O E L H O

p a r a a a tiv id a d e jud icante, e em b o ra seja m a is c o m u m o u v ir.fa ­


lar e m p ro c esso judicial, h á ta m b é m o processo a d m in istra tiv o .
E m b ora s e n d o in stitu to s diverso s, a lg u n s d e s e u s p rin cíp io s
são idênticos, tais co m o o d e v id o p rocesso legal, a a m p la defesa
e outros.
M a s o p ro c esso n ã o serv e a p e n a s p ara b u sc a r a co n d e n a ç ã o
d e a lg u é m , é ta m b é m u m m eio lógico-racional d e se c h e g a r a
u m a conclusão. A ssim , o processo a d m in istra tiv o , além d e a p u ­
ra r faltas e irre g u la rid a d e s, serv e p a ra a v e rig u a r q u a is q u e r situ ­
ações a fetad a s à A d m in istraçã o Pública.
P o rtan to , p o d e a vítim a obter seu re sta b elec im e n to jurídico-
econôm ico pela p ró p r ia A d m in istraçã o Pública a tra v é s d o p r o ­
cesso ad m in istrativ o .
É lícito à A d m in istraçã o Pública p ro c e d e r à re p a ra ç ã o d o d a n o
q u e p ro v o c o u , d e form a a d m in istra tiv a , re sp e ita d a a a p u ra ç ã o
d o d a n o e m p ro c esso ad m in istrativ o , p re v isã o o rç a m e n tá ria d e ­
fin id a e m lei an te rio r, e re sp e ita n d o os direito s já a d q u irid o s , o
ato ju ríd ico perfeito, a coisa ju lg ad a, assim co m o a o rd e m p re fe ­
rencial d o s p recatórios, se existente. N e sse sen tid o , vejam os a
sábia lição d o m e s tre H ely Lopes Meirelles^^, ao c o m e n ta r a re s­
p o n s a b ilid a d e d o s m unicípios, ev id e n te m e n te aplicável ao s d e ­
m ais entes públicos:

[...] É a d m i s s í v e l o p a g a m e n t o a m i g á v e l d o s d a n o s c a u s a d o s
ao p articu la r, d e s d e q u e em p ro cesso a d m in is tra tiv o re g u la r
s e a p u r e a r e s p o n s a b i l i d a d e civil d o M u n i c í p i o e h a j a d o t a ç ã o
p ró p ria p a ra a indenização, N ã o h a v e n d o v erb a o rç am e n tá ria
a d e q u a d a , n e ce ssária se to rn a a a b e r tu r a d e c ré d ito esp ecial
p o r lei, q u e s e r v i r á t a m b é m d e a u t o r i z a ç ã o p a r a o p a g a m e n t o .

In: D ireito M unicipal Brasileiro. 8. e d „ atualizada por Izabel C am a rg o L opes M onteiro, Yara
Daroy Police M o nteiro e C élia M arisa Prendes. São Paulo: Matheiros, 1996, p. 132.
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C IV IL E S T A T A L 6 9

R e co n h e cid a a re s p o n s a b ilid a d e d o M u n ic íp io , n ã o há ra z ã o
a lg u m a p a r a o b rig a r-s e a v ítim a à s v ias ju d iciais, c o m p e r d a
d e te m p o e a u m e n to d e d e sp e sa s p a ra a M u n ic ip a lid a d e .

É ev id e n te q u e o p a g a m e n to am ig ável só te m lu g a r q u a n d o
n ão h o u v e r d éb ito s p e n d e n te s d e precató rios, o u seja, estes d e ­
v e m ser resp eitad o s.
E xem plo m ais recente d e reco n h ec im e n to d e d éb ito s o riu n ­
d o s d o d e v e r d e responsabilização p ela A d m in is tra ç ã o Pública
são os c ré d ito s p a g o s p ela Caixa E conôm ica F ed eral e m d e c o r­
rência d o s e x p u rg o s inflacionários d o FGTS, se n d o q u e p a ra esta
situ ação, além d o s re quisitos traç ad o s acim a, e d ito u -se n o rm a
ju rídica específica, n o caso a Lei C o m p le m e n ta r n. 110, d e 29 d e
ju n h o d e 2001.
C aso n ã o seja p o ssív el a o b ten ç ão d o re ssa rc im e n to p e la via
am ig áv el, re sta ao p a rtic u la r lesado b u sc a r a h a rm o n iz a ç ã o de
seu d ire ito n a esfera d o P o d e r Judiciário, p ro v o c a n d o o órgão
a d e q u a d o , s e g u n d o as reg ras d e c o m p e tê n cia con stitu cio n al e
p ro c e ssu a is d efin id a s em lei ordinária.

5.2 PROCESSO JUDICIAL


P rese n te s os re q uisitos d a ação (interesse jurídico, legitim i­
d a d e d e p a rte s e a p o s sib ilid a d e jurídica), a v ítim a, a p ó s verifi­
car os p re s su p o sto s p ro c essu ais a d e q u a d o s , d e v e rá d e m o n s tra r
n o p ro c esso q u e a A d m in istraçã o Pública o b ro u e m p re ju íz o de
s u a situ ação jurídico-econôm ica.
A lém d a s q u estõ es p rocessuais, d e v e rá a v ítim a p r o v a r os
fatos c o n stitu tiv o s d e seu direito, ad o ta n d o -se , p a r a ca d a caso, a
teoria d a re s p o n sa b ilid a d e , se n d o a situ ação d e m a io r aplicabili­
d a d e a c o n stan te d o § 6° d o artigo 37 d a C o n stitu içã o Federal.
7 0 M Á R C IO XAVIER C O E L H O

P or re s g u a rd a r interesses coletivos e difusos, v is a n d o s e m p re


o b em -e star d a nação, a A d m in istraçã o Pública vale-se d e a lg u n s
p riv ilég io s p ro c essu ais, claram en te p erceb id o s e m d iv e rso s d is ­
p o sitiv o s d o C ó d ig o d e Processo Civil, inclusive d e d ic a n d o m a ­
téria à p a r te p a r a execução contra a F a z e n d a P ública, a lé m dos
preceito s constitucionais.
U m d eles é o artig o 188, d is p o n d o sobre p ra z o s m ais longos,
b e m com o o artig o 475, estab elecendo o d u p lo g r a u d e ju ris d i­
ção o b rigatório, e o artig o 730, estabelecendo p ro c e d im e n to p ara
execução co n tra a F aze n d a Pública.

5.2.1 Privilégios processuais


A o aju iza r ação d e inden iza ção co n tra a A d m in is tra ç ã o P ú ­
blica, a vítim a vai se d e p a ra r com u m litig a n te com especiais
p riv ilég io s processuais.
Tais p riv ilég io s são necessários p a ra re s g u a rd a r o interesse
coletivo tu te la d o pela A d m in istraçã o Pública, já q u e o erário só
d e v e ser d e s p e n d id o n o interesse c o m u m e n ã o co m o fo rm a de
e n riq u e c e r u m p a rtic u la r ap e n as. P o r isso, o c o n tro le judicial
incide rigorosam ente.
V erifica-se três situações n o C ó d ig o de P rocesso C ivil q u e
m ere ce m d e sta q u e , a saber.
O p rim e iro privilégio a o b serv ar é o co n tid o n o artig o 188,
d is p o n d o :

[...] C o m p u t a r - s e - á e m q u á d r u p l o o p r a z o p a r a c o n t e s t a r e e m
d o b r o p a r a r e c o r r e r q u a n d o a p a r t e for a F a z e n d a P ú b l i c a o u o
M i n i s t é r i o P ú b lic o .

N ã o se p o d e o lv id a r q u e o c ô m p u to d esse s p ra z o s é aplicável
tã o -so m e n te p a ra o p ro c esso d e conhecim ento.
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C IV IL E S T A T A L 71

Justifica-se essa a m p liaç ão d e p ra z o s e m ra z ã o d a p re su n ç ã o


d e existência o u p o ssib ilid ad e d e h a v e r u m n ú m e r o m u ito g r a n ­
d e d e ações c o n tra o P o d e r Público, ao p asso q u e as A d m in is tr a ­
ções, p o r vezes, n ã o p o s s u e m u m c o rp o juríd ico su ficiente p a ra
r e s p o n d e r a to d a essa d e m a n d a .
Tenta-se evitar, pois, a ocorrência d a p re c lu s ã o processual,
pois, com o é cediço e m direito, causa a p e r d a d o d ireito d e m a ­
n ife s ta r o u u tiliz a r d e t e r m in a d a f a c u ld a d e p ro c e s s u a l, e in ­
clusive p o d e r ia m u d a r to ta lm e n te a co n d iç ão d e v e n c id o p ara
v en c ed o r, o u s im p le sm e n te alterar a co n d iç ão m e n o s favorável
p a r a u m a m e lh o r situação.
C o m o m e sm o objetivo d e re s g u a rd a r o in tere sse d o erário,
p re sc re v e o artig o 475“*^:

E s tá s u j e it a a o d u p l o g r a u d e j u r i s d i ç ã o , n ã o p r o d u z i n d o
efeito se n ã o d e p o is d e c o n f ir m a d a p e lo trib u n a l, a se n ten ç a;
I - p ro fe rid a c o n tra a U nião, o E stado, o D istrito F ederal, o
M u n ic íp io , e as re sp e ctiv as a u ta rq u ia s e fu n d a ç õ e s d e d ire ito
p ú b l ic o ;
II - q u e j u l g a r p r o c e d e n t e s , n o t o d o o u e m p a r l e , o s e m b a r g o s
à e x e c u ç ã o d e d í v i d a a t i v a d a F a z e n d a P ú b l i c a (a rt. 585, VI).
§ 1" N o s c a s o s p r e v i s t o s n e s t e a r t i g o , o j u i z o r d e n a r á a r e m e s s a
d o s a u t o s a o t r i b u n a l , h a ja o u n ã o a p e l a ç ã o ; n ã o o f a z e n d o ,
d e v e r á o p r e s i d e n t e d o t r i b u n a l a v o c á -lo s .

Este d is p o s itiv o foi a ltera d o pela Lei n. 10.352, de 26 de d e ze m b ro de 2001.

0 a rtigo a ltera d o tinha a seguinte redação:

A rt. 4 75. E stá sujeita ao d uplo grau de jurisdição, não prod u zin d o efeito se nã o depois de co nfir­
m ada pelo tribunal, a sentença:

1 ■ q ue anu la r o ca sam ento;

II - proferid a co ntra a U nião, o Estado e o f^unicipio:

III - q u e ju lg a r im pro ce de n te a e xecu çã o de dívida ativa da F a zenda Pública (artigo 585, VI).

P a rágrafo único. N os ca sos previsto s neste artigo, o juiz o rd e n a rá a re m essa d o s a utos ao


tribunal, haja ou n ã o ape la ção volu n tá ria da parte vencida; não o fazendo, p o d e rá o presidente
d o tribunal avocá-los.
7 2 M A R C IO XAVIER C O E LH O

§ 2" N ã o s e a p l i c a o d i s p o s t o n e s t e a r t i g o s e m p r e q u e a c o n d e ­
n a ç ã o , o u o d ire ito c o n tro v e rtid o , for d e v a lo r c erto n ã o e x ce­
d e n t e a 60 ( s e s s e n t a ) s a l á r i o s m í n i m o s , b e m c o m o n o c a s o d e
p ro c ed ê n cia d o s e m b a rg o s d o d e v e d o r n a ex ecu ção d e d ív id a
a t i v a d o m e s m o va io r.
3‘' T a m b é m n ã o s e a p l i c a o d i s p o s t o n e s t e a r t i g o q u a n d o a s e n ­
tença estiv er fu n d a d a em ju ris p ru d ê n c ia d o p le n á rio d o S u ­
p r e m o T rib u n a l Federal o u em s ú m u la d e ste T rib u n a l o u d o
t r i b u n a l s u p e r i o r c o m p e t e n t e . [...1

E n contra-se n esse d isp o sitiv o o p rin cíp io d o " d u p lo g r a u de


ju risd ição o b rig ató rio ", agora com ressalvas, p o is o d isp o sitiv o
d e s te artigo, c o m o agora se enco ntra, foi d e te rm in a d o p ela Lei
n. 10.352, d e 26 d e d e z e m b ro d e 2001.
A n tes d e su a m odificação, q u a lq u e r sen tença p ro fe rid a c o n ­
tra a A d m in is tr a ç ã o P ública, in clu siv e q u a n d o p r o f e r id a e m
e m b a rg o s à execução d e sua d ív id a ativa, d ev e ria ser s u b m e tid a
ao d u p lo g ra u d e ju risd ição obrigatório.
C o m a re d a ç ã o atual, o legislador criou o a b r a n d a m e n to d o
p rin cíp io d o d u p lo g ra u de jurisdição obrigatório, re s sa lv a n d o
d u a s hipóteses.
A p rim e ira h ip ótese, in scu lp id a n o § 2" d o artig o 475 d o CPC,
d iz q u e se a A d m in istraçã o Pública for c o n d e n a d a e m q u a n tia
n ã o s u p e rio r a 60 (sessenta) salários m ín im o s, o u o d ireito c o n ­
tro v e rtid o n ã o for su p e rio r a esse lim ite, a sentença, caso n ão
haja re cu rso d a p ró p ria A dm inistração, fará coisa ju lg a d a , n ão
s e n d o necessário o conh e cim en to p elo ó rgão judicial ad quem, d e
ofício, co m o an te s se fazia com o conditio sine qua non p a r a ope-
rar-se a coisa julgada. A situação ora a p o n ta d a ta m b é m é ex te n ­
siva ao caso d e pro c ed ên c ia d o s e m b a rg o s d o d e v e d o r n a ex e cu ­
ção d e d ív id a ativ a sob o lim ite já especificado.
F U N D A M E N T O S DA R E S P O N S A B ILID A D E C IV IL E S T A T A L --------------

E n tretan to , se o d ireito p re te n d id o e m juízo n ã o se tra ta r de


co n d e n a ç ã o e m v alo r certo d e d in h eiro , m a s se p o r estim ativa
p u d e r ser verificad o seu valor, e se n d o s u p e rio r a 60 (sessenta)
salário s m ín im o s, d e v e h a v e r o d u p lo g ra u obrigatório.

N e sse sen tid o , já d ec id iu o T ribunal d e Justiça d e M in as G e­


ra is ^ :

A Ç À O C I V I L P Ú B L I C A - D E F E S A D A S A Ú D E - IN T E R E S S E S
D IF U S O S - PO S S IB IL ID A D E - A Ç Ã O P R O P O S T A P A R A
C O M PE L IR M U N IC ÍP IO A C O N ST R U IR M A T A D O U R O M U ­
N IC IP A L - D E T E R M IN A Ç Ã O DE P R O V ID Ê N C IA IN E R E N ­
TE À O P O R T U N ID A D E E C O N V E N IÊ N C IA A D M IN IS T R A ­
TIVA - IN A D M IS SIB IL ID A D E - F A Z E N D A PÚ B L IC A - V A ­
L O R D A C A U S A - K E E X A M E N E C E S S Ã R IO .
- A s causcis, e n v o l v e n d o íi F a z e n d a P ú b l i c a q u e t e n h a m v a lo r ,
a tr ib u íd o p o r sim p le s e stim a tiv a , a se ss e n ta sa lá rio s m ín im o s
p o d e m se s u je ita r a o re e x a m e n ecessário , p o r q u e a re striç ão a
que se r e f e r e o § 2" d o a rt. 475 d o C P C e x i g e q u e o v a l o r seja
c erto .
- A a ç ã o c iv il p ú b l i c a é h á b il à d efesa d a s a ú d e p ú b lic a em
s e n t i d o c o l e t iv o , m a s , s e a lei e x ig e p r é v i a i n s p e ç ã o s a n i t á r i a e
in d u strial d e p ro d u to s agro p ecu ário s, n e m o M in istério P ú b li­
co n e m o P o d e r Ju d ic iá rio e stão a u to r iz a d o s a e sc o lh e r o s m e i­
o s d e c o n v e n i ê n c i a e o p o r t u n i d a d e p a r a t a i s fin s , p o i s tal f u n ­
ção é d e o rd e m ex clu siv am en te ad m in istrativ a.
( A p e l a ç ã o C í v e l n, 3 1 5 . 1 5 4 -5 / 0 0 - C o m a r c a d e M u t u m - R e l a ­
tor; D e s. E r n a n e Fidé lis).

A n o v a m odificaç ão ta m b é m parece ter c ria d o u m a figura

“ Acó rdã o transcrito da Im prensa Oficial “ Minas G erais” , na seção ju risp ru d ê n cia m ineira, publi­
ca d o em 05 de se te m b ro de 2003.
7 4 M Á R C IO X AV IE R C O E LH O

s e m e lh a n te à " S ú m u la V in culante", co n so a n te se v ê d o § 3° d o
m e s m o artigo. P ara este caso, n o en ta n to , n ã o cogita a lei d e v a ­
lores d e lim ite, m a s sim d o s term os e m q u e foi fu n d a m e n ta d a a
sentença. A ssim , se a sentença estiver f u n d a m e n ta d a e m ju ris­
p r u d ê n c i a d o p l e n á r i o d o S u p r e m o T rib u n a l F e d e ra l o u em
s ú m u la d e ste m e sm o tribunal, n ã o h a v e rá n e c e ss id a d e d o d u ­
p lo g ra u d e ju risd ição obrigatório, seja q u a l for o v a lo r d a c o n ­
denação. A plica-se ta m b é m ao caso d e a sen ten ç a estiv er f u n d a ­
m e n ta d a e m s ú m u la d o trib u n al s u p e rio r c o m p e te n te p a ra co­
n h e c e r d a m atéria.
Fora os casos acim a, parece irretocável o e n te n d im e n to de
q u e h á e x p ressa n e c e ssid a d e d e h a v e r o d u p lo g ra u d e ju ris d i­
ção o b rig ató rio , m e s m o q u a n d o as p a rte s p ro c u ra r e m tran sig ir
e m juizo. A título d e exem plo, vale re ssa lta r as e m e n ta s d o s se­
g u in te s julgados;

D E SA PR O PR IA Ç Ã O - SE N T E N Ç A H O M O L O G A T Ó R IA DE
A C O R D O - R E E X A M E EM D U P L O G R A U O B R IG A T Ó R IO DE
JU R IS D IÇ Ã O - D u p lo g r a u d e ju risd ição . A ç ã o d e d e s a p r o p r i ­
ação. E m b o ra se c u id e d e se n te n ç a h o m o lo g a tó ria e n ã o c o n -
d en ató ria, em ação d e d esap ro p riação , e m q u e as p a rte s co n ­
c o r d a r a m c o m o v a lo r d a in d en iz aç ão , fix ad o p e lo p e rito n o
l a u d o , c a b í v e l é o r e e x a m e n e c e s s á r i o , s e ta l v a l o r é s u p e r i o r a o
d o b r o d a q u a n t i a o f e r e c i d a , p o is , m e s m o n e s s e s c a s o s s e i m ­
p õ e à F a z e n d a P ú blica u m a o b rig a ç ã o d e p a g a m e n to , c o m o se
d e c o n d e n a ç ã o d e c o r r e s s e . C o n f i r m a ç ã o d o j u l g a d o . (DSF) (TJRJ
- DG J 1 6 8 / 9 7 - Reg. 270298 - C ó d . 97.009.00168 - M a c a é - 2"
C .C ív . - Rei, D e s. L u iz O d i l o n B a n d e i r a - j . 11.11.1997)

D IR E IT O C IV IL E P R O C E S S U A L C I V I L - D E S A P R O P R I A Ç Ã O
- P R O C E D Ê N C IA - A C O R D O PO ST ER IO R À P R O L A T A Ç Ã O
D A S E N T E N Ç A - P O S S IB IL I D A D E - D U P L O G R A U O B R I ­
G A T Ó R I O D E J U R I S D I Ç Ã O - H O M O L O G A Ç Ã O P E L O T RI-
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C I V I L ESTATAL

B U N A L - REEX A M E N E C E SSÁ R IO P R E JU D IC A D O - O
re ex a m e necessário é c o n d icio n an te o b rig ató rio ao trân s ito em
j u l g a d o d a s e n t e n ç a , c u ja " r a t i o " é a p r o t e ç ã o , g a r a n t i a d o i n ­
tere sse p ú b lic o , s o m e n te ap licáv el q u a n d o se tra ta d e se n te n ç a
c o n t r á r i a à F a z e n d a P ú b l i c a , c o m o a q u e o r a s e a p r e s e n t a , p o is ,
a t e o r d o § 1", d o a r t. 28, d o D e c r e t o - L e i n*' 3 . 3 6 5 / 4 1 , a d e c i s ã o
q u e c o n d e n a r a F a zen d a e m q u a n tia su p e rio r ao d o b ro d a ofe­
re c i d a , e s t a r á s u je ita a o d u p l o g r a u d e ju ris d iç ã o '. O p e d i d o d e
e x t i n ç ã o d o fe ito , e m f a ce a o a c o r d o c e l e b r a d o , p o s t e r i o r à s e n ­
ten ç a , e s tá f ir m a d o p o r p r o c u r a d o r e s c o m p o d e r e s b a s t a n t e s a
i s s o e, e m b o r a j u l g a d a a c a u s a , o j u í z o p o d e r i a p r o f e r i r d e c i s ã o
h o m o l o g a t ó r i a , já q u e , a s s i m , te r- s e -ia i n t e g r a d o o p r ó p r i o j u l ­
g a d o , a d e p e n d e r a p e n a s d e u m re ex am e d a instância a d q u cn i.

À u n a n i m i d a d e d e v o t o s foi h o m o l o g a d a , n e s t a S u p e r i o r I n s ­
t â n c i a , a t r a n s a ç ã o d a s p a r t e s c o n s t a n t e à s fls. 1 6 7 / 1 6 8 , p a r a
q u e se p r o d u z a s e u s ju ríd ic o s e leg a is efeitos, r e s t a n d o p r e ju ­
d i c a d o o r e e x a m e n e c e s s á r i o . (TJPE - D G J 5 8 7 0 4 -0 - Rei. Des.
J o n e s F i g u e i r e d o - D JPE 17.04.2 002 - p. 71)

O u tr o p riv ilé g io p ro c e s su a l d e q u e g o z a a A d m in is tr a ç ã o
Pública é a form a p ela q u al se p ro c e d e a execução sob q u a n tia
certa, tan to q u e o C ó d ig o d e Processo Civil re s e rv o u tal tarefa
p a r a os artig o s 730 e 731, assim d isp o n d o :

A rt. 730. N a e x e c u ç ã o p o r q u a n t i a c e r t a c o n t r a a F a z e n d a P ú ­
b lic a , c i t a r - s e - á a d e v e d o r a p a r a o p o r e m b a r g o s e m 10 ( d e z )
d i a s ; s e e s l a n ã o o s o p u s e r , n o p r a z o le g a l, o b s e r v a r - s e - ã o a s
s e g u i n t e s re g r a s :
I - o jitiz r e q u i s i t a r á o p a g a m e n t o p o r i n t e r m é d i o d o p r e s i d e n ­
te d o t r i b u n a l c o m p e t e n t e ;
II - f a r - s e - á o p a g a m e n t o n a o r d e m d e a p r e s e n t a ç ã o d o p r e c a ­
tó rio e à c o n ta d o re sp e c tiv o crédito.
A r t . 731. S e o c r e d o r f o r p r e t e r i d o n o s e u d i r e i t o d e p r e f e r ê n -
7 6 M Á R C IO X AV IE R C O E L H O

c ia , O p r e s i d e n t e d o t r i b u n a l , q u e e x p e d i u a o r d e m , p o d e r á ,
d e p o is d e o u v id o o chefe d o M in istério Pú b lico , o r d e n a r o se ­
q ü e s tr o d a q u a n tia n ece ssária p a ra sa tisfaz er o d éb ito .

O f u n d a m e n to desses disp o sitiv o s re sid e n o fato d e q u e os


ben s públicos são im prescritíveis, im p en h o rá v eis e n ão oneráveis,
com b ase d e v a lid a d e estabelecida p elo artig o 100 d a C o n s titu i­
ção Federal.
P o rtan to , ao m o v e r a execução contra a A d m in is tra ç ã o P úbli­
ca, verifica-se a im p o ssib ilid a d e d e q u a lq u e r m e d id a constritiva
e m d esfav o r d esta, salvo, com o ex p re ss a m e n te se e n c o n tra d e s ­
ta c a d o n o texto con stitucio nal {§ 2" d o artigo 100), a p o ssib ilid a­
d e d e seq ü e stro n o caso d e p reterição d a o rd e m cronológica.
N ã o se p o d e o lv id a r q u e o p ra zo m e n c io n a d o n o artig o 730
d o C ó d ig o d e P rocesso Civil d e v e ser tido com o 30 (trinta) dias,
e n ã o com o 10 (dez) dias, pois, d e ac o rd o com o artig o T ’-B da
Lei n. 9.494, d e 10.09.1997, ac rescen tad o pela M e d id a P rovisória
n. 2.180-35, d e 24.08.2001, e m vigor conform e o artigo 2*^d a E m en ­
d a C o n stitu cio n a l n. 32, d e 11 d e setem b ro d e 2001, o p ra z o d o
C ó d ig o d e P rocesso Civil foi alterado.
O privilégio, vale lem brar, refere-se tão-só p a r a a execução
sob q u a n tia certa, n ã o s e n d o extensivo às o u tra s m o d a lid a d e s.

5.2.2 Pagamento ao credor: regras constitucionais


Em ra z ã o da relevância e d a co n tin u aç ão d o s serviços p ú b li­
cos, bem co m o o objetivo da A d m in istraçã o Pública em realizar
a gestão d a coisa pú b lica n o interesse coletivo, to rn o u -se neces­
sário d ete rm in a r-se , p ela s reg ras constitucionais, a fo rm a d e p a ­
g a m e n to d a s d ív id a s d a s F azen d as Públicas, d e m o d o q u e seus
respectivos b en s c o n tin u asse m im p en h o rá v eis e se fizesse o c u m ­
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C IV IL ESTATAL

p rim e n to e efetivo reco n h ec im e n to d a re s p o n sa b ilid a d e civil da


A d m in is tra ç ã o Pública.
E m c u m p rim e n to desses objetivos, inseriu-se n o artigo 100 d a
C onstituição Federal a regulam entação d e d e te rm in a d o dever.
A p ó s a lg u m a s m odificações, o texto traz a se g u in te redação:

A r t . 100. A e x c e ç ã o d o s c r é d i t o s d e n a t u r e z a a l i m e n t í c i a , os
p a g a m e n t o s d e v i d o s p e la F a z e n d a F e d e r a l , E s t a d u a l o u M u n i ­
c ip a l, e m v i r t u d e d e s e n t e n ç a j u d i c i á r i a , f a r - s e - à o e x c l u s i v a ­
m e n te na o r d e m cro n o ló g ica d e a p r e s e n ta ç ã o d o s p re c a tó rio s
e à c o n ta d o s c ré d ito s re sp e ctiv o s, p r o ib id a a d e s ig n a ç ã o de
casos o u d e p e sso as n as dotações o rç a m e n tá ria s e n o s créditos
a d i c i o n a i s a b e r t o s p a r a e s t e fim.
§ 1" E o b r i g a t ó r i a a i n c l u s ã o , n o o r ç a m e n t o d a s e n t i d a d e s d e
d ire ito p ú b lic o , d e v e rb a necessária a o p a g a m e n to d e se u s d é ­
b ito s o r iu n d o s d e se n ten ç as tra n s ita d a s e m ju lg a d o , c o n s ta n ­
te s d e p r e c a t ó r i o s j u d i c i á r i o s , a p r e s e n t a d o s a t é V ' d e ju lh o , fa­
z e n d o - s e o p a g a m e n t o a t é o fin a l d o e x e r c íc i o s e g u i n t e , q u a n ­
d o terão se u s v a lo re s a tu a liz a d o s m o n e ta ria m e n te .
§ 1”-A. O s d é b i t o s d e n a t u r e z a a l i m e n t í c i a c o m p r e e n d e m a q u e ­
les d e c o r r e n t e s d e s a l á r i o s , v e n c i m e n t o s , p r o v e n t o s , p e n s õ e s e
su a s c o m p le m e n ta ç õ e s , benefícios p re v id e n c iá rio s e in d e n iz a ­
ç õ e s p o r m o r t e o u i n v a l i d e z , f u n d a d a s n a r e s p o n s a b i l i d a d e c i­
vil, e m v i r t u d e d e s e n t e n ç a t r a n s i t a d a e m j u l g a d o .
§ 2" A s d o t a ç õ e s o r ç a m e n t á r i a s e o s c r é d i t o s a b e r t o s s e r ã o c o n ­
s ig n a d o s d i r e ta m e n te ao P o d e r Ju d iciário , c a b e n d o ao P re si­
d e n te d o T rib u n al q u e pro ferir a d ecisão e x e q ü e n d a d e te rm i­
n a r o p a g a m e n to s e g u n d o as p o ssib ilid ad e s d o d e p ó sito , e a u ­
to rizar, a r e q u e r im e n to d o cred o r, e e x c lu s iv a m e n te p a ra o caso
d e p re te rim e n to d e seu direito d e preced ên cia, o se q ü e stro da
q u a n tia n e ce ssária à satisfação d o d éb ito .
§ 3" O d i s p o s t o n o cn p iit d e s t e a r ti g o , r e l a t i v a m e n t e à e x p e d i ­
ç ã o d e p r e c a t ó r i o s , n ã o s e a p li c a a o s p a g a m e n t o s d e o b r i g a ­
7 8 M Á R C IO X AV IE R C O E L H O

ç õ e s d e f i n i d a s e m lei c o m o d e p e q u e n o v a l o r q u e a F a z e n d a
F e d e ral, E sta d u a l, D istrital o u M u n ic ip a l d e v a fa ze r e m v i r tu ­
d e d e se n te n ç a jud icial tra n s ita d a e m ju lg a d o .
§ 4” S ã o v e d a d o s a e x p e d i ç ã o d e p r e c a t ó r i o c o m p l e m e n t a r o u
s u p le m e n ta r d e v a lo r pa g o , b e m c o m o fra c io n a m e n to , r e p a rti­
ç ã o o u q u e b r a d o v a l o r d a e x e c u ç ã o , a fim d e q u e s e u p a g a ­
m e n t o n ã o s e faça, e m p a r t e , n a f o r m a e s t a b e l e c i d a n o § 3" d e s ­
te a r t i g o e, e m p a r t e , m e d i a n t e e x p e d i ç ã o d e p r e c a t ó r i o .
§ 5" A lei p o d e r á f ix a r v a l o r e s d i s t i n t o s p a r a o fim p r e v i s t o n o
§ 3" d e s t e a r t i g o , s e g u n d o a s d i f e r e n t e s c a p a c i d a d e s d a s e n t i ­
d a d e s d e d ire ito p ú b lico .
§ 6" O P r e s i d e n t e d o T r i b u n a l c o m p e t e n t e q u e , p o r a t o
c o m iss iv o o u o m issiv o , r e ta r d a r o u te n ta r f r u s tr a r a liq u id a ç ã o
re g u la r d e p re c a tó rio in co rre rá e m crim e d e re sp o n sa b ilid a d e .

C o m p re e n d e -s e d a n o rm a constitucional q u e o leg islad o r quis


d a r tra ta m e n to diferen cia d o às espécies d e d ív id a s e a valores
diferenciados.
P ara tanto, ressalv o u n o capiit d o artig o 100 d a CF q u e as d í­
v id a s d e n a tu re z a alim entícia têm p referência sobre os créditos
sem esse caráter alim entar.
Isso q u e r dize r q u e as respectivas F azendas Públicas deverão,
e m d e trim e n to d o s precatórios d e n atureza diversa, pro v id en ciar
os p a g a m e n to s d o s créditos d e n atu re za alim entar, m e s m o a p re ­
sentados, estes, em d ata cronologicam ente p o sterior àqueles.
P a ra n ã o h a v e r d ú v id a d o q u e seria o c réd ito d e n a tu re z a
alim en tar, c u id o u o § 1"-A d o artigo 100 d a CF e m descrevê-lo
com o " aq u eles d ec o rre n te s d e salários, ven c im e n to s, p ro v e n to s ,
p e n sõ e s e su as co m p lem entações, benefícios p re v id e n c iá rio s e
in d en iza çõ es p o r m o rte o u invalidez, fu n d a d a s n a re sp o n sa b ili­
d a d e civil, em v irtu d e d e sentença tra n sita d a em ju lg a d o " .
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B ILID A D E C IV IL E S T A T A L 79

Esses créd ito s d e n a tu re z a alim entícia p re te re m a q u a lq u e r


o u tro . P o rta n to , se as F a z e n d a s P úblicas n ã o tra ta re m d e ela b o ­
ra r a resp ectiv a d o ta ç ã o orçam en tária , a fim d e q u e sejam p ag o s
p re fe re n c ia lm e n te aos o utro s, há a p o s sib ilid a d e d e se d e te rm i­
n a r o seq ü e stro , o q u e d e v e ser o b tid o com o m e lh o r in te rp r e ta ­
ção d o texto constitucional, já h a v e n d o decisões b rilh an tes nesse
s e n tid o , s e n ã o v e ja m o s a e m e n ta d o s e g u in te ju lg a d o (T R T /
A R G P /1 2 3 /0 ir:

E M E N T A : A v io la ç ão d o d ire ito d e p re c e d ê n c ia , p r e v is to no
art- 100, p a r á g r a f o 2", é a u t o r i z a t i v o d o s e q ü e s t r o d a q u a n t i a
d e v i d a p e l a F a z e n d a P ú b l i c a , n ã o se a v a l i a a p e n a s e n t r e o s c r é ­
d ito s d e n a tu re z a nã o a lim en ta r, m a s ta m b é m e n tre estes e o
c ré d ito d e n a tu r e z a a lim en ta r, q u e a p ró p ria C o n stitu iç ã o , n o
a r t i g o 100, e x c e p c i o n o u d e q u a l q u e r p r e c e d ê n c i a , p r e v e n d o s e u
p a g a m e n to e m p rim e iro lu g a r a q u a lq u e r o u tro . Se e sta o r d e m
n ã o é re sp e ita d a , há a p re te riçã o d o d ire ito d e p re c e d ê n c ia ,
n a s c e n d o o d ire ito ao s e q ü e s tro d a q u a n tia d e v id a . Se a F a z e n ­
d a P ú b l i c a n ã o in c l u i e m o r ç a m e n t o a c o n d e n a ç ã o r e l a t i \ a a o
c r é d i t o a l i m e n t a r , v i o la g r a v e m e n t e o d i r e i t o d e p r e c e d ê n c i a
d e s te c ré d ito e m relação a to d o s o s o u tro s, p o is p a g a e m sua
fre n te c ré d ito s q u e a C o n stitu iç ã o n ã o d o to u d o d ire ito a b s o lu ­
to d e p re ferê n cia . Se n ã o se p e r m ite o s e q ü e s tro d a q u a n tia ,
q u a n d o n ã o s e in c l u i e m o r ç a m e n t o o c r é d i t o d e n a t u r e z a a li­
m e n t a r , fica u m v a l o r c o n s t i t u c i o n a l p r i v a d o d e e f ic á c ia , r e f e ­
r e n d a n d o - s e a f r a u d e à C o n s t i t u i ç ã o e à s s e n t e n ç a s j u d ic i a i s ,
c u ja c o is a j u l g a d a é t a m b é m u m v a l o r d e n a t u r e z a c o n s t i t u c i o ­
n a l. Q u a l q u e r o u t r a i n t e r p r e t a ç ã o d e s c o n s i d e r a r i a a e x p r e s s a
v o n t a d e c o n s t i t u c i o n a l d e a t r i b u i r a o c r é d i t o a l i m e n t a r a p r e r ro -

E xtraído da p u b lica çã o d a Escola Judicial - D ep artam ento d a R evista - ó rg ã o d a Im prensa


Oficial - "M inas G e ra is” - D iário do Judiciário - TR T da 3- Região, d e 27 d e fe ve reiro de 2003:
(TR T da 3 - R egião - S eção Especializadas de D issídios C oletivos - A gravo R egim ental - A có r­
d ã o p roferido em Belo Horizonte, em 07 de m arço de 2002, em que foi P residente R elator o Juiz
Antônio A lvare s da Silva)
8 0 M A R C IO XAVIER C O E LH O

g a tiv a d e se r ex clu íd o d e to d a e q u a lq u e r o r d e m d e p referência,


o q u e i m p o r t a n ã o só n o s e u p a g a m e n t o e m p r e c e d ê n c i a a q u a l ­
q u e r outro, m a s ta m b é m n a sua necessária inclusão e m o rç a ­
m e n t o , p a r a p e r m i t i r a c o n c r e ti z a ç ã o d e s t a p r e r r o g a t i v a . O d i ­
r e it o d e p r e c e d ê n c i a a q u e s e r e fe r e o p a r á g r a f o 2" d o a r t i g o 100,
r e fe re -se n ã o s o m e n t e a o s c r é d i t o s s u je it o s a p r e c a t ó r i o e m g e ­
ra l, c o m o t a m b é m a o s c r é d i t o s d e n a t u r e z a a l i m e n t a r q u e , se
n ã o í n c J u í d o s e m o r ç a m e n t o , ficam p r i v a d o s d e s t a g a r a n t i a . T o d a
i n t e r p r e t a ç ã o c o n s t it u c io n a l h á d e s e r feita n o s e n t i d o d e g a r a n ­
tir a s d i s t in ç õ e s , d ir e i t o s , d e v e r e s e g a r a n t i a s q u e e x p r e s s a m e n ­
te a c o l h a . S e o i n t é r p r e t e n ã o o s c o n s i d e r a , m u t i l a a C o n s t i t u i ç ã o
e d e t u r p a s u a v o n t a d e q u e , p o r d e fin i ç ã o , d e v e s e r i n f o r m a d o r a
d e t o d o o o r d e n a m e n t o ju ríd ic o . A a u t o r i z a ç ã o d e s e q ü e s t r o p a r a
o s caso s d e o m is sã o e m o rç a m e n to p a ra o s c réd ito s c o m u n s (ar­
tig o 78 d o D C T ) e s u a p r e te r i ç ã o p a r a o c r é d i t o d e n a t u r e z a a li­
m e n ta r, q u e p re c e d e a to d o s os d e m a is, p õ e e m c o n tra d iç ã o a
C o n stitu iç ã o con sig o m esm a , p o is u m m e s m o v a lo r n ã o p o d e
ter t r a t a m e n t o d i f e r e n c i a d o s i m p l e s m e n t e p o r q u e é t r a t a d o e m
lu g a r d ifere n te n o c o rp o d e su a s regras.

O § 4“ d o artig o 78 d o A DCT da CF p re sc re v e a p o ss ib ilid a d e


d o se q ü e s tro da q u a n tia e m d u a s o p o rtu n id a d e s , o u seja, q u a n ­
d o ocorrer v en c im e n to d o p ra z o e om issã o n o o rç am en to , b e m
com o a p re te riçã o ao d ireito d e precedência. Já o § 2 ° d o artigo
200 d a C F só p re v ê a p o ssib ilid ad e d e d e te rm in a r o se q ü e s tro no
caso exclusivo d e pre te riçã o ao d ireito d e precedência.
A lém d a diferen ciação so bre a n a tu re z a d a d ív id a , em ali­
m e n ta r, o u n ão, a C o n stitu ição ta m b é m p a s s o u a d ife re n ç a r a
form a d e p a g a m e n to , com o sen d o os déb itos sujeitos a precató rio
e aq u e les co n s id e ra d o s com o d ív id a o u ob rig aç ão d e p e q u e n o
valor, cujo p a g a m e n to se faz in d e p e n d e n te m e n te d a ex p ed ição
d e precatório.
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B ILID A D E C I V I L E S T A T A L 81

D essa form a, o § 3" d o artigo 100 d a CF d e te rm in a q u e as ob ri­


gações d e p e q u e n o valor, assim d efin id a s e m lei, n ã o se sujeitam
a precatório.
E m ra z ã o d a E m e n d a C onstitu cion al n. 37, d e 12 d e ju n h o d e
2002, ac resc en to u -se ao A D C T o artigo 87, a ssim d isp o n d o :

A rt- 87. P a r a o fe ito d o q u e d i s p õ e m o § 3" d o a r t. 100 d a C o n s ­


t i t u i ç ã o F e d e r a l e o a rt. 78 d e s t e A t o d a s D i s p o s i ç õ e s C o n s t i t u ­
c i o n a i s T r a n s i t ó r i a s s e r ã o c o n s i d e r a d o s d e p e q u e n o v a l o r , a té
qxie s e d ê a p u b l i c a ç ã o oficial d a s r e s p e c t i v a s l e i s d e f i n i d o r a s
p e l o s e n t e s d a F e d e r a ç ã o , o b s e r v a d o o d i s p o s t o n o § 4'"' d o a rt.
100 d a C o n s t i t u i ç ã o F e d e r a l , o s d é b i t o s o u o b r i g a ç õ e s c o n s i g ­
n a d o s e m p re c a tó rio ju d ic iário , q u e t e n h a m v a lo r ig u al o u in ­
f e r i o r a:
I - q u a re n ta salários m ín im o s, p e r a n te a F a z e n d a d o s E stados
e d o D istrito Federal;
II - t r in ta s a l á r i o s m í n i m o s , p e r a n t e a F a z e n d a d o s M u n i c íp i o s .
P a r á g r a f o ú n ico . Se o v a lo r d a e x e c u ç ã o u l t r a p a s s a r o e s t a b e l e c i ­
d o n e s t e a r t i g o , o p a g a m e n t o fa r-s e-á , s e m p r e , p o r m e i o d e
precató rio , se n d o fa cu ltad a à p a rte e x e q ü e n te a re n ú n c ia a o cré­
d ito d o v a lo r exced en te, para q u e p ossa o p ta r p e lo p a g a m e n to
d o s a l d o s e m o p r e c a tó r i o , d a f o r m a p r e v i s t a n o § 3" d o a rt. 100.

O artig o c o n sid e ro u lim ites m áxim o s, com o s e n d o d e p e q u e ­


n o valor, ra z ã o p ela qual ca d a ente d a A d m in is tra ç ã o Pública,
d o ta d o d e c a p a c id a d e legislativa, p o d e r á especificar v a lo re s in ­
feriores, m a s n u n c a su periores.
A té o a d v e n to d a E m e n d a C o n stitu cio n a l n. 37, d e 12 d e ju ­
n h o d e 2002, estava se n d o e n te n d id o com o o b rig aç ão d e p e q u e ­
n o v alor aq u e le d e fin id o com o lim ite d e 60 (sessenta) salários
m ín im o s, c o n so a n te a Lei n. 10.259, d e 12 d e ju lh o d e 2001 (arti­
g o 17, § 3"), a tu a lm e n te ap licado so m e n te à União.
8 2 M Á R C IO X AV IE R C O E LH O

P osto isso, e c o n sid eran d o a existência d e créditos d e p eq u e n o


valor, seja conform e d ete rm in a d o p o r lei d a respectiva en tid a d e
estatal, n os term os d o § 3" d o artigo 100 d a CF, o u p ela inexistên­
cia dessas leis, com o o q u e será o b serv ad o o artigo 87 d o AEXÜT
d a CF, h á a necessidad e d e regulam entação d e p roced im ento.
C o m o in tu ito d e n ã o re sta r fru stra d o s os cred o re s, te m sido
a d o ta d o o p ro c e d im e n to p re v isto n o artig o 17 d a Lei n. 10.259,
d e 12 d e ju lh o d e 2001, disp o n d o :

A rt. 17. T r a t a n d o - s e d e o b r i g a ç ã o d e p a g a r q u a n t i a c e r t a , a p ó s
o trâ n s ito em ju lg a d o d a decisão, o p a g a m e n to será e fe tu a d o
n o p r a z o d e se ss e n ta dias, c o n ta d o s d a e n tre g a d a re q u isiç ã o ,
p o r o rdem d o J u iz , à a u t o r id a d e c ita d a p a r a a c a u s a , n a agên­
c ia m a i s p r ó x i m a d a C a i x a E c o n ô m i c a F e d e r a l o u d o B a n c o d o
B rasil, i n d e p e n d e n t e m e n t e d e p r e c a t ó r i o .
§ 1" P a r a o s e f e i t o s d o § 3'^ d o a rt. 100 d a C o n s t i t u i ç ã o F e d e r a l ,
a s o b r i g a ç õ e s ali d e f i n i d a s c o m o d e p e q u e n o v a l o r , a s e r e m
p a g a s in d e p e n d e n te m e n te d e p re ca tó rio , terão c o m o lim ite o
m e s m o v a l o r e s t a b e l e c i d o n e s t a Lei p a r a a c o m p e t ê n c i a d o
J u i z a d o E s p e c i a l F e d e r a l C í v e l (art. 3 ”, ca p u t).

§ 2" D e s a t e n d i d a a r e q u i s i ç ã o j u d ic i a l , o j u i z d e t e r m i n a r á o s e ­
q ü e s t r o d o n u m e r á r i o su ficien te ao c u m p r i m e n t o d a d ecisão .
§ y São v e d a d o s o fra cio n am e n to , re p artiçã o o u q u e b r a d o v a lo r
d a e x e c u ç ã o , d e m o d o q u e o p a g a m e n t o s e fa ç a , e m p a r t e , n a
f o r m a e s t a b e l e c i d a n o § 1" d e s t e a r t i g o , e, e m p a r t e , m e d i a n t e
e x p e d iç ã o d o p re ca tó rio , e a e x p e d iç ã o d e p re c a tó rio c o m p le ­
m e n ta r o u s u p le m e n ta r d o v a lo r pago.
§ 4" S e o v a l o r d a e x e c u ç ã o u l t r a p a s s a r o e s t a b e l e c i d o n o § 1", o
p a g a m e n t o f a r -s e - á , s e m p r e , p o r m e i o d o p r e c a t ó r i o , s e n d o
facu ltad o à p a rte ex eq ü en te a ren ú n cia ao crédito d o v a lo r ex­
ced en te, p a ra q u e possa o p ta r p elo p a g a m e n to d o s a ld o se m o
p r e c a t ó r i o , d a f o r m a lá p r e v i s t a .
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C IV IL ESTATAL - - 8 3

N e sse sen tid o , m ais u m b rilh an te acórdão^^ já foi p ro fe rid o


p elo E grégio TRT d a 3‘' Região, senão vejam os a e m e n ta abaixo
transcrita:

E M E N T A : O B R I G A Ç Ã O DE P E Q U E N O V A L O R - I N E X I G É N -
C I A D E P R E C A T Ó R I O . A r e c e n t e E m e n d a C o n s t i t u c i o n a l n.
37, d e 12 d e j u n h o d e 2002, n o s e u a r t. 3", a c r e s c e n t o u o a r t i g o
87 a o A to d a s D isp o siç õ e s C o n s titu c io n a is T ra n s itó ria s , d i s ­
p o n d o q u e p a r a o s e f e i t o s d o p a r á g r a f o 3” d o a r t i g o 100 d a
C o n s t i t u i ç ã o F e d e r a l e d o a r t i g o 78 d o A t o d a s D i s p o s i ç õ e s
C o n stitu c io n a is T ran sitó rias se rã o c o n s id e ra d o s d e p e q u e n o
v a l o r , a t é q u e s e d ê a p u b l i c a ç ã o o f ic ia l d a s r e s p e c t i v a s leis
d e fin id o ra s p e lo s e n te s d a Federação, o b s e rv a d o o d is p o s to n o
p a r á g r a f o 4" d o a r t i g o 100 d a C o n s t i t u i ç ã o F e d e r a l , o s d é b i t o s
o u o b rig a ç õ e s c o n s ig n a d o s e m p re c a tó rio ju d ic iá rio , q u e te­
n h a m v a lo r ig u al o u in ferio r a trin ta sa lá rio s m ín im o s , p e r a n te
a F a z e n d a d o s M u n i c í p i o s . S o b r e v i n d o Lei M u n i c i p a l e s t a b e ­
le c e n d o lim ite in ferio r, e ste é q u e d e v e se r o b s e r v a d o , n o s te r­
m o s d a referid a E m e n d a e d o d is p o sto n o a rtig o 462 d o CPC .

O credo r q ue p o rv e n tu ra tenha crédito q u e só possa ser recebi­


d o atrav és d e precatório n ão p o d e p re te n d e r a q u e b ra d a execu­
ção, o u seja, p o stu la r p arte d o p a g a m e n to com o se n d o d e p e q u e ­
n o valor e re q u e re r a expedição d e precatório d a o u tra p a rte para
s u p le m e n ta r o valor pago. Assim, resta ao cred o r o p ta r em rece­
b er o crédito e m s u a totalidade, através d e precatório, o u o p tar
e m re n u n ciar p arte d e seu crédito, e receber s o m e n te até o limite
d o valor co n sid erad o d e p eq u e n o valor nos term os d o p arág ra fo
único d o artigo 87 d o A D C T da CF, c / c § 4" d o artigo 100 d a CF.

** E xtraído da p u b lica çã o d a Escola Judicial - D ep a rtam ento da R evista - ó rg ã o d a Im prensa


O ficial - “M inas G e ra is” - D iário do Judiciário - T R T d a 3^ Região, d e l u d e m a rço d e 2003 ( TR T
d a 3" R egião - S e ç ão O rd iná ria da 5" T u rm a - A g ra vo - A có rdã o p roferido e m B elo Horizonte,
em 0 8 de outu bro de 2003, em que foi R elator o Juiz Jo sé M utilo de M orais, (TR T-A P -4695/02).
8 4 M A R C íO X A VIE R C O E LH O

N ã o se p o d e o lv id a r q u e a E m e n d a C o n stitu cio n a l n. 30, de


13 d e s e te m b ro d e 2000, d e te rm in o u o acréscim o d o artig o 78 ao
A D C T d a CF, co m a s e g u in te redação:

A r t . 78. R e s s a l v a d o s o s c r é d i t o s d e f i n i d o s e m lei c o m o d e p e ­
q u e n o va lo r, os d e n a tu r e z a a lim en tícia , os d e q u e tra ta o a r ­
t i g o 33 d e s t e A t o d a s D i s p o s i ç õ e s C o n s t i t u c i o n a i s T r a n s i t ó r i ­
a s e s u a s c o m p l e m e n t a ç ò e s e o s q u e já t i v e r e m o s s e u s r e s ­
p e c tiv o s re c u rso s lib e ra d o s o u d e p o s ita d o s e m ju íz o , o s p r e ­
c ató rio s p e n d e n te s na d a ta d e p ro m u lg a ç ã o d e sta E m e n d a e
o s q u e d e c o r r a m d e a ç õ e s i n ic i a i s a j u i z a d a s a t é 31 d e d e z e m ­
b r o d e 1999 s e r ã o l i q u i d a d o s p e l o s e u v a l o r r e a l , e m m o e d a
c o rre n te , a c re s c id o d e ju r o s leg ais, e m p r e s ta ç õ e s a n u a is ,
iguais e sucessivas, n o p ra z o m áx im o d e d e z a n o s, p e rm itid a
a c essã o d o s créd ito s.
§ r É p e r m itid a a d e c o m p o s iç ã o d e p a rc e la s, a c rité rio d o
credor.
§ 2” A s p r e s t a ç õ e s a n u a i s a q u e s e r e f e r e o cn p iit d e s te a rtig o
t e r ã o , s e n ã o l i q u i d a d a s a t é o fin a l d o e x e r c íc i o a q u e s e r e f e ­
re m , p o d e r lib e ra tó rio d o p a g a m e n to d e trib u to s d a e n ti d a d e
devedora.
§ 3" O p r a z o r e f e r i d o n o c a p u t d e s t e a r t i g o fica r e d u z i d o p a r a
d o is a n o s, n o s c aso s d e p re c a tó rio s ju d iciais o rig in á rio s d e d e ­
s a p ro p ria ç ã o d e im ó v el residencial d o cred o r, d e s d e q u e com -
p ro v a d a m e n te ú n ico à ép o ca d a im issão n a posse.
§ 4" O P r e s i d e n t e d o T r i b u n a l c o m p e t e n t e d e v e r á , v e n c i d o o
p r a z o o u e m caso d e o m issã o n o o rç a m e n to , o u p re te riç ã o ao
d ire ito d e p re ce d ên c ia, a re q u e rim e n to d o cred o r, re q u isita r
o u d e te rm in a r o se q ü e stro d e recursos financeiros d a e n tid a d e
e x e c u ta d a , su fic ie n tes à satisfação d a p re staç ão .

O objetivo d o legislador foi te n ta r " re o rg a n iz a r a casa", as­


sim co m o já teria ten tad o em o u tra o p o r tu n id a d e ( a r t i g o 33 d o
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B IL ID A D E C IVIL E S T A T A L 8 5

A D C T d a €?)■*’ , q u a n d o d a ocasião da p ro m u lg a ç ã o d a C o n sti­


tuição.
M ais u m a vez p re v iu -se u m d e s m e d id o p riv ilég io à A d m i­
n is tra ç ã o P ública, com a p o ssib ilid a d e d e, re s sa lv a d o s a lg u n s
casos, p ro te la r o p a g a m e n to d e su a s d ív id as, p e lo seu v alo r real,
em m o e d a corrente, acrescido d e ju ro s legais, e m p re sta çõ es a n u ­
ais, ig u ais e sucessivas, n o p ra z o m áx im o d e d e z anos, p e r m itin ­
do -se a cessão d o s créditos.
A s re s sa lv a s ao p a r c e la m e n to e m a té d e z a n o s são as s e ­
g u in te s :
I - os p recató rio s d e n a tu re z a alim entar;
II - os créd ito s d e p e q u e n o valor;
III - os créditos d e q u e trata o artig o 33 d o A D C T da CF;
IV - os créd ito s q u e já tiverem seus re cu rso s lib era d o s o u d e ­
p o s ita d o s e m juízo.
C o m o form a d e sanção e re p rim e n d a , o § 6“ d o artig o 100 da
CF c o m in o u com o crim e d e re sp o n sa b ilid a d e, e m d e trim e n to do
P r e s i d e n t e d o T r i b u n a l c o m p e te n t e , q u a n d o e s te , p o r a to
co m issivo o u om issivo re ta rd a r o u te n ta r fru stra r a liq uidação
re g u la r d e precatório.
A a lu d id a regra d ev e ria ser acresc en tad a co m o destin atário ,
n ão só o P resid en te d o T ribunal co m petente, m a s ta m b é m e p r in ­
c ip a lm e n te ao re sp o n sá v el d a A d m in istraçã o P ública, o d e te n ­
tor d a s chav es d o cofre público.

Art. 33. R essalvados os créditos de natureza alimentar, o valor dos precatórios judiciais penden­
tes de pagam ento na data da promulgação da Constituição, incluído o rem anescente de juros e
correção monetária, poderá ser pago em m oeda corrente, com atualização, em prestações anuais,
iguais e sucessivas, no prazo máxim o de oito anos. a partir de 1- de julho de 1989, por decisão
editada pelo Poder Executivo até cento e oitenta dias da prom ulgação da Constituição.

P a rágrafo único. P o derão as e ntidades devedoras, para o cu m p rim e n to do d isp o sto neste arti­
go. emitir, em cada ano, no exato montante do dispêndio, títulos de dívida pública não computáveis
para efeito do lim ite global de endividam ento.
8 6 M Á R C IO XAVIER C O E L H O

Tal re g ra seria m ais exeqüível a fim d e fazer o estrito c u m p r i­


m e n to d o s p ag a m e n to s, evitando-se, inclusive, d esc u id o s e o m is­
sões d o s a d m in is tra d o re s públicos.
T o d av ia , a C o n stitu ição ain d a arm a -se d a p o ss ib ilid a d e de
in terv e n ção na e n tid a d e d e v e d o ra , isso p o r e star d e s c u m p r in d o
o rd e m judicial, co m o se vê d o s term os co n stan te s d o artig o 34,
VI, artig o 35, IV, e artigo 36, § 3" d a CF.

5.2.3 Ação regressiva


D io g en e s Gasparini^'’ classifica-a com o "a m e d id a judicial de
rito o rd in ário , p re v ista na p a rte final d o § 6° d o artig o 37 d a C o n s­
tituição F ederal, p a ra a A d m in istraçã o Pública re a v e r o q u e d e ­
s em b o lso u à custa d o p a trim ô n io d o ag e n te c a u s a d o r d o d a n o
q u e te n h a a g id o com d o lo o u culpa".
A ssim sen d o , é u m a ação d e princípio constitucional, p o is não
é aceitável q u e o erário a rq u e com os p re ju íz o s c a u s a d o s p o r
m a u s serv id o re s p ú b lico s, q u e ag e m c o m cu lp a o u d o lo p o r con-
tum ácia.
P ara a procedência da ação regressiva pro p o sta pela A d m in is­
tração Pública, é necessário q ue se façam p resentes alg u n s re q u i­
sitos, a saber: a obrigação d a A dm inistração Pública em in d enizar
p o r m otivo d e condenação judicial o u em razão d e reconhecim ento
desta obrigação a p u r a d a criteriosam ente p o r processo a d m in is­
trativo; o efetivo p a g a m e n to da indenização em ra zão d e d e te r­
m inação judicial ou em função d e ativ id ad e p le n a m e n te a d m in is ­
trativa; q u e te n h a o agente cau sad o r d o d a n o (p repo sto da A d m i­
nistração Pública), o b ra d o com dolo o u culpa.
C o n s id e ra m o s cabível a ação re g ressiv a d a A d m in is tra ç ã o

GA SP A RINI, D iogenes. D ireito Adm inistrativo. 6. ed., revista, a tu a liza da e a um entada. São
Paulo: S araiva, 2 001. p. 831.
F U N D A M E N T O S DA R E S P O N S A B ILID A D E C iV iL E S T A T A L 8 7

Pública e m face d a p esso a jurídica d e d ireito p r iv a d o p re s ta d o ra


d e serviços públicos, q u a n d o aq uela, e m ra z ã o d e c u lp a o u d olo
d e s ta , tiv e r q u e i n d e n i z a r te rc e iro s p r e ju d i c a d o s . P o d e r á a
p re s ta d o ra d e serviços públicos, d a m e s m a form a q u e foi acio­
n a d a , m o v e r ação reg ressiv a con tra fun c io n á rio seu, d e s d e q ue
te n h a a g id o com d o lo o u culpa.
Em decorrência dessa ação regressiva, o partic u la r n ã o está o-
b rig a d o a ajuizar ação contra a A dm in istração Pública e o resp ec­
tivo servidor, q u a n d o a causa foi deste, q ue o b ro u co m d o lo ou
culpa, pois tal finalidade só interessa à p ró p ria A d m in istração P ú ­
blica, d e v e n d o m o v e r seus m eios p a ra se ressarcir d o prejuízo.
A A dm inistração Pública tam b ém n ão tem o d e v e r d e p e d ir a
d en unciação d a lide d e seu servidor, pela m esm a razão, pois exis­
te a possibilid ad e da ação regressiva. C o n tu d o , caso tenha inte­
resse, n ã o há óbice p ara tal procedim ento, u m a v e z q u e encontra
corresp ondência n o artigo 70,111, d o C ó d ig o d e Processo Civil.

6 CONCLUSÃO
De ac o rd o com as considerações anteriores, p o d e ser conclu­
ído, m o d e rn a m e n te , so b re o in stitu to d a re s p o n sa b ilid a d e civil
estatal que:
1) h á p o ssib ilid a d e d e se utilizar, n u m a d e m a n d a judicial con­
tra a A d m in istra ç ã o Pública, três espécies d e teo ria s acerca da
resp o n sab ilização , sendo:
a) a teoria d a c u lp a ad m in istra tiv a {faiite dn senúce), q u a n d o a
vítim a sofrer pre ju íz o s d ec o rre n te s d e u m m a u fu n c io n a m en to ,
n ã o -fu n c io n a m e n to o u tard io fu n c io n a m e n to d o serviço p ú b li­
co. P ara o fim d e ser in d e n iz a d a , n o e n ta n to , d e v e rá a v ítim a
p ro v a r, a lé m d o d a n o , o nexo d e ca u sa lid a d e e n tre a a tiv id a d e
d a A d m in is tra ç ã o Pública, d e v e n d o consistir e m u m ato a d m i­
8 8 M A R C IO XAVIER C O E L H O

nistrativo vinculado (nim ca discricionário), n o q u al a A d m in is tra ­


ção Pública tinha o d e v e r jurídico de prevê-lo e evitá-lo e p o d ia
fazê-io, e n ão o fez, bem com o a culpa da A d m in istração Pública;
b) a teoria d o risco ad m in istrativ o , co m o já p re v is ta n o § 6"
d o artig o 37 d a C o n stituição F ederal, e m q u e a v ítim a lesad a
d e v e rá d e m o n s tra r a p e n a s o nexo d e ca u s a lid a d e e n tre o d a n o
sofrido e a c o n d u ta d a A d m in istraçã o P ública, sem a n e c e ssid a ­
d e d e se d e m o n s tra r a culpa;
c) a teoria d o risco integral, na qual a vítim a d ev e d e m o n s tra r
a p e n a s o nexo d e ca u sa lid a d e da a tiv id a d e d a A d m in istraçã o
Pública e o d a n o sofrido. Tal teoria, e n tre ta n to , só tem aplicação
q u a n d o se tra ta r d e d a n o s d ec o rre n te s d e a tiv id a d e n u c le a r (ar­
tigo 21, XXXIll, c, d a C o n stitu ição Federal), pois d a í d e c o rre u m a
cu lp a p r e s u m id a , pelo risco d a a tiv id a d e exercida;
2) o in stitu to jurídico, no entanto, é a p e n a s o p çã o legislativa,
n ã o sig n ifican d o q u e su a utilização possa c o rre s p o n d e r necessa­
ria m e n te com o E stado Dem ocrático d e Direito, pois, com o ex e m ­
p lo d a extinta URSS, E stado totalitário, n o q u al h av ia o u so d e s ­
se in stitu to , e n q u a n to , até a lg u m a s d é c a d a s atrás, Inglaterra e
E stad o s U n id o s d a A m érica, n ão a d o ta v a m tal in stitu to , p a r e ­
c e n d o ser incom patível, pois s e m p re foram tidos co m o d e m o ­
cracias e ân c o ras q u a n to ao reco n h ec im e n to d e d ire ito s d e seus
g o v e rn a d o s;
3) conclui-se, tam b ém , q ue há forte tendência e m u s a r o insti­
tu to p a ra re p a ra r erros e d a n o s históricos, fa zen d o justiça às fa­
m ílias d a s v ítim as a p ó s longos anos, com n o tório p ro p ó s ito de
d ec lara r u m n o v o estilo d e A d m in istraçã o Pública, com ética,
p a z e os olhos v o ltad o s n o interesse coletivo.
PEN SA M EN TO : O s institu to s jurídicos sofrem m u d a n ç a no
tem po, t u d o ao sab o r d o s fatos sociais. P o rtan to , n ã o d e v e ser
F U N D A M E N T O S D A R E S P O N S A B ILID A D E C IV IL ESTATAL 8 9

d e s c a rta d a a p o s sib ilid a d e d e se vir a in stitu cio n alizar, n o Brasil,


a teoria publicista d o risco integral, n ão com o ela o rig in alm en te
foi co ncebida, m a s sim em casos específicos, com o o corre na hi­
p ó tese d e d a n o nuclear. A ssim , com o in c re m e n to ca d a v e z m a i­
o r d e políticas públicas, v o lta d a s p ara a re c u p e ra ç ã o d o "exérci­
to d e re serv a ", com a participa<^ão d e m ilh a res d e brasileiros,
p o d er-se-á institu c io n a liz ar tal in stituto p a r a ser u tiliz a d o con ­
tra o E stado, p o r su a om issão e descaso d ia n te d o s fam intos, aos
d e sa b rig a d o s, aos sem acesso à edu cação, enfim , a to d o s os m i­
seráveis. Institu cio n aliza d o tal instituto, o m iserá v el terá direito
subjetivo público, líquido, certo e exigível d e d e m o n s tra r q u e a
situação n a qual se en c o n tra n ão é cu lp a sua, m a s sim e m d e c o r­
rência d e o m issã o d o Estado, pois tinha o d e v e r d e p re v e r, evi­
tar e p o d e ria fazer, n ão ten d o feito, e p o d e r á aju iza r "ação de
re in te g raç ão d a d ig n id a d e h u m a n a " , a fim d e o b ter o b e m da
v id a q u e lhe é essencial, ou seja, a d ig n id a d e h u m a n a e m suas
n ec e s sid a d e s básicas, p re m e n te s e inadiáveis.
9 0 M Á R C IO XAVIER C O E LH O

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Execução Gráfica:

Editora fto tflíJ^ o d e Livros utd^


TeleFoxi3i)3391 0 6 4 4 lithera@lithera.com.br
“Com os ideais iluministas, chega-se ao
entendimento de que o Estado deve
realizar suas atividades para garantir e
satisfazer o bem de todos os seus
governados, por isso, passou-se a não
admitir sua irresponsabilidade.

Hoje, nosso ordenamento jurídico adota


como regra geral, a responsabilidade
objetiva pela teoria publicista do risco
administrativo, porque tal forma de
apurar o dever de reparar o dano pelo
Estado, passou por sensíveis mudanças,
tudo ao sabor dos fatos sociais que
fizeram impor tal evolução.”

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