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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO SEMIÁRIDO


UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO NO CAMPO
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS SOCIAIS

DISCIPLINA: LAPPECS II
DOCENTE: VILMA SOARES
DISCENTES: LUANA FRANCISCA DAS NEVES MELO
PATRICIA FABIANA DE OLIVEIRA
ROSA MARIA PINHEIRO

HISTORIA DE VIDA:

TRAJETÓRIA DE VIDA DE UM DOCENTE.


Sumé/PB, 2015
INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem por objetivo demonstrar a história de vida de uma


professora do ensino médio, todo seu percurso, prazeres e dificuldades a qual
enfrentou até o atual momento, seus sonhos e frustrações ao exercer a
profissão e especificamente sua área de atuação “a sociologia”, mesmo não
sendo esta sua graduação.

Nos dias atuais tem-se uma grande desvalorização quanto à profissão docente,
salário mau pago, falta de recursos para inovação de suas aulas, tratamento
indiferente quanto às outras profissões entre outros aspectos, levam cada vez
mais os atuantes da área a se sentirem desmotivados para seguir seu
percurso, o que deveria ser um ofício, algo exercido com grande prazer acaba
tornando-se um fardo ou apenas uma forma de sobreviver para os que atuam
nesta área.

Diante da crise na educação básica brasileira sempre se coloca a


responsabilidade e critica sobre os professores, por serem os formadores das
futuras gerações são taxados de ineficientes. Apesar destas diversas críticas o
professor ainda é uma classe insubstituível diante de um mundo movido a
tecnologia, pois mesmo diante de tantos avanços ele continua sendo a chave
principal para a educação e para a formação das novas gerações.

Para sua formação, o professor de sociologia passa por diversos problemas, a


começar por sua escolha pelas ciências sociais, no próprio curso há uma
diferenciação quanto à opção a qual irá seguir, se será pesquisador ou
professor da escola básica, quando a escolha se volta para a primeira opção
adquire-se uma melhor atenção, e ate melhor formação. Para que haja uma
mudança neste sistema é necessário que os profissionais de ciências sociais
implantados nas universidades vejam a licenciatura com outros olhos, mas isto
só ocorrerá se os mesmos mudarem sua concepção quanto à inclusão da
sociologia no ensino básico.

JUSTIFICATIVA DA METODOLOGIA

Na pesquisa realizada utilizamos como metodologia à qualitativa, por ser uma


técnica que interpreta de forma complexa e tem o pesquisador como
instrumento fundamental para coleta de dados. Esta escolha ocorreu por
chegarmos à conclusão que seria a mais adequada para compreender com
grande precisão nosso tema: Trajetória de vida de um docente. Utilizamos
como instrumento principal para nossa coleta de dados uma entrevista aberta,
onde a entrevistada respondeu livremente nossas perguntas relatando
naturalmente suas experiências, de forma clara e aprofundada sob seu ponto
de vista e assim nos possibilitando a oportunidade de refletir sobre o caminho
que pretendemos trilhar. A entrevista foi gravada em áudio e posteriormente
transcrita textualmente.

DELIMITAÇÃO DO UNIVERSO DA PESQUISA

A entrevista realizada ocorreu no estabelecimento comercial da entrevistada,


que esta localizada na cidade de Sumé na Rua Marciano de Oliveira - Centro.
Sendo este outro tipo de recurso que ela encontrou para complementar sua
renda, exercendo apenas quando não está em horário de suas aulas. A mesma
afirma que ama sua profissão como docente, mas pela falta de reconhecimento
da classe, em diversos sentidos entre estes a questão financeira teve que
procurar o complemento em outra atividade.

EXPLICAÇÃO DOS CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DO INFORMANTE

A escolha pela professora Maria Laudilene Batista Gonçalves, ocorreu por


conhecer a mesma há bastante tempo, e observar seu amor e dedicação
quanto a sua profissão. A opção por sua história de vida foi muito oportuna e
satisfatória para o desenvolvimento deste projeto de pesquisa, pois Laudilene é
uma pessoa exemplar, bem sucedida profissionalmente e com bastante
experiência.

Vinda de origem humilde ganhou espaço na área da educação devido seu


esforço, apesar de poucos recursos a mesma diz não ter nunca pensado em
desistir e hoje se sente uma pessoa vitoriosa e realizada. Devido esta coragem
faz despertar nas pessoas curiosidade a respeito de sua história de vida, e esta
serve de exemplo e incentivo a todos que assim como ela passam por
dificuldades, principalmente financeiras que não desistam, pois é possível com
determinação e coragem conquistarem seu objetivo.

HISTÓRIA DE VIDA

Trajetória de vida de um docente.

Maria Laudilene Batista Gonçalves trabalha no âmbito escolar há vinte e três


anos como professora, traz em sua mente grandes lembranças de toda sua
carreira profissional. Desde cedo Laudilene teve uma vida de batalhas e
dificuldades, a mesma morava na zona rural onde os recursos ainda eram
escassos, sua família era composta por pai, mãe e cinco irmãos, não teve
oportunidade de conviver com todos os irmãos, pois os mesmos tiveram que
migrar para as cidades vizinhas em busca de melhores condições de vida.
Sendo ela a caçula, conviveu maior parte de sua infância com apenas um de
seus irmãos, sendo este oito anos mais velho do que ela. Foi uma criança de
poucas relações sociais, pois sua mãe não a deixava nem brincar com as
outras crianças, conviveu toda sua infância próxima de seus familiares. Possui
até hoje grande apreço por sua avó, dizendo ter sido ela grande influência em
sua vida.

Filha de agricultores, onde seu pai era semianalfabeto e sua mãe apenas
alfabetizada, Laudilene desde cedo teve que trabalhar para ajudar nas
despesas de casa, sua mãe costurava e fazia alguns artesanatos como, por
exemplo, crochê, bordado, pintura, mas mesmo assim não era suficiente e era
necessária sua ajuda. Seu primeiro contato com a escola foi em um Sítio
chamado Várzea, tendo sido este não muito motivador, pois era apenas uma
professora polivalente, para todos os alunos da região e de todas as séries e
muitas vezes por falta de tempo da professora, os próprios alunos eram quem
ensinavam uns aos outros (os mais velhos ensinavam os mais novos), naquele
tempo em sua região não havia escola, e as aulas aconteciam na sala de uma
casa. Laudilene diz que gostava de ir à escola e tinha por parte de seu irmão
grande incentivo.

Ao tornar-se adolescente precisou ir estudar na cidade o 1º grau, hoje ensino


fundamental, ela teve muitas dificuldades devido ao pouco conhecimento que
tinha adquirido, não sabendo sequer ler e escrever corretamente, aos
dezessete anos ela casou, e teve seu primeiro filho aos seus dezoito anos, o
que tornou ainda mais difícil concluir seus estudos. Mas com persistência e
coragem Laudilene não se deixou abater, foi morar em João Pessoa onde
começou e concluiu o 2º grau (hoje ensino médio), teve algumas dificuldades
nas suas primeiras avaliações, mas se esforçou e conseguiu alcançar o ritmo
dos seus colegas, fez o ensino médio pedagógico este que a sua época era
como um curso preparatório para professor de primeira à quarta série,
conseguindo uma bolsa auxílio que na época era equivalente a meio salário
mínimo, estudava a tarde e fazia estágio no turno da manhã, todo este
processo a seu dizer foi muito significativo, pois lhe trouxe muita experiência
para a prática para sua profissão. O inicio de sua carreira profissional foi muito
difícil, como professora de educação infantil, não se identificou ao ensinar e
cuidar de crianças, pois não levava o menor jeito, passou um bom tempo sem
gostar de ensinar, devido essa frustração. Ao terminar o ensino médio em João
Pessoa/PB voltou para a cidade de Sumé/PB, onde no inicio passou por
dificuldades para conseguir emprego, mas logo passou no concurso municipal
de Sumé/PB e exerceu o cargo de professora durante cinco anos, porém o
referido concurso foi anulado.

Para complementar seu orçamento se tornou comerciante, prestou concurso


para a cidade de Amparo/PB o qual foi aprovada, tendo então que ir ensinar
naquela localidade. Pouco tempo depois conseguiu um contrato do Estado pra
ensinar em Sumé/PB (pro tempore) e passou vinte anos nesta situação. Foi
tutora e coordenadora de vários programas relacionados à educação, foi
também secretária de educação do município de Amparo/PB e no ano de 2010
prestou concurso para professor de geografia no Estado, o qual foi aprovada, e
desde então descobriu que gosta e sente prazer em ensinar principalmente a
alunos a partir de quatorze anos de idade.

É graduada em geografia e se identifica muito na área de humanas, e afirma


que nunca foi influenciada por ninguém a respeito de suas decisões
profissionais, é também a única pessoa de sua família que possui curso
superior e diz que a academia não a ajudou muito, se sente triste ao falar disto,
mas foi no ensino médio pedagógico que ela realmente aprendeu e aprimorou
técnicas de ensino, lá aprendia a ministrar aulas para poder identificar os
acertos como também os erros e onde precisava melhorar. A Universidade de
melhor acesso na sua época era na cidade de Arcoverde/PE, e uma das
maiores dificuldades era o transporte, às vezes tinha até que procurar carona.
Na sua concepção a graduação não a preparou bem para dar aula, mas sim o
método utilizado no ensino médio pedagógico, pois lá até a forma de entrar na
sala e como se comportar diante dos alunos era explanada, mas mesmo assim
no inicio não se identificou como professora, e quando concluiu sua graduação
não era exigido apresentação de monografia. Fez algumas especializações e
foi autora do Projeto: Gestão Escolar e Projeto Politico Pedagógico da Escola
Juvenal Ferreira de Brito, do Sítio Lagoa do Meio em Amparo/PB, atualmente
ministra aulas de sociologia na Escola estadual José Gonçalves de Queiroz,
em Sumé/PB.

No seu ponto de vista a relação acadêmica e docência são distintas, no âmbito


acadêmico é apenas teoria, e a docência se faz na prática, para ser um bom
professor é necessário força de vontade e dedicação. Ser professor não é
achar que sabe mais que todos, e sim se preparar e inovar a cada dia, para
que a sua aula não se transforme em monotonia. É preciso um bom
planejamento e em casos de mudanças no rumo da aula ter jogo de cintura,
pois um grande problema é que os alunos se cansam de aulas monótonas
(explicação/quadro) e o professor deve incentivar de alguma maneira para que
eles se encantem, pois o professor que não usa a criatividade acaba permitindo
que seus alunos fiquem desestimulados. Diante das novas tecnologias o
profissional do magistério precisa se inovar para competir com as mesmas,
pois os alunos se sentem muito atraídos por elas, portanto é necessário que o
professor esteja sempre estudando, especializando e se atualizando.

Sobre o ensino de sociologia, Laudilene diz que pensa bastante na forma como
está transmitindo o conhecimento sociológico e se pergunta se realmente está
ajudando ou prejudicando seus alunos, pois ainda não sabe trabalhar bem a
sociologia, por não ser especializada nesta área. Ela acredita que o professor
desta disciplina precisa ser motivador e comunicativo para poder transmitir a
importância de conhecer o mundo e o que nos cerca. Sente muitas dificuldades
para ministrar a disciplina de Sociologia, pois têm 13 turmas com
aproximadamente 25 alunos cada, e apenas uma aula por semana, portanto
não há como atender a especificidade de cada aluno. Nas suas aulas usa
recursos como data show e sempre procura evidenciar assuntos do cotidiano
de seus alunos e relacioná-los as teorias sociológicas. Diz que dar aula é um
aprendizado mútuo e recíproco.

Nunca ministrou aulas em ensino privado, mas conhece relatos de alguns


colegas que dão aulas no público e no privado e observa uma diferença sobre
serem digamos que pressionados a produzirem mais para não perder o
emprego, na pública se produzir ou não fica tudo do mesmo jeito, alguns fazem
de conta que dão aula e pensam porque se desgastariam se os alunos não
colaboram e não estudam como há 10 ou 05 anos atrás, vivem como se o
pensamento estivesse na lua, e infelizmente sabem o que acontece no mundo,
nas redes sociais, mas não percebem o que está acontecendo ao seu redor,
não utilizam a tecnologia a seu favor.

Por outro lado os professores têm suas dificuldades, são duas vertentes:
primeiro não são valorizados pelo poder público e segundo a própria categoria
não se valoriza. Porque a partir do momento que os profissionais ficam
apáticos ao não aprendizado de seus alunos, acabam não se valorizando,
também há professores que ganham pouco para o que produzem e outros que
ganham muito, pois não produzem quase nada. A arte de ensinar é uma
grande responsabilidade e ela a considera um oficio. Diz que não é uma
católica praticante, mas sempre quando alcança o objetivo de dar uma boa
aula com um bom rendimento, agradece a Deus e pede para que continue
agindo desta maneira, pois sempre avalia sua pratica pedagógica como um
eterno aprendizado.

Considera que muito se tem feito em prol da educação, mas acha que há 30
anos, o professor era mais valorizado em reconhecimento pela sociedade, só
que nunca teve um salário digno, afirma que existem politicas públicas que
ajudam muito as escolas de hoje, elas recebem dinheiro para alimentação e
para manutenção. Um incentivo dado no seu caso, por exemplo, é pelo
Governo do Estado é acrescentar o décimo quinto salário ao professor que
desenvolve projetos na escola. Mas acredita que seria melhor se o professor
tivesse apenas um vinculo para não se desgastar muito, como ela mesma diz
que no seu caso é comerciante e tem dois vínculos um Estadual e outro
Municipal, para poder complementar seu orçamento, e isso tudo é muito
cansativo, tendo pouco tempo para se dedicar à sua família. Hoje aos 46 anos
de idade, Laudilene diz ser uma pessoa realizada, atuando ainda na área
educacional onde passou por muitos obstáculos, mas continua a exercer sua
profissão com muito orgulho e amor.
CONCLUSÃO

A partir da pesquisa realizada podemos observar a realidade da profissão de


ser um professor atuante no ensino médio, as diversas dificuldades e desafios
que enfrentam diariamente nas instituições públicas de ensino. Um dos
principais responsáveis pela insatisfação que ocorre no âmbito escolar é o
descaso por parte do governo em relação à educação, salários maus pagos e
falta de incentivo, acabam fazendo com que o professor tenha que dar aulas
em diferentes horários e instituições, não sobrando tempo sequer para elaborar
uma aula produtiva.

A opção pelo curso de licenciatura muitas vezes ocorre pelo fato de não
conseguir ingressar em outros cursos, considerados melhores diante da
sociedade. Fazendo com que cada vez mais se formem profissionais
insatisfeitos, nota-se que diante dos relatos da entrevistada, que a mesma
exerce o trabalho docente como os antigos professores, como um verdadeiro
oficio. “[...] Ter um oficio significava orgulho, satisfação pessoal, afirmação e
defesa de uma identidade individual e coletiva”. (Arroyo, Miguel G. Conversa
sobre o Oficio de Mestre. p. 21.).

Em relação à Sociologia podemos perceber que poucos são habilitados para


exercer essa área, pois professores de diversas disciplinas acabam
ministrando aulas de Sociologia como complemento de carga horária
prejudicando, portanto os discentes como, por exemplo, a nossa entrevistada
que é graduada em Geografia, mas ministra aulas de Sociologia .

Dessa forma foi apontado aqui o caminho percorrido pela Professora Laudilene,
resultando na escolha pela profissão docente.

REFERENCIAL TEÓRICO

ARROYO, Miguel G. Oficio de mestre: imagens e autoimagens. 12 ed. Petrópolis, RJ.


Editora: Vozes, 2010. p. 17-36.

Diferenças entre pesquisa quantitativa e qualitativa. Disponível em:


<http://www.portaleducacao.com.br/administracao/artigos/40088/diferencas-entre-
pesquisa-quantitativa-e-qualitativa> Acesso em 07, jul. 2015.

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