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UMA ANÁLISE SOBRE EXISTENCIALISMO E IDENTIDADE EM A

METAMORFOSE, DE KAFKA19

Joranaide Alves Ramos


Ma. em Estudos Literários (Ufal), docente do UniRios e do Ifba, campus Paulo Afonso- BA.
joranaide.alvesramos@gmail.com

Natalia de Souza Ferreira


Licenciada em Letras pelo Centro Universitário do Rio São Francisco – Unirios. nnathysousa@gmail.com

RESUMO

Este estudo tem como princípio analisar A Metamorfose (1915) de Franz Kafka, e
evidenciar como os ideais discutidos pelo Existencialismo está presente na
caracterização da personagem Gregor Samsa que sofre uma metamorfose e
modifica a estruturação de sua existência. Também discutiremos sobre a
desconstrução da Identidade da personagem que entra em crise e se modifica, em
meio a uma sociedade alienante e de relações fluídas. Ao final da pesquisa,
percebemos a presença de ideias do movimento existencialista na obra, através da
trajetória existencial da personagem Gregor Samsa e evidenciamos como a
liberdade e escolha são significativas para a formação da identidade e a
compreensão do sentido da existência da personagem. Para alcançar os objetivos
propostos, utilizamos como respaldo teórico escritores como Bauman (2001),
Benjamin (1996), Heidegger (2005) e Sartre (1970).

Palavras-Chave: A metamorfose, Existencialismo, Identidade, Franz Kafka.

AN ANALYSIS OF EXISTENTIALISM AND IDENTITY IN THE


METAMORPHOSIS, BY KAFKA

ABSTRACT

This paper aims to analyze The Metamorphosis (1915) by Franz Kafka, and
evidence how the ideals discussed by Existentialism present themselves in the
development of the character Gregor Samsa, who duffers a metamorphosis and
modifies the structure of his existence. We will also discuss the deconstruction of
the character`s identity, which gets into a crisis and changes amid an alienating
society of fluid relations. By the end of the research, we realize the existence of
Existentialist ideas in the work through the existentialist trajectory of Gregor
Samsa, and highlight how freedom and choice are meaningful for the identity
formation and the comprehension of the character`s existence. In order to reach the
objectives, the theoretical support of authors such as Bauman (2001), Benjamin
(1996), Heidegger (2005) and Sartre (1970) was used.

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Este artigo é um dos resultados da Monografia EXISTENCIALISMO E IDENTIDADE: Uma leitura de A paixão
segundo G.H., de Clarice Lispector, de autoria de Natalia de Souza Ferreira e orientada pela professora Ma.
Joranaide Alves Ramos.

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UMA ANÁLISE SOBRE EXISTENCIALISMO E IDENTIDADE EM A METAMORFOSE, DE KAFKA

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Keywords: The Metamorphosis; Existentialism; Identity; Franz Kafka.

1 INTRODUÇÃO

As obras de Franz Kafka são reconhecidas por retratar personagens imersos a um sistema social
de subserviência, no qual são alienados pelas relações sociais de poder, seja no trabalho ou na
família, demonstrando, com isso, a fragilidade das relações sociais modernas que são envoltas
pelos interesses individuais. Nesse cenário, o autor, a nosso, ver, por meio de uma linguagem
simples, relata a existência humana e seus conflitos, em meio ao absurdo e situações sombrias,
retratando a desumanização.

Pensando nisso, este artigo possui o objetivo de analisar a obra A Metamorfose (1915), que em
seu enredo possui uma personagem que sofre uma drástica mudança em sua vida ao acordar
metamorfoseado em inseto. Essa discussão apresenta forte embasamento na doutrina filosófica
do Existencialismo, que estuda o Ser e as condições de sua existência e também nos leva a
refletir sobre a identidade do personagem que sofre uma desconstrução e muda todas as suas
características como Ser.

Desse modo, para embasarmos esse estudo fizemos pesquisas bibliográficas sobre as teorias de
Søren Kierkegaard em Diário de um Sedutor; Temor e Tremor; O Desespero Humano (1979)
que trata sobre o existencialismo e indivíduo. Também utilizamos Martin Heidegger, em Ser e
Tempo (2005), que traz uma filosofia voltada para a investigação e busca pelo entendimento do
Ser. Debruçamo-nos, ainda, sobre Jean-Paul Sartre, que desenvolve seus escritos em torno do
homem e o seu papel no mundo como em O existencialismo é um humanismo (1970) e O ser e
o nada - Ensaio de ontologia fenomenológica (2011).

Discutimos sobre Identidade com o embasamento nos estudos de Manuel Castells em O poder
da identidade: a era da informação (2018); Stuart Hall, em A Identidade cultural na pós-
modernidade (2006) e Zygmunt Bauman em A Modernidade Líquida (2001). Com isso,
pudemos fazer uma leitura crítica da obra, pontuando suas relações com a filosofia existencial
e discutirmos sobre a construção da identidade na sociedade moderna.

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2 A METAMORFOSE, DE FRANZ KAFKA

Franz Kafka (1883-1924) se tornou um dos escritores mais influentes do século XXI. Nasceu
em Praga, uma cidade que atualmente se localiza na República Tcheca, mas teve como primeira
língua o alemão, no qual suas obras foram publicadas, se tornando um dos maiores escritores
da história em língua alemã. Dentre suas principais obras estão: A Metamorfose (1915), O
Processo (1925), Carta ao pai (1952), entre outros.

Formado em Direito e trabalhando em uma companhia de seguros, Franz Kafka conciliava sua
vida ao seu amor a escrita e literatura, em seu tempo livre, produzia romances e contos. Apesar
do seu imenso reconhecimento no universo literário, suas obras só alcançaram a fama
postumamente. Devido a uma tuberculose veio a falecer. Maior parte de sua obra foi queimada
e os outros publicadas por seu amigo Max Brod.

É importante enfatizarmos a biografia de Franz Kafka, devido a caracterização do seu estilo


literário também estar vinculado a sua vida pessoal. Kafka viveu muitos relacionamentos
amorosos instáveis, nunca chegara a se casar. Em sua obra Carta ao pai, que se configura como
uma novela autobiográfica. Retrata o relacionamento problemático entre pai e filho, no caso
seu pai Hermann Kafka. A obra foi inscrita em 1919, apenas quatro anos após A Metamorfose,
porém publicada apenas em 1952, postumamente.

Ao analisar a carta, em tom de confissão do autor, percebemos que Kafka, por meio da ficção,
fez de seus conflitos e vivências, substrato para sua literatura. Na carta, em tom melancólico,
Kafka parece expressar suas decepções quanto a postura do seu pai durante toda sua vida, a
angústia por não ter o apoio e o carinho paternal, que estava sempre contra em todas as suas
decisões, atitudes e falas.

Em Carta ao pai ainda afirma:

A impossibilidade do intercâmbio tranquilo teve uma outra consequência na verdade muito natural:
desaprendi a falar. Certamente eu não teria sido, em outro contexto, um grande orador, mas sem
dúvida teria dominado a linguagem humana corrente e comum. No entanto, logo cedo você me
interditou a palavra, sua ameaça: “Nenhuma palavra de contestação!” e a mão erguida no ato me
acompanharam desde sempre. (1997, p.25)

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Toda frustação e angústia descrita na Carta, culmina nas temáticas trabalhadas por Franz Kafka
em seus escritos, principalmente, a falta de liberdade das personagens em exercer seu livre
arbítrio, suas escolhas para conduzir sua vida. O cerceamento imposto por seu pai lhe privou
da palavra e liberdade de expressão. Kafka ainda enfatiza que: “Meus escritos tratavam de você,
neles eu expunha as queixas que não podia fazer no seu peito.” (CARTA AO PAI,1997, p.25).

Logo, ao fazermos essa análise, percebemos que as características de sua escrita em suas outras
obras também estão relacionadas a enredos sobre conflitos entre pais e filhos, o realismo em
uma sociedade burguesa e arbitrária, da degradação humana e desumanização, diante da
alienação social, envolta por um questionamento existencial e identitário da personagem, que é
o caso de A Metamorfose, objeto de reflexão de nossa pesquisa.

A literatura de Kafka, para nós, abre um leque para variadas interpretações, a considerar a
conjuntura da escrita de suas obras, diretamente relacionada a sociedade burguesa capitalista
do início do século XX, que parecia manipular a força de trabalho do homem, transformando-
o em mercadoria, levando-o a alienação perante o sistema social e trabalhista. Diante disso e
das leituras que fizemos, vemos o indivíduo desumanizado e entendemos que o “eu”
transformado em mercadoria perde sua identidade.

O termo Kafkiano, ou situação kafkiana, ficou reconhecido em literatura e socialmente como


sinônimo de estranhamento, algo absurdo. Segundo o dicionário Aulete (2011, p. 832): “2 Que,
à maneira de Kafka, expressa uma atmosfera de pesadelo e uma angústia peculiar que remete
ao absurdo da existência humana na civilização atual: detalhe surrealista em um enredo
kafkiano.” Essa definição expressa o estilo particular de sua obra que será evidenciado em A
Metamorfose.

Entre outras interpretações para Carone (2009, p.100):

Pois a rigor é kafkiana a situação de impotência do indivíduo moderno que se à voltas com um super
poder (Übermacht) que controla sua vida sem que ele ache uma saída para essa versão planetária
de alienação – a impossibilidade de moldar seu destino segundo uma vontade livre de
constrangimentos, o que transforma todos os esforços que faz num padrão de iniciativas inúteis.

Essa situação de impotência e impossibilidade é vista em A Metamorfose, obra em que é


apresentada a história de Gregor Samsa, um caixeiro-viajante que abdicou de suas vontades,

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para viver inteiramente para sua família. O seu trabalho depende do seu esforço, em ir em busca
de vendas, viver realizando viagens a negócios e custear todas as necessidades de sua família,
que havia vivenciado algumas crises financeiras. Com pouco tempo livre, não se divertia ou
pensou em construir sua família; Gregor doou-se inteiramente a seus pais e sua irmã. Após uma
noite de sonhos intranquilos, percebe que sofreu uma metamorfose.

A metamorfose é dividida em três capítulos: sendo que no primeiro é narrada a metamorfose


de Gregor Samsa e suas primeiras impressões; após sua transformação em inseto, é evidenciada
os impasses de sua profissão e a reação infeliz de sua família. No segundo capítulo, a
personagem percebe que sua família o abandona, seus pais esquecem do amor de seu filho, o
confinando em um quarto, isolando-o do mundo. O terceiro capítulo, narra a degradação da
vida de Gregor, que entra em estado mortal de angústia diante a sua desumanização.

Em A Metamorfose (1994, p.07):

Estava deitado sobre suas costas duras como couraça e, ao levantar um pouco a cabeça, viu seu
ventre abaulado, marrom, dividido por nervuras arqueadas, no topo do qual a coberta, prestes a
deslizar de vez, ainda mal se sustinha. Suas inúmeras pernas, lastimavelmente finas em comparação
como o volume do resto do corpo tremulavam desamparadas diante de seus olhos.

A narrativa descreve o dilema de um homem que vive o pesadelo de uma transformação que o
desfigurou, transformando-o em um inseto. Com isso, Gregor Samsa perde sua humanidade e
liberdade e, consequentemente, as forças e condições para exercer seu trabalho. Sempre
submisso a sua família, realizando seus desejos, o personagem após sua metamorfose sente o
desprezo e a frieza de seus familiares, tornando-se um estrangeiro em seu lar. Gregor era apenas
um servo que, após metamorfoseado em inseto e angustiado com sua situação aterrorizante é
abandonado por sua família.

Após esse processo de metamorfose, Gregor vive em uma condição de parasito, exilado pelo
silêncio, perde as capacidades de utilizar sua linguagem humana, mas mantém seus sentimentos
e memórias sobre sua vida. Preso em seu quarto e abandonado pela família, Gregor vive uma
angústia mortífera, em que sua liberdade foi anulada, sendo condicionado a uma vida
desprezível. Ainda sofre o desprezo e maus tratos, de sua família que ele tanto amou e doou sua
vida, a começar pelo seu emprego maçante, em que se submetia apenas pelo bem e sustentar de
seus pais. Lemos em A metamorfose (1994, p.09):

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Tentasse eu fazer isso com o chefe que tenho: voaria no ato para rua. Aliás, quem sabe não seria
muito bom para mim? Se não me contivesse, por causa de meus pais, teria pedido demissão há muito
tempo; teria me postado diante do chefe e dito o que penso do fundo do meu coração. Ele iria cair
da sua banca!

Na obra, evidencia-se que Gregor vivia uma condição servil alienante perante sua família,
deixando claro em vários trechos que não suportava seu trabalho de caixeiro-viajante, mas não
poderia desistir, enquanto não saldasse as dívidas de sua família. Além de sofrer uma
metamorfose que feriu a existência de Gregor Samsa, era mais vítima do monopólio capitalista
expressado nas obras de Kafka.

Podemos notar as relações de exploração capitalista, entre Gregor e o Gerente. Apenas um único
dia, em que não pode realizar seus trabalhos, o gerente incisivamente foi cobrar-lhe explicações
em sua casa, enquanto Gregor sofria devido sua metamorfose. “Porque Gregor estava
condenado a servir em uma firma em que a mínima omissão se levantava máxima suspeita?
Será que todos os funcionários eram sem exceção vagabundos? (A METAMORFOSE, 1994,
p.16) Mesmo realizando um trabalho exemplar Gregor, nesse momento sofre a primeira
decepção, com a perseguição de seu chefe e falta de reconhecimento pelos seus esforços.

Sendo agora um inseto, tudo se torna diferente. Há uma ruptura com Gregor, sua família e
sociedade. A partir do momento, que não pode mais servir a sua família Gregor Samsa, cai em
um abismo de desprezo e desvalorização. Seus pais, após constatar sua metamorfose vai
abandonando-o aos poucos até que Gregor não considere mais sua existência. Após a saída do
gerente seu pai sela o início da mortificação do seu Ser:

Sua idéia fixa era que Gregor voltasse o mais rápido possível para o quarto. [...] quando o pai
desferiu, por trás, um golpe agora de fato possante e liberador e ele voou, sangrando violentamente,
bem para dentro do seu quarto. [...] Seu lado esquerdo parecia uma única longa cicatriz [...] uma
perninha, aliás, tinha sido gravemente ferida no curso dos acontecimentos da manhã. (A
METAMORFOSE, 1994, p. 31-34) [sic]

A vida após sua metamorfose lhe confere uma ruptura sobre o espaço em que vivia e a
verdadeira face de sua família e Gregor tem de se adaptar a sua nova condição animalesca,
trancado em um quarto sobrevivendo de migalhas e desafetos. Mesmo, antes, sendo o filho
perfeito, abstendo-se de realizar seus sonhos e viver a vida a seu jeito, Gregor não recebeu o
reconhecimento de sua família: “Tanto a família como Gregor acostumaram se a isso: aceitava-
se com gratidão o dinheiro, ele o entregava com prazer, mas disso não resultou mais nenhum
calor especial.” (A METAMORFOSE, 1994, p.42). Com a sua metamorfose, a vida de todos foi
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se tornando cada vez mais, insuportável. A figura do pai, tratada diversas vezes na obra de
Kafka, ganha evidencia na obra, quando por pouco o Senhor Samsa não tira a sua vida, sem
remorsos:

Uma maça atirada sem força raspou as costas de Gregor mas escorregou sem causas danos. Uma
que logo se seguiu, pelo contrário, literalmente penetrou nas costas dele; Gregor quis continuar se
arrastando, como se a dor supreendente e inacreditável pudesse passar com a mudança de lugar; [...]
– mas nesse momentos a vista de Gregor já falhava – pedir, com as mãos na nuca do pai, que lhe
poupasse a vida de Gregor. (A METAMORFOSE, 1994, p.58)

Entre esses acontecimentos e a vida desprezível que Gregor levava, foram culminando a sua
morte. Sem se alimentar e dormir, Gregor passava os dias refletindo sobre o acontecido e ainda
pensava em ajudar sua família, às vezes, enfurecido pela indiferença que sofria, tratado como
um animal, um “velho bicho sujo” (p. 68). Sua irmã, Grete, que após sua metamorfose foi a
única cuidar de Gregor, no fim o abandonou e queria se livrar de seu irmão, por considerá-lo
um estorvo. Gregor percebe que não tem o amor de sua família e decide se entrar para a morte,
como solução para o desastre que ocorreu:

Sua opinião de que precisava desaparecer era, se possível, ainda mais decidida que a da irmã.
Permaneceu num estado de meditação vazia e pacífica até que o relógio da torre bateu a terceira
hora da manhã. [...] Depois, sem intervenção de sua vontade, a cabeça afundou completamente e de
suas ventas fluiu fraco o último folego. (A METAMORFOSE, 1994, p.80)

Após sua transformação em inseto, Gregor se torna ainda mais estrangeiro em seu lar. Sua
existência não possui significado e nem sentido. Percebemos que Gregor Samsa não era um
homem livre, pois estava aprisionado a sua família e ao sistema capitalista de seu trabalho.
O que implica ao nosso estudo, fazer uma análise sobre o existencialismo e a identidade da
personagem, uma vez que não pode conduzi-las durante sua vida; seu único ato libertador, foi
a escolha de desaparecer, entregando-se para morte. Desse modo veremos no próximo tópico
uma análise sobre as relações existencialistas presentes em A Metamorfose.

3 A DISCUSSÃO SOBRE O EXISTENCIALISMO EM A METAMORFOSE, DE


KAFKA

Concebido por um conjunto de teorias formuladas entre os séculos XIX e XX, o existencialismo
é um movimento filosófico e intelectual que eclodiu em meio a uma conjuntura de governos
ditatoriais, e aos conflitos da Segunda Guerra Mundial. O filósofo dinamarquês Søren
Kierkegaard (1813-1855), foi o percussor desse movimento; posteriormente, consolidando-se

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com os pensamentos de outros filósofos, dentre eles; Martin Heidegger (1889-1976) e Jean-
Paul Sartre (1905-1980).

Para Sartre (1970), o existencialismo é uma corrente pautada nas condições do ser, e uma teoria
focada no sujeito humano pensante, suas atitudes individuais, ações, sentimentos e,
principalmente, a liberdade exercida em sua vida. Para a corrente, o homem é responsável pelos
os seus atos, independentemente de sua liberdade de escolha, cada uma possui uma
consequência que implicará em fracassos ou conquistas.

Como princípio gerador da teoria, o homem durante sua vida, anseia um significado para sua
existência. Adversa ao positivismo, no qual as experiências são apreendidas, a partir dos fatos
vividos, tal como pela ciência e a razão. A corrente existencialista, considera que nada
predeterminava a essência do homem, não havia determinações concretas ou naturais que
direcionasse a vida humana a um destino inalterável, mas o próprio homem, era responsável a
atribuir sentido e significado para sua vida. (SARTRE, 1970).

Muitos são os expoentes que debatem sobre o existencialismo. No século XIX, contamos com
a contribuição do filósofo dinamarquês Søren Aabye Kierkegaard (1813-1855), que é
considerado por muitos historiadores como o primeiro representante da filosofia existencialista,
devido suas obras tratarem explicitamente da crise da existência humana. Todo o seu
pensamento é desenvolvido com base em suas experiências pessoais e conflitos de seu íntimo.
Abstraindo para si, os sentimentos de angústia e inquietações do ser humano, fatores que
corroboraram para o seu tom melancólico e sua dialética utilizada para moldar as ideias. Sua
filosofia é influenciada por sua formação cristã, sendo assim, suas obras permeiam pela
existência, ser humano, e a relação da alma com Deus e os questionamentos da fé.

Para a filosofia da existência kierkegaardiana, o ser humano é uma “síntese de finito e infinito,
de temporal e de eterno, de liberdade e de necessidade” (KIERKEGAARD,1979, p. 195). O
mundo e o sistema em que vivemos operam em constante tensão voltada para a existência. O
Indivíduo, pilar principal das relações existenciais acaba por ser atingido por essas tensões,
mergulhando em um sistema de conflitos constantes. Segundo Giles (1989, p. 06) “Kierkegaard
insiste na necessidade da apropriação subjetiva da verdade, pois, se trata de fundamentar o

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desenrolar do pensar em algo que seja ligado a raiz mais profunda da existência, que é o
Indivíduo.”

A subjetividade e a verdade são questionamentos constantemente debatidos na teoria de


Kierkegaard (1986, p.226) para ele “existir em verdade e penetrar sua existência por sua
consciência, ao mesmo tempo, quase eternamente, muito além dela e, não obstante, presente
nela e, não obstante, no devir: é verdadeiramente difícil.” Ou seja, a verdade se torna sempre
subjetividade para o indivíduo, devido cada pessoa possuir uma ideia do que seria “a verdade”,
representando-se como uma singularidade de cada sujeito, visto que cada um vive aquilo em
que acredita.

Para Kierkegaard (1986, p.241):

A subjetividade enquanto quer começar a tornar-se verdade, através de um processo de subjetivação,


acha-se nesta situação difícil que ela é a não-verdade. Assim, o trabalho recua, isto é, perde em
interioridade. Longe de o caminho conduzir ao objetivo, o começo não faz mais do que mergulhar
mais profundamente ainda na subjetividade.

Por isso, caracteriza-se o paradoxo diante da subjetividade em relação à verdade e não verdade,
pois, para Kierkegaard o caráter subjetivo pertence a autenticidade do ser humano, que
compreende todas as suas particularidades e reflete sua interioridade. A existência humana é
reflexo de liberdade, o indivíduo é livre e responsável por qualquer escolha que faça, essas
escolham são fundamentais, por que se tornam a verdade concreta do sujeito, e assim vivem
aquilo em que acreditam, afirmando sua existência.

Para Giles apud Kierkegaard (1989, p.07) “o indivíduo é energia viva, ativa, autodeterminante,
que surge a partir de situações concretas de opção, situações essas enraizadas nos momentos
em que o homem focaliza todas as potencialidades numa opção, que ressoará por toa sua vida”.
A decisão é um fato particular a cada indivíduo, que se reconhece existencialmente, sendo
assim, resultado de sua interioridade, melhor dizendo subjetividade. Para Kierkegaard (2010)
O que o conduz é “a decisão”. Logo, para o filósofo, é necessário que o indivíduo se torne um
só, se torne subjetivo, pois, é o fator que revela o que cada ser humano é.

O filósofo ainda aborda em sua teoria, a Angústia, que em primazia, o termo significa;
inquietude, sufoco, tormento ou sofrimento que precede algo desconhecido, ou inevitável.

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Kierkegaard (1968. p. 45) “Porém existe, ao mesmo tempo, outra coisa que, entretanto, não é
perturbação nem luta, porque não existe nada com que lutar. O que existe então? Nada. Que
efeito produz, porém este nada? Este nada dá nascimento à angústia.” Logo, em sua obra o
Conceito de Angústia (1844), o filósofo aborda a Angústia e Liberdade, em uma perspectiva
cristã, assim como, trata sobre o vazio da existência humana e a busca de um sentido para sua
vida, que dá origem a angústia.

Já o vazio existencial nos coloca em um conjunto de pressentimentos e reflete a culpa de um


passado ou futuro incerto. O indivíduo percebe que se encontra em estado que não consegue
obter um significado para sua vida, ao mesmo tempo que, a culpa corrobora para o
arrependimento. Ainda que nesse paradoxo, o indivíduo tente construir meios de colocar sentido
a sua vida, não consegue e tende a viver a tensão do ser humano no mundo, que constantemente
visa construir sua identidade e uma existência autêntica.

Ainda, esse vazio e insegurança corrobora para o desespero existencial que recai sobre o
indivíduo que não consegui realizar-se. “A cada indivíduo na geração, tal como a cada dia, basta
seu tormento.” (KIERKEGAARD, 1968, p. 09). Para Kierkegaard o desespero pode assumir
três formas “o desespero motivado pelo desejo de não ser si-próprio; o desespero motivado pelo
desejo de ser si-próprio; o desespero pelo fato de não ser consciente de ter um “eu”.”
(GILES,1989, p.14). O ser humano em desespero tenta buscar saídas adotando diversas medidas
extremas, muitos costumam se vitimizar, outros buscam um vício ou tentam até o suicídio, mas
o que vale ressaltar, é que para Kierkegaard, o desespero não é um conflito externo, mas sim
interno, no qual o homem deve perceber para assim encontrar uma “cura” para seu tormento.
Para Kierkegaard, a Angústia é a vertigem da liberdade, caracterizando-se como uma condição
inerente ao Indivíduo, e não se concretiza como um estado de loucura, mas pertence à
problemática humana. Essa vertigem está interligada a possibilidade de escolhas que o homem
pode exercer. Dito isto, a Angústia relativa ao pecado surge somente quando o próprio indivíduo
estabelece o pecado em sua vida.

Relacionada a angústia, o sentido da existência dá lugar a um vazio e insegurança que apenas


o próprio indivíduo pode escapar utilizando sua liberdade. Portanto, tomemos o exemplo de
alguém a beira de um precipício, sendo que no momento que olhemos para queda, para baixo,
sentimos a aflição e o medo imediato de cair, enquanto podemos sentir um forte impulso que
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pode nos levar a atirar-se a morte naquele momento. É sobre essa liberdade angustiante que o
filósofo aborda, bem como o fato de escolher e exercer esse livre-arbítrio é o que nos torna um
Indivíduo, como uma característica individual dentre a sua subjetividade.

[...] a possibilidade da liberdade não é poder escolher entre o bem e o mal. [...] A possibilidade é o
poder. Num sistema lógico é bem cômodo dizer que a possibilidade transforma-se na realidade. Na
realidade, isso não é assim tão fácil e precisa-se de uma determinação intermediária. Essa
determinação intermediária é a angústia, que tampouco explica o salto qualitativo como o justifica
eticamente. A angústia não é nenhuma determinação da necessidade, mas também nenhuma da
liberdade, ela é uma liberdade cativa, onde a liberdade em si mesma não é livre, mas sim cativa, não
na necessidade, mas sim em si mesma. 20

Para Kierkegaard, o poder da liberdade acarreta ao desespero humano e ao pecado, visto que
uma vez livre, o homem pode fazer o que lhe convém, rompendo com a supremacia do poder
de Deus. Ainda, o poder de decisão o apavora, pois nesse estado, o homem se empodera e se
torna dono de si. Porém, nesse momento o indivíduo esbarra com os ideais da ética e moral, os
limites e extremos do que a sociedade impõe e sua autoconsciência controla seus atos, por isso
se torna uma liberdade condicionada, que não é inteiramente livre, o homem permanece preso
aos seus princípios de vida, seja um Deus, que lhe põe o temor do pecado, ou seus ideias éticos
perante a sociedade.

A filosofia kierkegaardiana dirige um convite ao indivíduo, que nada é, para olhar-se na sua própria
subjetividade e lançar-se diante do absoluto que, contrariamente ao que pensava Hegel, não reside
na história, mas num totalmente outro. Assim, diante do absoluto, resta decidir-se pela fé ou
desesperar-se. (PAULA, 2009, p.26)

Esse vazio e insegurança corrobora para o desespero existencial que recai sobre o indivíduo que
não consegui realizar-se. Para Giles apud Kierkegaard (1989, p.14) o desespero pode assumir
três formas “o desespero motivado pelo desejo de não ser si-próprio; o desespero motivado pelo
desejo de ser si-próprio; o desespero pelo fato de não ser consciente de ter um “eu”.”

Por conseguinte, focaremos no pensamento do alemão Martin Heidegger (1889-1976),


reconhecido como um dos filósofos mais importantes do século XX, que impulsionou a filosofia

20
(KIERKEGAARD, 1952, p. 47-48, Tradução nossa): [...] die Möglichkeit der Freiheit ist nicht, daß man das
Gute oder das Böse wählen kann. [...] Die Möglichkeit ist das Können. In einem logischen System ist es recht
bequem zu sagen, daß die Möglichkeit in Wirklichkeit übergeht. In der Wirklichkeit ist das nicht so sehr leicht,
und es bedarf einer Zwischenbestimmung. Diese Zwischenbestimmung ist die Angst, welche den qualitativen
Sprung ebensowenig erklärt, als sie ihn ethisch rechtfertigt. Angst ist keine Bestimmung der Notwendigkeit, aber
auch keine der Freiheit, sie ist eine gefesselte Freiheit, wobei die Freiheit in sich selbst nicht frei ist, sondern
gefesselt, nicht in der Notwendigkeit, sondern in sich selbst

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existencial, fazendo uma reflexão radical à problemática do ser humano e sua existência. Pois,
para ele as definições passadas perderam o foco no indivíduo, e as consideravam como
conceitos universalistas e indefiníveis.

A filosofia de Heidegger se caracteriza por uma constante interrogação e se renova, convidando


o leitor a meditar sobre a questão do Ser que é o princípio das inquietações humanas, dessa
forma, buscando a verdade do Ser desvendado o incompreendido. “Questionar é buscar
cientemente o ente naquilo que ele é como ele é. A busca ciente pode transformar-se em
“investigação” se o que se questiona for determinado de maneira libertadora.” (HEIDEGGER,
2005, p.40).

Como pressupostos para sua investigação e busca pelo entendimento do Ser, Heidegger parte
do princípio da questão O que significa o Ser? Sendo para muitos uma pergunta irrespondível,
devido ao Ser, se demonstrar como o mais universal dos conceitos e ao mesmo tempo vazio e
indefinível. Portanto, para o filósofo, se torna evidente que falta uma resposta para esse
questionamento, assim se tornando o objetivo de sua teoria.

Em sua primeira e uma das mais importantes obras Ser e Tempo (1927), o autor aborda uma
nova forma de pensar a existência humana, focando no estudo do Ser; como sendo aquilo que
existe, que supomos existir, que é indefinido, diferente do Ente, que é concreto e definido.

Sendo o Ser, quem determina os entes enquanto entes. E o ente é tudo sobre o que falamos e
significamos, estando refletido em diferentes sentidos, incluindo todos os objetos e pessoas.
Para isso, ele concebe o conceito de Dasein, que é o seu objeto de análise existencial,
literalmente (Sein= Ser/ Da= Ai), Ser-Ai, mas sem traduções como o próprio autor afirma, o
Dasein seria a completude da existência humana que necessita alcançar uma compreensão. “A
compreensão do Ser é a característica e o fato fundamental da experiência do Ser-aí.” (GILES,
1989, p.98). Dessa forma, o Dasein seria o ponto de interrogação, de questionamento, para a
possível compreensão do ser, o que determina a existência humana. Para o filósofo, o Dasein
apenas existe no mundo e vive em relação ao mundo, como seres com diversas possibilidades,
sendo lançados no espaço e no tempo, até a nossa morte. Esse questionar reflete o buscar de um
ser-no-mundo, que interage com outros entes.

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(...) o Dasein não apenas tem, de certo modo, uma ligação com o mundo também articulada consigo
mesmo; ao contrário, a ligação com o mundo é um traço essencial do Dasein mesmo e, por que não
dizer, é a sua constituição essencial marcante. Dasein não significa nada senão ser-no mundo.
Quando dizemos Dasein e não estamos apenas enunciando uma palavra, mas compreendemos o que
temos efetivamente em vista, já visamos ao ser-no-mundo. Por isso, não faz sentido perguntar se e
como o Dasein, que como tal é ser-no-mundo, possui uma relação com o mundo. Tanto mais urgente
é perguntar o que significa ser-no-mundo (HEIDEGGER, 2008, p.324-325)

Então o que seria o ser-no-mundo? Seria a marca existencial do Dasein, que é construído pelas
possibilidades de vivências, não se caracteriza por um ente afastado e desvinculado de um
contexto, mas um Ser que existe e está em cooperação com o mundo, que o compartilha e está
sujeito a qualquer mudança que ocorra em seu meio. Um Ser que habita em uma conjuntura de
tempo e espaço, no qual convive com outros seres, exercendo influência e sendo influenciado.

Em Ser e Tempo, Heidegger também analisa a decadência, como particularidade do Dasein,


uma vez que o ser-no-mundo se perde em meio as preocupação e imposições sociais, que se
torna alienado em busca de uma aceitação social, ou uma aprovação impessoal. “A alienação
da de-cadência faz com que o Dasein se atropele e se aprisione em si mesmo.” (HEIDEGGER,
2005, p.240). Uma vez aprisionado, é vista a facticidade de um ser que é lançado ao mundo e
tenta compreender-se diariamente.

Dessa forma angustiasse e essa angústia é relatada através da finitude do Dasein, que se depara
com o nada que envolve o mundo. “O nada é a possibilidade da revelação do ente enquanto tal
para o ser-aí humano. O nada não é um conceito oposto ao ente, mas pertence originariamente
a essência mesma (do ser).” (HEIDEGGER, 1983, p. 59). A análise do nada reflete o despertar
do homem para a consciência da vida, enquanto percebe que muitas vezes ela não tem sentido
ou finalidade. Tudo corrobora para a decadência, em um mundo que se torna efêmero e que
angustiasse e percebemos que caminhamos para a morte.

Tonando-se a verdade crucial que acerca o Dasein, que não é um ser que é totalmente definido
e acabado, mas também é um ser-para-a-morte. Heidegger (2005, p. 50) “O ser-para-a-morte é,
essencialmente, angústia. [...] de modo indubitável embora “apenas” indireto, pelo ser para-a-
morte já caracterizado, no momento em que a angústia se faz temor covarde e, superando,
denuncia a covardia da angústia.” Repensando o Dasein, a morte só acontece em um ser
existencial, que diante da finitude revelada pela morte vive a angústia e se depara com os

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questionamentos da existência, e a partir disso se liberta de preocupações efêmeras, fazendo


suas escolhas e afastando-se do alienamento do mundo.

No Dasein, a angústia revela o ser para o poder-ser mais próprio, ou seja, o ser-livre para a liberdade
de assumir e escolher a si mesmo. A angústia arrasta o Dasein para o ser-livre para... (propensio
in...), para a propriedade de seu ser enquanto possibilidade de ser aquilo que já sempre é. O Dasein
como ser-no-mundo entrega-se, ao mesmo tempo, à responsabilidade desse ser. (HEIDEGGER,
2005, p.252)

A angústia causada pela liberdade, é o reflexo do Dasein que teme a si mesmo e a sua
responsabilidade perante suas escolhas. Nos angustiamos diante a reponsabilidade que nos é
dada, o poder nos confronta. Ademais, somos responsáveis pelo nosso ser, no fim, o peso da
existência é concretizado pela análise existencial da morte, que o cerca, como possibilidade e a
qualquer momento pode surpreendê-lo.

A angústia em Heidegger reflete o Dasein que é lançado na existência de forma eventual e


passiva, que deve descobrir o sentido de sua própria existência, de forma a projetar as suas
possibilidades, visto a compreensão do Dasein autêntico e uma existência autêntica. Por
conseguinte, discutiremos sobre as teorias do filósofo Jean-Paul Sartre, que é um dos principais
expoentes da corrente humanista e existencialista.

Ademais, sabe-se que o existencialismo é uma teoria pluralista composta por diversos
pensadores cujo principal foco é a temática da existência humana. Dito isto, focaremos agora
na teoria do maior expoente da filosofia existencialista, que é Jean-Paul Sartre. Seus
pensamentos foram um dos mais importantes no existencialismo francês que foram ganhando
força, a partir da década de 50, no pós-guerra, onde o mundo se encontrava abalado. Sartre
21
possuía um engajamento político ligado a pensamentos comunistas e libertários.

Em 1943 publica O Ser e o Nada, que muitos consideram sua obra fundamental, que possui o
foco de definir a consciência como transcendente. Sendo que aborda o estudo do ser como
fenômeno, esse ser que está presente em todo existente, que se manifesta. Para isso Sartre (2011,

21
Além de filósofo, escreveu romances e contos que refletiram explicitamente seus pensamentos; em 1938 publica
seu primeiro romance A Náusea que é escrito em forma de um diário íntimo e O Muro, uma coletânea de contos,
ambas as vésperas da Segunda Guerra Mundial.

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p.37) desmitifica o ser do criacionismo cristão e da subjetividade divina e o define como “O ser
é sua própria sustentação e não conserva o menor vestígio de criação divina. Em uma palavra:
mesmo se houvesse sido criado, o ser-Em-si seria inexplicável pela criação, porque retomaria
seu ser depois dela. Equivale a dizer que o ser é incriado.” Sendo incriado, o ser se refaz e não
é sujeito a nenhuma passividade ou atividade, o ser é ele próprio, não se relaciona a si, Ele é si
e está inerente a sua consciência. Sartre em suas obras expõe um existencialismo de caráter ateu
e para ele a teoria é definida por dois tipos de existencialistas: os cristãos, como Kierkegaard e
os ateus, como Heidegger. Em Um Existencialismo é um Humanismo Sartre (1970, p.03)
define:

O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente. Afirma que, se Deus não existe, há pelo
menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de ser definido por
qualquer conceito: este ser é o homem ou como diz Heidegger a realidade humana.

Sendo que negando a Deus, ele afirma que há pelo menos um ser no qual a existência precede
a essência, que era o próprio homem. Por isso, existe a condição humana de surgimento no
mundo, assim como sua descoberta, e só depois irá se definir. Com isso, quer dizer que o homem
primeiro existe no mundo e depois se realiza, se define por meio de suas ações e pelo que faz
com sua vida. Desse modo, colocando a essência na subjetividade humana, como consciência
de se fazer algo com que o ser se liberte e se auto defina, pois, o homem a princípio não é
“Nada” e se auto constrói com base nas suas escolhas, e com essa ideia, entende-se que o
homem é condenado a ser livre. Em Sartre, o homem conquista uma dimensão própria
construindo a sua essência.

Dito isso, o autor relata não existir uma “natureza humana”, mas uma condição humana, a qual
determinamos a partir de cada escolha feita, como também somos seres em constante busca que
vive em um mundo de transformações, no qual se auto reinventa e se molda, a sua própria
vontade. Percebemos que o filósofo explora a liberdade absoluta do homem, visto que se
representa por um engajamento a si compreender, levando em consideração uma natureza
fatídica ao analisarmos o peso da liberdade.

O existencialismo explicita sobre a responsabilidade do homem no mundo, e sua


responsabilidade com os outros, e como suas decisões afetam toda a humanidade pois uma vez
que “Sou, desse modo, responsável por mim mesmo escolhido; por outras palavras: escolhendo-
me, escolho o homem.” (SARTRE, 1970, p. 05). Essa responsabilidade e liberdade discutida
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por Sartre, confere a responsabilidade de suas ações ao homem, ou seja, a começar por uma
escolha feita, essa definirá sua vida, caracterizará seus valores e construirá sua essência, como
também impactará na sociedade.

O que se vive hoje é uma realidade humana sustentada por uma liberdade condicionada, antes
de fazer, implicitamente, interligamos nossas ações a sujeição que o homem sofre do seu meio
social, então a liberdade se torna submetida ao coletivo. É conferida, então, a responsabilidade
ao homem quando fazendo uso da liberdade “O homem escolhe o que projeta ser, usando de
sua liberdade. E os seus valores serão criados através da escolha por ele feita, escolha da qu’al
não há como fugir, pois mesmo a recusa em não escolher já é uma escolha.” (SARTRE, 1970,
p. 17). Porém, no existencialismo, o conceito de liberdade, torna-se diferente das concepções
clássicas que conhecemos como a do livre arbítrio e que o homem tudo pode no grupo em que
vive.

Em contrapartida, a esse ímpeto de liberdade, surge frente a própria realidade humana o


sentimento da angústia sobre a consciência radical da responsabilidade que o ser possui,
gerando no homem ao mesmo tempo, a sensação do poder e também do medo. Em Ser e o
Nada, Sartre (2011, p.68) da razão a Kierkegaard e retoma seu conceito de angústia: “Em
primeiro lugar, há que se dar razão a Kierkergaard: a angústia se distingue do medo porque
medo é medo dos seres do mundo, e angústia é angústia diante de mim mesmo.” Pois, estamos
desamparados, e o homem reinventa-se a cada dia, o homem é responsável por seu futuro. A
angústia é o reflexo da apreensão que o homem sente de si. O desamparo e a angústia avançam
juntos e acarretam a situação do desespero humano.

A liberdade que se revela na angústia pode caracterizar-se pela existência do nada que se insinua
entre os motivos e o ato. Não é porque sou livre que meu ato escapa à determinação dos motivos,
mas, ao contrário, a estrutura ineficiente dos motivos é que condiciona minha liberdade. (SARTRE,
2011, p. 73)

Em seus momentos de crise existencial o indivíduo não consegue discernir o que quer e o que
sente “ser o que não é e não ser o que é” (SARTRE, 2011, p. 194). Pois, com efeito a liberdade
nos permite escolher e nos torna responsáveis por nossas ações cotidianas e indicam que tipo
de sujeito somos. A angústia pode ser compreendida como uma inquietação, insegurança e
temor que acarreta as situações de desespero, e o reconhecimento da falta de sentido da vida e
o vazio de sua interioridade.

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Como afirma Sartre (2011, p.72): “É na angústia que o homem toma consciência de sua
liberdade, ou, se se prefere, a angústia é o modo de ser da liberdade como consciência de ser; é
na angústia que a liberdade está em seu ser colocando-se a si mesma em questão.” Afirma que
a angústia é apenas angústia e sua relação com a liberdade, torna-se mera constatação da
fragilidade humana.

Pensando nisso, sabe-se que A Metamorfose foi uma obra elaborada em um período conflitante
do ser humano, que antecede a Primeira Guerra Mundial e relata as questões socias, crises
existenciais e reflexivas que envolvem o homem Moderno. Com isso, faremos uma relação
entre os ideais existencialistas com a novela do escritor Franz Kafka publicada em 1915.

Vimos, acima, que Gregor Samsa foi um jovem que sofreu uma Metamorfose, até então
inexplicável, sendo condicionado a viver uma realidade atordoante e infeliz como um inseto.
Essa transformação modificou toda a estruturação de sua vida. Primeiro Gregor sofre devido
sua desumanização. Nessa metamorfose perde gradualmente sua linguagem e sua humanidade,
e surge o embate de um homem-inseto e o sentido de uma nova existência. “Quando certa
manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama
metamorfoseado num inseto monstruoso.” (A Metamorfose, 1994, p.07). Após esse processo de
metamorfose, Gregor vive em uma condição de parasito, exilado pelo silêncio. Afasta-se da
sociedade e de sua família tendo que se adequar a uma nova realidade.

Essa nova realidade de Gregor traz à tona a sua verdadeira condição que se encontrava
mascarada por sua alienação. A princípio, Gregor já vivia uma vida infeliz; a sua metamorfose
pode ser relacionada a sua condição explorada em seu trabalho e família. "(...) nas estranhas
famílias de Kafka, o pai sobrevive à custa do filho, sugando-o como um imenso parasita. Não
consome apenas suas forças, consome também seu direito de existir." (BENJAMIN, 1996, p.
139-140). Podemos partir do pressuposto de que a misteriosa metamorfose de Gregor apenas
concretiza sua insignificante existência perante a sociedade, como também o faz despertar
através do abandono e repulsa de sua família.

Como dito, Gregor vivia uma condição de parasito, uma vez que era explorado por sua família,
não era um homem livre. Com isso não exercia sua liberdade, no enredo da obra percebemos a
condição de Não-Vida de Gregor Samsa em analisar sua trajetória existencial. A mudança
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nunca foi cogitada a sua vida que era presa ao marasmo de sua família, até então Gregor não
era livre. A discussão de sua existência se torna evidente com sua metamorfose, abrindo o
questionamento para uma nova perspectiva em relação ao seu modo de vida.

Em Sartre (1970) a liberdade é fundamentada no caráter do Ser. Liberdade é escolha, e a escolha


não era concedida a Gregor Samsa. A escolha nos possibilita a mudança, o errar e acertar. É
através da liberdade que o indivíduo transcende e confere uma significação a si mesmo e as
coisas. Por isso ao personagem é atribuída uma condição de Não-Vida, sendo cerceado seu
direito de existir.

Para Sartre (1970, p. 542-543), o homem se define como:

Com efeito, sou um existente que aprende sua liberdade através de seus atos; mas sou também um
existente cuja existência individual e única temporaliza-se como liberdade [...] Assim, minha
liberdade está perpetuamente em questão em meu ser; não se trata de uma qualidade sobreposta ou
uma propriedade de minha natureza; é bem precisamente a textura de meu ser...

Logo, o Ser é livre, e se faz em sua liberdade, sua existência é definida por suas escolhas, o que
define sua essência. Mas até aqui, Gregor Samsa tinha feito alguma escolha? Usado de sua
liberdade para conduzir sua existência? Apenas como inseto, o personagem toma consciência
das coisas e desperta para sua existência. Ao acordar metamorfoseado, o personagem faz
reflexões acerca do ambiente e sua vida, em tom melancólico se dirigi a janela, observa a chuva
e o tempo turvo, também afirma que:

- Ah, meu Deus! – pensou. – Que profissão cansativa eu escolhi. Entra dia, sai dia –viajando. A
excitação comercial é muito maior que na própria sede da firma e, além disso, me é imposta essa
canseira de viajar, a preocupação com a troca de trens, as refeições irregulares e ruins, um convívio
humano que muda sempre, jamais perdura, nunca se torna caloroso. O diabo carregue tudo isso!
(KAFKA,1997, p. 8).

Gregor demonstra sua insatisfação, com a vida cansativa que levava, nada atraente. A vida de
caixeiro-viajante não lhe proporcionava relações estáveis e nem lhe possibilitava firmar um
convívio humano, apenas o cansaço de uma vida fatídica. Ao decorrer de sua metamorfose, a
personagem tenta se adequar a sua nova vida, mas a omissão de sua família entra em angústia
e desespero, devida a falta de comunicação, deixa de alimentar, ficando muito fraco. Além de
ter que suportar os maus tratos principalmente de seu pai, que antes se beneficiava de Gregor,
um tanto “preguiçoso e moroso”: “Ora, o pai era na verdade um homem saudável” (A

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METAMORFOSE, 1994, p.44). Agora tanto quanto sua mãe e sua irmã, se volta para Gregor
em todas situações com violência e o ataca impiedosamente:

Para Gregor era evidente que o pai havia interpretado mal a comunicação demasiado breve de Grete
e assumido que Gregor era culpado de algum ato de violência. Por isso ele agora precisava aplacar
o pai, pois não tinha tempo nem possibilidade de esclarecê-lo. E assim se refugiou junto à porta do
seu quarto, apertando-se contra ela, para que o pai, ao entrar- vindo da ante-sala- pudesse logo ver
que Gregor tinha a melhor intenção de voltar imediatamente ao seu quarto. (A METAMRFOSE,
1994, p.56).

Ferido corpo e alma por sua família, Gregor se entrega ao desespero. O desespero humano
relatado por Kierkegaard (2003, p. 37) em que “este desesperado esquece-se de si mesmo,
esquece o seu nome divino, não ousa crer em si mesmo e acha demasiado ousado sê-lo e muito
mais simples e seguro assemelhar-se aos outros, ser uma imitação servil, um número,
confundido no rebanho.” Essa situação corrobora para a escolha de Gregor de se entregar para
morte, diante sua fraqueza e angústia.

É na disposição da angústia que o estar-lançado na morte se desentranha para a presença de


modo mais originário e penetrante. A angústia com a morte se dá “com o poder-ser mais
próprio, e irremissível e insuperável.” (HEIDEGGER, 2005, p.33). Na morte, Gregor encontra
sua libertação, foi o momento de sua vida que pode fazer suas escolhas, sendo o próprio dono
do seu destino. Sem um questionamento profundo de Gregor sobre o porquê dessa metamorfose
o ter acometido, a narrativa se encerra, deixando em suas entrelinhas, princípios para a
discussão de sua existência e o motivo de algo tão absurdo ter acontecido.

De fato, o que podemos analisar é na tragédia de sua desumanização e transformação em inseto


é que Gregor encontra sua liberdade. Percebendo que para sua família, era visto apenas como
um utensílio, em sua condição humano era submisso e explorado, após sua metamorfose era
apenas um estorvo sem utilidade. Gregor manteve seus sentimentos humanos mesmo em
metamorfose, por livre escolha decide se entregar a morte, uma escolha que define o sentido de
seu ser.

Para Sartre (1970, p. 541) “É o ato que decide seus fins e móbeis, e o ato é expressão da
liberdade.” A morte, como desfecho da metamorfose de Gregor, foi sua verdadeira escolha,
mais significativa de sua vida, após despertar de um sonho intranquilo metamorfoseado,
despertar para sua verdadeira realidade. Tudo mudou, até sua irmã a quem demonstrava amar

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tanto, se voltou totalmente contra Gregor “– Precisamos nos livrar disso, disse a irmã
exclusivamente ao pai. Quando já se tem que trabalhar tão pesado, como todos nós, não é
possível suportar em casa mais esse eterno tormento. Eu não aguento mais. (A
METAMORFOSE, 1994, p.77). Ora, fica evidente que a família não reconheceu os esforços
Gregor fez durante toda sua vida. Outra situação intrigante é que quando Gregor sustentava
todos e assumia a responsabilidade das despesas da família, nenhum trabalhava ou fazia
esforços para ajudá-lo.

Quando a situação se modificou totalmente, todos estavam a trabalhar, o que explicita que
sempre se aproveitaram da bondade Gregor, para satisfazer-lhes “ E assim sentaram-se à mesa
para escrever três cartas de desculpas, o senhor Samsa à direção do banco, a senhora Samsa ao
seu empregador e Grete ao proprietário da loja.” (A METAMORFOSE,1994, p.85). O que
reforça a responsabilidade da família pelo destino fatídico de Gregor, que de fato, sempre foi
explorado, e impossibilitado de ajuda-los se tornou um estorvo.

A sua morte não significou nada para família que, por sua vez, não se demonstrou triste e
abalada. Ao invés de manterem o luto, fizeram um passeio comemorativo para repensar os
planos da família. “Decidiram dedicar o dia ao repouso e ao passeio; não sé mereciam, como
também necessitavam absolutamente dessa irrupção no trabalho.” (A METAMORFOSE, 1994,
p.85). Esse comportamento, só reafirma que a morte de Gregor, o livrou desse universo de
ilusões e submissões, a metamorfose é a forma como Gregor se liberta. Para Sartre (1970, p.
622):

Ser livre é ser-livre-para-mudar. A liberdade, portanto, encerra a existência de arredores a modificar:


obstáculos a transpor, ferramentas a utilizar. Por certo, é a liberdade que os revela como obstáculos,
mas, por sua livre escolha, não pode fazer mais do que interpretar o sentido de seu ser.

Por sua livre escolha, Gregor se torna um Ser livre e se desvencilha do fardo pesado que possuía,
em estar lançado em um sistema capitalista de opressão de trabalho e fica livre do
aprisionamento e servidão a sua família “a cabeça afundou completamente e das suas ventas
fluiu fraco o último fôlego.” O último suspiro de Gregor Samsa, apresenta a tragédia de sua
vida, ao mesmo tempo que reafirma o sentido de sua existência. Pensando nisso, faremos,
abaixo, uma reflexão sobre a desconstrução da Identidade do personagem Gregor Samsa, que
ao acordar metamorfoseado, assume a condição de uma nova existência.

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4 A CONDIÇÃO DE PARASITO EM GREGOR SAMSA: UMA REFLEXÃO SOBRE A


DESCONSTRUÇÃO DE SUA IDENTIDADE

A discussão sobre o conceito de Identidade está presente em nosso contexto social desde a
Antiguidade, quando era objeto de estudo da Filosofia e adentrava as variadas discussões sobre
o Ser Humano e o seu papel no mundo. Logo, o tema identidade é intrínseco ao ser humano e,
evidentemente, à modernidade, sendo objeto de estudo das Ciências Sociais, como também uma
temática aberta a diversos campos do saber e, consequentemente, aberta a muitos significados.
Identidade tornou-se uma palavra com grande relevância sociopolítica na Modernidade. O
conceito é inerente à palavra, ou seja, a raiz latina idem que significa “o mesmo”. Segundo
Jacques (1998, p.159) “A importância conferida ao estudo da identidade foi variável ao longo
da trajetória do conhecimento humano, acompanhando a relevância atribuída a individualidade
e as expressões do ‘eu’ nos diferentes períodos históricos.” A discussão sobre identidade,
inevitavelmente, foi impulsionada com o avanço da socialização, que é o reflexo do indivíduo
que se mantêm relacionado as esferas sociais, realizando seu papel de ator social.

Com isso, as questões identitárias foram se tornando evidentes, em um mundo individual e


coletivo que permeio o indivíduo sendo interrelacionadas aos processos de interação, aceitação
e diferenciação social. Como Lago (1996, p.18) reflete, um “conceito extremamente
polissêmico”. E mutável, à medida que sua utilização percorre o campo social e coletivo.

Giddens (1991) e Jaques (1998) especificam identidade como “conceito de si”, “representação
de si”, analisando-as sob a perspectiva de identidade social e pessoal, como particularidades
específicas do indivíduo e/ou características que os fazem pertencer a determinados grupos ou
categorias. Sendo assim, em um plano social, as identidades das pessoas são construídas a partir
dos conceitos que a caracterizam em determinados grupos e sociedades; em um plano pessoal,
a identidade é concebida por aquilo que o indivíduo orienta sua ação individual.

A começar por uma consciência pessoal sobre si mesmo, seu conceito parte da marca da
existência sobre ‘quem eu sou?’, como sujeito e ser social que pensa, age, sente e reconhece
sua existência no mundo. “Identidade é a denominação dada às representações (ideias e
sentimentos) que o indivíduo desenvolve a respeito de si próprio.” (BOCK, 2008, p. 187). Como

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um comportamento de construção social, a identidade parte do pressuposto de aceitação e


recusa de condutas sociais.

Outra característica fundamental que envolve a construção da identidade é a subjetividade, que


envolve o sujeito e suas características pensantes, particulares e do seu íntimo. “A subjetividade
inclui as dimensões inconscientes do eu” (WOODWARD, 2009, p. 55). É algo baseado nas
suas escolhas e interpretações pessoais, o que implica na existência do indivíduo, na sua forma
de pensar, agir e no seu discurso. A subjetividade pode adentrar tanto o campo racional como
irracional, cada indivíduo, se posiciona de uma forma em seu contexto social de acordo com
seus princípios e valores, sendo algo que pode se modificar de acordo com suas conclusões e
pensamentos. “A subjetividade envolve nossos sentimentos e pensamentos mais pessoas.
Entretanto, nós vivemos nossa subjetividade em um contexto social e no qual linguagem e a
cultura dão significado à experiência que temos de nós mesmos e no qual nós adotamos uma
identidade.” (WOODWARD, 2009, p.55).

Sendo assim, a subjetividade pode adentrar tanto o campo racional como irracional. Cada
indivíduo se posiciona de uma forma em seu contexto social de acordo com seus princípios e
valores, sendo algo que pode se modificar de acordo com suas conclusões e pensamentos.
Portanto, a identidade do indivíduo é intrínseca as variabilidades das relações sociais em seu
contexto; espaço e tempo. Assim como, os conflitos gerados pela Modernidade, tais como: a
midiática, a informação, do conhecimento, informática, para Castells (2018), o mundo em que
vivemos vem sendo modulado pelos interesses conflitantes da globalização e da identidade.

Com a nova conjuntura impulsionada pela revolução da tecnologia, instaurou-se uma elite
social e uma sociedade totalmente flexível ao capitalismo, alicerçada a mídia e as classes
dominantes, com isso, o século XX transformou culturas e fortaleceu desigualdade social. Logo,
corroborando para o alienamento do subjetivismo humana, influenciando nas escolhas e
princípios do indivíduo. Portanto, para Castells, (2018, p. 55) a identidade se define a partir dos
atributos culturais interrelacionados que prevalecem como fonte de significado e representação
sendo que:

A construção de identidades vale-se da matéria-prima fornecida pela história, geografia, biologia,


instituições produtivas e reprodutivas, pela memória coletiva e por fantasias pessoais, pelos aparatos
de poder e revelações de cunho religioso. Porém, todos esses materiais são processados pelos

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indivíduos, grupos sociais e sociedades, que organizam seu significado em função de tendências
sociais e projetos culturais enraizados em sua estrutura social, bem como em sua visão
tempo/espaço.

Logo, em um plano social, podemos usar o comparativo das características do eu e de nós; na


trajetória das escolhas e da formação da identidade social, na perspectiva dos valores e culturas,
isso é o que determina um processo contínuo na definição de si mesmo. Para entendermos o
conceito de identidade, a princípio, devemos analisar o contexto social que se desenvolve o
indivíduo e se constrói uma sociedade, entre outros.

Para Hall (2006), Identidade e Crise de identidade são conceitos semelhantes e interligados,
com notoriedade na sociedade moderna. No século XX, vive-se a chamada “crise identitária”.
Como característica das transformações advindas da globalização, mudanças sociais e políticas,
as identidades estão entrando em colapso. O mundo moderno está abalando as estruturas e
antigas referências que o indivíduo possuía, fazendo com o que novas identidades apareçam e
o sujeito seja fragmentado. Também reconhecem que a globalização e a modernidade
impactaram sobre a cultura e caracterização da sociedade.

Diante isso, Hall (2006, p. 07) explica:

A assim chamada "'crise de identidade" é vista como parte de um processo mais amplo de mudança,
que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os
quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social.

Dessa forma, consideramos os fatores que impulsionam a crise identitária como o


desenvolvimento do capitalismo, que caracteriza essa nova fase e promove a convergência de
culturas, os diferentes modos de vida e desestabilização das comunidades e nacionalidades.
Portanto, segundo Hall (2006, p.07): “A questão da identidade está sendo extensamente
discutida na teoria social. As velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo
social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo
moderno.” De fato, as sociedades modernas são baseadas na mudança rápida e constante, o que
difere o indivíduo das sociedades tradicionais e modernas.

Em A Metamorfose, a personagem principal Gregor Samsa sofre uma metamorfose, e tem que
viver uma nova condição de existência como um inseto, modificando toda a estrutura do seu
Ser, como também a sua Identidade, que se modifica totalmente. A obra foi escrita em 1915, e

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reflete muitos aspectos da Modernidade, como o desenvolvimento e domínio do capitalismo e


os conflitos sociais, que nos leva a reflexionar sobre os valores e convicções sociais.

Vimos que a obra apresenta uma personagem trabalhadora, um caixeiro-viajante, que entregou
sua vida para o sustento de seus pais e acaba submetido a alienação provinda da sociedade
capitalista, e principalmente pelo o egoísmo de sua família em torná-lo um servo para suprir
suas necessidades financeiras. Com isso, Gregor acaba sendo tomada pelo único pensamento
do seu trabalho “Esse moço não tem outra coisa na cabeça a não ser a firma. Eu quase me irrito
por ele nunca sair à noite; agora esteve oito dias na cidade, mas passou todas as noites em casa.”
(A METAMORFOSE, 1994, p.18). Isso faz com que a personagem não reafirme sua identidade
como sujeito social. Gregor existia, mas vivia uma condição de parasito, em uma bolha sem
relacionamentos sociais, amorosos ou qualquer outra atividade comum ao ser humano.

Esse pode ter sido um dos fatores para o motivo de sua metamorfose que revelou um novo “eu”
de Gregor Samsa, que já não era muito bem definido. Com a sua transformação, se desconstrói
totalmente, vestindo talvez uma nova identidade. Mas o próprio Gregor fica em dúvida sua
identidade. “Gregor rastejou mais um trecho à frente, mantendo o corpo rente ao chão, para se
possível captar os seus olhos. Era ele um animal, já que a música o comovia tanto?” (A
METAMORFOSE, 1994, p.73) A metamorfose de Gregor além de uma mudança física que
altera também seus sentimentos, comportamentos e opinião. Essa modificação repentina em sua
identidade, mesmo que absurda, entra em uma discussão sobre as identidades modernas que
estão em constante crise.

Na conjuntura da modernidade sólida, as identidades eram predispostas ao indivíduo desde o


seu nascimento, em determinada comunidade, com seus princípios e cultura. Porém, na
modernidade líquida, o sujeito se depara com o desafio de um mundo inconstante, em que sua
representatividade social é alvo de constantes críticas e sofre constante influência de seu meio.
Para Bauman (2001, p. 07):

As identidades parecem fixas e sólidas apenas quando vistas de relance, de fora. A eventual solidez
que podem ter quando contempladas de dentro da própria experiência biográfica parece frágil,
vulnerável e constantemente dilacerada por forças que expõem sua fluidez e por contracorrentes que
ameaçam fazê-la em pedaços e desmanchar qualquer forma que possa ter adquirido.

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UMA ANÁLISE SOBRE EXISTENCIALISMO E IDENTIDADE EM A METAMORFOSE, DE KAFKA

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Dito isso, podemos fazer uma metáfora entre as identidades e a modernidade líquida, em que o
ser humano é conduzido a um teatro da existência social, no qual somos atores de uma peça e
devemos estar preparados a uma constante metamorfose que é induzida por essas forças que
ameaçam as nossas biografias. E como em uma peça teatral, os cenários se modificam e os
atores devem estar preparados para se camuflar e conduzir as cenas.

A sociedade líquida é caracterizada pelas relações fluídas e frágeis, onde o indivíduo não possui
a confiança e estabilidade em suas relações, que são conduzidas pelo poder e interesses
pessoais. Por isso, em muitos aspectos A Metamorfose se enquadra nas características da
sociedade moderna. A relação entre Gregor e sua família não é entrelaçada pelo amor e o
carinho, mas pelo interesse de seus pais e sua irmã em ter Gregor como um servo que lhes dava
boa vida.

Após sua morte, nada mudou, nenhuma demonstração de sentimento, ou preocupação, fato que
caracteriza o jogo das relações fluídas, movimentado pelo poder e pelo capitalismo. Assim,
Gregor Samsa conduziu sua existência e identidade como um parasito, conduzidos pelos
interesses dos meios de suas relações sociais e familiar. Mesmo desconstruindo sua identidade
após sua metamorfose Gregor estava fadado a morte devido a superficialidade das relações
fluídas em que vivia.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fizemos, aqui, uma análise de A Metamorfose, de Franz Kafka, por ser uma de seus maiores
produzidas no início do século XX, que recebeu reconhecimento universal e continua sendo
discutida. A Metamorfose apresenta o personagem Gregor Samsa, que por infelicidade do
destino, um dia acorda metamorfoseado em inseto e declina sua existência para a morte.

Gregor vive em uma família e sociedade capitalista, que o torna submisso a seus interesses, em
um estado de alienação plena. A sua metamorfose corroborou para o despertar da personagem,
para sua condição de subserviência, com isso as questões sobre o seu “eu” e sua vida entraram
em grande evidência. Logo, a discussão apresentada na obra, possui grandes relações com a
filosofia existencialista, que estuda o Ser e as condições de sua existência. Gregor após sua

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metamorfose, compreende a verdade que percorre sua realidade, a sua liberdade e escolha são
fundamentais para o personagem tomar consciência sobre sua vida e o seu ser no mundo.

Evidenciamos na obra, que o personagem sofre devido se isolar e reconhecer a verdade sobre
sua família, caindo em angústia e desespero, que são temáticas percebidas pelo Existencialismo.
O peso das escolhas e a perda da referência que o ser tem sobre o universo que o fazem cair em
um abismo, podem ser compreendidas como temáticas marcadamente existenciais, discutidas
desde seu precursor Kierkegaard, Heidegger e principalmente Sartre.

A obra também nos permite refletir sobre a identidade da personagem que sofre uma
desconstrução e muda todas as suas características como Ser. Gregor, antes de sua metamorfose,
já vivia uma condição de parasito, por não exercer sua liberdade e escolhas que reafirmassem
sua identidade. Com isso, observando a conjuntura social que a personagem vivia e como o
indivíduo sofre interferência de seu meio, percebemos como a obra esta relacionada a discussão
sobre identidade na modernidade, em meio as relações fluídas.

Nesse contexto, se tornou possível concluir a presença das ideias do movimento existencialista
na obra, através da trajetória existencial que Gregor Samsa viveu, em meio a sua vida humano
e após metamorfoseado em inseto, e por tratar de temáticas que são discutidas no
Existencialismo. Ainda podemos fazer uma análise sobre a Identidade da personagem que
sofreu uma mudança repentina que o levou a adotar novas características. Portanto, a análise da
obra é de extrema importância e contribui para um olhar crítico sobre a inconstância das
relações sociais e sentimentos humanos, e perceber como isso afeta a formação de uma
identidade e a compreensão do sentido de sua existência.

REFERÊNCIAS

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