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22.06.

2023

O ENTENDIMENTO DO STJ SOBRE


AS SUBVENÇÕES E SEU IMPACTO
NO IRPJ E CSLL (TEMA 1182)

A. Síntese da controvérsia

Benefícios fiscais de ICMS podem ser excluídos da base de cálculo do


IRPJ e da CSLL? Há requisitos para a exclusão?

B. Divergência entre as duas Turmas do STJ:


1. 1ª turma entendia que se “aplicava o princípio federativo para excluir
todas as espécies de benefícios fiscais de ICMS das bases de cálculo do
IRPJ e da CSLL”; e

2. 2ª Turma tinha posicionamento no sentido de que deve ser


verificado o cumprimento dos requisitos previstos no art. 10, da Lei
Complementar nº 160/2017 e no art. 30, da Lei nº 12.973/2014, dentre os
quais o registro dos valores do incentivo fiscal em conta de Reserva de
Incentivos Fiscais.

Atenção: A imunidade, ainda que tenha sido tratada de forma conjun-


ta com os benefícios fiscais, não fez parte do dispositivo do Acórdão,
por se tratar matéria constitucional.

C. As principais teses do julgamento:


1. Os benefícios fiscais de ICMS - exceto o crédito presumido - só podem
ser excluídos da base de cálculo do IRPJ e da CSLL se cumpridos os
requisitos estabelecidos pelo art. 10, da Lei Complementar nº 160/2017 e do
art. 30, da Lei nº 12.973/2014;

2. O Fisco não pode exigir a demonstração da concessão do benefício como


estímulo à implantação ou expansão de empreendimentos econômicos;

3. Em vista do disposto no § 2º do art. 30, da Lei nº 12.973/2014, caberia


à Receita Federal do Brasil fiscalizar a eventual destinação do benefício
a finalidade estranha à garantia da viabilidade do empreendimento
econômico. Caso isso seja confirmado, a Receita Federal do Brasil poderá
glosar as exclusões da base de cálculo do IRPJ e da CSLL;

4. Em relação ao crédito presumido, manteve-se o entendimento do


EREsp. nº 1.517.492/PR no sentido de que os respectivos valores devem ser
excluídos das bases de cálculo do IRPJ e da CSLL, sob pena de violação ao
pacto federativo.
D. Necessidade de comprovação da utilização do benefício fiscal
De acordo com o voto do Ministro Benedito Gonçalves

• “muito embora não se possa exigir a comprovação de que os incenti-


vos o foram estabelecidos como estímulo à implantação ou expansão
de empreendimentos econômicos, persiste a necessidade de registro
em reserva de lucros e limitações correspondentes, consoante o dis-
posto expressamente em lei (utilização conforme incisos I e II do art.
30, da Lei nº 12.973/2014).” (g.n.)

• o objetivo dessas limitações seria evitar “a distribuição dos valores


correspondentes aos sócios como lucros e dividendos, direcionando a
desoneração fiscal para a capitalização da empresa, proporcionando a
geração de empregos e renda, tal é a sua função social”.

E. Posicionamento da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional


A Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) lançou breve nota
apontando que:
1. Os benefícios fiscais podem ser excluídos da base do IRPJ e da CSLL,
desde que respeitados os requisitos do art. 30 da Lei nº 12.973/2014;

2. O ICMS que deixou de ser pago em função do benefício fiscal não


pode ser incorporado ao lucro da sociedade, devendo ser registrado
em conta de reserva de lucros e, posteriormente, ser reinvestido na
expansão ou implantação do empreendimento; e

3. A tese firmada no ERESP 1.517.492 é aplicável apenas ao crédito


presumido.

F. Nossas Considerações
A eventual fiscalização da RFB, mencionado no julgado, corresponde apenas à análise
dos requisitos constantes no art. 30 da Lei nº 12.973/2014, ou seja, a necessidade de
destinação para reserva de incentivos fiscais e a utilização de dita reserva apenas para:
a. absorção de prejuízos, desde que anteriormente já tenham sido
totalmente absorvidas as demais Reservas de Lucros, com exceção da
Reserva Legal

b. aumento do capital social

Dessa forma, não poderia a sociedade distribuir os valores dos benefícios fiscais para
aos sócios, conforme previsto no art. 30, §2º, da Lei nº 12.973/2014.
No mais, entende-se que o posicionamento da PGFN, segundo o qual deveria haver
correlação entre o valor do ICMS que deixou de ser pago em função do benefício e
um reinvestimento na expansão ou implementação do empreendimento, constitui
uma leitura restritiva do tema e em desacordo com art. 30, §4º, da Lei nº 12.973/2014
(incluído pela Lei Complementar nº 160, de 2017).

Quando a Lei Complementar nº 160/2017 equiparou todos os incentivos e benefícios


fiscais ou financeiro-fiscais de ICMS a subvenções para investimento, o fez justamente
para afastar a necessidade de comprovação de correlação entre o benefício concedido
e o financiamento da implantação ou expansão de empreendimentos econômicos. O
art. 30, §4º, da Lei nº 12.973/2014 é claro ao vedar “a exigência de outros requisitos ou
condições não previstos neste artigo”.

Em embargos de declaração, as partes e as associações, aceitas como amicus curiae,


apontaram:
a. a necessidade de modulação dos efeitos da decisão para que,
em relação aos demais benefícios, distintos do crédito presumido,
o entendimento seja aplicado a partir da data do julgamento
(26/04/2023); e

b. o descabimento da exigência de aplicação do benefício em


reinvestimento na expansão ou implementação do empreendimento,
requerendo a alteração da tese fixada pelo STJ para que fique claro
que a Receita Federal somente “poderá proceder ao lançamento do
IRPJ e da CSSL se, em procedimento fiscalizatório, for verificado que
o contribuinte não observou os requisitos legais previstos no art. 10 da
Lei Complementar nº 160/2017 e art. 30 da Lei nº 12.973/2014.”

Parece-nos relevante o aclaramento desses pontos.

Informativo elaborado pelos sócios da área Tributária do BMA Advogados.

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