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O - Momento - Presente - A Boa Nova - Textos+
O - Momento - Presente - A Boa Nova - Textos+
A BOA NOVA
DO
MOMENTO PRESENTE
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O MOMENTO PRESENTE
“Não vos preocupeis com o dia de amanhã” (Mt 6, 34). Essas são as palavras com que o Senhor nos anima a viver
o momento presente com paz e alegria, buscando em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, sabendo que
todas as demais coisas nos serão dadas por acréscimo.
Como é, pois, bom ter sempre presente que a palavra Evangelho, com a qual definimos a mensagem de Cristo,
não significa, em grego, senão: Boa Nova.
Boa Nova, quer dizer, mensagem de esperança, de alegria, de coragem no nosso dia-a-dia, rumo ao coração do
Pai, à pátria que alimenta nossa Esperança.
Pois bem, no Evangelho, ouvimos Jesus dizer-nos com toda naturalidade: “Sede perfeitos como vosso Pai celeste
é perfeito” (Mt 5,48). A princípio, podemos pensar que nosso Senhor e Mestre está brincando conosco, mas não é
assim. Está nos chamando à santidade, como nos diz são Paulo: “A vontade de Deus é que sejais santos”; ela é o fim
de nossa existência terrena e eterna.
Num outro lugar, e numa belíssima passagem, Jesus mesmo concentra as condições que precisamos para
alcançar dito ideal: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz, cada dia, e siga-me.” (Lc
9,23). Eis, pois, o que precisamos para ser perfeitos: levar a cruz de cada dia, só a de cada dia, mas não aquela que
nossa imaginação inventa. Para esta cruz cotidiana, temos a graça divina; só nos resta dizer como Maria: “Sim”.
Vistas assim as coisas, quem poderá dizer que a santificação do dia-a-dia ultrapassa as suas forças. Só hoje!
Santificação do momento presente. Eis o “momento” do abraço com Nosso Senhor, a nossa adesão à sua vontade, na
qual está toda a santidade de uma criatura humana.
Para iluminar dita verdade, colocamos aqui uns textos que nos podem ajudar a todos. A Sabedoria Encarnada,
Jesus, abra nossos corações à divina graça. “Tudo é graça”, mas devemos acolhê-la a cada instante com boa
vontade.
Não hesitemos, pois, abrir nossos ouvidos à recomendação do Apóstolo Pedro: “Como é santo Aquele que vos
chamou, tornai-vos santos, também vós, em todo o vosso proceder. Pois está escrito: Sereis santos porque eu sou
santo” (1Pd 1, 15-16).
Que Maria Santíssima, Medianeira de todas as graças, no-lo alcance.
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TEOLOGIA E ESPIRITUALIDADE
DO
MOMENTO PRESENTE
Há já dois largos decênios que saiu à luz pública o áureo livrinho "A santificação do momento
presente", devido à douta pena do sacerdote dom Francisco Marti Fernández, que foi diretor do Instituto
Psiquiátrico de Valladolid, falecido no ano de 1981. Tal obra – redigida pela feliz sugestão do P. Sabino M.
Lozano ao seu autor – é a recopilação e amplificação de vários artigos publicados na revista "LA VIDA
SOBRENATURAL".
Posteriormente a esta publicação, apareceram na mesma Revista outros trabalhos que abordam, a
partir de diversas vertentes, um tema idêntico, isto é, a santificação do instante atual. Nas páginas seguintes
desejamos apresentar algo mais sobre tão saboroso argumento, convencidos de que os leitores
compartilharão conosco semelhante interesse, já que se trata de um ponto central da espiritualidade cristã.
Talvez designado com expressões variadas, mas de importância inegável.
Os ensinamentos evangélicos sobre a vigilância e os grandes avisos paulinos às comunidades cristãs
evangelizadas pelo Apóstolo, coincidem ao assinalar de que forma o cristão deve aproveitar a graça do
momento atual se quer deveras corresponder ao desígnio salvífico e santificador que Deus tem sobre ele.
Desde a parábola das virgens prudentes (Mt. 25, 1-13) e equivalentes (Mt 24, 45-51), até ao "vigiai e orai
porque não sabeis o dia nem a hora" (Mt. 24,42), é-nos advertido que cada momento é um momento chave,
e que cada degrau é definitivo: "Enquanto temos tempo, façamos o bem para com todos, mas especialmente
para com os irmãos na fé" (Gl 6, 10). Ou, como nos adverte o salmista: "Se hoje escutardes a voz do
Senhor, não endureçais o vosso coração" (sal 94,8).
Torna-se evidente que a santificação do momento presente pertence ao conjunto de temas básicos ou
centrais da perene espiritualidade evangélica e cristã. Basta examinar atentamente os seus conteúdos para
que disso nos certifiquemos.
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Assim se explicam muitas coisas. Por exemplo: porque o missionário zeloso aproveita todos os
minutos do seu ministério para pregar a mensagem. Porque o contemplativo faz perfeitamente, por amor, o
que tem de fazer a cada instante. Porque qualquer cristão no seu respectivo estado de vida e circunstâncias
específicas santifica o seu "hoje", o seu "agora", o seu "momento presente", como um dom divino do qual
se sente tremendamente responsável.
4. Espiritualidade segura
Parece-nos que a santificação do momento presente, tal como a explicam os grandes mestres e os
melhores tratadistas de Ascética e Mística, constitui, antes de mais, uma doutrina e não um método. É
susceptível, portanto, de ser vivida como uma espiritualidade segura, isto é, construída sobre a rocha (Mt
7,26). Porque os fundamentos – como vimos – são de uma solidez inamovível. Sendo muitas e numerosas
as razões que tornam lícito o seu frutífero exercício, emergem, a nosso parecer, dois de enorme eficácia
santificadora: a perfeita pureza de intenção que a acompanha, e a glorificação de Deus como objetivo
primordial.
Quem purifica constantemente a sua intenção, despojando-se radicalmente de todo o motivo
humano –autêntico motor da vida cristã–, consegue dar passos de gigante nos caminhos do Senhor. E quem
busca sem descanso a glória de Deus como fim supremo, torna extraordinariamente fecunda a sua
existência.
São muito poucos os cristãos empenhados em antepor sempre e em tudo a glória de Deus! Hoje,
como ontem, tem urgência e vigência o lamento de S. Paulo: "Todos buscam os seus interesses, não os de
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Jesus Cristo" (Fl 2, 21). Com toda a razão escreveria testemunhalmente Teresa de Lisieux: "Quero pensar
somente no momento presente. Estou certa de que unicamente neste momento se cumpre a vontade de
Deus" (Novissima Verba, 27 de Julho de 1897). Aqui está um caminho certo e uma espiritualidade segura.
Os teólogos e comentadores bíblicos falam cada vez mais das dimensões cristão do tempo.
Distinguem duas particularmente importantes: a dimensão sucessão ou movimento, entendido como a
duração de uma realidade temporal. Seria o tempo-externo que já Aristóteles, desde o paganismo, definia
como "o número do movimento no horizonte do antes e do depois". No entanto, desde o ponto de vista
teológico, interessa mais o tempo interno, em sentido qualitativo. Surge assim o chamado tempo-
acontecimento.
A Liturgia faz-nos refletir neste aspecto essencial. Assim, no Prefácio III do Advento, que nos
apresenta Cristo como Senhor e Juiz da História, lemos: "O mesmo Senhor que se nos mostrará então cheio
de glória, vem agora ao nosso encontro em cada homem e em cada acontecimento." Através deste
ensinamento revelador, a santificação do momento presente adquire tonalidades escatológicas. A existência
inteira de um cristão coloca-se, portanto, num estado definitivo, conseguindo-se o maior fruto do tempo nas
suas duas propriedades teológicas irrenunciáveis: a cíclica e a linear. De Deus vimos pela criação, e pela
justificação, no Batismo, e a Deus regressamos como nosso Fim e Juiz Supremo. À semelhança de Cristo, o
cristão sai do Pai e volta para o Pai (Jo 16,28). Quem santifica o momento presente acelera o seu regresso
ao Pai, "Criador e Senhor do tempo". Daqui deriva toda a teologia e espiritualidade do momento presente
santificado.
P. Andrés Molina Prieto
Revista: La Vida sobrenatural, nº.547, pp. 30-39.
Salamanca, 1990.
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O VALOR DO TEMPO
Diligência, meu filho, - diz o Espírito Santo - em empregar bem o tempo, porque é a coisa mais
preciosa, riquíssimo dom que Deus concede ao homem mortal. Até os próprios gentios tinham
conhecimento de seu valor. Sêneca dizia que nada pode equivaler ao valor do tempo.
Com maior satisfação ainda o apreciaram os Santos. Afirma São Bernardino de Sena que um só
momento vale tanto como Deus, porque nesse instante, com um ato de contrição ou de amor
perfeito, pode o homem adquirir a graça divina e a glória eterna.
O tempo é um tesouro que só se acha nesta vida, mas não na outra, nem no céu, nem no inferno.
É este o grito dos, condenados: "Oh! Se tivéssemos uma hora!" ... Por todo o preço comprariam
uma hora a fim de reparar sua ruína; porém, esta hora jamais lhes será dada. No céu não há pranto;
mas, se os bem-aventurados pudessem sofrer, chorariam o tempo perdido na sua vida mortal, o
qual lhes poderia ter servido para alcançar grau mais elevado na glória; porém, já se terá passado a
época de merecer.
E tu, meu irmão, em que empregas o tempo? Por que sempre adias para amanhã o que podes
fazer hoje? Reflete que o tempo passado desapareceu e já não te pertence; que o futuro não
depende de ti. Só dispões do tempo presente para agir...
"Ó infeliz! - adverte São Bernardo. Por que ousas contar com o vindouro, como se Deus tivesse
posto o tempo em teu poder?" E Santo Agostinho disse: "Como te podes prometer o dia de amanhã,
se não dispões de uma hora de vida?" Daí conclui Santa Teresa: "Se não estiveres preparado hoje
para morrer, teme morrer mal..." (S. Afonso de Ligório. "Tempo e Eternidade").
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O TEMPO
Imagine que você tenha uma conta corrente e a cada manhã você acorde com um saldo de R$
86.400,00.
Só que não é permitido transferir o saldo do dia para o dia seguinte. Todas as noites o saldo é
zerado, mesmo que você não tenha conseguido gastá-lo durante o dia.
O que você faria? Iria gastar cada centavo possível, é claro!
Todos nós somos clientes deste banco de que estamos falando. Ele se chama tempo.
Todas as manhãs sua conta é reiniciada, e todas as noites as sobras do dia se evaporam. Não há
volta Você precisa de gastar o máximo, vivendo no presente seu depósito diário. Invista então no
que for melhor: na saúde, no serviço ao próximo, na procura de Deus, mediante uma leitura ou
oração.
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O relógio está correndo. Faça o melhor para o seu dia-a-dia.
Para você perceber o valor de UM ANO, pergunte a um estudante que perdeu o ano.
Para perceber o valor de UM MÊS, pergunte à mãe que teve seu bebê prematuro.
Para perceber o valor de UMA SEMANA, pergunte a um editor de um jornal semanal.
Para você perceber o valor de UMA HORA, pergunte aos amantes que estão esperando para se
encontrar.
Para perceber o valor de UM MINUTO, pergunte a uma pessoa que perdeu o ônibus.
Para perceber o valor de UM SEGUNDO, pergunte a uma pessoa que conseguiu evitar um
acidente.
Para perceber o valor de UM MILISSEGUNDO, pergunte a alguém que perdeu a medalha de
ouro em uma olimpíada.
Valorize cada momento que você tem. Valorize mais, porque você deve dividir com alguém
especial o suficiente para gastar o seu tempo junto com você.
Lembre-se de que o tempo não pára, não espera por ninguém, não volta atrás.
O ontem é história.
O amanhã é um mistério.
O hoje é uma dádiva. Por isso é chamado presente.
(Ledll R. Tormen)
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O TEMPO:
CRONOS e KAIRÓS
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seu coração, não é necessário esperar a Parusía para gozar d'Ele. Mais ainda, o próprio Cristo, ao
fazer-se presente no coração do convertido, inaugura já a Parusía.
O kairós é um tempo espiritual, mas real, vivo e verdadeiro. Talvez, o único verdadeiro, pois o
cronos é próprio e exclusivo deste mundo, e o kairós é universal, não tem limites.
Se Stephen Hawking – o físico teórico mais célebre da atualidade – se convertesse (é ateu
militante), diria que o kairós é o mesmo cronos, mas com uma curvatura espaço-temporal infinita.
Isto é, um não está em oposição ao outro, mas o kairós inclui e supera o cronos numa síntese
superior.
Uma pessoa jovem pode falecer na plenitude fecunda do seu cronos, aproveitando a sua
ocasião, o seu kairós, para levar a feliz termo a sua vocação neste mundo, na Igreja. Pode repetir
antes de morrer as palavras de Jesus: "Pai, tudo está consumado… em Tuas mãos entrego o Meu
espírito". Sim, pode-o, porque uma obra eclesial, uma vocação, consuma-se não em função do
cronos mas do kairós (alguns chamam-no tempo karitológico).
No contexto do cronos, toda a morte é prematura, porque nos ficam uma multiplicidade de
coisas por fazer. Mas no universo espiritual, o do kairós, tudo depende da Misericórdia divina, que
entende como consumada uma obra quando satisfez as exigências do plano de Deus sobre cada um
de nós, que só conheceremos plenamente no Céu.
Neste mundo só vemos, como que a outra parte do bordado que a Misericórdia de Deus faz
com a sua Providência: um enredo de fios inextricável de cores caprichosas. Mas na luz da Glória,
veremos o lado direito, a frente do bordado: uma obra de arte delicada, imensamente bela, onde
cada fio e cada cor têm a sua própria função.
É um erro pensar (como faziam certos pregadores antigos) que a plenitude dos tempos chegou
quando Deus, depois de procurar esforçadamente por todo o mundo, ao longo da história,
encontrou em Nazaré uma Virgem digna de ser a mãe do Verbo encarnado.
Não é assim. A plenitude dos tempos chega quando a Misericórdia divina, na sua amorosa e
sábia providência, decide criar um coração virginal imaculado e fazê-lo digno de ser fecundado
pelo orvalho do Espírito Santo.
A plenitude não é uma consequência necessária da evolução da história, mas uma criação livre
e gratuita da Misericórdia divina.
Não estava preparado para morrer, nem havia consumado a sua obra neste mundo, o tão jovem
irmão de Maria Antonieta de Geuser y Grandmaison ("Consummata") quando a metralha de um
avião inimigo destroçou a asa do seu caça e o precipitou por terra…, mas a misericórdia divina
teve por bem consumar espiritual e sobrenaturalmente o que naturalmente não havia podido fazer o
jovem piloto. O kairós consumou o que o cronos não podia conseguir. Este, pelo menos, foi o
pensamento da irmã do soldado, muito celebrado por seu tio jesuíta, Leôncio de Grandmaison.
E algo assim acontecerá na Parusía (quer seja a pessoal, quer a Universal): não chegará
enquanto o mundo não haja atingido um nível pleno de maturidade e de conversão. A plenitude do
tempo da Parusía chegará quando a Providência divina, na sua amorosa Misericórdia, leve à sua
última consumação todo o criado, que, por si mesmo, longe de chegar a consumar-se, chegaria a
consumir-se ou destruir-se a si mesmo.
A percepção do kairós neste mundo é sempre confusa e obscura. Inevitável e invencivelmente,
a nossa mente vive no cronos do antes e do depois. Mas, de fato, o nosso espírito deve aproveitar o
kairós, ainda que o não perceba sensivelmente.
S.Tomás de Aquino dá-nos um exemplo precioso de interconexão entre cronos e kairós numa
célebre antífona eucarística: "Oh sagrado banquete, em que Cristo é a nossa comida, se celebra o
memorial da sua Paixão, a alma se enche de graça, e se nos dá o penhor da futura glória!" (II
Vésperas do Corpus Christi, antífona do Magnificat). Um só momento de kairós: a Comunhão
("Cristo é a nossa comida"). Nela se unem numa síntese superior três momentos cronológicos: o
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passado ("memorial da sua Paixão"); o presente ("a alma se enche de graça"); e o futuro ("se nos
dá o penhor da futura glória"). Tudo num instante, que deve perdurar espiritualmente,
karitologicamente, ao longo de toda a jornada do cartuxo.
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Há um tempo em que Deus quer ser a vida da alma e trabalhar na sua perfeição por si mesmo e
de uma maneira secreta e desconhecida. Então todas as ideias próprias, as luzes, as indústrias, as
buscas, os raciocínios são um manancial de ilusões. E, quando a alma, depois de muitas
experiências de resultado triste aonde a tem conduzido o possuir-se a si mesma, ela reconhece, por
fim, a sua inutilidade e descobre que Deus ocultou e confundiu todos os canais para fazê-la
encontrar a vida n’Ele mesmo.
Então, convencida do seu nada e de que tudo o que ela pode tirar do seu fundo é prejudicial,
abandona-se a Deus para não possuir nada mais que a Ele. Deus torna-se assim para ela uma fonte
de vida, não como ideia, como luz ou reflexão (tudo isso não é nela senão um manancial de
ilusões), mas pela realidade das suas graças, ocultas sob as aparências mais estranhas.
A operação divina é desconhecida para a alma, esta recebe a virtude, a substância, o real por
milhares de circunstâncias que ela crê ser a sua ruína. Não há remédio para essa obscuridade, é
preciso deixar-se afundar nela. Deus dá-se, e dá todas as coisas na obscuridade da fé.
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Cap. 4.
O estado de abandono.
No abandono, a única regra é o momento presente. A alma encontra-se leve como a pena, fluida
como a água, simples como a criança. É móvel como uma bola, para receber e seguir todas as
impressões da graça.
Essas almas não têm mais resistência ou rigidez que a do metal fundido; como este recebe todas
as formas do molde em que é vertido, também a alma adapta-se e ajusta-se facilmente a todas as
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formas que Deus lhe quer dar, numa palavra, a sua disposição é semelhante à do ar que está
disponível para todos os sopros e se configura com tudo.
Há uma observação importante que se deve fazer aqui: nesse estado de abandono, nesse caminho
de fé, tudo o que se passa na alma, no corpo, durante os afazeres e nos diversos acontecimentos,
oferece uma aparência de morte que não nos deve espantar. Que quereis? É a característica desse
estado. Deus tem seus desígnios sobre as almas e, sob esses véus obscuros, Ele os executa muito
felizmente.
Sob esse nome de véu entendo os maus sucessos, as enfermidades corporais, as fraquezas
espirituais.
Nas mãos de Deus tudo corre bem, tudo se torna bem; é por essas coisas que desolam a natureza
que Ele preserva e prepara o cumprimento dos seus mais altos desígnios: «Deus faz tudo concorrer
para o bem daqueles que são chamados conforme os seu desígnio».1
........
Cap. 4.
A pedagogia divina.
Cap. 4.
Uma paz superior.
Vamos, alma minha, através dos langores, das doenças, securas, durezas de ânimo, debilidades
do espírito, dos enganos do diabo e dos homens, das suas desconfianças, invejas, ideias sinistras e
prevenções.
Voemos como uma águia por cima das nuvens, com o olhar sempre fixo no sol e nas nossas
obrigações que são os seus raios.
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Rm 8,28.
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Sintamos tudo isto: não depende de nós o estarmos insensíveis, mas recordemo-nos que a nossa
vida não é uma vida de sentimentos. Vivamos nessa região superior da alma onde Deus e a sua
vontade realizam uma eternidade sempre igual, sempre uniforme, sempre imutável.
Nessa morada completamente espiritual, em que o não criado, o indistinto, o inefável mantém a
alma infinitamente afastada de todas as sombras e de todos os átomos criados. Os sentidos
percebem em suas faculdades, suas agitações, suas inquietações, cem metamorfoses.
Tudo se passa como no ar onde tudo está como que sem lógica e sem ordem, numa vicissitude
perpétua. Mas Deus e sua vontade são, no estado de fé, o objeto firme que encanta o coração e, no
estado de glória, fará a verdadeira felicidade.
A alma de fé, que conhece o segredo de Deus, mantêm-se totalmente em paz, e tudo o que nela
se passa, em vez de lhe atemorizar, tranquiliza-lhe. Intimamente convencida que é Deus que a
conduz, recebe tudo com graça e vive no esquecimento de si mesma do assunto sobre o qual Deus
toma de conta para poder pensar somente na obra que está entregue a seus cuidados, isto é, ao amor
que a anima sem cessar a cumprir fielmente e com exatidão as sãs obrigações.
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Cap. 5.
O estado de fé pura.
O estado de pura fé é de algum modo uma mistura de fé, de esperança e de caridade, num único
ato, que une o coração a Deus e à sua ação.
Essas três virtudes reunidas são uma só virtude, um único ato, uma só elevação do coração a
Deus e um simples abandono à Sua ação.
Oh! unidade desejável da Trindade e dessas excelentes virtudes! Crede, pois, almas santas,
esperai, amai, mas por um simples toque que o Espírito divino, o qual Deus vos dá como um
presente, produz no vosso coração. É essa a unção do nome de Deus que o Espírito Santo derrama
no centro do coração. Eis aqui a palavra e a revelação mística, penhor da predestinação e de todas
as suas ditosas consequências: «Como Deus é bom para Israel, para os homens de coração puro»2.
Esse toque nas almas abrasadas chama-se amor puro por causa da torrente das graças| que
transborda sobre todas as faculdades, com uma plenitude de confiança e de luz. Mas nessas almas
embriagadas de [licor de] absinto, esse toque chama-se fé pura, porque a obscuridade e as sombras
da noite aqui são todas puras.
O amor puro vê, sente e crê. A fé pura crê sem ver nem sentir. Eis donde vem a diferença que
pomos entre uma e outra. Essa diferença não está fundada senão em aparências diversas, porque na
realidade, como ao estado de fé pura não falta o amor, assim ao estado de amor puro não falta nem
a fé nem o abando; mas esses termos são aqui apropriados por causa daquilo que mais domina em
cada um desses dois estados.
........
Cap. 7.
A vontade divina e o momento presente.
A vontade divina é a vida da alma, qualquer que seja a aparência em que essa vontade se
aplique à alma ou seja recebida por ela.
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Sl 72,1. No texto original: da volúpia.
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Qualquer que seja a recepção feita a essa vontade divina pelo espírito ela alimenta a alma e fá-la
crescer sempre em direção ao melhor. Não é isto nem aquilo que lhe produz tão felizes efeitos, mas
sim a ordem de Deus no momento presente.
Aquilo que era melhor no passado já não o é no presente, porque já está destituído da vontade
divina, que agora se manifesta sob outras aparências para mostrar o dever do momento presente. E
é este dever, qualquer que seja a sua aparência, que no presente se torna o mais santificante para a
alma.
A vontade de Deus é a plenitude de todos os nossos momentos e flui sob mil aparências, que
formam sucessivamente o nosso dever presente, configurando, acrescentando e consumando em
nós o homem novo, até chegar à plenitude que a Sabedoria divina nos destina.
Esse misterioso crescimento da idade de Jesus Cristo em nossos corações é o termo produzido
pela ordem de Deus, é o fruto da sua graça e da sua vontade divina. Esse fruto é produzido, cresce e
nutre-se pela sucessão de nossos deveres presentes que a própria vontade de Deus repleta, de modo
que cumprindo tais deveres é sempre o melhor nessa divina vontade.
Apenas temos que deixar essa vontade operar e nos abandonar cegamente com confiança
perfeita, pois ela é infinitamente sábia, potente, benfeitora para as almas que esperam totalmente
nela sem reservas, que amam e buscam somente a ela e creem com fé e confiança inquebrantáveis
que o que ela faz a cada momento é o melhor sem procurar outra coisa, de mais ou de menos, pois
isso não seria senão uma busca do amor próprio.
........
Cap. 8.
Que o homem faça a sua parte e Deus fará o resto.
Oh! Vós todos que tendeis à perfeição e podeis ter a tentação de vos desencorajar à vista do que
ledes na vida dos santos e do que os livros de piedade prescrevem.
Oh! Vós que vos acabrunhais a si vós mesmas pela ideias terríveis que formais da perfeição, é
por vossa consolação que Deus quer que eu escreva isso: aprendei o que pareceis ignorar; o Deus
de bondade tornou fácil todas as coisas necessárias e comuns na ordem natural como o ar, a água e
a terra. Nada de mais necessário que a respiração, o sono, a alimentação, mas também nada de mais
fácil.
Em virtude do mandamento que Deus fez a propósito do amor e da fidelidade, essas coisas não
são menos necessárias na ordem sobrenatural; é necessário então que as dificuldades não sejam tão
grandes quanto se imaginam; o homem percebe com tanta clareza que não pode duvidar disso:
«Teme a Deus e observa os seus mandamentos, eis aqui o tudo do homem»3, isto é, eis aqui tudo o
que o homem deve fazer de sua parte, eis em que consiste a sua fidelidade ativa: que ele cumpra a
sua parte e Deus fará o resto.
A graça reservando para si só o que ela faz, as maravilhas que ela opera ultrapassam toda a
inteligência do homem; pois nem o ouvido ouviu, nem o olho viu, nem o coração sentiu o que Deus
concebe em sua mente, resolve na sua vontade, e executa por sua potência nas almas2 que têm esse
fundo simples, essa toalha uniforme sobre a qual só a divina Sabedoria vai poder facilmente aplicar
e desenhar esses traços tão bonitos e perfeitos, essas figuras tão admiráveis.
A alma só se preocupa em oferecer, bem estirada, essa toalha de amor e obediência, sem pensar,
sem tentar buscar, sem refletir para conhecer o que Deus acrescenta, por que ela confia n’Ele,
abandona-se e, toda a ocupada em seu dever, não pensa nem em si nem no que lhe é necessário
nem nos meios pelos quais ela poderia procurar-se a si mesma.
3 2
Ecl 12,13. Cf. 1Cor 2,9
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Cap. 9.
As riquezas do momento presente.
O momento presente está sempre cheio de tesouros infinitos; ele contém mais do que a vossa
capacidade pode comportar.
A fé é a medida: quanto mais credes mais a encontrareis. Também o amor é a medida: quanto
mais o vosso coração ama tanto mais deseja; e quanto mais ele crê encontrar, mais encontra.
A vontade de Deus apresenta-se a cada instante como um mar imenso que o vosso coração não
pode esgotar. Ele recebe tanto quanto a fé, a confiança e o amor podem abarcar. Todas as outras
criaturas não podem encher o vosso coração, pois este é maior que tudo o que não seja Deus.
As montanhas que assombram os olhos não são mais que átomos no coração. Nessa vontade
divina, escondida e oculta em tudo o que vos vai sucedendo no momento presente, é onde
encontrareis um tesouro que excede infinitamente todos os vossos desejos.
Não bajulais pessoas, nem adorais homens e fantasmas, eles não vos podem dar nem tirar.
Apenas a vontade de Deus realizará a vossa plenitude, sem vos deixar nenhum vazio; adorai-a, ides
a ela com retidão, penetrando nela e abandonando todas as aparências.
A morte dos sentidos, a desnudez, as subtrações ou destruições são o reino da fé, pois, enquanto
os sentidos adoram as criaturas, a fé adora a vontade de Deus. Derrubai os ídolos dos sentidos e
eles chorarão como crianças desesperadas, mas a fé triunfa pois ninguém a pode separar da vontade
de Deus.
E quando o momento presente assusta , esfomeia, despoja e abate todos os sentidos, então é
quando ele alimenta, enriquece e vivifica a fé, que ri de todas essas perdas, como o governador de
uma praça inexpugnável ri dos ataques inúteis.
........
Cap. 9.
A alma que vê a vontade de Deus nas coisas mais pequenas, nas mais desoladoras e mortais,
recebe tudo com igual alegria, júbilo e respeito. Abre as portas para receber com honra aquilo que
os outros homens temem e do qual fogem com horror. A bagagem é pequena, os sentidos a
desprezam, mas, o coração, sob esta aparência vil, respeita de igual modo a majestade real. E
quanto mais se abaixa, para atuar sem aparência e no segredo, tanto mais o coração é penetrado
pelo amor.
O que falta aos sentidos, realça, aumenta e enriquece a fé: quanto menos há para os olhos tanto
mais há para a alma. Adorar a Jesus na cruz é mais excelente para a fé do que adorá-Lo no Tabor.
A fé nunca é tão viva como quando o aparente e o sensível a contradizem e se esforçam por
destruí-la. Esta guerra dos sentidos torna a fé mais vitoriosa. Encontrar a Deus tanto nas coisas
ordinárias como nas grandes é ter uma fé não ordinária. Contentar-se com o momento presente é
apreciar e adorar a vontade divina em tudo o que há de se fazer e sofrer, nas coisas que compõem
com o seu suceder o momento presente. As almas assim dispostas adoram a Deus com um aumento
de amor e de respeito nos estados mais humilhantes.
Nada passa despercebido aos olhos penetrantes da sua fé. Quanto mais dizem os sentidos: «Deus
não está aí», tanto mais essas almas abraçam e apertam o ramalhete de mirra. Nada lhes assusta
nem desgosta.
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BREVES TEXTOS DE SANTOS E AUTORES ESCOLHIDOS
“Jesus Cristo, para descrever a quietude gozosa que deve caracterizar o cartuxo, põe na boca do
Esposo divino: «Deixa-Me cuidar de ti, até que Me encontres; passa por cima de tudo o que é
múltiplo e mutável; espera-Me, ainda então, novamente com fé total, contando com a minha
Bondade. De tal maneira que, despojada de todo o teu desejo, livre de qualquer afeição às
criaturas, alheia a representações e fantasias, com um coração perfeitamente simples e nu,
afeiçoa-te e entrega-te a Mim para que Eu te possua; permanece em Mim naquele preciso
momento que constitui a minha eternidade (nunc æternitatis), onde não existe passado nem
futuro”.
Pe. João Lanspérgio.
Cartuxo alemão (†1539).
...
“Eu tenho confiança em Ti. Não sei em que consistirá o amanha, não sei em que consistirá o
minuto próximo, mas sei que será teu amor quem o haverá feito, e isto me basta.”
“Procurai a santidade no dia presente, pois não podemos contar [seguros] com o de amanha”
''Deixemo-nos purificar por Deus aqui, a fim de alegrar bastante o Seu Sagrado Coração" (1860).
"Vivei simples de coração, cada instante perante Deus" (1872).
Beata Bárbara Maix,
Fundadora das Irmãs do I. Coração de Maria.
.
...
“Cada minuto nos é dado para nos enraizar mais em Deus”
Beata Elisabete da Trindade.
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"Quando estava no cárcere pensava cada dia na santidade e, ao fim, me convenci de que não
havia mais que viver bem o momento presente, porque nossa vida está composta de milhões de
minutos. Para fazer uma linha reta há que fazer milhares de pontos. E, se fazemos bem cada
ponto, teremos uma formosa linha reta. Nossa vida está formada por milhões de minutos. Si
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vivemos bem cada minuto, teremos uma vida santa. Não se pode ser santos a intervalos. Não se
pode viver respirando a intervalos, porque temos que respirar sempre".
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“Assimile os ensinamentos de Jesus e dê a cada dia um passo vertical em direção à vida eterna”.
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“Quando o dia seguinte chegar, ele também será chamado de hoje e, então, você pensará nele.
Tenha sempre muita confiança na Divina Providência".
“Ah! Se você chegasse a entender o valor do tempo!"
“Se você tem tempo agora, não espere por mais tempo mais tarde".
São Pio de Pietrelcina.
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O conselho de Jesus a vigiar e orar (Mt 26,41) é a dica principal para santificar o momento
presente. Eis o que nos diz Bento XVI:
«Agora é o momento favorável, agora é o dia da salvação» (2 Cor 6,2). A urgência com que estas
palavras do apóstolo Paulo aos cristãos de Corinto ressoam também para nós é tal que não admite
escapatória ou inércia. A repetição do termo «agora» significa que este momento não pode ser
desperdiçado, é-nos oferecido como uma ocasião única e irrepetível.
Quarta-feira de cinzas, 13 de Fevereiro de 2013.
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A vida de nossos dias exige que corramos para não perder tempo. Preocupações, afazeres,
prazeres, obrigações e deveres, dificuldades e obstáculos. São como um espinheiro que sufoca a
vida de Deus em nós.
No entanto, todos nós somos terreno fértil e devemos perseverar, para poder dar frutos. É uma
questão de decisão. Decido eliminar o espinheiro e a aridez, deixando o terreno preparado para
que a semente brote e dê fruto em abundância.
Estar no momento presente, fazendo uma coisa de cada vez e deixando em tudo o que fazemos, a
marca do amor.
Essa é a perseverança que leva à perfeição. Para hoje.
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NOTA: Para aprofundar no tema do “Momento Presente” são bons estes livros do Pe. José
Schrijvers, redentorista, grande diretor de almas falecido em odor de santidade na Alemanha:
- O dom de si.
- A boa vontade.
(Edição facsimil).
LAUS DEO!
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