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All-Hallows’ Brides - 05

Maggi Andersen

Uma coleção de contos de romance gótico da


regência
Staff
Tradução:
Revisão Inicial:
Revisão Final:
Leitura Final:
Formatação:
Bem-vinda à coleção All Hallows Brides. Oito autores de
romances históricos se reuniram para uma coleção de
histórias nunca antes publicadas que lhe darão um calafrio,
uma emoção e você as lerá repetidas vezes. Inspirado nas
obras de Edgar Allan Poe, você nunca viu uma coleção como
essa de alguns dos maiores nomes do romance histórico.

O título de cada história é nomeado pela 'Noiva':

Emma por Kathryn Le Veque


Aislin por Meara Platt
Sarah por Scarlett Scott
Madeleine por Mary Lancaster
Beth por Maggi Andersen
Hyacinth por Chasity Bowlin
Eleanor por Sydney Jane Baily
Raven por Violetta Rand
Então, pegue uma vela, tranque a porta e acomode-se
para ler esta coleção impressionante de contos românticos
sombrios, com heróis inesquecíveis e magníficas damas. O
romance nunca foi tão ousado... ou tão gótico.

E se você ouvir uma batida na sua porta... não atenda.

A menos que você esteja preparada para receber um


fantasma errante em um vestido de noiva esfarrapado…
Beth está prestes a começar sua temporada de
bailes, infelizmente chega uma nota dizendo que seu
sobrinho está ferido, e sua irmã e o duque, seu
marido, devem deixá-la com uma acompanhante
para o evento da noite.

Lá, ela dança com o gentil Marcus, depois com


Lorde Ramsey, que ao devolvê-la a sua
acompanhante, recebe um bilhete dizendo que sua
irmã está ferida.
Lorde Ramsey imediatamente dá um passo à
frente para ajudar.

Marcus está confuso sobre onde Beth foi,


finalmente encontra seu destino e com quem ela está.

Mas nem tudo é tão lapidado e seco quanto


parece e Beth está em perigo terrível.

Marcus chegará a tempo de salvá-la da casa dos


horrores?
Caramba, desta vez realmente imaginei
fantasmas e corrente arrastando.

Marcus é de nos deixar suspirando e Beth é


astuta. Um casal que deu certo. A estória corre
praticamente em uma noite. Não, haverá outros
dias após esta noite terrível. Uma estória
realmente a Allan Poe.

Diana
Um
Primavera, Harrow Court, Londres, 1825

BETH HARRISMITH ENTROU No salão, sua mente repleta com o que


a aguardava naquela noite. Ela cumprimentou sua irmã, Jenny, a
duquesa de Harrow com um sorriso, ansiosa para desviar seus
pensamentos.

— Isso é um chapéu de renda divino, — ela observou se


sentando ao lado dela na mesa. Ela pegou o bule e se serviu de uma
xícara.

Jenny deu um tapinha no chapéu cobrindo seus cabelos


castanhos escuros.

— Estou feliz que você aprove. Eu pensei que você poderia me


acusar de me vestir como uma viúva.
— Eu nem sonharia com isso. — Os lábios de Beth se curvaram
um pouco enquanto ela observava sua irmã. — O que Andrew pensa?

Jenny olhou para a torrada que estava passando manteiga.

— Oh, ele gosta bastante disso.

— E do laço embaixo do seu queixo?

Jenny sorriu quando pegou a geleia.

— Oh, pare, Beth. Tia Augusta está chegando para uma visita
na próxima semana. É assim que ela espera que uma dama casada
com minha idade se vista. — Um sorriso relutante brincou em seus
lábios. — Andrew também não aprova. Ele já o disse esta manhã.

Beth riu. Ninguém tomaria sua irmã como viúva. Agora, aos
vinte e oito anos, ela mudou pouco desde que se casou com Andrew.
E nenhuma viúva estaria tão feliz. Beth adorava morar com Jenny e
Andrew. Embora a cidade não tivesse as mesmas delícias para ela
como para eles. Mas as longas janelas davam para os bonitos
canteiros floridos da primavera, e o céu acima estava claro, embora
não fosse o azul encontrado no campo. Seria um ótimo e maravilhoso
dia.

— Acredito que quero ovos. — Beth levantou-se para inspecionar


a louça aquecida no aparador. Ao levantar as tampas, a sala se
encheu de aromas de dar água na boca. — Mmmm. Bacon. — Ela
pegou um prato e colocou uma pilha de ovos nele e adicionou uma
fatia de bacon.
— Não sei por que você nunca engorda — disse Jenny, com a
mão cruzada no estômago, sobre o vestido matinal de damasco. — Eu
luto com meu peso desde que George nasceu.

— Não é verdade, meu amor. Mas você é muito atraente, devo


dizer — disse Andrew da porta.

O lacaio, Barker, tossiu e se ocupou com o café do duque.

Um rubor se espalhou pelas maçãs do rosto de Jenny.

— Andrew, você é incorrigível.

Beth olhou discretamente para a xícara. Andrew, duque de


Harrow, poderia dizer o que pensava. Nunca se tinha certeza do que
ele poderia declarar. Mas uma coisa estava clara: ele adorava sua
irmã e o declarara desde que Jenny chegara a Castlebridge, a casa
ancestral de Andrew em Oxfordshire, como governanta de seus filhos,
William e Barbara, cinco anos atrás.

— Por favor, perdoe minhas roupas de montaria, — disse ele


sorrindo para as duas enquanto se sentava à mesa. — O parque
estava surpreendentemente cheio esta manhã. Eu conheci Jackson
Brenton...

Beth voltou a pensar na noite que a esperava enquanto Andrew


discutia um amigo com Jenny.

O lacaio colocou o café diante dele.

— Sua Graça, seu desjejum habitual?


— Obrigado, Barker. — Andrew tomou um gole de café. — Você
está gostando da sua temporada, Beth?

— Eu estou. Meu baile foi esplêndido. — Não era inteiramente


verdade. Ela se esforçou para tirar o melhor proveito disso, mas ser o
centro das atenções para tantos homens a manteve tensa. Ela era
bonita o suficiente? Preparada o suficiente? Ela amava seu novo traje,
no entanto. — Eu tenho um vestido adorável para usar esta noite. É
de cetim branco adornado com pérolas e tem uma borda de cetim
rosa e rosas bordadas acima da bainha.

Andrew pegou o periódico.

— Mmmm? Bom, Bom.

— Você pode garantir a perda do interesse dele se falar de


roupas femininas, — disse Jenny. — Chapéus especialmente.

Beth riu.

Andrew sacudiu o periódico e, quando Barker colocou o


desjejum diante dele, pediu mais café.

— Imagino que o baile da condessa Wellington esta noite será


agradável, — disse Jenny. — Ela sempre tem convidados incomuns.
Eu acredito que ela se esforça para chocar.

Andrew levantou as sobrancelhas.

— E muitas vezes consegue.


— Confesso que estou um pouco nervosa — admitiu Beth
finalmente. — Mas você e Andrew são muito solidários.

— Eu não sentiria falta disso! Andrew também não.

Andrew cortou o bacon no prato, o periódico descansando ao


lado dele.

— Estou ansioso por isso.

— Você não quis dizer uma palavra disso, Andrew — disse


Jenny, animada. Ela suspirou. — Nós dois sentimos falta do bebê,
das crianças e de Castlebridge. É sempre difícil deixá-los sob os
cuidados da babá e de sua governanta.

— Ambas são extremamente capazes, meu amor. — Andrew deu


um tapinha na mão dela.

O mordomo entrou na sala carregando uma bandeja de prata na


qual havia uma nota e um abridor.

— Isso acabou de chegar para você, Sua Graça.

— Obrigado, Forrester. — Andrew abriu-o. Ele segurou o único


papel nas mãos e o leu rapidamente, sulcos profundos reunidos na
testa. Ele olhou para cima. — Jenny, meu amor, precisamos voltar
para Oxfordshire. Aparentemente, William caiu de um dos cavalos.

Beth engoliu um bocado de ovo amanteigado em alarme. Ela


largou a faca e o garfo.

A cadeira de Jenny bateu para trás, quando ela se levantou.


— Ele está gravemente ferido?

— Bateu a cabeça e perdeu a consciência por um tempo. Mas o


médico diz aqui que está confiante de que é apenas uma pancada na
cabeça e alguns hematomas. Não se preocupe querida. Não parece
nada sério. Tenho certeza que ele estará de volta à saúde e pronto
para retornar a Eton quando o período escolar começar.

— Oh, eu rezo para que seja assim. Batidas na cabeça não


devem ser levados de ânimo leve. — Jenny ficou com as mãos
segurando as costas da cadeira.

— O médico parece confiante de que não será nada sério, Jenny.


— Beth levantou-se para confortá-la. Sua irmã geralmente forte
parecia se preocupar mais desde que o filho deles, George nasceu.

Jenny apertou as mãos.

— Assim que viramos as costas! William tinha que ser vigiado


nos estábulos quando cheguei a Castlebridge como governanta dele
— explicou ela a Beth, que morava com eles desde que se casaram,
já estava familiarizada com aqueles tempos difíceis. — Ele tinha
apenas nove anos e devo dizer que, aos catorze anos, ele ainda é uma
preocupação quando se trata de cavalos.

— William é um bom jóquei, Jenny, — disse Andrew


calmamente.

— Sim, seu filho e herdeiro é pouco temerário, como todos os


Harrows. — Ela olhou com desaprovação para ele. — Ele
provavelmente levou Lightning para salto em altura. Vou ter tudo
embalado para partirmos. — Ela parou no meio da porta para olhar
para Beth. — Você não pode faltar esta noite. Será um desprezo
terrível. Preciso encontrar uma acompanhante adequada para você.
— Ela bateu na bochecha. — Agora me deixe ver.

— Certamente não sentirei falta do baile. — Beth aproveitaria a


oportunidade de retornar ao campo. — Eu voltarei para casa com
você. Haverá outros bailes.

— Absurdo. Você deve ir — disse a irmã.

Beth suspirou.

— Muito bem. — Quando Jenny tomava esse tom, não havia


como discutir com ela.

— Sra. Grayshott e sua filha Phillida vão participar — refletiu


Jenny. — Uma mulher gentil, tenho certeza de que ela estará ansiosa
para acompanhá-la.

— Phillida não se apresentará bem ao lado de Beth, — observou


Andrew.

As bochechas de Beth ficaram quentes com o elogio dele.

— Oh, certamente não.

— Sim, é verdade — concordou Jenny. — E a Sra. Grayshott é


de uma péssima conversa. Mas é apenas por uma noite.
—- Vou tomar meu café no escritório, Barker. Tenho alguns
assuntos urgentes a tratar antes de partirmos. — Andrew parou na
porta e olhou para Beth. — Você vai ficar bem?

— Claro. Você não deve pensar em mim. Como você disse, é só


por uma noite, — disse ela, aceitando que deveria comparecer ao
baile. — Só rezo para que William se recupere rapidamente.

— Vou garantir que a carruagem da senhora Grayshott a traga


de volta aqui depois do baile. Acho que você não poderá receber
visitas matinais de cavalheiros — disse Jenny. — Será um furo
terrível. Mas apenas por um dia ou dois. Devo enviar notas de
desculpas e uma nota para a Sra. Grayshott imediatamente. —
Abrindo a porta ela se foi.

Beth se serviu de outra xícara de chá. De repente, se sentiu


muito sozinha, à medida que a noite se aproximava, sem saber o que
dizer a essas pessoas sofisticadas. Eles eram tão diferentes daqueles
que ela conhecia enquanto crescia em Yorkshire.

Duas horas depois, ela esperava ao lado de Forrester no hall de


entrada para se despedir de Jenny e Andrew. No caminho de cascalho
do lado de fora, a carruagem aguardava, o cabeça dos quatro cavalos
cinzas inquietos sendo segurado pelo cavalariço.

Vestida com um vestido de veludo rosa profundo enfeitado com


peliça de zibelina, e um chapéu de zibelina na cabeça, Jenny desceu
as escadas correndo, calçando suas luvas.
— Chegou uma nota da Sra. Grayshott confirmando que sua
carruagem chegará para pegá-la hoje à noite às nove horas. —
Chegando ao piso de mármore, ela beijou a bochecha de Beth,
perfumando o ar com um cheiro de rosas. — Eu sei que você se
comportara com perfeito decoro, querida. Você é um dos poucos
membros desta família numerosa em quem posso confiar.

— Meu sobrinho George certamente não, — Beth disse com um


sorriso, lembrando como o menino riu e apontou para o chapéu de
uma visitante ricamente decorado com frutas e penas. Ele foi
removido rapidamente em desgraça do local, mas permaneceu
destemido. Ele não se impressionava com as maneiras elegantes da
alta sociedade, o que fazia Beth rir. Embora suas maneiras
melhorassem, ela suspeitava que como o segundo filho varão e o
terceiro de todos os filhos, ele seguia seu próprio caminho e sempre
era um pouco obstinado.

— Ele deve ser desculpado por ser tão jovem, — Jenny disse com
uma careta. Indisciplinado aos três ano de idade era o que ela e
Andrew achavam e que ele não poderia fazer nada errado aos seus
olhos.

— Será que ainda o desculparemos quando ele tiver catorze anos


como William? — Andrew perguntou suavemente.

Jenny balançou a cabeça para ele.

— Duvido que você o castigue severamente, Andrew. Você será


tão tolerante quanto é com William.
Ao mencionar o nome de William, o olhar preocupado de Jenny
encontrou o de Andrew.

— Espero que ele esteja bem. Devemos nos apressar, meu amor.

Andrew veio beijar a bochecha de Beth.

— Evite os libertinos, — disse ele com uma piscadela.

— Como reconhecerei um?

— Louvores se deslizam de suas línguas como mel.

Um momento depois eles se foram. Sentindo-se um pouco


abandonada, Beth subiu as escadas para o quarto com a intenção de
colocar um chapéu e dar uma volta no jardim. Ela passaria o resto
do dia lendo, se conseguisse se decidir quanto ao que ler.

Naquela noite, quando o relógio de seu avô bateu nove horas, os


nervos de Beth a levaram a seguir pelo corredor, fazendo com que o
lacaio lhe oferecesse uma cadeira.

Ela nunca quis isso. Sua irmã Bella era abençoadamente casada
com um fazendeiro de Yorkshire com sua filha Clara de dois anos de
idade. Beth também preferia o ritmo da vida no campo, cuidando da
estranha variedade de animais feridos que ela resgatava na floresta
em Castlebridge. Mas seria ingrato dela como a irmã mais nova,
recusar a maravilhosa oportunidade que Jenny considerava ser
perfeita. Beth queria se apaixonar e se casar e admitiu que era
improvável que ela encontrasse seu futuro marido enquanto vagava
pela floresta em Castlebridge. Embora não desejasse se casar com um
duque ou talvez até com um fazendeiro, desejava que ele fosse um
homem forte e compassivo, com ombros largos nos quais poderia
apoiar-se às vezes. Alguém com quem ela pudesse rir e compartilhar
seu amor pelos animais.

Uma carruagem parou do lado de fora e uma batida soou na


porta. Beth permitiu ao lacaio colocar sua capa da noite em volta dos
ombros. Respirando fundo, juntou o retículoi e as luvas e, sorrindo,
saiu para cumprimentar a Sra. Grayshott e sua filha.

O BAILE DA CONDESSA WALLINGTON era um assunto suntuoso. Os


jardins da mansão estavam iluminados com lanternas coloridas. Um
lacaio os levou para o grande salão, onde se juntaram à fila de
convidados que esperavam ser anunciados pelo mordomo. A
condessa, resplandecente em seda dourada e diamantes, estava na
porta da enorme sala de cerimônia, onde as portas foram abertas para
formar um grande salão de baile. Ela cumprimentou Beth
expressando sua decepção pelo duque e a duquesa não poderem
comparecer. Beth reiterou as desculpas de Andrew e Jenny, ciente de
que ela era considerada uma pobre substituta.

As tábuas da pista de dança eram decoradas com elaborados


desenhos de giz floral que logo desapareceriam sob os pés dos
dançarinos. A Sra. Grayshott conduziu a filha e Beth pela multidão
lindamente vestida. Elas tomaram cadeiras contra a parede ao lado
das palmeiras nos vasos. O ar enfumaçado era perfumado com
aromas cítricos e florais. No estrado, os músicos começaram a afinar
seus instrumentos.

Elas mal haviam se acomodado, arrumando xales, retículas e


leques, quando um cavalheiro alto e moreno, vestido de preto e
branco, emergiu da multidão e caminhou até elas. Phillida parou
rapidamente de arrumar o xale e sentou na beira do assento em
antecipação. Ela lançou um sorriso coquete para o cavalheiro. Beth
conseguiu entender a reação de Phillida, pois ele era bastante bonito.

Ele se curvou diante delas.

— Marcus Nyeland, senhora Grayshott. O duque de Harrow


planejava me apresentar à senhorita Harrismith hoje à noite, mas
como ele não pode comparecer, estou confiante de que você agirá
gentilmente na ausência dele.

A Sra. Grayshott ficou vermelha com a menção do duque. Ela


falara um pouco mais do que impressionada com Andrew, na
carruagem, quando estavam a caminho do baile e instou a filha a
aceitar não mais que um conde. Phillida assentiu e deu um tapinha
em seus cabelos castanhos claros.

— Morenas são mais populares este ano, — ela disse, lançando


um olhar depreciativo aos cachos loiros claros de Beth. Beth ficou
desconfortável. Phillida obviamente tinha tomado uma forte antipatia
por ela e rejeitou qualquer uma das tentativas de Beth para
conversar.
Por um momento, a Sra. Grayshott hesitou. Então sua
expressão se firmou como se recordasse a importante tarefa que lhe
fora atribuída.

— Como não nos conhecemos antes, Sr. Nyeland, pode haver


alguém aqui esta noite que possa recomendá-lo para mim?

— Perdoe-me, senhora pela minha intromissão. — Ele se virou


para olhar para um grupo de homens conversando perto de um pilar.
— Se você esperar apenas um momento, irei buscar o primeiro
ministro. Tenho certeza que ele vai garantir isso por mim.

Os olhos da Sra. Grayshott se arregalaram. Ela esticou o


pescoço para ver os homens reunidos a vários metros de distância.

Phillida agitou seu leque.

— Mamãe, por favor...

— Não acho necessário — disse a Sra. Grayshott, rígida. Com


um olhar de dor para a filha, ela apresentou o cavalheiro a Phillida e
Beth.

Sr. Nyeland elogiou Phillida pela delicada beleza de seu leque de


penas de galinha. E sorriu para Beth.

— Senhorita Harrismith. Você me daria a honra dessa dança?

Um pouco divertida com a maneira como ele havia confundido a


Sra. Grayshott, Beth aceitou. E se ele estivesse enganando a lady?
Quando ele a olhou, ela pegou o brilho em seus olhos. Ele tinha
modos adoráveis. Mas ela sentiu que a Sra. Grayshott olhava para ele
com grosseria. Não importava, Beth estava ansiosa para dançar e
tentou não notar o olhar de Phillida quando ela se levantou da
cadeira.

Com a mão apoiada no fino tecido escuro de sua manga, o Sr.


Nyeland a levou a parte do salão reservado para danças, e eles
tomaram seus lugares para o primeiro set de cotilhãoii. Com um
discreto olhar de soslaio, ela o estudou secretamente, notando sua
mandíbula forte com a tênue sombra de uma barba, cabelos escuros
e grossos afastados por um conjunto de sobrancelhas largas e
arqueadas, sobre profundos olhos castanhos. Havia um ar de
autoridade sobre ele. Poderia ser o modo como ele se comportava e o
conjunto muscular de seus ombros?

Dançarinos lotavam a longa pista de dança onde a fumaça das


velas, os corpos superaquecidos e os aromas intensificavam-se no
calor dos lustres gêmeos pendurados do teto.

Seu olhar fez uma avaliação completa, enquanto eles esperavam


a dança começar.

— Estou me parabenizando pela previsão senhorita Harrismith.


Se eu tivesse esperado por mais um momento para me aproximar de
você, teria que espancar os cavalheiros como abelhas de uma linda
roseira.

Beth respirou fundo. Ele era um libertino. Ninguém a olhou


assim antes. E Andrew não disse que libertinos falavam elogios a uma
dama? Ela se sentiu vagamente desapontada.
— Você nunca deve afastar as abelhas, senhor, — disse ela,
dando-lhe um olhar severo. — Elas são essenciais para a natureza.
Elas carregam o pólen de flor em flor.

Seus olhos castanhos se arregalaram e um breve sorriso tocou


seus lábios.

— Meu elogio não parece do seu agrado, senhorita Harrismith.


Devo procurar algo mais apropriado?

Beth balançou a cabeça de repente lutando contra um sorriso.

— Oh, mas devo. Acredito que posso produzir outro, — disse ele.
— Deixe-me pensar. Ah sim, de todas as flores, acho melhor uma
rosa...

Beth queria rir.

— Você roubou de Shakespeare, senhor.

— Ah! Injusto! Shakespeare sempre dirá isso muito melhor do


que eu. Mas concordo que minha escolha falha em sua intenção de
descrever minha satisfação em conhecê-la, senhorita Harrismith.

Como ele era absolutamente encantador. Oh, Deus. Ela estava


sucumbindo aos encantos de um libertino quando a temporada mal
começara! O caminho a seguir parecia realmente perigoso. Beth
apertou os lábios e balançou a cabeça para ele.

Ele levantou uma sobrancelha, mas seus olhos estavam


sorrindo.
— Meu Deus, mas que moça suspeita. O que um homem deve
fazer para agradá-la? Por favor, diga. Eu gostaria de ver você sorrir.

— Simplesmente não pise nos meus dedos, senhor, — Beth disse


com uma seriedade falsa. Ela sorriu querendo rir. Ela estava se
divertindo imensamente.

O sorriso de resposta dele era tão contagioso que ela não pôde
deixar de ser atraída por ele. Um olhar para sua boca a fez pensar em
como seria beijá-lo. O pensamento a chocou. Certamente ela era
muito séria para sucumbir a tais sentimentos. Então esse era o efeito
que os patifes tinham sobre as mulheres! Andrew estava certo em
avisá-la!

A orquestra começou a tocar chamando a atenção de repente


para os três casais que pareciam estar esperando. Todos eles deram
as mãos para formar um quadrado. Ela se preparou para se
concentrar e percorrer as escadas, mas Beth estava mais interessada
em conversar com o Sr. Nyeland.

A conversa continuou da mesma maneira brincalhona quanto a


dança permitia. Beth gostou de sua divertida réplica. Ela se viu
observando-o por baixo dos cílios. Ele era de uma construção
poderosa, mas gracioso nos pés. Ela realmente não deveria responder
a ele tão prontamente. Jenny não estava aqui para guiá-la. Ela devia
descobrir mais sobre ele.

— A sua amizade com o duque é de longa duração, Sr. Nyeland?


— Ela perguntou quando eles se reuniram novamente.
— Sim, alguns anos. — Ele parecia um pouco divertido, talvez à
maneira sóbria dela. — Nossos caminhos se cruzam frequentemente
no continente. — Ele não ofereceu mais explicações enquanto a dança
continuava, o que deixou Beth para refletir sobre isso. Andrew passou
algum tempo em Viena em negócios do governo, antes de se casar
com sua irmã, por isso era provável que o Sr. Nyeland conhecesse
Andrew de lá.

— Você gosta de animais, senhor? — Era uma pergunta que ela


pretendia fazer a todos os homens que lhe interessavam. E ela o fez,
apesar de si mesma. Ele estava claramente à vontade com as
mulheres. E ele trabalhou no Ministério das Relações Exteriores. Ele
não seria o homem certo para ela, mesmo que não fosse um libertino.

— Sim, cavalos. Alguns outros nem tanto.

Beth acreditava que todos os animais deveriam ser respeitados,


sejam eles raposas, lontras ou ratos de campo. Mas ela sabia que nem
todos compartilhavam sua opinião.

— E qual não te agrada?

— Uma cabra na fazenda da minha família me detestava quando


eu era jovem. Me agredia sempre que havia uma chance, e se eu não
fosse rápido, me fazia voar.

Ela olhou para ele com desaprovação.

— Eu suspeito que você mereceu. Os meninos jovens costumam


fazer travessuras.
Ele sorriu.

— Isso não é um pouco duro, minha atormentadora?

Ela corou com a descrição dele. Parecia muito inapropriado. Mas


ainda assim, ela ficou bastante impressionada com isso.

— E eu não gosto muito de cobras, — acrescentou. — Eu tenho


um motivo para desconfiar delas.

Eles se separaram novamente para a mudança de par, e ela teve


que esperar para descobrir mais.

— Quando estava na península, — ele começou, quando se


reuniram, — fui picado por uma e fiquei bastante doente por um
tempo.

Então ele esteve no exército e lutou nas guerras napoleônicas.

— Sinto muito.

Ele sorriu para ela.

— Não precisa, pois como vê, me recuperei com todos os


membros intactos.

Ela sorriu.

— Qual regimento esteve, senhor?

— A Cavalaria da Luz.

— Você esteve em Waterloo?

— Eu estive sim.
— Você deve ter ido bem jovem. — Ela imaginava que ele seria
vários anos mais novo que Andrew. Não muito acima dos trinta.

— Entrei aos dezessete.

— Minha nossa. E seu pai concordou?

— Ele não teria dado sua aprovação. Eu deveria ir para Oxford.


Mas ele não estava mais conosco. E eu tinha um fraco por aventura.

Ela e as outras mulheres do set deram as mãos e dançaram para


longe dele. Uma mulher olhou para ela com desaprovação. Beth
achou-a injusta. Ela não estava prestando muita atenção à dança,
era verdade, mas ela conseguia acompanhar. Mais uma vez ao lado
dele, ela esperou que a respiração retornasse, ansiosa para descobrir
mais sobre ele.

— Você se arrepende de não frequentar a universidade?

Ele inclinou a cabeça para mais perto dela, e o cheiro do sabão


de sândalo encheu seus sentidos.

— Fui para Oxford depois que a guerra terminou, com a intenção


de entrar no Ministério das Relações Exteriores.

A dança progrediu, permitindo apenas uma frase arrebatada


enquanto se moviam através dos degraus. Então a música diminuiu
e a dança chegou ao fim. Ela colocou a mão na manga dele,
consciente da força do braço dele debaixo dos dedos. A curiosidade
feroz a consumiu.
— O escritório de Relações no estrangeiro? Suponho que você
conheceu o duque em Viena. Em que circunstâncias? — Eles se
juntaram à fila de dançarinos saindo do set.

Ele sorriu aparentemente divertido com a curiosidade dela.

— Sim, em Viena, senhorita Harrismith.

— Você respondeu apenas metade da minha pergunta, senhor.


— Ela ergueu as sobrancelhas e disse meio zombeteira: — Suspeito
que, como Andrew, saberei muito pouco de você.

Ele riu e seu olhar se fixou na boca dela, fazendo seu pulso
vibrar.

— Você é adepta de brincadeiras, senhorita Harrismith.

Beth sentiu um rubor aquecer suas bochechas, ela mal podia


acreditar que estava se comportando assim. Sua timidez havia
desaparecido.

— Eu cresci com quatro irmãos.

— Ah. Compreendo. Os nomes deles?

— Jarred é o mais velho e tem quase trinta anos. Ele trabalha


no Inns of Court aqui em Londres e espera se tornar advogado. Colin
tem vinte e cinco anos e está na marinha. Charlie tem dezessete anos
e está em Eton, e Edmond tem treze anos e é orientado por meu pai
em York. E depois há minhas irmãs, Jenny, é claro, e Arabella.
— Invejo sua família. Eu não tenho irmãos. Eu gostaria de ouvir
mais sobre eles. Posso pedir a dança do jantar? Eu gostaria do
privilégio de levá-la para jantar.

Ela se sentiu ridiculamente satisfeita com o pensamento de


dançar com ele novamente.

— Certamente. Estou ansiosa por isso, Sr. Nyeland.

Ele colocou a mão levemente sobre a dela, onde repousava em


seu braço enquanto a escoltava até a cadeira.

— Assim como eu.

Eles estavam diante das duas cadeiras vazias.

— Sra. Grayshott deve estar envolvida com amigos. Não gosto


de deixar você aqui sozinha.

— Mal posso me mover no salão de baile da condessa Wellington.


— Beth sorriu para ele. — Ou você sente que estou em perigo, senhor?

— Só de um cabeça de vento chato, ou de um cavalheiro que


procuraria beijá-la no jardim, mas confio em seu discernimento,
senhorita Harrismith. Até a dança da ceia então. — Ele estava rindo
quando se virou.

Beth observou-o atravessar a multidão com aquele passo longo


e confiante, seus cabelos brilhando como ébano na luz lançada pelos
lustres. Tal atração era completamente nova para ela. Eles deveriam
dançar novamente. Ela poderia não sucumbir tão prontamente ao
charme dele no segundo encontro, mas duvidava disso.
Beth sentou-se para esperar a Sra. Grayshott e ficou olhando a
procura dela. Nem a mulher nem a filha estavam à vista.

Enquanto os minutos passavam e não havia sinal de sua


acompanhante, Beth, revistou os convidados, bastante irritada por
ter sido abandonada dessa maneira. Onde estava Phillida? Ela não a
tinha visto na pista de dança, mas isso não era surpreendente, pois
havia vários sets, os dançarinos conversando, aguardando a sua vez.
Ela pode estar em algum lugar com a mãe? Mas o que as afastaria do
salão de baile?

Temendo que ela aceitasse mais danças, Beth foi forçada a


deixar sua cadeira para procurar a moça. Mas ela só deu alguns
passos quando um cavalheiro se aproximou dela.

— Lorde Ramsey, senhorita Harrismith. Eu tenho a esperança


de que você aceite minha mão para o set de quadrilha.

Ele se curvou. Aturdida, Beth fez uma reverência enquanto se


perguntava o que fazer.

— Minha acompanhante está ausente no momento, meu lorde.


— Beth olhou novamente para os convidados. — Temo que deva
esperar o retorno da lady.

— Ah, mas não há necessidade. — Ele apontou para a fileira de


janelas francesas altas no outro extremo do salão. — Sra. Grayshott
está em profunda discussão com minha irmã e me enviou para falar
com você.
Quão diferente era Lorde Ramsey do Sr. Nyeland, que, apesar de
bem vestido, não tinha nada de especial nele. Esse cavalheiro era
belo, com os cabelos enrolados na testa estilo Brutus, a gravata
amarrada em um desenho magistral. O tecido verde de seu casaco
combinava com seus olhos, fazendo-a se perguntar se aquilo havia
sido deliberado.

Beth ficou na ponta dos pés, procurando sua acompanhante por


cima das cabeças dos convidados. Impossível, havia muitas pessoas
circulando, e a Sra. Grayshott não era alta. Beth estava bastante
chocada com tratamento da lady. Não parecia ser o caso de sair e
deixá-la ser atacada de maneira tão descuidada. Não quando foi
escolhida pelo duque para cuidar dela. Mas Beth sabia muito pouco
sobre como as coisas eram feitas para questioná-lo. O cavalheiro
esperou, sorrindo por sua resposta.

— Sim, eu vou dançar com você, senhor. — Ela pegou o braço


dele.

Eles se juntaram ao conjunto da dança, Lorde Ramsey sorriu


benignamente para ela. Ela ficou impressionada com o quão diferente
do Sr. Nyeland ele era. Ele não flertou, nem tentou atraí-la para uma
conversa. Ele dançou com graça estudada, e desejando se comportar
bem, entregou-se a isso.

— Infelizmente, esta deve ser minha última dança, pois estou


prestes a partir para Windsor, — disse Lorde Ramsey.
Quando ele devolveu Beth à cadeira, a Sra. Grayshott ainda não
estava sentada. Beth mordeu o lábio em consternação.

— Parece que a Sra. Grayshott ainda está com minha irmã, —


disse Ramsey parecendo envergonhado.

Como deveria ser, pensou Beth. Era um péssimo jeito de sua


irmã e a Sra. Grayshott.

— Vejo que terei que ir encontrá-la — Beth se moveu, quando


um lacaio se aproximou deles. Ele estendeu uma nota para ela. —
Isso veio para você, senhorita Harrismith.

— Isto é para mim? — Beth esperava que o bilhete fosse de sua


acompanhante ausente. Desdobrando, ela examinou rapidamente,
enquanto o lorde esperava educadamente. Chocada, ela releu a
missiva apressada de Andrew com crescente ansiedade. — Isso me
preocupa sobre minha irmã. Ela está ferida, um acidente de
carruagem. Eles estão em um endereço em Twickenham. — Ela se
virou para o lacaio, com o coração batendo rápido. — Quem trouxe
essa nota? Há uma carruagem esperando para me levar até lá?

— Não, senhorita. — Ele balançou a cabeça um pouco confuso.


— O sujeito foi embora depois que foi entregue a nota na porta da
frente.

Na breve nota, Andrew não dava instruções. Ele queria que ela
esperasse até que outra palavra fosse enviada? Ela não conseguiria.
Ela se virou para Lorde Ramsey, que permaneceu ao seu lado.
— Eu devo ir até minha irmã. — Ela olhou loucamente, mas não
via sinal da Sra. Grayshott ou de sua filha. Nem a anfitriã estava à
vista.

Beth correu de volta para a cadeira, pegou o xale e a bolsa e


correu pela multidão com o lorde acompanhando-a.

— Para onde eles foram? — Ela murmurou. — Eu devo contratar


uma chaiseiii.

Beth alcançou os assentos perto das portas francesas. A Sra.


Grayshott não estava sentada ali nem no terraço. Ela fez uma careta.

— Agora, para onde ela foi?

— As damas estavam discutindo sua paixão mútua por


jardinagem. — Lorde Ramsey parecia levemente se desculpar. — Eu
me pergunto se elas poderiam ter entrado nos jardins?

— Não tenho tempo para procurar nos jardins por elas. — Beth
ficou mais irritada a cada minuto. — Vou ter que deixar um bilhete
para ela.

Do bolso do casaco, Lorde Ramsey pegou um bloco e um lápis.

— Permita-me.

— Você é muito gentil, senhor. — Muito perturbada, Beth correu


para uma mesa de console encostada na parede e se sentou na
cadeira, rabiscou um bilhete apressado, avisando a senhora do
acidente que havia causado sua partida e pedindo desculpas à
anfitriã. Fervendo de impaciência, ela procurou um lacaio.
— Senhorita Harrismith. — Lorde Ramsey colocou uma mão
calmante em seu braço. — Se você me permitir mesmo em um
conhecimento tão curto, permita-me levá-la à sua irmã. Minha
carruagem aguarda. Como mencionei, estou prestes a embarcar em
uma viagem a Windsor.

Desesperada, Beth agarrou-se a esta solução.

— Que gentil — ela murmurou, ainda procurando ao seu redor


a mulher rude que a abandonou. Ela não conseguia entender seu
comportamento, nem a nota. Jenny e Andrew certamente teriam
chegado a Castlebridge algumas horas atrás. Por que eles estariam
em Twickenham? — Eu não posso imaginar... — Ela colocou as mãos
nas bochechas. — Oh, podemos ir agora, meu lorde? Vou dar este
bilhete ao lacaio.

— Permita-me. Vou me juntar a você na porta da frente. — Ele


pegou a nota dos dedos tensos dela e desapareceu entre os
convidados.

Lorde Ramsey juntou-se a ela alguns momentos depois,


enquanto vestia a capa e as luvas da noite.

— Minha carruagem aguarda a seu prazer, senhorita


Harrismith! — Ele disse com um gesto para a carruagem preta parada
na entrada, a porta da carruagem aberta, os degraus abaixados.

Beth respirou fundo o ar fresco da noite. Não se importando com


a forma como esse comportamento seria visto pela ton, ela permitiu
que ele a ajudasse a entrar, onde se sentou nos bancos de veludo cor
de vinho. A carruagem de Ramsey era elegante, mas as paredes de
seda estampadas haviam desaparecido, as almofadas levemente
desgastadas.

Ela olhou pela janela enquanto passavam pelos portões para a


estrada. Mesmo que causasse fofocas por um mês, aos domingos, não
havia alternativa. Ela alisou as luvas sobre os dedos nervosos.

— Eu espero que isso não leve você muito longe do seu caminho?

— De modo nenhum. Apenas estou muito satisfeito.

Ele tirou o chapéu e recostou com um sorriso nos olhos. A


carruagem balançou a noite toda. Beth ficou em silêncio, com a
garganta muito apertada para conversar. Ela sentou-se rigidamente
segurando sua bolsa. Jenny estava gravemente ferida? E o que dizer
de William?
Dois
FINALMENTE CAPAZ DE desculpar-se com os homens que cercavam
Lorde Liverpool, Marcus fez o seu caminho através da multidão em
busca de Srta. Harrismith. A dança do jantar estava prestes a ser
tocada. Ele havia prometido a Andrew em manter um olho em sua
irmã na lei, mas por confiança por que não tinha sido necessário. Ela
parecia uma jovem mulher com uma boa cabeça nos ombros. E era
uma cabeça muito bonita, com seus cabelos dourados e olhos azuis
como um céu de verão. Surpreso com o pêssego perfeito que Andrew
estava escondendo dele. Ele não deveria ficar tentado a elogiá-la
novamente. Ela franziu o cenho para ele, o que não era a resposta
usual que ele tinha quando procurava encantar uma dama. Ela o
surpreendeu. A maioria das debutantes tendia a desviar o olhar do
dele, mas ela o estudara francamente, sua boca expressiva fazendo-o
contemplar pensamentos inadequados.
A Srta. Harrismith e sua acompanhante estavam longe de seus
assentos, a pista de dança estava vazia, já que ainda não havia tido
uma chamada para dança do jantar, ele foi procurá-la nas
antecâmaras. Ao atravessar a galeria, no corredor abaixo, a voz de
uma mulher foi levantada à beira da histeria. Curioso, Marcus desceu
a escada. Ele reconheceu a mulher antes de chegar à escada do
fundo: a Sra. Grayshott, dirigindo-se ao mordomo em tons alto.

Ele foi até ela.

— Posso ajudar, senhora Grayshott?

Ela se virou e olhou para ele.

— Aqui está o cavalheiro! Sr. Nyeland! Onde está a senhorita


Harrismith?

— Não faço ideia. Por quê? Você é incapaz de encontrá-la?

— Você não saiu com ela?

Marcus levantou as sobrancelhas.

— Não, eu certamente não.

— Não foi você quem a levou embora? — Ela perguntou,


respirando pesadamente.

Ele a olhou confuso.

— Não.

A mulher estendeu a mão e segurou firmemente sua manga.


— Você poderia me ajudar, senhor Nyeland? Esses servos
estúpidos não podem me dizer nada! Estou no fim da minha
inteligência. A senhorita Harrismith parecia ser uma coisa calma.
Mas meu Deus, tão astuta.

Ele afastou a mão dela.

— Você deve me explicar tudo, senhora Grayshott.

Ela colocou as mãos nas bochechas avermelhadas.

— Eu falhei no meu dever! O que o duque pensará de mim? —


Ela acenou com a cabeça violentamente, as penas em sua touca
batendo como asas, enquanto sua filha carrancuda permaneceu
muda ao seu lado.

Marcus puxou a mulher angustiada para uma cadeira e ordenou


ao lacaio que lhe trouxesse um copo de vinho madeira. Com medo
dela desmaiar, ele tomou seu leque e aplicou-o vigorosamente no
rosto dela, abanando.

— Agora, por favor, diga-me exatamente o que aconteceu.

— Foi depois que você e a Srta. Harrismith dançaram. — A Sra.


Grayshott olhou para ele. — Você não a devolveu para mim depois,
senhor.

— Mas, senhora, eu... — Marcus começou.

O rosto da Sra. Grayshott ficou vermelho sob o turbante roxo.


Ela levantou uma mão imperiosa.
— Um lacaio trouxe um bilhete da Srta. Harrismith, explicando
que ela havia deixado o salão para encontrar um cavalheiro nos
jardins, perto da fonte. Bem, é claro que eu não poderia permitir isso!
O duque ficaria com tanta raiva! Eu saí correndo. Eu não a achei,
Phillida?

— Sim, mamãe. — A filha, Phillida, afundou no assento ao lado


dela com uma expressão de aborrecimento no rosto. — Devo pedir
sais de cheiro?

Ela bateu na mão da filha.

— Precisamos encontrar a senhorita Harrismith antes que isso


se torne um escândalo assustador, que sem dúvida cairá sobre mim!

— A dança levou a Srta. Harrismith e eu até o outro extremo da


sala. Passou algum tempo antes de encontrarmos o caminho de volta
ao seu lugar. Você estava ausente, no entanto. Você não pensou em
nos procurar no chão, Sra. Grayshott?

— É claro, — disse ela, indignada. — Mas os bailes da condessa


são sempre uma multidão. — Ela lançou-lhe um olhar desconfiado.
— A nota afirmava claramente que Elizabeth estava no jardim! — A
mulher acreditava que ele tinha sido o libertino que levou a senhorita
Harrismith lá fora?

— Onde você a procurou? — Marcus insistiu quando um


sentimento inexplicável de inquietação apertou seus ombros.
— Em toda parte! Os caminhos do jardim são mal iluminados.
Que falsa economia! Um criado nos acompanhou com um lampião.
Mas, mesmo assim, tive medo de cair e quebrar o tornozelo. — Ela
respirou trêmula. — Demorou uma hora! Existem vários buracos
feitos por água!

— E você não encontrou sinal da senhorita Harrismith?

— Não! Ela também não estava na sala de espera para damas,


nas outras salas de recepção, na sala de cartões ou na sala de jantar.
— Ela agarrou a manga dele novamente, mas Marcus, temendo pelo
tecido, se antecipou e se afastou um pouco.

— Ah, aqui está o lacaio com o vinho Madeira, — disse ele,


imaginando o que diabos teria acontecido com a senhorita
Harrismith. Ele também havia falhado em seu dever.

A Sra. Grayshott bebeu meio copo, o que pareceu acalmá-la. Ela


apontou para um lacaio que esperou pacientemente por uma chance
de falar.

— Este criado me garante que a senhorita Harrismith não está


na casa!

O olhar de Marcus passou por seu rosto.

— Todas salas foram revistadas?

— Sim, senhor, — disse o lacaio. — A moça não pôde ser


encontrada.

— E você não viu a senhorita Harrismith sair de casa?


— Eu não estava de serviço na porta, senhor, — disse o lacaio.
— Esse seria o mordomo, ou o lacaio, Charles, mas eles foram
chamados para o andar de cima.

Talvez ela tivesse sido esquecida em algum canto envolvida em


alguma conversa. O fato da nota ter sido destinada a enviar a
acompanhante de Beth para uma missão tola era uma grande
preocupação para ele.

— Mas a Srta. Harrismith não teria motivos para deixar a baile


tão cedo esta noite, — disse Marcus. — Ela não lhe deu uma pista
dos sentimentos dela?

— Claro que não! — A Sra. Grayshott olhou para ele. Ela jogou
o copo vazio no lacaio e se levantou. — A senhorita Harrismith
dificilmente me levou na confiança! — Ela virou-se. — A condessa
Wellington deve ser informada disso.

— Acredito que o duque apreciaria sua discrição nesse assunto,


senhora Grayshott, — disse Marcus gravemente.

— É? — Ela empalideceu. — Sim, talvez você esteja certo,


senhor. Mas e se não encontrarmos a senhorita Harrismith?

— Senhorita Harrismith deve estar aqui em algum lugar. Por


favor, deixe o assunto em minhas mãos, Sra. Grayshott. Se você me
der licença, enviarei um criado para revistar os quartos e falar com
os cavalariços. Certamente saberão se a Srta. Harrismith partiu em
uma carruagem. O lacaio que trouxe a nota deve ser interrogado.
Qual era ele, lembra?

— Meu Deus, não, — disse a Sra. Grayshott, irritada. — Eles


todos parecem iguais para mim. Mas não farei nada e o deixarei
inteiramente em suas mãos, senhor.

Com uma reverência, Marcus a deixou satisfeito por seu aviso a


ter subjugado, pelo menos por enquanto.

Beth sucumbira ao flerte de um libertino? Ele caminhou para


fora, gostando disso cada vez menos. Não apenas porque Andrew
havia pedido para ficar de olho em Beth, mas porque ele havia sido
atraído por ela. Ele estava ansioso para dançar com ela novamente e
levá-la para a sala de jantar. Ela era o epítome de uma jovem
estreante, um rosto novo, mas não brincava ou corava. Ele tinha visto
um brilho de humor e inteligência em seus olhos adoráveis e quando
um sorriso curvou seus lábios, ela ficava completamente sedutora.
Embora ele não pudesse ter certeza por ser um conhecimento tão
breve, achava impossível acreditar que ela fugisse com um amante.
Certamente, se essa era sua intenção, ela teria dado alguma desculpa
para deixá-lo antes que ele a devolvesse ao seu lugar depois do baile?

As notícias se espalhariam em breve, e as fofocas estariam em


vigor. Isso arruinaria as chances da Srta. Harrismith de um
casamento decente. Mas era mais com a segurança dela do que a
reputação que o preocupava. Quem quer que a tenha convencido a
deixar o salão com ele não poderia ser um sujeito decente que
tentasse reivindicar sua mão.

Do lado de fora, um cavalariço de libré ajudava uma dama e um


cavalheiro com sua carruagem. Marcus esperou cheio de
impaciência. Andrew mataria esse homem quando soubesse quem ele
era, mas Marcus gostaria de colocar as mãos no libertino primeiro.
Suavizá-lo um pouco. Um músculo pulsou em sua mandíbula. Assim
que o cavalariço ficou livre, Marcus o chamou ao seu lado.

BETH SENTAVA-SE RIGIDAMENTE nos bancos quando a carruagem


deixou as ruas de Mayfair para trás. Lorde Ramsey pediu que ela não
se preocupasse, e que tinha certeza de que ela encontraria sua irmã
com à saúde restaurada. Suas palavras falharam em tranquilizá-la.
Beth não pôde responder além de um aceno de cabeça. Quieta e em
silêncio, ela apertou as mãos no colo, a respiração rápida, o estômago
amarrado.

Logo, a carruagem deixou Londres e seguiu em direção a


Richmond em tenso silêncio. Pareciam séculos antes de passarem
pela vila de Richmond. A carruagem chocou-se sobre uma ponte de
pedra no rio Tamisa, onde o luar atravessava uma faixa brilhante
através das águas negras. Eles viajaram através de Twickenham,
passando pelos portões ornamentados de belas mansões situadas
entre as árvores. Apenas o luar e os lampiões da carruagem
mostravam o caminho.
Finalmente, a carruagem girou e entrou através de um par de
portões de ferro forjado e abertos ao longo de uma calçada
esburacada por uma avenida de carvalhos envelhecidos e retorcidos.
Beth sentou-se à frente enquanto as nuvens se afastavam da lua.
Heras se agarravam nos troncos das árvores. Ela abaixou a janela.
Os jardins corriam em direção ao rio, onde as águas iluminadas pela
lua brilhavam entre as árvores. Os cheiros que flutuavam do rio e
subiam do chão úmido e da vegetação apodrecida a deixavam um
pouco enjoada. A grama estava alta até a cintura, sinal de que não
era cortada há anos, aprofundava seu medo de que eles tivessem
chegado ao endereço errado. Ela respirou fundo o ar frio.

— Devemos ter cometido um erro, — disse ela à Lorde Ramsey.

Ele não respondeu.

A luz brilhava através de uma sebe rebelde de teixo, quebrada.


A carruagem continuou ao longo do caminho de cascalho pelos
jardins abandonados, que eram um emaranhado de ervas daninhas
e plantas lenhosas.

— Ah. Logo a veremos. — Lorde Ramsey se inclinou para frente


para olhar pela janela.

Beth ofegou. Uma antiga casa de três andares apareceu diante


deles. Uma torre gótica projetava-se no céu a partir de um edifício em
uma extremidade da habitação. Ela se virou para o homem ao seu
lado.
— Isso deve ser um engano, — disse ela novamente. — Onde
está a carruagem do duque?

O sorriso de Ramsey era frio quando ele se inclinou para dar um


tapinha na mão dela. Sua maneira imperturbável desmentia a
expressão em seus olhos, que eram animados pelo interesse.

— Nos estábulos, eu imagino.

Os cavalos pararam diante da casa, onde as janelas eram


brancas e espelhadas baixas. Ela avistou a luz das velas
tremeluzentes em uma das janelas superiores. Alguém aguardando
sua chegada.

Os cascos dos cavalos e o barulho das rodas da carruagem no


cascalho certamente devem tê-lo alertado, mas a porta permaneceu
fechada e nenhum cavalheiro chegou para levar os cavalos.

Que estranho que não houve resposta da casa. Beth vestiu a


capa da noite.

— Por que o duque e a duquesa seriam trazidos aqui?

— É um mistério. Mas provavelmente há uma explicação direta


nos esperando. Vamos entrar e descobrir, não é? — Ramsey abriu a
porta da carruagem e pulou. Depois de descer os degraus, ele
ofereceu sua mão.

Beth ficou parada na entrada e olhou em volta. Estava


mortalmente quieto, o ar pesado com uma tempestade iminente. Ela
olhou para o cocheiro debruçado o seu assento, em seguida, com um
arrepio nervoso, pegou o braço de Ramsey. Ele a conduziu pelo
caminho.

Antes de chegarem à varanda, a carruagem se afastou.

Surpresa, ela se virou para Ramsey.

— Ele não deveria esperar?

— Não é bom para os cavalos. Ele vai voltar dentro de uma hora
mais ou menos.

Ela hesitou, olhando para ele. Seu tom não a tranquilizou. No


meio do escuro, ela não conseguia ler a expressão dele. Ela deveria
confiar nele? Como ela não poderia quando a nota declarou
claramente esse endereço? Ela vira o nome em uma placa de latão ao
lado dos portões de ferro forjado. Casa Whittemore. Ansiosa por ver
Jenny e Andrew, enrolou a capa da noite e caminhou até a porta em
arco de ferro, aliviada por ver a luz de lamparina brilhando através
dos painéis de vidro.

Ramsey bateu na aldrava de ferro. O som ecoou oco por dentro


e os minutos se passaram. Ninguém veio. Ele alcançou a trava. A
pesada porta de carvalho se abriu com um rangido feroz e um cheiro
de mofo correu para fora.

— Vamos entrar?

Beth assentiu, ansiosa por encontrar sua irmã e falar com


Andrew.

A mão de Ramsey em seu braço a conduziu para dentro.


Eles entraram em um salão sombrio e pavimentado de pedra.
Havia uma lamparina em uma longa mesa do refeitório, o pavio estava
baixo, mal iluminando o imponente espaço de dois andares. Várias
cadeiras de espaldar alto foram colocadas ao longo das paredes
decoradas com armas antigas e espadas cruzadas. A luz de lamparina
brincava sobre uma armadura de sentinela silenciosa ao pé da escada
de carvalho preto. Beth engoliu em seco, de repente a garganta
apertada. Ela recuou quando um braço de metal reluzente parecia se
mover. A parte de trás de seu pescoço formigava, mas então ela
percebeu que era apenas um truque da luz. Teias de aranha
flutuavam na brisa dos cantos quando Ramsey fechou a porta da
frente atrás deles.

— Jenny? Andrew? — Beth chamou das escadas. Ninguém


respondeu. Ela se virou para Ramsey. — Onde estão os criados? O
dono desta casa não está aqui? Poderia haver algum engano nisso?

Ramsey tirou o casaco e pendurou-o em um gancho. Ele jogou


o chapéu e as luvas em cima da mesa.

— Não vejo como poderia haver. O endereço estava claramente


indicado na nota.

— Gostaria de ler novamente. — Beth estendeu a mão. Ele não


havia devolvido a nota para ela.

Ele procurou nos bolsos e depois deu de ombros.

— Eu não dei a você?


Ela balançou a cabeça, impaciente.

— Acho que devo ter deixado na mesa do baile. Vi a luz das velas
nas janelas do andar de cima quando descemos da carruagem. — Ele
estendeu a mão para a capa dela. — Permita-me.

Beth lutou contra o instinto de virar e correr. Ela estava sendo


tola. Certamente Ramsey estava certo. A nota havia indicado
claramente esse endereço. Ele não saberia mais do que ela. Ela
deveria ser grata a ele por tê-la acompanhado e não ter fugido e a
deixado sozinha aqui. Ele era seu único aliado, mas a maneira
encantadora que adotara no salão de baile havia desaparecido há
muito tempo. Suas palavras eram nítidas e havia um olhar de
impaciência em seu rosto. Talvez ele estivesse irritado e tão surpreso
com isso quanto ela.

Beth deslizou a capa dos ombros para as mãos dele, em seguida,


colocou a bolsa sobre a mesa.

Ele adicionou a peça à sua capa.

— Vamos subir?

Ela apertou outro tremor. Irritada consigo mesma, ela ignorou o


forte desejo de correr para fora e para longe. Com uma mão, ela
levantou um pouco as saias, e eles subiram a escadaria sinuosa no
escuro, os velhos degraus protestando sob seus pés. Tapeçarias
desbotadas e pinturas a óleo escuras demais para decifrar estavam
penduradas nas paredes. O cheiro de poeira e sujeira a dominava a
cada respiração angustiada, o corrimão de madeira esculpido com
dragões e criaturas horríveis, frias e sem resistência sob os dedos
enluvados. A antiga casa havia sido tristemente negligenciada. Um
som vazio e assustador os seguiu ao longo da galeria. O acidente
aconteceu aqui perto desta casa e este era o único recurso que eles
tiveram? Parecia estar situado em acres de terra, sem casas por perto.
Mas a possibilidade não a tranquilizou. Onde estava Jenny? E seus
servos?

— Talvez minha irmã tenha se recuperado e o duque a tenha


levado para casa, — disse Beth. — Eles não esperavam que eu viesse
aqui.

— Vamos ver, — foi tudo o que Ramsey ofereceu em resposta.


Ele não era o homem caloroso e amigável que ela conhecera no baile.
Por que ele não expressou tanta preocupação e confusão como ela?

Ele abriu uma porta. A atmosfera na sala de estar era opressiva.


Talvez fossem as pesadas vigas escuras ou os painéis de carvalho nas
paredes. A sala estava mal iluminada por uma vela que lançava
sombras escuras nos cantos. Estava úmida e fria. Havia toras na
lareira enorme de pedra.

— Você deve estar exausta, senhorita Harrismith. Sente-se e vou


ver se consigo encontrar alguém.

Ele saiu e fechou a porta. Beth tirou as luvas. Ela odiava ser
deixada sozinha, apesar dos modos desapegados de Ramsey, que
começavam a preocupá-la. Ela permaneceu de pé. Tinha pouca
inclinação para se sentar. A madeira estava entupida de poeira, a
cadeira surrada. Beth chamou o nome da irmã novamente e depois o
de Andrew. Sua voz ecoou de volta para ela e foi recebida com o
silêncio.

Jenny e Andrew não estavam aqui. Ela não acreditava que eles
estiveram aqui. Ela se virou para sair da sala. Ela deveria encontrar
Ramsey e insistir para que ele a levasse de volta ao baile. Mas quando
ela tentou abrir a porta, descobriu que ele a trancara.

Beth gritou e sacudiu a trava. Ramsey a enganara. Mas com que


finalidade? Parecia extraordinário que ele se esforçasse para destruí-
la. E, no entanto, que outro motivo poderia haver? O medo apertou
seu peito. Ela bateu na porta e gritou, com medo de que sua voz mal
se registrasse além das paredes sólidas. A casa velha permaneceu em
silêncio, exceto por um galho de árvore que raspava a janela gradeada
e de bichos arranhando atrás das paredes.

Beth engoliu suas lágrimas. Ela estava determinada a não


chorar. Ela correu em direção a um conjunto de portas no final da
sala, mas quando as alcançou, Ramsey destrancou a porta
novamente. Ele entrou e olhou para ela com um sorriso.

— Você desperdiça a respiração gritando, — disse ele. — Não há


ninguém aqui para ajudá-la. — Ele fechou a porta e girou a chave na
fechadura.

O som a aterrorizou.
— O que você quer? Por que você me trouxe aqui? — Beth se
afastou.

Ramsey foi até o aparador. Ele pegou a jarra de cristal e,


removendo a tampa, derramou um líquido âmbar em dois copos.

— Um pouco de xerez para aquecê-la?

— Onde está minha irmã? — Beth perguntou odiando que sua


voz tremesse.

Ele encolheu os ombros.

— Em Castlebridge, eu imagino.

Ela ficou mole de alívio.

— Então Jenny não está machucada. Nem William?

— Eu não acredito que estejam.

Eles estavam a salvo. Beth endireitou os ombros, determinada


a encontrar uma maneira de lidar com esse homem. Ele teria
fraquezas. Um homem que seguisse esse caminho poderia ser
facilmente distraído.

— Não é tarde demais para me levar para casa. Não direi nada
sobre isso.

Ele riu.

— Você acha que eu acreditaria nisso?

Ela o olhou friamente, os dedos se fechando, querendo atingi-lo.


— Por que você me trouxe aqui? — Ela temia que a resposta dele
a aterrorizasse. Mas ela deveria saber com o que estava lidando.

Ele sorriu enquanto passeava e ofereceu a ela um copo. Quando


ela ignorou, ele colocou o copo na mesa.

— Pena, um pouco de vinho facilitaria as coisas. Seja paciente,


Elizabeth. Não há nada que você possa fazer. Você voltará para casa
com segurança amanhã. Você tem minha palavra.

Ele esperava que ela aceitasse sua palavra? Ele deveria pensar
que ela era louca.

— Pela amanhã? Por quê? Eu não entendo. — Talvez ela devesse


bancar a tola e esperar uma chance de fuga. Sua voz e mãos tremiam.
Ela as juntou e olhou furtivamente para a porta. Ele pegou a chave?

Mas Ramsey adivinhou seus pensamentos. Ele levantou a chave


antes de guardá-la novamente.

— Se você não resistir, a noite será boa para você.

Boa? Ele planejou se forçar a ela. Ela olhou para ele. Não era
por paixão que o levou a isso, ela tinha certeza. Não havia luxúria em
seu olhar. Gelada, ela se afastou dele, seu olhar percorrendo a sala.
Como o salão, as paredes eram cobertas de lambris. Um friso
ornamentado estava no topo de cada painel. Para onde as portas do
outro lado da sala levariam? Elas estavam trancadas? Se ela corresse
para elas, ele certamente a seguraria, e ela não queria as mãos suas
nela.
— Pelo menos me diga o porquê, — disse ela, com a garganta
áspera e seca.

Lá fora, o vento aumentou, gemendo sobre a casa.

Ignorando-a, Ramsey foi até a lareira. Ele golpeou um cone


contra uma pedra de isca e acendeu o fogo. Agitando as chamas
ardentes com o atiçador, ele jogou mais madeira.

— Pronto, — disse ele, levantando-se e espanando as mãos com


satisfação. — Muito mais aconchegante. — Com um olhar de
repugnância ao sofá, ele se sentou e cruzou as pernas. — Você
descobrirá tudo no devido tempo. — Ele pegou o copo e bateu com a
mão na almofada do sofá ao lado dele. — Venha e junte-se a mim.
Podemos ter um agradável prazer juntos.

Beth permaneceu onde estava.

— Você escapou de Bedlam?

Ele fez uma careta.

— Cuidado com o que você diz. Minha mente é tão boa quanto
o som de um sino e sou bastante lúcido. Eu planejei isso
perfeitamente.

— Planejou o quê? Esta casa é sua?

— Sim. — Sua boa aparência e sua maneira encantadora a


enganaram completamente. Ela podia ver agora que havia algo cruel
e astuto no formato da boca dele. O brilho estranho em seus olhos
claros a enervou. Um olhar de um homem maníaco convencido de
que ele havia conseguido seus objetivos.

— Lugar medonho, não é? Deve ser derrubada, pedra por pedra.


Talvez seja. Há fantasmas aqui, sabe. — Seus olhos se arregalaram e
ele estremeceu. — A casa pertencia a uma tia-avó que recentemente
a legou para mim. — Ele recuperou a compostura e encolheu os
ombros com um sorriso malicioso, e ela se perguntou como o havia
achado atraente. — Mas, por enquanto, e entanto, tem seus usos.

Se Ramsey era um libertino, ele não era do tipo que Andrew


tinha lhe falado. No baile, ele fora infalivelmente educado. Ele não
havia flertado com ela durante a dança, como o Sr. Nyeland. Se ele
tivesse a elogiado, ela teria desconfiado dele. Ele a havia enganado
completamente, sua maneira cortês e preocupada, mascarando um
ódio subjacente, pelo que ou quem ela não conhecia. Mas ela sentia
que agora, que a tinha em seu poder, não via razão para escondê-lo.
Seus dedos se enrolaram nas palmas das mãos, formando um punho.
Observando a violência nele, ela temia por sua vida. Seu olhar
frenético procurou na longa sala de estar um meio de fuga. Às vezes,
essas casas antigas tinham painéis falsos. Se ela conseguisse que ele
a deixasse em sozinha por um tempo, ela poderia descobrir um lugar
para se esconder.

— Você escreveu a nota. Por quê? — Ela ficou olhando para ele.
— Por que você me trouxe aqui?
— Não tenho nada contra você, Elizabeth. Você é apenas um
meio para um fim. Nós temos o resto da noite. Podemos gastá-lo
prazerosamente. Afinal, sua reputação sofreu danos, se fizermos a
ação ou não. Você também pode aproveitar nosso tempo juntos.

— Aproveitar! — Incapaz de esconder seu ódio, ela estremeceu.


Ela o olhou com repugnância, a raiva contra seu medo. — Contigo?
Prefiro passar a noite com uma cobra venenosa.

De repente, ela se lembrou de sua conversa com o Sr. Nyeland


sobre cobras. Ela desejou que eles tivessem dançado novamente. Que
ele a levasse para jantar. Uma lembrança para a qual ela poderia
voltar quando as coisas ficassem difíceis demais para suportar.

Do lado de fora, no corredor, o relógio bateu a hora, lembrando-


a da noite que passava e, com ela, uma chance de escapar e retornar
a Londres antes que se espalhasse a notícia de que ela havia
desaparecido. Na lareira, as chamas pegaram fogo, lambendo a
madeira com um barulho alto.

Ramsey bebeu o resto de seu vinho.

— Um fogo também foi aceso no quarto.

— Então por que você não vai lá e me deixa aqui?

Ele olhou para ela, seu olhar se endurecendo. Até onde ela
poderia ir antes que ele revidasse? Ele a machucaria?

— Não seja ridícula. Você ficará muito mais confortável no


quarto, comigo.
— Me deixe ir. — Para sua consternação, sua voz soou
estridente. Ela lutou para se firmar. Este louco não deveria ver seu
medo. Ela levantou o queixo. — Desejo voltar para Londres.

— Minha carruagem foi embora, lembra? E duvido que seja uma


boa ideia, Elizabeth. Sua ausência será notada. A Sra. Grayshott
estará ocupada contando a todos sobre como você foi a um encontro
selvagem nos jardins e fugiu com seu amante. — Com um sorriso, ele
enfiou a mão no bolso. — Ah, a propósito, aqui está seu bilhete para
a Sra. Grayshott. Eu devo ter esquecido de entregá-lo.

O coração de Beth afundou. Seus dedos coçavam para dar um


tapa nele, para arranhar com as unhas aquele rosto presunçoso.

— Você passou por muitos problemas. Eu insisto que você me


diga o porquê.

— Você faz muitas exigências para alguém em sua posição. —


Ele colocou a nota de volta no bolso do colete e olhou para ela
desapaixonadamente. — Quão impaciente você é. Se você se
comportar, não sofrerá indevidamente. Veja, como sou gentil com
você? Eu te dou uma escolha. — Ele tirou um baralho de notas do
bolso e começou a embaralhá-las. — Vamos jogar faro juntos. Se você
vencer, eu a mandarei de volta a Harrow Court pela manhã, intocada.
Se você perder, passará o resto da noite comigo. Você não ficará
desapontada, garanto.

— Você certamente será. — Beth olhou para ele. — Se você me


tocar, ficarei doente.
Imperturbável, Ramsey acenou com um dedo.

— Começaremos nosso jogo. E então vamos ver.

Beth colocou a mão na barriga.

— Eu preciso do um momento a sós!

Ele olhou para ela com desgosto.

— Muito bem. Mas sem truques. Caso contrário, minha oferta


será retirada. E não serei gentil com você. — O olhar dele correu sobre
ela da cabeça aos pés. — Devo dizer que foi um prazer encontrar a
irmã na lei do duque e ela ser tão formosa. Não será uma tarefa difícil
passar a noite com você.

— Sozinha, Ramsey! — Beth exigiu, as mãos nos quadris para


esconder seus tremores.

Ele ficou de pé.

— Oh, muito bem.

— Você não parece ter considerado como o duque vai lidar com
isso, — disse ela quando ele destrancou a porta. — Andrew tem
alguns amigos perigosos. — Ela pensou no marquês de Strathairn,
que havia ajudado Andrew uma vez antes. Mas ele não estava aqui
para ajudá-la. Ela deve encontrar uma maneira de ser mais esperta
que esse homem.

— Seria sensato para Harrow não retaliar.


— Claro que ele vai! Você está vivendo no paraíso dos tolos. —
Sua ameaça subjacente a fez tremer. O que esse diabo planejou?

— Vamos ver quem lida melhor com quem. — Ele a empurrou


pela porta. — Apresse-se. As horas passam e estou ansioso para
passar um tempo com você.
Três
— Eu ME LEMBRO BEM o suficiente, — disse o cavalariço da
Condessa Wellington em resposta à pergunta de Marcus. —
Tentadora moça, mas parecia um pouco ansiosa!

— De que maneira?

— Ela estava nervosa, à beira de um colapso.

Então Beth não estava ansiosa para ficar sozinha com esse
homem. Ou ela já deveria ter começado a se arrepender de sua
decisão?

— E o cavalheiro? — Marcus insistiu.

— Não deu seu nome, mas quando o olhei, — ele fez uma careta
— apertou os punhos.

— E a carruagem?
— Era preta, sem brasão no painel da porta. Achei estranho que
nenhum cavalariço ou lacaio estivesse com eles. Apenas o cocheiro.
Surpreendentemente, o cocheiro também era sombrio.

Uma ligação, Marcus pensou, ficando mais desconfortável a


cada minuto.

— E o cavalheiro? — Ele solicitou. — Lembra-se de algo sobre


sua aparência?

O cavalariço cansado limpou a testa com um pano.

— Aceitável. Do tipo que as senhoras gostam. Não me lembro de


muito mais, senhor. Foram algumas horas muito agitadas e com os
Lordes da ton ansiosos para suas camas. E não são aqueles que
gostam de esperar também.

Um libertino. Mas desaparecer com um membro da família do


duque? Certamente ele esperaria repercussões por tal ato, quer a
moça estivesse disposta ou não, mas por que Beth estava chateada?
Ela deveria estar excitada, ansiosa, loucamente apaixonada. Ela deve
ter ido de bom grado.

— E o animal dele? — Marcus persistiu. — Os cavalariços


notaram que tipo era o cavalo.

— Incomparável, eu acho, me desculpe.

— Já viu algum deles antes?

Ele tirou o chapéu e coçou a cabeça.


— Não posso dizer que eu tenho visto... mas o castanho era a
melhor opção. Pelo opaco, mas um bom cavalo principal. Marcas
brancas nas patas.

— Todos as quatro? — Marcus perguntou quando seu pulso se


acelerou.

Ele assentiu.

— Não era nenhum cavalo de carruagem, pensei no momento.

Poderia ser o cavalo que Marcus vira no leilão de Tattersall. Se


fosse o mesmo animal, o puro-sangue havia despertado seu interesse.
Ele pretendia comprá-lo, mas não foi ao leilão. Ele não sabia quem o
comprou.

Voltando para dentro, ele foi para a biblioteca onde alguns de


seus amigos poderiam ter se reunido. A noite estava chegando ao fim,
embora os convidados ainda estivessem conversando nas salas de
recepção. Felizmente, não havia sinal da Sra. Grayshott, pois ele
duvidava da capacidade dela de permanecer calada. Não foi ela quem
lhe disse que Beth havia saído com um cavalheiro, embora fosse
apenas uma questão de tempo até que a história se espalhasse.

No salão de baile, os músicos empacotavam seus instrumentos,


enquanto os servos retiravam o giz da pista de dança. Outros moviam
móveis. Quando a família se levantasse depois do meio dia amanhã,
os cômodos estariam em perfeita ordem.
Marcus entrou na biblioteca, onde quatro de seus amigos
estavam ao redor das brasas brilhantes de um fogo de carvão na
lareira com copos de uísque.

— Marcus, onde você estava? — Jason Pomphrey perguntou


quando Marcus cruzou o tapete da Turquia para eles. — Você perdeu
algumas histórias divertidas e algumas fofocas suculentas. Imagine!
Lorde Knott propôs casamento a sua amante!

— Essas são boas notícias, — disse Marcus. — Eles estão juntos


há anos, afinal.

— Sim, mas por que o diabo se casa com ela? — Pomphrey


balançou a cabeça. — Teve o melhor dos dois mundos. Agora ele
sempre terá uma esposa no seu pé por uma coisa ou outra.

Os homens se calaram e baixaram o olhar para os copos em


suas mãos. Era do conhecimento geral que a esposa de Pomphrey era
esperta e dificultava sua vida.

Marcus se serviu de um uísque da bandeja da bebida no


aparador e depois veio se juntar a eles.

— Antes de se despedir, algum de vocês sabe quem comprou um


cavalo castanho com as quatro patas brancas em Tattersalls há um
mês?

— Um mês é muito tempo, — disse Christian Burnette com um


bocejo. — Não me lembro do que fiz ontem. — Disfarçado um pouco,
mas bem dentro de seus limites, ele se despediu e caminhou
lentamente até a porta.

Herbert Gratton o seguiu declarando o mesmo objetivo. Ele


virou-se quando chegou a porta.

— Eu acredito que foi Ramsey. Lembro-me de pensar que o


barão em ruínas não deveria adquirir o capão. Bom demais para ele.
Ele está no território Dun. Seu estábulo é assustadoramente mantido.

Ramsey! Marcus lembrou-se de tê-lo visto antes. Belo e bom de


se olhar, Ramsey se equiparava a descrição do cavalariço.

— Alguém o viu hoje à noite?

— Sim, mas não depois que ele passou por mim com a bonita
debutante, Srta. Harrismith, — disse Lawson.

— Sabe o endereço dele? — Marcus perguntou.

Herbert riu.

— Eu posso ver que você desenvolveu um gosto por esse cavalo.


— Ele se virou para Frederick Lawson. — Ramsey não mora na King
Street?

Frederick assentiu.

— Sim. Quando ele está na cidade.

Marcus bebeu o uísque.

— Bem, eu estou indo dormir. Alguém mais cavalheiros?


— Ramsey tem uma casa no caminho de Twickenham, herdada
de uma tia há um ano ou mais. Pode estar lá se você não o encontrar
em Londres — disse Frederick, enquanto procuravam a anfitriã para
cumprimentá-la por outro excelente baile. — A única razão que sei, é
por que ele me contou enquanto estava embriagado e perdia umas
boas moedas. Eu poderia ter vencido. — Ele encolheu os ombros. —
Mas então ele começou a ganhar. Perdi uma fortuna naquela noite.
— Felizmente, Frederick era extremamente rico e não parecia muito
consternado.

Ele deveria visitar primeiro a casa do barão? Ele seria relapso e


Marcus consideraria que o mais provável era que se Ramsey tenha
sequestrado Bethe, a teria levado para Twickenham. Ele dificilmente
arriscaria ser visto com ela aqui em Londres. Os criados
conversavam.

— Sabe o endereço?

Frederick sacudiu a cabeça.

— Algumas milhas depois de Richmond perto do rio. Antiga casa


de pedra em cerca de trinta acres. Ramsey disse que deveria ser
derrubada. Disse que era assombrada. — Frederick riu. — Disse a ele
que não acreditava em fantasmas, mas ele parecia nervoso.

Agora ele tinha um endereço, Marcus estava ansioso para partir.


Ele aceitou um convite para jantar no próximo sábado e convites de
para jogar cartas no White’s para semana seguinte. Ele foi em direção
à escada com um aceno para trás.
— Espero que você o convença a vender, — Herbert chamou
atrás dele enquanto Marcus subia as escadas. — Você cuidará muito
melhor desse cavalo.

Depois que Marcus pegou seu chapéu e casaco com o lacaio, ele
correu para sua casa a um mero quarteirão de distância. Subiu as
escadas correndo para o quarto e chamou seu valete. Com a ajuda de
Burn, vinte minutos depois, vestido com suas roupas de montaria,
ele carregou um lampião para as baias nos estábulos atrás de sua
casa. Tudo estava na escuridão, os cavalos arrastando-se em suas
baias, o doce cheiro de feno fresco, o óleo de sela e cavalos
cumprimentando-o. Ele desligou o lampião e removeu Zeus de sua
barraca.

— Pronto para um galope? — Ele deu um tapinha no pescoço


brilhante do castanho enquanto colocava o freio. Zeus sacudiu a
cabeça e bateu no chão, sempre ansioso por uma corrida. Alguns
momentos depois, Marcus desceu pela rua e seguiu para a estrada
de terra que saía de Londres. Ele considerou que o caminho mais
rápido para Twickenham era através de Richmond. Ele olhou para o
céu onde a lua minguante brilhava livre de nuvens. A brisa refrescou-
o e um banco de nuvens azuladas pairou no horizonte, alertando-o
para uma mudança no clima. Ele esperava que não avançasse rápido
demais. Com um pouco de sorte, uma vez que ele cruzasse a ponte
em Richmond, ele poderia seguir o rio. Tinha que ser capaz de
encontrar o lugar.
Enquanto galopava pelas ruas escuras, o relógio Townhall bateu
duas horas. Beth tinha ido embora por horas. Ele apertou a
mandíbula. Talvez fosse tarde demais para salvá-la da sedução de
Ramsey. Mas não era tarde demais para afastá-la discretamente e
retornar à família, depois que ele desmembrasse Ramsey, membro
por membro. E se ela aceitasse as atenções do barão? Ele estaria
errando onde não era chamado. Mas sua lealdade a Andrew e sua
opinião sobre o caráter de Beth, por mais breve que fosse, o fizeram
seguir em frente.

NO ANDAR DE cima, Ramsey, com a mão segurando o braço de


Beth puxou-a pelo corredor empurrando-a pela porta de um quarto.
Batendo a porta atrás dela. Enquanto ela estava no tapete cinza sujo,
lutou com alívio por ele a ter deixado sozinha, e com o medo de que
ele retornaria em breve. Então, avaliando o quarto, surgiu uma
esperança incipiente de que ela ainda pudesse escapar. Mas para
onde? As paredes com painéis fechavam o quarto e o deixava abafado
e confinado. Um ar de tristeza pairava sobre ele, enfatizado pelo
damasco desbotado que cobria as janelas e a cama, uma enorme
monstruosidade esculpida em nogueira. Mais dos mesmos móveis
pesados espreitavam nos cantos. A sala estava cheia de poeira e
cheirava a mofo.

Beth descobriu o lavatório no cômodo ao lado. Uma bacia de


água e uma toalha na cômoda haviam sido deixadas para ela.
Surpresa ao encontrá-los, e de que a água ainda estava quente, ela
lavou o rosto. Mas a tentativa de se sentir melhor falhou. Ela olhou
para o espelho Cheval, mal notando sua aparência, seus
pensamentos desesperados sobre uma maneira de escapar. Um flash
de algo branco apareceu no canto do seu olho. Beth virou-se. Mas
não havia ninguém lá. Ela correu de volta para o quarto. Estava vazio.

O sangue de Beth gelou. Um vestido branco e um véu de noiva


foram cuidadosamente colocados na cama. Ela tinha certeza de que
não estava lá quando entrou, certamente teria visto.

— Tem alguém aqui? — Ela chamou, sua voz rouca. Arrepios


cobriram seus braços. Esfregando-os, ela foi até a lareira, onde um
fogo a lenha ardia. Acima da lareira, pendia um longo espelho
dourado emoldurado, o vidro manchado. Aquecendo as mãos no fogo,
ela tentou acalmar seus pensamentos. Olhou para cima. No espelho,
uma garota de vestido branco apareceu como se estivesse através de
uma névoa. Por um momento, a garganta de Beth se fechou. Ela
congelou. Em seguida se virou. Não havia ninguém no quarto. Sua
imaginação estava tirando o melhor dela? Ela engoliu em seco.

— Tem alguém aqui? — Ela murmurou.

Silêncio.

— Se você é um fantasma, eu não me importo. Realmente — ela


disse, sua voz trêmula desmentindo suas palavras. Em seu estado
irracional de pânico, considerou que alguém era bem-vindo. E um
fantasma poderia assustar Ramsey.
Quatro
ENQUANTO MARCUS LUTAVA COM sua impaciência, diminuindo a
velocidade de Zeus para um passeio de descanso do animal.
Twickenham ainda estava a alguns quilômetros do outro lado do rio.
Ele começou a se questionar se não teria sido melhor ter acordado
seu cocheiro e ter vindo de cabriolé com dois cavalos. Ele teria
economizado uma ou duas horas, passando rapidamente pelo
pedágio, mas será que sua decisão não tinha sido imprudente? A
temperatura caiu. A leste, as nuvens escuras no horizonte se
aproximavam, impulsionadas pelo vento. Um relâmpago iluminou o
céu. Contente com seu sobretudo quente, ele instou Zeus a galopar.

Cerca de vinte minutos depois, e alguns quilômetros adiante, as


nuvens estavam no alto, escondendo a lua. O vento pegou galhos e
folhas espalhadas em um redemoinho pela estrada. Então a chuva
caiu, uma forte chuva que nublou o caminho a seguir.
Marcus teria que encontrar abrigo e, manter-se atento, e
continuar em ritmo lento. Com um grunhido de frustração, ele
cavalgou Zeus pela estrada, através da floresta escura e chuvosa.
Seria impossível encontrar a casa de Ramsey se a chuva continuasse
com essa ferocidade. Outro relâmpago, perto demais para seu
conforto, rasgou o céu, seguido por um ensurdecedor trovão. Uma
árvore perto da estrada explodiu em chamas que foram extintas com
um assobio. Zeus relinchou e recuou com medo quase derrubando-
o.

— Está tudo bem, garoto. — Marcus se agarrou ao animal. Ele


deu um tapinha no pescoço do cavalo e falou suavemente com ele,
acalmando-o. Não era prudente abrigar-se debaixo de uma árvore, ao
que parecia, enquanto outro raio brilhava no ar carregado ao seu
redor.

A chuva diminuiu um pouco quando emergiram das árvores.


Casas apareceram. A luz das velas que brilhava nas janelas de uma
cabana lhe permitia se orientar e ver a estrada à frente. Mais adiante,
mais casas e as lojas da vila apareceram. A chuva voltou a aumentar
e Marcus foi forçado a parar seu garanhão nervoso sob o toldo de uma
loja. Ele desmontou e segurou o freio quando a tempestade voltou
com força total para atacar as estradas e enviar um rio de água pela
estrada. A frustração apertou o estômago de Marcus. Ele temia que
não chegaria a casa de Ramsey antes do amanhecer. E se ele tivesse
adivinhado errado, e Beth não estivesse lá?
NO ESCURO, relâmpagos brilhavam. A chuva batia ferozmente
contra as vidraças como chumbo, e a tempestade se aproximava da
casa como se estivesse selando Beth do resto do mundo. Ela
examinou o vestido de noiva. O estilo era do século passado, com
saias mais cheias do que a moda de hoje. O cetim branco amarelado,
as rendas nos cotovelos estavam frouxas e havia fios soltos no frágil
véu.

— Qual noiva usava isso? — Ela murmurou para o quarto vazio.


Beth tremeu enquanto uma profunda sensação de pressentimento a
enchia. Ela se virou lentamente ouvindo um movimento além do
crepitar do fogo e das batidas fortes do seu coração.

O som mais ínfimo como uma ingestão aguda de respiração fez


Beth girar ao redor. Ela tentou localizar a direção de onde veio,
engolindo saliva para umedecer a garganta seca.

— Eu sei que você está aqui em algum lugar. — Ela vagou ao


longo dos lambris, sua voz fraca e indecisa. Ela limpou a garganta
novamente. — Onde você está? — Ela exigiu. — Mostre-se. Eu vou te
encontrar. — Isso soou melhor. Com a fervorosa esperança de que
não fosse um fantasma quem ela procurava, Beth deslizou as mãos
sobre os painéis empoeirados de carvalho. Ela passou os dedos pelo
friso decorativo no topo, sobre as bolotas e folhas esculpidas. Poderia
haver um esconderijo aqui em algum lugar?

Ao cutucar, um painel deslizou silenciosamente para trás. Com


um suspiro alto, o olhar de Beth se fixou primeiro no vestido branco
na penumbra, depois subiu para um rosto que expressava tanto
medo quanto Beth sentia.

— Quem é você? — Beth perguntou, finalmente, quente de alívio


ao encontrar uma pessoa de carne e osso.

A garota que parecia não ter mais do que quinze anos, e fez uma
reverência ridícula.

— Lilly, senhorita. Eu sou a serva.

Claro. Os fogos, a água quente. Ramsey dificilmente faria tudo


isso sozinho. Beth ficou tão satisfeita ao vê-la que queria abraçá-la.
Em vez disso, ela forçou um sorriso e segurou a mão trêmula de Lilly.
Ela a puxou para dentro do quarto. A criada era bonita, com cabelos
cacheados escuros embaixo do chapéu, os olhos cinzentos cheios de
lágrimas.

— Oh, senhorita, por favor, não conte ao mestre. Ele ficará com
muita raiva. Eu não deveria me mostrar a você.

— Você não tem nada a temer de mim, Lilly. Eu o odeio. Não


direi nada a ele. — Beth olhou para o horrível espaço escuro, onde
uma cortina de teias de aranha balançava do teto baixo. O forte cheiro
de camundongos e o pó das heras enchiam o local. Ela olhou através
da escuridão para ver degraus de madeira descendo. Seu pulso
disparou com a esperança de escapar. — Para onde vão esses
degraus?
— As escadas da equipe de servos, senhorita, para os
empregados atenderem os convidados nas salas de desenho e de
jantar. Leva até a cozinha, porões e despensa. Tem que ir com
cuidado, os degraus estão podres.

— Esqueça isso. Eu posso escapar pela porta da cozinha para


os jardins. Ele nunca saberá que você me ajudou.

― Não pode. Ele mantém tudo fechado, senhorita.

Beth quase caiu de decepção.

Lilly lançou um olhar ansioso para a porta.

— Eu devo ir, senhorita. Seu senhorio estará querendo a ceia.

Beth agarrou o braço dela.

— Não! Espere, por favor, Lilly. Preciso da sua ajuda. Eu estou


aqui contra a minha vontade.

Lilly assentiu.

— Um vilão é o que o lorde é, senhorita. Nunca gostei dele.

Beth olhou para a menina assustada.

— Que foi que ele fez?

— Ah, eu não posso dizer-lhe. Ele estará aqui em breve e não


pode me encontrar aqui.

— Ele pediu para você arrumar aquele vestido de noiva? Por


quê?
Lilly assentiu.

— Ele não me diz seus planos, senhorita.

— Destrave a porta do quarto, Lilly — disse Beth severamente,


suspeitando que a garota sabia. — Eu vou embora. Você pode vir
comigo, se desejar.

— Eu não posso! — A serva empalideceu e balançou a cabeça.


— Eu não tenho a chave.

Lilly deveria ter a chave. Beth olhou para a pequena e magra


menina. Ela poderia arrancá-la dela. Era possível escapar da casa
antes que ele a seguisse? Ela não queria deixar a criada para a ira de
Ramsey. Se ele as encontrasse, as duas estariam com problemas.

— Por favor, Lilly. Você não vai me ajudar?

Lilly lançou um olhar assustado para a porta.

— Ele vai saber que foi eu quem deixo você ir, senhorita. Vou
perder meu emprego aqui, se ele não me matar primeiro.

— Vamos fugir juntas. Meu irmão de lei, o Duque de Harrow irá


ajudá-la. Você pode se juntar à equipe de servos dele em uma de suas
propriedades. Você gostaria disso? Jenny faria isso por você.

— Um duque? — Os olhos de Lilly se arregalaram. — Você não


estaria me enganando, senhorita? Isso seria cruel.

— Não, é verdade tudo que disse, Lilly, todas as palavras — disse


Beth, impaciente. Ramsey apareceria a qualquer momento. — Seu
mestre está com problemas muito sérios. Ele será jogado na prisão.
E então você terá que sair daqui de qualquer jeito. — Beth apertou o
braço da garota. — Destranque a porta rapidamente! Temos que sair
agora.

Lilly ofegou. Ela enfiou a mão no bolso.

O tilintar de uma chave na fechadura as assustou. Lilly se foi


rapidamente e o painel se fechou silenciosamente atrás dela, selando
a passagem.

Sozinha novamente, Beth só teve tempo de se virar quando


Ramsey entrou pela porta. Ela endireitou os ombros, pronta para
lutar com ele com cada grama de sua força. Embora ela não visse a
serva, apenas saber que Lilly estava lá dava-lhe um pouco de
conforto.

— Vamos jantar? — Ele estendeu o braço para ela, sempre o


cavalheiro educado.

Beth mordeu o lábio para parar de repreendê-lo. Ela estava


ansiosa para deixar este quarto e decidiu brincar junto, pegando-o de
surpresa.

— Sim, de fato. Estou com fome. Perdi o jantar no baile.

— Você recuperou seus sentidos. Ótimo. — Ele colocou a mão


dela firmemente em seu braço e caminharam até as escadas.
Ela observou o teto com vigas de carvalho e as antigas arandelas
de ferro nas paredes. Algumas casas antigas também tinham buracos
para esconder os católicos dos Roundheads de Cromwelliv.

— Quantos anos tem essa casa?

— Século XVII, — ele disse secamente enquanto desciam. — Se


você está tão interessada, pode perguntar aos fantasmas.

— Não encontrei nenhum.

— Dê tempo a isso. — Ele parecia realmente acreditar nisso.

— Você os viu?

— Não. — Ela o sentiu estremecer.

No andar de baixo, ele abriu a porta da sala e a empurrou para


dentro. Ele já havia esquecido suas maneiras.

— Quem usava o vestido de noiva? — Ela perguntou, sem motivo


para zombar dele.

Sua boca ficou mais fina.

— A Baronesa Ramsey.

— Sua mãe ou sua esposa?

— Perguntas, perguntas. Meu Deus, mas você é uma garota


cansativa. — Ele passou pela sala. — Vamos jogar faro depois de
jantar.
— E se eu ganhar de você? Como posso confiar que manterá sua
palavra? Deixar-me ir sem...? — As palavras falharam com ela. Ela
olhou para ele. — Você é um canalha absoluto.

Ele pegou os ombros dela nas mãos, puxando-a com força


contra ele. Sua respiração assustada aspirava o forte cheiro de
whiskie. Seus olhos estavam subitamente escuros de raiva.
Horrorizada, ela tentou se afastar, mas os dedos dele afundaram
dolorosamente em sua carne.

— Você não tem escolha, não é? E não vejo que isso importe,
pois você não vai me vencer.

— Você não pode ter certeza disso. — Beth colocou as duas mãos
no peito dele e empurrou. Talvez o empurrão dela o tenha
surpreendido, pois ele a deixou ir. Ela se afastou esfregando um
ponto dolorido no ombro para se livrar do toque dele. — Eu posso
ganhar. Então você deve manter sua promessa.

— Promessas! — Ele jogou a cabeça para trás e riu. Quão


mutáveis eram suas emoções. O que o levou a isso? Havia algum
método no qual ele se apoiava? Era desejo de poder, vingança ou algo
ainda pior que ela não podia dar nome? Ou então, o homem estava
louco. O pensamento enviou uma onda de medo através dela. — Por
que me escolheu? — Ela precisava saber mais, caso contrário, como
ela poderia lutar com ele?

— Fique quieta. Você vai estragar o meu apetite.


— Existe realmente algum jantar? Você conjurou a comida por
mágica?

— Um fantasma prestativo. — Ele deu outra risada. — Venha e


você verá. — Ramsey abriu as portas duplas que ela queria investigar.
Eles entraram em outra câmara sombria, a parte inferior das paredes
exibia mais painéis de carvalho empoeirados, com papel de parede
descascado que antes era branco nas paredes acima. Nas janelas
estavam penduradas cortinas de damasco vermelho desbotado. Mais
móveis pesados lotavam a sala, além de retratos escurecidos com a
idade. A mesa comprida e estreita havia sido arrumada com um pano,
pratos, copos e talheres e seu jantar.

Lilly esteve aqui. Quando ela trouxe a comida? Uma vela curta
aquecia a sopa em uma panela; o resto da refeição estava fria: um
prato de frango assado, uma tigela de salada, queijo Stilton e pão de
centeio.

A serva havia dito que as escadas levavam do quarto à cozinha.


Se Beth pudesse descobrir a porta secreta, ela poderia encontrar um
lugar para se esconder. Ramsey deveria dormir eventualmente, pois
ele estava bebendo muito.

Ela o olhou e ele não parecia sonolento. Seus ombros estavam


curvados e ele parecia tenso. Ela teria que ter cuidado. Ele não
deveria vê-la procurando a porta.

Ele puxou uma cadeira jacobina de encosto alto estofada em


brocado vermelho para ela.
— Não é o que você esperaria na mesa do duque, mas seja grata
por isso.

Beth sentou-se. Ela estava com fome, mas seu estômago revirou
ao pensar em comer qualquer comida dele.

Ramsey sentou-se à cabeceira da mesa e derramou vinho tinto


de uma jarra em taças, depois colocou uma diante dela.

Ela não fez nenhum movimento para começar.

— Coma!

Beth pegou a concha e colocou sopa de couve-flor perfumada


em sua tigela. Ela pegou sua colher, enquanto considerava jogar a
sopa na cara dele. Não estava quente o suficiente para queimá-lo e só
o deixaria mais irritado.

Ela bebeu um bocado de sopa. Era delicadamente aromatizado.


Se Lilly tivesse conseguido fazer isso, ela era uma cozinheira capaz.
Beth tinha tantas perguntas, mas permaneceu quieta. Ramsey não
gostaria de respondê-las e, como estava, sentiu-se enjoada de
ansiedade. Ela se forçou a colocar sopa na boca. Lilly ainda estava na
casa? Ela morava aqui? Beth ficou angustiada ao considerar que a
serva poderia ter ido para casa e a deixado só com seu destino. Ela
largou a colher, a tigela ainda meio cheia.

Ramsey olhou-a irritado enquanto sua mandíbula trabalhava


em um pedaço de frango.
Ela tomou um gole do vinho, precisando de tempo para pensar.
Para lembrar o que o irmão dela, Colin, havia lhe ensinado sobre o
jogo faro antes de se juntar à Marinha.

Ramsey estendeu a mão e colocou um pedaço de frango no


prato, depois o empurrou em sua direção.

— Coma o seu jantar.

Por que ele se importava se ela comia ou não? Beth pegou o pão.

— Eu não quero que você durma, — explicou ele. — Será um


jogo insignificante de faro como verá.

Era sobre o jogo de cartas a que ele realmente se referiu? Beth


reprimiu esse pensamento com horror enquanto passava manteiga
no pão. Ela poderia não vencer, pois ele seria um jogador habilidoso,
mas ela dar-lhe-ia uma boa lição. Se ela soubesse por que ele queria
jogar cartas, mas ela não estava distraída de seu propósito.

Do lado de fora, outro trovão retumbou no céu, fazendo-a ciente


de que se alguém viesse para ajudá-la, sua carruagem seria retida.
Eles seriam incapazes de atravessar pontes inundadas ou suas rodas
ficariam presas no fundo da lama. Mas, como Ramsey havia
declarado, ninguém sabia que ela estava aqui.

Apenas Lilly.

Onde estava a serva? Ela viria para limpar a mesa? Beth olhou
rapidamente ao redor da sala novamente, procurando um contorno
fraco na parede que pudesse dar lugar a uma porta escondida, mas
sombras profundas tornavam isso impossível. Apenas um único
candelabro enfeitava a mesa.

— Como você soube do acidente de William? — Ela perguntou a


Ramsey.

— Não houve acidente. — Ele sorriu satisfeito consigo mesmo.


— Enviei a nota por um emissário.

— Você enviou? — Beth olhou para ele e revoltou-se por sua


auto satisfação na face. — Mas como você pode ter certeza de que o
duque e a duquesa deixariam Londres?

— E não reagir a uma nota do médico? Foi uma aposta, mas eu


sou um homem de apostas. Eu tinha que ter certeza de que a
mensagem era alarmante o suficiente para forçá-los a retornar a
Castlebridge, com pressa. Mas não seria o suficiente para levá-la
junto com eles. E eu antecipei corretamente, como se viu, que você
continuasse com seus compromissos. Vocês todos se moveram com
as cartas nas minhas mãos perfeitamente.

— Assim que souberem a verdade em Castlebridge, retornarão


a Londres e procurarão por mim.

— Onde eles olhariam? Ninguém sabe que você está aqui


comigo. E, se por algum acaso remoto souberem disso, poucos sabem
que eu herdei esta casa. Na falta de encontrar-me na minha casa,
eles irão em uma perseguição selvagem ao meu lugar favorito no
campo. E lá eles não encontrarão nada.
— O duque vai alcançá-lo, eventualmente. Como você planeja
evitá-lo?

O rosto dele ficou fechado.

— Não é da sua conta.

— Pelo menos me diga do que se trata.

— Não acha que é porque eu quero você? — Ele perguntou


lambendo um pedaço de frango nos lábios.

Revoltada, ela desviou o olhar.

―Não, eu não acho.

Ele riu.

— Não tenha tanta certeza. Estou gostando da sua companhia.

Ela não teria que suportá-lo ele por muito tempo, ela disse a si
mesma desesperadamente. Ele disse que a deixaria ir de manhã. Mas
ele iria? Ou ele a mataria?

Beth afundou na cadeira. William não se machucou. Uma vez


que Andrew descobrisse a verdade, ele retornaria imediatamente ao
baile. Mas quando ele chegasse a Mayfair, isso já estaria acabado. E
a Sra. Grayshott, mesmo que tenha sido despertada da cama, não
poderia dizer nada.
Cinco
DEPOIS QUE MARCUS ESPEROU impacientemente que a tempestade
se acalmasse, ele considerou o possível motivo de Ramsey. Ele
assumiu um risco enorme que dificilmente poderia ter um bom final.
Ele foi movido por uma paixão incontrolável? Marcus conhecia esses
homens, como mariposas voando muito perto da chama.
Inevitavelmente, eles foram queimados. Mas o que sabia de Ramsey
parecia estar em desacordo com um homem de paixões
indisciplinadas. Além da personalidade amável que ele apresentava
nas salas de visitas, ele parecia ser um sujeito bastante frio e de olhos
afiados, quando Marcus o encontrou jogando cartas em seu clube.
Beth também não parecia o tipo de jovem que cairia sob seu feitiço e
daria as costas a tudo o que ela considerava querido. Não com uma
família tão amorosa como a dela.
Ramsey poderia tê-la sequestrado à força? Impossível fazê-lo sob
os olhos da ton. Ela tinha ido com ele de bom grado, embora não
inteiramente feliz pela conta do cavalariço.

Outro trovão rasgou o céu. Marcus recostou-se na parede da loja


e deu um tapa na aba do chapéu. Ele vasculhou seu cérebro por
algum sussurro de fofocas que ele poderia ter ouvido no passado. Ele
tendia a ignorar a maioria das fofocas da sociedade. A intriga que ele
enfrentou enquanto trabalhava no Ministério das Relações Exteriores
foi suficiente para ele lidar.

Ramsey não era conhecido por ser um homem de bom caráter.


Seu problema financeiro era de conhecimento geral causado por seu
jogo, sua baronia, um castelo no norte com vista para o mar da
Irlanda, caindo em ruínas. Parecia que ele tinha se mantido à tona
jogando dados em jogos de azar nos infernos de jogatinas, e passou
alguns anos no continente, onde Marcus o tinha encontrado, assim
como Andrew.

O dinheiro pode estar por trás desse plano desesperado? Ele


pretendia manter a reputação de Beth por resgate? Ele duvidava que
Andrew fosse tão prestativo, mas se ele pagasse, Ramsey seria tolo
em acreditar que o assunto terminaria aí. Ele seria forçado a deixar
a Inglaterra ou ser colocado a ferros.

Por mais que Marcus tentasse, ele ainda não conseguia


encontrar nenhuma explicação razoável para o comportamento do
barão. Andrew recusou o casamento? Isso os enviou fugindo para a
fronteira para se casarem em Gretna Green? Ele gemeu. Se fosse esse
o caso, ele deveria ir para Oxfordshire, para avisar Andrew.
Dificilmente parecia provável. Andrew pediu a Marcus para cuidar
dela no baile quando ele não podia fazer isso sozinho.

Não, ele não conseguia acreditar que um casamento fugitivo


estava ocorrendo. Beth parecia inteligente demais para ser atraída
por um homem assim. Ela não era uma garota jovem e graciosa como
algumas debutantes. Droga, ele gostava dela e sentia algo especial
nela que o atraía muito, que era a principal razão pela qual ele estava
aqui esperando no frio e molhado, exasperado além da resistência.
Ele relaxou os ombros tensos enquanto Zeus balançava o rabo e
erguia os ouvidos, impaciente por voltar para sua baia quente.
Marcus estremeceu em seu casaco e esfregou os braços. Ele jogou
seu sobretudo sobre o cavalo. Era culpa dele, afinal, que eles estavam
aqui no frio, enquanto a chuva sem fim e a tempestade continuavam
pairando acima.

Ele não era normalmente um homem dado por impulso. Que


diabos tomou conta dele? Era apenas o respeito por Andrew e a
amizade que eles compartilhavam? Marcus deu um desconto. Era
como se alguma força maior do que ele podia entender o estivesse
guiando.

DEPOIS DO JANTAR, Ramsey levou Beth de volta à sala de estar,


aparentemente ansiosa pelo jogo de cartas.
Beth cresceu jogando cartas com seus irmãos. Ela era muito boa
em faro, mas poderia superar esse homem? Ele estava bebendo
constantemente, o que poderia ajudá-la. Ela sentou-se à mesa de
cartas. Ramsey alimentou o fogo, depois foi até uma gaveta de um
móvel e removeu algumas moedas. Ele pegou a cadeira em frente a
ela e empilhou as moedas na frente deles. Ela o observou
cuidadosamente embaralhar as cartas para se certificar de que ele
não trapaceava, como Colin uma vez lhe mostrou como fazer. Mas
Ramsey era tão arrogante e confiante que ele poderia vencê-la, que
provavelmente não consideraria ser necessário.

— Como você é uma convidada, pode ser o banqueiro, — disse


ele. — Você conhece as regras, presumo?

Beth assentiu.

— Joguei isso com meu irmão, mas foi anos atrás. Espero ainda
me lembrar de como fazê-lo. — O que ela não contou a Ramsey foi
que Colin, antes de partir para a Marinha, passou muitas noites
depois do jantar ensinando-a a contar as cartas. Beth podia
memorizar as cartas que haviam sido distribuídas e descobrir quais
ainda estavam no baralho. Ela rezou para que seus nervos não lhe
tirassem essa capacidade. Aquelas noites foram repletas de riso
quando seus irmãos e irmãs se amontoaram, mas agora ela estava
completamente sozinha, e nunca tinha sido tão importante.
Uma vez que ela colocou as treze cartas sobre a mesa em duas
fileiras, todas de espadas, as cartas foram então tratadas a partir do
monte restante.

— Minha carta, — disse Beth, colocando uma na mesa.

Ramsey a seguiu. Um silêncio tenso se estabeleceu sobre a sala


enquanto eles jogavam. Embora duvidasse que ele cumprisse sua
palavra, ela tinha que vencer se tivesse alguma chance de escapar
ilesa.

Com muito poucas cartas para colocar seu plano em ação, Beth
começou a perder.

— Como eu esperava, você é uma oponente pobre, — zombou


Ramsey. Ela olhou seus lábios soltos e o olhar turvo de seus olhos,
se perguntando novamente como ela o considerara atraente quando
ele voltou a encher o copo da jarra de vinho que trouxera da sala de
jantar.

Ele ficou calado. Beth perdeu mais de suas preciosas moedas.


Ela podia ouvir sua respiração em pânico e se acalmou para se
concentrar. Era como perder um pedaço de si mesma, suas chances
diminuindo com a perda de cada moeda. Ela se firmou e, à medida
que o jogo progredia apenas com o estalar do fogo e o barulho do
relógio da lareira, a habilidade voltou a ela.

Concentrando-se com força, ela começou a ganhar e seu ânimo


aumentou.
Enquanto ela empilhava algumas das moedas dele, Ramsey
olhou para ela, a surpresa franzindo sua testa.

— Você tem uma sorte extraordinária, Elizabeth. Se for sorte,


não é?

— Eu dificilmente sou afiada no jogo de cartas, — disse ela. —


Não há cartas na minha manga. Você me viu embaralhar o baralho.
Você pretende continuar jogando? Ou você está com medo?

— Medo? — Um rubor feio cobriu suas bochechas. — E deixar


uma mulher me ganhar?

Dez minutos depois, Ramsey bateu com o punho na mesa.

— Estou com minhas últimas moedas, — ele gritou. Ele tomou


o resto do vinho no copo e se levantou para caminhar até a mesa. —
Vamos começar com um novo baralho. Eu devo ganhar.

Beth desejou poder inspecionar o baralho, mas sabia que ele


ficaria desagradável com o seu pedido. Ela preferia o humor e mantê-
lo jogando. Enquanto eles estivessem aqui, pelo menos, isso o
impedia de seu principal objetivo: mandá-la para casa desflorada e
desonrada.

Depois que ele embaralhou o novo baralho de cartas, o jogo virou


a seu favor. Ramsey começou a ganhar. Beth o observou impotente.
Ela não conseguiu pegá-lo, mas ele tinha que estar manipulando as
cartas. Ela se sentou reta na cadeira e jogou obstinadamente. Se ela
o acusasse de roubar, ele poderia se voltar contra ela. Havia uma
nova fragilidade nele, e ela temia que se rompesse, o tornaria ainda
mais perigoso. Mas ela não conseguiu parar no momento, pois ele
ganhava mão após mão.

Dentro de uma hora, ele pegou a última moeda dela, sentou-se


e cruzou os braços com um sorriso satisfeito.

O relógio bateu quatro horas.

— Logo será amanhecer. — Beth se afastou da mesa. Além da


janela, as árvores pingavam, e a lua apareceu através das nuvens
enevoadas, a tempestade finalmente desaparecendo. — Eu gostaria
de ir para casa agora. Se você pretendia prejudicar minha reputação,
conseguiu.

— Isso não fazia parte do nosso acordo. — Ele ficou de pé, seus
olhos vagando sobre ela. — Venha para o quarto. Você concordou em
passar algum tempo comigo, e você perdeu o jogo.

— Eu não fiz tal promessa. — Um calafrio percorreu sua espinha


por baixo da roupa. Ela ficou de pé e começou a recuar. — Deixe-me
ir, por favor.

Com dois passos, ele estava sobre ela, a mão dura no braço dela,
os dedos apertando-o.

Beth lutou para sair de seu alcance.

— Não me dê nenhum problema. Eu te aviso.

Ela ofegou e seu estomago caiu com uma sensação de destruição


iminente.
Um estrondo veio de algum lugar abaixo.

— Que diabos foi isso? — Ramsey soltou o braço dela.

— Fantasmas?

Ele fez uma careta para ela, mas ela viu medo em seus olhos.
Outro estrondo soou abaixo. Ramsey correu para a porta enquanto
procurava no bolso a chave. Retirando-a, ele girou na fechadura e
abriu a porta. Na pressa, ele esqueceria de trancá-la?

Ela o ouviu mexer na chave e o barulho quando o ferrolho girou.


Com um gemido de desespero, ela correu para procurar nas paredes
um ponto para abrir algum esconderijo.

A voz de Ramsey subiu com raiva do salão abaixo. Ela não


conseguiu entender as palavras dele e se perguntou quem poderia
ser. Alguém poderia ter vindo para ajudá-la? Ela não conseguia
acreditar e não teve tempo de esperar para descobrir. As escadas dos
criados de que Lilly falou deviam estar aqui em algum lugar.

Desesperada, Beth se moveu pelas paredes, seus dedos


cutucando as bordas entalhada no topo dos painéis da sala de estar.
De repente, as portas da sala de jantar, que Ramsey havia fechado,
foram abertas.

Beth se virou.

Lilly acenou da porta.

— Venha rapidamente, — ela sussurrou.


Com um sorvo sufocado de prazer, Beth correu para ela. Uma
porta inteligentemente escondida na parede da sala de jantar, com
meia madeira meio papelada, estava aberta, revelando um conjunto
de escadas de madeira. Ela foi com Lilly para o espaço confinado.

Lilly fechou a porta atrás delas e a escuridão desceu.

— É melhor não acendermos uma vela, caso ele entre na escada.

— Lilly, — Beth murmurou, respirando fundo. — Sou muito


grata a você. Que barulho foi esse lá embaixo?

— Empurrei a armadura do salão, — disse Lilly.

— Mas como você voltou aqui sem ele te ver?

— Eu corri rápido pelas escadas e entrei no quarto.

— Podemos entrar no salão lá embaixo? Pode haver uma janela


que possamos abrir.

Lilly sacudiu a cabeça.

— Esses quartos estão trancados. Ele tem todas as chaves. Ele


carrega as chaves da chatelainev com ele. Ele tranca todas, a
biblioteca, o salão e até a porta do porão. Não há saída. Ele me
trancou depois que eu trouxe as compras ontem. E ele não vai me
deixar ir novamente, até que ele queira.

— Não podemos quebrar a janela da cozinha?

— Está barrada.

— Ele saberá dessas escadas. Onde podemos nos esconder?


— Isso leva aos degraus da torre. Ele virá atrás de nós e não
podemos nos trancar dentro da torre.

Beth seguiu a criada pelas escadas sinuosas.

— Mas teremos que nos esconder em algum lugar. Ele bebeu


muito e acabou ficando cansado.

— Eu duvido. Ele planeja se casar com você esta manhã.

Beth congelou no degrau.

— Casar comigo?

— Eu e o jardineiro, Johnson, seremos testemunhas, — Lilly


confessou.

— Mas certamente o vigário não concorda com isso. Eu direi a


ele...

— Não é da nossa paróquia, — disse Lilly com nojo. — Outro


patife como ele.

— Mas ainda assim... ele não pode se casar comigo contra a


minha vontade, — disse Beth, recuperando o fôlego. Suas pernas
pareciam chumbo. Angústia e cansaço começaram a cobrar seu
preço.

— Quem é que vai tentar pará-lo? E é um barão.

— Eu vou. — Parecia oco. Ramsey era forte e poderia facilmente


dominá-la. — Precisamos encontrar um lugar para nos escondermos,
até que possamos escapar, Lilly, — disse ela desesperadamente.
— Nada na torre nos serve. Seríamos pegas lá como coelhos em
uma armadilha.

— Então não vamos para lá. Você tem a chave da porta do


quarto, não é?

— Mas se sair para o salão ele nos encontrará.

— Não se formos rápidas. Ele estará ocupado nos andares


abaixo tentando me encontrar. Podemos nos esconder em uma das
outras câmaras. Pode haver um armário.

— Nunca entrei em nenhum desses quartos, — disse Lilly. — E


se não houver um armário?

— Debaixo de uma cama então. — Beth mordeu o lábio. — Não


consigo pensar em mais nada. Você pode?

— Não, — disse Lilly em breve. — Nós faremos isso então.

Elas emergiram através do painel aberto para o quarto. O fogo


na lareira estava quase apagado, mas as brasas forneciam luz
suficiente para que encontrassem o caminho para a porta.

Lilly agarrou a trava da porta.

— Não está trancado. Achei assim quando corri do salão.

Beth sentiu uma onda de excitação ao descobrir que Ramsey


não a trancara. Ele errou. Ele não era um inimigo tão implacável.

No corredor, chamas gotejavam nas arandelas da parede. Beth


puxou Lilly pela mão até chegarem a outra porta sólida de carvalho.
Ela prendeu a respiração quando a criada procurou a trava. Ela girou,
e ela e Beth entraram correndo.

— Não há chave, — disse Lilly depois de um momento.

Quando a porta se fechou, elas ficaram na escuridão. Beth


esforçou-se por respirar o ar denso e carregado de poeira enquanto
tropeçava no tapete até um alto bloco de sombra contra uma parede.
Ela passou as mãos sobre a madeira lisa.

— Tem um armário aqui! É grande o suficiente para nós duas.


— Ela girou a maçaneta, mas não conseguiu abrir a porta. — Está
trancada, — ela falou em desespero.

— Deixe-me ver. — Lilly segurou a maçaneta e puxou com força.


Ela se abriu. Um odor estranho vazou.

— Estava apenas presa. Acho que tem alguma coisa aqui dentro,
mas não consigo ver — disse Lilly. — Espere. Eu tenho uma isca e
vela no bolso do avental.

Lilly acendeu a vela e levantou-a.

Amontoado dentro do armário, havia um esqueleto mumificado,


um vestido verde pendurado em seus ossos. Olhava boquiaberto para
elas.

Beth recuou, uma mão na boca sufocando um grito. Ao lado


dela, Lilly afundou no chão com um gemido assustado.
Seis
FRUSTRADO, MARCUS CAVALGOU Zeus ao longo da estrada. Através
das árvores o rio brilhava. A água havia subido, ameaçando
transbordar nas margens. Pelo menos a chuva havia diminuído, mas
as coisas estavam lentas. Havia um perigo invisível, poças profundas
que podiam esconder buracos traiçoeiros. Ele não podia estar longe
da casa de Ramsey, mas não arriscaria ferir seu cavalo. Eles seguiram
ao lado de um muro de pedra, atrás dos quais jardins sombrios
falavam de negligência desenfreada.

— Eu acredito que nós encontramos, Zeus, — Marcus


murmurou. Enquanto as nuvens se afastavam para revelar um céu
repleto de estrelas, era fácil discernir o nome na placa de latão sobre
o par de portões: Whittemore House. Embora o nome não significasse
nada para ele, sua confiança aumentou enquanto ele cavalgava com
Zeus pela alameda de carvalhos. Eles emergiram dos jardins cobertos
de vegetação. À frente, uma antiga mansão de pedra cinza apareceu
com uma torre em uma extremidade. Havia várias casas antigas
aninhadas entre jardins perto do rio, mas esta parecia se encaixar na
descrição que ele recebeu. O luar minguante inclinava-se para o
telhado, revelando as ardósias que faltavam. Ao se aproximar, a casa
parecia estar tão triste quanto os jardins. A fumaça subiu em espiral
no céu por duas das chaminés, mas não havia sinal de atividade lá
dentro enquanto ele passava pela entrada da frente e seguia para os
estábulos na parte traseira.

Havia uma carruagem preta na cocheira, os cavalos nas baias.


Marcus desmontou e se aproximou para inspecioná-los. Um dos
cavalos tinha quatro patas brancas. Com um longo suspiro, ele bateu
na pistola no bolso. Ele estava prestes a interromper um encontro
romântico? Ele duvidava, pois, nenhuma dama apreciaria esse tipo
de tratamento. Ser levada em segredo para um lugar como esse não
era romântico. Mas, se ele estivesse errado, ainda pretendia falar com
Beth. Suas mãos se fecharam em punhos. E ele teria algumas
palavras com Ramsey. Mas isso seguiria uma linha diferente de
questionamento.

Ele deixou Zeus em uma das baias e depois foi para a varanda
da frente, onde a luz do lampião emitia um brilho fraco.

Marcus bateu na aldrava de bronze. O som ecoou por dentro,


mas depois de alguns minutos ninguém apareceu. Ele segurou a
trava e amaldiçoou. A porta estava trancada. Um olhar através da
vidraça estreita ao lado da porta revelou um grande salão mal
iluminado. Uma lamparina baixa sobre uma mesa enviava luz sobre
uma armadura espalhada pelo chão em pedaços.

Marcus se virou e foi em busca de uma janela aberta. Todas


estavam trancadas e os cômodos na escuridão. O que isso poderia
significar enviou um raio de inquietação através dele. Algum ato de
violência fez a armadura cair. Ele abandonou qualquer medida de
civilidade. Voltando ao jardim, encontrou uma pequena estátua de
pedra da deusa Diana entre as ervas daninhas e voltou a bater com
ela em uma janela comprida. A janela quebrou. Ele chutou os
fragmentos com a bota e entrou. Ninguém veio investigar o barulho
quando ele atravessou o chão de pedra. Os servos estavam todos na
cama?

Uma capa de noite de uma mulher pendia ao lado do casaco de


um cavalheiro. Um retículo estava sobre a mesa. Ele tentou as portas
que davam para o salão. Todas estavam trancadas. Como também
não havia luz ou barulho nos aposentos dos servos, Marcus se retirou
para a escada principal. Ele subiu os degraus sem tapete, enquanto
rangidos altos o acompanharam do patamar superior.

Aqui finalmente havia alguns sinais de ocupação. Marcus


atravessou a porta da sala sem cerimônia. Estava vazia e parecia que
fora recentemente desocupado. Um fogo ardia na lareira e um
conjunto de portas abertas no outro extremo revelou os restos de uma
refeição na mesa de jantar.
Temendo o pior, Marcus saiu da sala. Como o resto das portas,
neste andar também estavam trancadas, ele subiu as escadas. No
andar de cima, velas brilhavam nas arandelas da parede. Ele estava
no meio do corredor, quando a voz furiosa de um homem dividiu o ar
quieto.

— Eu sinto muito quando eu colocar minhas mãos em você.

Ramsey. Marcus tirou a pistola do bolso, levantou-a e seguiu


cautelosamente em direção ao barulho. Ele virou a esquina. Ramsey,
com uma vela erguida, caminhava pelo quarto, conversando,
aparentemente para si mesmo.

— Vou te encontrar! — Ele gritou, tão perturbado que não


conseguiu notar Marcus, que estava observando-o.

Ramsey abriu uma porta do armário e depois cambaleou para


trás.

— Nãooooooo. — O terror distorcendo suas feições, ele largou o


castiçal. Que rolou no chão, o pavio ainda aceso, enquanto ele
tropeçava em direção à porta. Ele parou bruscamente quando
encontrou Marcus bloqueando sua saída.

Marcus apontou a arma para o seu peito.

— Pegue a vela antes de iniciar um incêndio.

Ramsey silenciosamente pegou o castiçal de prata. A vela


tremeluziu, mas permaneceu acesa.

— Onde está a Srta. Harrismith? — Marcus perguntou.


Ramsey sacudiu a cabeça, a boca tremendo.

— Harrow enviou você? — Ele finalmente perguntou.

— Certamente, você não está surpreso? Onde está a irmã de lei


do duque? Se você a machucou...

O barão engoliu em seco.

— Nyeland. Nós nos encontramos em Viena, como eu me lembro.


Trabalha para o governo, não é? Alguns negócios obscuros, sem
dúvida. — Ele olhou a arma desapaixonadamente. — Você vai me
matar?

— Se você pôs a mão em Beth, lamentarei que você tenha


nascido. Onde ela está?

— Você está em termos íntimos com a moça? — Ramsey tentou


fazer uma piscadela lasciva, mas seus olhos estavam assustados e
seus lábios tremiam.

Marcus fez uma careta para ele.

— Não me tente. Estou lutando contra um forte desejo de


desmembrá-lo. Onde está a jovem dama?

Ramsey deu de ombros. Ele acenou com o braço segurando o


castiçal e enviou luz balançando através das paredes e do teto.

— Eu não sei. Eu encontrei um corpo naquele armário. Eu


sempre pensei que este lugar era assombrado. Eu só quero sair daqui.
Mantendo Ramsey à vista, com medo do que poderia encontrar,
Marcus entrou no quarto. Um olhar no armário o deixou quente de
alívio. Não era Beth, mas um esqueleto com uma peruca cinza torta,
vestida com um vestido verde, um camafeu preso à gola de renda.

— Você sabe quem é aquela?

Ramsey gemeu.

— Pode ser uma tia.

— A mulher que deixou para você esta casa?

Ele estremeceu.

— Não, irmã dela.

— Você a matou?

Ele passou as mãos pelos cabelos.

— Eu, realmente, não matei. Por que eu deveria?

— Eu acredito que você é capaz disso.

— Ela desapareceu anos atrás. Minha tia disse que ela deixou o
campo. Ela provavelmente a matou. Elas não se davam bem.

— Eu não estou interessado em sua família encantadora. Onde


está Beth? — Marcus rosnou.

— Eu não coloquei a mão nela. Ela fugiu. Não tenho certeza se


ela ainda está na casa.
— Ela deve estar aqui. O lugar está trancado como um tambor.
— Ele empurrou Ramsey em direção à porta. — Nós vamos encontrá-
la. Mova-se. — Ele cutucou Ramsey pelas costas.

Eles andaram pelo corredor e pararam em uma porta.

— De quem é esse quarto?

— Eu uso-o.

Marcus acenou com a arma.

— Dentro.

Ramsey, segurando a vela, entrou no quarto.

— Vazio! Como você pode ver.

Enquanto estava de olho nele, Marcus voltou para o camarim


adjacente.

— Onde mais ela poderia estar? E os aposentos dos servos? Ou


a torre?

— Eu estava prestes a subir lá, — disse Ramsey. — Até eu


encontrar o corpo. Assustou-me demais.

— Como chegamos à torre?

Ramsey resmungou.

— Por que eu deveria te contar?

Marcus levantou a arma.

— Porque algo desagradável acontecerá com você, se não o fizer.


— Há uma escada neste andar, no final do corredor.

Marcus olhou para o vestido de noiva e o véu que estava


arrumado na cama.

— De quem é isso?

— Eu planejava me casar com Elizabeth, — disse Ramsey. — Eu


tenho um pregador vindo.

Marcus olhou para ele.

— O quê? Você está louco? Beth nunca concordaria com isso.

— Ela não teria muita opção. Ela seria minha baronesa. Ela teria
se acostumado a isso.

— Mas pelo amor de Deus, por quê? — Ele não podia acreditar
que Ramsey fosse capaz de algo tão altruísta quanto o amor puro.

Eles andaram ao longo do corredor antes de Ramsey responder.


Ele abriu uma porta para revelar um conjunto de escadas estreitas
de madeira que serpenteavam para cima. Ele parou no primeiro
degrau.

— Não vejo por que seja da sua conta. Por que diabos você está
aqui?

— Estou fazendo disso o meu negócio. — Marcus cutucou-o com


força entre as omoplatas para movê-lo. — Pretendo devolver Beth à
família dela. Mas vou lidar com você primeiro.
— Eu tenho uma razão muito boa. — A voz de Ramsey aumentou
um pouco. — Harrow sabe o que é. Pergunte a ele. Duques malditos
têm esse poder.

— E Harrow tende a usá-lo com sabedoria. Supondo que seu


esquema malsucedido tenha fracassado. Quais eram suas intenções?
Fugir para o continente com Beth? Sua vida não valeria a pena viver
na Inglaterra.

— Ela é uma moça espirituosa. Mas eu logo me cansaria dela,


eu me canso rápido o suficiente. Então ela poderia voltar para casa
novamente.

— Você realmente é demente, não é?

— Você a quer para si mesmo, hein, Nyeland?

— Você vira meu estômago, — disse Marcus. Enquanto eles


subiam as escadas, ele se fortaleceu com o impulso de derrubar o
homem. Isso teria que esperar até Beth ser encontrada e levada para
a segurança.

Eles alcançaram o patamar superior. Uma porta em arco dava


para a sala redonda no topo da torre.

— Abra, — Marcus ordenou.

AO SOM de vozes nas escadas, Beth e Lilly executaram seu plano.


Lilly se agachou em um canto distante, enquanto Beth esperava atrás
da porta. Ela segurava um pesado castiçal de prata acima da cabeça.

A porta se abriu e Ramsey passou por ela.


Beth derrubou o castiçal o mais forte que pôde. Ela errou a
cabeça, mas pegou o ombro dele. Como um fole, ele caiu de joelhos.

Aparentemente indiferente aos gemidos de Ramsey, o Sr.


Nyeland apareceu ao redor da porta, os olhos castanhos arregalados
de preocupação.

— Beth! Você está bem?

Ela largou o castiçal e olhou para ele sem palavras, afastando


uma mecha que caíra em seus olhos. Recuperando o senso, ela
levantou as saias de seu vestido amassado e sujo e correu para
encontrá-lo.

— É você mesmo, senhor Nyeland? Eu não estou vendo coisas?

— Melhor me chamar de Marcus, Beth. Você está segura agora.


— O cavaleiro de armadura brilhante a envolveu nos braços dele.

Atrás deles, Ramsey se levantou inquieto, desviou-se e


desapareceu escada abaixo.

— Ele se foi! — Beth agarrou a lapela de Marcus, não desejando


abrir mão dele. Ela aspirou seu aroma masculino tranquilizador.

— Ele será tratado mais tarde. Eu preciso te levar para casa.

— Ramsey me enganou para vir aqui. Havia uma nota... — Beth


ofegou.

— Você pode me contar tudo mais tarde, Beth — disse Marcus,


abraçando-a.
— Você não pode confiar nele, senhor — disse Lilly, com a voz
trêmula quando se aproximou deles.

Marcus sorriu para ela.

— A quem devo agradecer por ajudar a senhorita Harrismith?

— Esta é a Lilly, — disse Beth. — Ela tem sido maravilhosa.

Ele afastou Beth e levantou seu queixo com um dedo para


estudar seu rosto.

— Ele te machucou?

Ela balançou a cabeça.

Graças a Deus!

— Você sabe por que ele queria forçar você a se casar?

Beth balançou a cabeça.

— Ele não explicou o porquê. Eu pensei que ele devia estar


louco. Duvido que ele até tenha gostado de mim.

Os lábios de Marcus se contraíram.

— Suspeito que Ramsey tenha antecipado lidar com uma flor


murcha e não com uma garota espirituosa como você, Beth. Estou
ansioso para ouvir mais. Mas devemos ir. Ramsey está distraído, mas
isso pode não durar.

Ela assentiu.

— Como você entrou? Está tudo trancado.


— Eu quebrei uma janela. — Ele pegou o braço de Beth. —
Melhor sairmos agora.

Os joelhos de Beth tremeram enquanto desciam a escada


sinuosa com Lilly atrás deles.

— Ramsey ficou gravemente abalado depois de encontrar um


corpo em um quarto, — disse Marcus.

— Nós vimos isso também. — Beth estremeceu.

— Vá com cuidado. Ele vai nos parar se puder — alertou ele,


enquanto seguiam pelo corredor. — Ele tem muito a perder para nos
deixar partir.

Beth se encolhia a cada porta que passavam. Felizmente, cada


uma delas permaneceu fechada.

Marcus conduziu-os para a escada principal.

— Ramsey disse que a mulher morta era tia dele, você sabe se
isso é verdade, Lilly?

— Pode ser a irmã de Lady Moncrief, a Agnes, — disse Lilly. —


As duas senhoras moraram aqui ao mesmo tempo. Mas eu não estava
aqui, então não tenho certeza.

— É um mistério, — disse Marcus, — e deve permanecer assim


por enquanto. Preciso tirar as duas daqui em segurança. Mas, caso
Ramsey tenha escapado da casa na carruagem, isso apresenta
alguma dificuldade.
— Por quê? — Beth perguntou fracamente. Ela estava tão
terrivelmente cansada, e agora que Marcus estava aqui, tão sólido e
confiável, ela só queria se aconchegar nos braços dele e dormir.

— Eu só tenho um cavalo, — disse ele, enquanto estavam


posicionados no topo da escada.

— Eu posso cuidar dele. Eu vou me esconder do monstro —


disse Lilly com a voz sem convicção.

Beth balançou a cabeça.

— Não vou deixar você fazer isso, Lilly.

— Agora eu vou primeiro. Cuidado quando descerem, senhoras.

Marcus desceu as escadas. O amanhecer estava começando a


raiar, um novo dia estava começando.
Sete
ATRAVÉS DA LONGA janela, aparecia o céu violeta com matizes de
rosa. Marcus desceu a escada principal com as duas mulheres atrás
dele. Ele segurava a pistola, alerta para um ataque de Ramsey. Até
agora não havia sinal do homem. Nada agitava-se abaixo deles no
grande salão, o lampião na mesa ainda aceso.

— Não acredito que estamos livres — sussurrou Beth.

Lilly respirou fundo.

— Eu não sei, senhorita. Ele não vai desistir.

— Não, eu acredito que você está certa, Lilly, — disse Marcus.

Eles pisaram nas lajes.

Ramsey pulou de repente de um vão da escuridão que levava às


escadas dos criados. Ele brandia uma espada, de um par que havia
decorado a parede.
Marcus empurrou as duas mulheres para trás dele. Ele
observou Ramsey cautelosamente.

— Você quer que eu atire em você? — Ele havia matado homens


quando lutou em campos de batalha. Mas isso era na guerra. Embora
ele felizmente levantasse os punhos para Ramsey, ele não queria
outra morte em sua consciência, e certamente não de um homem que
estava claramente fora de si.

— Você me derrubaria como um cavalo com uma perna


quebrada? — Ramsey gritou circulando-os, varrendo o ar com a
espada. — Que tal uma luta justa, Nyeland? Vamos duelar? Ou você
é um covarde?

Marcus suspirou e pensou em dar um tiro na perna dele, mas


isso causaria mais problemas.

— Se você quiser, — ele disse finalmente. — Mas Beth e Lilly


devem primeiro sair de casa. — Ele era um esgrimista afiado que
praticava com frequência. Mas Ramsey seria sem dúvida um
oponente capaz. Muitos cavalheiros patrocinavam a Academia de
Esgrima de Ângelo. E loucos eram perigosos com uma espada nas
mãos.

— Melhor atirar no senhor! — Disse Lilly.

— Eu não vou te deixar, Marcus, — Beth declarou


categoricamente.

Marcus a chamou de lado. Ele entregou-lhe a pistola.


— Deixe o local. Se afaste o suficiente para você encontrar o
caminho para a casa de um vizinho. Peça a ajuda deles — disse ele
em voz baixa enquanto Ramsey se aproximava para alcançar a
espada restante. — Eu vou te encontrar lá. Mas se Ramsey me
derrotar e for atrás de você, atire nele.

— Não! Eu pretendo ficar. — Os dedos de Beth enrolaram em


volta do gatilho de aço. Olhando para Ramsey, ela levantou a arma
na direção dele; e, embora tremesse um pouco em suas mãos, ela
parecia determinada.

Ela roubou o coração de Marcus naquele momento. Ele


pretendia permanecer vivo para convencê-la a se casar com ele.

— Vá, — ele disse gentilmente. — Tenho certeza que você não


deseja me distrair.

Aparentemente, vendo o senso disso, Beth assentiu lentamente.

— Por favor, seja cuidadoso.

Ele estendeu a mão para Ramsey.

— As chaves.

Ramsey enfiou a mão no bolso e pegou um molho de chaves de


castelã. Ele os jogou para Marcus, que os entregou a Lilly.

Beth manteve a pistola apontada para Ramsey enquanto pegava


a capa da noite que estava no prego do salão e pegava seu retículo.

Lilly abriu a porta.


Por um momento, Beth ficou parada na porta, com o olhar
ansioso em Marcus, depois seguiu a criada até a fraca luz do
amanhecer.

Embora não estivesse totalmente confiante de que ela o


obedeceria, Marcus tirou o casaco. Ele teria que ter certeza de que
sairia daqui inteiro.

Ramsey entregou o punho da espada primeiro a Marcus, seus


olhos brilhando com um fogo maníaco.

— Espere, Ramsey. — Marcus foi até a porta para garantir que


Beth e Lilly tivessem saído. Não encontrando nenhum sinal delas, ele
voltou. Ele testou a espada desconhecida, tendo sido mais
acostumado com a folha larga e o sabre durante a guerra. Era uma
lâmina muito mais pesada, com a forma, o peso e a ondulação
remanescentes de uma antiga espada de duelo. A arma que
empunhava na guarda era muito grande, em forma de lírio, para
proteger a mão e o pulso. Ele testou a força do aço e a sensação da
espada em suas mãos, cortando o ar. Então ele saudou seu oponente.

— EnGuarde! — Ramsey gritou, assumindo a postura.

Ramsey duelaria até a morte, Marcus percebeu. Em sua mente


distorcida, seria a morte de um cavalheiro. Por que ele não tinha
atirado no homem? Mas fazer isso seria um começo terrível para ele
e Beth. Um começo tão auspicioso ficaria entre eles. Ele não gostaria
de parecer covarde aos olhos dela.
Ciente de quão vulnerável ele estava sem máscara ou
equipamento de proteção, Marcus ergueu a lamina e atravessou o
chão. Ele considerou suas táticas. Ele precisaria distrair Ramsey,
desequilibrá-lo.

— Allez! Vamos! — Ramsey se lançou, a ponta da arma apontada


para o peito de Marcus, revelando suas intenções.

Com passos curtos e rápidos, Marcus desviou com uma réplica


dirigindo a Ramsey um choque de aço.

— Aproveite seus últimos momentos na terra, — exclamou


Ramsey, o desejo de vingança escurecendo os olhos.

Eles dançaram um rodeando o outro, os pés arrastando-se pelo


chão. Suas lâminas se chocaram e Marcus sentiu o cheiro do suor
azedo de Ramsey. O suor escorria por sua própria testa quando ele
se desengatou e torceu para atacar o lado esquerdo de Ramsey.
Ofegante, Ramsey defendeu.

— Por que você deseja se vingar do duque de Harrow? — Marcus


perguntou quando suas lâminas se chocaram novamente.

— Ele me acusou de trapacear em uma casa de jogos em Paris.


Fui banido de todas elas. — Ramsey estava ofegando, respirando com
dificuldade. — Eu tinha uma boa vida lá. Ele destruiu meu sustento.

— Andrew não teria feito isso se não fosse verdade, — disse


Marcus, evitando um ataque cruel.
— Como amigo dele, você diria isso. — Irritado, Ramsey atacou
loucamente novamente. Marcus sentiu o degrau inferior da escada
atrás de seus pés. Antes que pudesse tropeçar, ele atacou com uma
série de investidas levando Ramsey de volta.

— Qual a vantagem de levar Beth para a França? — Ele


perguntou quando poderia recuperar o fôlego.

— Como a irmã de Harrow em lei, ela irá restaurar minha


credibilidade nas casas de jogo. Eu poderia retomar minha vida lá de
novo — Ramsey soprou. — Harrow poderia ser persuadido a dar uma
boa soma de dinheiro para tê-la de volta à Inglaterra. Se eu
concordasse em me separar da minha esposa.

— Parece um esquema maluco, sem chance de sucesso.

— Teria funcionado perfeitamente se você não tivesse


interferido. Uma vez que a dama fosse deflorada, sua única opção
seria o casamento.

Furioso, Marcus esqueceu seu plano e atacou com força


imprudente. Ele levou Ramsey de volta contra a mesa do refeitório,
inclinando o lampião. Ele se balançou e ameaçou cair. Isso distraiu
Marcus por um momento. Ramsey se recuperou com uma risada e
golpeou, picando o braço de Marcus.

Marcus amaldiçoou quando o sangue escorreu pela manga. Se


molhasse seus dedos, ele estaria perdido.
Eles lutaram contra as pedras da casa, até Ramsey tropeçar em
um pedaço de armadura. Com um grito de raiva, ele se lançou de
novo apenas para ser bloqueado por Marcus.

— Quem é a mulher morta no armário? — Ele perguntou a


Ramsey.

Ramsey aparou vigorosamente.

— Eu te disse. Minha tia!

— Qual? — Marcus se opôs a outro ataque frenético. A noite


tinha sido longa e os dois estavam cansados.

— Agnes. Ela desapareceu alguns anos atrás. É provável que


sua irmã Gertrude a tenha matado. Muitas discussões entre elas.

— A loucura corre na sua família?

Com um grunhido quase desumano, Ramsey atacou ferozmente


avançando com passos rápidos. Ele respirava pesadamente, o rosto
vermelho e o suor escorria pela testa. Sua raiva o deixou descuidado.
Quando ele se lançou para frente, a espada de Marcus se deslizou da
lâmina de Ramsey e atingiu profundamente o ombro do homem.

Com a espada voando de sua mão, Ramsey afundou com um


gemido. Ele apertou a ferida onde o sangue jorrava.

— Termine comigo, Nyeland.

Marcus chutou a espada de Ramsey. Ele tirou a gravata,


dobrou-a e enfiou-a por baixo do casaco de Ramsey.
— Vou mandar um médico para você.

— Não se preocupe — murmurou Ramsey.

Vestindo o casaco, Marcus saiu de casa. Não havia sinal das


mulheres. Ele esperava que elas estivessem a caminho da vila, mas a
alguns metros da entrada da casa, elas emergiram da folhagem ainda
pingando chuva e orvalho.

— Graças a Deus! — Beth se apressou, sua voz tremendo. —


Mas você foi ferido.

— É apenas um arranhão.

— Ele está morto? — Ela perguntou.

— Não, ele vai viver, — respondeu Marcus.

— Srta. Beth queria voltar para dentro e atirar no barão, — disse


Lilly. — Mas eu a parei.

— Muito sensato, Lilly. — Marcus olhou para o rosto exausto da


jovem lady e estava começando a se sentir cansado.

Beth arrancou o delicado babado do vestido.

— O vestido está arruinado de qualquer maneira, — ela explicou


enquanto amarrava o cetim rosa em volta do braço dele.

— Você pode montar, Lilly? — Marcus perguntou.

— Pôneis e cavalos de arado. Eu sou uma garota do campo.


— Bom o bastante. — Marcus pegou o braço de Beth e as levou
para os estábulos. — Esperem aqui. — Ele subiu as escadas da
cocheira e bateu na porta do estábulo.

Um indivíduo corpulento, limpando o sono de seus olhos, abriu-


o.

— O que você quer?

— Seu mestre precisa de você, — disse Marcus.

O cocheiro piscou para o céu.

— Mal amanheceu. Ele não pediu um começo precoce. Tinha


planos, — ele disse.

— É melhor você ir imediatamente a ele. Ele está ferido e não


está no melhor dos humores.

Depois de vestir as calças, o homem desceu correndo as


escadas.

Marcus entrou nos estábulos, ofegando com o cheiro rançoso de


negligência. Ele afastou Zeus de sua baia e o selou. Então ele colocou
uma rédea no cavalo com as quatro patas brancas. Ele procurou
outra sela, mas não havia.

No pátio, ele levantou Beth nas costas de Zeus e depois


empurrou Lilly atrás dela. Ele pegou a rédea do cavalo e o montou. O
cavalo, não acostumado a ser montado em pelo, zuniu e se afastou.
— Eia, meu bom amigo, — Marcus o acalmou, dando um
tapinha no pescoço do cavalo. — Um lugar decente espera por você.
— Ele não teria escrúpulos em pedir emprestado o cavalo de Ramsey.
Ele desejava poder mantê-lo. O cavalo era bom demais para pessoas
como o barão. E se Ramsey se recuperasse e decidisse segui-los, um
membro desaparecido de sua equipe de carruagem o atrasará por um
tempo.

Enquanto os cavalos trotavam para tomar a estrada, Marcus


olhou pela janela. No grande salão, o cocheiro ajudava Ramsey a se
levantar. O ferimento estava no alto do ombro, mas sangrava
profusamente. Era improvável matá-lo, mas levaria algum tempo
para se recuperar. Marcus não se importou muito. Deixaria Andrew
lidar com o sujeito.

Com os braços de Lilly ao seu redor, Beth se abaixou sobre o


pescoço de Zeus quando atravessaram a ponte de pedra e entraram
em uma pousada em Richmond. O cavalariço no pátio correu para
cuidar de uma carruagem que estacionava e os viajantes cansados
saltavam dela.

— Vou contratar uma chaise para levá-la para casa depois do


desjejum, — disse Marcus. Era lamentável que estivesse em plena luz
do dia quando chegassem a Londres. Pelo menos Beth estaria
acompanhada de uma serva. Ele ainda esperava poder garantir que
Beth não fosse comprometida por essa noite de vilania.

— MAIS DESJEJUM? — O criado da estalagem perguntou a Beth.


— Sim, obrigada. — Beth olhou timidamente para Marcus, que
estava comendo um bife. Ela estava exausta, mas estranhamente
alerta e ciente de tudo ao seu redor, os cheiros de carne assada, café
e cerveja, as conversas das pessoas ao seu redor, o olhar preocupado
de Marcus, estava mais intenso que uma mera preocupação. Ou ela
estava sendo fantasiosa?

Ele sorriu para ela.

— Tivemos sorte, uma chaise de aluguel acabou de chegar


depois de levar a viajante para uma casa próxima.

Ela não conseguia desviar o olhar dele. Uma barba escura cobria
sua mandíbula, o que o fazia parecer um ladrão de estrada em vez de
um cavalheiro. Seus dedos coçavam para acariciá-lo. Seria grosseiro
ou sedoso? Um homem honrado. Assim que chegaram, ele havia
contratado um médico para tratar da ferida de Ramsey. Ela algum
dia encontraria outro igual a ele? Ela duvidava disso. Ela realmente
suspeitara que ele era um libertino? Foi apenas a noite passada? O
que teria acontecido com ela e Lilly se ele não tivesse chegado? Ela
não pensaria nisso.

— Você acha que Ramsey virá atrás de nós? Seguir-nos para


Londres? — Ela não tinha medo quando Marcus estava com ela.

— Não, ele não está em condições de viajar, mas se o fizer, irá


para o norte. Você não o verá novamente.
Ele parecia tão certo. Ela queria acreditar nele. Foi um milagre
que ele tivesse vindo encontrá-la.

— Como você descobriu que ele me levou? — Ela perguntou,


enquanto os ovos e a bebida esperavam com o nó frio no seu
estômago. Ela queria saber tudo.

— O bilhete que Ramsey enviou a Sra. Grayshott em um


encontro selvagem para os jardins, — explicou Marcus. — Ela
procurou em todos os lugares por você, depois me acusou como fui o
último homem a dançar com você. Descobrindo seu erro, ela pediu
minha ajuda.

— Oh, céus. A Sra. Grayshott disse a todos que eu a enganei e


fui ao jardim com um homem.

— Duvido muito. Eu a adverti para ser discreta, pois o duque


não aceitaria nenhuma fofoca.

— Estou muito agradecida, Marcus! Detestaria que isso


danificasse Jenny e Andrew de alguma forma. — Mas por que ele fez
a viagem durante uma tempestade para encontrá-la? Ele não a
conhecia, além da dança que eles compartilhavam. Ele era amigo de
Andrew, é claro, mas ainda assim... Ela arrumou uma mecha de
cabelo, ciente de que devia parecer assustada. — Andrew e minha
irmã, Jenny, ficarão terrivelmente preocupados!

— Eles serão tranquilizados em breve. — Ele apontou para a


chaise de corpo amarelo do lado de fora da janela. Dois lacaios,
vestidos com calções de couro branco, uniformes e jaquetas curtas
com grandes botões de latão, chapéus altos de castor na cabeça,
aguardavam ao lado.

— Você vem conosco para Londres? — Perguntou Beth.

— Eu não posso, assim receio. Preciso mandar o cavalo de


Ramsey de volta para ele. — Seu sorriso era quente e tranquilizador.
— Você voltará a sua família muito em breve, Beth. O tempo continua
bom e estamos a menos de 16 quilômetros de Harrow Court.

— Você vai ver o xerife

— Não, deixarei isso para o julgamento de Andrew. Isso deve ser


tratado discretamente. — Marcus terminou o desjejum, bebeu o
último gole e se levantou. — Pagarei o estalajadeiro e espero você lá
fora.

Beth engoliu sua decepção por eles se separarem enquanto o


observava sair do salão. Era de se esperar, supôs, que ela dependesse
dele. Depois de tudo o que ela passou. Apesar dele ter ordenado que
ela deixasse a propriedade, ela e Lilly permaneceram para ver o duelo
pela janela, a respiração presa na garganta, enquanto sua admiração
pela habilidade dele a fazia querer animá-lo enquanto ele lutava com
Ramsey com tanta habilidade e graça. A arma agarrava-se com força
em sua mão, ela esperou, determinada a ir em seu auxílio, caso fosse
necessário, e ela caiu de alívio quando ele tirou o melhor do canalha.
Lilly a afastara para se esconder nos arbustos.
— Não faz sentido irritar o cavalheiro. Ele ordenou que
partíssemos — ela dissera de maneira prática.

Beth suspirou. Ela temia estar apaixonada por ele. Sua posição
no Ministério das Relações Exteriores significava que sua vida
envolveria negócios do governo, viagens a climas estrangeiros e
intermináveis partidas e saraus. Não era isso que ela queria, desejava
uma vida menor. Uma onde ela poderia continuar a cuidar de
criaturas feridas. Até agora, eles sempre foram animais da floresta,
mas Londres a havia chocado. Havia tantos cães e gatos abandonados
nas ruas. Ela desejou poder resgatá-los também. Um dia, talvez ela
pudesse fazer mais.

Enquanto ela estava eternamente grata a Jenny e Andrew por


tudo o que haviam feito por ela, começou a desejar um pouco de
independência para si mesma. Jenny, estava contente em seu
casamento, e desejava o mesmo para Beth. E, embora Beth
concordasse em participar de uma temporada, ela não havia desistido
da ideia de continuar seu trabalho. Ela pretendia encontrar o homem
certo. Alguém que apoiasse seus objetivos e orava que seu pai,
entrincheirado em seus livros de história e poesia em Yorkshire, não
interferiria em sua escolha.

— Preciso ver minha mãe — disse Lilly, atraída por sua


contemplação dos clientes na sala de jantar da pousada. — Hoje ela
limpa para o vigário.
— Vamos parar no caminho, — Beth empurrou a cadeira para
trás, tentando procurar uma sala privado. — Você vem para ficar em
Londres comigo?

— Londres? Oh, senhorita, isso será um prazer.

Tudo seria novo para Lilly, mas Beth achava-a inteligente e


rápida em aprender, e ela era leal. Ela já havia decidido que, em vez
de pedir a Jenny que encontrasse um lugar para serva em uma das
outras propriedades, convidaria Lilly para ficar com ela em
Castlebridge. Ela tinha certeza de que elas se tornariam boas amigas.

Na sala privada da pousada, Beth olhou para o rosto no espelho.


Ela esfregou os lábios e as bochechas para fazê-la parecer menos
pálida e deixá-la com mais cor. Jenny odiaria vê-la assim. Mas seria
tão bom estar de volta com eles novamente. Ela arrumou os cabelos
enquanto admitia que, naquele momento, apesar de suas apreensões,
tudo o que ela queria fazer era descansar a cabeça no ombro largo de
Marcus. Ela o veria novamente depois que tudo isso terminasse? Dói-
lhe pensar que não. Às vezes ele viria visitá-los? Parecia improvável,
pois ele não tinha ido a Castlebridge em todos os anos que ela morou
lá. Mas lembrando como ele sorriu para ela, pensou que ele poderia
vir. Seus olhos castanhos continham algo mais pessoal do que mera
preocupação com o bem-estar dela. Algo íntimo passou entre eles,
como um segredo. Aqueceu-a e baniu o nó frio em seu estomago.

Beth franziu a testa para o espelho. Ela estava sendo tola.


Aliviada por estar segura, é claro, e estava enormemente grata a ele.
Quando o horror da noite passada diminuiu um pouco, ela começou
a pensar com mais clareza.

Ela se virou e sorriu para Lilly.

— Pronta para partir?

— Mais do que jamais possa estar, — disse Lilly com um sorriso


vacilante.
Oito
DEPOIS QUE ELAS PARTIRAM, Beth acenou da janela da chaise.
Marcus presumiu que, no seio amoroso de sua família, ela
continuaria a sair quando se recuperasse de sua provação. Os
pretendentes se alinhariam. Haveria uma abundância de homens
interessados em uma bonita moça. A onda de ciúme quente o pegou
de surpresa. Ele virou-se, caminhou até os estábulos e falou com o
cavalariço que cavalgaria o castanho levando-o de volta à Whittemore
House.

Marcus montou Zeus para a viagem de volta para casa.


Enquanto cavalgava, pensou pouco em Ramsey. Seus pensamentos
eram em Beth: seu espírito, sua coragem, como ela tinha sido esperta
em enganar o diabo. No caminho para a vila, ela contou como tentara
vencê-lo no faro, empregando as habilidades que seu irmão havia lhe
ensinado. Seu fracasso em tirar o melhor do barão a deixou triste. Ele
soprou com isso e balançou a cabeça. Ele nunca conheceu alguém
como ela.

Ele sempre considerou sua natureza criteriosa. Não alguém que


permitia que o sangue quente o dominasse. Durante as escaramuças
Peninsulares, ele era conhecido por manter seus homens
concentrados e bem disciplinados. Mas ele estava descobrindo algo
novo sobre si mesmo; ele era capaz de um desejo ardente, uma paixão
urgente. Ele percebeu que, depois de tudo o que haviam passado, o
que realmente importava ficou subitamente claro. Algo foi forjado
entre eles, pois, apesar de tão pouco conhecimento, ele queria Beth;
Queria-a à noite em sua cama, e quando olhasse através do quarto
depois das longas horas de trabalho, às vezes tediosas, que deveria
participar, e ao voltar e encontrá-la sorrindo para ele. Era
surpreendente, mas lá estava.

Ele não estava em busca de uma esposa, suas constantes


viagens ao exterior tornavam isso difícil. Tinha sido uma vida
fascinante e emocionante, trabalhando para o Ministério das
Relações Exteriores, e combinava com a sensação sem raízes que
nunca o deixara depois da guerra. Uma vida solitária, ele admitia,
seus relacionamentos de curto prazo com as mulheres nunca se
aprofundando no amor. Um caminho que ele agora estava ficando
cansado. Ele queria lareira e um lar, e Beth, em casa em Cotswolds,
que ele herdara de seu pai, e estava alugada há anos.
Mas esta iminente viagem à Grécia dar-lhe-ia uma parada. Ele
pretendia se aposentar quando retornasse, mas poderia ficar fora por
um ano ou mais. A essa altura, Beth poderia muito bem estar noiva
ou até casada. Ele não podia levá-la para um campo de trabalho onde
havia inquietação. Tampouco poderia pedir que ela esperasse por ele.
Isso dificilmente parecia justo ou mesmo sábio. E mesmo que ele
decidisse arriscar, dificilmente poderia entrar na casa de Andrew e
confessar seu desejo de cortejá-la, como um tolo idiota, não depois
da experiência angustiante que ela acabara de suportar. E Beth, ela
aceitaria os termos dele? As bochechas coradas dela e os olhos
brilhantes quando se despediram foram meramente gratidão?

Com a mão nas rédeas, enquanto pensava profundamente, os


campos malcheirosos e o clamor o fez ciente de que haviam deixado
os prados e as pequenas aldeias para trás. Ele cavalgava pelos
arredores das movimentadas ruas de Londres, cheias de carruagens
e carroças, as calçadas com pessoas se empurrando.

Já passava do meio dia quando chegou às ruas mais calmas e


arborizadas de Mayfair. Ele desmontou em seus estábulos e Davy,
seu cavalariço, cumprimentou-o. Marcus deu um tapinha em Zeus
antes que o cavalariço tomasse as rédeas e levasse o cavalo para
longe.

Depois de almoçar, tomar banho e se vestir, Marcus partiu a pé


para a mansão de Andrew na Curzon Street. Enquanto caminhava
pela calçada balançando a bengala, estava ansioso para descobrir
com Andrew o que havia ocorrido em Paris para deixar Ramsey tão
louco por vingança. Mas acima de tudo, estava ansioso para ver Beth
novamente.

O mordomo conduziu Marcus para a biblioteca de Harrow


Court. Sorrindo calorosamente, Andrew apertou sua mão.

— Muito bem, Marcus. Ficamos muito aliviados quando Beth


chegou em casa em segurança. Eu contrataria um agente de Bow
Street, mas nada podia ser feito durante as primeiras horas da manhã
e tínhamos tão pouco a fazer. — Ele acenou a Marcus uma cadeira.
— Que horrível! Chegar a Castlebridge e descobrir que a nota era uma
farsa. E então, em nosso retorno a Londres, descobrimos que Beth
havia desaparecido. Despertada de sua cama, a Sra. Grayshott estava
tão profundamente chateada que eu pouco pude entendê-la. Mas, no
final, decidi que ela sabia pouco mais do que nós. A ação suja estava
feita, no entanto, o que irritou Jenny terrivelmente.

— Um sujeito covarde, Ramsey, — disse Marcus. — Foi pouco


mais do que um palpite que me levou à casa dele em Twickenham.

— Foi um golpe de gênio.

— Tudo por causa de um cavalo com quatro patas brancas. —


Marcus continuou explicando sobre o cavalo que ele quisera comprar
em Tattersalls e como ele o reconheceu pela descrição do cavalariço.
— Estremeço ao pensar em como tudo acabou. — Havia centenas de
convidados presentes naquela noite, e felizmente, um argumento
barulhento eclodiu entre Lorde e Lady Blake e a lady que é sua
amante, que a atenção de todos foi para este caso. A história ainda
está dando voltas pelo que me contam.

— Fiquei satisfeito ao saber que a Sra. Grayshott atendeu ao seu


pedido de discrição, — disse Andrew por cima do ombro enquanto
servia vinho de uma jarra em dois copos de cristal. Ele entregou um
a Marcus, depois tomou a cadeira oposta. Os lábios dele se
contraíram. — A pobre moça obviamente lutou, entretanto, em
resistir a uma história tão suculenta nos meios de fofocas relacionada
aos seus amigos é difícil, mas tenho sua firme promessa de que nada
mais será dito sobre o assunto. De fato, temos sorte, pois apenas
alguns servos testemunharam o que aconteceu e, mesmo que tenha
sido discutido no salão, muito pouco pode ser feito. Eu imagino que
logo desaparecerá. Assim que Beth chegou, enviei uma nota de
desculpas à condessa Wellington, informando que Beth foi chamada
às pressas para casa devido a uma emergência familiar. A condessa
pode suspeitar de algo mais, mas é sábia demais para questionar tais
assuntos. Então, — ele disse, recostando-se na poltrona, com alívio
gravado em seu rosto, — continuaremos esperançosos de que a alta
sociedade permaneça na ignorância.

— Isso é tranquilizador. — Marcus girou o copo na mão,


admirando a maneira como a luz capturava as facetas do liquido rubi
colorido o cristal. — Como está Beth? — Ele perguntou o mais
casualmente possível.

— Muito cansada. Ela e Jenny estão descansando.


Marcus bocejou atrás da mão.

— Fui adepto de ficar sem dormir durante meus anos no


exército, mas confesso que estou cansado. — Ele sorriu. — A idade
está me alcançando, suponho.

— Bobagem, — disse Andrew. — Você é muitos anos mais novo


que eu. E eu me considero no meu auge. Mas, mesmo assim, você
merece um bom descanso. Você está bem próximo dessa viagem à
Grécia, não é?

— Sim, — disse Marcus. — Vou descobrir mais sobre isso em


breve.

— Não espero que você me acompanhe até Twickenham.

— Eu irei, é claro, se você desejar.

Andrew balançou a cabeça.

— Melhor lidar com esse assunto sozinho. Beth me contou a


maior parte do que aconteceu, mas agora eu gostaria de ouvir o resto
de você.

Marcus concordou e contou o que havia descoberto e recolhido


de Ramsey enquanto eles duelavam.

— Bom Deus. O homem está louco! Você é conhecido por se


sobressair no jogo de espadas, mas se fosse eu, eu teria atirado nele
— disse Andrew sem rodeios. — E não tenho certeza absoluta se
ainda não vou.
Marcus duvidava que seu amigo recorresse à violência.

— Ramsey me disse que você o acusou de trapacear nas cartas


em Paris. — Marcus se perguntou se a história era verdadeira.
Andrew era um jogador indiferente.

— É verdade. — Andrew disse. — Um jovem francês, Oliver


Benoit, era meu secretário em Paris. Chocou-me e me angustiou
quando ele colocou uma arma na cabeça e acabou com sua vida. Um
amigo testemunhou Ramsey jogando vinte e um com Oliver. Ramsey
implacavelmente o levou à falência. Fiquei tão bravo e chateado que
fui observar o jogo de Ramsey durante várias noites. Fiquei
convencido de que ele estava trapaceando. E vi quando ele mirou em
outro jovem infeliz que acabara de herdar uma grande quantia de
dinheiro. Eu não poderia permitir que isso continuasse. Droga. Meu
sangue ferveu, Marcus. Eu gostava de Benoit! Ele era um jovem tolo,
mas Ramsey era um sugador de sangue venenoso, que eu havia
descoberto, predando jovens tolos. Então joguei algumas mãos com o
barão e, quando minha sorte chegou, o maluco começou a tirar notas
do fundo do baralho. Ele era bom, mas eu ainda o peguei. E o acusei
disso.

Marcus sabia que a palavra de um duque exercia tanto peso na


França quanto na Inglaterra. Ramsey teria sido desonrado e
conhecido como trapaceiro em todas as casas de apostas na França.

— Ramsey negou, é claro, mas muitos homens sabiam que era


verdade, — disse Andrew. — Eu esperava que Ramsey me repudiasse,
me ameaçasse de retaliação, mas, como o covarde que é, ele escapou
de Paris com o rabo entre as pernas.

— Ele não voltou a trapacear em Londres?

— Ele não ousaria correr esse risco nos clubes de cavalheiros,


mas talvez nos infernos dos jogos, — disse Andrew.

— O que você planeja fazer? — Marcus perguntou. — Você vai


pedir ao marquês de Strathairn para acompanhá-lo?

— Tentador. John foi extraordinariamente eficiente em livrar


Castlebridge de um assassino anos atrás, mas não há tempo para
isso. E prefiro cuidar de Ramsey. — Ele estreitou os olhos azuis. —
Eu vou gostar disso.

— Ramsey é tão perigoso quanto um animal selvagem ferido, —


disse Marcus. — Deixe-me ir com você.

Andrew balançou a cabeça.

— Vou levar Mansfield, um sujeito durão, que é meu chefe de


cozinha. No passado, ele era um pugilista. Talvez nós possamos
colocar Ramsey a bordo de um navio com destino a Antípodas.

— Se você não o encontrar em Whittemore House, ele pode ter


ido ao seu castelo no norte.

Andrew encolheu os ombros.

— Então eu vou atrás dele.


— Se for esse o caso, eu irei acompanhá-lo, — disse Marcus em
um tom determinado. — Caso contrário, vou me arrepender de não
ter despachado o homem para Hades.

— Se você insistir, — disse Andrew com a sugestão de um


sorriso.

Marcus largou o copo.

— O castanho que mencionei com as quatro patas brancas tem


uma pelagem dura e não gosto da aparência de uma das pernas
dianteiras. O cocheiro de Ramsey é um sujeito em ruínas e não havia
cavalariço. O puro-sangue é bom demais para pessoas como o barão.

— Como todo os cavalos dele, eu imagino. — Andrew terminou


o resto do vinho e se levantou. — É melhor eu falar com Jenny e estar
a caminho.

Marcus foi com ele até a porta.

— Gostaria de ver Beth quando ela se sentir mais à vontade. —


Ele tentou parecer casual, mas suspeitou que o tom de sua voz o
denunciou.

Andrew olhou para ele.

— Vamos vê-la no jantar ou você tem um compromisso prévio?

— Eu gostaria disso. Obrigado.

Quando eles entraram no salão, Andrew virou-se para ele.


— Isso é apenas um interesse casual no bem-estar de Beth? Ou
algo mais?

— Algo mais, — Marcus confessou irritado com o quão esperto


Andrew poderia ser.

— Ah. — Andrew deu um tapa nas costas dele. — Eu não


gostaria de nada melhor, meu amigo. — Ele franziu o cenho quando
Marcus pegou o chapéu e a bengala do mordomo. — Beth é diferente
da sua rotina habitual de debutantes. A maioria delas são pequenas
borboletas, ajudadas pelas mães casamenteiras. A mãe de Jenny e
Beth morreu muitos anos atrás. Jenny cuidou de seus irmãos e irmãs
até chegar a Castlebridge como governanta de William e Barbara.
Beth veio morar conosco logo depois. O pai delas, Lorde Harrismith,
é um estudioso ávido pela história. — Ele levantou uma sobrancelha.
— Preciso dizer mais?

— Eu tenho um tio com interesses semelhantes. Preocupa-se


com pouco mais do que seus livros. Mas qualquer que seja sua
educação, Beth é considerada por mim corajosa e inteligente.

— De fato, — disse Andrew lentamente. — Ela é tudo isso e


muito mais. Mas ela tem uma ideia firme do que quer da vida.

— Eu mal estou em posição de pedir a mão dela. Não com esta


viagem à Grécia daqui a algumas semanas. E não posso pedir que ela
me espere.
— Eu posso ver as dificuldades, Marcus. Devo deixar para o seu
bom senso, e Beth deve decidir, se você propor a ela. Agora devo ir
até Jenny. Vamos jantar às sete. Talvez um jogo de bilhar ou whist
depois?

Marcus assentiu.

— Vá com cautela, Andrew.

Ao voltar para casa, Marcus se perguntou que reservas Andrew


tinha quando falava de Beth. Ele não gostaria que Marcus levasse
Beth para a Grécia, mas havia outro motivo para ele se opor ao
casamento? E havia o pai de Beth que deveria ser consultado.
Quando chegou a sua casa, ele ainda não tinha certeza do que o
futuro lhe reserva. Como pretendente, ele parecia aceitável. Seu pai,
Sir Henry, tinha sido muito respeitado. Andrew também obteve
aprovação de seu trabalho no Ministério das Relações Exteriores. Ele
era capaz de sustentar confortavelmente uma esposa, pois herdara
uma boa propriedade. Depois de tudo! Ele amava Beth! Sua mãe não
lhe disse desde que tinha dois anos de idade, que se Marcus colocasse
seu coração em algo, ele persistiria até conseguir? Mas e Beth? Ao
pedir que o valete trocasse sua roupa, ele temia que houvesse muita
coisa contra ele.

BETH ACORDOU, COM O coração batendo forte. Por um momento,


ela temeu que tivesse sido jogada de volta ao mundo dos pesadelos
em Whittemore House. Seu batimento cardíaco diminuiu quando ela
olhou ao redor de seu bonito quarto floral. Harrow Court. Segura. Ela
se esticou sob os lençóis de linho luxuosos e pensou em Marcus.
Quando ela o veria novamente? Certamente ele viria para ver como
ela estava.

Ela fez uma careta. Era bom sonhar com ele? O mundo dele não
era dela; ela falharia se tentasse entrar, e sua infelicidade o deixaria
infeliz.

Além da janela, o sol estava se pondo no oeste. Ela dormiu por


horas. Ansiosa por notícias, ela saiu da cama e tirou um vestido de
prímula do baú. Jenny sempre implorava-lhe para ter um serva
particular, mas ela tinha crescido sem a necessidade de uma. Ela
estava acostumada a cuidar de si mesma. No entanto, seria bom ter
Lilly como sua serva.

Uma vez vestida, ela foi procurar Lilly na ala no andar de cima,
onde ficavam os aposentos das servas. Depois de uma breve pesquisa,
encontrou Lilly no pequeno quarto do sótão que lhe foi atribuído.

Lilly sorria enquanto arrumava os cabelos diante de um pequeno


espelho.

— Oh, senhorita, um lugar tão limpo. Tão confortável. E eu


recebi roupas tão bonitas para vestir. — Ela apontou um chinelo
vermelho e virou-se em seu vestido azul segurando o longo avental
branco. — Material tão fino.
— Pode demorar um pouco para aprender como as coisas são
feitas, — disse Beth. — Mas estou muito satisfeita por você estar aqui.
Você não sentirá falta da sua mãe?

— Eu não posso ficar com saudades, ela vive em um pequeno


quarto sobre uma loja. Eu tenho enviado um pouco de dinheiro a
cada mês.

Beth sentou na cama.

— Você pode continuar enviando dinheiro para ela, Lilly. Você


será minha serva pessoal, aqui em Londres e quando voltamos para
Castlebridge.

Os olhos de Lilly se arregalaram.

— A serva de uma lady? Bem, eu nunca imaginei isso. — Ela fez


uma careta. — Eu posso costurar, senhorita. Minha mãe disse que
sou boa nisso. Mas isso não tira uma serva do andar de cima?

— Acho que não. Eu não sou a lady desta casa. — Ela sorriu. —
E por favor me chame de Beth. Espero que você seja feliz aqui.

— Eu seria muito ingrata se não fosse, não seria... Srta. Beth.


— Ela voltou ao espelho e colocou o chapéu branco da ráfia. — Eu
devo ir ao salão dos servos. Seria um mau começo chegar tarde ao
jantar.

Beth a deixou e desceu a escada principal para o salão azul. Ela


encontrou Jenny sentada em um sofá de chita floral perto da janela,
um livro aberto no colo. Ela olhou para o crepúsculo.
— Andrew não voltou de Twickenham. — Ela mordeu o lábio. —
Ele se foi por horas.

O medo apertou o estômago de Beth.

— Tenho certeza que ele chegará em breve.

— Eu espero que sim. O Sr. Nyeland chegará logo para jantar.

Beth prendeu a respiração. Realmente, ela não deveria permitir


que a simples menção de Marcus a perturbasse, ela disse a si mesma,
ela só queria agradecê-lo novamente.

— Senhor Nyeland é um bom homem, Jenny, e tão terrivelmente


corajoso.

— Mmmm? — Jenny olhou para ela sem realmente vê-la. Ela


balançou a cabeça como se quisesse clarear a mente. — Oh, sim. Ele
é! Andrew e eu somos profundamente gratos a ele por devolver você
em segurança para nós. — Ela fechou o livro e se levantou para
colocá-lo sobre a mesa. Parada na janela, ela puxou a cortina para
olhar a curva da entrada de cascalho. — Gostaria que Andrew não
tivesse ido de chaise apenas com um cavalariço!

— Ele deve estar confiante de que pode lidar com a situação e


gostaria de ser discreto. Ele estará aqui em breve, querida. — Beth
engoliu o nó na garganta quando ela ficou ao lado de sua irmã,
passando um braço em volta da cintura.

Jenny suspirou.
— Eu só quero deixar esse negócio assustador para trás.
Deveríamos subir e nos trocar para jantar antes do Sr. Nyeland
chegar.

Quando desceram novamente em seus vestidos de noite, estava


escuro e Andrew ainda não havia retornado.

Não demoraram muito para esperar o mordomo anunciar o Sr.


Nyeland. Ele entrou no salão, e o pulso de Beth acelerou. Quando
seus calmos olhos castanhos encontraram os dela, ela se sentiu um
pouco tranquila. Ele era tão sólido e confiável, e tão bonito em suas
roupas de noite.

— Por favor, sente-se, senhor Nyeland — disse Jenny.

Beberam vinho e conversaram, mas o tempo todo tentando ouvir


o som de uma carruagem. Depois de agradecer calorosamente a
Marcus e elogiar suas ações rápidas, Jenny o questionou sobre o que
havia acontecido na casa antiga. Ele fez o possível para responder,
mas Beth percebeu que não queria descrever o que havia acontecido
entre ele e Ramsey.

— Marcus foi notável, Jenny. Sua habilidade em esgrima é


excelente. Ramsey não teve chance.

Os olhos cinzentos de Jenny se arregalaram, supostamente


diante da calorosa resposta de Beth e de seu uso casual do nome de
Marcus.
— Você ficou assistindo a luta? — Marcus levantou uma
sobrancelha. — Pensei que tivéssemos concordado que você e Lilly
iriam embora. Pensando sobre isso, você não foi muito longe, não é?

— Bem, eu... — Beth endureceu os lábios. — Eu fiquei para


assistir.

Um leve sorriso apareceu em sua boca.

— Eu deveria saber.

Ela se sentiu corar.

— Estou feliz que fiquei. Você foi magnífico.

— Dificilmente isso, mas obrigado. — Seus olhos castanhos


procuraram os dela, fazendo-a se aquecer por todo o corpo.

— Gostaria que Andrew chegasse — disse Jenny, aparentemente


distraída demais para perceber o que acontecia entre eles.

— Se ele não estiver aqui em breve, irei a Twickenham, — disse


Marcus. — Mas espero encontrá-lo na estrada.

— Sr. Nyeland? — Jenny disse. — Detesto pedir isso a você, mas


ficaria muito grata. Você pode levar alguns de nossos servos com
você.

— Vamos esperar um pouco mais. — Beth tentou impedir que


sua voz tremesse. Ela não confiava em Ramsey. — Pode haver várias
razões pelas quais Andrew foi detido. Um cavalo pode ter soltado uma
ferradura.
— Sim, talvez você esteja certa. — Jenny suspirou. — A coisa
toda tem sido tão enervante, — explicou ela a Marcus. — Voltamos a
Castlebridge com o medo de que William tivesse sofrido um grave
acidente de cavalo. Então, descobrimos que a nota não havia sido
escrita pelo nosso médico, pois, William estava mais forte do que
nunca, jogando cartas com Barbara. Receio que o abracei, e ele odeia
isso. — O sorriso dela tremia nos lábios. — Ele se considera velho
demais para tais demonstrações de afeto.

Um barulho de rodas no cascalho soou do lado de fora da janela.


Beth e Jenny correram para olhar.

— É Andrew! — Jenny gritou. — Ele está em casa.

— Há um cavalo amarrado na traseira da carruagem, — disse


Beth, virando-se ansiosamente para Marcus.

Com um sorriso satisfeito, Marcus chegou à janela. Ele ficou ao


lado dela e apoiou as mãos no parapeito da janela para espiar
enquanto ela respirava seu familiar perfume masculino, limpo e uma
pitada de sândalo.

— Bem, eu vou ficar com ele! É o cavalo de Ramsey. Aquele com


as quatro patas brancas.

— Oh, estou tão feliz que ele tenha resgatado aquele pobre
animal, — disse Beth.

Alguns minutos depois, Andrew entrou trazendo o ar fresco e


úmido da noite. Ele passou a mão pelos cabelos escuros e endireitou
a gravata. Então ele beijou a bochecha de Jenny e se juntou a ela no
sofá enquanto o mordomo se apressava em servir um copo de clarete.

— Desculpe, estou atrasado.

— Conte-nos tudo, Andrew — disse Beth, sem fôlego.

— Sim, Andrew. O que aconteceu com Ramsey? — Marcus pediu


notícias tão impacientes quanto Beth.

Andrew passou a mão na mandíbula.

— Ramsey está morto.

Marcus franziu a testa.

— Ele morreu do ferimento da espada?

— Não. Encontrei o cocheiro e o cirurgião ainda lá quando


cheguei. Depois que Ramsey declarou que sua família foi
amaldiçoada, ele correu para a torre e se atirou de lá. Como os dois
não tinham certeza de como proceder, permaneci para chamar o
magistrado.

— Que coisa extraordinária a se fazer, — disse Marcus. — Por


que amaldiçoado?

— Uma ladainha de acontecimentos desagradáveis dentro dessa


família, incluindo o corpo da tia no armário pelo qual o juiz Sir Lionel
Carr estava extremamente interessado porque essa mulher está
desaparecida há alguns anos. Ele pretende escrever para o médico da
família antes que o inquérito seja realizado. Lady Moncrief, que
morreu recentemente, havia dito, no momento do desaparecimento
de sua irmã, que Agnes fora procurar parentes na Escócia. Carr e eu
fomos procurar algum tipo de pista sobre o que aconteceu com ela.

Enquanto todo mundo falava ao mesmo tempo, ele levantou a


mão com um leve sorriso.

— Descobrimos o diário de Lady Gertrude Moncrief em uma


gaveta secreta de sua escrivaninha. Ela escreveu que empurrou a
irmã pelas escadas tarde da noite, depois de uma discussão.
Enquanto os servos dormiam ela secretamente escondeu o corpo de
Agnes em um quarto de dormir em desuso com a ajuda de sua fiel
serva pessoal. — Andrew franziu a testa e balançou a cabeça. — Sir
Lionel me disse que a mãe de Ramsey morreu em Bedlam. Não é do
conhecimento geral, mas pelo que Ramsey disse a seus cocheiros,
parece que ele sempre teve medo de herdar a insanidade dela.

— Santo céu, — Beth respirou. Ela procurou o olhar de Marcus.


Ela estava tão feliz com a presença dele, para que eles pudessem ouvir
a explicação juntos. Parecia que eles estavam inexplicavelmente
unidos pelo que haviam experimentado. E o problema era que ela não
gostava de pensar que aquilo acabaria.

— Bem, isso é um mistério resolvido, — disse Jenny.

Andrew assentiu.

— Você tem um excelente olho para cavalos, Marcus. Trouxe o


puro-sangue de volta para você —- disse Andrew. — Você o ganhou.
— Bom para você. Meu chefe de estábulo levará o cavalo na mão.
Um bom fim, para um negócio terrível!

— Sim, de fato. — Andrew tirou um pedaço de papel do bolso do


colete. Ele estendeu para Beth. — Encontrei a nota que você escreveu
para a Sra. Grayshott para explicar por que você deixou o baile.
Ramsey, é claro, impediu sua entrega.

Beth pegou e amassou o papel na mão. Ela olhou nos simpáticos


olhos castanhos de Marcus.

— Esse é o fim, então, — ela murmurou. Ela deveria ter ficado


aliviada, mas, em vez disso, sentiu-se nervosa e inquieta com a
perspectiva de continuar sua temporada. Ela o veria no baile? Eles
dançariam juntos? Onde isso poderia levá-los?

— E um novo começo, — disse Jenny, seu olhar especulativo


viajando de Beth para Marcus. — Vamos tomar champanhe no jantar,
Andrew?

— O melhor da adega, meu amor, — disse ele.

Perto da meia-noite, Beth subiu as escadas com Jenny deixando


Marcus e Andrew para jogar outra partida de bilhar.

Na galeria, com as sobrancelhas erguidas, Jenny virou-se para


Beth.

— Suspeito que você tenha desenvolvido um carinho pelo Sr.


Nyeland. E ele por você.
— O que te faz pensar isso? — Beth perguntou cautelosamente.
Ela sempre confiava em Jenny, mas Beth não era capaz de expressar
isso. Marcus não fez tal declaração. Talvez ele nunca fizesse isso.

— Como se você fizesse uma parceria com ele, era assim que
vocês dois se olhavam. E então, quando saímos da sala, fiquei
bastante chocada quando ele beijou sua mão e disse que esperava vê-
la na festa da Sra. Johnston.

— Suponho que o que passamos nos mudou. Dificilmente


podemos nos comportar como se não tivéssemos sido apresentados.

Jenny colocou o braço de Beth no dela enquanto caminhavam


pelo corredor para seus aposentos.

— Não, claro que não. Dói-me pensar em qual poderia ter sido o
resultado.

— Então não pense nisso, querida, — disse Beth. — As crianças


e eu estamos bem.

Ela disse a Lilly que ficaria sem ela hoje à noite. Jenny seguiu
Beth até o quarto onde, antes, ela estivera sentada na poltrona
estofada de chita.

— O que você fará se ele declarar sua intenção de cortejá-la?

Beth sorriu com carinho para a irmã no espelho quando ela


começou a remover as presilhas dos cabelos. Jenny era como uma
mãe para ela e seus irmãos depois que a mãe morrera, e o pai havia
desaparecido nos estudos entre seus tomos.
— Você gosta dele?

— Claro que sim, muito. — Jenny franziu a testa. — Mas


confesso que sou um pouco egoísta. — Ela suspirou. — Ele vai te
levar para longe da Inglaterra. De nós.

O peito de Beth se apertou.

— Sim, eu percebo isso. Como diplomata, ele certamente viajará


para outros países.

Jenny assentiu.

— Andrew me disse que o Sr. Nyeland será enviado em breve


para a Grécia. Há algum problema lá. Ele poderia ficar fora por algum
tempo.

— Oh. — O coração de Beth afundou. — Ele não havia


mencionado a Grécia. — É claro que isso não daria certo, mesmo que
pedisse que ela se casasse com ele, o que ele poderia não estar tão
interessado em fazer.

— Haverá muitos cavalheiros ansiosos para conhecê-la. —


Jenny sorriu encorajadoramente para ela no espelho. — Eu aceitei
alguns convites. — Ela se virou para caminhar até a porta. — Temos
a festa da Sra. Johnston amanhã à noite, o baile de Monfort no
próximo sábado e a festa de Lady Grahame na semana seguinte.

Beth empurrou a cadeira para trás, a escova de cabelo na mão.

— Não vou me casar com um homem cujos olhos não brilhem


ao me ver, — declarou ela, com a voz embargada.
Com a mão na trava da porta, Jenny lançou-lhe um olhar
preocupado.

— Claro que não, querida.

— E ele deve fazer meu coração bater forte quando entra na sala.

— Oh, Beth, — Jenny suspirou e correu para abraçá-la.

Beth de repente sentiu vontade de chorar.

— Jenny, você se importaria se eu voltasse para Castlebridge


por um tempo? Meus nervos parecem ter sido mais afetados por esse
negócio horrível do que eu pensava.

— Querida! Claro que não. — Ela pediu a Beth para se sentar


novamente e pegou a escova dela, passando suavemente pelas longas
madeixas de Beth. — Vou dizer que você não está bem. Nada muito
sério, é claro. Andrew deve permanecer em Londres para participar
das reuniões na Câmara dos Lordes até sexta-feira, mas vou voltar
com você. Teremos um ótimo tempo juntas e você pode deixar tudo
isso para trás.

Beth fechou os olhos, achando a escova suave.

— Sempre há muito o que fazer. George estava observando o ovo


da andorinha que encontrou para chocar. A gata de Barbara, Ginger,
que logo dará à luz gatinhos, e há o meu texugo ferido. O garoto do
estábulo, Tom, é bom em cuidar dele, mas ainda assim... —
Castlebridge não manteve seu apelo habitual. Era a perspectiva de
perambular sozinha, com William fora da casa, quando ele sempre se
interessava por seus animais, que a fez se sentir sozinha.

— Você ficará muito melhor em Castlebridge — disse Jenny,


enfaticamente, largando a escova.

Beth supôs que não veria Marcus novamente, se ele estivesse na


Grécia. Essa tristeza não duraria, ela se assegurou. Uma vez que ela
se estabelecesse em sua rotina com os animais, a vida continuaria
como antes. Mas, de alguma forma, parecia vazia.
Nove
VÁRIOS DIAS APÓS o jantar em Harrow Court, Marcus foi chamado
em Whitehall para o gabinete do Ministro de Relações Exteriores. Ele
descobriu que não estava particularmente ansioso para ouvir o
discurso de Canning sobre sua nova disposição. Ele sabia que a
Inglaterra apoiava os rebeldes gregos contra a morte dos turcos e
Byron, há um ano, despertou um enorme entusiasmo pelos gregos.
Os ingleses cultos eram grandes admiradores dos clássicos e viam os
gregos como descendentes dos heróis antigos.

Marcus não queria sair da Inglaterra. Uma certa jovem lady


segurava-o aqui. Embora não houvesse nada dito entre eles, ele
alimentou uma esperança um tanto tola de que, quando voltasse para
a Inglaterra, ela talvez não estivesse casada e aceitasse seu pedido.

Beth! Como estava adorável, alegre e atraente na última vez que


a viu quando ela revelou mais de seus encantos. Seu delicioso senso
de humor e sua gentileza aqueciam seu coração. Como ela parecia ter
se recuperado completamente de sua provação, ele esperava
encontrá-la na festa da Sra. Johnston, mas ela não compareceu. Ele
deveria concluir que ela não queria vê-lo novamente?

Canning apontou para uma cadeira.

— Nyeland. — Ele passou a mão na cabeça careca. — Sobre a


sua viagem à Grécia. Você não será necessário. A situação mudou.

Marcus lutou para parecer desapaixonado enquanto se sentia


um jovem ansioso. Ele duvidava que Canning entendesse tanta
emoção.

— Eu pensei que era um fato consumado. O que ocorreu?

— A Grã-Bretanha deve se juntar à França e à Rússia.


Enviaremos uma frota de navios para ameaçar os turcos.
Consideramos que é o melhor meio de interromper o tratamento cruel
dos rebeldes. O poder marítimo, principalmente britânico, alcançará
muito mais do que diplomacia.

Meia hora depois, Marcus se despediu. Seu profundo alívio


confirmou que sua decisão de deixar o serviço foi oportuna.

Ele colocou o chapéu e desceu pela Whitehall e acenou para uma


carruagem. Ele iria visitar Andrew que estava na Câmara dos Lordes,
onde os membros estavam debatendo um projeto de lei.

Quando localizou o duque, Andrew informou que Beth e Jenny


haviam deixado Londres para sua propriedade em Oxfordshire.
— Vou me juntar a elas na sexta-feira, — disse Andrew, sentado
à mesa com uma pilha de correspondência, a secretária pairando
sobre ele.

— Elas estão bem? — Marcus perguntou inquieto.

— Sim, de boa saúde.

— Elas pretendem voltar para o resto da temporada? — Marcus


pressionou. Por que Beth deixou Londres? Ele procurava alguma
confirmação de que ela aceitaria seus avanços. Será que havia um
lampejo de dúvida em seus olhos quando eles se separaram?

Andrew dispensou sua secretária.

— Nada foi decidido. — Ele fez um gesto para Marcus se sentar,


depois se recostou na cadeira. — Não é mais necessário você ir para
a Grécia?

— Não.

— Então por que você não viaja e fala com Beth?

— Você está me incentivando a me declarar?

— Mas é claro! Você achava que eu não faria isso?

— Eu não tinha certeza. Você sugeriu que eu talvez não fosse


um marido adequado para ela. — Marcus sabia que essa era uma das
razões pelas quais ele se deteve. Ele precisava saber por que Andrew
não parecia incentivar a partida.
— Não! — Andrew levantou-se e apoiou o quadril no canto da
mesa. — É verdade, eu tinha certas reservas. Eu não tinha certeza se
a vida de esposa de um diplomata se adequaria a Beth. Mas esse não
é mais o caso. Eu não posso falar por minha irmã na lei. Vá ver Beth,
Marcus. Pergunte a ela.

Marcus ficou de pé.

— Eu devo.

Andrew apertou sua mão.

— Eu te desejo sorte.

Marcus sorriu tristemente.

— Espero que ela não tenha deixado Londres para escapar de


mim. Se assim for, eu posso precisar de sorte mesmo.

Castlebridge, Oxfordshire

ERA UMA manhã adorável. Os sons e aromas da floresta sempre


a enchiam de satisfação e um sentimento de pertencer aqui. Mas
desde que voltou, Beth se sentiu inquieta e sozinha. Ela deixou a
trilha da floresta e entrou no caminho, com Horace, seu desgrenhado
cachorro marrom, e cinza ao redor do focinho, seguindo seus
calcanhares.
À frente, a magnífica mansão antiga de Andrew e Jenny erguia-
se acima dos gramados estreitamente cortados e das árvores altas do
parque. Beth carregava cuidadosamente o corpo macio e emplumado
de penas preto e branco do grande pica-pau malhado. Era um
pássaro jovem, com manchas vermelhas na cabeça e no pescoço. O
pássaro tinha uma asa machucada. Ela o colocaria em uma gaiola
com sementes e água enquanto preparava uma cinta para a asa. Ela
não soltaria o pássaro até ser curado adequadamente, ou ele se
tornaria uma refeição para uma raposa.

Beth se apressou, seus olhos ansiosos no pássaro embalados


em suas mãos. Ela não viu o homem se aproximar até que suas botas
entrassem em sua visão. Ela olhou para cima.

— Marcus! — Seu coração bateu de alegria. Ela sentiu falta dele


e disse a si mesma que era tolice.

Suas roupas de montaria se grudavam a ele, suas longas pernas


envoltas em calções marrons e botas pretas lustrosas, seu chapéu e
as luvas nas mãos.

Horace deu um latido e pulou para colocar as patas enlameadas


nas roupas imaculadas de Marcus.

— Abaixe-se, Horace! — Beth ordenou.

— Você é um bom companheiro. — Marcus se curvou e


gentilmente coçou as orelhas do cachorro.
Endireitando-se, os quentes olhos castanhos de Marcus
sorriram para ela.

— O que você tem aí?

— Um pássaro machucou sua asa. Terá que ser cuidado para


permitir a cura.

— Posso ajudá-la?

— Eu poderia usar outro par de mãos. — Ela ficou satisfeita por


parecer tão calma, mas estava tão afetada quando suas emoções
eram tumultuadas.

Ele caminhou com ela pelo caminho em direção aos estábulos.

— Quando você saiu de Londres, fiquei com medo de que não


estivesse bem.

— Estou muito bem, obrigada. Você veio ver Andrew? Eu


acredito que ele está na biblioteca. Ou você já o viu?

Ele riu.

— Não, a sua primeira pergunta, e sim a segunda. Eu gostaria


de falar com você, Beth.

— Oh? — O coração de Beth deu um pulo.

— Mas, primeiro, devo lhe contar as novidades de Andrew. Ele


recebeu notícias do magistrado. Sir Lionel Carr escreveu sobre o que
descobriu com o médico de Ramsey.

Eles continuaram a caminhar pelo caminho até os estábulos.


— Foi esclarecedor?

— Eu acredito que sim. Não se sabe, mas a mãe de Ramsey


morreu em um asilo. Segundo o médico, a loucura destruiu todas as
gerações. Mas apenas os membros femininos da família sofreram com
isso.

— Então Ramsey não era louco?

— Ele acreditava que sim e não poderia ser convencido de outra


maneira.

— Ah, então isso explica o comportamento dele, — disse Beth,


pensativa. — Duvido que uma pessoa insana possa realizar um plano
tão inteligente.

— Seu comportamento não era o que se poderia chamar de bom


e razoável.

— Acho que ele queria que Andrew ou você o matassem — disse


Beth calmamente.

— Sim, eu acredito que você está certa, — disse Marcus


pesadamente.

Beth levou-o ao pequeno galpão na parte traseira dos estábulos,


onde ela trabalhava com animais.

Marcus abriu a porta para ela.

Na gaiola, o texugo com o pé machucado disparou emocionado.


Ele não mostrou sinais de desconforto. Ela o libertaria amanhã.
— Foi-me dito que você salvava animais e agora posso ver por
mim mesmo, — disse Marcus enquanto colocava o pássaro em uma
grande caixa forrada com um pano macio. Depois de um débil tremor,
o pássaro ainda estava olhando para eles com olhos redondos.

— Sim. Quero aprender mais, mas as mulheres não podem ir


para a universidade, então li todos os livros sobre criação de animais
que posso encontrar. — Ela sorriu enquanto tentava ordenar a
respiração. Marcus parecia tão grande e masculino no espaço
pequeno. E tão querido para ela. — Receio incomodar o veterinário
local com minhas perguntas intermináveis.

— Beth, — Marcus disse suavemente. — Gostaria muito de


ajudá-la nesses empreendimentos.

— Isso pode ser difícil, Marcus. Mas eu aprecio a oferta. — Ela


voltou para a mesa procurando por um aparelho adequado.
Encontrando um pequeno o suficiente, ela começou a aplicá-lo.

Marcus entregou-lhe a tesoura e ela cortou cuidadosamente o


barbante. Ele ia pedir que ela se casasse com ele. Seria muito difícil
dizer não. Depois que seu posto na Grécia terminasse, o que
aconteceria? Para onde eles o mandariam?

— Tudo bem, — disse ela, examinando seu trabalho. Ela


acariciou a cabeça de penas do pássaro, que se acalmou e fechou os
olhos.
Marcus pegou o braço dela e a puxou para ele. Os olhos dele
procuraram os dela.

— Eu te amo, Beth. Acho que me apaixonei por você na primeira


vez que dançamos.

— Nós dançamos apenas uma vez, — disse ela, ciente de como


isso parecia insano.

— Você precisará de mais tempo para me conhecer. Eu entendo


isso. Mas eu espero que você concorde em se casar comigo.

Ela deveria explicar por que deveria recusá-lo, mas as palavras


não vieram. Sua mente estava confusa de angústia. Se ela não
quisesse tanto se casar com ele. Mas ela não podia suportar o tipo de
vida que ele vivia. Ela não tinha medo de ir a lugares perigosos, mas
sua alma precisava estar aqui na Inglaterra, onde pudesse ser ela
mesma e perseguir seus interesses. E, claro, haveria filhos. Ela não
os deixaria. Mas seu pior medo era que ela seria um obstáculo para
ele, que o reteria em sua carreira.

Ela viu vulnerabilidade em seu olhar. Sua boca atraente sorriu


em apelo.

— Não posso conceber uma vida sem você, Beth. Você se sente
como eu?

— Eu não posso viver como você, Marcus, — disse ela


finalmente. Ela apontou para o pequeno espaço onde guardava suas
coisas. — Esse é o tipo de vida que eu quero. Sempre foi isso. — Ela
suspirou. — Eu sou uma pessoa muito chata. Você deve conhecer
mulheres tão emocionantes na esfera social em que habita.

— Planejo sair do serviço, querida. Eu quero uma vida mais


tranquila agora.

Beth respirou trêmula. Ele realmente queria isso ou faria isso


por ela?

— Mas sua carreira! Quando você tomou essa decisão?

— Quando pensei que receberia uma oferta para ir a Grécia,


descobri que não tinha o meu zelo habitual. Estou ficando cansado
dessa vida.

— Eles não estão mandando você para lá?

Os olhos de Marcus, escuros de paixão, procuraram seu rosto.

— Não, eu não sou mais necessário.

Seu olhar ardente a emocionou. Beth sentiu-se brilhante e viva


como nunca antes. Ela percebeu naquele momento que o ritmo
constante de sua vida mudaria. Que ela faria qualquer coisa que ele
pedisse. Desejando estar perto dele, ela suspirou.

— Eu te amo Marcus.

Ela estava nos braços dele, a boca dele na dela com uma onda
crescente de calor. Marcus inalou bruscamente. Quando seus beijos
suaves se aprofundaram, ela se agarrou a ele, apertada contra seu
peito, seu coração batendo em sintonia com o dela. Os dedos dela
entrelaçaram nos cabelos sedosos da nuca dele para segurá-lo perto
enquanto sua respiração a abandonava e seus joelhos enfraqueciam.
A boca dele separou seus lábios, evocando sensações que ela não se
considerava capaz de sentir. Ela queria ficar em seus braços para
sempre. Mas ele murmurou:

— Eu te amo, Beth —, contra os lábios dela e afastou-se com


relutância.

Ela olhou para ele e disse timidamente:

— Eu vou me casar com você, Marcus.

— Beth, meu amor! — Jubilante, ele a pegou e a girou.

A porta se abriu, admitindo Horace com um latido indignado.


Jenny estava ao seu lado e observou com um sorriso puxando seus
lábios.

Marcus colocou Beth de pé novamente.

— Andrew me contou a notícia emocionante. — Jenny correu


para beijar Beth. Ela segurou as mãos de Marcus nas dela. —
Parabéns. Espero que você perceba que está recebendo a garota mais
doce do mundo. Cuide bem dela.

Marcus beijou a bochecha de Jenny.

— Eu sou o mais sortudo dos homens. Mas devo primeiro ir à


York para obter o consentimento de seu pai.
— Papai não fará nenhuma objeção, — disse Jenny. — Ele
renunciou aos cuidados de Beth nas mãos de Andrew.

— Como Andrew sabia que eu diria que sim? — Perguntou Beth.

Jenny riu.

— Vamos apenas dizer que ele estava bastante confiante.

Beth sorriu radiante.

— Marcus está renunciando ao Ministério das Relações


Exteriores.

— Eu não poderia estar mais satisfeita. Nós devemos planejar o


casamento. Vamos fazer um baile de noivado.

Enquanto eles seguiam Jenny da cabana, Beth observou a irmã


que parecia estar fazendo uma lista em sua mente. Ela olhou para
Marcus, que parecia tão relutante quanto ela.

— Jenny, você se importaria se fizéssemos um noivado


tranquilo? — Beth detestava multidões de pessoas e bailes de luxo,
mas nunca tinha sido capaz de explicar isso à irmã.

— Se algo surgir sobre Ramsey, eu preferiria que nos


casássemos rápido. Se Beth concordar, não vejo razão para adiar -—
disse Marcus, o braço em volta da cintura de Beth a puxando para
perto.

— Nem eu, — disse Beth, querendo estar com ele.


— Contatei meu advogado para notificar meu inquilino, — disse
ele. — Planejo que moremos em minha casa em Cotswolds. — Ele
sorriu para ela. — É um lugar bonito, tenho certeza que você vai
gostar, Beth.

— Cotswolds? Não é mais do que uma hora de viagem daqui —


disse Jenny alegremente. Ela correu à frente deles no caminho. —
Mas é claro! Uma pequena e discreta festa de noivado e o casamento
aqui na capela de Castlebridge, onde Andrew e eu nos casamos. Muito
perfeito. Eu devo contar as novidades a ele.

O galante amor de Beth aproveitou a oportunidade. Ele a puxou


para trás de uma cerca viva e a beijou novamente.

Fim
i Reticulo – bolsa em forma de saco que se usa no pulso.
ii Contradança em passo de polca ou valsa em que a dança é interrompida por breves
manifestações
iii Uma chaise, às vezes chamada de chay ou shay, é uma carruagem leve de duas ou quatro

rodas para viagem ou de lazer para uma ou duas pessoas com capuz dobrável ou parte
superior de couro.
iv Roundheads de Cromwell - eram a oposição parlamentar ao governo de Carlos I na

Inglaterra. Eram em sua maioria puritanos burgueses e camponeses revoltados com o


abuso do rei, liderado por Oliver Cromwell.
v Chatelaine – castelã.

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