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São Conrado ABRH - RevF
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Caroline Sales Saturnino dos Santos 1; Paulo Canedo de Magalhães 2 ; Antonio Krishnamurti
Beleño de Oliveira 3 Matheus Martins de Sousa 4;Osvaldo M Rezende 5& Marcelo Gomes Miguez 6
ABSTRACT – Due to flood intensification especially after the drainage line implementation in 2016
in São Conrado - RJ, the evaluation of the project’s performance was considered necessary. Under
this circumstance, this paper presents the analysis of the river basin which contributes to the
constructed drainage line using the mathematical simulation tool called MODCEL, which was
developed at UFRJ. The objective is to verify the characteristics of the drainage line and to analyze
possible floods during events of intense precipitation. An initial diagnosis shows an intense process
of urbanization over the years in the area, which also contributes to the difficulty in draining. In the
continuity of the analysis, it was possible to detect 3 sub-basins that contribute to the drainage line
with drainage areas of 0,17; 0,84 e 1,86 km². Therefore, using the areas found, the operation of the
existing drainage line is verified and a diagnosis to evaluate the possible failures is made. There is
also the indication of a possible solution with a future scenario, in which the changes of the original
project were done to improve the region macro-drainage and to mitigate floods.
O processo de urbanização altera a hidrologia e o clima local da região em virtude das mudanças
de uso do solo com incremento de áreas impermeabilizadas e consequente aumento do escoamento
superficial (Miguez et al., 2015). Quando as modificações são realizadas de forma intensa,
equivocada ou sem análise hidrodinâmica prévia, podem influenciar de forma negativa a drenagem
local, revertendo-se em inundações nas próprias áreas urbanas (Canholi, 2015). Ademais, com o
aumento intenso da área urbana na segunda metade do século XX, priorizaram-se obras de aterros de
áreas alagadiças e canalização de rios para permitir essa ocupação (DIEB, 2015). Como o foco era o
desenvolvimento urbano, não houve planejamento adequado em consideração a gestão de águas com
medidas compensatórias devido às modificações na bacia. Nesse contexto, um dos destaques para o
manejo de águas pluviais foi a implementação de galerias, bueiros e bocas-de-lobo, (Righetto, 2009).
Essa rápida impermeabilização dos espaços ocorrida colabora significativamente para a
intensificação de inundações (Balica et al., 2009), fato recorrente em cidades desenvolvidas por causa
do grande crescimento urbano (Suriya e Mudgal, 2012). No entanto, devido a intensidade e
continuidade das ocupações urbanas desse período até hoje, torna-se essencial um acompanhamento
das mudanças do uso do solo a fim de se verificar a capacidade do sistema de drenagem. A integração
da dinâmica social com o projeto de drenagem é necessário, e, pela sua complexidade, modelos
matemáticos podem ser utilizados como auxílio (Rauch et al., 2017). Deve-se, portanto, articular a
gestão de recursos hídricos com relação ao uso de solo da bacia de forma a mitigar quantitativamente
as inundações.
Pelo estudo da região de São Conrado no Rio de Janeiro – RJ e de sua bacia hidrográfica do Rio
Canoas, verificam-se acentuadas intervenções urbanísticas que descaracterizam todo o seu sistema
hidrográfico natural. Além de possuir trechos completamente canalizados, é drenada por uma galeria
de cintura, a qual foi construída a fim de direcionar os escoamentos do rio para uma região ao oeste
da praia de São Conrado, de forma a não prejudicar a balneabilidade da praia. O volume advindo do
rio apresenta dificuldade de ser drenado pela galeria, ocasionando inundações em regiões a montante
pelas dificuldades de escoamento. Há, nesse e em outros pontos da bacia, inundações recorrentes que
afetam a população local, o que evidencia a necessidade da avaliação do funcionamento da galeria.
Nesse sentido, o presente trabalho foi formado para essa análise e, com isso, foi possível definir
medidas mitigadoras para a situação.
ESTUDO DE CASO
A bacia hidrográfica do Rio Canoas é limitada ao norte pela Pedra Bonita, ao oeste pela Pedra da
Gávea e ao leste por um pequeno divisor de águas na Estrada da Gávea. O local sofreu diversas
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alterações urbanísticas e ocupações de áreas naturalmente inundáveis ao longo do processo de
urbanização de São Conrado. As mudanças incluem a canalização de todo o Rio Canoas e seu
direcionamento para uma galeria de cintura. Ademais, em tempo seco, foi instalado um sistema que
drena as águas do Rio Canoas para o Sistemas de Esgotamento do Emissário Ipanema. Essa galeria
principal, além de receber o escoamento proveniente do Canoas, capta também as outras linhas de
drenagem do bairro. A estrutura possui um trecho de 616 m ao longo da Av. Pref. Mendes de Morais,
na orla de São Conrado, e segue até o final da praia do Pepino. A bacia de contribuição para a galeria
de cintura é composta por três principais sub-bacias drenando: microdrenagem das ruas Martagão
Gesteira e Julieta Niemeyer e os escoamentos do Rio Canoas, cujas áreas de drenagem correspondem
respectivamente a 0,17; 0,84 e 1,86 km². A divisão em bacias hidrográficas pode ser apreciado na
Figura 1 (a). A figura 1 (b) a seguir apresenta as galerias secundárias que contribuem à galeria
principal e seus pontos de entrada, sendo elas: G1 (galeria que capta o Rio Canoas); G2 (galeria da
R. Julieta Niemeyer); G3 (galeria da R. Martagão Gesteira); G4 e G5 (galerias que drenam as encostas
da Pedra da Gávea). A figura também mostra a divisão da galeria principal nos trechos T1, T2, T3,
T4, e T5, separadas pelas contribuições das galerias secundárias.
Figura 1 – (a) Sub-bacias hidrográficas; (b) Galeria principal e os pontos de entradas de galerias secundárias
METODOLOGIA
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representar dinamicamente os escoamentos nas planícies de inundação, simultaneamente com o
funcionamento hidrodinâmico da rede fluvial e a necessidade de interligar rios e canais ao sistema de
microdrenagem, trabalhando de forma integrada. Para cumprir esse objetivo, foi definida como
ferramenta de modelagem, o Modelo de Células de Escoamento – MODCEL (Miguez et al., 2017),
que tem como princípio a representação do espaço urbano através de compartimentos homogêneos
(Células de Escoamento), que cobrem toda a superfície da bacia e faz toda ela se integrar e interagir
em função do escoamento que sobre ela ocorre, indo de encontro aos objetivos e exigências da
modelação das enchentes urbanas locais. O escoamento entre essas células pode ser calculado através
de leis hidráulicas conhecidas, como, por exemplo, a equação dinâmica de Saint-Venant, completa
ou simplificada, a equação de escoamento sobre vertedouros, livres ou afogados, a equação de
escoamento através de orifícios, equações de escoamento através de bueiros, entre outras várias,
sendo, neste estudo, considerados os efeitos de inércia no escoamento que ocorre nos cursos d’água
principais. Além disso, o escoamento pode ocorrer simultaneamente em duas camadas, uma
superficial e outra subterrânea, em galeria, estando as células da superfície e as da galeria associadas
por uma ligação entre elas. Nas galerias, o escoamento é considerado inicialmente à superfície livre,
mas pode vir a sofrer afogamento, passando a ser considerado sob pressão.
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Após a montagem dos dados de entrada do MODCEL, foi necessário realizar a calibração do
modelo. A calibração do modelo matemático se refere ao processo de ajuste de parâmetros de
modelagem para representar tanto o comportamento hidrodinâmico normal da bacia, como também
eventos de chuva intensa (OLIVEIRA, 2018).
Para esse processo, foram realizadas comparações entre as respostas do modelo matemático e
as medições registradas no evento de chuva intensa ocorrido no dia 15/02/2018. Tal evento foi
escolhido por suas consequências negativas em diversos pontos da bacia hidrográfica do Rio Canoas,
além de ser um evento relativamente recente e, ainda, por apresentar uma quantidade significante de
registros de inundações identificados pelos moradores, que permitem uma melhor comparação com
os resultados simulados. Os dados de precipitação desse dia, mostrados na figura 3, foram obtidos
pelos registros do Posto Pluviométrico da Rocinha. As medições usadas para calibração foram na rua
Julieta Niemeyer, um dos pontos mais baixos da região, com relatos de uma lâmina d’água de 1,30
m, e na Av. Prefeito Mendes de Morais, com uma lâmina de 1,35 m. A localização exata dos pontos
pode ser verificada posteriormente com o resultado da simulação de calibração do modelo.
Para a calibração do modelo, foi considerada também a interferência do mar, tanto pela sua
proximidade com a estrutura, quanto pelo posicionamento do fundo da galeria no seu trecho final,
com cotas abaixo do nível médio do mar (NMM = 0,69 m), conforme mostrado na figura 5. Estas
considerações são necessárias por conta da dificuldade imposta pela maré para a saída das águas
pluviais e pelo assoreamento interno da estrutura devido aos sedimentos carregados pelo mar. A
figura 4 apresenta o perfil da galeria no momento de sua implementação (projeto original) em
comparação ao adotado na simulação de calibração, com seu fundo assoreado, devido à deposição de
sedimentos.
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Figura 4 - Perfil da galeria de cintura utilizado na calibração em comparação ao perfil do projeto original
Além disso, foi verificado o rompimento da galeria no trecho final de T5 no dia do evento de
calibração. Assim, foi necessário atualizar o modelo com essa configuração de colapso da estrutura.
Na figura 5 verifica-se o rompimento do trecho citado, ocorrido em algum momento durante o evento.
Figura 5 – Imagens do trecho final da galeria (T5) rompido após chuva crítica. Fonte: Autor
A variação de maré, conforme citado, interfere no escoamento das águas pluviais na saída da
galeria, sendo assim, ela foi utilizada como condição de contorno do modelo, com base nos dados do
nível do mar obtidos através da Tábua de Maré local para o período do evento, conforme figura 6.
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A partir da comparação dos resultados das simulações do evento ocorrido com as informações
registradas, o modelo matemático foi considerado calibrado, estando apto para simulações de
diferentes cenários. Dessa forma, foram analisados dois cenários, Cenário 1 e Cenário 2, descritos a
seguir.
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Além disso, para facilitar a drenagem do Rio Canoas, adotou-se, como parte da solução, a
colocação de um extravasor de 1,80 x 2,50 m para drenar parte de G1 diretamente para o mar,
aliviando os volumes de cheia na galeria de cintura. Ele funcionará como um vertedor no trecho T1
e será utilizado somente em eventos de cheia em que a lâmina de água ultrapasse 0,58 m. Desse modo,
pode-se reduzir a inundação na região em que ocorre o aporte de G1 à galeria principal. Contudo, a
manutenção de 0,58 m de lâmina na galeria de cintura evitará o impacto negativo na balneabilidade
da praia para períodos de estiagem e eventos de chuva menos intensos.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
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Figura 9 - Manchas de inundação após simulação da calibração com localização dos pontos de medição
Com relação ao Cenário 2, a simulação com as soluções escolhidas pode ser verificada na
figura 10. Observa-se uma melhora significativa no funcionamento da galeria, com lâminas de água
significativamente menores ao longo da Av. Prefeito Mendes de Morais, quando comparadas à
situação atual. Na entrada do Rio Canoas, a mudança também foi considerável, passando de 0,87 m
na situação atual para 0,43 m no cenário de solução.
Em vista dos cenários modelados, pode-se inferir a existência de falhas no projeto inicial da
galeria. A influência da topografia do local, o qual induziu a declividades baixas da galeria, além da
urbanização intensa e canalização do rio principal da bacia foram fatores que colaboraram para a
intensificação das inundações. No entanto, a desconsideração da maré foi o principal condicionante
para a falha da galeria. Verifica-se a proximidade da estrutura com o mar e a dificuldade imposta pela
maré tanto pelo transporte de sedimentos quanto pelo seu nível de água.
Há ainda a necessidade de continuidade do estudo devido às questões existentes com relação
à microdrenagem. Observa-se a continuidade de inundações na Rua Julieta Niemeyer por ser a região
mais baixa do bairro, e nas encostas devido às maiores velocidades de escoamento proveniente das
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regiões mais íngremes. Apesar da ressalva, com as soluções apresentadas no Cenário 2, pode-se
constatar a eficiência das mudanças com relação a macrodrenagem. As mudanças foram suficientes
para diminuir significativamente as lâminas de água de inundação para um evento crítico como o
estudado.
REFERÊNCIAS
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