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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E TECNOLOGIA


DA BAHIA IFBA - CAMPUS PAULO AFONSO
UNIDADE ACADÊMICA DE ENGENHARIA ELÉTRICA
DISCIPLINA SISTEMAS ELÉTRICOS

João Pedro Lima Dantas

FLUXO DE CARGA UTILIZANDO O MÉTODO DE GAUSS-


SEIDEL

PAULO AFONSO
2022
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1. INTRODUÇÃO

A análise de fluxo de potência de uma rede de energia corresponde na determinação


dos módulos de tensões, ângulo de tensão, potência ativa e reativa de cada barra
do sistema. O estudo sobre fluxo de potência é importante, pois ele pode oferecer
diversas informações importantes a respeito do impacto dos geradores na rede
elétrica, na qualidade da tensão, perdas e eficiência global do sistema. Além do mais,
pode-se também avaliar se os limites de tensão estão sendo respeitados em todas
as barras do sistema.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
• O Método de Gauss-Seidel

O método de Gauss-Seidel consiste no processo interativo de resolver equações


lineares. Para um total de N barras, a tensão calculada em qualquer barra k, onde
𝑃𝑘 e 𝑄𝑘 são fornecidos é descrito pela equação 1:

1 𝑆𝑘∗
𝑉𝑘 = ( − ∑ 𝑌𝑘𝑛 . 𝑉𝑛 ) (1)
𝑌𝑘𝑘 𝑉𝑘∗
𝑛𝜖Ω𝑘

À medida que a tensão corrigida for encontrada para cada barra, ela será usada
no cálculo da tensão corrigida da barra seguinte. O processo é repetido para cada
barra, consecutivamente, através do sistema para completar a primeira interação.
Então o processo inteiro é repetido várias vezes até que a magnitude da tensão
de cada barra seja menor que uma precisão determinada.

Numa barra onde é especificado o módulo da tensão em vez da potência reativa


(PV), as componentes real e imaginária da tensão são obtidas, para cada
interação, calculando primeiramente o valor para a potência reativa, como mostra
a equação 2.

𝑄𝑘 = −𝑖𝑚 {𝑉𝑘∗ . 𝑌𝑘𝑘 + ∑ 𝑌𝑘𝑛 . 𝑉𝑛 } (2)


𝑛𝜖Ω𝑘
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• Injeção líquida de potência

Definindo como N o número de barras do sistema, as equações gerais para a


injeção líquida de potência são:

𝑃𝑘 = 𝑉𝑘 ∑ 𝑉𝑚 (𝐺𝑘𝑚 cos 𝜃𝑘𝑚 + 𝐵𝑘𝑚 sin 𝜃𝑘𝑚 ) (3)


𝑚𝜖𝑘

𝑄𝑘 = 𝑉𝑘 ∑ 𝑉𝑚 (𝐺𝑘𝑚 sen 𝜃𝑘𝑚 − 𝐵𝑘𝑚 cos 𝜃𝑘𝑚 ) (4)


𝑚𝜖𝑘

Para k = 1,..,N. K é o conjunto das barras vizinhas à barra-k, inclusive k.

3. METODOLOGIA

Na primeira parte, foi realizado a confecção de uma tabela com as informações sobre
cada barra do sistema a partir dos dados fornecidos, como mostra a figura 01. Logo
em seguida foi feito a montagem da matriz de admitância nodal do sistema e a
implementação manual do método de Gauss Seidel para as três primeiras
interações. A partir desses dados foi possível calcular as incógnitas que faltavam no
sistema.

Figura 01 – Sistema Elétrico a 3 Barras.

Fonte – Foto do Autor (2022)

Na segunda parte, foi feito a simulação do sistema de 3 barras no software Anarede,


no qual esse fornece uma tabela de dados sobre cada barra do sistema, em seguida
foi feito a comparação entre os dados obtidos de forma manual e de forma simulada.
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4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
• Tabela de dados do sistema
Tabela 01 – Dados do sistema a 3 barras.

Pot.
Pot. ativa Tensão
Barra Tipo reativa θ (º)
(pu) (pu)
(pu)
1 Vθ ___ ___ 1,0 0,0
2 PV 4,0 ___ 1,05 ___
3 PQ 3,0 1,0 ___ ___

Fonte – Dados da pesquisa (2022).

• Matriz de admitância nodal


𝑌11 𝑌12 𝑌13
𝑌 = [𝑌21 𝑌22 𝑌23 ] (5)
𝑌31 𝑌32 𝑌33
No qual:
𝑌11 = −20𝑗 − 5𝑗 = −25𝑗
𝑌22 = −20𝑗 − 10𝑗 = −30𝑗
𝑌33 = −10𝑗 − 5𝑗 = −15𝑗
𝑌21 = 𝑌12 = 20𝑗
𝑌31 = 𝑌13 = 5𝑗
𝑌32 = 𝑌23 = 10𝑗
Portanto, ao substituirmos na equação 5, obtemos a seguinte matriz de
admitância nodal:
−25𝑗 20𝑗 5𝑗
𝑌 = [ 20𝑗 −30𝑗 10𝑗 ]
5𝑗 10𝑗 −15𝑗
Se 𝑌 = 𝐺 + 𝑗𝐵, temos:
−25 20 5
𝐵 = [ 20 −30 10 ]
5 10 −15
• Método de Gauss-Seidel
❖ Primeira interação
Valores iniciais: 𝑉2 = 1,05∠0,0° 𝑝𝑢 , 𝑉3 = 1,0∠0,0° 𝑝𝑢.
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➢ Barra PV:

Primeiramente, iremos calcular o valor da potência reativa da barra 2 através


da equação 2. Para k = 2, sendo que as barras 1 e 3 pertencem a barra 2,
obtemos:

𝑄2 = −𝑖𝑚{𝑉2∗ . 𝑌22 + 𝑌21 . 𝑉1 + 𝑌23 . 𝑉3 } (6)

Ao substituir os valores, temos:


𝑄2 = −𝑖𝑚{1,05∠0,0°(1,05∠0,0°. (−30𝑗) + 20𝑗. 1,0∠0,0° + 10𝑗. 1,0∠0,0°)}
𝑄2 = 1,575 𝑝𝑢
Agora com o valor da potência reativa, iremos calcular o valor da tensão da
barra 2, utilizando a equação 1, lembrando que seu módulo permanece igual
e o único resultado relevante é a mudança de seu ângulo. Para k = 2, sendo
que as barras 1 e 3 pertencem a barra 2, obtemos:
1 𝑆2∗
𝑉2 = ( − 𝑌21 . 𝑉1 − 𝑌23 . 𝑉3 ) (7)
𝑌22 𝑉2∗
Substituindo na equação 7, temos:
1 4 − 1,575𝑗
𝑉2 = ( − 20𝑗. 1,0∠0,0° − 10𝑗. 1,0∠0,0°)
−30𝑗 1,05∠0,0°
𝑉2 = 1,05∠6,8957° 𝑝𝑢
Portanto, o ângulo foi atualizado de 0,0° para 6,8957°.
➢ Barra PQ

Através da equação 1, substituindo k = 3, sendo que as barras 1 e 2


pertencem a barra 3, obtemos:

1 𝑆3∗
𝑉3 = ( − 𝑌31 . 𝑉1 − 𝑌32 . 𝑉2 ) (8)
𝑌33 𝑉3∗

Substituindo na equação 8, temos:

1 −3 + 𝑗
𝑉3 = ( − 5𝑗. 1,0∠0,0° − 10𝑗. 1,05∠6,8957°)
−15𝑗 1,0∠0,0°

𝑉3 = 0,9685∠ − 6,8758° 𝑝𝑢

❖ Segunda interação
Valores iniciais: 𝑉2 = 1,05∠6,8957° 𝑝𝑢 , 𝑉3 = 0,9685∠ − 6,8758° 𝑝𝑢.
6

➢ Barra PV

Com os novos valores iniciais, substituindo na equação 6, temos:

𝑄2 = −𝑖𝑚{1,05∠ − 6,8957°(1,05∠6,8957°. (−30𝑗) + 20𝑗. 1,0∠0,0°


+ 10𝑗. 0,9685∠ − 6,8758°)}
𝑄2 = 2,3499 𝑝𝑢

Com o novo valor de 𝑄2 , substituindo na equação 7, obtemos:

1 4 − 2,3499𝑗
𝑉2 = ( − 20𝑗. 1,0∠0,0° − 10𝑗. 0,9685∠ − 6,8758°)
−30𝑗 1,05∠ − 6,8957°

𝑉2 = 1,05∠5,2641° 𝑝𝑢

➢ Barra PQ

Através da equação 8, substituindo os valores encontrados, obtemos:

1 −3 + 𝑗
𝑉3 = ( − 5𝑗. 1,0∠0,0° − 10𝑗. 1,05∠5,2641°)
−15𝑗 0,9685∠6,8758°

𝑉3 = 0,9466∠ − 8,0494° 𝑝𝑢

❖ Terceira interação
Valores iniciais: 𝑉2 = 1,05∠5,2641° 𝑝𝑢 , 𝑉3 = 0,9466∠ − 8,0494° 𝑝𝑢.
➢ Barra PV

Com os novos valores iniciais, substituindo na equação 6, temos:

𝑄2 = −𝑖𝑚{1,05∠ − 5,2641°(1,05∠5,2641°. (−30𝑗) + 20𝑗. 1,0∠0,0°


+ 10𝑗. 0,9466∠ − 8,0494°)}
𝑄2 = 2,4914 𝑝𝑢

Com o novo valor de 𝑄2 , substituindo na equação 7, obtemos:

1 4 − 2,4914𝑗
𝑉2 = ( − 20𝑗. 1,0∠0,0° − 10𝑗. 0,9466∠ − 8,0494°)
−30𝑗 1,05∠ − 5,2641°

𝑉2 = 1,05∠4,8908° 𝑝𝑢

➢ Barra PQ

Através da equação 8, substituindo os valores encontrados, obtemos:

1 −3 + 𝑗
𝑉3 = ( − 5𝑗. 1,0∠0,0° − 10𝑗. 1,05∠4,8908°)
−15𝑗 0,9466∠8,0494°
7

𝑉3 = 0,9418∠ − 8,5271° 𝑝𝑢

Obs: não foi utilizado o critério de convergência ϵ ≤ 0,001, pois o número de


interações é muito pequeno.

• Cálculo da potência ativa e reativa da barra 1 e a tabela geral de dados

Através das equações 3 e 4 e dos valores encontrados na terceira interação,


podemos calcular as potências da barra 1:

𝑃1 = 𝑉1 𝑉2 𝐵12 𝑠𝑒𝑛(𝜃1 − 𝜃2 ) + 𝑉1 𝑉3 𝐵13 𝑠𝑒𝑛(𝜃1 − 𝜃3 ) (9)

𝑃1 = 20.1,05𝑠𝑒𝑛(−4,8908) + 5.0,9418𝑠𝑒𝑛(8,5271)

𝑃1 = −1,0921 𝑝𝑢

𝑄1 = −𝑉1 𝑉2 𝐵12 𝑐𝑜𝑠(𝜃1 − 𝜃2 ) − 𝑉1 𝑉3 𝐵13 𝑐𝑜𝑠(𝜃1 − 𝜃3 ) − 𝑉12 . 𝐵11 (10)

𝑄1 = −20.1,05𝑐𝑜𝑠(−4,8908) − 5.0,9418𝑐𝑜𝑠(8,5271) + 25

𝑄1 = −0,5805 𝑝𝑢

A partir de todos os dados calculados, podemos completar a tabela 01 em que


iremos obter:

Tabela 02 – Dados do sistema a 3 barras.

Pot.
Pot. ativa Tensão
Barra Tipo reativa θ (º)
(pu) (pu)
(pu)
1 Vθ - 1,0921 - 0,5805 1,0 0,0
2 PV 4,0 2,4914 1,05 4,8908
3 PQ 3,0 1,0 0,9418 - 8,5271

Fonte – Dados da pesquisa (2022).

• Simulação do sistema elétrico no Anarede

Para fazer a simulação no Anarede, foi necessário incluir os elementos


disponíveis como as 3 barras e a linha de transmissão e lá é inserido os dados
sobre a barra e o seu tipo, assim como na linha é colocado a resistência, reatância
e susceptância. Após isso, é executado o fluxo de potência, como mostra a figura
02.
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Figura 02 – Sistema Elétrico no Anarede

Fonte – Foto do autor (2022)

Para obtermos uma tabela parecida com a tabela 02, basta ir na opção dados,
gerenciador de dados, barra e salvar tabela. É importante salientar que o Anarede
dá os valores de potência ativa e reativa em MW e MVAr, portanto, para descobrir
seus valores em pu, devemos dividir por 100MVA que é a potência do sistema
inteiro. Logo, obtemos os seguintes dados do Anarede:

Tabela 03 – Dados do Anarede.

Pot.
Pot. ativa Tensão
Barra Tipo reativa θ (º)
(pu) (pu)
(pu)
1 Vθ - 1,0 - 0,573 1,0 0,0
2 PV 4,0 2,55 1,05 4,69
3 PQ 3,0 1,0 0,939 - 8,7
Fonte – Dados da pesquisa (2022).

Ao fazermos uma comparação entre os dados obtidos na tabela 03 e a tabela


02, observamos as seguintes discrepâncias, como mostra a tabela 04:
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Tabela 04 – Erros.

Grandeza Erro (%)

Potência ativa da barra 1 9,21


Potência reativa da barra 1 1,31
Potência reativa da barra 2 2,29
Ângulo de tensão da barra 2 4,28
Tensão da barra 3 0,29
Ângulo de tensão da barra 3 1,99

Fonte – Dados da pesquisa (2022).

Essas discrepâncias acontecem, pois, o número de interações manuais feitas


pelo método de Gauss foi baixo, se fosse feito mais interações, os valores
iriam convergir com os da tabela apresentada pelo Anarede.

5. CONCLUSÃO

A partir dessa atividade foi possível obter uma maior familiaridade com os cálculos
de fluxo de potência de um sistema elétrico que apesar de ser simples, por ser de 3
barras, as contas manuais são muito grandes e trabalhosas, no qual fica claro que a
utilização de um software simulador para representar esse sistema é bastante útil e
simples. É importante salientar que na realidade/prática o número de barras de um
sistema elétrico de potência é muito superior ao calculado no presente relatório,
sendo extremamente necessário o uso de programação no Anarede para esse tipo
de análise.
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6. REFERÊNCIAS

BENEDITO, Raphael. Fluxo de Potência. Disponível em em:


http://paginapessoal.utfpr.edu.br/raphaelbenedito. Acesso em: 06 Dez. 2022.

STEVENSON Jr. W. D. Elementos de Análise de Sistemas de Potência, 2ª Ed. São


Paulo: McGraw Hill do Brasil, 1986.

MONTICELLI, A. J. & GARCIA A. Introdução a Sistemas de energia elétrica. 1ª Ed..


São Paulo – SP. UNICAMP. 2003.

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