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Per146420 1906 00002
Per146420 1906 00002
Pirector-Proprietário
f£EVlS17£ AIRTISTICn,
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ASSIGNATURA ANNUAL
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KÓSMOS
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lli)ifi
Ainda em todas as fachadas elos eelifi-
cios públicos pendiam em funeral as ban-
dei ras, ainda os jornaes enchiam as suas
primeiras paginas com a narração dets
desastres, ainda sobre o mármore das me-
XTRAVAGANTE e sinistra sas do Necrotério se inteiriça vam os ca-
)hysionomia, ao mesmo tem- daveres das victimas dos desmoronamen-
po chorosa t risonha, comi- tos, ainda as famílias pobres choravam os
ca e trágica de bailarina e seus cacarecos arrebatados pela violência
de carpideir a, de palhaço e das innundações, - e já, aos pinchos e
decoveiro, ce arleqtiim e de guinchos, com a cara enfarinhada e os
olhos esbe)galhados de loucura, sacudinde)
gato pingado, teve este me z de fevereiro!. a guizalhaeia da roupa espalhafatosa, o
Um rio de lagrimas rodeava o berço
Carnaval tomava conta da cidade, numa
em que elle nasceu: e, vogando por essa
corrrente de amargo prarto, veio de dia
barbara e ensurdecedora matinacla de bom-
bos e caixas de rufo.
em dia o mez fatal, entre desgraças e dis-
sabores. A Morte foi a sua madrinha e a •*=
sua confessora : foi ella quem o viu nascer,
Horrivel alliança parece essa. da Me)rte
crescer e morrer, e quem influiu sobre
e da Pândega, de braço dado, dansando
toda a sua curta existência de vinte e oito
dias, como uma fada pervcsa. juntas! Mas já Bauelelaire descreveu a irre-
sistivel attracção, que ha entre essas duas
Quando veio á luz o ullimo numero da dominadoras da vida humana, mostran-
Kósmos, já a cidade e todo o paiz se co- do-as como irmãs gêmeas, nascidas do
briam de luto: a catastrophi1 de Jacuacanga mesme) ventre:
acabava de amargurar tocas as almas, —e ** l.a Débauche et Ia Mort st.nt deux aimables filies,
parecia qne já não poderia haver calami- Prodigues de baisers, et riches de santé,
dades que ainda nos viessem augmentar a Dont le flane tonjoars vier^e et couvert tle gnenilles
Skus Teternel labeur n'a jamais enfanté.
afflicção. Engano ! por mais cheia de triste- Et Ia biére et 1'álcôve eu blasphen.es íecoudes
zas que possa estar uma alma, sempre Nous offrent tour à toar, comme deux bònnes sivurs.
De terribles plaisirs et d"alTreuses dòiiceurs !...''
nella haverá logar para renas tristezas...
As cheias dos rie^s con linuaram, conti- Haverá quem diga que isso não passa de
nuaram as nuvens de gafanheitos a devorar mórbido excesso de imaginação... Mas nãe)
os campos, —e, no Rio de Janeiro, os des- é verdade que a vida real nos está todos os
moronamentos vieram ajuntar um novo dias mostrando a verdade dessa concepção
horror aos horrores já existentes. E embo- do satânico poeta das Flores do Mal?
tados, como já saturados ce dor, e insen- Haverá por ventura cousa mais extra-
sibilisados pelo excesso ido soffrimento, vagánte do que esse Carnaval que tivemos,
ficámos todos ria muda resignação de quem em pleno mez de desgraças e dc misérias,
já nem forças possúe para se queixar da
— Carnaval macabro, que abafava cem o
inclemencia da sorte! estridor do seu zabumbar e do seu buzinar
Fevereiro, porém, era o mez do Car- os gemidos e os soluços de que ainda es-
naval... Não houve luto, não houve pranto, tava cheio o vasto peito da cidade?
não houve agonia que fizessem esquecer
¦
*
*
esse instincto baixo e grosseiro que impelle
os homens, periodicamente e irresistivel- Durante todo o mez, no noticiário das
mente, para a folia sensual e desordenada. gazetas, as noticias fúnebres acotovella-
E foi isso o que forçou o mez a ter uma ram-se com as noticias carnavalescas.
dupla physionomia, na qual um dos olhos ! Nesta colunma, contava-se o trabalho dos
chorava lagrimas em jorro, emquanto o scaphandros na bahia de Jacuacanga son-
outro despedia faiscas de riso, em piscadel- dando o mar, e pescando os cadáveres;
Ias de bregeirice e malicia. <J) narrava-se o apparecimento dos corpos
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deeqmpostos, roidos pelos peixes vorazes, <3i trazendo no craneo despèllado e secco uma
tão desfigurados que nem os olhos dos coroa de guizos erepitantes. Os teus bailes
amigos e dos parentes podiam reconhecer lembram-me bailes de múmias, num cerni-
nesse acervo de carnes putrefaCtas os traços terit), á luz pallida dos fogos fatuos, ao
das physionomias amadas que buscavam; som de uma orchestra de gnomos execu-
e referia-se o episódio shakespereano tando a Danse macabre deSaint-Saéns,—
daquelle continuo e desesperado vagar de bailes a que tivessem comparecido todos
um batei, no qual uma pobre mãe andava os phantasmas de Hoffmann, todos os ave-
como louca, possuída de uma idéia fixa, jões de Poé, todos os spectros de Radcliff...
mima anciã mortal, sobre as águas assas- Decidamente, não éum mórbido exagero
sinas dá baliia, á procura do cadáver de um da imaginação de Baudelaire aquella ami-
filho adorado... Alas, logo na columna se- zade das duas boas irmans,
guinte, as mesmas pennas que haviam •Ia Débauche et Ia Kfort ,
debuxado esses negros quadros de pezar
e angustia, entravam a pintar, em cores dando aos homens
espertas e gritadoras, a animação dos bailes ? de terríbles plaisirs et d'atTreuses doucenrs...»
e das orgias com que os clubs earnava-
lescos saudavam o inicio do regabófe es-
candaloso... Era o Riso ao lado da Lagrima, Emfim, não ha mal em que o povo se di-
era o berro da Folia casado ao estertor do virta, ainda que o seu divertimento
possa
Desespero, era o pinote do Can-can unido parecer sacrilego...
ás vascas da Agonia! Se, nesta aborrecida e triste existência,
Foi no dia 21 que se realisaram na Can- as lagrimas, as dores, o luto, os pezares fos-
delaria as exéquias em honra dos mortos sem eternos, mais valeria de certo
que re-
do Aquidaban; tres dias depois, a 24, en- corrêssemos ao suicídio em massa, como
trava o Carnaval; — de modo que não lia I ao unico remédio e ao unico consolo...
exagero em dizermos que passámos sem E é possivel (ouçam-me todos os deu-
transição da missa á orgia, do pranto ao ses!) é possivel que o Carnaval tenha vin-
pagode, do melancólico gemer do requiem do espantar e afugentar a hedionda jetta-
de Verdi ao bramir selvagem do zé-pereira. tura que nos está malsinando e perseguiu-
Ainda não se tinliam apagado na igreja as do ha dois mezes. Contra ella teem^sido
tochas, ainda não se tinham retirado das impotentes as rezas, as procissões, as de-
suas paredes as colgaduras de velludo negro preeações e os esconjuros de toda a espe-
semeadas de lagrimas de prata, ainda se não cie. Talvez tenham mais valor asassuadas,
havia desatravancado a sua nave das eças e as vaias, as desabridas corriólas e as frene-
dos catafalcos,-e já os "diabinlios" saraco- ticas surriadas dos "cordões" carnavalescos!
teavam pelas ruas, e ganiam os "pierrots", e E esperemos que Março nos venha tra-
chalaceavàm os "dominós", e uma espessa zer o descanço e o allivio que ha sessenta
nuvem de confetti revoluteava pelos ares. dias estamos pedindo. Este mez, que era o
O' desgraçado e sacrilego Carnaval, que primeiro do calendário romano, era, apezar
me fizeste lembrar aquelle horrendo e de ter o nome do deus da guerra, consagra-
ga-
inenlio esqueleto, que Antliero de Quental do a Mercúrio, o deus da eloqüência, do
cantou num soneto celebre, commercio, dos trabalhos e do progresso, "sem
"¦'Irr,:proc/ia/>li-m,-iit vestido á - cousas que não subsistir a
fíenoiton .'..." podem
Tu me appareceste como um arcabouço paz do espirito. Que o benigno Março nos
de ossos, embrulhado em farrapos de cores traga essa paz, -e que a jettatura vá pesar
vivas, e recoberto de lantejouías, mettendõ sobre qualquer outra parte da terra! o Bra-
á força as pHalanges duras dos dedos sil já está ficando com o direito de dizer
mima luva branca, com a gola do jaleco que tanta calamidade junta é calamidade
vistoso dansando sobre as claviculas des- demais para um só paiz...
camadas, em torno das vértebras mias, e IL
O. B.
KÓSMOS
fe S
transformaram desde os alicerces a vida poli- que se attente em que nos estamos ainda a
tica e social do Brasil, conduziram a flores- servir, para sua execução, dos elementos tra-
cente republica americana a uma crise pletho- diecionalistas. já condemnados
pelos reforma-
rica de civismo e trazendo para as activida- dores theoricos da escola de Mousinho. Mais
des laboriosas da vida publica uma geração explicitamente, nós estamos fazendo obra no-
por completo desembaraçada de compromis- va com gente velha. Desde o seu advento, o
sos históricos, educada nos exemplos das nosso liberalismo, presidido por um
príncipe
prosperidades de outros povos da America e serviu-se, para triumphar, do apoio das castas
da Europa, transferiram de golpe o exercício privilegiadas. Saldanha, Palmella. Loulé. Sá da
do poder para os reformadores audaciosos. Bandeira eram fidalgos. A democracia
Em Portugal, interrompida a evolução do li- princi-
pipu por crear tres duques e bafejar as ambi-
beralismo democrático de 20 e do constitu- ções de um déspota: o conde de Thomar.
cionalismo de 33, depressa o novo regimen Posto isto, é necessário fechar os olhos
para
político se adaptou aos erros do antigo regi- não reconhecer que os executores anachroni-
meu que viera substituir e o paiz recahiu, cos de um regimen-cujo caracter é a colla-
pouco a pouco, no dominio das classes con- boração das maiorias,-praticado
por uma mi-
servadoras. A revolução serviu apenas ao tri- noria subsistente, e assim viciado na sua ori-
umpho da burguezia e á extincção do frade. gem, se desempenharam antes bem do que
A's gerações douctrinarias, exaltadas e romanes- mal da imprópria e áspera tarefa
cas, creadas no exilio e nas guerras civis, sue- que lhes foi
commettida. As tergiversações de D.
cederam as gerações utilitárias e scepticas. João VI,
tirando toda a feição revolucionaria á obra
Mas se, politica e economicamente, esta sub- republicana dos reformadores de 20, conduzi-
serviencia á tradição nos lesou e compromet- ram o regimen a esta anomalia. E' fora de
teu no concerto dos povos da Europa, por duvida que o século XIX foi de
outro lado impediu que tão depressa esmore- progresso
sobre o século que immediatamente o
cesse o que resta de bom no nosso caracter pre-
cedeu. E entretanto a mesma nobreza de espa-
histórico e com que haveremos de nos des- da e de toga, de solar e de universidade, o
empenhar dos graves compromissos contraiu- dirigiu. Os que ainda não eram fidalgos, no-
dos com a civilisação occidental, como quar- bilitaram-se para servir... a revolução! Não se
ta potência colonial do velho mundo, que
poude mais ser poeta admirável, um roman-
ainda somos. Provou o censo de 1900, que cista genial, um banqueiro opulento, um
entramos no sceulo XX com 7S p/p de popu- poli-
tico hábil sem o adorno de um titulo. Garrett,
lação aualphabeta. Isto explica, melhor do que
que passou metade da vida ao espelho, a en-
cem volumes de historia, os motivos pelos saiar colletes e gravatas, e a outra metade a
quaes a evolução do liberalismo se interrom- lisongear o preciosismo das mulheres do seu
peu. Por outro lado, a colonisação modelar tempo e a produzir obras-primas, obtinha um
da ilha de S. Thomé demonstra de quanto é viscondado. Castilho e Camillo, um cego e
ainda capaz a energia de uma raça, que outro desventurado, Habilitavam a nobreza re-
muitos se obstinam em considerar decahida- clamando egualmente coroas... de visconde
O predomínio pertence ainda entre nós ás
para adorno da sua gloria. Como o seu ante-
minorias, onde prevalecem os mesmos elemeu-
passado Earrobo, o banqueiro Burnay, neto de
tos que dirigiram o Portugal do século XVIII. uma modista, era elevado á grandeza do rei-
Consumimos todo o século XIX a taçtear no com a mercê de conde. Ávila, um
n'um caminho Íngreme e sinuoso. O nosso plebeu,
era feito duque... para ser presidente do con-
mal provém da pequena participação das po- selho. O liberalismo ia assim adiante do abso-
pulações na obra commum do engrandeci- lutismo, que deixara apenas dous duques —
mento nacional. Tudo o que temos feito n'es- Lafões e Cadaval - creando cinco duques:
tes últimos setenta annos, nem sempre pacifi- Palmella, Saldanha, Loulé, Terceira e Ávila ! E
cos, é obra exclusiva d'essa minoria, contami- não se diga que se pretendeu democratisar a
nada de defeitos atávicos, alguns d'elles insa- fidalguia com a vulgarisação do titulo nobi-
naveis. Por isso mesmo não é destituída de liarchico. Na sua quasi totalidade, os novos
mérito a nossa lenta obra de progresso, desde agraciados eram já fidalgos de linhagem. Muitos
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ê: 3
dos que não tinham ascendências illustres na orgulho a sua grandiosa magestade e Junot,
historia, como Garrett e Camillo, fantasia- ao entrar no Rocio, parava o cavallo e vol-
vam-as. Os poucos que, como Ávila, tinham tando-se para o seu estado-maior, apontando
vindo do povo, occultavam-o. Do antigo regi- as tristezas pombalinas da praça e os lavôres
men mantinha-se a nociva tradição de um longínquos do arco triumphal da rua Augus-
monopólio do poder exercido pela nobreza. A' ta, dizia ao general Thomières: Quem pude-
frente do partido liberal viu-se o duque de ra levar tudo isto para Paris! Mas um século
Loulé, genro da imperatriz D. Carlota Joaqui- reduzira depressa esses explendores da capital
na e cunhado de D. Miguel. Hoje ainda, o de D. José I a simples curiosidades históricas.
partido liberal tem á sua cabeça um fidalgo: Lisboa chegava quasi ao fim do século XIX
o conselheiro José Luciano de Castro Corte sem ultrapassar os limites que lhe marcara
Real, filho do morgado da Oliveirinha. O seu Pombal em 1755.
antecessor, Anselmo Braamcamp, era, se bem Para o norte, a cidade acabava no Passeio
que de nobreza recente e provindas de allian- Publico.N'esse scenario anachronico, não admi-
ças collateraes, um fidalgo. Para o chefe do ra que a vida decorresse obsoleta. Foi neces-
partido conservador, o conselheiro Ernesto Ro- sario que se rasgasse a Avenida da Liberda-
dolpho Hintze Ribeiro, inventou-se a ascen- de para que Lisboa sahisse, emfin, da sua ve-
dencia hypothetica do misantropo D. João VI. getativa immobilidade. A obra do confeiteiro
O jacobino Costa Cabral do club dos Camil- Rosa Araújo merece pois contar-se como um
los evolucionava de demagogo a dictador e verdadeiro acontecimento. O que não tinham
morria conde de Thomar. Estes exemplos, que conseguido os caminhos de ferro e a navega-
podiam multiplicar-se, bastam para dar a phy- ção a vapor, a illuminação a gaz e a rhetori-
sionomia de um regimen que abortou na Be- ca do parlamento, obíinha-o inesperadamente
lemsada e para o singularisar no seu aspecto o Municipio com a expropriação da praça das
de perseverante tradiccionalismo. Não preten- Hervas e das Mortas da Cera até Valle do
dendo nós fazer obra de historiador e antes Pereiro. Lisboa tinha uma primeira missão a
íiuiitando-nos á ambição modesta de chronista, cumprir: edificar a Avenida. Fdificou-a. A
temos que abandonar, com pezar nosso, a re- meio d'essa tarefa, que a absorvia, rebentou o
constituição histórica dos costumes portugue- conflicto com a Inglaterra. Portugal despertou
zes do século XIX, tão conveniente á exacta da sua somnolencia. A ameaça de lhe arre-
comprehensão da nossa vida de agora, e en- batarem os restos ainda magníficos do seu
trar, sem mais delongas, na pittoresca narrati- dilatado império colonial, commoveu até aos
va d'esta Lisboa, para onde seduzidamente sagrados desesperos patrióticos este povo tão
conflúem todas as actividades intellectuaes do apegado ás suas tradições. Em meia dúzia de
paiz e de onde irradiam todas as vozes dire- annos, desajudado de todos os recursos na-
ctoras da opinião. Ma vinte annos, Lisboa con- turaes, Portugal improvisou uma industria fio-
servava ainda o'aspecto de uma velha cidade rescente e, desprovido de recursos monetários,
medieva, com os seus bairros da Mouraria e retomou a sua obra gloriosa de colouisação
de Alfama, as suas alfurjas tenebrosas, os seus ultramarina. O antigo sonho de Pombal, que
escadórios em labyrinto, os seus denegridos reservava para Lisboa, no commercio inter-
pannos de muralhas, as suas vetustas torres continental do Atlântico, a situação de cães e
da Sé, as desmantelladas ameias affonsinas do entreposto da Europa, precisou-se, incluindo-
seu castello de S. Jorge, a que apenas as viu- se uo programma do futuro. A Sé em melho-
te ruas e praças pombalinas — o Rocio e o res dias voltou. Iniciavam-se os trabalhos mo-
terreiro do Paço —e as edificações de conven- numentaes do porto de Lisboa. E como os
tos e egrejas posteriores ao terremoto em pies- diuheiros de África pineipiavain a affluir e
tavam um cunho menos archaico. Essa Lisboa como o Brasil emancipado permanecia a mais
gizada por Pombal, ainda que de proporções produetiva das nossas colônias, reverteudo-nos
mesquinhas para a tumultuosa agitação da vi- generosamente em ouro o que lhe confiava
da moderna, era para o tempo de arrojada mos em vidas, Lisboa creou um novo impul
amplidão no seu delineamento. Exilado em so, dilatou-se por novos bairros, em largas e
Paris, Felinto Elyseo evocava com saudoso extensas avenidas arborisadas, illuminadas a
KÓSMOS
rã)
WÊÊÊÊh!ã
Sou eu Mina de < >iro
I raxendo nosso Bogary»
Havia fa-
ces conges-
tas, sujeitos
a praguejar, WldVflM&A mC^4Sm^r'^(r ^Í*V %L yW^^mmmWM(mWm^íÍ^
gritos de mulhe-
res. A plethora
da alegria punha ^*T xMthT^VvJ
desvarios em to- ÍAm/l/bV-. **- V*r /^I^k^^M.
das as faces. Era pro-
vavel que do largo de
S. Francisco á rua Di-
reita dançassem vinte
cordões e quarenta grupos,
rufassem cem bombos e du-
zentos tambores, gritassem
cincoenta mil pessoas. A rua con-
vulsionava-se como se fosse fen-
der, rebentar de luxuria e de ba-
rulho. Uma illuminação violenta es-
trellava nos focos dos arcos de gaz,
nos braços de luz Auer, nas
grandes Iam-
€
padas electricas, incessantemente aquecida
pelas vermelhidões de incêndio dos fogos
de Bengala, incessantemente estriadada' corri
dos archotes e das pequenas lâmpadas
prezas
M KOSMOS
és 5)
Como é idiota!
^^ E' admirável. Os
poetas symbolistas são
fe ainda mais obscuros.
to religioso. O bailado clássico das bailarinas
do Scala e da Opera tem uma serie de
passos do culto bhramauico, o minueto é uma
degeneração da reverencia sacerdotal, e o ca-
ke-\valke e o maxixe, danças delirantes tem o
seu nascedouro nas correrias de Dyonisos e
no pavor dos orixás da África. A dança saiu
tios templos, em todos os templos se dançou,
mesmo nos cathohcos...
O meu amigo falava entrecortado, gesti-
culando. Já começara a julgal-o sem razão.
Elle entretanto esticando o dedo, bradava no
torvelinho da rua:
— O Carnaval é uma festa religiosa, é o
mixto dos dias sagrados de Aplirodita e Dyo-
nisos, vem coroado de pampanos e cheirando
á luxuria. As mulheres entregam-se, os ho-
mens abrem-se, os instrumentos rugem, e estes
tres dias ardentes, cortiscaut.es são como uma
enorme sangueira na hyperthrophia dos maus
sentimentos. Os cordões sairam dos templos!
Ignoras a origem desses grupos? Pois elles
/ vêm da festa de Nossa Senhora do Rosário
ainda nos tempos coloniaes. Não sei porque
os pretos gostam de Nossa Senhora do Rosa-
rio. Já naquelle tempo gostavam e saiam pelas
ruas vestidos de reis, de bichos, de pagens, de
KÓSMOS
fe
Entretanto os Destemidos tinham parado Depois dos Velhos os Cucumbys. Depois dos
também. Vinham em sentido contrario, fazen- Cucumbys os Vassourinhas. Hoje são duzentos.
do lettras complicadas pela rua fofa de papel E' verdade, com a feição feroz da ironia
polychromo, sob a ardencia das lâmpadas e que esfaqueia os deuses e os céos, fiz eu re-
dos arcos, o grupo da «Rainha do Mar» e o cordatido a phrase do apologista.
grupo dos Filhos do Relâmpago do Mundo Sim, porque a origem dos cordões é o
Novo». Os da Rainha cantavam em bambo- A/oché africano, dia em que se debocha a re-
leios de onda: ligião.
Moreníriha bella O Afoché? insisti pasmo.
1 lei de te amar
Sonhando com tigo Sim, o Afoché. E' preciso ver nesses ban-
Nas ondas do mar dos mais do que uma correria alegre- a psy-
chologia de um povo. O cordão tem antes de
Os do Relâmpago, chocalhando chocalhos tudo o sentimento da hierarchia e da ordem.
riscando xequedês, berravam mais apressados A ordem na desordem?
E' um lemma nacional. Cada cordão tem
No triná das ave uma directoria. Para as danças ha dois fiscaes,
Nem rompendo a aurora
lilla de saudades dois mestres-sala, um mestre de canto, dois
Suspirando chora. porta-machados, um achi-nagú ou homem da
frente, vestido ricamente. Aos titulos dos cor-
Sou o Ferramenta does póde-se applicar uma das leis de philo-
Vim de Pòrtttgâ
O me ir balão sophia primeira e concluir d'ahi todas as idéas
Chama Nacioná. dominantes na populaça. Ha uma infinidade
que são caprichos e outros teimosos. Perfeita-
Senhor Deus ! Era a loucura, o pandemo- mente., pessoal da lyra: —agora é capricho!
nio do barulho e da sandice. O fragor porém quando eu teimo, teimo mesmo!
augmentava como se concentrando naquelle Nota depois a preoccupação de maravilhar,
ponto, e, esticando os pés, eu vi por traz da com ouro, com prata, com diamantes que
"Rainha do Mar," uma serenata, uma authentica infundem o respeito da riqueza —Caju de Ouro,
serenata com cavaquinhos, violões, vozes em Chuveiro de Ouro, Chuva de Prata, Rosa de
ritornello sustentando fermatas langurosas. Era "\ Diamantes, e ás vezes coisas excepcionaes e
a -Papoula do Japão»: únicas. Relâmpago do Mundo Novo. Mas o
grosso da população é a flor da
Toda a gente pressurosa gente, tendo da harmonia a cons-
Procura flor em botão tante impressão das gaitas, dos ca-
E' uma flor recém nascida
A papoula do Japão vaquinhos, dos violões, desconhe-
cendo a palavra, talvez apenas sen-
;¦
Pocemente se beijava
Lina... rola tindo-a como certos animaes que
Attrahida pelo aroma
Dá... papoula...
\h-;.<z*:.-jl entendem discursos e soffrcm a
acção dos sons. Ha quasi tan-
—Vamos embora. Acabo teu- tos cordões intitulados Pior e
Harmonia, como ha teimosos
do uma vertigem. e caprichosos. Um mesmo
Admira a confusão, o cháos chama-se Flor da Harmo-
ululante. Todos os sentimentos, nia, como ha outro intitulado
todos os factos do anno revira- «Flor do Café».
volteiam, esperneiam, enlangue- E' curioso.
cem. revivem nessas quadras
feitas apenas para acertar com Não te parece ? Vae-sev
\W XZ^Yn ^ãft^' /vüvS. \ \\JK« aos
a toada da cantiga. Entretanto, poucos detalhando a ai-
homem frio, é o povo que fala. ma nacional nos estandartes
Vê o que é para elle a maior dos cordões. Oliveira Oo-
parte dos acontecimentos. mes, esse ironista subtil, foi
Quantos cordões haverá mais longe, estudou-lhes a
nesta rua ? zoologia. Mas, se ha Fio-
Sei lá, quarenta, oitenta, res, Teimosos, Caprichosos
cem, dançando em frente a re- e Harmonias, os que querem
dacção dos jornaes. Mas, ca- espantar com riquezas e fes-
ramba! olha o brilho dos gru- == tas nunca vistas, ha também
' os
pos, louva-lhe a prosperidade. preoccupadoscom as vic-
O cordão da Senhora do Rosa- tortas e os triumphos, os que
rio passou ao cordão de Velhos. antes de sair já são Filhos
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KÓSMOS
<§=
No lar^o de S. Francisco
Quando a cometa tocou
Era o trium|iho Rosa Branca
Pela rua do Ouvido*.
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X<?!&9' . iÁ&
KOSMOS
<ê-
Àm m\ ¦ —Sim, sim !
Da terra e dos astros todos
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Rk •.*-'*!*¦*'• Pa^TW M Sentimos a rotação.
¦a^l aaaf^tVV^ KK^afl ¦
Wf v • ^AW Baia m\ Depois de um jantar profuso.
De uma forte libação.
Quem não quer a monarchia ?
¦77 .^-"-3S .pRâ ¦ Quem não respeita um barão ?
^H MW& - • mmWzlEMWtBm
"7-**iijB ¦
mum Compadres, não é assim ?
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—Sim, sim !
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¦ aafa^V-^a V Quem nâo quer a monarchia ?
^l H. a^H ^^. I % jjH IV Quem não respeita u m liarão
^B Br Na Velha Canção (Obr. comp.
r~- I, 279) ha
esta quadra:
Tudo no mundo é vaidade,
l»isse o grande Salomão...
Elle pensou talvez, isto
Em noite de in digestão...
Cerca de duzentos versos brancos, muito A invenção é interessante, tem côr local, e
de feição varelliana, contam o episódio de a peça termina por uma scena de grande bei-
tuna espécie de Caramurtí, arrojado pelas va- leza. O autor, porém, não conhecia o segredo
gas á terra americana e acolhido por uma dos bastidores, não calculava com justeza o
tribu indígena, a cuja civilisaçào consagrou a effeito das luzes e da scenographia, nem esta-
existência desde então. Annos depois, desem- va familiarisado com o monstro de mil cabe-
barcam ali ferozes piratas, ávidos de oiro, ças que «paga com seu dinheiro». Elle pro-
exigindo que se lhe mostrem as minas. Acce- prio reconheceria a necessidade de rever e
de o chefe da tribu, leva-os ao alto de um talvez refundir esse e outros trabalhos que
monte, e d'ali lhes mostra campos cultivados, deixou rascunhados em folhas volanies.
caminhos abertos, arvoredo carregado de fru- Infelizmente aos trinta e quatro annos de
cto, homens nas plantações, raparigas sentadas edade finou-se o Poeta, quando era licito
á porta das choupanas tecendo seus vestidos; esperar que o sonho da sua mocidade ia to-
pomares, cohneias, apriscos, aves domestica- mar forma definitiva, e produzir—quem sabe? —
das, estendaes carregados de fibras de có-~ o livro que a literatura latina americana espera.
queira: Em seu caminho não encontrou elle uma
Mis nossas minas ! Eis nossos thesouros ! Beatriz ou Laura, Carlota ou Marilia.
Eis o ouro mais puro que ha brotado Caprichos lhe foram, senão modelos vivos,
Das entranhas do globo !
<v>uereis comnosco partilhal-o ? Vinde ! Inah, Mimosa, Lucilia e a irtnan dos anjos,
Deus abençoa a fronte que medita formosa boçal, tão indigna dos supostos irmãos
E os braços (pie trabalham. como do próprio frei Bastos. >
Ouvindo ainda outras verdades ditas em O primeiro casamento de Varella foi uma
formosos versos, os piratas deram-se por con- aventura romanesca, começada em um circo
vencido e pozeram-se ao largo. eqüestre, e terminada pelo martírio de joven
senhora, vitima dos desvarios e allucinações
Quando no ceu azul serena a tarde do Poeta.
Desdobrava em silencio o leve manto, O sublime Cântico do Calvário exprime a
Triste como a saudade,
<> ligeiro baixei, de velas soltas, única afeição humana que intensamente o
1'erdia-se nas orlas vaporosas dominou e commoveu. A criança passara como
Dos vagos horisontes. as brumas, as nevoas e as neblinas que nos
versos de Varella traduzem a garoa e a
Em uma folha de antigo papel de peso cerração da capital paulista.
Bath estão lançados alguns versos, cheios de
rasuras e emendas, recomeçados, abandonados O que elle amou sobre todas as coisas
em meio para surgirem em nota tentativa: um foi a terra americana. Engradecendo os qua-
dros traçados por G. Dias e Porto Alegre,
pequeno cahos que não chegou a ser illumi- amou-a nos descobridores, nos missionários,
nacio pela esquiva inspiração.
nos indígenas, nos heroes das novas naciona-
Em nove oitavas, cada uma das quaes fe- 1 idades, nas lendas, nos costumes da roça.
cha com a palavra pensamento, um prisionei- Adorou a natureza da nossa terra, e por ella
ro declama em versos assás medíocres contra se fez nômade, palmilhou estradas, travou
os tyrannos. amizade com as arvores, embebeu sua palheta
Um drama em prosa, A Morte do-Capitão- de incomparavel paisagista nas|tintas da arraiada
Mor, tres actos, com pequenas faltas, por di- e do cahir das tardes, mais misteriosas que
laceração, nas duas ultimas folhas. os poentes de França celebrados nos versos
De tres dramas encontrados entre os ma- de Antônio Nobre.
nuscritos do Poeta falia a noticia biographica O cantor de Colombo, Anchieta e Juarez,
publicada pelo Anglo Brasilian Tintes em das lendas Amasonas, Esperança, A Sede, en-
1S75, traduzida para a 1a edição de Anchieta, e trava na quadra da vida em que a primavera
suecessivamente copiada, com todas as suas se vae despedindo, as flores caducas cedem
inexactidões, por diversos biographos e prefa- praça a outras mais perfeitas, e annunciam-se
ciadores: tres dramas intitulados A Funda- os frutos para a próxima estação. Fazia-se a
ção de Piratininga, em verso, Ponto Negro e sinthese do seu americanismo disperso; apri-
O Demônio do Jogo, também em verso, tirado morava-se a forma, tão descurada a principio;
dos contos fantásticos de Hoffman». acalmava-se a tormenta romântica, a desor-
A Morte do Capitão-Mór não é em ver- denada torrente do lirismo disciplinava-se. O
so, não trata da fundação de Piratininga, nada débil organismo do Poeta não resistiu á vida
tem de communi com o vicio do jogo, e bohemia, nem lhe permittiu senão entrever a
melhor que Ponto Negro lhe assentaria o ti- terra da promissão. Varella foi vitima do falso
tulo A Maldição' Paterna, consoante o assim- byronismo que matou Alvares de Azevedo e
to. Parece, entretanto, que é de Varella o ma- Aureliano Lessa, e envenenou a vida de Ber-
nuscrito. nardo Guimarães.
KOSMOS
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ultimo documento a que se referem Por esse tempo escreveu Varella, para a
tO tas notas é a estenographia com a traducção Associação Tributo ás Letras, um parecer so-
juxta-linear» de algumas palavras que poucos bre a poesia popular no Brasil, que foi dis-
dias antes de sua morte (18 de fevereiro cutido - com brilho e maior copia de obser-
de 1875), Varella dirigiu á Sociedade Brasi- vação do que era dado esperar naquelle tempo,
leira Ensaios Literários em sessfio magna anui- quando não existiam os trabalhos do sr. Sylvio
versaria (23 de janeiro.) Romero e outros. O original desse parecer
Febril, talvez em delírio, disse que naquelle existia no archivo dos Ensaios Literários, asso-
dia mandara enterrar uma criança seu filho, e ciação que desapareceu, como vae desapare-
deixara nas vascas da morte sua mulher em ceudo tudo que é brasileiro...
Niterói, para onde não poderia voltar aquella Uma das primicias do talento de Rodol-
noite, porque perdera a ultima barca (!) Não fo Bernardelli foi um busto de Varella. Esteve
era poeta de inspiração profunda, mas poeta exposto na Imperial Academia de Bellas Artes,
da dor, vivia do coração e das lagrimas. Em e pelo auetor foi offerecido ao bom e saudò- ... . .
¦
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frazes confusas e desconnexas saudou a asso- so Octavio Hudson, que por sua vez o offe-
ciação, e prometteu mandar-lhe alguma poesia. receu ao Dr. Emiliano Varella, pae do Poeta,
em uma reunião muito pouco concorrida que se
* realisou no Conservatório de Musica em 1876.
* * Ahi fallaram Hudson, que se referiu aos
soffrimentos de Varella, nas suas noites bran-
O esboço biográfico que Visconti Coaracy cas, noites de agonia», e o Dr. Joaquim An-
copiou de outro copista é um tecido de ine- tonio Pinto Júnior, que entre lagrimas decla-
xatidões, assevera com razão o autor da Hist rou ter dado as primeiras lições de poética
da Lit. Brás. (II, 437). ao autor das Vozes da America, o que pare-
Não em 1862, como disse o Anglo Brasi- ceria exageração, pois a especialidade do Dr.
lian Times, nem em 1865, como disse Coaracy, Pinto Júnior era o aparte feliz, a replica fui-
mas em 1863 matriculou-se Varella na Facul- minante pelo ridículo, a inexgotavel veia co-
dade de S. Paulo, cujas aulas freqüentou até mica, que faziam delle o mais alegre dos con-
o 3° anno, que não concluiu. Na aula de versadores e um adversário temível na dis-
direito romano, chamado á lição pelo dr. Duarte cussão. O Sr. Ubaldino do Amaral entregou
de Azevedo, sobre as fontes do direito, expoz ao Dr. Emiliano o original de um estudo que
a matéria com clareza, e, ao dar a hora, ter- em 1S66 publicara no Correio Paulistano sobre
minou nestes termos, fallando dos rescriptos os trabalhos de Varella, seu companheiro de
dos príncipes: Naquelle tempo tudo era di- aulas durante quasi tres annos. Consta que
reito, até os bilhetes dos imperadores. esse esboço de critica extraviou-se na casa
Laemmert.
Um acontecimento entre os estudantes foi
a leitura, em sessão magna, dos versos depois Não já aprendiz, mas consagrado mestre,
fez R. Bernardelli novo busto, que em uma
publicados com o titulo Predestinação, antes das praças de Petropolis recorda o cantor flu-
chamados Visão de Colombo.
minense; o estimado pintor Modesto Brocos
Ultimo a fallar, Varella resumiu os dis- reproduziu-lhe o retrato em magnífica agua
cursos anteriores que tinham versado sobre forte.
filosofia alleman, revolução franceza, theorias
de direito, e em um gesto soberbo sentenceou: Do que se tem escrito sobre a obra de
— Tudo isso não vale uma bananeira da Varella merecem especial mensão o estudo de
America! Franklin Tavora, um dos melhores prosadores
brasileiros, elegante, correto, de apurado gos-
Com o seu admirável talento descritivo to e senso critico ; a penetrante analise do
pintou em seguida um quadro da natureza Sr. Sylvio Romero, que a um talento de pri-
virgem, protestou que nunca se oecuparia de meira ordem reúne vasta erudição, e as pa-
assunto que não fosse americano, e pausada- ginas que lhe consagrou o Sr. José Verissi-
nente recitou Predestinação. simo, de cujas sentenças ninguém deveria re-
A mocidadé, impressionável e ruidosa, viu correr, excepto talvez os admiradores de Va-
ou pensou ver um novo ideal, e aplaudio. reila, julgado com extremo e desusado rigor.
A tradição sentiu-se ferida, e em posteriores
distas manifestou despeito e rancor.
U. A.
KÓSMOS
__ S)
m mi fr ^Wm
—Magestade,
quem o poderá dizer? Até
ao ponto em que chegamos da minha his-
E foi assim que um homem pacien- ^ff
tona os gafanhotos esvasiaram mn
pedaço te conseguiu a mão da princeza íris /
tão pequeno do cel lei ro e o ar está tão ne- Branco e o reino das Maravilhas, refreando
gro de gafanhotos, que é impossível dizer. o capricho do rei Lotus, graças apenas a
Entretanto, fique descançado V Magestade
uma interminável praga de gafanhotos.
!ne chegaremos lá.. Entrou por uma porta, saiu por outra.
Enchendo-se de coragem o Rei Lotus El-Rei, o novo Presidente da Republica
continuou a escutar e mais um anno o
ciente narrador continuou a dizer: pa- que vos conte outra menor...
Paulo Alberto.
KOSMOS
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Era então o mais acceso d.ürriá campa-
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A ANGUSTIA HUMANA
MIGUEL BARROS
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origina na Ponta de
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A lanchinba <!<> Aquidaban encalhada em Angra «los Reis para Cambuhy, apre-
KOSMOS
CV. ±D
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"Ancoradouro vasto e
profundo; 'mmmmmmmmt
enseadas lateraes para as construcções ¦ W ~* ^ \ 1 __t__a_-i«J_ m
que devem ser isoladas; ponto con-
veniente para abertura de diques; var-
zeas extensas para a installação de
officinas e de \ .lias operárias, praias
apropriadas para estaleiros; água po-
tavel em abundância; materiaes de
construcção, e culminancias próprias
—
para fortificações taes são os requi-
sitos ahi plenamente satisfeitos.,, Os cemitérios. An .ra dos Reis
•\ .Vi...
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ás 10.45; o do Al-
Dy ] J HflflBHa mirante Calheiros ás 10.47.
BflTfl El M-^áfll
Entre as duas bojas
CS (casco submer-
gido) estão os 92
metros de compri-
mento do Ac/uida-
ban. E como
^vflfl ... imico vestígio
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INTERIOR DA CANDELÁRIA
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EXTERIOR DA CANDELÁRIA
KÓSMOS
Q-
=S)
O "AQUIDABAN
O Aqnidaban, póde-se considerar, tem
» uma historia que é a da marinha do seu tem-
po. Elle entrou para o serviço quando um
sopro das influencias benéficas de necessidade
do poder naval agitou o governo imperial.
Com o Riachuelo que o antecedeu de um
anno, elle inaugurou uma era de resurgiiiieii-
legendário navio que se submergiu na to naval, logo detida pelas considerações fi-
O bahia de Jacuacanga, na noite de^21 de nanceiras, influencias que governam os povos
Janeiro próximo passado devido á uma expio- fracos e os estadistas tímidos. O vôo tão no-
são de seu paiol de pólvora, a ré, era a mais bremente iniciado ficou reduzido ao horizonte
possante unidade da nossa esquadra. dos dois navios, que por muito tempo foram
• ¦
i ;-•
l«i PHASE
"Huasear", o vencido de Miraflores, não fez aquella denominação commercial tinha como
fluctuar mais o seu pavilhão e o vencedor se chefe o engenheiro Samuda, que a propósito
contentou com as honras da victoria, tratando do Riachuelo fez notável conferência no Insti-
da reconstituição geral do paiz, abalado em tuto de Architectos Navaes da Inglaterra, de-
sua estructura pela grande guerra em que se monstrando a excellencia do methodo de con-
envolvera. O Brazil era o único paiz que tinha strucções, a perfeição das linhas e considera-
esquadra regular; essa, como tal, não podia vel progresso da potência militar do navio,
deixar de ser a primeira. relativamente ao que havia em todas as inari-
A marinha imperial, porem, a despeito de nhas, dentro d'aqnelle deslocamento.
participar dos vicios da politica geral, "Riachu-
sempre Aquella firma fundio-se com outras nos
conseguiu e)rdenar a construcção de) grandes estabelecimentos de New-Castle ou
elo" e do "Aquidaban", sem que esses navios Tyne, que gyram sob a razão commercial de
representassem principio algum de estratégia, Ariristrong, Whitworth & C.
nem orientaçãe) para a constituição racional Os principaes característicos do navio foram
de nossa força naval. Foram o esforço de uma --deslocamento normal—4.950 toneladas, ve-
aeiniinisrracção convencida da necessidade da locidade 15 nós, com a força de machinas
esquadra, mas não um programma naval, me- de 6.200 cavallos vapor. Suas principaes di-
nos ainda uma conseqüência das políticas ex- mensões foram: comprimento entre perpcn-
terior e geral. Vieram porque o ensejo foi fa- diculares —93 metros —bocea, ua maior largura
voravel, e, se não fosse o patriotismo dos nos- — 16 metros; calado, normal carregamento,
sos homens do mar, talvez tivessem seguida o 5,50 metros.
destino ele seu precursor o encouraçado Inde- Como poder offensivo tinha 4 canhões de
pendência, transferido ao governo inglez. sem 234 "• ,„ conjugados em duas torres coura-
uma razão plausível. Os dois couraçados ele çadas. dispostas em lozango, com um arco de
84 e 85, foram, até certo ponto, uma compen- fogo de 270 grãos; mais 4 canhões de 152 '" ,„
sação requerida pelo clamor publico pela venda em dois reduetos a popa e proa, ce>m 6 Nor-
de outro navio, que já tinha arvorado as nos- deufelt e 10 metralhadoras de 15cltl. Os ca-
sas insígnias. nhões eram do modelo Armstrong, montados
Se bem que construído em seguida ao Ri- em carretas Vayasseur. As torres eram movidas
achuelo, o Aquidaban, era inferior á aquelle, á hydraulica; e o carregamento dos canhões
na velocidade, capacidade carvoeira e poder só se fazia em duas posições. Podia também
offensivo, o que prova as pequenas considera- o movimento das torres ser feito á mão.
ções anteriormente adduzidas da acção ir- Como armamento torpedico tinha quatro
reflectido e illogica na formação da nossa tubos acima da linha dágua, e os torpedos
esquadra. As modificações introduzidas no eram do modelo Whitehead.
Aquidaban tiveram em vista a reducção do
calado, como se fosse acceitavel o sacrifício de) O poder defensivo, quanto ;i couraça era
de aço compound: a cintura couraçada tinha
poder offensivo, aquillo que cemstitue a razão as chapas da espessura de 279 '" „,, com um
de ser do navio á um característico secunda- einbono de macieira; nas torres a espessura
rio, de valor limitado. Se o plano de) navio
era de 255 ¦¦• ,„; a torre do commando ainda
tivesse sido traçado de accorde> com as pos- tinha menor espessura que era de 250 m „,.
siveis condições da lucta no estuário do Prata,
ou nos affíuentés principaes, ainda se podia A cintura couraçada não abrangia toda a
acceitar, mas a diminuição do calado não visou linha de circulação, ficando equidistante da
esse fim porquanto o navio continuava a não popa e proa, sendo diminuída a espessura.
poder agir com liberdade naquellas paragens. O navio .tinha innumeros compartimentos
Continuava a ser um navio de oceano. estanques.
A construcção do Aquidaban reflecte cia- O primitivo custo do navio foi de 345.000
ramente o estado da marinha imperial, a des- libras, estando o cambio acima de 24 ou a
continuidade de acção administractiva, a inde- 10S000, mais ou menos a libra.
pendência da orientação e a nenhuma evolu- O primeiro commandante que teve o navio
ção da nossa força naval. foi o capitão de mar e guerra Custodio José
Construído nos mesmos' estaleiros que de Mello.
promptificaram o Riachuelo, os de Samtida Bro- A armação era de galera, e o navio era
thers, sob a fiscalização ele uma commissão illuminadoa luz electrica, tendo dois holoplmtes.
naval brasileira, de que era chefe o fallecido Na primeira phase da sua vida o navio
Barão do Ladario, elle foi original do enge- teve importantes commissões á desempenhar.
nheiro que dera o nemie á sua firma, mas de Por duas vezes foi ae)s listados Unidos. A pri-
traçado do notável constructor Sr. Eduard meira arvorando o pavilhão do almirante Car-
Reed, com alterações de constructores brasi- los Balthazar da Silveira, em agradecimento a
leiros. A firma que gyrou em Poplar com cortezia do governo americano, de ter enviado
KÓSMOS
Q-
^>
sido praticados pelos governos republicanos, o pessoal para a sua boa efficiencia, remode-
até mesmo na estranha coincidência de venda laudo todo o apparelho administrativo de
de navios, porquanto a presidência Prudente accordo com as grandes idéas modernas que
de Moraes, transferiu o cruzador Amazonas, governam o organismo da politica naval das
irmão do Barroso, já arvorando a nossa in- nações preponderantes.
sigiiia nacional, ao governo dos Estados Uni- A reconstrucção do Aquidaban só teve
dos, no porto inglez de Gravesend, e o Abreu, lugar em 1S97, nos estaleiros da companhia
ainda nos estaleiros, também ao mesmo go- Vulcan, em Stettin.
verno. O deslocamento foi elevado á 5.100 to-
Como que preside aos destinos da mari- nelladas, em carga normal. A velocidade man-
nha uma fada de máo semblante, e só assim teve-se a mesma de 15 nós, com 6.200 cavai-
ainda se explica o dolorosissimo desastre da los vapor, e só foi conseguida nas experiências
noite de 21 de Janeiro, justamente quando as officiaes, em condições bem excepcionaes. No
esperanças anteveem novas forças para ali- decurso de sua vida nunca mais conseguiu
mentar o fogo sagrado dos que não desani- áquelle máximo.
mam na árdua e gloriosa tarefa de mostrar As reformas mais importantes foram feitas
ao paiz a necessidade de ser forte no mar, no armamento, que constou de 4 canhões de
batendo-se pela creação do seu poder naval. 0'»,203, nas duas torres, com 4 de 0'",120, em
A republica que ora se inicia n'uma po- quatro reductós todas as boccas de fogo do
litica exterior definida já vai sentindo a ne- modelo Elswick, regulamentar ua marinha.
cessidade de uma esquadra, e se continuar O armamento anti-torpedio constava de 9 ca-
de parte dos nossos estadistas o desejo de nhões tiro rápido de 0»'57, e algumas maxims
repor o Brasil na justa posição á que tem automáticas. Os apparelhos das torres foram
incontestável direito, o do problema naval conservados, e o movimento era feito ou á
receberá a solução dos grandes navios do mão ou pela hydraulica.
prograníma naval de 1904. como inicio da Para os outros canhões foram installados
nossa entrada no concerto dos grandes povos elevadores de munições, que foram muito cri-
e como seguimento terá um accrescimo animal ticados, por não serem de um modelo aper-
na força material da esquadrada, habilitando feiçoados e occuparem muito espaço.
mmm^ÊMyÃ
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2» PHASE
KÓSMOS
Q- =2
O armamento torpedicó foi alterado; o na- chal principe Conde d'Eu, conseguio derrotar
vio continuou a ter quatro tubos lateraes, e matar o dictador Solano Lopez. A vanguarda
mas os dois de proa foram submersos. O tor- vencedora estava sob o commando do General
pedo regulamentar foi o de Whitehead, como Câmara, que tinha como avançada a brigada
tem sido sempre em nossa marinha. de cavallaria do coronel Jóca Tavares, depois
O poder defensivo não soffreu a menor general Barão de Itaqui, recentemente roubado
alterção:as chapas substituídas foram por outras ao Rio-Graude do Sul, de que era um dilecto
do mesmo aço. filho.
A nova artilharia do navio deu-lhe uma Depois do combate de Anhato-Mirim, o
potência militar dupla da primitiva. O Aqui- navio foi denominado 16 de Abril, pelo chefe
daban reconstruído em 1S07 vencia em com- da esquadra do governo, c chegado ao Rio
bate a dois Aquidabans de 1SS5. foi esse nome mudado para o de 24 de Maio,
N'esta 2a phase o navio recebeu dois pe- homenagem ao exercito, pela sua grande vi-
zados mastros militares. ctoria desse dia, na campanha do Paraguay,
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3* PHASE
A terceira e ultima phase do navio se ca- nos campos de Tuyuty, a maior batalha cam-
racterisa pela retirada dos dois mastros inili- pai da America do Sul.
tares, e dos tubos de torpedos acima da linha
Mais tarde serenada a agitação da revolu-
de fluetuação. Como armação o navio teve um
mastro para signaes e experiências de telegra- ção da esquadra, o navio teve o seu primitivo
nome, e com esse desappareceu violentamente
phia sem fio, sua ultima missão. na explosão do desastre de Jacuacanga estando
O navio recebeu no estaleiro o baptismo sob o commando do capitão de Fragata Ar-
de Aquidaban para perpetuar a victoriá final thur da Serra Pinto, official de grandes serviços
da campanha do Paraguay. Foi á margem do ao paiz.
riacho Aquidaban que a vanguarda do exer-
cito brazileiro, então sob a mando do maré- A rm an oo Burlam aqui.
KÓSMOS
Q= £
m e tudo o mais que da copa lhe traziam em co-
-Qual?! Conheço, j
—Que ri muito... E' um rapagão, não é?
-Que ri ?... Qual?!... -E'.
Que anda sempre a pedir convites Pois... Ah! Martha,
pVas parece que um espi-
festas... rito máu procura! perder-me!...
Ah!... F depois de um pequeno estalido Resista.
de contrariedade com os lábios: —Faz entrar. -Não sei se terei forças
Ha um ruf-ruf de tecidos caros e uma para tanto... Ne-
cessito do teu apoio Martha. Sò um coração
exlialação forte de Tanagrá perfuma com in- sincero e simples como o teu poderá me au-
tensidade o ambiente. A figura senhorií, lu- xiliar e defender contra a fatalidade
xiuiosa e exhuberantemente carnal, de busto que me
ameaça.
desenvolto e ancas fartas, de Virgínia Soares,
apparece: E firmando o cotovêllo em um dos braços
Olá! Dormindo?!... da balanceuse, Virgínia apoiou na mão a fron-
te e se deixou assim entristecida, fitando o
Não. Costurando umas blusas velhas. Re- olhar, o seu dúbio e inexpressivo olhar, sem
niendos... alma e sem franquezas, na grande rosa
Bonito surafi. F emquanto se desfaz da pur-
pura do tapete em que tinha os pés...
ombrelle e do ridicule sobre uma das cadei-
ras e entre dois beijos em Martha: —Teu ma- «d
rido ? Bom ?
Bom. E o teu?
Assim... Martha toma a lição aos filhos-o casal
Virgínia Soares occupa a balanceuse. minúsculo que lhe transborda a vida de cui-
E' uma mulher plena, da plenitude de dados e a casa de alegrias —um Ioirosinho
trintannos sadios, apparentemente alta —typo trefego e uma tulipa clara.
de mulher carnalisada de commerciànte abas- Tlierezina annuncia : — Miulfama. Dona Ri-
tado, de boa mesa e boas roupas, afastando o tinha.
espirito e despertando appétites. Na mão cia- Abre a sala.
ra de dedos acartuxados e curtos de burgue- E' com effeito Ritinha Fontes, a chlorotica
za, o aro fino da alliança é apagado quasi e romântica Ritinha Fontes, organisadora éter-
pelo fogo branco dos brilhantes. na de matinées de caridade chie e pasto da
Sabes o maledicencia de todo um arrabalde.
que me traz por cá ?
A generosidade de me dares o Oh ! Por aqui?
prazer
de te ver. -Vim te encommodar, talvez. As criau-
Irônica sempre.
ças?
Irônica, -Insupportaveis. O Carlos
porque? Tu hoje estás tão bem. quebra-me a
O que quer dizer louça e a Clotilde já veste os meus vestidos.
que nos outros dias
me tens achado detestável. Preciso de ti. Martha. Um consolo teu.
Não; mas, me eclipsando menos. Nem calculas o quanto tenho soffrido!...
Ora, o sol a Senta-te e di/.
poder ser eclipsado pela
pequenina estrelia... F Virgínia ria forte, alto, Ritinha sorri e ameaça com o dedo enlu-
com uma alegria larga e pesada, descobrindo vado:-01ha lá que é segredo, Martha. e é
através do talho ousado da sua bocea ti tímida
e sensual os dois fios claros dos seus dentes por saber com quem venho fallar que o con-
pequenos. Reclinara-se na balanceuse em aban-
dono flacido, dando o embalo á cadeira com
a ponta de um dos pés firmado hò sòaílio,
fio ; segredo de honra. Não me o reveles nem
a teu marido.
Diz.
4
emquanto oscillava ao ar o outro, admirável- Conheces o Diomedes Pinto?... Conhe-
mente calçado em borzeguim polido e ama- ces com certeza. O Diomedes é nosso intimo,
reli o, d'ai to cano. nos freqüenta muito. Lidar eom aquelle lio'
Mas... fallemos sério, Martha. Vim mem é lidar com a própria tentação. Dizem
aqui que nós mulheres somos frágeis, mas. issoé
para desabafar. Precisava de um coração como um erro; a nossa fragilidade não é da razão;
o teu para o allivio das minhas magnas.
nesse ponto os homens são mais fracos do
E Martha resignada, olhando-lhe a figura
invola, sadia, unicamente carnal: — Estou ás tuas que nós; a nossa fragilidade está toda nos
sentimentos, o que, mesmo assim, não deixa
ordens... de ser uma força porque sentimentos fracos
-Virgínia arrastou a balanceuse: - só os tem as almas fortes.
Escuta,
lu conheces o Diomedes Pinto, não é assim? Martha olhava-a, eomicamente séria...
KOSMOS
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O nosso mal, a nossa desgraça, Martha, marido o caso era outro e para elle, talvez,
ha de ser sempre o homem ; sem elle seria- menos agradável: pagaria as despezas..-. Seria,
mos verdadeiramente perfeitas. Perdôa-me este como ellas chamam, o marchante, o pacifico...
exordio, mas, assim era preciso em relação ao Entre os braços adamascados da poltrona,
conselho que te venho pedir ou, antes, á con- a Ritinha sorria, mordiscando, palIida,.o la-
sulta que te venho fazer e, para isso, permit- bio, a enrodilhar, distrahida, em um. dos de-
tas que te faça, primeiro, uma pergunta: —Tu, dos, a corrente do flacon. Suspirou alto. e vol-
quando te confessas, dizes tudo, absolutamen- tou-se de todo para Martha:
te tudo, de que te recrimines ao teu confessor? Então tu...
Necessariamente. Diria tudo ao confessor.
—Tudo, tudo ? -Tudo ?
Tudo. Tudo.
Ritinha Fontes ficou-se olhando Martha E haverá padres, agora, aqui em São
que sorria. João ?
Absolutamense tudo, Martha?! Não sei, não te
posso informar. Só lá
Absolutamente tudo. vou aos domingos e logo volto, terminada a
E a Ritinha, instantes depois, fitando a missa.
E monsenhor? Estará lá, agora?
ponta do próprio pé que emergia de sob a
barra larga e de seda da saia e riscando os Também, não sei, minha filha. E'
pro-
florões do tapete com a ponteira nickelada da vavel que esteja.
ombrelle de rendas :—E' porque, então, tu Bem...
não péccas... A Ritinha olhava o soalho. Sentia-se de-
-Sem peccados só Deus, minha filha. mais alli. Levantou-se. Beijaram-se. Partiu.
-Escuta, Martha: se tu, em um niomen- Martha acompanhou-a, a envolvel-a em
to de fraqueza, tivesses um amante; se te en- um olhar sentido de magua, té vel-a encostar
tregasses a um outro homem, dirias isso a novamente o portão e afastar-se para além do
teu confessor ?... gradil a sua figurinha galante, mince, triste e
Martha recuou o busto como se livrasse o doentia de hysterica.
rosto á aggressão de uma bofetada inespera- Do electrico ainda a Ritinha acenou-lhe a
da; o collo offegou, líunia palpitação forte; mão enluvada.
cerrou, por um instante rápido as palpebras, E Martha recolhendo, a voltar para os fi-
e aspirou nm hausto largo de calma: lhos, a cabeça pendida, por sua vez appre-
Tenho, hènsiva, n'imi balbucio suspirado, baixo, só
primeiro, a te observar que serei delia sabido se de lamentação ou de temor:
uma péssima informante para a tua pergunta, — Meu Deus...
porquanto nunca me entregaria a um outro
homem, por uma razão natural de tempe- * *
ramento ou por convenções, não sei bem;
como tu queiras; mas, se tal praticasse não Mas esse Diomedes, então?...
teria tempo de o confessar porque me parece Esse Diomedes, afinal, é ellas, meu ami-
que, antes disso, matava-me. go. Entre a Virgínia que é das possíveis de
A Ritinha fallou para as valencianas ricas se fazerem ladrões se o thesouro. como ellas
da ombrelle: —Burgueza. E alto :—Parece-te ? o imaginam, apparecer e as tentar e dado o
Martha recuou novamente : —Tenho quasi que ellas chamam a fatalidade da oceasião e
a certeza. a infeliz da Ritinha que já pertence á qua-
Commettias um drilha das que dispensam perfeitamente o re-
peccado maior. curso dessas fatalidades oceasionaes, só a nossa
-Paciência. Preferia esse. Faltar-me-hiam
as forças para que, no dia immediato, pndes- pobre e querida Luiza Emilia.se salva. Essa, em
todo o caso, sempre tem a defendel-a contra
se encarar, mais do que a meu marido, os
os Diomedes possíveis da sua cabecinha de
meus filhos, apezar de serem duas crianças.'
romântica, mais do que a sua virtude, o seu
Se os quizesse beijar julgaria qne os estava
orgulho indomável. Antes assim...
sujando... Não era mais a mama, como elles
n*ç chamam, era a mulher do pai delles e o A Therezina appareceu annunciando estar
a mesa servida e Martha, enlaçando o marido
goso secreto de um outro homem, com a
differença das outras de não ser paga. E sor- pela cintura, arrastou-o, por entre os reps da
rindo: —Sim, porque tn has de concordar em .porta,-para o interior; —Olha, vamos jantar.
que eu havia de ser trágica e terrivelmente digna: De ,sob as accacias do jardim vinha o ala-
nao acceitaria dinheiro nem presentes por Tsso rido das crianças e, quando a quando, a voz
não é exacto? Rava-me abnegadamente, irrritadiça.e.de ralhos da Andrégina, a velha bá.
por
amor... Ficava até mais barato... Agora, com meu,
Lima Campos.
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