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Ducitaur, Maral. Oato crvador . Ing BAtrenck , Gtesory. A novaarte . Sa faulo sfetpechva (945. MULTIMELOS | Logvel Sholt 20” ‘homem, mas um movi- ‘mento para cada pessoa, ¢ aberto a todo ; Consideremos dois importantes fatores, os dois polos da criagéo artistica: de um lado o artista, do 1+ Trabalho apreseatado A Convenco da Federacto Americana de Aites, em Houston, Tens, abt. 1087, 1 outro, © piblico que mais tarde se transforma na pos- teridade, Aparentemente, o artista funciona como um ser meditinico que, de um labirinto situado além do tempo € do espaco, procura caminhar até uma clareira. Ao darmos ao artista os atributos de um médium, temos de negar-lhe um estado de consciéncia no plano estético sobre 0 que esté fazendo, ou por que o esté fazendo. Todas as decisSes relativas & execuc&o artis- tica do seu trabalho permanecem no dominio da pura intuigdo € nao podem ser objetivadas numa auto-andli- se, falada ou escrita, ou mesmo pensada. T.S. Eliot escreve em seu ensaio sobre Tradition and Individual Talents: “Quanto mais perfeito 0 artis- ta, mais completamente separados estarfio nele o ho- ‘mem que sofre ¢ a mente que cria; e mais perfeitamen- te a mente assimilaré ¢ expressard as paixdes que sio © seu material”, Milhdes de artistas criam; somente alguns poucos milhares so discutidos ou aceitos pelo piblico e muito menos ainda sio os consagrados pela posteridade. Em diltima anélise, o artista pode proclamar de todos os telhados que é um genio; terd de esperar pelo veredicto do piblico para que a sua declaragéo assu- ‘ma um valor social © para que, finalmente, a posteri- dade o inclua entre as figuras primordiais da Histéria da Arte. Sei que esta afirmaco no contaré com a aprova- so de muitos artistas que recusam este papel medid- nico © que insistem na validade da sua conscientizagio em relagao a arte criadora — contudo, a Historia da Arte tem persistentemente decidido sobre as virtudes le uma obra de arte, através de consideragées comple- tamente divorciadas das explicagdes racionalizadas do artista, _ Se 0 artista, como ser humano, repleto das melho- Fes intengées para consigo mesmo e para com o mundo inteiro, nfo desempenha papel algum no julgamento do préprio trabalho, como poderd ser descrito ‘0 fent- meno que conduz piblico a reagir criticamente a obra de arte? Em outras palavras, como se processa 72 Este fenémeno comparivel a uma transferéncia dio artista para © pablico, sob a forma de uma osmose estética, processada através da matéria inerte, tais como a tinta, © piano, o mérmore. Antes de prosseguir, gostaria de esclarecer 0 que entendo pela palavra “arte” — sem, certamente, tentar uma definigao. © que quero dizer 6 que a arte’ pode ser ruim, boa ou indiferente, mas, seja qual for 0 adjetivo em- pregado, devemos chamé-la de arte, ¢ arte ruim, ainda assim, € arte, da mesma forma que a emocio ruim é ainda emogo. Por conseguinte, quando eu me referir a0 “coefi- ciente artistic”, deveré ficar entendido que néo me refiro somente A grande arte, mas que estou tentando descrever 0 mecanismo subjetivo que produz a arte em estado bruto — a [état brut — ruim, boa ou indife- rente. No ato criador, o artista passa da intencao a rea- lizagdo, através de uma cadeia de reagdes totalmente subjetivas. Sua luta pela realizagio € uma série de esforgos, sofrimentos, satisfagdes, recusas, decisées que também nio podem e nfo devem ser totalmente cons- Gientes, pelo menos no plano estético. O resultado deste conflito é uma diferenga entre a intengdo e a sua realizag&o, uma diferenca de que o artista no tem consciéncia. Por conseguinte, na cadeia de reagbes que acom- panham o ato criador falta um elo. Esta falha que representa a inabilidade do artista em expressar inte- gralmente a sua intencdo; esta diferenga entre o que quis realizar o que na verdade realizou é 0 “coefi- ciente artistico” pessoal contido na sua obra de arte. Em outras palavras, o “coeficiente artistico” pes- soal € como que uma relagio aritmética entre 0 que permanece inexpresso embora intencionado, e o que expresso ndo-intencionalmente. A fim de evitar um mal-entendido, devemos lem- brar que este “coeficiente artistico” € uma expresso pessoal da arte a I’érat brut, ainda num estado bruto ‘que precisa ser “refinado” pelo pablico como o agéicar 73 puro extraido do melado; o indice deste coeficiente no tem influéncia alguma sobre tal veredicto. O ato criador toma outro aspecto quando o espectador expe- rimenta 0 fendmeno da transmutagio; pela transfor- magdo da matéria inerte numa obra de arte, uma tran- substanciado real processou-se, e 0 papel do piblico € 0 de determinar qual o peso da obra de arte na balanca estética. Resumindo, 0 ato criador nao & executado pelo artista sozinho; 0 piblico estabelece o contato entre a obra de arte e 0 mundo exterior, decifrando e inter- pretando suas qualidades intrinsecas e, desta forma, acrescenta sua contribuigdo a0 ato criador. Isto tor- na-se ainda mais 6bvio quando a posteridade dé o seu veredicto final ¢, as vezes, reabilita artistas esquecidos. 74

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