A Rede Social Significativa de Mulheres Que Denunciaram A Violência Sofrida No Contexto Familiar

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mo a¢ “aay . ), gee Ss CIAL SIGNIFICATIVA DE AULHERES QUE DENUNCIARAM A joLenca SOFRIDA NO CONTEXTO FAMILIAR Carmen Leontina Ojeda Ocampo Moré ‘Ana Cléudia Wendt dos Santos neila Krenkel ssultados & discussdo. 4. Conside- 1. Introdugdo. 2. Método. 3. Re ragbes finais. 5. Referéncias. Sumério: 1 INTRODUGAO interface dos temas: violén- O presente capitulo se 1S. Temas estes que emergem éncia familiar & rede: cia, mulher, viol 2 e se constroem na trama relacional em que se gestam. Estes temas sé Jaridade, como tambem pela sua com- caracterizam tanto pela sua singw os da diversida s plexidade, em term de de elementos que con! andlises € (Ue 2° mesmo tempo S& afetam recursivamente. Eis 0 ande desafio contemporaneo dos pesquisadores, profis- ea ‘ociedade de um modo ge! 9 sentido da busca de respostas, reflexdes e/ou problematizag6es possi ei para melhor acolher 0S envol- i ‘essa trama © viabilizar, 24 medida do possivel, 50" 4 40 5 212 _Carmen Leontina O. 0. Moré / Ana Cldudia W. dos Santos / Sch, ( /p fo a 6 ges de desenvolvimento vital e, por consequéncia a Ai Oe i que promovam a satide na perspectiva da integralidade °°® ong, f fe gt A violéncia, definida pela Organizago Mundi oe , OMS (2002), como sendo: a ameaca ou pratica, por merit, 4 Saug, ou do uso do poder intencional, contra uma pessoa, amps 22 fora fis, cA que resulte em sofrimento, privacdo, dano psicolépico, dese tugs, prejudicado ou morte, é uma aco humana que acomp ant VlVimen, evolutivo do homem, como expresso de um comportamente ro roei9 Relacionado a isto, o Psicdlogo Canadense Steven Pinker a partir de estudo da tematica ao longo do pr. istérico gee $s volvimento do ser humano, evidencia gue difciinents oes eesen, yh gs abolida como forma de expressio, afirmando que estamos cree Seri eg 8S em que a humanidade se apresenta menos violenta, se comparada a Groce ‘ y so pocas. Por sua vez, o referido autor aponta aspectos considerados | pile : as S tantes para sua diminuigio, tais como a alfabetizagto ea urbanizace tyes quais estimulam a troca de informagdes e a realizagio de acordore’, ag ace distintos grupos e sociedades. ¥ ns Considerando essas observagdes percebe-se, nas ultimas déca- Bene das, um conjunto de movimentos internacionais e nacionais que culmi os ram com a criagdo de uma série de acordos e dispositivos para dar vis yo a lidade e protegao contra a violéncia, enquanto fenémeno humano que se go : gesta no ambito relacional. Especificamente, no Brasil, a década de 80 foi ae) marcada pela influéncia dos movimentos feministas internacionais, que ipo cada vez mais ganhavam forga e reivindicavam acordos para o fim vio- ehes léncia contra a mulher. A partir desta década, foram instituidos uma série de dispositivos sé institucionais, tais como as Delegacias Especializadas de Atendimento 4 jpter Mulher (DEAM) ¢ servigos publicos de satide para o atendimento as mu- i. lheres vitimas de violéncia sexual. Paralelamente a isto, aconteceram con- ai vengées internacionais e nacionais que abordaram o tema, a exemplo da Conferéncia Mundial Sobre Direitos Humanos, promovida pela ONU, em 1993, em Viena, e a Convengao Interamericana para Prevenir, Punir e Er- 4 radicar a Violéncia Contra a Mulher, também conhecida como Convengao de Belém do Pard, ocorrida no Brasil, em 1994. (Souza & Adesse, 2005) Nesse processo de enfrentamento, no Brasil foi promulgada a Lei 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, a qual é reconhecida pela Organizagao das Nages Unidas (ONU) como uma das trés melhores legislagdes do mundo em nivel de violéncia. A Lei Maria da Penha, que busca o controle e inibigdo da violéncia doméstica e familiar contra a a Iher, tem como proposta principal a criagaio de uma rede ae c prevengao e protegao 4s mulheres em situacdo de violéncia. jaseados ni COM dos Direitos Humanos com i ‘i perv @8 oem a referida Lei visam a uniae doe eee a8 Vida, 0s arti- gue or ento do poder piblico nas peas ie eee Fo creititeenio do problena. (Bray S006; _brevencto e estratégias pone Miqseridos estas colocasies iniciais, o presente capitulo te a im ae 7 eae eee ee adie ms ath a Brasil, cuj 0 foi o Se ae cin conte tthe omar é amizades, unitarias e insti i 7 i, amides, Somuprarins ¢ Insecta: por mulheres que donate gas redes que se configuram em tomo das mulheres Ore \isibilgcg situagdo, aS quais se caracterizam Benker cag Cia ote por desempenhar uma wie de See de certo modo, no visiveis nas intervengoes realiza- « «into a elas. , gas unt Entende-se que a relevancia deste estudo reside na possibilidade ear os recursos que tem um impacto significativo na histéria des- er fe matt isand fortaleci _ a, fe Mulheres Visando seu fortalecimento, aspecto este que vai ao encontro lige 88 ouiticas publicas relacionadas a satide, a assisténcia social, @ segu- Ma = aos aspectos psicossociais das mulheres, principalmente buscando yg Bisidios para uma comunicagio que promova a prevengao deste tipo de in & — yioléncia € 0 resgate da ae cidadania. Cabe destacar, ainda, que a inves- ‘ iN tigagao do conjunto le rel ee estabelecidas entre as mulheres em situa- Peay ty gdo de violéncia e suas redes sociais significativas, é importante na medi- &, da em que, por meio desse processo, é possivel compreender como as ie n redes interferem e/ou auxiliam no enfrentamento do problema. ‘ Considera-se que a relevancia de aprofundar estes conhecimen- ‘thie. tgs € 0 de trazer subsidios e problematizagées, tanto para o campo da dn intervengo, como para as politicas publicas de enfrentamento da violén- Meee cia, buscando principalmente revitalizar a ideia de trabalhar em rede e itm; com as redes. Te 1.2 Revisado dos aportes tedricos relacionados aos temas no contexto brasileiro Considera-se pertinente num primeiro momento, trazer os dados 4) Produzidos por Minayo (2006), Minayo, Souza e Paula (2010), pois, em < certa medida, ampliam e complementam o conceito acima menciona do ; OMS (2002). Eles apontam que a violéncia se caracteriza pelas agdes . tealizadas de forma individual ou institucional, que tem por objetivo pre- judicar, mutilar ou matar alguém. Sua pratica pode ocorrer de diferentes maneiras: fisica, psicolégica, sexual, financeira/patrimonial, negligéncia/ aband maneicn & tabalho infanti Ta Claudia Wg ra Gnica ou ee tortura e/ Sam08 Sehg o Pritica de meio u ati “ familiar OPTS : le m: ico wo familar, ditgida Me capitulo, conf ais de um tips pes0as, 0 wiles encionada: €specifica forme ay le Violen oom ners ato vient: 8 Violénca famente & ruler 22° acima, encia "og | ee no genera due inclui amea iliar pode ser cons Mea Viola, | ni Cage eid ones cortege sara Pe > Mor i nas 10 i lo 4 ; tudos aponta para Oeste & Souza, a00n as fees liberdage tue | ne! sires quuentes da viola eon 228 20 2007), Por s Sexual eve Mead, \ hy Oa social, insGnia, medar vate 30 desenvolvimento vital dene ig | Ee, SU satide reprodutns 7, esttesse ansiedade, depen? Mulher, | Gas Fos Prates, On aa Noaaie Pole eam aoe o compre isle | Se a ; Santos & Moré, 2011, ee eos Prometime™? | th Pini i Ne qed te 011; Wilhelm eo & Krug ne wh war encionar que ela esta peito a violéncia ¢ et, 2007), 2007, | ee ue as e faixas etari: std prosefite em fodan ns altes, i sf nent aad ias, e é construid; todas as classes sociai. ot 50 oni m deles, geralmente o homem fr een SOcias, ragas, 30 dade. Assim, a violénci iomem, faz uso da dominaran e mulher, shee e pa mide proseiiais Gt eee ae ago, opressio ¢ af vo e, com o \gOes intimas cruel. | abet cultando sua ruptura, No passar do tempo, vai se int. apresenta.se de Speompas por parceiro intimo anon casos de violéncia contra ensifcando ea em Vere iniciando pelo ci carstran eee ocorre de forma lenta er, pratcada | gio, ate mais tarde evoluir par oe isolamento e humilhagio da mesma yg tan 5 Lamoglia & Min as agressdes fisicas. (Adeodat esma, paras Dae 6 vine Oe oe * fo als 208; | ge conti > ; Silva, Coelho & Capone, 2007) Alvarenga, 200 | teeada A violéncia fisica ; wrVi Ar et 7 : 207; Ville familiar, é mais frequent ae rpetrada pelo companheiro/marido ou outro me quente do que por um desconhecido, sendo ' como a principal agressio exercida contra a mulher; role oe oma sit mumente praticada em articulagao com as demais - a p soolegia oa servi e através da negligéncia (Aldrighi, 2006; psicolgien ase | herd 3006: OMS, 2000). C ighi, 2006; Azevedo, 1985; Barcellos, . : 2G Ov ). Conforme estimativa divulgada pelo Insttuo fo | ramo ( 001) a cada 15 segundos uma mulher € agredida no Brs! Wpulaga (Minayo, 2006). Em um estudo realizado por Carneiro ¢ Oliveira 2008) Sura na Casa Abrigo Maria Haydeé, do Rio de Janeiro, a respeito de 600 mv i 9 Theres que foram atendidas e estavam registradas nesta instituigdo, vert" ‘ed cou-se que 70% delas corriam risco de morte por ameaga dé yioléne® Sey severa por parte de seu marido/companheiro, pai ou irmao. y a No Brasil, entre os anos de 1980 e 2010, aproximadamt e \ oe mil mulheres foram assassinadas por seus parceiros. pos obter a os? % hp ais termun Nee ontra mulheres, 0 P cidios pet | Con 4,4 hom ‘to de homicidio ¢ com taxa de 4 84 paises a respei de 2011 ocupando a sétima posi¢ao, ‘i Tentes ©, 00 mil mulheres (Elisber, EB ‘Ontextos, cait Ue nestes dados que 409° & Heise, 2005, dis > 2005; was J otidos POT parceiros iitieneee dos homed elfsz, 2012), cat iio um é em virtude da violéngie’® “inco dias aon Embora as estatisticas referent. sejam alarmantes, sabe-se tanne’® ® Violéncia . numero real de mutheres que gaan” We dificiimenge 2 Contra a ote, justamente, Porque muitas myer ida diariamente: ese Be on ins casas, comegando pelo pai e pies S40 ida Tal fat \ prias ©! Pelo pai e 0 irmao, Agtedidas dentr : D ounamorado (Bedone & Faundes, 2997. 5. Pos*tionnente Telo me 5907). Em fungio disso, as mulheres se cal: Orto, 2006; Villela & Lag f qolento mais Brave seja cometido contra ele wom MeO que um ato Wier uma agressio ainda mais violenta do es Pols a probabilidade de jo, aumenta significativamente depois que a mulher Feagindo © homici- relagdo conjugal. (Ferrari & Vecina, 2002) ulher decide abandonar a 5 ape Da mesma forma, mulheres agredi, 6 b tendem a minimizar o problema, ican ae ora calle ‘i ee docompanheiro, pai ou irmao nao € tao violento como nace Tambén ~ sentem vergonha, culpa e baixa autoestima por viverem esse ti po de ite. la eg < agdo, além do medo de ficarem sozinhas. Como consequéncia ‘ts aa den, bam se isolando de seus contatos sociais, restringindo-se ao ambiente ef iy doméstico e, desse modo, afastando-se de uma possivel rede de apoio, tng we contribui para torarem-se ainda mais prisioneiras de uma relagio Sct baseada na violéncia. (Bedone & Faundes, 2007; Monteiro & Souza, 2007; Villela & Lago, 2007; Oshikata, Bedone & Fatindes, 2005) mide wer Ha, também, o receio acerca de como as outras pessoas lidarao nib com a situagdo, ou seja, se nao irdo culpa-la de ter provocado a violéncia de! —exercida contra ela (Villela & Lago, 2007). E comum acreditar que a ii? mulher deva ter feito algo para merecer a agressao sofrida. Tal crenga é compartilhada tanto por profissionais (da satide, da justiga), quanto pela x « « ae deixa ainda mais populagdo e, inclusive, pela propria mulher, 0 que a aa aa sabe insegura de denunciar os maus tratos a que € a “atberdi 2005; Se teré 0 apoio de outras pessoas para sair dessa relagao. 5 Azevedo, 1985; Marcos, 2005) cade ender Os dados advindos da reviséo tedrica eae violéncia, sendo ciam eminentemente a complexidade do on da dimensio visivel, por tensenso entre os estuctos o reconbhecimen® ambérn da dimensio do silé tio das consequéncias que acarTet@, Om? TT da fami se CORTE S10 de suas protagonistas. Ness¢ sentido, © que a dindmic ida em na medida "@.como um espago relacional par adoxal al 216 Carmen Levuuue ve ve —= 2 PSREIA Kren | We , Jacional estabelecida entre a pessoa que agride e a que & agreq; \ 40 rel 1 \ ta-se num circulo vicioso € de interdependéncia entre 0 aferg caapet & ‘ As fungées das redes sociais significativas ¢ a. ue 1.3 suporte social institucional no contexto da Violéncig \ oo familiar e contra a mulher \ Wy A tede social, para a vertente da terapia familiar (Sluzki, 1997 ‘e tem sido elemento importante no desenvolvimento da familia e em telagg as mudangas de seus integrantes, assim como para o enfrentamento de ie ? goes de crises (e sofrer violéncia é um acontecimento estressante © gerad, g de crises para o individuo, assim como para 0 contexto em que ele Vive). i As redes sociais podem ser definidas como as telacdes humanas 9 consideradas significativas, percebidas como importantes e diferenciadas e ' das demais, capazes de oferecer ajuda e apoio em momentos de crise, Uma rede social efetiva constitui a chave central para o bem-estar © contribyj, para que a pessoa se reconhega como individuo, na medida em que seus membros influenciam no cuidado com a sade e na adaptag4o a uma crise, Fazem parte da rede social significativa de um individuo as relages fami- liares, de amizade, com colegas de trabalho ou estudo e com a comunidade, incluindo os servigos de satide, assistenciais e de justiga, vizinhanga e cre. do religioso. (Moré, 2005; Moré & Macedo, 2006; Sluzki, 1997) Nessa perspectiva, no presente trabalho denomina-se rede social significativa, 0 conjunto de pessoas que numa determinada situag&o de vida, estressora do ciclo vital do individuo e/ou da familia, ofertaram algum tipo de ajuda, auxiliando numa tomada de decis&o necessaria, seja para enfrentar a situagao, seja para promover o melhor desenvolvimento vital das pessoas nela envolvidas. Conforme Sluzki (1997), os vinculos estabelecidos com as pes- soas da rede social significativa podem se apresentar por meio de diferen- tes fungGes: a) companhia social, que diz respeito a realizacao de ativida- des conjuntas ou simplesmente estar juntos; b) apoio emocional, caracte- tizado pelos intercambios com uma atitude emocional positiva, ‘clima de compreensao e empatia; c) guia cognitivo e de conselho, que consiste na oferta de informagées pessoais, sociais e modelos de referéncia: d) regu- Jagdo social, que reafirma as responsabilidades e os Papéis e favorece a resolugao de conflitos; e) ajuda material ou de servicos, compreendida pela contribuigao financeira ou por meio de indicagdes a servicos com especialistas; f) acesso a novos contatos, que diz respeito 4 abertute de Portas para novas conexdes com pessoas e redes que até entio nao faziam parte da rede social do individuo. a mocional ces Dositiva, clint ), que consis erencia; dt is fv 5, on a semis . pet 0 88 7130 fi Fan de: ee P88 Len o gstreitamente relacionada a Pere Nes Comers ‘9 Conce; en a7 de suport Soci Que Pode ser define oi, meitdrias, QUE oferecem aa = teplonicos de eventos estrege GSES sociaty annette sipaicoloaicas de eventos estressamten fate Fedure ‘mstitucionan b t ajuda Gnaesche, sen demonstray mute & fn siete jor opp amigos, familiares, ate content © PreOcupagdo ta J Be. (CAMPOS. 2005) + Colegas de trabsih ee 3 oe §¢ 300° cpecificamente neste trabalho, 10 © profissionais ___ oferecidas por instituigdes © aio, 9 supone soe necessidades do individva ees, °™ aratazet ae cimento, pertenci side . pertencimento e/ou ial € ent endido ais, conten ee » Seja ela de afeto, pete vara > u ‘ocial entre profissionais e usuarias sceuranga, Para que uma institui¢ao, re . como, . por ep 0, no caso das delegacias de policia en re tt te ty ‘ mi samento (CAMPOS, 2005: Omelas, 2008) Eon sentiment de prea gcc pontado por Santos (2009), um dos oe frentament© da violéncia, ¢ a pessoa se sentir acolhida ngelasary gett que esta sendo assistida por profissionais que possam oa — Nesse sentido tanto 0 suporte social, com are tuam como um importante recurso no enfrenta oe raticada contra a mulher. O estudo de Parente, aaa oe (2009), POF exemplo, analisou as formas de dare erty ae a perspectiva de mulheres que realizaram a dentncia. Os eo deste trabalho revelaram que as mulheres encontraram Sate familiares & de amizade, além do suporte oferecido pela eae casa abrigo e centros de referéncia no atendimento 4 mulher. Este studs constatou, também, a necessidade de elaboracéo de estratégias como 0 noesso a uma Te pos de mulheres e elaboragao de cativa de social, criagao de gruj novas politicas publicas. A pesquisa de Lettiere e Nakano (2011), por sua vez, procurou identificar as estratégias de enfrentamento da violéncia quanto a0 apoio/suporte obtido no meio relacional e institucional, na perspectiva de mulheres em situagao de violéncia. O estudo mostrou que familiares e amigos Sao aS primeiras pessoas procuradas em busca de apoio e, poste- riormente, sdo procurados ‘os servigos de sade & judicial. AS eT apontam, ainda, que as redes sociais podem ser um recurso ae ri mulheres, porém 0 isolamento da vitima em relagio as suas Een 5 joléncia. ocontrole do autor da violéncia e 4 perpetuagao da violén Leontina 0. OM SS ee” ¢ 218 Came 0 estudo de Estrada, Herre, (8g F erspectiva, 0 © 4 Nessa mesma POL’ “sracteristicas do apoio social ofc? © R i) jdentificou as S0Cial ofereg; Ro ty, jguez es de violéncia. OS resultados do referido estudo ido ay Poe mulheres " ‘mulheres receberam apoio emocional Principalmente si" 30.5 igos € familia de origem, com destaque tae a ne © irmas das 7 fo amigos jirmas também atuaram como guias de conse! lho € os. ™membrog } ie o aren origem (mie, pai e irmaos) ofereceram ajuda material, Ay \ é Kanes fia : ‘ e 1 fami Diante dos estudos supramencionados, € possivel verificar a : ft las redes sociais como um importante recurso no enfrentamente ~ i 4 Se solugdes para 0 problema da violéncia contra a mulher, Cake %c bec que 0 apoio e suporte foram encontrados tanto nas redes de rele om ; oes proximas, como familiares e amigos, como em delegacias e Serviegs ‘ de satide, 0 que sugere a identificagao e reconhecimento das redes sociaig i consideradas significativas pelos envolvidos, como um recurso para o en. & frentamento de uma situagao de crise, como no caso da violéncia. ee 3 oo of 2 METODO O presente estudo pauta-se na metodologia qualitativa, na me- dida em que buscou compreender os significados, opinides ¢ crengas atri- buidos as experiéncias vivenciadas pelas participantes (Minayo, 2010). Esta pesquisa também se caracterizou por ser exploratorio-descritiva, pois procurou descrever e caracterizar aspectos das situagdes vividas por mu- theres, que denunciaram a agressao sofrida em uma Delegacia Especiali- zada de Atendimento a Mulher, e teve como principal finalidade trazer 4 tona o conjunto de sentidos e significados presentes nos relatos das parti- cipantes, para melhor acolher os objetivos propostos no presente estudo. (Olabuénaga, 2009) 21 Participantes Participaram da pesquisa 10 mulheres que prestaram queixa em uma Delegacia Especializada no Atendimento 4 Mulher, localizada em uma cidade da regiao do sul do Brasil. E importante sinalizar que num primeiro momento foi realizado contato com 40 mulheres que atendiam 08 critérios do estudo, no entanto somente 10 aceitaram participar. Consi- dera-se que 0 ntimero de participantes foi expressivo, na medida em que has investigagdes sobre a tematica da violéncia é esperado um baixo indi- om Uwe! Ua Familia ¢ Comunidade: Pesqui Z 8 Cont ceitagao, dado este que vai 7 7 de : i oe oe O14; Alencar-Rodrigues, C: ji enkels . Cantera & if Otte : Gi) Por ee Sten ogeaue cite ae 6, 2014: Soren duisas, nea “pada a complexi egularidades tematicay eum em ete nulheres exidade do assunto, optou, frente aos objetivos i - lous: Figand® outras ee 7 s, no intuito de obter dados ' signi ficados- el mero final de 10 partici que aportassem outr sie da constatagdo da recorréncia tematic icip: 08 antes se confi; ; as a, iguro Peis surgiram acerca do objetivo geral d € de que poucos dados dif. ayn A leste est Os critérios utilizados na selecao das per Vistas ‘ aior de 18 anos; 2)a aan de violéncia ter ocorrido das foram: 1) ser aye coat com a pesquisadora, para evitar expor as males Cae gg Ne’ ghalo produzido pela situagdo de violéncia e por ent saipe a um maior w ‘y nicial da dentincia e suas consequéncias teriam cca ia que 0 impacto © d : goes para elas realizarem as entrevistas; 3) apresentar pt trsiapneais com- der os objetivos da pesquisa e di preen' a le estabelecer uma icacd razoavelmente clara com a entrevistadora, 0 que péde ser ee contato Via telefone, quando se explicou sobre do que se tratava ade e posteriormente, durante a realizagao das entrevistas. 2.2 Instrumentos para coleta de dados Para realizacao da coleta, foram utilizados os seguintes instru- mentos: a) Entrevista semiestruturada e b) Mapa de Redes (Sluzki, 1997). Em termos metodolégicos, cabe assinalar que a entrevista semiestruturada foi composta por um roteiro de perguntas elaboradas em fungao dos objeti- vos da pesquisa, que subsidiou a construgao do Mapa de Redes. A entrevis- ta semiestruturada trata-se de um recurso que favorece a verbalizagao livre da participante em torno da tematica central da pesquisa. Nesse sentido, as questées introduzidas ao longo da entrevista e durante a construg4o do mapa de redes, contribuiram para a emersao de sentimentos, atitudes, motl- vos, intengdes e valores das participantes. (Minayo, 2010) : O Mapa de Redes, por sua vez, foi utilizado em fungao da po- tencialidade grafica de registro de dados que possul- oO CSO Ae: Visualizar 0 grau de intimidade e compromisso relacional ae ae Tes ¢ as pessoas de sua Rede. E também por auxiliar na scipalmet- das informagées decorrentes da entrevista semiestruturac™ Fe tad. 'eaquelas relacionadas ao objetivo 4 S° alcangado ce ), € composto POF O Mapa de Redes, Ca ae als (interno) representa tres fj jmel sige §s circulos e quatro quadrantes. oO Dela ‘ntermediario refere-se aS % telacdies intimas ou cotidianas, © 220 _Carmen Leontina 0. 0. Moré / Ana Clsudia W. dos Santos /Seheig Kren, relagdes com met terno corresponde as relagdes ocasionais ou com co; tes do Mapa sao representados pela familia, amig rias (incluindo vizinhos, pessoas do credo religioso $0 © py Profissicn nits, satide) e relagdes com as pessoas do trabalho e/ou estudo. Ten, endo cas de a relacdo presente entre as mulheres e as Pessoas dos servicgs pa rye cia, foi adaptado ao quadrante da comunidade uma Subdivis aos servi¢os mencionados, conforme apresentado na Fi, igura |; )e thecidog *reulg 08, rel; agbe Aachen, fo rete Figura 1 — Mapa de Redes AMIZADES FAMILIA oO TRABALHO E ESTUDO COMUNIDADE DELEGACIA NO ATENDIMENTO A MULHER E SERVIGOS ESPECIALIZADOS Tipos de Retacdes pelo seu ‘rau de significdncia: 1. Relagdes intimas cotidianas 2. Relagdes pessoais com contato 3. Relacées ocasionais Fonte: Sluzki, 1997, p. 43. ee Familia e Comunidade: Pesquisa em Diferentes C; : _ ‘ontextos ‘a pesquisadora utilizou um modelo 2 30 cm, para iti em folk 20 constr a PS Todbe As participantes 4 0.0 -gyliZagao OG 980. Todos os nomes mencion eee? ous de ee ead a identifieady oaree aoe Hm que O24 a eee ferida por elas, deveria ser in fl nivel de rela- i fel, Om isso, verificar tanto a proximidade, com Incluida, tornando post wguo com a entrevistada em questao, : 0 0 vinculo de cada Cabe apontar que, na elaboragao final fos os nomes das pessoas citadas I do Mapa de Redes Indi- al, t : a pelas partici ve {jos pelo tipo de relagao que possuiam, por jini oats foram mo- aiicatspo, colega, de maneira a preservar 0 -mplo: mae, pai, ami- go, Mapa, 0 sexo de cada integrante da sronimato das entrevista iS. i | Tepres inb010 go masculino em verde (4) ¢ do feminino em dik eee ee es ir ee Geral, Oa ‘nos Mapas Individuais, foi confeccio- dar Mapa de Redes eral, o qual serd apresentado e deserito no item resultados e discussao, do presente trabalho. a ‘Ao construir 0 Mapa de Redes com as participantes tornou ex- plicito, tanto para elas quanto para a pesquisadora, quem eram essas pes- goas e onde estavam localizadas no Mapa, de forma que foi possivel iden- fificar com quem as entrevistadas podiam contar e aquelas de quem esta- vam afastadas naquele periodo de suas vidas. do Mapa de Redes impres- 23 Procedimento de coleta de dados O contato com os sujeitos da pesquisa foi a partir de uma Dele- gacia Especializada de Atendimento 4 Mulher, localizada em uma cidade da regio Sul do Brasil. A coleta de dados iniciou-se através da articulag4o com um psi- cdlogo, que atuava na Delegacia Especializada de Atendimento 4 Mulher, favorecendo uma alianga estratégica com 0 campo de pesquisa. Através dos -cALaONs Boletins de Ocorréncia e Termos Circunstanciados, realizados naquela instituigdo, fez-se a triagem dos nomes ¢ nimeros de telefone das mulheres que atendessem aos critérios de inclusao estabelecidos. Em seguida, a pes- quisadora fez contato via telefone com essas mulheres, convidando-as @ realizar as entrevistas para este estudo, em horario e local por elas indica- dos. Também foi oferecido 0 Servigo de Atengao Psicoldgica (SAPSI) da Insituigdo Educacional de referéncia da pesquisadora, come Ve opeao Para 0 encontro, por proporcionar um contexto que fosse o mals tranquilo e Seguro possivel, dada a tematica a ser abordada. a ici eci- Ani inici ista, cada articipante recebeu esc’) concise aotrea’ “i sendo que a entrevista era m : : i entos verbais e escritos sobre a pesquisa J “~y if, f 222 _Carmen Leontina 0. O. Moré / Ana Claudia W. dos Santos / Scheila Krenk ( Tenkel ret iniciada somente apés a autorizagio da participante le a © sua assi duas vias, do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, satu foram gravadas e transcritas na integra para pi ; : do. As entre a para posterior anilise, Valera i es que, nos casos em que houve a mobilizacai sessaltar 6, pesquisadora ofereceu apoio e orientou a io emocional da partic) yi 2 r a entrevistada a procuray py fe mento de outro profissional da psicologia de uma clinica particular, a § fosse acessivel a entrevistada, ou do proprio Servigo de Atendimento a> colégico (SAPSI) da Institui¢ao Educacional de referéncia da p. - em id Fs pecans esquisador sendo disponibilizado a elas o telefone de contato com este foe bem Fe como informagdes sobre como eram realizados os atendimentos, ‘ 2.4 Analise dos dados g is A organizagao e andlise dos dados foi realizada com base na V6 “Grounded Theory” (Teoria Fundamentada Empiricamente), Proposta por - Strauss e Corbin (2008), pela qual a coleta de dados, andlise ¢ eventual eo ria mantém uma relagio muito proxima entre si, sendo esta ultima detivada dos dados sistematicamente reunidos e analisados por meio da pesquisa. O processo de analise envolveu as seguintes etapas: 1*) Intera- gao com os dados, realizado 4 medida que eles foram sendo coletados e que se desenhavam 4 luz do objetivo da pesquisa, por meio de leituras $ sucessivas do material textual das entrevistas, o que contribuiu para uma analise em profundidade dos dados; 2*) Os dados foram, entao, desmem- # brados, examinados e comparados, possibilitando a elaboragao de catego- 8 rias de acordo com suas especificidades; 3*) As categorias foram nomea- : das a partir da emergéncia de pontos nucleares que foram se mantendo na diversidade e complexidade dos dados, procurando chegar a representa- gao dos significados dos cédigos agrupados; e 4*) Os dados obtidos a partir das entrevistas e da literatura apresentada sustentavam a nomeacio das categorias que, tomadas em seu conjunto, apoiaram uma compreen- so integrada da categoria principal e/ou fendmeno central deste estudo, que é a repercussao da violéncia na vida da mulher e as estratégias de enfretamento que foram utilizadas. De maneira a favorecer a organizac3o e analise qualitativa dos dados, utilizou-se o sofiware Atlas.ti 5.0, que auxiliou na construgao de categorias de modo a estabelecer relagdes e conexdes entre os dados (Muhr, 2004). A partir da andlise dos dados obtidos, delinearam-se 5 cate- gorias, a saber: 1) Rede social significativa no contexto familiar, 2) Rede social significativa no contexto das amizades; 3) Rede social significativa no contexto do trabalho; 4) Rede social significativa no contexto comunt- tario; e 5) Rede social significativa no contexto do suporte institucional. Familia e Comunidade: Pesquisa em Dife m Diferentes Contes x08 4 Me aay ed 'o un eh ans BY : Gonsideragées éticas = NE ‘A presente pesquisa foi aprovada pelo Comité de Ktica e P e Pes- og ta CN Humanos da Universi os so NS a m seres niversidade Federal de Santa Catarina — “ae lo Chegr ares *) Os dads oi: Stentavam a nm jaram uma cng ) central dst ete or ¢ a5 este? co : ist Stop 0 parece consubstanciado 393/2007, e a ., aa > atende igénci: G56 resatudes 196096 © 257/97 do Consens Nacional de Sade, so Spciona AVE ° estudo também foi por todos os nivels decree cobegcid ‘Especializada de Atendimento Mulhern RESULTADOS E DISCUSSAO Com 0 intuito de melhor contextualizar as categorias resultantes alise de dados, destaca-se, em um primeiro momento, as principais risticas sociodemograficas das participantes deste estudo. caractel 34 Caracterizagao das participantes Faixa etaria: oito das dez entrevistadas tinha entre 30 e 40 anos. Estado civil: cinco declararam-se solteiras (embora quatro mo- rassem com seus parceiros) e trés afirmaram que viviam com seus com- eiros. Uma delas declarou-se casada e outra separada, mostrando 0 predominio de relagdes nao oficiais entre as participantes. Grau de escolaridade: quatro mulheres que possuiam o Ensino Fundamental Incompleto, duas com o Ensino Fundamental Completo, duas com 0 Ensino Médio Completo, uma com 0 Ensino Superior Incom- pleto e uma com 0 Ensino Superior Completo. Ocupagio: as ocupagGes eram: doméstica (2), do lar (2), cozi- nheira (1), assistente administrativo (1), auxiliar de servigos gerats (), auxiliar de caixa (1) e duas estavam desempregadas. : Renda familiar: a renda familiar declarada variou de 1 a3 sala- tios-minimos, evidenciando a necessidade/escassez em que estas muthe- res viviam. __ Principal agressor: nove das dez mulheres entrevistadas foram agredidas pelo proprio ‘marido/companheiro, sendo que duas destas mulheres também foram agredias pelo filho. Uma sofreu violéncia fisica do cunhado. Numero de filhos: variou entre | € 5 filhos, sendo que uma par- ‘eipante nao tinha. 224 Carmen Leontina O. O. Moré / Ana Claudia W. dos Santos / Scheita Keeney itinuagao, e visando uma melhor compre, ses a eae © Mapa de Rede Geral, ne qua cs ana das as informagées referentes a todas as pessoas denominadas signin vas, registradas nos mapas individuais das Participantes. Cabe esclants que no Mapa de Rede Geral, cada participante, identificada “ et PI, P2, P3 até P10, esta presente, somente uma vez, em cada y a rentes quadrantes e circulos do Mapa, conforme foram Mencionands . pessoas consideradas significativas. S Figura 2 — Mapa de Redes Geral e Fungdes das Redes AMIZADES COMUNIDADE TRABALHO E. ESTUDO Fungoes das redes: F1 - Companhia Social F2- Apoio Emocional iuia Cognitive ¢ de Consethos ‘egulago Social FS - Ajuda Material e de Servigos F6 - Acesso a Novos Contatos, Fonte: Elaborado pelas autoras o™~. HAT ate bay, "4, = er utictitytl —— Soy th, wy \ ilia e Comunidade: isa em Dife ‘ontextos 225) lade: Pesquisa em Di ferentes C, texte es sociais significativa. 32 participantes 'S das historias de vida das gem continuagao seré apresentade 9 eon; iss : © conju é sen a nits ame stein eegagesvematieas, presentes no depoimento das entra raid9s pelas regu. FOS ere FrUMENtOS. Uilizade ae © dos soot grunts 8 agdes considerado sienatic neers a Gonjuno de fide, tais como: families ats Pelas entrevistadas a isa jokencia sofrida, fais como: familiares, colegas de trabalho, oe silos, assim como rofissionais das vétias insituigdes mrosmeste ys et ylenciona-se também, aquelas relagdes que, em funsho de onion ues participantes sofreram, acabaram se afastando das mesmas. Sa 33 Rede social significativa no contexto familiar i ens ee familiares que foram con- sideradas S C auxilio recebido diante da situagao de violéncia, assim como aqueles familiares que se afastaram em faneio da violéncia que as mulheres sofreram. No momento da queixa na Dele. gacia destacou-se a presenga de pessoas da familia, tais como os pais jimios e filhos que estiveram ao lado das participantes, tendo a fungiio de guias cognitivos e emocional, também como no momento da procura por outros servigos de referéncia de atendimento as mulheres que sofrem violéncia. A fungao de companhia social péde ser identificada pelas parti- cipantes pelo desempenho de atividades realizadas em conjunto com seus familiares como “levar ao shopping”, ou para simplesmente conversar. As pessoas da rede familiar também ofereceram apoio emocional, ao proporcionarem um ambiente de compreensao e estimulo as mulheres ¢ também ajuda financeira. Quanto as pessoas da rede familiar com quem 9g ESPEN mais puderam contar no processo de enfrentamento da violéncia, as parti- ° cipantes mencionaram a figura da mie e de integrantes da rede familiar ampliada, tais como tias, cunhadas(os), avés, sobrinhas. Os irmaos, por em diferentes sua vez, foram novamente citados pela ajuda oferecida a momentos, As narrativas em continuagao exemplificam as fungdes da tede familiar: assim, com a gen- A i, meu Deus...(... Elas (avés), (...) mae do meu pai, meu Deus...(..-) ceaneo que faz (para agra- te, assim, sabe, aquele tipo que ela na 226 Carmen Leontina 0. O. Moré / Ana Claudia W. dos Santos / Scheila Krenkel dar), assim (...) ela (tia) é assim, 6, 0 que eu precisar dela, ela 44 pronta pra ajudar. Mas em questées, assim, financeiras, enten. deu? (...) Ela que fez minha cabeca pra vim embora pra cé. Quan. do eu vim ela me ajudou muito. (Dalia) Eles (irmaos) s6 tio me apoiando nas decisées, que af eu vou me mudar, vou fazer a casa, entendeu? (...) se eu continuar, se a minha decisao é essa mesmo eles vio (...) vio me ajudar. (Iris) Com relagao ao apoio oferecido por seus familiares, encontra-se o desempenho da fungao de ajuda material e de servigos, como a possibi- lidade de ter novamente “wm teto”, além de saber que a filha ia ter “o que comer”, conforme ilustra 0 relato a seguir: (..) a minha mie, (...) tipo apoio na parte que eu preciso, assim, de um teto (...) de saber pra onde eu posso ir, que eu sei que eu deixei a minha filha 14, minha filha vai ter 0 que comer. Entdo primeira pes- soa assim é ela (...) 0 (irmAo) ele é... porque ele é 0 bem mais velho (...). Ele é como se fosse assim, tipo ficou um pouco no lugar do pai, ele é mais assim... 6 mais meigo comigo... (Margarida) Assim, verificou-se que integrantes das familias das entrevis- tadas se constituiram em importante fonte de companhia social, apoio emocional, conselhos e de ajuda material, elementos estes que, segundo Sluzki (1997) compéem as principais fungées da rede social significati- va. O apoio oferecido pelos familiares proporcionou bem-estar as parti- cipantes, assim como amenizaram as consequéncias da violéncia sofri- da, fortalecendo-as para continuarem lutando, como ressaltou uma das participantes: E olha como é importante numa situacdo dessa tu ter esse apoio (...) porque a gente pode tar cheio de coragem, pode tar cheio de até atitude, mas é muito bom mesmo, porque é 0 apoio que faz a coisa concretizar, né? (...) jA pensou ninguém me amparando, ninguém... ah, isso é coisa da tua cabeca. Qué que ia ser de mim? (Camélia) Por outro lado, como em toda situag3o de conflito e crise, algumas pessoas da rede familiar das participantes acabaram se afastando. Entre essaS pessoas encontravam-se os préprios filhos das entrevistadas e de outros fami- Yaw oA — C; wv Familia e Comunidade: P. is ” hs Wy i = G Y ximos. ObSETVOU-Se, diante da violencia sofr iti by ‘ jes POSING(o dos familiares (mae, pair urine es Peo companheiro, Carey ; ms vivenciada manteve 0 afestamento at mes), 08 em Outs, 8 tus na narrati’ es i & a vod SF observ itiva de uma das Bice entre si, Todos (irmAos est&o afastados). Ela (ii como se fosse nada, entendeu? (...) fi ae Bora do meu lado, & na verdade a minha familia nunca valorizou nem en nog eee irmi (...) € tipo assim, 6, em eu, nem a minha eu conto a histéri tho se fosse nada. Ele nfo entendeu nada ()reorses oe oo on ae te nos assuntos, entendesse? Mas ele & curioso. (...) Sé ‘i 7 ; . (..) S6 pergunta. Até achei que ele ia me ajudar, né? Hum, ) gunta, (Acacia) espera sentada. (...) Nada. No caso da participante citada a seguir, os pais além de estarem afastados dela, se colocaram ao lado do parceiro quando ela decidiu de- puncid-lo na Delegacia, apesar de terem conhecimento da violéncia fisica we ele havia cometido contra a filha. Desse modo, a violéncia sofrida § por ela apenas aumentou O distanciamento que ja existia entre eles: Fu liguei pra ela (mae), né, falando da machadinha, isso e aquilo, né? Entio ela disse: ah, para com isso, nio sei o que. Ai falei pra ela: a senhora prefere uma filha num caixdo, ou prefere uma filha yoltar pro ex-marido 4 forga? Ah, eu vou comer que a minha co- mida ta esfriando! Entdo pra mim, eu dei a entender que ela pre- feria eu no caixdo do que eu me afastar dele, pra mim (...) Ent&o ela disse na minha cara: ele (ex-companheiro) no vai preso. (...) Se ele for, chegar ao ponto de ir preso, eu vou testemunhar em favor a ele. Disse pra ela: a senhora prefere que eu va presa do que ele? Ela disse: eu no quero que ele va preso. Entéo deu a entender que ela prefere eu do que ele, né, ir preso (...) O, pra falar a verdade, meus pais j4 era afastado, se afastaram mais ainda. (Violeta) dea mies! com, putes it! ee ~ “ne : te Me _ Semelhante configuragao familiar foi apresentada por outra par- pr ye! “cipante, que sofreu com o afastamento da mie depois que esta conver- ég Sou com seu ex-companheiro: .) minha familia é um caso sério... ele (ex-companheiro) andou ligando pra minha mie e ela agora, ela nem té mais falando com! g0. (...) Ficou indiferente, assim. a Problema era meu, quando eu fui cp yet o8 alisse, a eu fui ent ‘ssim, pra... 6 falou isso. (Dalia) Entrar nessa relagao ey nai 0 st vice § ay A iinica irma de uma das partici iF diferente diante da situagao de violencia, ou sera” mao cake OO in, fp atitude para ajuda-la, nem sequer teceu algum comentarie sobre ttalquer aconteceu. A prima de uma das participantes disse que iria Ge a if tudo desse certo com ela, atitude considerada que pouco contribu’ Ue oy que ela saisse do problema. Nesse sentido, os resultados evidens Li ne que, o fato de terem sofrido violéncia Por seus companheiros, le fe vs Suficiente para modificar a relagdo de distanciamento que, pelos relay e Hy das participantes, j4 existiam de longa data. ~— yf Do mesmo modo que ocorreu com telago aos familiares das pare # ticipantes, membros das familias dos seus (ex) maridos/companheirog f como irmés e sogras, também se afastaram delas. Diante disso, observou-se que, quando a violéncia foi tolerada pelas participantes, elas Podiam contar 0 com 0 apoio e a amizade dos integrantes da familia dos (ex) maridos/eom. panheiros. Ja quando decidiram dar um fim As violéncias Softidas, este foig motivo para o afastamento dessas pessoas de sua rede social Significativa, - Cabe refletir que em uma situagao de crise, como no caso da vio- it encia, 0 afastamento da rede implica na diminuigao dos cuidados da r Promogao do bem-estar das mulheres, uma vez que o vinculo estabelecido és entre os integrantes de uma rede, pelo desempenho de diferentes funges, : potencializam as formas de cuidado do individuo e os Tecursos para 0 en- s frentamento do problema. Por sua vez, um dos cunhados de uma das parti- cipantes, marido da irma do agressor, afastou-se dela justamente por ter 8 aceitado que 0 companheiro que Ihe agredida retornasse para casa. Nesse q caso, acredita-se que a tolerancia a violéncia foi o fator que desagregou a { : rede familiar, ao realizar a dentincia contra o companheiro na Delegacia. Ao constatarem 0 afastamento dos proprios familiares, algumas mulheres tentaram dar justificativas para esse distanciamento. A participan- te que foi agredida pelo cunhado, por exemplo, culpou a si mesma pelo distanciamento da irma que era casada com ele. Enquanto que outra parti- cipante no conseguiu dar qualquer justificativa para 0 distanciamento da mie, nem para o fato de ter apoiado seu ex-companheiro ao invés dela: O, eu pra falar a verdade, a minha mie eu nao sei. Eu ja imaginei que eu ndo fosse filha dela, Eu posso ser filha dela com outro, posso ser filha de meu pai, qualquer coisa, porque eu nunca senti um amor pew 2c Mt Uiterentes ©, ontextos , carinho, assim, de mie ; rinho aes mesmo por mim m tudo, eu sofro pra ter 9 iC aga abri mao. (...) Eu ndo sei porque e deta e oy t8s0 de tudo, fanto de: sigo. En- ‘Sprezot (Violeta) yma das entrevistadas que também F te tentou justifi eM Sofia coy i jgualmen' J icar a atiti mM © distanci mie Z ii, titude ad nciament da ny fato dela nao ter lhe oferecido orientagies | Preis ela, inclusive NCas acerca de sua a minha mie ela 6... ela ter i: i i m_um senti Entélo é assim, se eu for morar 1é ( - : » se eu ; a Posse, sabe? i atime, ti 6timo, t4 perfeito, ela apalal 0 da casa dela pra ela tee mas a partir daquele dia que eu €m tudo que eu preci- v : sai : Aj ela nem vern 2a. Fazem cinco anos A oa acabou. Avai uma vez. Entio € isso. E ela fala pra todo mundor ele 6 a : ela ai porque ela quer, ela que se vire. (Dalia) Outro motivo apontado foi a mu ; ei gcarretou 10 afastamento dos familiares. No eee are distancia geografica dos membros da familia fez com que o sae oe ; ascosse afetado. Para Sluzki (1997), a distancia Pasar eeeaaget membros da rede afeta a condigéio de resposta com maior pace eae dez diante das situagdes de conflito vivenciadas, acarretando no ei mento e fragilizagao da rede. Somente uma entrevistada admitiu que ela e seus familiares se afastaram, por haver optado viver muitos anos sendo agredida pelo ex- -companheiro: “Porque eu deixei varias vezes ele vim, né? E ocorreu de novo (as agressoes)”. (Iris) A esse respeito Sluzki (1997) afirma que no contexto da violéncia é caracteristico ocorrer 0 afastamento (geografi- coe emocional), tanto das redes familiares quanto extra familiares, seja por vergonha, medo ou culpa por estar vivendo esse tipo de situagao. Assim, as mulheres sustentam um sistema familiar fechado, com suas fronteiras enrijecidas, impossibilitando © desempenho da regulagao social por parte das pessoas das redes, ja didas de ultrapassarem essas fronteiras. Assim, a relagdo com os familiares nem ae oe apoio para all uais nao pu gumas das participantes, aS q : oa tles nos Asti avida que permeiam 2s situa: momentos de angastia, medo ¢ davida q Tnerabilidade Q%es de violéncia, Este fato contribuiu para 2 condigaio de vu que ficam impe Spam) sea Krenket e permanéncia com o marido/companheiro, um: apresentou-se fragilizada em termos relacionais. Arcos ae {mila participantes fizeram questio de incluir integrantes da familia yo°o> % interno do Mapa de Redes, evidenciando maior grau de proximige culo tre eles, sobretudo com as pessoas que ofereceram ajuda materi “ apoio emocional a elas. tial © de As constatagdes acima evidenciam a repercuss; A facetas da violéncia nas histérias das Pistons ne gerando tanto o afastamento, como a proximidade de seus nae torno das mulheres participantes deste estudo. Considera-se que pe violéncia nos contextos das redes significativas familiares implica, neces. sariamente, em termos de intervengao, resgatar historias de vinculos oe tivos que se atualizam frente ao fenémeno e que podem, no caso do afas. tamento ou enrijecimento dos mesmos, deixar as mulheres numa Situag’io de vulnerabilidade psicossocial. Disto decorre a importancia de se pensar na dindmica das redes familiares, enquanto possibilidades de resgate de recursos para 0 cuidado das mulheres em situa¢&o de violéncia no contex. to familiar. 3.4 Rede social significativa no contexto das amizades Esta categoria congregou elementos referentes a rede significa- tiva de amizades das entrevistadas, que se constituiu apds elas terem sido agredidas por seus (ex) maridos/companheiros e terem prestado queixa na Delegacia. As amizades das participantes, principalmente, foram recursos importantes no oferecimento de escuta e/ou apoio emocional, fonte de conselhos e companhia social, como mostram os depoimentos abaixo: (...) minha melhor amiga, mora aqui. (...) Ela e a (cita 0 nome de outra amiga) (...) ea minha cunhada (...) sio as trés pessoa que eu posso contar em qualquer momento (...) tenho mais apoio das amiga do que da familia. (...) Sdo pessoas, assim, que eu poss0 também, assim, desabafar, nao tem? (Violeta) (...) quem me incentivou também a procurar uma Delegacia da Mu- Iher foi essa minha amiga que ele (companheiro) no suporta (JA (outra colega) que ela também estuda testemunha de Jeova. ()E assim, posso dizer uma colega, entende? Que onde eu me desabafo al gumas coisas, que ela até d4 um pouquinho de conselho. (Jasmim) iia ¢ Comunidade: Familia € idade: Pesquisa em Ditere ferentes Conte (Os depoimentos revelaran tow an i i que a oo em icine or da Molen lem de enti smizade ofercceu Eo ates, depois que cose HE outro as mulheres a de. am 289 na das particlpantes 1 Souberam da situagac 2° 5 afasta- ‘ria, enquanto outra nen Geseonkes que as mulheres ento, oT aheceu o fato eT OS motiy stp seu proprio isolamento social, devido 4 oe ficar sozinha sence 80 ‘conjugal chegar ao ponto que alcancou, ‘gonha de ter deixado a een ne ee alae eae estudos (Petra qn, Gonzslez Sala & Colado, 2008; Slegh, 2006), revelam que se jament0 SOC consequéncias geraiimen. ela WE 0 iso- eres UE sofreram, ou ainda softem, violéncia. De contradas em mu- (ol 3), dentre os aspectos relacionados acordo com Dutra ‘tuacio vi 7 a0 isolame sla, ther em torn0 da situag’o vivenciada, estdo: as a = silencio anna io de permanecer em uma relacdo vi paca rergonha cer em ‘elaco violent: 0 a wo das formas de violéncia. a © © medo da intensifi- ‘A volta a relagao conjugal, lo; i inci aa Delegacia, também foi outro Deis oonaas an ae oafastamento de uma das amigas de uma das entrevistadas. A\ ae omeduzido o nimero de amizades que as participantes perderam devido j situagio de violéncia, quando comparado ao niimero de familiar ae ge afastaram delas por igual motivo, o que revela que as Sid conseguiram constituir uma rede social de amigos melhor cstrutarada € proxima, do que a que possuiam com a propria familia. Cabe considerar que a rede significativa de amizades se caracte- ' Polen % riza por vinculos afetivos diferenciados das historias familiares, 0 que ney permitem, talvez, um menor grau de julgamento e cobrangas de perma- néncia com o autor da violéncia. Relacionado a isto Sluzki (1997) aponta que nas redes, pode ser observada uma caracteristica estrutural que € 0 da ls ¢4(ciuong; + homogeneidade, sendo que neste caso refere-se a que a maioria das ami- asiréspoug: —zades serem mulheres e proximas em faixa etaria, que facilitaria 0 pro- ho mist ~—-cesso de identificago com a situagao vivenciada pelas participantes deste sin, ges — estudo. wait 35 Rede social significativa no contexto do trabalho aio af A presente categoria apresentou elementos referentes @ rede j J ; I seek . ety significativa do trabalho, que foi apontada em funcdo da violéncia aes oh Pelas participantes deste estudo. Os colegas de trabalho ae i p — &ssim como seus amigos, também se constituiram em fonte imp

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