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Ciência & Saúde Coletiva

ISSN: 1413-8123
cecilia@claves.fiocruz.br
Associação Brasileira de Pós-Graduação em
Saúde Coletiva
Brasil

Ribeiro Gonçalves, Evelise; Machado Verdi, Marta Inez


Os problemas éticos no atendimento a pacientes na clínica odontológica de ensino
Ciência & Saúde Coletiva, vol. 12, núm. 3, mayo-junio, 2007, pp. 755-764
Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Rio de Janeiro, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=63012326

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TEMAS LIVRES FREE THEMES


Os problemas éticos no atendimento a pacientes
na clínica odontológica de ensino

Ethical problems in patient care at a dental school clinic

Evelise Ribeiro Gonçalves 1


Marta Inez Machado Verdi 1

Abstract An exploratory, descriptive and quali- Resumo Estudo empírico, exploratório, de abor-
tative survey was conducted at the Dentistry dagem qualitativa, com professores de disciplinas
School, Santa Catarina State Federal University, clínicas no curso de Odontologia de uma univer-
Brazil, in order to identify and analyze the ethi- sidade pública, com o objetivo de identificar e ana-
cal problems involved in patient care at this teach- lisar os problemas éticos que permeiam o atendi-
ing clinic. Data were collected through semi- mento a pacientes na clínica odontológica de en-
structured interviews with professors of clinical sino da respectiva universidade. Os dados foram
disciplines and assessed through the Analysis of coletados por meio de entrevistas semi-estrutura-
Content technique, using the bioethical princi- das e analisados através da técnica da análise de
ples of the autonomy of the patient and the confi- conteúdo, utilizando como referenciais os princí-
dentiality of the information as references. Some pios bioéticos da autonomia do paciente e da con-
analysis categories were identified, pointing to fidencialidade das informações. No processo de
the existence of several ethical problems in the análise, emergiram quatro categorias que apon-
daily patient care routines at this teaching clinic. tam a existência de vários problemas éticos no
They include scheduling stand-by patients, fa- cotidiano do atendimento a pacientes na clínica
vored care for the friends of lecturers and em- de ensino. Entre eles, estão o agendamento de pa-
ployees, a lack of information offered to patients cientes-reserva, o privilégio do atendimento de
on treatment and imaging procedures, distortions conhecidos de professores e funcionários, a falta
in the use of deed of informed consent, etc. The de informações fornecidas aos pacientes sobre a
constantly vulnerable situation of the patients realização de procedimentos terapêuticos e de ima-
became quite clear, together with the importance gens fotográficas, distorções no uso do termo de
and responsibility of the professors in building up consentimento informado, etc. Ficou clara a con-
the ethical competence of future dentists. dição de vulnerabilidade a qual os pacientes da
Key words Bioethics, Dentistry, Dental school clínica são constantemente submetidos e a im-
clinic, Autonomy, Confidentiality portância e responsabilidade dos professores no
1
processo de formação da competência ética dos
Departamento de Saúde
Pública, Universidade futuros cirurgiões-dentistas.
Federal de Santa Catarina. Palavras-chave Bioética, Odontologia, Clínica
Campus Universitário,
odontológica de ensino, Autonomia, Confidencia-
Trindade. 88036-000
Florianópolis SC. lidade
eveliserg72@hotmail.com
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Gonçalves, E. R. & Verdi, M. I. M.

Introdução gras rígidas quanto aos princípios do respeito à


autonomia do paciente e da confidencialidade das
Quando se pensa em Bioética, normalmente se informações obtidas durante o tratamento4.
pensa em casos de “situações limite” como a eu- Dessa forma, é importante refletir sobre as
tanásia, a fecundação assistida e o DNA recom- implicações éticas envolvidas na relação terapêu-
binante, negligenciando-se com freqüência os tica na qual três sujeitos são protagonistas – o
problemas morais e éticos que envolvem grande paciente, o aluno e o professor – e questionar:
número de pessoas na vida cotidiana1. A rotina qual a autonomia desses pacientes durante o aten-
da prática odontológica, por exemplo, é marca- dimento? Eles têm participação nas decisões rela-
da por conflitos éticos trazidos por questões tivas ao seu tratamento? Podem recusar deter-
como: o advento do HIV/AIDS, o comércio de minados procedimentos? São respeitados em re-
dentes humanos, as pesquisas que descobrem lação à confidencialidade das informações obti-
novas técnicas e biomateriais, os paradoxos en- das durante o atendimento? Como se processa,
tre políticas públicas de saúde e justiça social e a nas relações paciente/aluno/professor, o confron-
constante busca da humanização e do respeito to de diferentes interesses; de um lado, a necessi-
aos princípios éticos na relação entre profissio- dade terapêutica e, de outro, o interesse acadê-
nal e paciente. mico? Há a supremacia de um em detrimento do
Assim, o profissional formado dentro dessa outro, havendo o desrespeito de direitos indivi-
realidade deve ter uma visão integral do paciente, duais em nome do ensino?
incorporando a sua formação a competência éti- Frente a essas questões, este estudo se propôs
ca. A construção moral e ética deficitária pode a identificar e analisar os problemas éticos que
trazer conseqüências para a sociedade quando o permeiam o atendimento a pacientes em uma
estudante passa desta condição à de profissional clínica de ensino. Preliminarmente, procurou-se
formado, prestando atendimento odontológico investigar as estratégias utilizadas para viabilizar
à toda população, tendo como base de sua con- o acesso do paciente à clinica; conhecer as estra-
duta profissional valores invertidos, priorizando tégias utilizadas para informar, esclarecer e asse-
leis e regras, em detrimento da vida e dos direitos gurar o consentimento do paciente quanto à re-
humanos2. Nesse contexto, destaca-se a impor- alização de procedimentos terapêuticos e de ima-
tância do ensino da odontologia na formação dos gens fotográficas; caracterizar as estratégias uti-
novos profissionais, ensino este que, mesmo ten- lizadas para arquivamento, acesso, uso e repro-
do em seu currículo disciplinas estritamente teó- dução das informações geradas durante o aten-
ricas, está fortemente baseado em atividades prá- dimento; e, por fim, analisar o processo de assis-
ticas realizadas pelos alunos nas clínicas das uni- tência prestada em relação aos princípios bioéti-
versidades3. É nessas clínicas que o futuro profis- cos do respeito à autonomia do paciente e da
sional aprende, exerce ações, assimila condutas e confidencialidade das informações, que serviram
adquire hábitos, fazendo delas espaços privilegia- como ancoragem teórica da pesquisa.
dos não só para o aprendizado de procedimentos
técnicos, mas também para o exercício da refle-
xão ética dos futuros profissionais. Procedimentos metodológicos
As clínicas odontológicas de ensino têm no
seu cotidiano algumas situações peculiares que Trata-se de uma pesquisa empírica, explorató-
tendem a potencializar problemas e conflitos que ria, qualitativa, realizada em setembro de 2004
normalmente fazem parte da rotina de institui- junto a dez professores no curso de Odontologia
ções que prestam atendimento de saúde à popu- de uma universidade pública. Os professores in-
lação através de estudantes4. Isto acontece prin- tegram o corpo docente de disciplinas que de-
cipalmente porque as pessoas ali atendidas são senvolvem parcial ou totalmente suas atividades
colocadas na condição, mesmo temporária, de nas clínicas de atendimento da referida universi-
objeto de ensino para os futuros profissionais. dade, sendo essa característica um pré-requisito,
O uso de pacientes para ensinar estudantes estipulado pelas pesquisadoras, para a inclusão
da área da saúde não viola necessariamente prin- das disciplinas no estudo. Foi sorteado um pro-
cípios éticos de relacionamento desde que: se te- fessor por disciplina, sendo elas: Cirurgia, Clíni-
nha certeza de que os pacientes estão devidamente ca Integrada, Dentística, Endodontia, Estomato-
informados sobre a realidade das instituições de logia, Odontopediatria, Ortodontia, Periodon-
ensino, que não sejam submetidos a riscos des- tia, Prótese Parcial e Prótese Total. As informa-
necessários e que existam e sejam cumpridas re- ções foram coletadas através de entrevistas semi-
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estruturadas incluindo nove perguntas abertas chama a atenção o caráter de gratuidade atribu-
registradas por gravação em fitas cassete e pos- ído pelos professores ao serviço e a relação que
teriormente transcritas na íntegra. As transcri- eles estabelecem com a dificuldade econômica da
ções foram analisadas através da técnica de aná- população que o procura. As clínicas odontoló-
lise de conteúdo proposta por Bardin5. As trans- gicas de ensino das universidades federais são
crições foram lidas para a identificação dos pro- instituições públicas financiadas pela sociedade
blemas éticos apontados e o conjunto desses for- via pagamento de impostos e, portanto, prestam
mou uma grade temática de análise para a leitura atendimentos previamente pagos pelos cidadãos.
transversal de todos os depoimentos, ou seja, Dessa forma, embora caracterizado como gra-
cada relato foi lido visando recortá-lo em torno tuito, o serviço prestado não é, nem deve ser en-
dos temas listados. O critério de representativi- tendido, como um favor ou caridade feito à po-
dade da amostra foi o da variabilidade, o que pulação, mas sim como um direito adquirido.
permitiu abranger a totalidade do problema in- Um outro motivo apontado pelos professo-
vestigado em suas múltiplas dimensões até se res é a cobertura insuficiente da rede pública de
chegar à saturação do discurso, o que limitou o atendimento. As unidades locais de saúde pres-
tamanho da amostra. tam, na sua maioria, atendimentos odontológi-
Atendendo a resolução 196/96 do Conselho cos básicos que não suprem integralmente as
Nacional de Saúde6, o projeto foi submetido e necessidades da população. Talvez por este moti-
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da vo os serviços especializados como os de orto-
Universidade Federal de Santa Catarina sob pa- dontia, cirurgia de terceiros molares, periodon-
recer 043/2003. Objetivando manter o sigilo da tia cirúrgica, endodontia e próteses estão entre
identidade dos participantes, foram utilizados os os mais procurados na clínica pesquisada. O atual
nomes de dez capitais européias colocadas em sistema de saúde do Brasil não apresenta condi-
ordem aleatória correspondendo cada uma de- ções para dar conta da integralidade das necessi-
las a um entrevistado. dades de todas as pessoas8, situação esta que,
conseqüentemente, leva ao descumprimento do
direito à saúde, assegurado a todos os cidadãos
Resultados e discussão brasileiros pela Constituição de 1988.
Os professores também relataram situações
Os problemas éticos que emergiram a partir da peculiares as quais as pessoas que procuram a
percepção docente foram analisados em quatro clínica de ensino se submetem para serem aten-
categorias diferentes, apresentadas a seguir: didas. Entre elas está o comércio de vagas: “É
complicado, primeiro ele tem que entrar em uma
O acesso dos pacientes competição pra poder conseguir uma vaga. Houve
à clínica odontológica de ensino: uma época que existia um comércio, as pessoas vi-
motivação, atalhos e desvios nham pra cá de madrugada, conseguiam a vaga e
depois vendiam pra comunidade.” (Roma)
Ao abordar a questão do acesso de pacientes Essa é uma situação que coloca as pessoas
à clínica odontológica de ensino, os professores em condição vulnerável e inaceitável, quando se
manifestaram-se sobre os motivos que levam as considera que o serviço prestado nas clínicas de
pessoas a procurar atendimento odontológico ensino é um direito da população, cujo acesso
nessas instituições e o caminho, freqüentemente não deveria exigir sacrifício algum. Quem sofre
difícil, que elas têm que percorrer até consegui- de necessidades não atendidas fica em situação
rem ser atendidas. Entre as diferentes manifesta- vulnerável, frágil e passível de sofrer danos9. As
ções, identificaram-se duas questões predomi- pessoas que procuram a clínica odontológica de
nantes e unânimes: a condição econômica desfa- ensino encontram-se em tal situação pois o fa-
vorável das pessoas e a gratuidade dos serviços zem freqüentemente em busca de serviços que
prestados, como fica evidenciado na percepção não estão disponíveis na rede pública de atendi-
deste entrevistado: “As razões são na sua maioria mento odontológico e pelos quais não têm con-
socioeconômicas, porque o atendimento é de gra- dições de pagar.
ça.” (Copenhague). Além da grande dificuldade para conseguir
Devido a fatores econômicos, sociais ou mes- uma vaga para atendimento, as pessoas que a
mo de necessidade especial à saúde bucal, tem-se conseguem ainda passam por outras situações
observado crescente procura por atendimento que fazem o caminho até o atendimento ser per-
odontológico nessas instituições7. No entanto, meado por atalhos e desvios. Uma delas é o pri-
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vilégio de atendimento que é dado a pessoas co- sociedades desiguais tem um tecido mais com-
nhecidas de professores e funcionários: “[...] plexo e quem está destituído do poder pode so-
muitas vezes alguns pacientes nos vêm encaminha- frer desrespeitos a sua autonomia10. Neste caso,
dos por outros colegas de dentro da faculdade que quem está com o poder são os professores e o
nos pedem ajuda para atender esse ou aquele paci- setor de triagem que decidem quem receberá ou
ente: um parente, um amigo.” (Oslo) não atendimento.
O privilégio do atendimento de amigos, co- Os pacientes-reserva não-informados encon-
nhecidos ou parentes expõe o uso de outros cri- tram-se em situação de maior fragilidade e vul-
térios para a distribuição de vagas que não os nerabilidade, principalmente por serem desres-
previamente determinados pela instituição, fican- peitados quando não lhes é fornecida a informa-
do caracterizado um abuso da autoridade dos ção necessária para poderem tomar uma decisão
professores e dos funcionários, que desrespei- autônoma. É interessante observar que os pró-
tam as pessoas que aguardam por atendimento. prios professores percebem essa vulnerabilida-
Outra situação identificada foi a existência de de: “Sempre se pede mais, às vezes não dá para
“pacientes-reserva”. A dinâmica de trabalho ado- atender, aí eles voltam na semana que vem. [...]
tada pelas disciplinas clínicas prevê que o núme- eles ficam chateados, mas normalmente são pessoas
ro de pacientes a terem acesso ao atendimento humildes que estão acostumadas com esse tipo de
deve corresponder ao número de alunos dispo- coisa.” (Lisboa)
níveis para realizá-lo. Os “pacientes-reserva” são Chama-nos a atenção a “coisificação” das
assim chamados porque representam um nú- pessoas que está explícita nessa prática. O paci-
mero excedente de pacientes marcados para ficar ente é claramente visto como um meio pela sua
aguardando atendimento em caso, principalmen- necessidade de tratamento, para um fim que é o
te, da falta de algum paciente que foi agendado atendimento que deve ser realizado pelo aluno.
para aquele dia: “[...] tem um aluno que tem um Todo ser humano quando na posição de pacien-
paciente que não compareceu, aí a gente preenche te deve ser tratado em virtude de suas necessida-
a vaga. [...] muitos desses pacientes estão esperan- des de saúde e não como um meio para a satisfa-
do e aceitam ser presenteados pela chance de en- ção de interesses de terceiros, da ciência, dos pro-
trar no processo.” (Roma) fissionais de saúde ou de interesses industriais e
Tal situação torna explícita a contradição que comerciais8.
existe no processo: a de pessoas que se subme- O número de pessoas que procura por essas
tem a situações peculiares para ter acesso a um instituições de ensino tem-se mostrado superior
serviço que na verdade é seu por direito. Nessa ao necessário para o cumprimento da grade cur-
realidade, foram identificadas duas situações dis- ricular e à disponibilidade de vagas proporciona-
tintas: os pacientes-reserva informados e os não- das pelas diferentes disciplinas clínicas, daí serem
informados. Entre os pacientes-reserva informa- compelidas a limitar ou mesmo direcionar o aten-
dos, identificamos também duas situações diver- dimento7. Tal fato evoca a necessidade de discus-
sas. Uma delas diz respeito aos que são informa- são da questão da prioridade de atendimento que
dos que serão reserva quando agendados pelo é dada para os casos de interesse acadêmico.
setor de triagem: “[...] sempre tem pacientes-re- Vários professores se manifestaram neste sen-
serva, mas ele é avisado por telefone que ele pode tido, argumentando que a instituição, apesar de
não ser atendido.” (Copenhague) conveniada com o Sistema Único de Saúde (SUS),
A outra situação diz respeito aos pacientes- é uma escola e tem como finalidade a formação
reserva informados que procuram a clínica de de novos profissionais. Por esse motivo, os casos
ensino por conta própria, sem estarem cadas- de interesse acadêmico são sempre tratados como
trados ou agendados. Muitos deles são aconse- prioritários à lista de espera e às necessidades dos
lhados pelos próprios funcionários da universi- pacientes. No entanto, convém ressaltar que toda
dade a ficarem “rondando” nas salas de espera pessoa na condição de paciente, ou seja, quando
das clínicas de ensino em busca de atendimento, apresenta necessidades relativas a sua saúde, deve
que pode ser oferecido devido à falta de algum ser tratada para suprir tais necessidades e não ser
paciente marcado para aquele dia. prejudicada ou preterida por não apresentar a
Em ambos os casos, poder-se-ia dizer que o “necessidade certa” que lhe possibilitaria obter o
princípio do direito à autonomia é respeitado, já tratamento. Essa situação caracteriza um claro
que eles têm a informação e escolhem ir à clínica desrespeito, em primeira instância, aos princípios
e esperar por um possível atendimento. No en- do SUS que garantem o acesso aos serviços de
tanto, a autonomia de sujeitos que pertencem a saúde sem qualquer discriminação e, em última
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instância, é a negação de um direito humano bá- mentos terapêuticos, referindo-se, via de regra, a
sico, que é o direito à saúde. assinatura desta autorização, comum a todas
Normalmente, o paciente da clínica de ensino disciplinas, como “prova” do consentimento do
é considerado um objeto com necessidades de paciente. No entanto, questiona-se se a pessoa
tratamento, que vão sendo alocadas de acordo que tem que assinar uma autorização para ter
com a demanda das diferentes disciplinas por acesso ao serviço de saúde pode realmente exer-
determinados procedimentos. É ignorado o fato cer sua autonomia quando teme que a recusa em
de que todas as necessidades dos pacientes estão assinar tal documento possa representar demo-
interligadas e devem ser atendidas em uma or- ra no atendimento ou mesmo perda da vaga tão
dem que leve em consideração a promoção da arduamente conquistada. Na maioria das vezes
saúde bucal deles e não apenas a satisfação das em que um termo de consentimento é exigido
necessidades das disciplinas. Assim, tanto os as- como requisito para permitir acesso aos serviços
pectos relativos à dimensão organizativa quanto públicos de saúde, o documento é assinado sem
os aspectos referentes à dimensão relacional en- que as pessoas estejam cientes de seu conteúdo e
tre os principais atores deste processo (paciente/ normalmente quando perguntadas sobre o que
aluno/professor) indicam uma ênfase nos aspec- assinaram, não se lembram8.
tos técnicos em detrimento dos aspectos huma- A questão do consentimento também envol-
nos nesta instituição de ensino. ve a realização de imagens fotográficas durante
atendimento na clínica de ensino. Os professores
As informações no atendimento: declararam ser este um procedimento rotineiro e
o dar, o receber e o compartilhar que suas disciplinas não possuem, nem utilizam,
nenhum termo de consentimento específico. Ar-
Aqui são discutidas as informações envolvi- gumentaram que na autorização para tratamento
das no atendimento dos pacientes: como são for- que o paciente assina, como condição para ter
necidas e obtidas das pessoas atendidas e como acesso às disciplinas clínicas, este consentimento
são arquivadas, acessadas e, eventualmente, re- já está contemplado, não havendo necessidade
produzidas, incluindo o uso do termo de con- de esclarecimentos específicos sobre o procedi-
sentimento para tratamento e a realização de mento, bem como sobre o uso e reprodução des-
imagens fotográficas. sas fotos. Percebe-se que a realização de imagens
De acordo com a maioria dos professores, os fotográficas é considerada como um direito da
pacientes atendidos na clínica odontológica de instituição: “[...] eu acho que não é pedido o con-
ensino não estão bem esclarecidos sobre a reali- sentimento da pessoa. Acha um caso interessante,
dade e o funcionamento da clínica, sendo que a alguém pega a máquina, bate a foto e pronto[...]”
prioridade das disciplinas reside no atendimento (Berlim)
clínico: diagnóstico, planejamento e tratamento. Essa conduta, adotada por quase todas as
Considerando que a informação é a base de deci- disciplinas, revela um desrespeito ao princípio
sões autônomas11 é importante que os pacientes da autonomia devido à falta de informação do
atendidos na clínica de ensino sejam esclarecidos paciente em relação ao procedimento, bem como
sobre a realidade e o funcionamento da institui- à falta de obtenção do seu consentimento livre,
ção, que devido a sua característica formadora, esclarecido e voluntário, específico para esse pro-
funciona de forma diferente dos consultórios cedimento. O princípio da confidencialidade tam-
odontológicos privados e das unidades locais de bém é violado quando o paciente é simplesmente
saúde. Omitir ou negar esse direito resulta no comunicado sobre a realização das fotos, sem
risco do desrespeito ao princípio da autonomia. explicitar seu consentimento sobre o uso, repro-
Em relação ao Termo de Consentimento Li- dução e divulgação das mesmas, feitos normal-
vre e Esclarecido utilizado na clínica de ensino, mente através de slides para aulas, congressos,
observou-se que se constitui em um termo de encontros acadêmicos e artigos científicos.
autorização para diagnóstico e/ou execução de Deve-se atentar também para o conflito cria-
tratamento, não se caracterizando como um do- do pelo uso da assinatura da autorização para
cumento específico, pois está localizado no ro- tratamento utilizada pelo curso como forma
dapé da ficha cadastral, vinculando, explicitamen- única de esclarecimento e concordância do paci-
te, a sua assinatura com o acesso do paciente ao ente com a realização de todos os procedimentos
serviço. Os professores declararam que suas dis- que vão acontecer dentro da clínica, incluindo
ciplinas não utilizam nenhum termo de consen- fotografias. Isso porque, essa assinatura, além
timento específico para a realização de procedi- de vincular-se explicitamente com o acesso ao
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serviço, freqüentemente acontece muito tempo to proposto quanto sobre a escolha do aluno
antes da realização dos procedimentos, devido que vai atendê-lo: “Na teoria ele tem, mas isso aí é
ao longo tempo de espera entre a triagem dos muito difícil de fazer. O paciente praticamente não
pacientes e o atendimento propriamente dito. fala nada porque ele já estava esperando há muito
De acordo com os professores, a temática tempo, então imagina se ele começar a fazer certos
do consentimento da reprodução de imagens não questionamentos que seriam normais, ele pensa que
é abordada em sala de aula com os alunos da naturalmente vai perder a vaga.” (Copenhague).
graduação. Considera-se tal postura inaceitável, A vulnerabilidade do paciente emerge quando ele
já que essa prática está presente no cotidiano das é colocado na situação de ter que “escolher” se
diferentes disciplinas e os próprios alunos estão deve submeter-se a algo que possa incomodá-lo
envolvidos, já que eles mesmos publicam muitas de alguma forma ou enfrentar a situação e correr
dessas fotos. O argumento mais utilizado para o risco de perder a chance de ser atendido.
justificar essa ausência de discussão é a falta de Quando se trata de recusa em ser submeti-
tempo disponível. do à realização de imagens fotográficas a situa-
No que diz respeito ao arquivamento e aces- ção não é diferente, com o agravo de mais uma
so de informações pessoais de anamnese e de vez o serviço prestado ser caracterizado como
radiografias de pacientes, verificou-se que são caridade feita pela instituição de ensino à popu-
respeitados os princípios da confidencialidade e lação: “As pessoas se sentem honradas de se sub-
da privacidade. No entanto, identificou-se uma meter a documentação fotográfica, as pessoas se
situação que pode estar criando conflitos e sub- sentem gratificadas de estarem recebendo trata-
metendo alguns pacientes a riscos desnecessári- mento e a documentação fotográfica é quase um
os: a prática de algumas disciplinas de manter atestado de qualidade daquilo que está sendo rea-
arquivos radiográficos de acesso exclusivo. O lizado.” (Estocolmo)
conflito ético é criado quando radiografias que Embora a questão da documentação foto-
estão sendo mantidas em arquivos privados são gráfica como atestado de qualidade seja aceita
necessárias para dar continuidade a um trata- no meio acadêmico e até motive os pacientes, nesse
mento ou para a realização de outros por outras caso ela caracteriza muito mais uma forma de
disciplinas. Devido ao acesso restrito, o que nor- manipulá-los para que colaborem com uma prá-
malmente acontece é que os pacientes são sub- tica que não é tratada conforme os princípios
metidos, desnecessariamente, e normalmente sem éticos da autonomia do paciente e da confidenci-
saber disso, à realização de novas radiografias. alidade das informações. Outros professores
A questão da confidencialidade das informa- questionaram o direito do paciente de recusar a
ções obtidas durante o tratamento odontológi- realização de imagens fotográficas, utilizando
co sempre trará o conflito sobre o que deve ser mais uma vez como argumento a característica
público e o que deve ser respeitado como priva- de instituição formadora da clínica de ensino: “
do ou restrito ao paciente ou a algumas pessoas [...] eu não sei se ele tem esse direito. Eu acho que
de sua confiança12. No caso das instituições de não. Porque ele assina lá consentindo, a partir do
ensino, tal conflito será sempre entre o princípio momento que ele entrou em uma universidade ele
da autonomia do paciente, que lhe garante o di- já está sabendo que este é o preço que ele vai pagar,
reito de manter informações pessoais em sigilo, e esse desconforto da fotografia, de ele ser objeto de
a necessidade de compartilhar informações ine- ensino [...].” (Copenhague)
rente a essas instituições. Evidenciam-se a realidade peculiar das clíni-
cas de ensino e a sua finalidade de formar novos
As manifestações do paciente durante profissionais e, neste contexto, o que se discute,
o atendimento: “liberdade vigiada” são as ações realizadas dentro delas durante o
processo de formação. Questiona-se se os fins
Aqui se discute a liberdade que os pacientes justificam os meios e o que importa é a forma-
da clínica odontológica de ensino têm, ou não, ção do futuro odontólogo, não interessando
de se manifestar durante o atendimento, incluin- como o paciente, aqui na condição de objeto de
do a recusa ao tratamento proposto e ao atendi- ensino, é tratado durante o processo. O relato
mento por determinado estudante, e, também, a expõe claramente a idéia de que a universidade e
relação da recusa com a necessidade do cumpri- o serviço que presta à população estão acima de
mento da produção acadêmica. qualquer direito do paciente, sendo que tudo que
Buscou-se saber se é facultado ao paciente é feito nas clínicas de atendimento das universi-
manifestar-se tanto sobre o plano de tratamen- dades pode ser justificado em nome do ensino.
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Com base nessas colocações, cabe questio- ética no cotidiano das práticas pedagógicas da
nar até que ponto o paciente exerce plenamente clínica odontológica de ensino, suas dificulda-
sua autonomia durante o processo terapêutico e des, necessidades de mudanças e algumas suges-
se a suposta liberdade que ele tem não é sempre tões, também emergiram das manifestações dos
uma “liberdade vigiada”. Isso porque o temor de professores.
perder a vaga para atendimento parece estar sem- Ao longo das entrevistas, todos os professo-
pre muito presente durante todo o processo de res manifestaram certa frustração por não abor-
realização das atividades. Como se não fosse su- darem com os alunos, no cotidiano de suas disci-
ficientemente inadmissível ele sentir esse medo, plinas, assuntos que eles consideram importan-
tal sentimento ainda é usado por algumas disci- tes para a formação dos novos profissionais.
plinas para manipulá-lo de acordo com seus in- Apesar disso, muitos deles acham que discussões
teresses, já que a decisão do paciente pode ter voltadas para as questões éticas no relacionamen-
influência no funcionamento de algumas delas. to entre o profissional e paciente não fazem parte
Uma situação que pode ser relacionada com a do conteúdo de graduação: “Eu acho que uma
decisão do paciente é a produção acadêmica do aula específica pra toda a turma desse tipo de abor-
aluno. Algumas disciplinas exigem dos alunos uma dagem até seria interessante, mas acontece que nós
produção mínima como requisito necessário para não temos tempo. [...] mas também, isso não é um
a aprovação. Então o aluno, eventualmente, fica conteúdo de graduação, é um conteúdo de pós-gra-
dependendo da colaboração do paciente para duação. Na graduação existem outros conteúdos que
poder finalizar um tratamento e completar a sua são inadiáveis.” (Copenhague)
produção. Dois diferentes pontos de vista são evi- É inadmissível que práticas do dia-a-dia da
denciados: “Se ele não quiser fazer, paciência, a clínica de ensino da graduação, que envolvem di-
gente tem que respeitar [...]. Por outro lado, o alu- retamente pacientes, alunos e professores, não
no tem que ter uma certa produção dentro da disci- mereçam o devido esclarecimento e discussão
plina e ele pode ser penalizado pela recusa do paci- com os alunos em sala de aula. No entanto, para
ente [...].” (Paris) “Na nossa disciplina nós temos que haja mudança no modelo de ensino, os pro-
muito cuidado em não exigir dos nossos alunos pro- fessores também precisam mudar, o que não é
dução mínima, porque às vezes o aluno trabalha tarefa fácil e depende da conscientização do corpo
muito e pode ser que ele chegue no final do semestre docente: “ [...] a parte básica é a conscientização do
e não tenha produzido exatamente o número certo professor, daqueles que não tiveram oportunidade.
de procedimentos que a gente eventualmente consi- Nas especializações a gente procura às vezes assistir
dere ideal e a gente atribua a ele uma nota inferior à disciplina de Bioética com os alunos e tal, isso já
a de um indivíduo que tenha feito desnecessaria- me deu uma visão diferente das coisas, mas eu vejo
mente o dobro.” (Estocolmo) que às vezes a gente carrega lá dentro umas teimo-
A vulnerabilidade do paciente é evidente se for sias difíceis de trocar [...]” (Copenhague)
considerado que, da mesma forma que algumas Decisões importantes no âmbito de institui-
disciplinas se preocupam em coibir a “inclinação” ções de ensino freqüentemente não dependem
de certos alunos de sobretratar alguns pacientes apenas do interesse e da vontade dos professo-
para cumprir a meta estipulada pela disciplina, res, mas cabe aqui chamar a atenção para a im-
outras podem não ter a mesma orientação ou ter portância do tema e para a necessidade da mobi-
um corpo docente menos atento a esses aconteci- lização da classe acadêmica nesse sentido. O res-
mentos. Quando o estudante sugere ao paciente peito à pessoa humana é um dos valores básicos
um tratamento que seja o indicado para o caso e da sociedade moderna, fundamentando-se no
também seja “útil” para completar a sua produ- princípio de que cada pessoa deve ser vista como
ção acadêmica, ele não está necessariamente vio- um fim em si mesma e não somente como um
lando a autonomia do paciente ou ferindo o seu meio, princípio este freqüentemente infringido
próprio dever de beneficência, mas para isso o nas instituições de assistência à saúde.
paciente deve estar informado a respeito de toda Para alguns professores, a importância do
a situação e dar seu consentimento voluntário para tema e a influência dessa discussão na formação
que o tratamento realmente aconteça13. dos alunos é clara. Não se pode desvincular o
ensino da ciência, nesse caso da odontologia, da
O ensino sob o ponto de vista do professor: formação ética e social dos alunos14. O ensino e a
o olhar para a bioética reflexão bioética nos cursos de odontologia pos-
sibilitam o prevalecimento do paradigma huma-
A necessidade de discussão da ética e da bio- nitário sobre o financeiro, científico e jurídico,
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Gonçalves, E. R. & Verdi, M. I. M.

além de favorecerem o equilíbrio entre os inte- seu corpo; no entanto, os limites desse acesso
resses da sociedade e os interesses da pessoa, quer freqüentemente não são respeitados pelos pro-
se encontre ela na posição de profissional da saú- fissionais envolvidos. É evidente a situação de
de ou de paciente14. vulnerabilidade em que os pacientes freqüente-
Dito isso, quer-se reforçar a necessidade da mente são colocados antes e durante o atendi-
discussão ética e bioética nos cursos de gradua- mento nessas instituições. Além disso, o serviço
ção em odontologia, em particular neste pesqui- que recebem é, freqüentemente, caracterizado
sado. Esse debate poderia acontecer formalmen- como caridade feita a eles pela instituição e pelos
te em sala de aula, tão somente com o objetivo de profissionais que lá trabalham e não como o di-
torná-la acessível a todos alunos e não privilégio reito adquirido que é.
de uns, que são escolhidos para desenvolver tra- No processo de acesso à clínica de ensino pes-
balhos científicos em conjunto com alguns pro- quisada, o uso de pacientes como reserva e o pri-
fessores, e são, conseqüentemente, melhor ori- vilégio do atendimento a algumas pessoas expli-
entados; ou de outros, que são supervisionados citam o desrespeito ao princípio da autonomia
por professores que abordam informalmente o dos que esperam por uma vaga. A falta de infor-
tema no dia-a-dia das atividades clínicas. mação e esclarecimento dos pacientes sobre os
Dessa forma, ressalta-se a responsabilidade procedimentos terapêuticos e de imagens foto-
de todos os professores do curso de Odontolo- gráficas que são realizados na clínica também
gia com a formação da competência ética dos caracteriza outra situação de desrespeito à auto-
alunos. O objetivo do ensino e da discussão bio- nomia do paciente. O paciente deve ter o direito
ética na Odontologia é o de contribuir para a de recusar determinados procedimentos sem con-
formação integral do futuro profissional, orien- seqüências para a continuidade do seu tratamento.
tando-o para uma prática profissional pautada No entanto, a forma como a obtenção da auto-
pela ética, princípios, regras e virtudes gerais e rização para tratamento é feita vincula explicita-
comuns às diferentes áreas das ciências da saúde, mente a sua assinatura com o acesso ao serviço.
dando ênfase à visão do paciente como um todo Verificou-se que as informações pessoais de
e contribuindo para a correta relação profissio- anamnese e as radiografias são armazenadas se-
nal-paciente15. guindo a rotina estabelecida e acessadas por pes-
Não obstante esses problemas espera-se que soas autorizadas e dentro do âmbito de ensino
a discussão feita aqui represente uma efetiva con- respeitando a confidencialidade das informações.
tribuição ao debate que se trava na atualidade Porém, a prática adotada por algumas discipli-
sobre a formação de profissionais de saúde no nas de manter arquivos próprios e de acesso ex-
Brasil. Acredita-se que o olhar crítico que foi clusivo pode submeter o paciente, desnecessaria-
lançado sobre a realidade do atendimento a pa- mente, a duplicidade de procedimentos radio-
cientes nesta clínica de ensino tenha um poten- gráficos. A produção mínima exigida dos alunos
cial transformador e vá atuar efetivamente na por algumas disciplinas também é uma prática
indução de mudanças que irão certamente tor- que pode expor o paciente a riscos desnecessári-
nar os novos cirurgiões-dentistas não apenas os e faz refletir sobre como as necessidades do
profissionais de excelência técnico-científica , paciente são tratadas quando em conflito com a
mas, sobretudo profissionais que ao olhar o produção acadêmica.
paciente vão enxergar também o ser humano e É necessário discutir e repensar as práticas de
não só a doença. ensino como práticas humanizadas e humaniza-
doras, tentando conciliar o interesse acadêmico
com as necessidades do paciente e não priorizar
Considerações finais um em detrimento do outro. Nesse contexto, o
professor do curso de Odontologia tem um pa-
A formação de futuros profissionais é a impor- pel importante na formação dos futuros profis-
tante missão das instituições de ensino. Quando sionais. Ele representa um modelo de referência
essa formação envolve atendimento odontológi- a ser seguido pelos estudantes, tanto de habilida-
co prestado à comunidade e realizado por estu- de técnica quanto de postura ética diante das si-
dantes, a situação assume características diferen- tuações cotidianas na clínica. Cabe-lhe, portan-
tes da simples democratização de informações e to, suscitar nos alunos a reflexão sobre essas ati-
de conhecimento. A decisão de uma pessoa de vidades e fornecer a eles as informações necessá-
procurar assistência em uma dessas instituições rias para subsidiar tal reflexão.
não concede nem implica em acesso irrestrito ao Uma alternativa para tornar a discussão bio-
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Ciência & Saúde Coletiva, 12(3):755-764, 2007


ética uma realidade entre os alunos da gradua- tólogos e na sua postura frente aos pacientes,
ção seria a criação de uma disciplina específica que vivenciam, mesmo que por período deter-
por conduzir tais discussões norteando a prática minado, a condição de objeto de ensino para os
de todas as disciplinas clínicas. No entanto, isso profissionais em formação. Esta condição, além
não diminuiria a responsabilidade de todo o cor- de questionável, não justifica desrespeitos a sua
po docente do curso de Odontologia na cons- dignidade, valor primeiro e fundamental da vida
trução da competência ética dos futuros odon- humana.

Colaboradores Referências

ER Gonçalves é autora da dissertação de mestra- 1. Berlinguer G. Questões de vida: ética, ciência, saúde.
do que deu origem ao artigo e elaborou os origi- São Paulo: APCE/HUCITEC/CEBES; 1993.
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nais do mesmo. M Verdi foi a orientadora da mento moral em formandos de um curso de Odon-
dissertação e revisou os originais do artigo. tologia: uma avaliação construtivista. Rev C S Col
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Artigo apresentado em 07/11/2005


Aprovado em 04/01/2006
Versão final apresentada em 07/02/2006

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