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Direito Constitucional I Novo Programa 2017 2
Direito Constitucional I Novo Programa 2017 2
DIREITO CONSTITUCIONAL I
Professor Msc. Paulo Mauricio Sales Cardoso1
UNIDADE I
1. CONSTITUCIONALISMO
1.1. Conceito.
O tema constitucionalismo é relevante porque toca ao mesmo tempo a razão e a
emoção. A “lex mater”, no Estado democrático de direito, confere aos cidadãos espaço para um
“quantum” de idealismo, na forma, por exemplo, da ampliação dos limites das liberdades
individuais e sua promoção.
Em certa medida, os textos constitucionais são importantes porquanto traduzem as
esperanças, os desejos concretos de evolução social de um povo. É que o ser humano necessita de
esperança como do ar que respira e a sociedade somente evolui com liberdade responsável.
Refletindo sobre a realidade social e a constituição, PINTO FERREIRA (1981, p.
9), inicia sua argumentação da seguinte forma:
“O meio social e histórico exerce uma profunda e visível influência sobre a ordem jurídica, que
não se desenvolve alheia às circunstâncias da realidade econômica e social. A Constituição se modela por
influência de fatores circunstanciais de uma sociedade determinada, refletindo os usos e costumes
dominantes, as tradições religiosas e culturais, o sistema de forças produtivas, uma série de fatores
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Possui graduação em Administração Postal pela Escola Superior de Administração Postal (1981), graduação em Direito pelo Centro
de Estudos Superiores do Estado do Pará (1986) e mestrado em Direito pela Universidade Federal do Pará (2000). Atualmente é
Analista Jurídico do Ministério Público do Estado do Pará e Professor Adjunto da Universidade da Amazônia. E-mail:
pmscardoso@oi.com.br.
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II. Antiguidade:
Nela encontramos um dos primeiros legisladores da História – MOISÉS –, que emerge no
alvorecer das civilizações na condição de autor de preceitos que teriam influência político-jurídica nos povos
primitivos e, ainda, em nosso tempos (...)
Autores há, como JAYME ALTAVILLA, que adotam posição mais radical. Para estes, a
constituição político-religiosa do Velho Testamento não se limitou a influenciar as instituições jurídicas da
Antiguidade e da Idade Média, mas, antes, deixando sua marca no próprio Direito Moderno. Para verificar a
veracidade desta afirmação, basta que observemos alguns traços da legislação sob análise. Determinou
noções de justiça. Elaborou critérios de educação e cultura. Estabeleceu o descanso semanal. Criou
dispositivos pertinentes ao Direito Internacional. Formulou conceitos processuais e princípios
constitucionais.
Desta maneira, através do gênio de Moisés, os hebreus, embora rudimentarmente, projetaram suas
normas através dos séculos (...)
Foi entre os romanos que, pela primeira vez, se utilizou a palavra Constituição. Para a lei
fundamental, usavam eles a designação de ‘constitutione’. Daí surgiu, na Itália, durante o século XVIII, a
expressão ‘constituzione’, simbolizando, em sua tradução em diferentes países, a Lei Básica do Estado.
Precisamente em Roma, no período histórico sob nosso enfoque, o Direito assumiu sua maior
expressão, fruto do elevado senso jurídico dominante.
Formularam-se nítidos conceitos de Direito Constitucional (...)
Assim, rudimentarmente, embora, esboçou-se o controle de constitucionalidade das leis (...)
Dentre suas construções, aliás, reponta a Lei das XII Tábuas, o mais importante e sucinto Código
de que se tem memória e o que mais influenciou o Direito atual. Simboliza a proto-história da liberdade. Sua
redação breve facilitou sua aplicaçãoi. Referindo-se amplamente a vários setores e a relações várias, tal como
o devem fazer os textos constitucionais, tornou-se ajustável a distintas situações e, pois, capaz de adequar-se
às necessidades novas que fossem, gradativa e inexoravelmente, surgindo. (ob. cit., pp. 6-8)
III. Idade Média:
Não se pode negar que, em realidade, o pensamento se achou, durante aquele lapso de tempo,
limitado pelo misticismo e pela religiosidade. No entanto, se daí advieram sequelas negativas, outras
surgiram, alta e compensadoramente positivas.
Desta maneira, a filosofia política medieval foi drenada para o teoria do Direito, donde a
conceituação dos direitos da pessoa humana – contribuição cristã das mais expressivas, eis que dignificou o
indivíduo que, no Estado da Antiguidade, ainda não surgira como valor isolado, integrando-se no conceito do
grupo.
Dentro deste período, cumpre relembrar a filosofia de TOMÁS DE AQUINO e as concepções
políticas que surgiram alicerçadas no Direito Natural relativo.
A filosofia cristã, enfim, reconhecendo o homem como depositário de direitos intangíveis ao poder
temporal, construiu as vigas mestras da estrutura estatal que, sob o princípio do liberalismo, firmaria o Estado
Moderno (...)
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Não obstante, se, em plena Idade Média, atravessássemos o Canal da Mancha, chegando à
Inglaterra, ali encontraríamos, em 1215, o documento que, em que pese as contradições doutrinárias sobre
sua natureza jurídica, apresentava a feição de uma legítima Lei Fundamental.
Trata-se da Carta Magna, jurada por JOÃO SEM TERRA, quarto filho de HENRIQUE II e de
LEONOR da Aquitânia, que não havia sido contemplado pela herança paterna, e que, antes de ser rei, fora
governador da Irlanda.
Este juramento decorreu das lutas travadas entre a Coroa e o povo inglês, tendo sido considerado,
o documento em si, no panorama ocidental, como de decisiva importância, acentuando, em nosso meio,
PINTO FERREIRA que o mesmo ‘encerrou uma época histórica e abriu outra, devendo ser entendido como a
crisálida ou o modelo imperfeito das Constituições posteriores’ (...)
No entanto, apesar de tudo e apesar de todos, a Magna Carta teve o dom de impor-se, ainda no
decurso do período medieval, esquematizando princípios que se inseriram no panorama jurídico da Inglaterra
e que estenderam sua influência aos demais países ocidentais.
Em derradeira análise, em pleno século XIII, o espírito jurídico e democrático do povo inglês
ofereceu ao mundo os alicerces do constitucionalismo, entregando aos povos livres a Carta – modelo das
liberdades constitucionais. (ob. cit., p. 8-10)
IV. Estado Moderno:
A humanidade despertou para grandes e marcantes realizações artísticas e filosóficas. A cultura,
enclausurada à era medieval, rompeu barreiras e expandiu-se, eivada de concepções greco-romanas. Era o
Renascimento que despontava, assinalando a primeira etapa de uma outra época que seria marcada,
posteriormente, pelo absolutismo (...)
Conforme ensina AFONSO ARINOS DE MELO FRANCO, por via de consequência, firmaram-
se, então, entre outros, os seguintes pontos principais:
a) centralização do poder do Estado, pondo fim às estruturas medievais;
b) soberania do Estado, com as características peculiares à época;
c) limitação do poder estatal (autolimitação), mediante a fixação de normas fundamentais.
Favoreceu-se a ditadura de CROMWELL, na Inglaterra, e conduziu-se o Absolutismo ao exagero,
que haveria de chegar a seu clímax em França, durante o reinado de LUÍS XIV.
Entretanto, no século seguinte, JOHN LOCKE (apontado como o ‘pai das idéias liberais’), ao
publicar seu livro ‘Ensaio sobre o Governo Civil’, em 1690, deu expressivo passo rumo a um regime
verdadeiramente constitucional e democrático.
As teses que defendeu e que se tornaram clássicas, influenciaram o pensamento de vários
doutrinadores (...)
Foram, na realidade, os filósofos iluministas, adeptos da teoria do liberalismo – que sucederia, no
plano teórico, a teoria do mercantilismo – que delinearam os alicerces do Constitucionalismo Clássico,
estruturador do moderno Estado de Direito. Dentre eles, distinguiram-se VOLTAIRE, ROUSSEAU, SIEYÈS
(...)
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Ainda naquele lapso de tempo, o absolutismo europeu embebedou-se das idéias propagadas pelos
filósofos iluministas. Acataram-nas diversos soberanos, resultando daí reformas de caráter social. Houvem
nestes países, a ‘reforma do Estado pelo Estado’.
Ao fim e ao cabo, porém, o século XVIII escoava-se, conduzido pela teoria do liberalismo, pela
Filosofia Racionalista, pelo constitucionalismo. (ob. cit., pp. 10-12)
V. Estado Contemporâneo:
Marcou o Estado Contemporâneo a dominância das Constituições escritas, nele repontando, como
já tivemos oportunidade de observar, a influência decisiva dos movimentos revolucionários norte-americano
e francês (...)
Tiveram início, àquela época, os ‘ciclos constitucionais’, que nos mostram, em seus detalhes, o
evolver do constitucionalismo (...)
É de se observar que houve um ‘ciclo constitucional’ muito antes do período que nos encontramos
a visualizar, ou seja, o inglês. Suas origens encontram-se, consoante observamos, na Idade Média,
traduzindo-se sua especificidade, de maneira primordial, pela influência dos costumes, dos usos e das
tradições, cimentados ao largo dos séculos, que vieram a criar a técnica da monarquia parlamentar.
Os ‘ciclos constitucionais’ paralelos ou sucessivos, individualizados mas não exclusivos, como foi
aquele, tiveram suas raízes, insistimos, no século XVIII.
Bem no-lo comprovam o ‘ciclo constitucional norte-americano’ – do qual adveio a técnica da
república presidencial e federativa, bem como a afirmação definitiva do controle judicial de
constitucionalidade das leis e o ‘ciclo constitucional francês’, que apresentou ao mundo a técnica da
república parlamentar, eis que ambos – ciclos constitucionais norte-americano e francês – são coincidentes,
de alto a baixo, com o surgimento do constitucionalismo.
Posteriormente, na organização constitucional dos povos, insinuaram-se outros ‘ciclos
constitucionais’.
Há destarte, o ‘ciclo constitucional germânico’, iniciado após a Primeira Grande Guerra e que
provocu a superação da democracia liberal, afirmando os novos direitos, os direitos econômicos e sociais.
Numa palavra, a democracia social.” (ob. cit., pp. 12-13)
Pois bem. Para apresentar as bases do constitucionalismo hodierno, urge perpassar
pelos principais modelos de constitucionalismo desenvolvidos historicamente e pela doutrina
abalizada objeto de matéria em discussão.
Com efeito, o desenvolvimento histórico do constitucionalismo parte da
experiência inglesa, francesa e norteamericana.
O modelo inglês, dá ênfase aos costumes desenvolvidos ao longo do tempo, a
partir de princípios que buscam preservar os interesses da sociedade.
“A Constituição inglesa compreende um conjunto de leis, instituições e costumes, derivado de
certos princípios racionais fixados, dirigidos a certos objetos do bem público estabelecidos, que compõem o
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sistema geral, de acordo com o qual a comunidade concordou em ser governada." (BOLINGBROKE "apud"
DALLARI: 2010, p. 180)
O modelo norteamericano, que ressalta a juridicidade e a normatividade.
“A Constituição como documento de natureza jurídica e base normativa da organização do Estado,
com eficácia jurídica superior à das leis comuns (...) expressão da vontade do povo, não dos legisladores.”
(Dallari, 2010, p. 242)
O modelo francês, com pretensão de universalidade e de preservação de valores
inerentes à pessoa humana.
“A Constituição como fundamento filosófico e político da organização social, numa perspectiva
universal e idealizada com base nos valores fundamentais da pessoa humana, indo muito além da busca de
solução para problemas locais e imediatos.” (DALLARI: 2010, p. 200)
As características predominantes em cada um dos modelos retro expostos, foram
de primordial importância para o atual estágio de desenvolvimento do constitucionalismo.
Destarte, a reflexão até aqui desenvolvida, nos leva ao atualíssimo fenômeno da
constitucionalização do direito, vale dizer, o entendimento da constituição como norma, valor,
fundamento e modelo de aplicação. E mais, a coloca no papel de fundamento do próprio Direito,
irradiando seus preceitos para alcançar não só as relações jurídicas de direito público, mas, até
mesmo, as relações tipicamente privadas.
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2. DIREITO CONSTITUCIONAL
2.1. Conceito.
A nomenclatura – Direito Constitucional – vem sendo utilizada desde o início do
século XX e está profundamente atrelada aos princípios fundadores da Revolução Francesa –
liberdade, igualdade e fraternidade –, os quais inspiraram a formação política do Estado
contemporâneo – Estado liberal, de direito, constitucional.
PINTO FERREIRA (1991) afirma que, como decorrência direta da expansão
napoleônica, os franceses perpassaram aos italianos os ideais da revolução que derrubou o “Ancien
Règime”, centrados na máxima da sociedade política regida por um contrato social, de um Estado
que se submete à vontade soberana de seus cidadãos – primado da liberdade individual. Na Itália,
então, surgiu o termo “diritto constituzionale”. Das universidades italianas, onde foi ministrado
inicialmente pelo Professor Giuseppe Compagnoni Di Luzio em Ferrara – posteriormente foi
também trabalhado em Pavia e Bolonha –, o Direito Constitucional migrou para a França. Pelos
idos de 1834, pelas mãos do então ministro de Instrução Pública francesa, Guizot, a cadeira de
Direito Constitucional foi instalada na Faculdade de Direito de Paris, e teve como primeiro titular, o
Professor Pelegrino Rossi, que era italiano.
CUNHA (2011: p. 1), analisando os primórdios do constitucionalismo brasileiro,
apresenta o Professor José Maria de Avellar Brotero como o precursor do ensino do Direito
Constitucional, nos seguintes termos:
O Conselheiro e Professor José Maria de Avellar Brotero deveria obrigar a reescrever as histórias
do Direito Constitucional por esse mundo fora, pois precedeu o italiano Pellegrino Rossi, que posa para a
posteridade como pioneiro absoluto do ensino desta disciplina. Com efeito, este só viria a dar aulas em Paris
em 1835, sendo que Brotero seria nomeado a 12 de Outubro de 1827 por D. Pedro I, Imperador do Brasil,
precedendo mesmo a criação dos cursos jurídicos paulistas, criados a 11 de Agosto de 1928.
Mesmo pensando que Brotero só dará a sua primeira aula no início de 1829, ficaria nos anais que a
primeira lição constitucional afinal foi dada em português, e na América. Não por acaso ao sol do Novo
Mundo [...]
Nos tempos atuais o estudo do Direito Constitucional envolve três principais
vertentes:
I. Científica:
O Direito Constitucional entendido como conhecimento sistematizado da
organização jurídica fundamental do Estado. Isto é, conhecimento sistematizado das regras jurídicas
relativas à forma do Estado, à forma de Governo, ao modo de aquisição e exercício do poder, ao
estabelecimento de seus órgãos e aos limites de sua ação (FERREIRA FILHO, 2005: p. 16).
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II. Estrutural:
Percebido como o estudo do conjunto de normas jurídicas que regula a estrutura
do Estado, que designa as suas funções e que define as atribuições e os limites dos supremos órgãos
do poder político (CAETANO, 1963: p. 31).
III. Sociológica:
Apreendido como a disciplina de qualquer conjunto de normas que venham a
governar uma coletividade humana (PRÉLOT, 1952: pp. 8-9).
2.2. Natureza.
O direito constitucional tem natureza jurídica de direito público e está, assim,
atrelado ao ramo do direito que estuda as relações jurídicas que se desenvolvem no meio social
entre o Estado e as pessoas (físicas e jurídicas).
2.3. Objeto de estudo.
Em nossos dias o estudo acadêmico do Direito Constitucional envolve a análise
das constituições dos Estados democráticos – conteúdo, procedimentos essenciais, evolução
histórica e espacial.
2.4. Conteúdo científico.
O conteúdo científico abrange os seus temas de maior proeminência, que
ressalvam elementos ideais e reais, assinalando tanto o ótimo – o que deve ser – como o possível –
o que é –, de sorte que a evolução de cada Estado permite soluções diversas em determinados
momentos históricos. Entre esses temas, destacam-se:
a) Direitos fundamentais: base e fundamento de e para a solução dos conflitos
intersubjetivos de interesses.
b) Dignidade humana: premissa, realizada a partir da cultura de um povo e dos
direitos universais da humanidade, consagrados por esse povo que encontra sua identidade e
tradições na evolução histórica, depositando esperanças e desejos na criação de um futuro melhor
para todos.
c) Soberania popular: entendida como a vontade popular renovada
constantemente na busca do bem comum e limitada pela responsabilidade pública.
d) Constituição como contrato: em cujo texto são possíveis e necessários fins
educativos e valores orientadores.
e) Separação dos poderes: tanto em sentido estrito, sob a ótica do Estado, quanto
no sentido amplo, do pluralismo político.
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3. CONSTITUIÇÃO
3.1. Conceito.
A palavra constituição vem do latim cum + stituto, constitutio, constituere, tendo
o significado de constituir, construir, edificar, formar, organizar. Traz em si uma ideia de estrutura,
de como se organiza algo. No contexto jurídico, representa o modo pelo qual uma sociedade se
organiza e se estrutura, a base de sustentação do Estado constitucional.
Na doutrina constitucionalista, há inúmeros conceitos de constituição, entre os
quais se destacam: formal, material, estrutural, política, jurídica, sociológica, cultural e concretista
aberta.
A constituição em sentido formal é o conjunto de normas que constam no texto
constitucional, só pelo fato de nele estarem inseridas (KELSEN apud BONAVIDES. 2004, p. 82).
Em sentido material a constituição é o conjunto de normas pertinentes à
organização do poder, à distribuição da competência, ao exercício da autoridade, à forma de
governo, aos direitos da pessoa humana, tanto individuais como sociais. Tudo quanto for, enfim,
conteúdo básico referente à composição e ao funcionamento da ordem política exprime o aspecto
material da Constituição (BONAVIDES. 2004, p. 80).
Na perspectiva estrutural constituição é o nomen iuris que se dá ao complexo de
regras que dispõem sobre a organização do Estado, a origem e o exercício do Poder, a
discriminação das competências estatais e a proclamação das liberdades públicas (MELLO FILHO:
1986, p. 6-7).
Na avaliação política constituição é algo que emana de um ato de poder soberano,
pois o que existe como magnitude política é, juridicamente considerado, digno de existir
(SCHMITT apud ARAÚJO; NUNES JÚNIOR. 2005, p. 2).
Na perspectiva jurídica constituição significa norma fundamental hipotética, cuja
função é servir de fundamento lógico transcendental de validade da constituição jurídico-positiva,
que equivale à norma positiva suprema, conjunto de normas que regula a criação de outras normas,
lei nacional no seu mais alto grau (SILVA. 1997, p. 41).
Na ótica sociológica a constituição deve ser o reflexo das forças sociais que
estruturam o poder, sob pena de encontrar-se apenas uma “folha de papel”. Assim, se inexistir
coincidência entre o documento escrito e as forças determinantes do poder, não estaremos diante de
uma constituição (LASSALLE apud ARAÚJO, NUNES JÚNIOR. 2005, p. 2).
Na ponderação cultural constituição é uma formação objetiva de cultura que
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encerra, ao mesmo tempo, elementos históricos, sociais e racionais, aí intervindo, portanto, não
apenas fatores reais (natureza humana, necessidades individuais e sociais concretas, raça, geografia,
uso, costumes, tradições, economia, técnicas) mas também espirituais (sentimentos, ideias morais,
políticas e religiosas, valores) ou ainda elementos puramente racionais (técnicas jurídicas, formas
políticas, instituições, formas e conceitos jurídicos a priore) e finalmente elementos voluntaristas,
pois não é possível negar o papel da vontade humana, da livre adesão, da vontade política das
comunidades sociais na adoção desta ou daquela forma de convivência política e social, e de
organização do Direito e do Estado (TEIXEIRA, 1991, p. 58-59).
No conceito concretista aberto constituição quer dizer ordem jurídica fundamental
do Estado e da sociedade. Este conceito amplo de Constituição compreende as estruturas
fundamentais de uma sociedade pluralista, como por exemplo, a relação dos grupos sociais entre si
e destes com os cidadãos e de todos eles com o Estado (HÄBERLE, 2003, p. 3).
Há outros estudos que merecem ser citados.
MENAULT (2006: pp. 20-25) desenvolve o entendimento de que o conceito de
constituição deve conter o núcleo base, essencial, irredutível desse instituto jurídico, por ele
apresentado como: "limite del poder, por medio del Derecho, asegurando una esfera de derechos y
libertades para el ciudadano".
CUNHA (2007, pp. 60-68) defende a tese de que "O Direito Constitucional, e em
especial o constitucionalismo do Estado Constitucional e cultural, tem muita força, mas precisa de
ter também consciência dos seus limites, e de estar atento aos seus inimigos... A Constituição
aberta e pluralista de hoje também terá, naturalmente, os seus: mas deve identificá-los bem".
O articulista sumariza seu pensamento (ob. cit., pp. 93-96) no sentido de que "a
noção mais abrangente e, contudo rigorosa de Constituição parece ser o simples e sintético 'estatuto
jurídico do político'. E o Direito Constitucional é a realidade jurídica em torno desse estatuto
(sentido fenomênico, sociológico), e a disciplina epistemológica e acadêmica que estuda o mesmo".
Ainda CUNHA (ob. cit., pp. 97-100) procura desenvolver um conceito histórico-
universal de constituição e conclui: "não podendo nos esquecer o legado e o exemplo do
Constitucionalismo tradicional (até pelas suas falhas), ele é contudo matéria sobretudo de formação,
cultural. Importantíssima, mas não técnico-jurídica actual, como é obvio".
Destarte, urge ponderar o relativismo inerente ao desenvolvimento histórico de
cada sociedade e da própria "pauta" de direitos e garantias considerados fundamentais, seja no
tempo, seja no espaço, o que valida o entendimento segundo o qual a compreensão do
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jurídico, irradiando sobre ele os seus efeitos, seus dispositivos – em maior ou menor grau –
representam o fundamento das normas e dos atos desse sistema.
MIRANDA (2011: p. 162) afirmou que: “Levada às últimas consequências, esta
concepção equivaleria a considerar a Constituição não apenas como fundação mas também como
fundamentação do poder público e de toda a ordem jurídica. Porque é a Constituição que estabelece
os poderes do Estado e que regula a formação das normas jurídicas estatais, todos os atos e normas
do Estado têm de estar em relação positiva com as normas constitucionais, para participarem
também eles da sua legitimidade; têm de ser conformes com estas normas para serem válidas”.
Com efeito, o fenômeno da constitucionalização do direito está embasado nesse
entendimento. As normas infraconstitucionais quando analisadas sob a ótica da Constituição –
tendo esta como fundamento –, recebem novos aportes, são revigoradas pelo Texto Magno. De
outra sorte, se a Constituição passa a dispor sobre instituto jurídico antes tratado exclusivamente no
plano infraconstitucional, modifica a hierarquia deste, alocando-o em posição de destaque, ao lado
das demais normas fundantes do ordenamento estatal.
Destarte, a constitucionalização do direito implica em novos conteúdos
normativos – significados – e confere “status” diferenciado aos seus preceitos – supremacia.
FAVOREU (2001), após analisar o fenômeno aqui tratado, identificou três tipos
de constitucionalização do direito:
Constitucionalização (1) A constitucionalização-jurisdicização, pelo qual as normas
do direito constitucionais representam verdadeiras normas de direito,
Tipos normas jurídicas.
3.2. Objeto.
O objeto das constituições é a disciplina normativa da organização político-
administrativa do Estado e a estruturação dos direitos e garantias fundamentais.
3.3. Classificação.
I. Quanto à forma.
a) Constituição escrita: quando codificada e sistematizada num texto único,
elaborado por um órgão constituinte, encerrando todas as normas tidas como fundamentais.
b) Constituição não-escrita ou costumeira: é aquela cujas normas não constam de
um documento único e solene, baseando-se nos costumes, na jurisprudência, nas convenções e em
leis esparsas.
II. Quanto ao modo de elaboração.
a) Dogmática: fruto da aplicação de certos dogmas ou princípios provenientes da
teoria política e do direito.
b) Histórica: produto de lenta síntese histórica, da tradição e dos fatos políticos.
III. Quanto à estabilidade ou à mutabilidade.
a) Rígida: só pode ser modificada mediante processo especial, diferente e mais
difícil que o da formação da lei comum (constituições escritas).
b) Flexível: pode ser modificada pelo processo legislativo ordinário, o mesmo
estabelecido para a edição das leis comuns (escrita em alguns casos, não-escritas sempre).
c) Semi-rígida ou semiflexível: aquela cujas regras materiais são rígidas e as
formalmente constitucionais são flexíveis (escritas).
IV. Quanto à origem.
a) Democrática ou popular: origina-se de um órgão constituinte composto de
representantes do povo.
b) Outorgada: elaborada e estabelecida sem a participação popular.
V. Quanto à extensão.
a) Analítica: regulamenta todos os assuntos relevantes para o Estado e a
sociedade.
b) Sintética: restrita aos princípios e normais gerais regentes do Estado e da
sociedade; é essencialmente valorativa.
VI. Quanto à ideologia.
a) Ortodoxa: formada por uma só ideologia.
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LEITURA RECOMENDADA
Os limites do Poder constituinte reformador na Constituição da República encontram-se no art.
60, sendo:
a) Limites formais: incisos I, II e III e §§ 2º, 3º e 5º do art. 60.
b) Limites circunstanciais: § 1º do art. 60.
c) Limites materiais: § 4º do art. 60 (cláusulas pétreas).
Há, ainda, o instituto da revisão constitucional, entendido como o poder de
modificar de forma ampla o texto de uma Constituição. Daí surgem indagações: O quão ampla pode
ser uma revisão constitucional? Quais os limites inegociáveis dela?
FARIA (2003: pp. 9-10), fez uma abordagem sociológica da questão e concluiu:
Eis aí a essência da questão. Na democracia, a segurança do direito fundado em lei ou vale para
todos, indistintamente, ou a dualidade de tratamentos, como a que tem sido reclamada pelos mercados, tira a
seriedade do debate sobre o alcance e a vitalidade da ordem constitucional e põe em risco a legitimidade do
próprio regime (...)
Como afirmei antes, ao contrapor a tradicional concepção de poder constituinte originário à
provocativa idéia de poder constituinte evolutivo, do ponto de vista estritamente jurídico-formal talvez não
haja uma saída técnica passível de consenso, capaz de conciliar juristas e financistas, beneficiários dos
direitos adquiridos e os responsáveis pela tesouraria (...)
Só por meio de um ‘experimento’ desse porte, por meio de uma negociação tensa, delicada e
difícil como será concluída, é que, a meu ver, se conseguirá eliminar o tratamento contraditório que os
mercados dão à segurança legal e assegurar uma ordem jurídica que, além de respeitada, também seja eficaz.
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GUSMÃO (2005: p. 27), tratou o tema sob uma nova ótica – recentíssima –, da
integração econômica e política dos Estados em blocos comunitários e destacou um processo de
abertura constitucional por via de “um procedimento de reforma da Constituição que, ainda que
mantenha o vínculo com o texto constitucional, simultaneamente é desenvolvido em instâncias que
não são aquelas nas quais se situam os fenômenos diretamente decorrentes do texto constitucional”.
Pois bem. A teoria do poder constituinte e, consequentemente, de reforma das
constituições está enfrentando “anomalias” que oferecem riscos ao “paradigma” vigente, na esteira
do posicionamento de GUSMÃO (2005).
Se de um lado é certo que as sociedades futuras não podem ficar eternamente
vinculadas a valores, princípios e regras estabelecidos pelas gerações passadas, de outro lado não é
menos certo que as constituições devem conter um núcleo “pétreo” que confira estabilidade e
segurança ao sistema jurídico dos Estados.
E mais. Se o processo de integração dos Estados em blocos comunitários está em
franca expansão – Europa, América do Sul –, o êxito dele está intimamente relacionado com a
garantia e o respeito aos direitos das comunidades locais, sob pena de gerar graves distúrbios
sociais, como os atualmente vivenciados em alguns países da Europa continental.
Assim, o poder de reforma tem – ou deve ter – como limites inegociáveis o
preâmbulo e as cláusulas pétreas da Constituição, posto que estes revelam o núcleo básico a partir
do qual foi formatado o ordenamento jurídico-político do Estado e que deve ser preservado.
Com efeito, a negociação, o consenso, a minimização ou relativização de rigidez e
dos próprios limites de revisão do texto Constitucional, enfim, dos paradigmas clássicos do poder
constituinte podem e devem ser revistos, ficando a possibilidade de mudança mais aberta e
adaptável às circunstâncias atuais, à velocidade e intensidade das mudanças econômicas mundiais,
desde que preserve e não desnature a essência do modelo vigente – os direitos e garantias
fundamentais e a efetividade do Estado Democrático de Direito.
4.3. Poder constituinte derivado decorrente.
O poder constituinte derivado decorrente é encontrado nos Estados Federais,
como é o caso do Brasil. Refere a capacidade de criar e modificar a Constituição dos estados-
membros. Obedece às regras e, consequentemente, aos limites estatuídos na Constituição da
República.
4.4. Mutações constitucionais.
O fenômeno da mutação constitucional é entendido como o processo informal de
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mudança da Constituição, por meio do qual são atribuídos novos sentidos, conteúdos até então não
ressaltados à letra da Lex Legum, seja por meio da interpretação, em suas diversas modalidades e
métodos, seja por intermédio da construção (construction), seja via usos e costumes constitucionais.
Nesse contexto, as mutações constitucionais seriam processos indiretos, processos
não formais ou processos informais por meio dos quais ocorrem todas e quaisquer mudanças
constitucionais não produzidas pelas modalidades organizadas de exercício do Poder Constituinte
derivado.
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UNIDADE II
Contida: embora tendo algum efeito direto e imediato, este pode ser
restringidos pela legislação infraconstitucional; enquanto o legislador
não elaborar a lei de caráter restritivo, têm eficácia plena.
a coisa julgada;
II. explicitou o principio da igualdade perante a lei, estatuindo que não haveria
privilégios, nem distinções, por motivo de nascimento, sexo, raça, profissão própria ou dos pais,
riqueza, classe social, crença religiosa ou idéias políticas;
III. permitiu a aquisição de personalidade jurídica pelas associações religiosas e
introduziu a assistência religiosa facultativa nos estabelecimentos oficiais;
IV. instituiu a obrigatoriedade de comunicação imediata de qualquer prisão ou
detenção ao juiz competente para que a relaxasse, se ilegal, promovendo a responsabilidade da
autoridade coatora;
V. manteve o habeas corpus para proteção da liberdade pessoal, bem como instituiu
o mandado de segurança para defesa do direito certo e incontestável, ameaçado ou violado por ato
manifestamente inconstitucional ou ilegal de qualquer autoridade;
VI. vedou a pena de caráter perpétuo;
VII. proibiu a prisão por dividas, multas ou custas;
VIII. impediu a extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião e, em
qualquer caso, a de brasileiros;
IX. criou a assistência judiciária para os necessitados;
X. determinou às autoridades a expedição de certidões requeridas, para defesa de
direitos individuais ou para esclarecimento dos cidadãos a respeito dos negócios públicos;
XI. isentou de imposto o escritor, o jornalista e o professor;
XII. atribuiu a todo cidadão legitimidade ativa para pleitear a declaração de utilidade
ou anulação dos atos lesivos ao patrimônio da União, dos Estados ou dos Municípios.;
XIII. proibiu a diferença de salário para um mesmo trabalho, por motivo de idade, sexo,
nacionalidade ou estado civil;
XIV. regulou o salário mínimo, capaz de satisfazer as necessidades normais do
trabalhador;
XV. limitou a jornada de trabalho a oito horas diárias, só prorrogáveis nos casos
previstos em lei;
XVI. vedou o trabalho a menores de 14 anos, o trabalho noturno a menores de 16 anos e
em indústrias insalubres a menores de 18 anos e a mulheres;
XVII. instituiu o repouso semanal, de preferência aos domingos e as férias anuais
remuneradas;
30
Republica poderes para decretar o estado de sítio, sem ouvir o Congresso Nacional (art. 6º).
Suspendeu as garantias constitucionais e legais da vitaliciedade e estabilidade e, por conseguinte,
também as garantias da magistratura pelo prazo de 6 meses (art. 7º). Deu aos editores do Ato, bem
como ao presidente da República, que seria escolhido, poderes para, até 60 dias depois da posse,
cassar mandatos eletivos e suspender direitos políticos. Ademais, estabeleceu que tais atos estavam
a descoberto de proteção judiciária (art. 7º, § 4º).
No Ato institucional nº 2 (AI-2), foi declarado que a Constituição de 1946 e as
Constituições Estaduais e respectivas emendas eram mantidas com as modificações constantes do
Ato. Nele, os poderes excepcionais do primeiro Ato Institucional foram revividos e ampliados.
O Ato Institucional nº 2 vigorou até 15/03/1967, quando entrou em vigor a Carta
decretada e promulgada em 24/011967, a qual apresentou graves retrocessos sob a ótica dos direitos
humanos.
Inovou positivamente quando determinou que se impunha a todas as autoridades o
respeito à integridade física e moral do detento e do presidiário. Entretanto, praticamente nenhuma
eficácia teve o dispositivo em vista do clima geral de redução de liberdade e a consequente
impossibilidade de denúncia dos abusos ocorridos.
Como disposições contrárias ao trabalhador cabe citar: a redução para 12 anos da
idade mínima de permissão do trabalho; a supressão da estabilidade, com o estabelecimento do
regime de fundo de garantia, como alternativa; as restrições ao direito de greve; a supressão da
proibição de diferença de salários, por motivo de idade e nacionalidade.
Para compensar a classe laboral, alguns preceitos favoráveis: inclusão, como
garantia constitucional, do direito ao salário-família, cm favor dos dependentes do trabalhador;
proibição de diferença de salários também por motivo de cor; participação do trabalhador,
eventualmente, na gestão da empresa; aposentadoria da mulher, aos trinta anos de trabalho, com
salário integral.
A Carta de 1967 vigorou até ser substituída pela Constituição de 17/10/1969. De
fato, entretanto, teve eficácia até 13/12/1968, quando foi baixado o Ato Institucional nº 5.
O AI-5 introduziu tão profundas modificações na estrutura do poder político e em
relação aos direitos individuais que, numa visão cientifica, não se pode conciliá-lo com o espírito da
Constituição de 1967, pois além de repetir todos os poderes discricionários conferidos ao Presidente
da República pelo AI-2, ampliou o arbítrio, dando ao Chefe do Executivo a prerrogativa de
confiscar bens, além de suspender a garantia do habeas corpus nos casos de crimes políticos, contra
33
• Método tópico-problemático:
"O método tópico-problemático, no âmbito do direito constitucional, parte das seguintes
premissas: (1) caráter prático da interpretação constitucional, dado que, como toda a interpretação, procura
resolver os problemas concretos; (2) caráter aberto, fragmentário ou indeterminado da norma constitucional;
(3) preferência pela discussão do problema em virtude do open texture (abertura) das normas constitucionais
que não permitam qualquer dedução subsuntiva a partir delas mesmo." (ob. cit., p. 1211)
• Método hermenêutico-concretizador:
"O método hermenêutico-concretizador arranca da ideia de que a leitura de um texto normativo se
inicia pela pré-compreensão de seu sentido através do intérprete. A interpretação da constituição não foge a
esse processo: é uma compreensão de sentido, um preenchimento de sentido juridicamente criador, em que o
intérprete efectua uma actividade prático-normativa, concretizando a norma para e a partir de uma situação
histórica concreta. No fundo, este método vem realçar e iluminar vários pressupostos da tarefa interpretativa:
(1) os pressupostos subjectivos, dado que o intérprete desempenha um papel criador (pré-compreensão) na
36
tarefa de obtenção do sentido do texto constitucional; (2) os pressupostos objectivos, isto é, o contexto,
actuando o intérprete como operador de mediações entre o texto e a situação em que se aplica; (3) relação
entre o texto e o contexto com a mediação criadora do intérprete, transformando a interpretação em
<movimento de ir e vir> (círculo hermenêutico).” (ob. cit., p. 1212)
• Método científico-espiritual:
"As premissas básicas do chamado método científico-espiritual baseiam-se na necessidade de
interpretação da constituição dever ter em conta: (i) as bases de valoração (= ordem de valores, sistema de
valores) subjacentes ao texto constitucional; (ii) o sentido e a realidade da constituição como elemento do
processo de integração. O recurso à ordem de valores obriga a uma <captação espiritual> do conteúdo
axiológico último da ordem constitucional. A idéia de que a interpretação visa não tanto dar resposta ao
sentido dos conceitos do texto constitucional, mas fundamentalmente compreender o sentido e a realidade de
uma lei constitucional, conduz à articulação desta lei com a integração espiritual real da comunidade (com os
seus valores, com a realidade existencial do Estado)." (ob. cit., pp. 1212/1213)
• Método normativo-estruturante:
"As premissas básicas do chamado método científico-espiritual baseiam-se na necessidade de
interpretação da constituição dever ter em conta: (i) as bases de valoração (= ordem de valores, sistema de
valores) subjacentes ao texto constitucional; (ii) o sentido e a realidade da constituição como elemento do
processo de integração. O recurso à ordem de valores obriga a uma <captação espiritual> do conteúdo
axiológico último da ordem constitucional. A idéia de que a interpretação visa não tanto dar resposta ao
sentido dos conceitos do texto constitucional, mas fundamentalmente compreender o sentido e a realidade de
uma lei constitucional, conduz à articulação desta lei com a integração espiritual real da comunidade (com os
seus valores, com a realidade existencial do Estado)." (ob. cit., pp. 1212/1213)
• Interpretação comparativa:
"O apelo a elementos de direito comparado costuma ser feito, na teoria clássica da interpretação, a
propósito do elemento histórico. A interpretação comparativa pretende captar, de forma jurídico-
comparatística, a evolução da conformação, diferenciada ou semelhante, de institutos jurídicos, normas e
conceitos nos vários ordenamentos jurídicos com o fito de esclarecer o significado a atribuir a determinados
enunciados linguísticos utilizados na formulação de normas jurídicas.
Em tempos recentes, a comparação jurídica é erguida a <quinto método de interpretação>.
Esta comparação assume, em geral, uma natureza valorativa, ou seja, reconduz-se a uma comparação jurídica
valorativa no âmbito do Estado Constitucional. Através dela, é possível estabelecer a comunicação entre
várias constituições (Häberle) e descobrir critério da melhor solução para determinados problemas
concretos." (ob. cit., p. 1214)
Pela relevância que possuem no âmbito do estudo científico do Direito
Constitucional, merecem destaque os seguintes métodos ou técnicas de interpretação: jurídica,
tópico problemática, hermenêutica concretizadora e constituição como processo público.
37
3.2.1. Jurídica.
A tradicional e básica interpretação constitucional parte da premissa de que o
Texto Magno é uma lei e de seus dispositivos é que são extraidos os respectivos sentidos e
significados. Releva os princípios da supremacia e da legalidade estrita.
dedutivo não é o único meio de controle da certeza racional. Para seus defensores, esse método
viabiliza a interpretação voltada para o encontro da solução peculiarmente adequada a cada caso,
pensado como um problema em toda a sua complexidade. Trata-se de uma técnica de chegar ao
problema onde ele se encontra, elegendo os mecanismos recomendáveis a uma solução adequada.
A interpretação tópico problemática, portanto, é uma técnica de pensamento
problematizado, que busca a solução adequada de premissas, como: teoria da prática, doutrina da
argumentação, pensamento orientado ao problema, orientação à ação ou decisão, doutrina dos
lugares comuns, entre outras.
Esta técnica encontrou no Direito Constitucional – essencialmente valorativo e
principiológico, em que os institutos jurídicos basilares possuem um elevado grau de abstração e
generalidade, de modo que conseguem abarcar diversos casos reais – um campo fértil para sua
aplicação e desenvolvimento.
Com efeito, sendo a Constituição dos Estados democráticos uma estrutura aberta
representativa dos valores de uma sociedade heterogênea e pluralista, valores esses com
considerável teor de indeterminação, a utilização da técnica de interpretação tópico problemática, na
busca de uma solução justa para cada problema, tende a encontrar na “Lex Mater” a resposta
adequada para o caso concreto.
É que na base de sustentação ideológica da Lei Maior dos Estados democráticos
38
encontra-se o princípio da justiça, do bem comum, em outras palavras, o que antes era tratado como
princípio geral do direito, hoje é um princípio constitucional, supremo, de caráter vinculante e
obrigatório.
Logo, se o objetivo é a busca de uma solução justa, é neste sistema de valores
(constituição), que o aplicador do direito irá encontra-la.
Enquanto forem indicadas como ‘métodos’ de práxis e da ciência jurídicas somente regras de
interpretação, a estrutura da realização prática do direito terá sido compreendida de forma equivocada. A
interpretação do teor literal da norma é um dos elementos mais importantes no processo da concretização,
mas somente um elemento. Uma metódica destinada a ir além do positivismo legalista deve indicar regras
para a tarefa de concretização da norma no sentido abrangente da práxis efetiva. Não pode aferrar-se nem ao
dogma da evidência nem ao dogma voluntarista. Não pode conceber o processo bem como a tarefa da
realização do direito normativamente vinculado como uma mera reelaboração de algo já efetuado. Ela deve
elaborar os problemas da ‘pré-compreensão’ da ciência jurídica e do fato da concretização estar referida ao
caso. Ela deve partir in totum de uma teoria da norma que deixa para trás o positivismo legalista.
No método hermenêutico concretizador a interpretação da norma transcende a do
respectivo texto. É vista como algo complexo, com múltiplos elementos, razão pela qual não há um
ponto final, mas um caminho em que não há uma única ou uma última palavra.
Em se tratando de concretização de normas constitucionais, defendem seus
adeptos que sejam considerados alguns elementos metodológicos convencionais (interpretação
gramatical, histórica, sistemática, teleológica...) juntamente com elementos do âmbito da norma,
dogmáticos, teóricos, técnicos de solução, políticos-jurídicos...
A ideia base é a interpretação da constituição tendo em conta que esta não está
confinada a um texto de lei, alargando-se a espaços materiais e fáticos de máxima amplitude.
39
LEITURA RECOMENDADA
Os princípios fundamentais do Estado brasileiro encontram-se nos arts. 1º a 4º da Carta
Republicana, sendo:
a) Princípios fundamentais: república (caput do art. 1º); estado democrático de direito (parágrafo
único do art. 1º); e separação dos poderes (art. 2º).
b) Fundamentos: soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho e
livre iniciativa e pluralismo político (incisos I a V do art. 1º).
c) Objetivos fundamentais: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o
desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais
e regionais; e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º e incisos I a IV).
d) Princípios regentes das relações internacionais: independência nacional, prevalência dos direitos
humanos ... (art. 4º e incisos I a X); o parágrafo único do art. 4º dispõe como objetivo das relações
internacionais a formação de uma comunidade latino-americana de nações.
3.4.1. Princípio republicano.
43
Assim sendo, cada função estatal básica deve ser atribuída a um órgão específico
(especialização funcional) e independente (independência orgânica) dos demais.
Para que tal modelo funcione adequadamente, é imprescindível o chamado
sistema de freios e contrapesos, pelo qual cada Poder, na sua esfera própria de atuação, exerce
atribuições típicas e atípicas.
Mas a separação de poderes não é rígida, absoluta, existindo um sistema de
interferências recíprocas, a que a doutrina norte-americana denomina “checks and balances”.
No Estado brasileiro, pode-se visualizar claramente o funcionamento desse
sistema:
I. o Executivo edita medidas provisórias com força de lei (art. 62 da Constituição) e
participa do processo legislativo, tendo matérias de iniciativa legislativa privativa (art. 64, § 1º da
Lei Maior) e amplo poder de veto (arts. 66, § 1º e 84, inc. VI da Carta Política);
II. o Legislativo pode derrubar o veto do Presidente da República (art. 66, § 4º da
Constituição), rejeitar medidas provisórias por ele editadas (art. 62 da Lei Maior) e aprovar, pelo
Senado Federal, a indicação dos Ministros dos Tribunais Superiores feita pelo Presidente da
República (arts. 52, inc. III e 84, inc. XIV da Carta Política); e
III. o Judiciário, por sua vez, pode declarar a inconstitucionalidade de leis
elaboradas pelo Poder Legislativo e atos administrativos editados pelo Poder Executivo (art. 97,
102, inc. I, alínea ‘a’ e 125, § 2º da Constituição).
A Constituição brasileira consagra o princípio da separação dos poderes no art. 2º,
garantindo a independência e harmonia recíproca, ao dispor que os Poderes da República são
independentes e harmônicos entre si, devendo todos eles atuar de forma isenta e imparcial, sem
subordinação nem conflitos, buscando assegurar o bem estar da coletividade, objetivo maior do
Estado.
2 “Nossas constituições, desde o Império, inscreveram o princípio da igualdade, como igualdade perante a lei,
enunciado que, na sua literalidade, se confunde com a mera isonomia formal, no sentido de que a lei e sua aplicação
tratam a todos igualmente, sem levar em conta as distinções de grupos.” (2005: p. 214)
3 “Licitação pública. Concorrência. Aquisição de bens. Veículos para uso oficial. Exigência de que sejam produzidos no
Estado-membro. Condição compulsória de acesso. Art. 1º da Lei 12.204/1998, do Estado do Paraná, com a redação da
Lei 13.571/2002. Discriminação arbitrária. Violação ao princípio da isonomia ou da igualdade (...) Precedentes do
Supremo. É inconstitucional a lei estadual que estabeleça como condição de acesso a licitação pública, para aquisição
de bens ou serviços, que a empresa licitante tenha a fábrica ou sede no Estado-membro." (ADI 3.583, Rel. Min. Cezar
Peluso, julgamento em 21-2-2008, Plenário, DJE de 14-3-2008.)
4 MI 58, Rel. p/ o ac. Min. Celso de Mello, julgamento em 14-12-1990, Plenário, DJ de 19-4-1991.
50
si e destes com o Estado.
CAIO TÁCITO (ob. cit.: p. 11) destacou a mantença dessa secular tradicional
nacional:
“A Constituição brasileira de 1988, fiel às tradições nacionais, reafirma, como fundamento da ordem jurídica,
o princípio da legalidade, fonte de direitos e deveres e limite ao poder do Estado e à autonomia da vontade.”
SILVA (2007: p. 81-86) apresentou a legalidade como uma garantia individual e
expressão da liberdade de ação:
O art. 5º, II, em análise, revela duas dimensões. Uma conceitual, clara e explícita, que consubstancia o
princípio da legalidade que, por ser uma garantia individual, merecerá considerações aprofundadas nestes
comentários. Outra, subtendida, nem sempre considerada pela doutrina, que é essa regra de direito
fundamental que exprime a liberdade de ação. Por isso, esse dispositivo é um dos mais importantes do
direito constitucional brasileiro, porque, além de conter a previsão da liberdade de ação (liberdade-base das
demais), confere fundamento jurídico às liberdades individuais e correlaciona liberdade e legalidade. Dele se
extrai a idéia de que a liberdade, em qualquer de suas formas, só pode sofrer restrições por normas jurídicas
preceptivas (que impõem uma conduta positiva) ou proibitivas (que impõem uma abstenção), proveniente do
Poder Legislativo e elaboradas segundo o procedimento estabelecido na Constituição. Quer dizer: a liberdade
só pode ser condicionada por um sistema de legalidade legítimo.
Ao longo dos anos, a Suprema Corte brasileira vem criando uma sólida
jurisprudência tendente a reafirmar a essência do princípio da legalidade: vinculação às definições
da lei e às dela decorrentes (HC 85.060, Rel. Min. Eros Grau, julg. 23/9/2008, Primeira Turma, DJE
de 13/2/2009).
No enunciado do preceito – ‘ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude
de lei’ – há visível distinção entre as seguintes situações: (i) vinculação às definições da lei e (ii) vinculação
às definições ‘decorrentes’ – isto é, fixadas em virtude dela – de lei. No primeiro caso estamos diante da
‘reserva da lei’; no segundo, em face da ‘reserva da norma’ (norma que pode ser tanto legal quanto
regulamentar ou regimental). Na segunda situação, ainda quando as definições em pauta se operem em atos
normativos não da espécie legislativa – mas decorrentes de previsão implícita ou explícita em lei – o
princípio estará sendo devidamente acatado. No caso concreto, o princípio da legalidade expressa ‘reserva de
lei em termos relativos’ (= ‘reserva da norma’) não impede a atribuição, explícita ou implícita, ao Executivo
e ao Judiciário, para, no exercício da função normativa, definir obrigação de fazer ou não fazer que se
imponha aos particulares – e os vincule. Se há matérias que não podem ser reguladas senão pela lei (...) das
excluídas a essa exigência podem tratar, sobre elas dispondo, o Poder Executivo e o Judiciário, em
regulamentos e regimentos. Quanto à definição do que está incluído nas matérias de reserva de lei, há de ser
colhida no texto constitucional; quanto a essas matérias não cabem regulamentos e regimentos. Inconcebível
a admissão de que o texto constitucional contivesse disposição despiciente – verba cum effectu sunt
accipienda.
De fato, o princípio da legalidade é da essência dos direitos da liberdade. Sua
configuração constitucional é um garante para o exercício dos direitos consagrados na Carta
brasileira. Um limite expresso ao arbítrio de tantos quantos tencionem distorcer a lógica do Estado
Democrático e Social de Direito para impor a sociedade comportamentos que contrariem a máxima
51
da liberdade.
52
4. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS:
4.1. Teoria geral dos direitos humanos.
4.1.1. Formação e desenvolvimento.
Há uma tendência natural de traçar um paralelo entre o surgimento do
constitucionalismo hodierno e o surgimento dos direitos humanos, a partir da idéia de que as
Constituições dos Estados democráticos de direito, além de "dar forma" ao Estado, criam os órgãos
estatais, descrevem sua forma de atuação e limitam o Poder estatal, garantindo uma parcela
"intocável" de direitos (individuais, sociais...), a qual não poderia ser, por mera discricionariedade,
ignorado ou mesmo suprimida pelos agentes da Administração Pública. Tal parcela de direitos,
forma o conteúdo do que hoje é conhecido por direitos humanos.
FERREIRA (ob. cit., pp. 111) apresentou o desenvolvimento dessa doutrina a
partir das declarações de direitos, nos seguintes termos:
As declarações de direitos surgem como um movimento social novo de defesa das liberdades
contra o arbítrio e o poder do antigo regime. Na luta histórica entre a liberdade e o poder, entre o indivíduo e
o Estado, as declarações de direitos são instrumentos legais de limitações do poder estatal.
Dentro do plano sociológico e histórico, elas estão presas ao advento da democracia, que se seguiu
ao desmoronamento do feudalismo e da monarquia absoluta. As revoluções históricas libertaram o homem
diante da opressão secular deste regime de privilégios e exceções.
CANOTILHO (ob. cit., p. 380 e ss.), após destacar que o “processo histórico não
é assim tão linear”, afirmou os “principais momentos de conscientização do problema dos direitos
do homem”:
1. Da igualdade material ao <<nomos>> unitário e à <<recta ratio>>
Quando se põe a pargunta da existência da ideia de direitos do homem na antiguidade a resposta é
negativa. Basta recordar que Platão e Aristóteles consideravam o estatuto da escravidão como algo de
natural...
Todavia, a antiguidade clássica não se quedou numa completa cegueira em relação à ideia de
direitos fundamentais. O pensamento sofístico, a partir da natureza biológica comum dos homens, aproxima-
se da tese da igualdade natural e da ideia de humanidade...
2. Da <<lex natura>> cristã à secularização do direito natural
As concepções cristãs medievais, especialmente o direito natural tomista, ao distinguir entre lex
divina, lex naturale e lex positiva, abririam o caminho para a necessidade de submeter o direito positivo às
normas jurídicas naturais, fundadas na própria natureza dos homens...
3. Dos direitos estamentais aos direitos individuais
A proto-história dos direitos fundamentais costuma salientar a importância das cartas de
franquias medievais dadas pelos reis aos vassalos, a mais célebre das quais foi a Magna Charta Libertatum
de 1215. Não se tratava, porém, de uma manifestação da ideia de direitos fundamentais inatos, mas da
afirmação de direitos corporativos da aristocracia feudal em face de seu suserano...
ALEXY (2008: pp. 85/86), ao discorrer sobre a estrutura das normas de direitos
fundamentais destacou a importância da distinção entre regras e princípios, nos seguintes termos:
...Essa distinção é a base da teoria da fundamentação no âmbito dos direitos fundamentais e uma chave para a
solução de problemas centrais da dogmática dos direitos fundamentais. Sem ela não pode haver nem uma
teoria adequada adequada sobre as restrições a direitos fundamentais, nem uma doutrina satisfatória sobre
colisões, nem uma teoria suficiente sobre o papel dos direitos fundamentais no sistema jurídico. Essa
distinção constitui um elemento fundamental não somente da dogmática dos direitos de liberdade e de
igualdade, mas também dos direitos a proteção, a organização e procedimento e a prestações em sentido
estrito. Com sua ajuda, problemas como os efeitos dos direitos fundamentais perante terceiros e a repartição
de competências entre tribunal constitucional e parlamento podem ser mais bem esclarecidos. A distinção
entre regras e princípios constitui, além disso, a estrutura de uma teoria normativo-material dos direitos
fundamentais e, com isso, um ponto de partida para a resposta à pergunta acerca da possibilidade e dos
limites da racionalidade no âmbito dos direitos fundamentais.
Não faltam indícios de que a distinção entre regras e princípios desempenha um papel no contexto
dos direitos fundamentais. As normas de direitos fundamentais são não raro caracterizadas como ‘princípios’.
Com ainda mais frequência, o caráter principiológico das normas de direitos fundamentais é sublinhado de
maneira menos direta...”
• Igualdade de tratamento:
II. Igualdade de tratamento. — Se duas ou mais pessoas são 'tratadas de forma igual' ou não, isso
é também uma questão empírica. A e B são tratados de modo igual por C, se C atribui a A e B o mesmo
benefício específico (por exemplo, um voto), o mesmo ônus (um ano de serviço militar), ou então a mesma
cota de um determinado benefício ou encargo (salário, gravame fiscal). Se A pode votar, mas B não, se A é
chamado ao exército, mas B isentado, se A recebe um salário maior do que B, então A e B têm um
tratamento desigual sob esses aspectos.
• Igualdade proporcional:
VII. Igualdade proporcional. — Contudo, nós somos impelidos a considerar igualitárias a
atribuição de benefícios maiores aos mais necessitados e a prescrição de impostos progressivos sobre a renda.
E o são se o igualitarismo for entendido no sentido da 'Igualdade proporcional' ou da 'Igualdade das relações'
de Aristóteles (Política, 1301 b).
• Igualdade processual:
XI. Igualdade processual. — A Igualdade está também ligada à justiça para quem considera o
igualitarismo um princípio 'processual': 'tratem-se as pessoas de modo igual, a menos que e enquanto não
exista uma justificação para tratá-las de modo desigual' (Frankena 'in' Brandt, 1962, 8). Tomado neste
sentido, o igualitarismo não se refere absolutamente a uma característica das regras de distribuição, mas à
própria regra de distribuição, ou seja: 'todas as pessoas devem ser tratadas de modo igual, a menos que se
encontrem boas razões para tratá-las de maneira diversa".
• Regras de nivelamento:
XII. Regras de nivelamento. — Todas as definições até agora examinadas levam em conta apenas
a quantidade de um benefício específico ou gravame que há de ser atribuída a duas pessoas quaisquer, A e B.
As regras de distribuição também podem ser consideradas do ponto de vista dos resultados finais. Quanto
terão A e B após lhes haver sido aplicada a regra? Como é que se hão de redistribuir os benefícios e os
encargos entre A e B? Neste momento, temos de distinguir três fases: 1) a distribuição original — A, por
exemplo, possui 8 unidades, B apenas 2; 2) a aplicação de uma certa regra de distribuição — tomar 3 de A,
por exemplo, e dar 3 a B; 3) a redistribuição resultante da aplicação da regra de distribuição — no exemplo
específico, tanto A como B acabam por ter 5. Proponho que se chame igualitária uma regra de distribuição
quando ela nivele, ou pelo menos reduza, as diferenças entre as quantidades de bens. As regras igualitárias de
distribuição também podem ser chamadas regras de nivelamento. Ao contrário, uma regra de redistribuição
que deixe intactas as desigualdades de benefícios ou ônus anteriores, ou até as aumente, é inigualitária. O
exemplo que apresentamos antes é um caso de aplicação de uma regra de nivelamento.
• Nivelamento da riqueza:
XIII. Nivelamento da riqueza. — Mesmo existindo Igualdade de direito à propriedade, ela é
distribuída de modo desigual em quase todas as sociedades. Tal desigualdade é mais o resultado da
hereditariedade, do estado social ou da capacidade pessoal do que de uma distribuição deliberada do
Governo. Um nivelamento total dos bens exigiria, como é óbvio, o uso de distribuições acentuadamente
desiguais, ou seja, que se tirasse dos ricos para dar aos pobres. Um resultado que se poderia alcançar pela
tributação ou pela socialização ao menos dos meios de produção. Sua 'posse comum' eliminaria, segundo o
Manifesto comunista, a possibilidade da exploração de uma classe por outra; e, 'com a abolição das
distinções de classe, todas as desigualdades sociais e políticas delas derivadas desapareceriam por si,
automaticamente'.
• Igualdade de oportunidades:
XIV. Igualdade de oportunidades. — Tal como as utilidades, também as oportunidades não
podem ser dadas ou distribuídas por C a A e a B. 'A tem a oportunidade de obter x': isto significa que não
existem obstáculos no caminho para obter x, de sorte que ele pode fazer x, se quiser. C oferece a A a
65
oportunidade de alcançar x, eliminando determinados obstáculos, e põe, por isso, A em condições de obter x;
por conseguinte, o fato de A lograr alcançar x depende apenas da sua habilidade natural e adquirida e do seu
esforço. A e B têm igual oportunidade de ganhar uma corrida, se partirem ambos da mesma linha. Se A está
inicialmente atrás de B, tem de deslocar-se para a frente, para a linha comum de partida, para ter a mesma
oportunidade que B. O princípio da Igualdade, ou melhor, do nivelamento das oportunidades aplica-se por
isso à redistribuição do acesso a várias posições na sociedade e não à atribuição dessas mesmas posições. O
problema é, pois, o de fazer combinar pessoas de dotes desiguais com posições que oferecem uma
remuneração, um poder ou um prestígio desiguais. A solução é torná-las acessíveis a todos mediante a
competição. Hipoteticamente, se a todos for dado um mesmo ponto de partida, a posição que enfim ocuparão
dependerá exclusivamente da velocidade com que tiverem corrido e da distância alcançada.
4.2.1.1. Vida.
O direito à vida é o principal direito individual, o bem jurídico de maior
relevância tutelado pela ordem constitucional. Seu objeto compreende os direitos de nascer, de
permanecer vivo, de defender a própria vida, enfim, de não ter o processo vital interrompido senão
pela morte espontânea e inevitável.
4.2.1.2. Liberdade.
Direito à liberdade é a prerrogativa de fazer ou deixar de fazer alguma coisa,
senão em virtude de lei. O indivíduo é livre para fazer tudo que a lei não proíbe. Já o Poder Público,
somente pode fazer o que a lei expressamente autoriza.
São diversas as liberdades, com conceitos e tratamentos distintos entre si. São
elas: liberdades de pensamento, de consciência, de manifestação de pensamento, de opinião,
artística, de informação jornalística, de crença, de culto, de locomoção, de expressão coletiva, de
reunião, de associação, de ação profissional.
4.2.1.3. Igualdade.
A igualdade consiste em tratar igualmente os iguais, com os mesmos direitos e
obrigações, e desigualmente os desiguais, na medida das desigualdades. Somente se reveste de
inconstitucionalidade o tratamento desigual que aumenta a desigualdade natural já existente.
A própria Constituição prevê tratamentos desiguais. Exemplo: Aposentadoria com
menor idade e menos tempo de serviço para as mulheres.
A desequiparação exige um pressuposto lógico e racional que a justifique, em
consonância com os valores tutelados pela Constituição. Exemplo: Assentos reservados para
gestantes, idosos e deficientes físicos nos transportes coletivos.
73
4.2.1.4. Segurança.
É a tranquilidade que o indivíduo necessita para exercitar seus direitos
fundamentais. Os direitos relativos à segurança abrangem os direitos subjetivos em geral e os
relativos à segurança pessoal.
Os direitos subjetivos compreendem a legalidade, a segurança das relações
jurídica...
Os direitos relativos à segurança pessoal alcançam a liberdade pessoal, a
inviolabilidade da intimidade, do domicílio e das comunicações pessoais, a segurança em matéria
jurídica.
4.2.1.5. Propriedade.
O direito de propriedade, na órbita civil, consiste na prerrogativa conferida ao
indivíduo de utilizar a coisa de acordo com sua própria vontade, excluída a intervenção de terceiros,
de colher os frutos dela e de explorá-la economicamente, bem como de vendê-la ou doá-la (“ius
utendi”, “fruendi” e “abutendi”). A tutela constitucional é mais ampla, abrangendo qualquer direito
de conteúdo patrimonial, econômico, tudo que é passível de conversão em dinheiro, alcançando
créditos e direitos pessoais.
O direito de propriedade não é absoluto, estando adstrito à função social. A
Constituição, no inc. XXII do art. 5º o assegura, mas, no inc. XXIII estatui que “a propriedade
atenderá a sua função social”, ou seja, tanto na utilização como no desfrute de um bem o
proprietário deve observar a conveniência social da coisa, ajustando-se aos interesses da sociedade.
4.2.2. Direitos coletivos.
LEITURA RECOMENDADA
Os direitos [e garantias] individuais e coletivos encontram-se especialmente no art. 5º e incisos I
a LXXVIII da Constituição da República. Mister destacar, ainda:
a) Aplicabilidade imediata dos direitos e garantias fundamentais (§ 1º do art. 5º).
b) Bloco de constitucionalidade: carta de direitos brasileira não se restringe à Constituição
(Constituição + outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados + tratados
internacionais) (§ 2º do art. 5º).
c) Supralegalidade dos tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos
(equivalentes às emendas constitucionais) (§ 3º do art. 5º).
d) Submissão à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a que tenha aderido (§ 4º do art. 5º).
4.3. Direitos sociais.
4.3.1. Educação
Sob a ótica de ABBAGNANO (2007: p. 357-358), a educação é assim definida:
Em geral, designa-se com esse termo a transmissão e o aprendizado das técnicas culturais, que são
as técnicas de uso, produção e comportamento, mediante as quais um grupo de homens é capaz de satisfazer
suas necessidades, proteger-se contra a hostilidade do ambiente físico e biológico e trabalhar em conjunto, de
modo mais ou menos ordenado e pacífico. Como o conjunto dessas técnicas se chama cultura, uma sociedade
humana não pode sobreviver se sua cultura não é transmitida de geração para geração.
Podem-se, portanto, distinguir duas formas fundamentais de E.: - a que simplesmente se propõe
transmitir as técnicas de trabalho e de comportamento que já estão em poder do grupo social e garantir a sua
relativa imutabilidade; 2- a que, através da transmissão das técnicas já em poder da sociedade, se propõe
formar nos indivíduos a capacidade de corrigir e aperfeiçoar essas mesmas técnicas.
Educação, assim, é cultura, em ambas as formas. Logo, afirmar que os direitos do ser humano são
direitos “naturais”, que as pessoas “nascem” livres e iguais, não implica necessariamente em que a
consciência dos direitos seja algo espontâneo. O homem é um ser, ao mesmo tempo, natural e cultural, que
deve ser “educado” pela sociedade. A educação para a cidadania constitui, portanto, uma das dimensões
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basilares para a efetivação dos direitos fundamentais, tanto na educação formal, quanto na educação popular
e nos meios de comunicação.
No sistema constitucional brasileiro, a educação é dever da sociedade e do Estado.
Especificamente quanto ao Estado, o art. 208 assim listou os respectivos deveres:
I. educação básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, assegurada
inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria;
II. progressiva universalização do ensino médio gratuito;
III. atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV. atendimento em creche e pré-escola às crianças até seis anos de idade;
V. acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística,
segundo a capacidade de cada um;
VI. oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; e
VII. atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de
programas suplementares de material didáticoescolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
LEITURA RECOMENDADA
A educação é tratada nos arts. 205 a 214 da Carta Republicana.
4.3.2. Cultura
ABBAGNANO (2007: p. 261), assim referiu cultura:
Esse termo tem dois significados básicos. No primeiro e mais antigo, significa a formação do
homem, sua melhoria e seu refinamento. F. Bacon considerava a C. nesse sentido como ‘a geórgica do
espírito’ (De augm. scient., VII, 1), esclarecendo assim a origem metafórica desse termo. No segundo
significado, indica o produto dessa formação, ou seja, o conjunto dos modos de viver e de pensar cultivados,
civilizados, polidos, que também costumam ser indicados pelo nome de civilização (v.).
A passagem do primeiro para o segundo significado ocorreu no séc. XVIII por obra da filosofia
iluminista, o que se nota bem neste trecho de Kant: ‘Num ser racional, cultura é a capacidade de escolher
seus fins em geral (e portanto de ser livre). Por isso, só a C. pode ser o fim último que a natureza tem
condições de apresentar ao gênero humano’ (Crít. do Juízo, § 83). Como ‘fim’, a C. é produto (mais que
produzir-se) da ‘geórgica da alma’. No mesmo sentido, Hegel dizia: ‘Um povo faz progressos em si, tem seu
desenvolvimento e seu crepúsculo. O que se encontra aqui, sobretudo, é a categoria da C, de sua exageração e
de sua degeneração: para um povo, esta última é produto ou fonte de ruína’ (Pbil. der Geschichte,ed. Lasson,
p. 43).
Ora, se os direitos fundamentais implicam algo mais do que a mera dimensão
jurídica, isto significa que precisam encontrar respaldo na cultura, na história, na tradição e nos
costumes de um povo, tornando-se parte de sua identidade cultural e maneira de ser. Por isso a
realização dos direitos humanos precisa de certo tempo para se afirmar e por raízes no contexto de
uma dada sociedade.
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A cultura, na forma do art. 215 da Constituição da República, é também obrigação
do Estado que: “garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da
cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”.
Nesse contexto, cabe à União estabelecer o Plano Nacional de Cultura para
desenvolver a cultura no Brasil e integrar as ações do Poder Público para:
I. defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;
II. produção, promoção e difusão de bens culturais;
III. formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas
dimensões;
IV. democratização do acesso aos bens de cultura; e
V. valorização da diversidade étnica e regional.
LEITURA RECOMENDADA
A cultura está disposta nos arts. 215 e 216 da Constituição da República.
4.3.3. Saúde
A saúde, para ABBAGNANO (2007: p. 1026) é “a condição de bem-estar da
pessoa nas suas diferentes funções: físicas, mentais, afetivas e sociais; não se identifica com a
simples ausência de doença, mas com a plena eficiência de todas as funções: orgânicas e culturais,
físicas e relacionais”.
O art. 196 da Constituição da República também definiu o termo: “Saúde é direito
de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução
do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação”.
SILVA (2007: p. 767-768), ao analisar o retro citado dispositivo constitucional,
destacou:
A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições
indispensáveis ao seu pleno exercício... comporta duas vertentes... uma de natureza negativa, que consiste no
direito de exigir do Estado (ou de terceiros) que se abstenham de qualquer acto que prejudique a saúde; outra,
de natureza positiva, que significa o direito às medidas e prestações estaduais visando a prevenção das
doenças e o tratamento delas...
o direito é garantido por aquelas políticas indicadas, que hão de ser estabelecidas, sob pena de omissão
inconstitucional, até porque os meios financeiros para o cumprimento do dever do Estado, no caso, são
arrecadados da sociedade, dos empregadores e empresas, dos trabalhadores e de outras fontes...
LEITURA RECOMENDADA
A saúde nos arts. 205 a 214 da Carta Republicana.
4.3.4. Meio ambiente
ABBAGNANO (2007: p. 350), tratou da ecologia sob a ótica da proteção
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ambiental, nos seguintes termos:
Hoje em dia se fala de E. e de filosofias ecológicas a propósito das tendências de pensamento que
se propõem a defender o ambiente das operações devastadoras do homem. A maior expressão teórica da E.
do século XX é representada pelo pensamento de Jonas, que elaborou uma ética ambientalista baseada no
novo imperativo categórico da responsabilidade para com as gerações futuras: ‘Inclui na tua escolha atual a
integridade do homem como objeto da tua vontade’...
A Constituição da República, no art. 225, consagrou uma visão ambiental
moderníssima, ao estatuir a defesa e preservação ambiental inclusive para as gerações futuras:
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem como de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
As obrigações do Estado foram assim enumeradas:
I. preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e subsistemas;
II. preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar
as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
III. definir espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos;
IV. exigir para instalação de obra ou atividade potencialmente poluidora, estudo
prévio de impacto ambiental;
V. controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que acarretem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI. promover a educação ambiental e a conscientização pública para a preservação do
meio ambiente; e
VII. proteger a fauna e a flora.
LEITURA RECOMENDADA
O meio ambiente no art. 225 da Constituição da República.
4.3.5. Trabalho
Para ABBAGNANO (2007: p. 964), trabalho é:
Atividade cujo fim é utilizar as coisas naturais ou modificar o ambiente e satisfazer às
necessidades humanas. Por isso, o conceito de T. implica: dependência do homem em relação à natureza, no
que se refere à sua vida e aos seus interesses: isso constitui a necessidade, num de seus sentidos (v.); 2)
reação ativa a essa dependência, constituida por operações mais ou menos complexas, com vistas à
elaboração ou à utilização de elementos naturais; 3) grau mais ou menos elevado de esforço, sofrimento ou
fadiga, que constitui o custo humano do trabalho.
Enquanto direitos sociais, argumentou SILVA (2007: p. 188-1899, os “direitos
relativos aos trabalhadores são de duas ordens, fundamentalmente: (a) direitos dos trabalhadores em
suas relações individuais de trabalho - que são os direitos dos trabalhadores... e b) direitos coletivos
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dos trabalhadores - que são aqueles que os trabalhadores exercem coletivamente ou no interesse de
uma coletividade deles...”.
Na Constituição da República:
I. art. 7º representa a “carta de direitos” – não exaustiva – dos trabalhadores urbanos
e rurais;
II. art. 8º consagra a liberdade sindical;
III. art. 9º assegura o direito de greve;
IV. art. 10 garante a representação dos trabalhadores nos órgãos colegiados; e
V. art. 11 incentiva a mediação entre trabalhadores e empregadores.
LEITURA RECOMENDADA
Os direitos dos trabalhadores nos arts. 6º a 11 da Carta Republicana.
4.3.6. Assistência social
Para SILVA (2007: p. 782), a assistência social: “É direito fundamental da pessoa
humana a que corresponde o dever do Estado, mediante o estabelecimento de política de Seguridade
Social que proveja os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de
iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição”.
De conformidade com o disposto no art. 203 da Constituição da República tem
caráter universal, pois será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à
seguridade social.
Os objetivos da assistência social, na forma do citado art. 203 da Constituição da
República, abrangem:
I. a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II. o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III. a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV. a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de
sua integração à vida comunitária; e
V. a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-
la provida por sua família.
LEITURA RECOMENDADA
A assistência social nos arts. 203 e 204 da Constituição da República.
4.3.7. Minorias
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O ordenamento constitucional oferece especial proteção à família, à criança, ao
adolescente, ao jovem e ao idoso, conforme expressamente dispõem os arts. 226 e 230. Destarte, é
dever conjunto da família, da sociedade e do Estado amparar e prover a criança, o adolescente, o
jovem e o idoso.
A Constituição da República foi ainda mais longe e incluiu entre os objetivos da
Pátria brasileira o combate a toda e qualquer forma de discriminação negativa, incluso a
discriminação racial, sexual e outras.
Nas palavras de SILVA (2007: p. 851): “O MUNDO DE TODOS NÓS... um
mundo em que todos nós estivemos, ou estamos, ou poderemos estar inseridos”.
LEITURA RECOMENDADA
As minorias nos arts. 226 (família), 227 (dever da família, da sociedade e do Estado proteger crianças,
adolescentes e jovens), 228 (inimputabilidade dos menores de 18 anos), 229 (dever de assistência
recíproca de pais e filhos e 230 (dever da família, da sociedade e dos Estado amparar as pessoas idosas.
4.3.8. Populações indígenas
E SILVA (2007: p. 866) indicou o real significado da proteção constitucional:
“O sentimento de pertinência a uma comunidade indígena é que identifica o índio. A dizer, é índio
quem se sente índio... A Constituição de 1988 revela um grande esforço no sentido de preordenar um sistema
de normas que pudesse efetivamente proteger os direitos e interesses dos índios. E o conseguiu, em um limite
bem razoável.”
Com efeito, na forma do art. 231 da Constituição da República, são reconhecidos
aos índios sua origanização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários
sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer
respeitar todos os seus bens.
LEITURA RECOMENDADA
As comunidades indígenas nos arts. 231 e 232 da Carta Republicana.
LEITURA RECOMENDADA
Os direitos da nacionalidade estão dispostos nos arts. 12 e 13 da Carta Republicana.
LEITURA RECOMENDADA
Os direitos políticos constam dos arts. 14 a 16 da Carta Republicana.
4.5.4. Partidos políticos.
São associações constituídas para a participação da vida política de um país, para
a formação da vontade nacional, com objetivos de propagação de idéias e de conquista, total ou
parcial, do poder político.
Os partidos políticos subordinam-se a dois princípios constitucionais: a ampla
liberdade partidária e a autonomia partidária.
Pela ampla liberdade partidária é livre a criação, a fusão, a incorporação e a
extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o
pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os preceitos previstos
na Lei Maior (art. 17, “caput” e incs. I a IV): caráter nacional; proibição de recebimento de recursos
financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes; prestação de contas à
Justiça Eleitoral; e funcionamento parlamentar de acordo com a lei.
Pela autonomia partidária (§ 1º do art. 17 da Constituição) é assegurada aos
partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento e para
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adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de
vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus
estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.
LEITURA RECOMENDADA
Os partidos políticos no art. 17 da Carta Republicana.