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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIA
FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA
POLO APICUM-AÇU

GERDANE SANTOS BORGES

PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS MORADORES DO POVOADO ITEREREZINHO


- APICUM-AÇU, MA

Apicum-Açu – MA
2020
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIA
FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA
POLO APICUM-AÇU

PERFIL SÓCIOECONÔMICO DOS MORADORES DO POVOADO


ITEREREZINHO-APICUM-AÇU, MA

Monografia apresentada ao Curso de


Geografia da Universidade Federal do
Maranhão para obtenção parcial de nota
de conclusão de Curso.

Orientador: Prof. Dr. Juarez Mota


Pinheiro

Apicum-açu- MA
2020
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIA
FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA
POLO APICUM-AÇU

ATA DE APROVAÇÂO

Monografia de autoria de GERDANE SANTOS BORGES intitulada “ PERFIL


SOCIOECONÔMICO DOS MORADORES DO POVOADO ITEREREZINHO-
APICUM-AÇU, MA” apresentada como requisito parcial para obtenção de
certificado.

Defendida em ____ de ____________ de 2020, defendida e aprovada pela


banca examinadora abaixo assinada:

________________________________________________

Prof. Dr. Juarez Mota Pinheiro


Orientador

_______________________________________________

Prof. (Nome do Professor)


Examinador

________________________________________________

Prof. (Nome do Professor)


Examinador
Resumo

Uma sociedade é conjunto de pessoas que vivem em certo período de tempo


eu em um determinado espaço geográfico e que acabam desenvolvendo uma
representação que os identifica e os particulariza , as características sociais e
econômicas influenciam com preponderância o modo de vida de uma nação,
povo, grupo ou comunidade. Assim uma comunidade precisa ser analisada e
compreendida sob seus contextos econômicos e sociais. Nessa análise
investigativa dos fatos e circunstâncias identifica-se as influências diretas e
indiretas que são proporcionais nas vidas dos entes sociais de uma
comunidade. Sob essas afirmativas foi elaborado este trabalho monográfico no
intuito de investigar sobre o modo de vida do povoado Itererezinho, localizado
no município de Apicum-Açu-MA, o povoado de Itererezinho que dista cerca de
6 quilômetros da sede municipal. Foi escolhido para essa pesquisa, onde foi
possível obter resultados satisfatórios, que foi identificado as principais
atividades econômicas, a média da renda familiar, as mudanças sociais mais
recentes, a importância dos materiais tecnológicos, entre outros fatores
peculiares. Portanto, este trabalho de pesquisa objetiva identificar as condições
em que se encontram os moradores de Itererezinho a partir do seu perfil
socioeconômico.

Palavras-chave: Perfil socioeconômico; Desenvolvimento social; Itererezinho.


5

SUMÁRIO
1

INTRODUÇÃO................................................................................................ 5
2

METODOLOGIA............................................................................................. 7
3 PERFIL SOCIOECONÔMICO NO
BRASIL.................................................... 9
3.1 A IMPORTÂNCIA DOS PROGRAMAS SOCIAIS.........................................
11
4 ASPECTOS ECONÔMICOS NO
BRASIL.................................................... 18
4.1 BREVE CONTEXTO HISTÓRICO................................................................
18
4.2 A ECONOMIA BRASILEIRA.........................................................................
32
4.3 A IMPORTÂNCIA DOS PROGRAMAS SOCIAIS ........................................
34
5 PERFIL SOCIOECONÔMICO DO
MARANHÃO.......................................... 38
6 PERFIL SOCIOECONÔMICO DO POVOADO
ITEREZINHO...................... 39
6.1 CONHECENDO O
TERRITÓRIO.................................................................. 39
6.2 ASPECTOS
ECONÔMICOS......................................................................... 39
6.2.1 Pecuária.......................................................................................................
39
6.2.2 Lavoura........................................................................................................
39
6.2.3 Estabelecimentos comerciais, serviço público e
pesca........................... 40
6.2.4 Bolsa família e
Aposentadoria.................................................................... 41
6.3 DADOS
EDUCACIONAIS.............................................................................. 42
6.4 CENÁRIO POLÍTICO E
CULTUAL................................................................. 45
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................
44
REFERÊNCIAS
ANEXOS
5

1 INTRODUÇÃO

As relações de uma comunidade movimentam-se por diversas


interações, entre elas, destaca-se às socioeconômicas. Por isso, torna-se
essencialmente necessário estudar o perfil social e econômico de uma
determinada localidade, um estudo aguçado sobre a realidade de um povo
proporciona o conhecimento clarividente sobre as condições de vida das
pessoas que formam essa comunidade. Com o conhecimento da realidade é
possível promover intervenções inteligíveis e conscientes para uma possível e
necessária transformação social. Com essas intervenções pode-se mudar os
meios de produção e renda, a educação, a percepção de mundo e as relações
entre as pessoas, estabelecendo uma mentalidade coletiva e menos
individualista.
Este trabalho, que tem como tema “o perfil socioeconômico dos
moradores do povoado de Itererezinho”, estão presentes questões que
discutem o problema sobre como os aspectos econômicos e sociais na
localidade estudada influenciam as atividades diárias e visão de futuro: como
contribuem para a aquisição de melhorias (na renda e na educação) ou para o
desenvolvimento dos entes comunitários, e como esses aspectos colaboram
para a socialização e formação da personalidade coletiva e se proporcionam
uma dinâmica significativa no desenvolvimento socioeconômico .
Algumas das questões que nortearam o trabalho foram:
- Quais as principais atividades econômicas dos moradores de
Itererezinho?
- Em que níveis de estágio de desenvolvimento encontram-se as
condições de saúde, educação, cultura e moradia do povoado;
- Como as condições socioeconômicas estão influenciando no nível de
escolaridade?
O objetivo, enfim, é identificar e constatar o perfil socioeconômico da
comunidade e conhecer as interações de um povo, contextualizando as
evoluções e estagnações e como se encontram os moradores da comunidade.
Inicialmente são apresentados os procedimentos metodológicos, com a
exposição da forma como a pesquisa foi elaborada. O presente trabalho
utilizou, além da pesquisa bibliográfica, uma pesquisa de campo,
comprometida com a realidade local, com amostra intencional simples. A coleta
de dados foi realizada através de observação e questionário estruturado,
aplicado aos moradores do povoado de Itererezinho do município de Apicum-
Açu.
Inicialmente é feito o levantamento sobre o perfil socioeconômico no
Brasil, que dá suporte teórico ao projeto. Através de pesquisa bibliográfica
constata-se que o perfil socioeconômico é um documento elaborado por uma
determinada instituição contendo dados econômicos, sociais e culturais de uma
nação, estado ou município. É uma riquíssima fonte para analises com
descrições e dados, abrangendo todos os setores para ter-se uma
compreensão mais detalhada dos fatos.
Tem por objetivo compartilhar dados e informações, visando estimular
investimentos, mostrando as potencialidades de um município, por exemplo;
oferecendo subsídios para pesquisas escolares, mostrando os índices de
qualidade de vida. O perfil socioeconômico dá uma visão retrospectiva da
história e do desenvolvimento das ações implementadas pelos poderes
eletivos.
Aqui, socioeconômico é entendido como um adjetivo atribuído a toda
prática que relaciona situações, circunstancias e aspectos que afetem tanto a
ordem social como a economia de uma local ou região. Normalmente, a prática
socioeconômica é relacionada com o conjunto de variáveis subjetivas que
qualificam um indivíduo ou um grupo dentro de uma hierarquização ou
nivelamento social.
O quarto capítulo procura compreender os aspectos econômicos no
Brasil, pois o desenvolvimento econômico é preponderante para geração de
emprego e renda às pessoas. São analisados alguns materiais bibliográficos
que destacam as faces da economia para o desenvolvimento nacional, esse
desenvolvimento abrange também o aspecto político social. Nesse contexto,
será realizada uma análise sobre as condições econômicas dos brasileiros,
onde buscar-se entender o cenário atual da produção econômica nesse país
industrializado. É abordado também a pobreza nos dias atuais, que faz parte
da realidade da maioria das famílias brasileiras, que se encontram submetidas
às condições precárias de existência.
O desenvolvimento econômico, aliás, pode ser conceituado como um
5

processo de enriquecimento financeiro dos países e seus habitantes, ou seja,


uma economia ascendente não garante prioritariamente a igualdade entre
classes sociais. O Brasil é marcado pelas intensas desigualdades sociais, que
precisam ser reparadas com responsabilidade pelas instituições competentes
na garantia de direitos constitucionais.
O quinto capítulo tem a finalidade de compreender o perfil
socioeconômico no Maranhão. Onde será destacado os aspectos da economia
e as condições sociais dos maranhenses. O maranhão é um estado com
grande potencial econômico que precisa explorar suas riquezas com
inteligência e promover a distribuição de renda.
O resultado da pesquisa de campo é apresentado e discutido no sexto
capítulo. Quando são expostas as respostas dos entrevistados para as
questões apresentadas. Uma das conclusões é de que a maioria dos
entrevistados apresentam condições econômicas similares, onde as
disparidades financeiras são quase inexistentes. Ainda no sexto capitulo serão
divulgados os dados da comunidade, o número de habitantes, as profissões, o
nível de escolaridade e o desenvolvimento da agricultura. Será apresentado
também um breve contexto histórico do povoado, que é baseado em
exposições orais, pois os documentos escritos foram perdidos ao longo dos
anos. A conclusão da pesquisa de campo e baseada nas mudanças
econômicas e sociais nos últimos cinco anos.
O trabalho termina com as considerações finais sobre o tema e o
anexo dos questionários utilizados nos períodos de observação e pesquisa de
campo. Com ele, espera-se contribuir para aprofundar reflexões sobre a
necessidade de desenvolver uma comunidade, que precisa ser orientada para
o progresso econômico, político, cultural e social. Uma nova postura que
precisa ser assumida pelos moradores da comunidade de Itererezinho, pelos
governantes e demais povoados vizinhos - incluindo hábitos produtivos e
contínuos – exigindo de todos um comprometimento com o bem-estar coletivo.
2 METODOLOGIA

A presente monografia utilizou uma metodologia que partiu de uma


abordagem de pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo, de caráter
quantitativo e qualitativo, utilizando como instrumentos de coleta de dados a
observação criteriosa e um questionário estruturado e uma amostra de
população intencional simples.
A intenção foi verificar, através do questionário, o posicionamento dos
moradores sobre as relações socioeconômicas que caracterizam o perfil
daquela comunidade. Esse mecanismo de pesquisa possibilitou descobertas
significativas sobre o censo comum em relação as questões de interesse
social. Onde constata-se que a maioria dos moradores vivem em torno de
objetivos comuns: - o principal objetivo é ver os mais jovens na escola e
buscarem um futuro melhor. Todavia, a grande preocupação contemporânea é
o combate as drogas, a grande maioria das famílias formadas a partir dos anos
2000 demonstram receios em relação ao crescente número de usuários de
drogas no povoado.
Foram aplicadas oito questões aos moradores do povoado. A maior
parte da população é composta por lavradores ou pescadores. Trabalham em
terrenos próprios ou em áreas comunitárias. A população é dividida entre
crianças, adolescentes, adultos e idosos.
A coleta de dados foi realizada através de questionário estruturado com
dez questões abertas, aplicados aos moradores (ver anexo). As pessoas
entrevistadas foram receptivas e não hesitaram em responder os
questionamentos. Alguns preferiram responder de forma escrita, mas as
maiorias responderam oralmente. Os resultados da pesquisa de campo serão
divulgados no quinto capítulo deste trabalho.
5

3 PERFIL SOCIOECONÔMICO NO BRASIL

Uma sociedade onde as pessoas desfrutam uma de uma boa


qualidade de vida, pode-se afirmar que essa sociedade apresenta
características de bom desenvolvimento social. Desenvolver uma nação é
promover igualdade de direitos entre as pessoas, pois todos precisam ser
vistos e assistidos diante dos problemas que assolam o Brasil. Principalmente
os mais pobres. Assim, torna-se necessário conhecer o perfil socioeconômico
dos brasileiros. E a importância dos programas sociais para igualdade de
direitos.
“ As regiões brasileiras apresentam condições geográficas
distintas, traços particulares de cultura e nível desiguais de
desenvolvimento econômico e social. Tudo isso é importante para
entendermos porque é tão impróprio falar de “cultura brasileira” –
como se fosse uma cultura única e homogênea – e “ realidade
brasileira” como se a realidade do pais pudesse ser capturada de
uma só vez, por um gesto ou por uma explicação. ” (BOMENY, 2013,
p. 217).

Traçar ou definir o perfil do povo brasileiro é uma tarefa difícil, o Brasil


é um país com dimensões continentais. Por essas circunstâncias se pretende
fazer uma análise geral e não pormenorizada dos fatos que definem ou tentam
definir a realidade do pais.
Atualmente, o Brasil é definido como uma Nação democrática e
capitalista, em tese todos deveriam desfrutar de direitos e deveres igualitários,
onde as oportunidades são oferecidas e aqueles mais preparados e
capacitados recebem os benéficos desse modelo de país em processo de
desenvolvimento. Todavia, a prática é um pouco diferente, as oportunidades
não são oferecidas proporcionalmente a todos. Para Tomazy (2010), “...se há
alguma coisa que caracteriza o Brasil nos últimos anos, é sua condição como
um dos países mais desiguais do mundo. ”
Analisando as interações econômicas, políticas e sociais no Brasil é
mais fácil compreender o perfil dos brasileiros. Esse perfil, aliás pode ser
denominado da seguinte forma: primeiro vem aqueles que trabalham, na esfera
pública ou privada produzindo os bens e serviços que esse país precisa para
continuar crescendo e para sua manutenção. É a classe trabalhadora que dita
a dinâmica da nação, não importa em qual área de atuação trabalhista, sempre
tem alguém trabalhando e produzindo, formal ou informalmente. Segundo vem
aqueles que mais usufruem das riquezas do país. São os donos dos meios de
produção e a classe política. Esses vivem com estilo de vida diferenciado, onde
os seus direitos são garantidos. Esse é basicamente o modelo da sociedade
brasileira.
Esse modelamento de sociedade é resultado do processo de
industrialização e urbanização iniciado no século XX.
“ À medida que sociedade brasileira se industrializou e se urbanizou,
novos contingentes populacionais foram absorvidos pelo mercado de
trabalho nas cidades. Esse processo iniciou-se nos primeiros anos do
século XX, acelerando-se na década de 1950, quando se
desenvolveu no país um grande esforço de industrialização, trazendo
junto a urbanização. Criou-se assim um proletariado industrial,
milhares de outros trabalhadores foram atraídos para as cidades a
fim de exercer as mais diversas atividades: empregados do comércio
bancários, trabalhadores da construção civil, entregadores,
empregados domésticos, vendedores ambulantes, etc. Os setores
médicos antes constituídos basicamente pelos militares e
funcionários públicos, também se diversificaram e cresceram
reunindo numerosos profissionais liberais, pequenos e médios
comerciantes. ” (TOMAZI, 2010, p. 85).

Com isso o país apresenta uma série de desigualdades nas esferas


federativas municipais, estaduais e regionais. Tudo isso mostra que o país
ainda está em um processo de construção política, cultural e social, onde os
governantes são agentes essenciais nesse processo de construção das
melhorias sociais. Para isso, a população deve atuar e se manifestar, como
um ponto de intercessão consciente, sendo um povo com voz e vez.
A situação socioeconômica no Brasil está bastante correlacionada com
as desigualdades, aqueles que detém os bens financeiros desfrutam de saúde
e educação de qualidade, já as pessoas mais pobres têm sem direitos limitados
ou privados. Segundo Bomeny (2013), “ os pobres seguem tendo seus direitos
civis muitas vezes desrespeitados. Seu acesso às instituições promotoras do
bem-estar e da cidadania é significativamente mais restrito quando comparado
5

com o das camadas medias e altas. ”


Isso revela que o cidadão com maior poder econômico ver seus direitos
garantidos, enquanto o cidadão com dificuldades financeiras ver seus direitos
negados, isso é bem descrito por Boligian (2001):
“ A parcela considerada mais rica da população (cerca de 17
milhões de pessoas) reside em casas confortáveis, em bairros com
infraestrutura completa, estuda nas melhores escolas e universidades
e tem, ainda, acesso a médicos e hospitais de melhor qualidade. Por
outro lado, cerca de um terço dos brasileiros vivem em situação de
pobreza, ganhando menos de um salário mínimo ao mês. São
milhões de famílias que moram em habitações inadequadas, sem
condições de higiene e conforto, onde não há saneamento básico,
como água encanada e esgoto, nem mesmo luz elétrica. Para essas
famílias, o acesso aos serviços de saúde também é precário. ”
(BOLIGIAN, 2001, p. 43).

Atualmente é notável o grande crescimento dos meios de produção, a


alavancagem da economia e as melhorias nas condições de vida do brasileiro.
O acesso à educação é uma realidade para a grande parte da população.
Assim, a visão que se tem é que socioeconomicantemente o Brasil vem
obtendo avanços lentos, mas significativos. Todavia, segue-se o dilema das
desigualdades, onde há a sensação que ainda é preciso evoluir em vários
aspectos que resultem em algo próximo de um nivelamento de oportunidades.
Pois o censo comum concebe que o Brasil é um país com riquezas
imensuráveis, e fica sempre o questionamento: - se há tantas riquezas, por que
existem tanta pobreza no território nacional?
Há a necessidade de se estabelecer bases organizacionais sólidas
para alcançar o status de nação rica e como uma população com direitos
garantidos, por conseguinte, conseguindo o chamando bem-estar social. Essas
bases perpassam por uma educação de qualidade e pela elaboração de
modelos de produção que beneficiem tanto os donos de bens ou serviços,
quanto os envolvidos nessa construção, a classe trabalhadora. Pois as
desigualdades atuais são resultantes de processos e experiências sociais:
“ As desigualdades são conjunturas de processos e experiências
sociais que favorecem alguns indivíduos ou grupos em detrimento de
outros. Existem muitas situações que ajudam a compreender como
alguns seguimentos sociais são beneficiados no acesso aos bens da
civilização (educação, saúde, moradia, consumo, arte, esportes etc.)
e nas competições do mercado. Famílias de maior renda podem
colocar seus filhos em boas escolhas privadas. No futuro, esses filhos
com escolaridade maior e de melhor qualidade, terão mais
oportunidade de trabalho, possivelmente receberão salários melhores
e ainda terão grandes chances de melhorar de vida. ” (BOMENY,
2013, p. 279).
Assim, investir em educação de qualidade para todos é essencialmente
necessário para a melhoria socioeconômica. Com educação de qualidade os
mais pobres podem conseguir ascendência econômica e social, por
conseguinte, haverá o processo de extinção das desigualdades, essa meta
pode ser vista como utópica. Então, cabe ressaltar que já houve tempos mais
adversos que os dias atuais.
Para a organização igualitária nos meios de produção, entre os
detentores de bens e serviços e a classe trabalhadora, sugere-se um modelo
de produção econômica que tenha abrangência na distribuição de renda, pois o
trabalho é principal fonte geradora de riqueza. Para isso, o modelo
cooperativista se apresenta como solução:
“ [...] uma cooperativa bem orientada e a participação efetiva de
todos os sócios pode-se transformar num grande fator de
transformação social. E a cooperativa possui ainda uma grande
vantagem sobre os demais aparelhos, pois ela conta com uma base
econômica que lhe dá possibilidade de agir livre e autonomantemente
no aspecto financeiro, sem depender diretamente do dinheiro, do
Estado ou do Capital. Os aparelhos da educação, religião, família, e
mesmo sindicato, não possuem tanta chance de autonomia, pois não
possuem uma base econômica garantida. Esse fator transforma a
cooperativa numa instituição de grandes possibilidades para forçar
alternativas diferentes das permitidas pelo Estado ou capital. Numa
cooperativa podem surgir e estabelecer-se relações bem diferentes e
até mesmo antagônicas, das relações de dominação e exploração
capitalistas. Todo problema está em explorar estas brechas e ocupar
os espaços que surgem dessas contradições que o sistema
capitalista não consegue fechar. No momento em que as
cooperativas se multiplicarem, e não permitirem que o trabalho seja
explorado, os donos do capital ver-se-ão em dificuldades de manter
seu controle total sobre a exploração do trabalhador. Menos vai
vender sua força de trabalho ao capital, tentando trabalhar no que é
deles e não se deixando explorar. Para isso é fundamental a união
dos que trabalham e muita criatividade para estabelecer novos tipos
de empresas, com novas estruturas, que propiciarão um progresso
bem maior tanto para como também para os que trabalham, os
atravessadores que vivem unicamente do dinheiro e trabalho dos
trabalhadores irão diminuir sempre mais, pois serão dispensados, e
os que trabalham serão donos de sua própria atividade. ”
(GUARESCHI, 2003, p. 135).

Portanto, essa compreensão organizacional das bases nacionais é


fundamental para o desenvolvimento significativo. É a partir das bases ou
princípios que surgem as discussões e ponderações dialéticas para a
resolução dos problemas que assolam a nação nos dias contemporâneos. Para
Guareschi (2003), “[...] o diálogo supõe amor. Supõe estar um ao lado do outro
e não um por cima do outro. Porque todos sabem alguma coisa. ” O
5

alinhamento das condições de vida é alcançado quando há interesse


concomitante dos entes sociais. Assim pessoas de diferentes regiões, religiões,
agremiações, opção sexual ou gênero precisam ser ouvidas, esse cenário de
debate só acontece quando todos dispõem de educação de qualidade. A
educação constrói uma sociedade com “mentes” autônomas, interdependentes
e que se correlacionam para fins coletivos e satisfatórios a todos os envolvidos
nessa construção social.
Diante disso, as estatísticas do cenário socioeconômico servem como
pressuposto para a não continuidade desse modelo atual, onde a grande
maioria da população não tem os direitos constitucionais garantidos. Como
observa-se:
“ Dados da Pesquisa nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de
2009 mostram que o percentual de pessoas de 15 anos de idade ou
mais com menos de estudos é de 20´3% no Brasil, persistindo a
desigualdade entre regiões. No Nordeste, a taxa de analfabetismo
funcional é de 30.8%; já no Sudeste é de 15,2%. Em muitos outros
aspectos as distâncias podem ser percebidas. Os indicadores de
educação e saúde são sempre lembrados, porque, se um ou outro
forem muito baixos, todos os demais (renda, moradia, posição social)
se alteram. São áreas tão importantes que, no início do século XX,
nas primeiras décadas da República, caravanas de cientistas e
educadores percorram o Brasil para identificar e denunciar o que
diagnosticaram como o “ flagelo nacional”: as más condições
educacionais e sanitárias. Miguel Pereira, médico sanitarista, chegou
a dizer em 1916 que “ o Brasil é um imenso hospital[...]”. BOMENY,
2013, p. 219-220).

Assim, fica clarividente que a condição socioeconômica no Brasil tem


vários contrastes e faces, todavia, está claro que há desníveis na distribuição
de renda, nas garantias de direitos e nas condições de vida. Isso ressalta a
importância de aperfeiçoar, a disponibilidade de educação para todos, e as
relações de trabalho. Com o fim de alcançar o status de um país igualitário e
desenvolvido socioeconomicamente.
Portando, a classe trabalhadora precisa se desenvolver e se unir na
busca de benefícios comuns, buscando por seus direitos e lutando por boas
condições de trabalho. Reitera-se a importância da educação pública de
qualidade e a reestruturação dos meios de produção e distribuição de renda.

3.1 A IMPORTÂNCIA DOS PROGRAMAS SOCIAIS

Como já visto, o Brasil é um país em processo de desenvolvimento


socioeconômico e de consolidação de uma democracia abrangente, com bases
fundamentadas no respeito à vida humana e na garantia de direitos
constitucionais e fundamentais. Dessa maneira, muitas ações precisam ser
tomadas, entre essas ações destaca-se aqui a distribuição de renda entre as
pessoas e a garantia de acesso à educação. Nos últimos anos alguns
programas sociais vêm proporcionando a redistribuição de renda e o ingresso
ao ensino superior para os mais pobres. Os programas governamentais
surgiram a partir da análise dos indicadores sociais, como se observa:
“Já na década de 1990, organismos nacionais e internacionais
criaram índices sobre as desigualdades e a pobreza que revelam
dados muito interessantes. No Brasil dispomos, por exemplo, da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), desenvolvida
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), e o Indicie
de Desenvolvimento Humano (IDH), que a ONU publica por meio do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD.).
Esses índices apontam as mais variadas formas de desigualdades,
deixando de lado a questão das classes sociais e a exploração
existente. O fundamental é quantificar os pobres, os ricos, os setores
médicos, e os remediados na sociedade brasileira e como, pois, o
objetivo central é descrever a realidade em números e gráficos para
orientar políticas públicas e investimentos nesta ou naquela área. Foi
assim que nasceram vários programas governamentais – o Fome
Zero, Bolsa Família, o Bolsa Gás e outros tantos. ” (TOMAZI, 2010,
p.90).

Os programas sociais são fundamentais na distribuição de renda,


várias famílias que antes sofriam com a falta de renda ou com a falta de
atendimento nas mais diversas situações do dia a dia, tiveram suas vidas
transformadas nos últimos anos com a implementação de vários programas
governamentais. Aqueles que não tinham rendimentos nem mesmo para a
alimentação diária passaram a ter a garantia de renda mensal para
manutenção da própria existência. Os programas sociais são fundamentais
para distribuição de renda, assim como para o acesso à educação de
qualidade. No ano de 2001 a renda do Brasil estava concentrada na mão de
poucos, causando grandes desigualdades, como é possível observar:
“ A distribuição de renda é a maneira pela qual a riqueza gerada em
um país, estado, município, ou região encontra-se distribuída entre
sua população. Atualmente, o Brasil está entre os países do mundo
onde a distribuição de renda é mais desigual: segundo pesquisas da
ONU (Organização das Nações Unidas), os 10% mais ricos possuem
uma renda cerca de trinta vezes maior que a dos 40% mais pobres.
Desse modo, é possível perceber que a renda em nosso país está
extremamente concentrada nas mãos de uma pequena parcela da
população. Essa elevada concentração de renda provoca grandes
desigualdades sociais. ” (BOLIGIAN, 2001, p. 43).
5

Atualmente, pouca coisa mudou, pois ainda existe muita renda


concentrada nas mãos da parcela da população mais rica. Segundo Machado
(2017), “ o Brasil continua apresentando um dos mais altos índices de
desigualdade social do mundo”. Porém o Bolsa Família é um programa
abrangente na transferência e distribuição direta de renda no Brasil e viabiliza a
diminuição das desigualdades, pois é direcionado às famílias em situação de
pobreza extrema. De modo, que consigam superar a situação de
vulnerabilidade e pobreza. Esse programa busca garantir a essas pessoas o
direito à alimentação, o acesso à educação e à saúde. Estima-se que mais
13,9 milhões de famílias são atendidas em todo território nacional. A renda
proveniente desse Programa garante a segurança alimentar e nutricional,
combate à pobreza e outras formadas de privações dos direitos sociais, além
de promover o acesso à rede de serviços públicos, em especial, saúde,
educação e assistência social. Além de tudo, o Programa Bolsa Família
promove a distribuição de renda para alcançar o objetivo de promover
equidade entre as pessoas.
Exemplificando, a questão da igualdade, imagina-se uma criança de
família pobre que não dispõe de renda suficiente para manutenção dessa
criança na escola. Nessa possível circunstância os pais dessa criança ver-se-
ão obrigados a retirá-la da escola, incumbindo-a de serviços braçais que
garantem minimamente a subsistência. Nessa possibilidade, dificilmente teria
uma ascensão social. Todavia, o Programa Bolsa Família ou qualquer outro
programa governamental permitiria a essa família a manutenção dessa criança
na escola. Onde o possível final dessa história, seria a de alguém que superou
a pobreza por meio da educação.
Os programas sociais também aumentam as chances dos mais pobres
ingressarem na universidade, isso garante a qualificação profissional para o
ingresso no mercado de trabalho. A qualificação para o trabalho ajuda na
diminuição dos índices de desigualdades sociais. Nos últimos anos a
participação dos mais pobres no ensino superior público cresceu
significativamente. Na outra ponta, os mais ricos deixaram de ser maioria entre
os que estão em curso de nível superior. Esse aumento de participação por
parte da população mais pobre se deu pelo aumento de vagas, cotas e créditos
educativos. A participação dos mais pobres em cursos superiores é
fundamental para o crescimento do país e para à igualdade entre as pessoas.
Pois a educação liberta os oprimidos e diminui exponencialmente a força dos
opressores. Por conseguinte, haverá um nivelamento social, onde as pessoas
poderão construir relações mais justas e igualitárias. Esse cenário de
crescimento e desenvolvimento social e educação não se manifestaria se
houvesse políticas públicas voltadas para esse fim.
Assim, os programas sociais ou governamentais são fundamentais
para promoção da igualdade e precisam ser melhorados e amplificados, para
que mais brasileiros tenham suas possiblidades de melhoria nas condições de
vida. Qualquer indício de diminuição da capacidade ou extinção dos programas
sociais, precisa ser combatido pela união da sociedade, é admissível a perca
dos progressos até conquistados. Se for para interferir em programas sociais,
que seja para aperfeiçoa-los e para garantir o aumento da capacidade de
contemplação. Pois esse mecanismo de distribuição de renda e promoção de
educação de qualidade estão aí para desqualificar as desigualdades.
Os programas governamentais também garantem o acesso a
moradias, esses programas de habitação são de suma importância para a
população mais pobre, pois os custos da construção civil são muito altos. Uma
família de baixa renda leva anos trabalhando para construir a casa própria,
mas, mesmo com muito trabalho e dedicação esse é um projeto muito difícil de
ser realizado. Essa dificuldade aumenta quando se trata dos moradores de
áreas urbanas, o alto custo de vida e os baixos salários inviabilizam a
realização do sonho da casa própria, onde os mais pobres vivem no dilema de
pagar os aluguéis mensais e quando o desemprego bate à porta, sofrem o
constrangimento de serem despejados. O programa Minha Casa Minha Vida do
Governo Federal mudou a vida de muitas pessoas no território Nacional,
trazendo dignidade e qualidade de vida para muitas famílias que tiveram a
oportunidade de viver em suas próprias residências.
Dentro desse contexto, não se pode negar a importância inquestionável
dos programas sociais para garantia de uma sociedade mais justa e igualitária,
onde os direitos garantidos devem ser disponibilizados a todos os cidadãos que
compõe um país, estado ou munícipio.

4 ASPECTOS ECONÔMICOS NO BRASIL


5

4.1. BREVE CONTEXTO HISTÓRICO

O Brasil passou por diversos ciclos econômicos na sua história, que


foram responsáveis pela sua ocupação e desenvolvimento. No século XVI a
economia era baseada na exploração do pau-brasil. Para Albuquerque (1977),
essa fase não foi significativa para a economia brasileira.
“ A primeira fase da história econômica brasileira vinculada à
extração do pau-brasil, não poderia levar a qualquer processo de
crescimento auto-sustentado. [..], esta atividade econômica não gerou
quaisquer efeitos-difusão; o processo da coleta de madeira era
executado pela população nativa em troca de artigos de pequeno
valor e, portanto, não levou, através do conhecido mecanismo
multiplicador-acelerador a quaisquer encadeamentos de renda-
consumo.
Em consequência de sua natureza extrativa, a função de
produção associada ao comércio do pau-brasil não gerou qualquer
encadeamento de produção, para frente ou para trás: Além disso, já
que não originou um estabelecimento permanente no Brasil, esta fase
econômica pôde ser caracterizada por preponderância completa de “
fatores externos”. Salários, lucros, aluguéis e juros eram pagos no
exterior e, por conseguinte, além da falha em gerar um mercado
interno, isso conduziu à acumulação de capital na Europa e não no
Brasil. ” (1977, p. 17).

Ainda em meados desse mesmo século houve o desenvolvimento da


cultura açucareira que transformou o país na maior agroindústria de açúcar do
planeta. Com a utilização de mão de obra escrava esse negócio se tornou
altamente lucrativo para a então colônia portuguesa. Schmidt (2005), relata
que:
“O açúcar foi importante para os europeus e também para a nossa
história. Afinal, foi exatamente por causa dele que os portugueses
resolveram colonizar o Brasil! Na Europa é muito difícil plantar cana-
de-açúcar. Mas no litoral do Nordeste é diferente: as chuvas são
boas, o clima é quente e existe o ótimo solo massapé. Para os
portugueses, portanto, o clima tropical e a terra do Brasil eram uma
riqueza que não existia na Europa. Vieram para o Brasil se tornar
grandes donos de plantações de cana. Nos séculos XVI e XVII, o
Brasil foi o maior produtor mundial de açúcar! [...] ” (p. 208).

A partir do século XVII entra em decadência a economia canavieira e


aumenta a produção de ouro que passou a ser uma alternativa econômica com
grande rentabilidade. Depois de muitas tentativas frustradas, os bandeirantes,
enfim, descobriram ouro em grande quantidade no Brasil, o início do século
XVIII foi marcado pela “ corrida do ouro” que ocorreu no sertão de minas,
milhares de pessoas de todas as partes emplacavam nessa jornada. Em torno
da produção mineradora formou-se um mercado produtor de bens e serviços.
Segundo Adas (2002), “a atividade mineradora semeou cidades, abriu vários
caminhos em várias direções e teve uma participação muito grande no
progresso de construção e organização do espaço, principalmente na região
Sudeste”. Já no século XIX inicia-se o ciclo do café. Ainda segundo Adas
(2002), “Com a perda da renda obtida com a atividade mineradora, Portugal,
ávido por lucros, buscava um produto que tivesse boa aceitação ou mercado
comprador[...]. O produto encontrado foi o café”. Nos primeiros anos do século
XX a economia estava centralizada na chamada política do café com leite. São
Paulo possuía as maiores plantações de café do país e o leite era produzido
em grandes quantidades em Minas Gerias, com isso esses dois estados
mantinham um acordo de alternância na presidência da República nesse
período.
Em meados do século XX o processo de industrialização e urbanização
ditaram as regras da economia brasileira. Nesse período o Brasil buscou sair
da condição de país subdesenvolvido estabelecendo novas prioridades com o
objetivo de atingir uma nova concepção de desenvolvimento.
Esses ciclos econômicos foram determinantes para a estrutura
econômica atual. É necessário salientar, que as intervenções políticas em
todos esses ciclos foram preponderantes para a organização econômica do
Brasil nos dias atuais. Todos os governantes que regeram o país
desenvolveram políticas econômicas que deixaram suas consequências, boas
ou más. Certamente os aspectos econômicos atuais são resultado de erros e
acertos históricos. É importante lembrar que mesmo apresentando índices
elevados de pobreza o Brasil está presente entre o grupo das dez maiores
economias do globo terrestre.

4.2. A ECONOMIA BRASILEIRA


A economia brasileira foi considerada em 2018, a nona economia
mundial. O Produto Interno Bruto (PIB) é estimado em 2,14 trilhões de dólares.
Em 1995 o país atingiu o posto de sétima economia mundial, desde então, vem
se mantendo entre os dez países mais ricos do globo terrestre. A economia do
Brasil apresenta um perfil sólido, sendo um grande exportador de uma
variedade de produtos, o que fomenta o desenvolvimento econômico.
Atualmente, a economia do Brasil está alicerçada em três pilares
5

basilares para o autodesenvolvimento econômico do país, sendo eles os


setores primários, secundário e terciário. Os setores da economia são partes
integrantes do ciclo econômico de um país, região ou estado. No sistema
capitalista de produção, os setores, primário, secundário e terciário se
interligam dinamicamente e fazem a economia se movimentar constantemente.
Segundo Boligian:
“ A economia de um país é impulsionada pelos seus trabalhadores,
isso é, pela sua população economicamente ativa (PEA). No Brasil a
população economicamente ativa corresponde à parcela dos
habitantes com mais de 10 anos de idade que está empregada em
diferentes setores das atividades econômicas e recebem uma
remuneração pelo seu trabalho. Nela estão incluídos, também, os
trabalhadores que estão temporariamente desempregados. A PEA
abrange cerca de 47% da população absoluta brasileira; outros 30%
formam a população inativa (PI), composta basicamente pelas
pessoas que não exercem nenhuma atividade remunerada, sejam
elas crianças, adolescentes, adultos os aposentados. A população
economicamente ativa de um país está distribuída entre os três
setores de atividades econômicas: primário, secundário e terciário.
[...]” (2001, p.42).

Esses setores da economia estão divididos da seguinte forma:


“ Setor primário: agricultura, pecuária e extrativismo animal, vegetal
e mineral. Atividades ligadas ao campo. Setor secundário: Industria
e construção civil. Atividades urbanas. Setor terciário: atividades
comerciais e de serviços (médicos, professores, advogados etc.)
Atualmente, alguns estudiosos propõem um setor quaternário,
ligados a trabalhadores que desenvolvem atividades de criação
ligadas à tecnologia como a informática e a biotecnologia, sendo
encontrados apenas nas regiões desenvolvidas e em baixas
porcentagens.”. (EQUIPE DCL, 2010, p. 302-303).

4.2.1 Setor Primário

Piccoli afirma que:


“ As atividades do setor primário são mais comuns no campo do
que na cidade. Muitas pessoas que trabalham no espaço rural
brasileiro fazem diferentes atividades relacionadas a esse setor da
economia, como camponeses, agricultores, veterinários, técnicos de
manutenção de maquinas etc.
O Brasil produz grande quantidade de produtos do setor primário,
os principais são café, soja, trigo, arroz, milho, cana-de-açúcar,
cacau, cítricos e carne bovina, produtos da agropecuária brasileira.
Há, também, os metais provenientes dos minérios extraídos no país,
como ferro, ouro, cobre e alumínio. ” (2020, p. 139).

O setor primário é de suma importância para economia brasileira, pois


ele é o responsável pela extração dos recursos naturais. É o setor que explora
o meio natural e transforma a matéria-prima em produtos comercializáveis para
o abastecimento do mercado interno e externo, gerando renda para milhares
de empresas e famílias. Por isso, esse setor da economia deve ser tratado
com responsabilidade e organização. O Brasil é detentor de riquezas
imensuráveis em recursos naturais, e tais recursos devem ser usados para à
melhoria das condições de vida do povo brasileiro. Então, esses recursos
devem ser extraídos sob princípios de responsabilidade.
O setor primário, com o advento de novos recursos tecnológicos que se
tornaram acessíveis após a terceira revolução industrial, vêm alcançando
grandes resultados na produção de produtos. Em contrapartida, muitas
pessoas perderam seus empregos, sendo substituídos por máquinas.
As atividades econômicas que mais se destacam no setor primário são:
extração de petróleo, agricultura, extrativismo vegetal e animal, pesca e
pecuária. Essas atividades são desenvolvidas por meios industriais ou
artesanais. A produção industrial é desenvolvida por empresas ou grupos
cooperativistas, já a produção é exercida por famílias das zonas rurais que
trabalham para fins de subsistência.

4.2.2 Setor Secundário

O segundo setor da economia é o que abrange as fábricas e indústrias.


O setor secundário é caracterizado pela sua capacidade de gerar lucros a partir
da intermediação entre a produção de bens e o mercado consumidor. Esse
setor faz da matéria-prima um produto pronto para ser consumido e tem a
capacidade de distribuição em larga escala.
Esse setor é dominado pelas grandes indústrias, mas também é
responsável pelo fornecimento de água, eletricidade e pela construção civil.
Além de promover exportações que podem resultar em lucros relevantes para a
economia nacional. Com isso, esse setor econômico geralmente é dominado
por pessoas jurídicas, são as locomotivas da indústria que obtém os melhores
resultados financeiros. Não obstante, vários empregos são gerados no setor
secundário, muitas famílias brasileiras conseguem ter estabilidade e vida digna
trabalhando no setor industrial. Por conseguinte, as jornadas de trabalho
exaustivas comprometem a saúde física e mental dos trabalhadores comuns e
até mesmo os altos executivos sofrem com os trabalhos excessivos.
5

Assim, o setor industrial é muito importante para a geração de renda.


Os trabalhadores industriais conseguem ter estabilidade financeira, pois
recebem seus salários regularmente, com isso, podem usufruir de vários
benefícios concedidos pela CLT. Dessa forma, esses trabalhadores garantem a
sustentabilidade econômica familiar.

4.2.3. Setor Terciário

O setor terciário é o que se refere ao comércio e aos serviços. É o


setor mais firmado nos países desenvolvidos, pois é o grande responsável pelo
desenvolvimento econômico e também é o que mais cresce nos países
emergentes.
Os serviços que são prestados existem para suprir as necessidades da
sociedade e estão divididos em diversas funções e áreas, como: educação,
transportes, administração, comércio de varejo, comércio de atacado, correios,
comunicação, alimentação, aluguel, imóveis, saúde, limpeza, serviços sociais,
agências de turismo, serviços de lazer, esportes, cultura e muitos outros.
Devido a sua amplidão é um setor que abrange tanto atividades
formais como atividades informais. Tem a intensidade como característica dos
empregos que oferecem, precisa de mão de obra qualificada e é passível de
mudanças a todo tempo, principalmente com a globalização.
Esse setor depende exclusivamente da competência e criatividade
humanas, é a capacidade produtiva das pessoas que determinam a efetividade
e rentabilidade desse setor. É o movimento progressista gerado pelas pessoas
que garantem o “combustível” para o crescimento econômico do Brasil, no que
diz respeito ao setor terciário. O país rico também é aquele que oferece
empregos em abundância para a população.

4.3. PECULIARIDADES DA ECONOMIA


Em virtude da vasta extensão territorial do Brasil, existem várias
particularidades na execução e crescimento de determinadas atividades
contribuintes para o avanço financeiro. Algumas regiões são mais propensas
para as atividades industriais, em quanto outras possuem características mais
favoráveis para agricultura. Por isso, as regiões brasileiras desenvolvem
diferentes atividades econômicas.
A economia da região Norte, localidade que reúne sete estados
brasileiros e uma extensão territorial com grandes áreas de floresta, é baseada,
de acordo com as características do seu clima e vegetação, no extrativismo
vegetal de produtos naturais como madeira nativa, látex, açaí e castanhas.
As atividades de exploração de minérios também é um destaque na
região Norte, principalmente a extração de ferro, cobre e ouro.
A região Nordeste, composta por nove estados, possui umas das
atividades econômicas mais diversificadas. Com forte consolidação no turismo,
há também uma presença muito marcante do setor industrial que trabalham
fortemente com o agronegócio e com o extrativismo do petróleo. A principal
atividade agrícola e baseada no cultivo da cana-de-açúcar.
A região Centro-Oeste com forte potencial agropecuário, a economia
brasileira, no que se refere a região centro-oeste, é marcante na plantação de
soja, milho, entre outros, além da carne bovina e industrias. Essa região é
composta por três estados brasileiros.
A região Sudeste do brasil, é composta por quatro estados, possui a
maior concentração de industrias em todo Brasil o que ajuda alavancar a
economia do país. Em virtude da grande aglomeração de industrias, abriga as
maiores montadoras e siderúrgicas do Brasil, atraindo a atenção de muitas
fábricas por causa do seu contingente populacional, além da qualidade da
mão-de-obra.
Os setores de serviço e o comércio são bem modernos e têm grandes
variedades, o que representa a principal atividade da economia regional.
A região Sul do Estado brasileiro é composta por três estados. A
grande maioria de sua economia se movimenta em torno das empresas de
prestação de serviços e a concentração de setores industriais, principalmente
nas áreas alimentícias, siderurgia e têxtil. Assim como a região nordeste
agropecuária é bem desenvolvida nessa região.
É a composição das atividades econômicas das cinco regiões que
determinam a riqueza do país. O Brasil é uma nação com grande potencial
econômico, pois conta com uma grande variedade de mercado interno e
externo. Isso confirma que os brasileiros são detentores de várias
possibilidades econômicas. Dessa forma, é possível afirmar que o Brasil é um
5

país rico, que cresce constantemente por causa de sua virtude


autossustentável, que permite negociar com igualdade com outras economias
mundiais.
Portanto, o Brasil precisa ter governantes comprometidos com a
riqueza Nacional, que tenham o objetivo de tirar o país da condição de
subserviência às outras potencias como Estados Unidos e China. Isso será
possível com o Brasil investir em inteligência produtiva e melhorar a situação
da infraestrutura.

5. PERFIL SOCIOECONÔMICO DO MARANHÃO

O maranhão tem um grande potencial econômico, atualmente, a


economia é desenvolvida através das atividades na agricultura, pecuária,
pesca e indústria, o estado também explora o seu grande potencial turístico.
“A agricultura continua sendo uma das atividades econômicas
mais importantes do Maranhão, especialmente as culturas de arroz,
soja e milho. Mas produtividade ainda é baixa. Isso acontece porque
ainda são utilizadas técnicas muito rudimentares, como queimada, e
só grandes produtores têm dinheiro para comprar maquinas
agrícolas.
Assim, de um lado há os grandes latifundiários, que plantam
principalmente soja e arroz. Do outro, há o pequeno agricultor, que,
sem recursos, continua a usar instrumentos como a enxada, a foice e
a pá e não consegue concorrer com os grandes fazendeiros, para os
quais, muitas vezes, tem que vender suas terras. O arroz teve grande
destaque nas décadas de 1920 a 1970, está perdendo espaço para
os grandes campos de soja. A mandioca é produto muito importante
na alimentação da população do estado e sua produção está
concentrada nas pequenas roças dos pequenos produtores.
A pecuária tem crescido bastante desde a década de 1960.
Grandes investidores têm comprado terra no Maranhão, sobretudo na
região dos rios Itapecuru, Mearim e vale do Pindaré, para criação de
gado.
A pesca é outra atividade bastante importante para a
economia do estado. Muitas famílias dependem diretamente da
pescaria para sobreviver e o produto da pesca também abastece os
mercados locais e internacionais.
Muitas empresas siderúrgicas foram abertas no estado nos
últimos anos. [...] Em São Luís estão localizadas as principais
indústrias, principalmente no chamado Distrito Industrial. Na capital
do estado há empresas de alumínio, cervejarias, imobiliárias,
alimentícias e muitas outras.
É grande o potencial turístico do Maranhão, pois o estado
possui diversidade de paisagens que inclui praias, manguezais,
florestas, cerrados, lagos e rios. Constitui um importante patrimônio
natural de nosso país. Com construções do período colonial, cidades
como São Luís e Alcântara possuem um valioso acervo arquitetônico.
” (SAMPAIO e VIANA, 2011, p.134-135).
Segundo Leão (2018) e Júnior (2018), pode-se afirmar que o complexo
portuário é o principal indutor do desenvolvimento econômico e social do
Maranhão, que tem investimentos para os próximos anos em petróleo e outros
empreendimentos. Com isso, o estado mostra seu grande potencial de
desenvolvimento econômico e social. Essa potencialidade econômica precisa
ser explorada com inteligência. Assim, cabe ao governo estadual buscar
parcerias com a União e os municípios para estabelecer estratégias eficazes
de desenvolvimento. O cidadão também precisa buscar formação para
acompanhar esse desenvolvimento, para assim, ocupar espaço no mercado de
trabalho.
Dessa forma, pode-se afirmar que o Maranhão tem um potencial para
alcançar um crescimento econômico satisfatório nos próximos anos. Cabe ao
poder público desenvolver políticas no intuito de transformar os recursos
naturais em oportunidade para aumentar a lucratividade do estado.
Porém, mesmo tem um enorme potencial econômico o Maranhão ainda
é um estado onde predomina a pobreza e a desigualdade social, onde grande
parte da população enfrenta desafios diários até mesmo para garantir a sua
subsistência. A exclusão faz parte da triste realidade do maranhense. Como
observa-se:
“Apesar de seu potencial econômico, turístico e arquitetônico,
o estado do Maranhão ainda está entre os mais pobres do Brasil. A
população de baixa renda, a grande maioria enfrenta sérios
problemas, como falta de água e sistema de esgoto.
Os grandes projetos de urbanização favorecem o crescimento
desordenado, surgindo moradias com sérios problemas de
infraestrutura ao lado de ricos condomínios. Mais de 50% da
população não tem acesso à água encanada e 39% das casas não
possuem banheiros. Nesses casos as pessoas usam fossas. Na área
educacional o estado também enfrenta muitos problemas. O número
de pessoas que não sabem ler e escrever é significativo e muitas
crianças abandonam os estudos para trabalhar.
A quantidade de desempregados é grande e muitos
trabalhadores não têm Carteira de Trabalho assinada. Tantos
problemas sociais acabam aumentando a violência doméstica e
urbana. ” (SAMPAIO e VIANA, 2011, p.136)

Dessa forma, várias atitudes governamentais precisam ser tomadas


para que o estado consiga obter um desenvolvimento abrangente. Onde a
população mais pobre possa fazer parte do processo. A economia precisa
andar em concomitância com as necessidades reais da população. Assim, o
que se espera é que as questões socioeconômicas do estado do Maranhão
5

possam estar pautadas no desenvolvimento igualitário. Um estado onde


predomina a desigualdade e a falta de oportunidade não conseguirá alcançar o
progresso em médio e longo prazos.
Assim é importante ressaltar que:
“O quadro de questões a serem enfrentadas remete à
necessidade de se estabelecer uma estratégia de desenvolvimento
focada em ao menos três grandes diretrizes.
Primeiramente, é fundamental a manutenção dos programas
sociais para que a redução da pobreza e a inclusão social prossigam
de forma acelerada. Também, referidas políticas permitem ampliar o
mercado consumidor local, que por sua vez, é indutor do
desenvolvimento local.
Além disso, torna-se fundamental intensificar os investimentos em
infraestruturas físicas, de forma que se possa criar um ambiente
atraente para a geração de novos negócios no Estado, além de
contribuir para melhorar o bem-estar da população. É importante,
ainda, se desenvolver ações que promovam a formação de capital
humano, buscando-se melhorar os níveis de qualificação da força de
trabalho. A mão de obra adequadamente preparada cria as bases
para a formação de um ambiente inovador e amplia a produtividade
da economia, favorece uma melhor distribuição da renda e possibilita
maior mobilidade social.
As ações voltadas para ampliar a qualificação da força de
trabalho devem, necessariamente, contemplar a ampliação e melhoria
da qualidade do ensino básico, reduzindo o analfabetismo e
promovendo a cidadania. As iniciativas devem, ainda, buscar ampliar
a formação técnica e profissional, de forma a qualificar a população
para ingressar no mercado de trabalho. ” (LEÃO e JÚNIOR, 2018,
p.26)

Portanto, cabe ao governo estadual buscar alternativas de projetos que


promova ações efetivas no desenvolvimento socioeconômico. Esses projetos
terão mais eficácia se forem articulados no modelo de colaboração entre o
governo Federal, Estadual e Municipal. Para isso, os governantes devem
buscar o bem-estar social e deixar as questões políticos partidárias em
segundo plano. Deixando a população que contribui com seus impostos no
centro das atividades governamentais.

6 PERFIL SOCIOECONÔMICO DO POVOADO ITEREZINHO

6.1. CONHECENDO O TERRITÓRIO

O povoado ou vila de Itererezinho está localizado no município de


Apicum-Açu-MA e dista cerca de 6 quilômetros da sede municipal. O acesso ao
povoado é através de estrada de chão batido, conhecida como estrada de
piçarra, uma mistura de argila e pedras pequenas. É um local de fácil acesso e
bastante movimentado, pois está localizado às margens da estrada que liga
outros três povoados à sede municipal.
Apicum-Açu foi elevado à categoria de município pela Lei estadual
nº 6179, de 10 de novembro de 1994, desmembrando-se de Bacuri-MA. E faz
limites territoriais com o oceano Atlântico, o município de Cururupu e Bacuri.
O município está inserido na Planície Costeira Maranhense e possui
como características a costa recortada com planícies de maré-lamosa, apicuns,
marismas e praias. Segundo dados da Embrapa (2006) apud Correia Filho
(2011), “os solos da região são representados por latossolo amarelo e
plintossolos e solos de mangue”. Os solos de mangue, são caracterizados por
serem muito mal drenados, com auto teor de sais minerais proveniente da água
do mar e de composto de enxofre, com textura variando desde argilosa até
arenosa.
Os latossolos tem como características serem profundos a muito
profundos, bem drenados, acentuadamente de textura variando de média a
muito argilosa, são ácidos ou muitos ácidos, porosos, friáveis, cores variando
de vermelho até amarelo ou bruno forte. Os solos plintossolos, são
caracterizados por restrição a percolação de água, imperfeitamente drenado,
possui textura arenosa ou média, raramente argilosa, possuindo coloração
escura devido à matéria orgânica.
“[...] A sede administrativa encontra-se ao nível do mar e a variação
térmica durante o ano é pequena, com temperaturas que oscilam
entre 29°C e 32°C. O clima do município de Apicum-Açu, segundo a
classificação de Köppen, é tropical (AW) com dois períodos bem
definidos: um chuvoso, de janeiro a junho, com médias mensais
superiores a 298mm e outro seco, correspondente aos meses de
julho a dezembro. Dentro do período de estiagem, a precipitação
pluviométrica variou de 8,2 a 172mm e no período chuvoso de 213,3
a 423,4mm, com média anual em torno de 2125mm. ” (CORREIA
FILHO, 2011, p.19-20).

Ainda segundo Correia Filho (2011), “ o bioma da Microrregião


Ocidental Maranhense é Amazônico, e vegetação de Mangue, sendo que a
região costeira de Apicum-açu é bastante recortada por baías, enseadas e
estuários. ” Dessa forma em Apicum-Açu predomina a vegetação de grande
porte com mata fechada típica da Pré-Amozônia, com destaque para os
jucarais na sede e o mangue no litoral. Os principias rios são: Itereré, Turinana,
5

Bitiua, Bacuri-Panã e Nambu. Todo território municipal encontra-se na APA,


das Reentrâncias Maranhenses.
O censo demográfico 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) registrou 14.959 habitantes no município de Apicum-Açu
(atualmente estima-se cerca de 17.239 habitantes), colocando o no 125º no
ranking populacional do Maranhão, correspondendo a 0,23% da população do
estado, com uma densidade demográfica de 22,95 hab./km² e IDH de 0,565%.
Entre os censos demográficos de 2000 a 2010 a variação da população foi de
34,78%, com um acréscimo de 3.860 habitantes. Nesse intervalo, tanto a
população rural quanto a urbana cresceram, entretanto, o percentual de
crescimento da última foi de 64,99%, enquanto que da primeira foi de 4,53%,
fato que explica a concentração de 61,25% de pessoas na área urbana,
registrado em 2010 pelo IBGE.
O povoado de Itererezinho tem uma população de 386 habitantes,
distribuídos em 71 pessoas da faixa etária de 0 a 11 nos de idade, 249 pessoas
estão na faixa dos 12 aos 60 anos e 36 pessoas compõe a população idosa
acima dos 60 anos. Com média aproximada de 5 pessoas por habitação. A
maioria das famílias são formadas por pessoas de parentescos próximos, isso
possibilita um bom relacionamento interpessoal entre os moradores.
Segundo relatos dos moradores e uma pesquisa realizada pela Escola
Unidade Escolar Nossa Senhora Rosário, o povoado foi formado por diferentes
povos. Os primeiros moradores foram descentes de índios que já tinham se
misturado com a civilização, depois chegaram alguns negros que habitavam
em uma área quilombola conhecida como “folhá”. Os últimos a chegarem foram
os descentes de imigrantes italianos que desembarcaram no porto do povoado,
conhecidos como a família Farah. Essa família registrou em cartório a maior
parte das terras do povoado e povoados vizinhos, foram documentadas até
mesmo áreas pertencentes ao município de Bacuri. Assim, deu-se a formação
do povoado de Itererezinho.
É um povoado tipicamente rural, cercado de terras para produção
agrícola e para criação de gado, também é banhado pelo oceano Atlântico,
possibilitando aos moradores a subsistência através da pesca artesanal. A
produção agrícola e a pesca, no entanto, são as principais fontes de renda para
a comunidade. Isso demonstra que o povoado tem as mesmas bases
econômicas da maioria dos municípios do interior do Maranhão.
“A agricultura continua sendo uma das atividades econômicas mais
importantes do Maranhão, especialmente as culturas de arroz, soja e
milho. Mas produtividade ainda é baixa. Isso acontece porque ainda
são utilizadas técnicas muito rudimentares, como queimada, e só
grandes produtores têm dinheiro para comprar maquinas agrícolas ”
(SAMPAIO e VIANA, 2011, p.134).

Ainda segundo Sampaio (2011) “ a pesca é outra atividade importante


para muitas famílias que dependem diariamente da pescaria para sobreviver e
para abastecer mercados locais”. O povoado de Itererezinho trabalha
fortemente com esses meios de produção econômica. Sendo que a maioria
trabalha na lavoura e não muitos optam pela pesca.

5.2 ASPECTOS ECONÔMICOS

Segundo Correia Filho (2011), no Município de Apicum-Açu a pecuária,


a extração vegetal, a lavoura temporária, as transferências governamentais, o
setor empresarial e o trabalho informal constituem as maiores fontes de renda.
Corroborando com Correia Filho, Figueiredo (2019) e Freitas (2019),
afirmam que:
“ A principal atividade econômica é a pesca artesanal marinha,
desenvolvidas nas praias, especialmente nas ilhas de Cajual do
Pereiras, do Machado, Croinha e Tucunzal, que pertencem ao
município, além de outras ilhas que fazem parte de Cururupu, a
exemplo de Lençóis, Bate-Vento, Mirinzal e Retiro. ”pg.87

O povoado de Itererezinho tem como principais fontes de renda, a


pecuária, a lavoura, pequenos estabelecimentos comerciais, o serviço público,
a pesca, benefício Bolsa Família e a aposentadoria. Com essas fontes de
rendas estabelecidas, constata-se que nenhuma família se encontra em
situação de miséria. Com base na pesquisa e nas observações confirma-se
que os moradores contam com alimentação diária, três ou mais refeições, com
acesso à educação pública, com terras para produção agrícola e com as
demais garantias de vida digna. Todavia, a maior renda mensal não passa de
R$ 7000,00/ mês. Mas levando em conta o baixo custo de vida, pequenas
quantias de dinheiro são suficientes para uma vida estável.

6.2.1 Pecuária
5

Segundo o portal MUNDO EDUCAÇÃO, “produção pecuária


corresponde ao conjunto de técnicas utilizadas e destinadas à criação
doméstica com fins econômicos”. O povoado em estudo exerce esse ofício
desde a chegada dos primeiros moradores, atualmente cerca de 95% das
residências criam alguma espécie animal para fins econômicos. Esse é um
trabalho que envolve todos os moradores de uma determinada residência.
Pois, os pais ensinam as técnicas de criação para os filhos ainda na primeira
infância, é comum observar crianças de quatro ou cincos no exercício de
atividades de criação de gado, por exemplo. Segundo Correia Filho (2011), “ a
pecuária tem crescido bastante desde a década de 1960”. Isso também é
observado no povoado, segundo relatos da população, nos meados da década
de 1980 apenas duas famílias exerciam a criação do gado.
No povoado existem duas técnicas especificas para criação de gado. A
primeira é popularmente conhecida como “boi na corda’, esse modelo de
produção é aderido por aqueles moradores que não detém de uma área de
terra suficiente para o desenvolvimento do animal. A segunda é feita nas
chamadas soltas ou cercados, os moradores que possuem uma expressiva
área de terra, soltam o gado para pastagem e regularmente nos finais de tarde
alimentam a criação com ração de mandioca.
A criação de gado é a principal atividade da pecuária em Itererezinho.
Mas alguns moradores trabalham na criação de porcos para fins comercias e
galinhas para consumo diário. Não muitos optam pela criação de caprinos. A
criação de porcos é feita em chiqueiros construídos em ambientes úmidos,
como os igapós, mas alguns moradores deixam as crias soltas para circularem
livremente, causando uma série de problemas entre as pessoas, em algumas
ocasiões esses eventos resultam em caso de polícia.
A falta de produtividade no setor da pecuária está relacionada com a
falta de incentivo e investimentos públicos. Como políticas públicas bem
elaboradas e planejadas seria possível alavancar a produção. Vários
moradores sugerem a criação de uma granja comunitária para o abastecimento
das instituições públicas e do comercio municipal.

6.2.2 Lavoura
Segundo o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais
(STTR) do município de Apicum-Açu o povoado de Itererezinho conta com 58
lavradores devidamente cadastrados, e boa parte dos trabalhadores da
comunidade exercem a atividade. Cerca de 90% das famílias cultivam a
mandioca para fins comerciais ou de consumo próprio.
A mandioca é um produto muito importante para a economia e para a
alimentação da população do interior do estado do maranhão e a
produção não é típica dos grandes latifundiários, pois está
concentrada nas roças de pequenos produtores, localizados nos
interiores do estado. (SAMPAIO e VIANA, 2011, p. 134).

Sendo assim, os lavradores do povoado concentram suas atividades


agrícolas na extração de produtos derivados da mandioca bruta ou da
macaxeira, são extraídos os seguintes produtos: farinha de mandioca, tapioca,
farinha-seca e bolos. Esses produtos são vendidos na própria localidade e em
povoados vizinhos.
A cultivo da mandioca ou macaxeira tem início no mês de julho, onde
começa o período de roçar, onde os lavradores desmatam áreas para
posteriormente provocar queimada, geralmente no mês de setembro. O plantio
é logo após o período das queimadas. Logo em seguida vem a fase da capina,
a pratica de cortar as ervas daninhas que crescem junto com a Maniva. A
maniva é a planta que cresce, tendo como raiz, a mandioca. A primeira fase da
produção é realizada em modelo coletivo. Os moradores se reúnem e
concentram em uma determinada área ao mesmo tempo, ou seja, todos
trabalham com todos e para todos. É um trabalho tipicamente comunitário, com
características da agricultura familiar:
“ Nesse tipo de organização da produção agrícola, o uso da terra é
feito por pequenos proprietários e arrendatários, com trabalho
fundamentalmente familiar, havendo, às vezes, a contratação de mão
de assalariada. A agricultura familiar, que visa abastecer
principalmente o mercado interno, é responsável por mais da metade
da produção de alimentos no Brasil[...]. ” (ADAS, 2015, p. 224).

Um ano após o plantio inicia-se a colheita, onde a mandioca é coloca


na água do rio pelo período de cinco dias e depois tira-se a casca, resultando
em produto conhecido como massa. Em seguida esse produto é triturado em
uma máquina agrícola chamada de catitu. Depois de triturada é lançada em
sacos de trigos e colocada na prensa (máquina que pressiona a massa
5

retirando todo o líquido). Prosseguindo o processo, a massa depois de seca é


levada para peneira (onde a massa ganha a textura mais fina), assim está
preparada para ser levada ao forno, como cerca de duas horas no forno está
pronta a farinha.

Foto: Lavrador. Fonte: Própria

O povoado de Itererezinho concentra o mercado lucrativo de farinha


de mandioca. Várias famílias conseguem obter uma renda significativa com
venda desse produto. O período de colheita movimenta cerca de 25 mil reais
nas vendas e nos trabalhos realizados no preparo da farinha. A diária de um
trabalhador de roça custa ao contratante R$ 50,00, muitos trabalhadores
acumulam mais de um salário mínimo nesses períodos de produção. Mas
quando passada essa fase de produção esses moradores ficam sem renda,
para manter suas famílias optam pela produção de carvão. A madeira que
sobra das queimadas, conhecida com lenha, é leva aos fornos feitos de barro,
depois de passar pelo forno resulta no carvão usado para preparar alimentos.
Nos últimos cinco anos os lavradores conseguiram obter melhorias nas
condições de trabalho, através das novidades tecnológicas, como o catitu, para
trituração da mandioca e a prensa que substitui o tipiti, na secagem da massa.
Ainda chegaram as roçadeiras quem manter as áreas limpas, subsistindo os
facões e foices. Porém, mais melhorias ainda são esperadas. Os lavadores
anseiam pela chegada de máquinas agrícolas para arar as propriedades e
abandonar a prática rudimentar das queimadas. Cabe ressaltar que para o fim
das queimadas é preciso ter políticas públicas que subsidiem as populações
rurais.
As queimadas precisam ser extinguidas para a garantia de terras
produtivas para as próximas gerações. Algumas de suas consequências são:
a) destruição de habitats naturais; b) erosão do solo; c) aumento de emissões
de carbono na atmosfera; d) perda da capacidade de absorção do solo,
aumentando o escoamento superficial, causando inundações; f) assoreamento
dos rios e suas nascentes; g) poluição das águas subterrâneas e rios pelas
cinzas.
Enquanto as maquinas agrícolas não chegam a comunidade continua a
praticar os métodos rudimentares para a preparação da terra para o plantio da
mandioca.

6.2.3 Estabelecimentos comerciais, serviço público e pesca

O comércio local é caracterizado por pequenos pontos comerciais que


vendem gêneros alimentícios, produtos de limpeza, e alguns utensílios
domésticos. São cinco os comércios, que vendem variados produtos e
empregam informalmente
O povoado ainda conta com dois bares, uma panificadora e uma venda
de frango vivos e abatidos. Assim, o comércio se apresenta como o fator
importante na geração de renda. Os donos dos estabelecimentos comerciais
são vistos pelos moradores como pessoas com grande poder aquisitivo. Já os
comerciantes se autodenominam como simples trabalhadores.
Os funcionários públicos atuam na esfera municipal. O povoado de
Itererezinho conta com uma agente comunitária de saúde, cinco professores,
três auxiliares de serviços gerais, dois vigias, um auxiliar administrativo e uma
gestora escolar. Todos atuam na escola local (Unidade Escolar Nossa Senhora
do Rosário), exceto a agente comunitária que faz o trabalho de recenseamento
domiciliar.
Os funcionários públicos, por possuírem empregos formais e com
salários pagos regularmente, são os moradores do povoado em melhores
condições financeiras. Do ponto de vista da comunidade esses profissionais
são pessoas que conseguiram ascensão social e não pertencem mais a classe
dos “pobres”.
5

Os pescadores são divididos entre aqueles que se especializaram em


capturar pescados e os que se especializaram em pescar crustáceos,
principalmente camarão e caranguejo. Um pescador pode ganhar até um
salário mínimo e meio em período de pesca de uma semana, mas essa
demanda de produção não se mante durante todo o ano. O melhor período é o
período chuvoso, quando chega a estiagem a produção ocorre apenas o
suficiente para subsistência. A atividade da pesca intercala entre fartura e a
escassez. Com isso os pescadores buscam alternativas para economizar
dinheiro nos períodos de maior produção. E também recorrem ao sindicato de
pescadores para conseguirem os auxílios do governo como o de período de
defeso, que é o período de reprodução dos animais.
Podemos assim afirmar, que as bases econômicas de produção de
renda são a pesca e serviços, que são os principais para a introdução de
capital financeiro do povoado. São essas fontes de renda que é possível
garantir a manutenção das famílias e sonhar com dias melhores.

6.2.4 Bolsa família e Aposentadoria

Foto: Beneficiária do bolsa família. Fonte: Própria


Esse auxilio governamental garante a mercearia mensal dos
moradores. O valor mínimo recebido nas dimensões do povoado é de R$ 98,00
mensal, mas alguns beneficiários recebem quantias próximas à um salário
mínimo, por terem mais de seis pessoas incluídas no cadastro. Essa entrada
de capital é fundamental para manutenção do comércio, segundo relatos dos
comerciantes, os dias de pagamentos desse benefício coincidem com o melhor
período de arrecadação e lucratividade, com aumento significativo das vendas.
A princípio esse recurso deveria ser usado para manutenção dos
estudantes na escola, dever-se-ia comprar materiais escolares e a alimentação
de qualidade, para assim, garantir a permanência na escola e para a
erradicação do trabalho infantil. Porém, esse benefício é usado para fins
diversos, como por exemplo, a compra de eletrodomésticos e materiais de
construção. Nesse contexto, muitos alunos deixam, por vezes, deixam de
participar de projetos propostos pela escola por falta de subsídio financeiro.
Os aposentados também são tidos como fundamentais para a
economia, todos buscam ter relações de negócios com eles. No povoado de
Itererezinho fazer negócio com um aposentado é garantia de negócio bem-
sucedido. Os aposentados, assim com os funcionários públicos, são
considerados como pessoas de melhor poder aquisitivo. Com isso, alcançar a
aposentadoria é o sonho da maioria dos moradores. Principalmente os
lavradores e pescadores. Para o senso coletivo da comunidade, aposentadoria
pelo INSS é garantia de renda fixa suficiente para viver bem e comprar os bens
de consumos desejados. Dessa forma, os aposentados, na maioria deles, se
encontram em situação de endividamento.
Não obstante, os beneficiários do programa bolsa família e os
aposentados são fundamentais para a economia e para o bem-estar financeiro
do povoado. Porque consomem diversos produtos comerciais e compram
constantemente. Proporcionando a lucratividade dos comerciantes.

6.3 DADOS EDUCACIONAIS

A educação é indispensável para a formação de seres conscientes e


autônomos, por isso uma nação, região, cidade ou comunidade precisa ser
educada, afim de que, suas capacidades e potencialidades sejam aguçadas.

“A educação é permanente não porque certa linha ideológica ou certa


posição política ou certo interesse econômico o exijam. A educação é
permanente na razão, de um lado, da finitude do ser humano, de
outro, da consciência que ele tem de sua finitude. Mais ainda, pelo
fato de, ao longo da história, ter incorporado à sua natureza “não
apenas saber que vivia, mas saber que sabia e, assim, saber que
podia mais. A educação e a formação permanente se fundam aí. ”
(FREIRE, 2001, p. 12).

O homem precisa de conhecimento independentemente de classe


social, situação econômica ou local onde mora, a educação é de todos e para
todos.
Não importa a região, estado ou município a educação precisa ser
5

desenvolvida:
“Desenvolver a educação é o caminho que conduz à vida, o único
que guia com segurança à realização das aspirações internas da
natureza humana e à realização também de suas aspirações
externas; o único que, mediante uma vida fiel à sua vocação pura,
santa, leva à sua bem-aventurança eterna. Portanto, o divino no
homem, sua essência, deve ser, mediante a educação, desenvolvido,
exteriorizado e elevado à sua plena consciência. O homem há de
alcançar a livre manifestação desse elemento divino que nele atua se
expressá-la numa vida consciente e livre. Também a educação, o
ensino deve dar ao homem a intuição e o conhecimento[..] ”
(HEILAND, 2010, p. 48).

Dessa forma, o povoado de Itererezinho tem sua organização de


educação formal. Atualmente os trabalhos educacionais são realizados na
Unidade Escolar Nossa Senhora do Rosário. Que conta com uma Gestora, três
auxiliares de serviços gerais, um vigia, uma auxiliar-administrativo e nove
professores, que atendem alunos da creche até o nono ano do ensino
fundamental. As séries são separadas em turmas mistas, por causa do
quantitativo de alunos, ao todo são apenas 58 alunos matriculados, divididos
nos turnos matutino e vespertino. O espaço físico da escola é composto por
quatro salas de aula, dois banheiros, a sala dos professores e uma cozinha. O
prédio foi inaugurado no dia 25 do ano de 2008. A primeira aula realizada foi no
dia 25 de junho no mesmo ano da inauguração.

Foto: Escola. Fonte: Própria

Na comunidade todos as crianças são matriculas na idade certa,


iniciam na creche desde os dois anos de idade e terminam suas trajetórias no
nono ano do ensino fundamental. Nos últimos cinco anos 15 alunos não
concluíram o ensino fundamental e entraram para estatísticas dos desistentes.
Esse número de estudantes que não concluem o ensino fundamental ou médio
vem crescendo constantemente também a nível nacional. Nesse mesmo
período 55 alunos concluíram o ensino fundamental e ingressaram no ensino
médio. Mas os professores da escola relatam que o nível de rendimento dos
alunos vem diminuindo a cada ano, desses alunos, mais da metade são
evadidos no primeiro ano do ensino médio. Realidade essa que vem
preocupando a comunidade no que diz respeito ao futuro educacional.
Segundo os relatos de professores e moradores, esse descaso está ligado ao
crescente número de usuários de drogas. Diante disso, a escola está
trabalhando fortemente na metodologia de projetos para à conscientização dos
jovens.
Também nos últimos cinco anos 8 moradores concluíram o ensino
superior, todos foram formados em cursos de licenciatura e trabalham na
própria comunidade, nos lugares vizinhos ou na sede do município de Apicum-
Açu.
Isso mostra um grande avanço educacional, pois o povoado não
contava com profissionais capacitados na área da educação.

Foto: Funcionária pública. Fonte: Própria

Ainda se destacam outros três moradores que concluíram o curso de


técnico em enfermagem. Recentemente dois moradores jovens foram bem-
sucedidos no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e ingressaram em
cursos bacharéis de Direito e Engenharia Civil. Nessa perspectiva, a educação
local passa por dois sentimentos diferentes, primeiro vem o orgulho de ver a
cada dia novos formados, todavia, vem a preocupação com o número
5

crescente de jovens que abandonam a escola para se enveredarem para o


caminho do mundo das drogas.
A maioria dos moradores não concluíram nem mesmo o ensino
primário, a alegação mais comum para a não continuidade de suas atividades
escolares foi a falta de oportunidades. Há vinte anos o povoado de
Itererezinho só tinha o ensino primário, depois da alfabetização para continuar
na escola seria necessário o deslocamento para outros lugares, e as
dificuldades financeiras inviabilizavam esse deslocamento. Nessas
circunstâncias, os moradores deixavam a escola, construíam suas famílias e se
voltam para as atividades profissionais dos pais, mais precisamente
ingressavam na lavoura ou na pesca. Isso resultou em um número relevante de
analfabetos e semianalfabetos, a presente pesquisa identificou 20 moradores
que escrevem apenas o próprio nome e 15 que não sabem escrever.
Atualmente, as crianças têm acesso à educação básica, mas o
ingresso ao ensino superior ainda tem muitas restrições. Os moradores
entrevistados durante a pesquisa, relataram que as dificuldades financeiras
dificultam a manutenção dos filhos na faculdade. Quem deseja cursar o nível
superior, geralmente precisa mudar-se para a capital São Luís. Para isso,
acontecer a família de um determinado aluno precisa ter uma boa renda
mensal. No entanto, a maioria dos moradores não contam com uma renda
superior aos custos básicos da vida interiorana.
O que se observa é que a comunidade, mesmo apresentando
problemas estruturais, apresenta índices de desenvolvimento na educação.
Vários avanços já foram alcançados nos últimos dez anos. O nível de
escolaridade subiu de analfabetos e semianalfabetos para pessoas diplomadas
em cursos superiores e cursos técnicos. Não obstante, as estruturas da
educação escolar precisam ser melhoradas e aperfeiçoadas. Os professores
da comunidade precisam buscar a formação continuada, cada ano muda a
dinâmica comportamental dos alunos. Dessa forma, os educadores devem
estabelecer essa busca por formação contínua. Esse trabalho de melhorias
depende também de políticas públicas, da instituição escolar e de sua
conjuntura educacional e da contribuição permanente da comunidade.

6.4 CENÁRIO POLÍTICO E CULTUAL


A política faz parte da vida do cidadão, o ser humano é essencialmente
político, pois todo cidadão desenvolve sua própria concepção de vida ou se
identifica com um determinado ponto de vista defendido por terceiros.

“A palavra política vem do grego politikos, “relativo ao governo de


uma cidade, de um Estado”. A política se exercia na pólis, a cidade-
Estado grega, aquele espaço fechado onde, nas civilizações antigas,
decidia-se a vida da sociedade. Portanto, a origem da palavra já veio
carregada de significados porque dizia respeito ao Estado e também
ao cidadão. Indicava não só os procedimentos de governar, de
organizar a vida dos cidadãos, como também a forma de expressar o
ponto de vista, defender seus interesses e organizar a comunidade
urbana daqueles considerados cidadãos (e não eram todos). É por
essa razão que o termo diz respeito ao ato de governar, de exercer o
poder, de conquistar, e também de participar, concordar, resistir ou
lutar. São gestos, decisões, movimentos dirigidos para o exercício do
poder ” (BOMENY, 2013, p. 55)

Na sociedade brasileira se discute muito sobre as concepções políticas


de direita e de esquerda, há também a visão moderadora chamada de política
de centro. De maneira geral, todos estão envolvidos com questões políticas,
essas questões podem definir o modo de vida de um país, estado ou município.
Na sociedade democrática, pelo menos em tese, é estabelecido o sistema
político ou governamental defendido pela maioria. Assim, a política democrática
tem seus governantes eleitos pelo voto da maior parcela da população.
Sendo assim, no povoado de Itererezinho não poderia ser diferente,
pois é uma comunidade formada por pessoas com diferentes pontos de vista,
concepções políticas e interesses. O povoado geralmente é dividido em
apoiadores de um determinado governo Municipal e sua oposição. Essa
separação entre apoiadores e opositores geralmente é definida pela questão
dos empregos garantidos pelo governo atuante. Aquele que tem cargo público
garante o voto ao prefeito e ao vereador intermediário na concessão do cargo.
Geralmente a pessoa que consegue um emprego no âmbito municipal garante
o voto de todos os entes familiares e isso é bem aceito pelos gestores e
legisladores. Esse sistema pode ser definido com o voto de cabresto, que é
muito antigo, mas ainda tem muita força das decisões políticas do cidadão do
povoado de Itererezinho. Porém, graças aos concursos públicos esse sistema
vem perdendo força nos últimos anos no cenário político da comunidade. Já
aqueles que não almejam cargo público, por conta do nível de escolaridade,
5

optam pela venda do voto, segundo os relatos dos moradores “a única


possibilidade da população se beneficiar com os políticos é conseguindo
alguma coisa por ocasião das eleições municipais”. Em relação ao governo
Estadual e Federal as disputas políticas são mais amistosas, pois os
moradores interpretam que não interessa muito quem são os deputados,
senadores, governadores ou presidente.
Esse cenário político nem sempre foi o mesmo, o que acontece nos
dias atuais é resultado de uma desilusão coletiva em relação a política justa e
honesta. No ano de 2004, ano de eleições municipais, a comunidade se reuniu
no propósito de ter um representante no Poder Legislativo. Os moradores do
povoado de Itererezinho foram unânimes nesse objetivo. Naquele momento
histórico o verdadeiro significado da política estava sendo colocado em prática,
a comunidade estava querendo voz e vez na luta por políticas públicas para
melhoria das condições de vida, era a luta pela garantia de direitos como
educação, saúde, incentivos para agricultura e melhorias na infraestrutura.
Para concretização desse projeto escolheram um líder comunitário de
boa índole e que tinha o respeito de todos. Com o candidato sendo aceito pela
coletividade deu-se o início à corrida eleitoral, os comunitários financiaram a
campanha. Com isso, o objetivo foi alcançado e conseguiram eleger um
vereador para representá-los. No início de 2005 o vereador tomou posse do
mandato e foi residir na sede do município, abandonando o povoado, e não
correspondeu com as expectativas da população local. Depois desse
acontecimento o cenário político se transformou, resultando nessa divisão atual
e nesse sentimento de descrença com a classe política.
Entretanto, novos líderes vêm surgindo no intuito de reconstruir o
censo político coletivo. Aparentemente esse objetivo está longe de ser
alcançado, muitos continuam desacreditando da possiblidade de surgir um
novo representante que consiga manter os princípios de honestidade e
dignidade. Mas algumas mudanças já podem ser observadas. O Sindicato dos
trabalhadores rurais vem tentando reestabelecer esse censo coletivo através
de incentivos aos lavradores, com a distribuição de sementes para produção
agrícola e com a construção de casas de forno comunitárias.
A comunidade precisa entender que para se alcançar mudanças
significativas é preciso construir princípios sociais voltados para o bem coletivo.
Assim, espera-se o renascimento da visão coletiva para que a política local
volte a ser discutida sob ideais que possam nortear as próximas gerações, no
propósito de alcançar todos os benefícios de uma política de ordem
democrática.
Segundo o portal Brasil Escola, a identidade cultural de um povo
geralmente é caracterizada por vários aspectos, porém os mais importantes
são respectivamente a língua (idioma) e a religião.
O povoado de Itererezinho tem suas bases culturais e religiosas
centradas na religião católica. A maioria dos moradores se autodenominam
como participantes e praticantes dos dogmas da igreja católica, inclusive, o
nome da escola local é uma homenagem à padroeira da localidade, a Santa
Nossa Senhora do Rosário. Assim, cerca de 85% dos moradores do povoado
de Itererezinho mantém os mesmos hábitos e participam das mesmas
festividades. O festejo anual de Nossa Senhora do Rosário mobiliza a
comunidade nas mais diversas atrações, no período da festividade os
moradores se reúnem para construir as barracas que vendem doces e
salgados variados. Esses hábitos são importantes para o bom relacionamento
interpessoal, isso possibilita o bem-estar entre os moradores, porque quase
sempre estão engajados em propósitos concomitantes.
A comunidade preserva costumes passados de pai para filho, por
exemplo, desde muito cedo os filhos do sexo masculino precisam aprendem
desenvolver as mesmas atividades dos pais como: cuidar do gado ou da
lavoura, jogar futebol, frequentar bares e desenvolver uma mentalidade que o
homem exerce autoridade sobre as mulheres. Já as do sexo feminino precisam
simplesmente aprender as atividades domésticas. Isso demonstra que a
comunidade ainda preserva princípios arcaicos de uma sociedade com a
cultura machista.
Em relação à religião, alguns moradores se autodenominam como
pertencentes à religião evangélica, que nos últimos anos vem aumento o
número de adeptos, algumas pessoas que por decisão pessoal acabam
migrando do catolicismo para o protestantismo. Porém, cabe ressaltar que as
relações entre católicos e protestantes são as mais amistosas possíveis. Até
mesmo, porque a opção religiosa é uma decisão de caráter individual. Embora
a religião protestante tenha mostrado um pequeno crescimento nos últimos
5

anos, os princípios católicos continuam sendo preponderantes na concepção


de fé dos moradores do povoado de Itererezinho. Nesse contexto, ressalta-se
também que nenhum morador se diz ser ateu. Aliás o ateísmo cresceu mundial
no início do século XX. Porém, os moradores do povoado de Itererezinho
continuam alicerçados em seus costumes, superstições e exercem a liberdade
de fé.

Foto: Igreja Católica. Fonte: Própria


Foto: Igreja Evangélica. Fonte: própria
5

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo aqui sintetizado diz um pouco sobre as peculiaridades do


povoado de Itererezinho. No entanto, o desenvolvimento do trabalho foi muito
mais rico, já que as palavras dificilmente conseguem reproduzir fielmente todos
os aspectos, anseios e sentimentos de um povo, à medida que as descobertas
vão surgindo começa-se a entender as formas de pensar de uma determinada
comunidade. Todos as questões propostas e trocas de experiências com os
moradores envolvidos nesse processo foram altamente significativas, embora
tenham ficado de fora da escrita científica. Serviram, no entanto, como
subsídios fundamentais que contribuíram para a caracterização e identificação
do perfil socioeconômico dos moradores do povoado Itererezinho.
Uma das lições que fica é sobre a importância de analisar mais
profundamente o desenvolvimento social da comunidade e suas necessidades
mais urgentes com a questão das drogas, que vem tirando o sossego dos
moradores. Verifica-se que esse problema precisa ser resolvido com união e
comprometimento coletivo, para que as ações propostas não sejam
fragmentadas e ineficientes, o caminho para resolução desse problema é a
busca por unidade comunitária.
Concretamente, o trabalho que foi apresentado é fruto de uma
investigação responsável e comprometida com os fatos apresentados, que
procurou analisar o perfil socioeconômico que caracteriza uma comunidade
rural.
Portanto, o resultado está direcionado a todos os interessados pelo
conhecimento do novo e do inesperado. As informações aqui contidas não
retratam a complexidade de um povoado, ou seja, não revela todas as
minúcias contidas na comunidade, mas abre caminho para novas pesquisas e
projetos que busquem corroborar com o presente trabalho monográfico.
Os moradores do povoado Itererezinho para alcançar seus objetivos
políticos, sociais e econômicos - precisam elaborar estratégias com viés
coletivo, mobilizando o maior número possível de pessoas comprometidas com
o desenvolvimento de suas potencialidades produtivas e organizacionais. O
primeiro ato a ser realizado é buscar entender o comportamento atual dos
moradores. É preciso conhecer a realidade, para assim, elaborar propostas de
mudanças naquilo que não satisfaz os anseios comunitário.
O povoado deve se desenvolver sistematicamente na busca pelo
progresso, todos os moradores precisam compreender a importância de ações
coletivas e mudanças dos hábitos individuais. Para se alcançar o progresso é
necessário está predisposto para as transformações e modificações que fazem
parte do processo de crescimento e obtenção de melhorias na condição de
vida.
Não há receitas prontas, que sejam igualmente boas para o alcance do
progresso, isso dependente das características pessoais e das relações
interpessoais. Mas se pode fazer algumas sugestões de atividades produtivas
que auxiliem os moradores: implantação de cooperativas, manter o foco na
educação dos jovens, desenvolver atividades coletivas, cobrar das autoridades
competentes políticas públicas de desenvolvimento tecnológico para as
atividades da lavoura, expandir a produção de pescados e investir em trabalhos
artesanais com uso da matéria-prima local e investir da extração do óleo de
babaçu.
É recomendado ainda aproveitar os terrenos da localidade e investir
em balneários para a exploração do turismo local e para a alavancagem da
economia. Cabe ressalta que essas iniciativas dependem de investimentos da
esfera pública, por isso é necessário recuperar o senso político coletivo.
A política social é importantíssima na construção de uma sociedade
com princípios de igualdade, por isso, é necessário desenvolver um trabalho de
despertamento das novas gerações, para que, o futuro bem próximo seja
repleto de pessoas capazes de transformar a comunidade.
Espera-se que esta pesquisa venha colaborar para a elaboração de
novas pesquisas e que sirva de incentivo para o desenvolvimento educacional
na comunidade estudada. Assim esse presente trabalho monográfico busca ser
mais um material referencial para pesquisas científicas elaboradas na busca do
entendimento comportamental de um munícipio, povoado ou vila. Esse material
também pode ajudar os políticos locais na elaboração de propostas
governamentais baseadas nas dificuldades dos moradores do povoado de
Itererezinho.
Outra questão importante aqui abordada, é a de que o preparo dos
educadores é essencial, para que, o desenvolvimento educacional das
5

comunidades seja cada vez mais consistente e de qualidade. Pois é somente


através da educação de qualidade que os problemas socioeconômicos podem
ser resolvidos.
REFERÊNCIAS

ADAS, Melhem. Geografia: Construção do espaço geográfico brasileiro.


4.ed. São Paulo: Moderna, 2002

ADAS, Sergio. Expedições geográficas - Componente Curricular:


Geografia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2015.

ALBUQUERQUE, Marcos Cintra Cavalcanti. Quatro séculos de história


econômica brasileira. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1977.

APICUM-AÇU, Portal. Disponível em: <https://www.apicumacu.ma.gov.br>.


Acesso 15:30, em 05/07/2020

BOLIGIAN, Levon. A organização do espaço brasileiro: as grandes


regiões: 6ª série. São Paulo. Atual, 2001.

BOMENY, Helena. Tempos modernos, tempo de sociologia: ensino médio.


2. ed. São Paulo: Editora Brasil, 2013.

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<http://www.atlasbrasil.org.br/2013pt/perfilm/apicum-acu-ma . Acesso 10:37,
em 01/07/2020

CORREIA FILHO, Francisco Lages. Projeto Cadastro de Fontes de


Abastecimento por Água Subterrânea, estado do Maranhão: relatório
diagnóstico do município de Apicum-Açu. Teresina: Serviço Geológico do
Brasil, 2011.

ESCOLA, Brasil. Identidade cultural- Língua e Religião. Disponível em:


https://brasilescola.ouo.com.br/geografia/identidade-cultural-lingua-religiao.htm.
Acesso 11:35 01/07/2020

FIGUEIREDO, Marina Bezerra; FREITAS, Jailza. Aspectos socioeconômicos e


ambientais de comunidades pesqueiras do estado do Maranhão. São Luís:
Eduema, 2019.
5

FREIRE, Paulo. Política e Educação: ensaios/ Paulo Freire. 5 ed. São Paulo:
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GUARESCHI, Pedrinho. Sociologia crítica: alternativas de mudança. 53. ed.


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HEILAND, Helmut. Friedrich Fröbel, tradução: Ivanise Monfredini. Recife:
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IBGE. Disponível em:< https://www.apicumacu.ma.gov.br>. Acesso: 20:38, em


25/06/2020.

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Perfil Econômico do Maranhão. Etene, 2018.

,3
MACHADO, Igor José de Renó. Sociologia hoje: ensino médio. São Paulo:
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NOTA 10, Estudante. Ensino Fundamental, Médio, Concursos e


Vestibulares. São Paulo: DCL, 2010.

PECCOLI, Ana Paula. História e Geografia: 4º ano. 2. ed. Fortaleza: Sistema


Ari de Sá de Ensino, 2020.

SAMPAIO, Francisco Coelho. VIANA, Maria. História do Maranhão,4º ano ou


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SCHMIDT, Mario Furley. Nova história crítica: ensino médio. 1.ed. São
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TODA MATÉRIA. Brasil: tudo sobre o nosso país. Disponível em:


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TOMAZI, Nelson Dacio. Sociologia para ensino médio. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2010.
5

ANEXO 1

Roteiro de pesquisa

Local:

Horário:

Data:

Situação/observação:

1 - O espaço de encontros comunitários;

2- A principal atividade econômica;

3 - Como os moradores se comportam em relação à política;

4 – Observação sobre os problemas relacionados ao uso de drogas;

5 – Relatos obtidos sob a metodologia de entrevistas.


ANEXO 2

Questionário estruturado aplicado aos moradores

1 - Nome:

2 – Qual a sua principal atividade econômica?

3 – Quais são seus costumes religiosos?

4 – Como a renda familiar influencia na continuidade dos estudos?

5 – Quais as principais novidades tecnológicas para a lavoura?

6 - Para você, qual é a importância da educação?

7 – Quem você considera como rico?

8 – Quais as mudanças econômicas nos últimos cinco anos?

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