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DOI: 10.22278/2318-2660.2021.v45.n1.a3235

ARTIGO ORIGINAL DE TEMA LIVRE

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS DE COVID-19 EM SALVADOR, BAHIA, BRASIL

Tássia Teles Santana de Macedoa


https://orcid.org/0000-0003-2423-9844

Luiza Santana Monteiro da Silvab


https://orcid.org/0000-0002-9341-6800

Wilton Nascimento Figueredoc


https://orcid.org/0000-0003-2066-0914

Gustavo Marques Porto Cardosod


https://orcid.org/0000-0002-0125-6492

Rodrigo Marques da Silvae


https://orcid.org/0000-0003-2881-9045

Rodolfo Macedo Cruz Pimentaf


https://orcid.org/0000-0002-4699-0180

Resumo
A covid-19 já causou milhares de mortes pelo mundo e ainda preocupa as
autoridades sanitárias devido a sua alta infectividade e transmissibilidade. Trata-se, portanto,
de uma emergência de saúde pública mundial. O objetivo deste artigo é descrever o perfil
epidemiológico de casos de covid-19 no município de Salvador, Bahia, Brasil, nos primeiros
quatros meses de pandemia. Trata-se de um estudo epidemiológico, retrospectivo, descri-
tivo. A partir de uma abordagem quantitativa, foram analisados os dados secundários das

a
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Salvador, Bahia,
Brasil. E-mail: tassiamacedo@bahiana.edu.br
b
Estudante de Graduação em Enfermagem. Aluna voluntária de iniciação científica na Escola Bahiana de Medicina e
Saúde Pública. Salvador, Bahia, Brasil. E-mail: luizasilva18.1@bahiana.edu.br
c
Enfermeiro. Doutor em Enfermagem. Professor na Universidade Estadual de Feira de Santana. Feira de Santana, Bahia,
Brasil. E-mail: wnfigueredo@uefs.br
d
Profissional de Educação Física. Mestre em Estudos Interdisciplinares sobre a Universidade. Professor na Faculdade
Nobre de Feira de Santana. Feira de Santana, Bahia, Brasil. E-mail: gugampc@hotmail.com
e
Enfermeiro. Doutor em Enfermagem. Professor na Faculdade de Ciências e Educação Sena Aires. Valparaíso de Goiás,
Goiás, Brasil. E-mail: marques-sm@hotmail.com
f
Odontólogo. Mestre em Saúde Coletiva. Professor na Unidade de Ensino Superior de Feira de Santana e na Universi-
dade Estadual de Feira de Santana. Feira de Santana, Bahia, Brasil. E-mail: rodolfo.pimenta@gmail.com
Endereço para correspondência: Universidade Estadual de Feira de Santana. Departamento de Saúde. Avenida Trans-
nordestina, s/n, Novo Horizonte. Feira de Santana, Bahia, Brasil. CEP: 44036-900. E-mail: wnfigueredo@uefs.br

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Revista Baiana notificações de covid-19 no município mencionado. O período analisado foi o de março
de Saúde Pública a junho de 2020. Foram confirmados 34.692 casos da doença, com maior número de regis-
tros em adultos com idades entre 20 e 49 anos (77,3%), do sexo feminino (53,7%). Por outro
lado, o número de casos em crianças e adolescentes foi menor (4,4%). O distrito sanitário
Barra/Rio Vermelho, região com os melhores indicadores socioeconômicos da cidade, apre-
sentou o maior número de casos notificados. As doenças cardíacas (10,4%) e o diabetes
mellitus (7,8%) foram as patologias pregressas mais relatadas entre as pessoas infectadas.
Conclui-se que a cidade de Salvador (BA) se apresentou como uma região com forte ten-
dência de aumento dos casos e, consequentemente, propensa ao agravamento da doença,
o que impõe a necessidade de elaboração de estratégias públicas para a diminuição de
propagação do vírus SARS-CoV-2.
Palavras-chave: Covid-19. Coronavírus. Dados demográficos. Análise espacial. Epidemiologia.

EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF COVID-19 CASES IN SALVADOR, BAHIA, BRAZIL

Abstract
Responsible for thousands of deaths worldwide, the COVID-19 pandemic remains
a concern for health authorities due to its high infectivity and transmissibility, thus constituting
a global public health emergency. This study sought to describe the epidemiological profile
of COVID-19 cases in the municipality of Salvador, Bahia, Brazil in the first four months of the
pandemic. Using a quantitative approach, this epidemiological, retrospective, descriptive study
analyzed secondary data from COVID-19 notifications recorded between March and June 2020 in
the respective city. The period analyzed was March to June 2020. Results show 34,692 confirmed
cases, with high prevalence of adults (77.3%) aged 20 to 49 years old, women (53.7%), and a small
number of cases in children and adolescents (4.4%). The Barra/Rio Vermelho sanitary district,
region with the best socioeconomic indicators, had the highest number of reported cases. Heart
disease (10.4%) and diabetes mellitus (7.8%) were the most reported past pathologies among the
infected. In conclusion, the city of Salvador showed a propensity to increase the number of cases
and, consequently, was prone to the worsening of the disease, which imposes the need to develop
public strategies to reduce the spread of the SARS-CoV-2 virus.

Keywords: Covid-19. Coronavirus. Demographic data. Spatial analysis. Epidemiology.

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PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE CASOS DEL COVID-19 EN SALVADOR, BAHÍA, BRASIL

Resumen
El COVID-19 ya ha causado numerosas muertes en todo el mundo y todavía
preocupa a las autoridades sanitarias por su alta infectividad y transmisibilidad. Es, por tanto,
una emergencia de salud pública mundial. El objetivo de este artículo es describir el perfil
epidemiológico de los casos del COVID-19 en el municipio de Salvador, Bahía (Brasil), en los
primeros cuatro meses del inicio de la pandemia. Se trata de un estudio epidemiológico,
de abordaje descriptivo, retrospectivo. A partir de un enfoque cuantitativo, se analizaron
datos secundarios reportados del COVID-19 en la ciudad de Salvador. El período analizado
fue de marzo a junio de 2020. Se confirmaron 34.692 casos de la enfermedad, con mayor
número de registros en adultos con edades entre 20 y 49 años (77,3%), y mujeres (53,7%).
Se observó un menor número de casos entre niños y adolescentes (4,4%). El distrito de
salud de Barra / Rio Vermelho, a pesar de tener los mejores indicadores socioeconómicos de
la ciudad, tuvo el mayor número de casos reportados. Las enfermedades cardíacas (10,4%)
y la diabetes mellitus (7,8%) fueron las patologías precedentes más notificadas entre los
infectados. Se concluye que la ciudad de Salvador se presentó como una región con fuerte
tendencia al aumento de casos y, en consecuencia, a la severidad de la enfermedad, lo que
muestra la necesidad de implementar estrategias públicas para reducir la propagación del
virus SARS-CoV-2.
Palabras clave: Covid-19. Coronavirus. Datos demográficos. Análisis espacial. Epidemiología.

INTRODUÇÃO
Desde os primeiros casos da covid-19 – doença infecciosa causada pelo vírus da
síndrome respiratória aguda grave, ou coronavírus 2 (SARS-CoV-2) – reportados pela China em
dezembro de 2019, o número de infectados aumentou exponencialmente no mundo. Segundo
a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 17 de dezembro de 2020 havia mais de 72 milhões
de pessoas infectadas com o vírus e mais de 1 milhão de mortes contabilizadas mundialmente1.
O Brasil era então considerado o terceiro país com o maior número de contaminados,
contabilizando mais de 7 milhões de casos e mais de 180 mil mortes pela doença1. No Brasil,
o primeiro caso foi registrado em São Paulo, em 26 de fevereiro de 20202, e em seguida, no mês

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Revista Baiana de março, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia confirmou o primeiro caso de covid-19 no
de Saúde Pública município de Salvador3.
A cidade de Salvador é considerada uma grande metrópole, a quarta maior cidade
do Brasil, com mais de 2,5 milhões de habitantes4. O município registra o maior número de
infecções pelo vírus no estado da Bahia5. Dados mostram a crescente evolução da doença no
município, que apresentou, até 17 dezembro de 2020, mais de 90 mil casos confirmados, com
quase três mil mortes registradas6.
Pesquisadores apontam que inúmeros são os desafios no manejo clínico dos
pacientes afetados pela covid-197, e por isso ainda existe escassez de evidências científicas
sobre a patogênese do novo coronavírus, o que dificulta o direcionamento no tratamento8.
Aliado a esse fato, a alta velocidade de expansão do vírus e as distintas distribuições regionais
da incidência de mortalidade podem provocar o colapso dos sistemas de saúde e dificultar
a implementação de intervenções efetivas no controle da propagação do vírus9.
Diante desse cenário, os estudos epidemiológicos apresentam-se como
determinantes para o reconhecimento dos casos através dos dados que caracterizam a doença,
fornecendo assim o perfil de infectividade e transmissibilidade do vírus10. Portanto, pesquisas
nessa área podem ajudar no direcionamento do diagnóstico precoce e do tratamento adequado
da covid-199.
Considerando os desafios no manejo clínico e a elevada taxa de transmissibilidade
e letalidade do SARS-CoV-2, questiona-se: qual o perfil epidemiológico da população acometida
pela covid-19 no município de Salvador, Bahia, Brasil?
O objetivo deste estudo é descrever o perfil epidemiológico de casos de covid-19
no município de Salvador nos primeiros quatro meses de pandemia.

MATERIAL E MÉTODOS
Este artigo apresenta um estudo epidemiológico, retrospectivo e descritivo.
Guiada por uma abordagem quantitativa, esta pesquisa fundamentou-se em dados secundários
públicos do domínio da Secretaria da Saúde do Município de Salvador, sob a gestão da Diretoria
de Vigilância da Saúde.
Neste estudo, foram incluídos os registros dos casos que seguiram o protocolo
de atendimento para casos suspeitos de infecção pelo SARS-CoV-2. Durante o protocolo
de atendimento, utilizou-se a ficha de investigação de síndrome gripal suspeita de doença
pelo coronavírus 2019 – covid-19, com a Classificação Estatística Internacional de Doenças
e Problemas Relacionados com a Saúde (CID) – B34.2. Essa ficha de notificação11 fornece

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dados referentes à definição do caso e variáveis epidemiológicas e clínicas, tais como o teste
laboratorial, sintomas e condições pregressas de saúde. Foram incluídos neste estudo os registros
dos casos notificados durante o período de 01 de março até 30 de junho de 2020.
As variáveis escolhidas foram dados sociodemográficos, como: idade, sexo,
gestantes contaminadas, profissionais da saúde infectados, raça/cor, distrito sanitário (bairro/
localidade onde se localiza a residência), informações sobre as doenças pregressas dos pacientes,
tipo do teste utilizado no diagnóstico e a evolução do caso. Todos os diagnósticos confirmados
pela inoculação do SARS-CoV-2 foram considerados através da confirmação laboratorial e/ou
da avaliação clínica, com a sintomatologia.
Os dados foram extraídos da plataforma Microsoft Excel (versão 2017) e as
análises estatísticas foram realizadas por meio do software Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS) (versão 22). Os resultados descritivos são apresentados na forma de frequência
absoluta, frequência relativa e medidas de tendência central. Diante do pequeno valor
numérico, objetivando a clareza e objetividade dos dados, foram suprimidos os valores de
missing nos resultados.
Este estudo seguiu as recomendações da resolução n.º 466 de 2012, do Conselho
Nacional de Saúde e foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual de Feira de
Santana, sob o parecer nº 4.140.322.

RESULTADOS
Registrou-se, entre 01 de março e 30 de junho de 2020, 34.692 pessoas infectadas
pela covid-19 no município de Salvador. A maioria é composta por adultos (77,3%), do sexo
feminino (53,7%), autodeclarados da cor/raça parda (56,7%). Nota-se ainda que 65% dos casos
ocorreram em pessoas adultas, entre 20 e 49 anos de idade, em contraste com um reduzido
número (4,4%) de infecção em crianças e adolescentes (Tabela 1).
Na distribuição espacial da covid-19 pelos bairros de Salvador, verificou-se
a média de 2.385,5 casos confirmados entre os 12 distritos, e o distrito sanitário Barra/Rio
Vermelho obteve o maior registro de casos de covid-19 (Tabela 1).
Do total de casos confirmados (34.692), o total de profissionais da saúde
infectados foi de 6.150 (17,8%). Considerando o período analisado, são, aproximadamente,
68 profissionais ausentes de suas atividades laborais por dia.

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Revista Baiana Tabela 1 – Caracterização sociodemográfica dos soteropolitanos acometidos pela
de Saúde Pública covid-19. Salvador, Bahia, Brasil – 2020
Dados sociodemográficos n (%)
Sexo
Feminino 18631 (53,7)
Masculino 16056 (46,3)
Faixa etária
< 10 anos 818 (2,4)
10 a 19 anos 692 (2,0)
20 a 29 anos 7262 (20,9)
30 a 39 anos 8159 (23,5)
40 a 49 anos 7138 (20,6)
50 a 59 anos 4667 (13,5)
60 a 69 anos 2685 (7,7)
70 a 79 anos 1671 (4,8)
> = 80 anos 1599 (4,6)
Raça/Cor
Parda 14473 (56,7)
Preta 3956 (15,5)
Branca 3062 (12,0)
Amarela 2604 (10,2)
Indígena 46 (0,2)
Ignorado 1369 (5,4)
Distrito sanitário
Barra/Rio Vermelho 5431 (15,7)
Cabula/Beiru 4205 (12,1)
Subúrbio Ferroviário 3227 (9,3)
Itapuã 3194 (9,2)
Brotas 3056 (8,8)
São Caetano/Valéria 2437 (7,0)
Pau da Lima 2334 (6,7)
Liberdade 2303 (6,6)
Itapagipe 1948 (5,6)
Boca do Rio 1861 (5,4)
Sem informação 1855 (5,3)
Cajazeiras 1529 (4,4)
Centro Histórico 1086 (3,1)
Outra cidade 134 (0,4)
Bairro não localizado nos distritos 91 (0,3)
Profissionais da saúde infectados
Não 28355 (82,2)
Sim 6150 (17,8)
Fonte: Elaboração própria.

Durante o mesmo período, totalizou-se 107.687 casos confirmados na Bahia e mais


de um milhão de casos no Brasil. Salvador e o estado da Bahia corresponderam, aproximadamente,
e respectivamente, a 2,5% e 7,7% dos casos nacionais de covid-19. Entretanto, quando se compara
o crescimento da curva entre Salvador, Bahia e Brasil, verifica-se que o município de Salvador
demonstra uma forte tendência de aumento contínuo da notificação e um relativo distanciamento
da curva de casos notificados em cunho nacional (Figura 1).

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Figura 1 – Casos acumulados e confirmados de covid-19 no Brasil, no estado da
Bahia e no município de Salvador entre março de 2020 e junho de 2020. Salvador,
Bahia, Brasil – 2020

Fonte: Elaboração própria.

Com relação às características clínicas, pode-se observar que a maioria dos


soteropolitanos acometidos pela covid-19 não possuíam doenças pregressas. Entretanto,
quando comparado com os demais grupos de patologias, as doenças cardíacas e o diabetes
mellitus se destacam e alcançam 10,4% e 7,8%, respectivamente, da população infectada pelo
SARS-CoV-2 (Tabela 2).
Diante das características da evolução da doença no período investigado, observa-
se que um percentual significativo evoluiu para a cura da doença, sendo a letalidade registrada
em 6,5% do total dos casos confirmados.

Tabela 2 – Características clínicas dos soteropolitanos acometidos pela covid-19.


Salvador, Bahia, Brasil – 2020
(continua)
Perfil epidemiológico n (%)
Doenças genéticas
Não 32102 (92,5)
Sim 181 (0,5)
Ignorado 2408 (6,9)
Doenças imunológicas
Não 31786 (91,4)
Sim 475 (1,4)
Ignorado 2430 (7,0)

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Revista Baiana Tabela 2 – Características clínicas dos soteropolitanos acometidos pela covid-19.
de Saúde Pública Salvador, Bahia, Brasil – 2020
(conclusão)
Perfil epidemiológico n (%)
Doenças renais
Não 31674 (91,3)
Sim 596 (1,7)
Ignorado 2421 (7,0)
Doenças respiratórias
Não 31534 (90,9)
Sim 726 (2,1)
Ignorado 2431 (7,0)
Diabetes mellitus
Não 29840 (86,0)
Sim 2710 (7,8)
Ignorado 2141 (6,2)
Doenças cardíacas
Não 29094 (83,9)
Sim 3599 (10,4)
Ignorado 1998 (5,8)
Tipo do teste utilizado no diagnóstico
RT_PCR 24838 (73,6)
Secreção de Naso-orofaringe 4609 (13,7)
Teste rápido 4072 (12,1)
Evolução da doença
Cura 17202 (67,5)
Ignorado 3258 (12,8)
Tratamento domiciliar 3227 (12,7)
Óbito 1651 (6,5)
Internado 125 (0,5)
Internado na UTI 35 (0,1)
Fonte: Elaboração própria.

DISCUSSÃO
Neste estudo, assim como em outra pesquisa10 realizada na cidade do Rio de
Janeiro, a população feminina apresentou a maior frequência de casos de covid-19. Contudo,
os agravamentos com hospitalizações por SARS-CoV-2 são predominantes em pessoas do
sexo masculino12, pois estes têm um risco acentuadamente maior (cerca de duas vezes) de
desenvolver casos graves, em comparação com as mulheres13. As explicações para esse perfil
podem estar relacionadas com as diferenças imunológicas e biológicas, como a composição
celular entre os sexos, bem como ao estilo de vida e hábitos comportamentais14. Além disso,
segundo dados do boletim epidemiológico, o número total de óbitos por covid-19 na Bahia
desde o início da pandemia é de 15.710, representando uma letalidade de 1,93%. Do total de
óbitos, 55,40% foram do sexo masculino5.

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Há evidências de que alguns grupos de minorias raciais e étnicas estão sendo
desproporcionalmente afetados, com adoecimento e risco de morte pela covid-1915.
Discriminação, más condições sanitárias, desigualdade ao acesso à saúde e à educação de
qualidade, a pobreza e a moradia são fatores associados aos casos mais graves da covid-1916,17.
Cita-se, ainda, a exacerbação de problemas históricos no Brasil que extrapolam o âmbito da
saúde, como o racismo estrutural do corpo negro para além das margens das políticas públicas e
sua subnotificação18, o que inviabiliza uma análise epidemiológica completa acerca dos principais
grupos minoritários acometidos pelo SARS-CoV-2. Portanto, em virtude das evidências de que
a covid-19 não exclui raça, etnia ou cor, é necessário agir contra a disseminação do coronavírus
de forma mais objetiva e linear, mas sem perder a individualidade dos setores e camadas mais
vulneráveis da população.
No entanto, quanto à territorialização por distritos sanitários em Salvador, os fatores
supracitados não corroboram integralmente as características do aumento do número de casos
nos bairros, visto que o distrito sanitário Barra/Rio Vermelho, apesar de ter algumas regiões de
subdesenvolvimento, apresenta os melhores índices para as condições socioeconômicas do
município de Salvador19 e quatro bairros com o maior índice de isolamento social do município20.
No Brasil e em outros países, em decorrência da covid-19, milhares de
profissionais de saúde foram afastados das atividades profissionais, e muitos morreram21. Além
disso, muitos convivem com o risco de infecção, a possibilidade de propagação aos familiares e
a sobrecarga de trabalho pela incorporação das atividades daqueles que estão afastados, o que
gera esgotamento físico e mental, dor e angústia por perder pacientes e colegas, dificuldades de
tomada de decisão e ansiedade22. Assim, dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade
de ações e maiores cuidados com estes profissionais, para além de medidas como a testagem
rápida. Além disso, durante essas ações sugere-se a realização de testagem de forma amplificada,
acolhimento, monitoramento, oferta de suporte psicológico e psiquiátrico e a promoção de
práticas integrativas que possam minimizar a sobrecarga de trabalho que os profissionais de
saúde estão vivenciando.
Com relação às comorbidades, esta pesquisa apresenta um número expressivo de
pessoas infectadas pela covid-19 que possuíam diabetes mellitus e doenças cardíacas. Pesquisas
internacionais também corroboram esses achados e evidenciam maior incidência dos óbitos
em pessoas com doenças pré-existentes, como a diabetes e doenças cardiovasculares23,24.
Embora este estudo aborde casos confirmados e não óbitos, pode-se afirmar que as doenças
crônicas elevam o risco para o desenvolvimento de complicações relacionadas ao SARS-CoV-2.
Consequentemente, aumentam a chance e a taxa de óbito por coronavírus no mundo, como

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Revista Baiana observado em estudo ecológico25, segundo o qual a maioria dos óbitos ocorridos na Bahia
de Saúde Pública estava ligada às duas referidas comorbidades.
Assim, esse indicador acende o alerta para identificar, na população soteropolitana,
a mesma emergência que o Brasil presencia neste século, já que é o quarto país com o maior
número de pessoas com diabetes26, e a capital baiana tem, aproximadamente, 30% da sua
população diagnosticada com hipertensão27.
O distanciamento social é entendido como uma estratégia de isolamento
para evitar a propagação da contaminação e tem demonstrado efetividade no controle do
crescimento exponencial da doença22. Em Salvador, as autoridades municipais implementaram
diversas medidas de saúde pública mediante decretos municipais; dentre elas, destacam-se
a declaração do estado de emergência, fechamento de praias, redução na frota de ônibus,
fechamento de escolas e proibição de eventos28. E apesar dessas medidas, a capital baiana
ainda apresenta baixo índice de isolamento e consequentemente uma elevação na ocorrência
de casos e óbitos5.
No tocante à testagem para identificação de casos ativos, os testes de diagnóstico
para a covid-19 foram uma ferramenta essencial para rastrear a propagação da doença,
e a prefeitura de Salvador providenciou a realização de blitze de testes rápidos29. Os testes
rápidos, realizados por meio da coleta de uma gota de sangue, foram utilizados por sua
praticidade, rapidez, baixo custo, especialmente se comparados com o padrão-ouro de reação
em cadeia da polimerase (RT-PCR). Apesar da implementação do teste rápido como medida
de monitorização da propagação do vírus no município de Salvador, o RT-PCR ainda foi o mais
utilizado na população, acredita-se que por causa de sua sensibilidade para detecção precoce
da covid-19 durante a fase aguda30.
Por se tratar de um estudo com dados secundários, destacam-se algumas limitações,
comuns quando se opta por esse tipo de fonte: fragilidade, incompletude e/ou ausência de
informações no banco de dados, o que resultou em dificuldades para caracterização dos
casos notificados. Ressalta-se ainda que as notificações dos casos da covid-19 são, geralmente,
realizadas por diversos profissionais, por vezes sem treinamento e sem familiaridade com
o formulário, o que pode comprometer a qualidade completa do registro das informações
constantes na ficha de notificação.

CONCLUSÃO
O perfil epidemiológico dos casos notificados de covid-19 no município de
Salvador apresentou tendência de crescimento quando comparado aos dados nacionais.

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Contudo, evidenciou similaridade quanto às características clínicas das pessoas infectadas.
Dessa forma, reforça-se a necessidade da vigilância, do monitoramento, da prevenção, das
medidas de biossegurança e de isolamento social proposto pelas autoridades de saúde para
conter a propagação do vírus SARS-CoV-2.

COLABORADORES
1. Concepção do projeto, análise e interpretação dos dados: Tássia Teles Santana
de Macêdo, Luiza Santana Monteiro da Silva e Wilton Nascimento Figueredo.
2. Redação do artigo ou revisão crítica relevante do conteúdo intelectual: Tássia
Teles Santana de Macêdo, Luiza Santana Monteiro da Silva, Wilton Nascimento Figueredo,
Gustavo Marques Porto Cardoso, Rodrigo Marques da Silva e Rodolfo Macedo Cruz Pimenta.
3. Revisão e Aprovação final da versão a ser publicada: Tássia Teles Santana de
Macêdo, Luiza Santana Monteiro da Silva, Wilton Nascimento Figueredo, Gustavo Marques
Porto Cardoso, Rodrigo Marques da Silva e Rodolfo Macedo Cruz Pimenta.
4. Ser responsável por todos os aspectos do trabalho na garantia da exatidão e
integridade de qualquer parte da obra: Tássia Teles Santana de Macêdo, Luiza Santana Monteiro
da Silva, Wilton Nascimento Figueredo, Gustavo Marques Porto Cardoso, Rodrigo Marques da
Silva e Rodolfo Macedo Cruz Pimenta.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Secretaria Municipal de Saúde da cidade de Salvador,
especialmente à Diretoria de Vigilância à Saúde e ao Centro de Informações Estratégicas em
Vigilância em Saúde, pela valiosa contribuição ao disponibilizar os dados.

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