Você está na página 1de 141

CURSO DE GRADUAÇÃO BACHARELADO EM ARQUITETURA E

URBANISMO

KÉSIA ROCHA ARAUJO

LIGHT CAMP: PROJETO DE ARQUITETURA EFÊMERA PARA


SUPORTE A VOLUNTÁRIOS EM MISSÕES HUMANITÁRIAS

Campos dos Goytacazes/RJ


2019
KÉSIA ROCHA ARAUJO

LIGHT CAMP: PROJETO DE ARQUITETURA EFÊMERA PARA


SUPORTE A VOLUNTÁRIOS EM MISSÕES HUMANITÁRIAS

Monografia apresentada ao Instituto Federal de


Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense Campus
Campos Centro como requisito parcial para a
conclusão do Curso de Graduação Bacharelado em
Arquitetura e Urbanismo.

Orientador: Prof. M.Sc. Zander Ribeiro Pereira Filho

Coorientador: Prof. D.Sc. Sergio Rafael Cortes de


Oliveira

Campos dos Goytacazes/RJ


2019
KÉSIA ROCHA ARAUJO

LIGHT CAMP: PROJETO DE ARQUITETURA EFÊMERA PARA SUPORTE A


VOLUNTÁRIOS EM MISSÕES HUMANITÁRIAS

Monografia apresentada ao Instituto Federal de


Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense Campus
Campos Centro como requisito parcial para a
conclusão do Curso de Graduação Bacharelado em
Arquitetura e Urbanismo.

Aprovada em 20 de março de 2019.

Banca Avaliadora:

.......................................................................................................................................................
Prof. M.Sc. Zander Ribeiro Pereira Filho (Orientador)
Arquiteto e Urbanista; Mestre em Engenharia Ambiental/UFRJ
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense Campus Campos Centro

.......................................................................................................................................................
Prof. D.Sc. Sergio Rafael Cortes de Oliveira (Coorientador)
Engenheiro Civil; Doutor em Engenharia Civil/UENF
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense Campus Campos Centro

.......................................................................................................................................................
Profª. D.Sc. Regina Coeli Martins Paes Aquino (Banca Interna)
Arquiteta e Urbanista; Doutora em Engenharia e Ciência dos Materiais/UENF
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense Campus Campos Centro

.......................................................................................................................................................
Profª. D.Sc. Margarida Maria Mussa Tavares Gomes (Banca Externa)
Arquiteta e Urbanista; Doutora em Urbanismo/UFRJ
Dedico este trabalho aos meus pais, que mesmo sem terem grandes
oportunidades de estudos, se esforçaram para oferecer o que eles jamais
desfrutaram na vida, para que eu pudesse construir um futuro melhor.
AGRADECIMENTOS

Passados cinco longos anos de noites mal dormidas, choros e preocupações, chegou o
fim de um ciclo tão marcante na minha vida. Conciliar faculdade, estágios, tantas atividades
extracurriculares e ainda ter tempo para uma “vida social” foi quase missão impossível. Sinto-
me imensamente feliz por saber que aproveitei cada momento do curso, consciente de que era
o momento para crescer, e como cresci!
Tudo isso só foi possível porque Deus esteve presente me guiando em meio a tantas
dificuldades e incertezas. Ele foi meu sustento e sei que tudo que tenho, tudo que sou e o que
vier a ser é porque sua graça me alcançou. Também sou grata a minha família que, com muito
amor, me ensinou o caminho para a superação.
Quero agradecer em especial ao meu pai, Ricardo, por todas as vezes que foi meu
motorista particular, e a minha mãe, Aparecida, por ter acordado todos os dias tão cedo só para
preparar meu café da manhã e me desejar um bom dia de estudos. Agradeço a minha irmã,
Jesana, por ouvir meus dramas quando as maquetes não davam certo. E aos meus amigos por
entenderem minha ausência nesse período de dedicação. Amo vocês infinitamente!
Cabe aqui ressaltar minha gratidão a todos os professores que contribuíram para o meu
crescimento educacional. Aos meus mestres do ensino básico, agradeço por me mostrarem o
quão importante é o esforço pessoal e por me incentivarem a buscar novos horizontes. Sou grata
ao aprendizado prático que obtive durante o curso Técnico em Edificações, cursado no IFF, em
especial aos professores Sérgio Rafael, Cremilson, Rafael Mesquita e Wellington Gomes. Este
último, minha maior influência para prestar o vestibular de Arquitetura e Urbanismo.
Aos professores do ensino superior, sou grata por me ensinarem que nada é tão difícil
que não possa ser conquistado. Hoje, posso afirmar com toda certeza que sou uma guerreira, e
se eu cair, é pra levantar com ainda mais vontade de lutar pelos meus objetivos. Aos professores
do bonde, agradeço por serem um conforto nos dias difíceis e por proporcionarem tantos
momentos de descontração. Por esses e tantos outros motivos, os desejo todo o reconhecimento
do mundo: Vocês são sensacionais!
Agradeço ao meu orientador, Zander, por incentivar a fazer o meu melhor neste trabalho
e auxiliar na tomada de decisões que foram de extrema importância. E ao meu coorientador,
Sérgio, por sua dedicação e empenho nas orientações bem como pela motivação e confiança
que transmitiu para mim nessa fase. Ambos professores que eu admiro profundamente e se
tornaram grandes inspirações como pessoas e profissionais. Vocês foram a minha melhor
escolha!
Sou grata aos membros avaliadores da minha banca, Regina e Margarida, duas
preciosidades, que aceitaram o desafio de contribuir na elaboração deste trabalho. Ao meu
amigo, Ronaldo Junior, por me auxiliar na parte teórica e por fazer eu acreditar em mim mesma.
E a todos os meus chefes e professores de estágios e bolsas de pesquisa e extensão, que foram
responsáveis por muito aprendizado adquirido ao longo desta caminhada.
Também agradeço a oportunidade de estar em uma instituição que admiro e que oferece
muitas oportunidades aos alunos. Por fim, agradeço a todos os meus colegas do curso que
estiveram comigo em tantos momentos de dificuldade e preocupação, meus amigos e
companheiros das noites mal dormidas, ou não dormidas, mas também parceiros de muitos
momentos de diversão.
Agradeço em especial a Andrezza por ser a melhor amiga que alguém poderia ter, a
Maria por ser minha fiel companheira de projetos e por ter me ensinado tantas lições de vida, a
José Augusto por ser meu anjo da guarda e consertar meu computador diversas vezes e a Daniel
por ter feito minhas madrugadas estudando estruturas mais suportáveis.
Sou grata por Yasmin, Júlia, Aline, Amanda, Lara, Nathália, Rayane, Grazielle, Thaís e
tantos outros tantos outros colegas do curso que foram minha família quando eu quase não
podia estar em casa. Vocês foram presentes que a graduação me deu e tenho certeza que serão
laços que levarei pelo resto da vida!
“Ninguém pode achar que falhou a sua missão neste mundo, se aliviou
o fardo de outra pessoa.”

Charles Dickens
RESUMO

Em meio a desordem provocada pelos conflitos e desastres naturais, os problemas na sociedade


são emergentes. Apesar dos programas sociais e dos diversos órgãos de apoio que atualmente
operam nos locais afetados, percebe-se que as nações ainda estão longe de possuir uma política
de controle eficiente. Isso se dá por inúmeros fatores como corrupção, falta de gerenciamento
estratégico e disputas de poder. Entretanto, as organizações sem fins lucrativos têm investido
em novas formas de atuação a fim de melhorar esse panorama. Apesar desses estudos, ainda
existe uma lacuna quando o assunto é a acomodação de profissionais voluntários nessas áreas
fragilizadas. Nesse contexto, uma solução encontrada foi a arquitetura efêmera, tipo de
construção criada para permanecer somente em determinado espaço de tempo. Esse método
construtivo existe desde a pré-história e está em constante desenvolvimento por conter
características ideais onde se busca economia e praticidade. Outra solução adotada foi o uso da
fabricação digital, tipo de produção que oferece maior praticidade bem como a incorporação de
conceitos de sustentabilidade ao artefato produzido. A partir disso, o objetivo geral deste
trabalho é desenvolver um projeto de arquitetura efêmera que ofereça espaços para
recrutamento, preparo e emprego de voluntários em regiões vulneráveis. Os procedimentos
metodológicos adotados serão revisões textuais e entrevistas com membros dessas
organizações. Por fim, espera-se que este documento contribua tanto na compreensão dos
assuntos relativos ao trabalho voluntário quanto em futuras pesquisas de desenvolvimento.

Palavras-chave: Desastre natural. Crise humanitária. Voluntários. Arquitetura efêmera.


Fabricação digital.
ABSTRACT

Amidst the disorder caused by conflicts and natural disasters, problems in society are emerging.
What is wrong with current statistical systems, if the rule is still far from maintaining an
effective control policy. This is an item in the risk factors, the lack of managing strategies and
power disputes. Nonetheless, non-profit associations have invested in new ways of working to
improve this landscape. Even if there are studies, there is still a gap when it comes to greater
responsibility for weakened areas. The point was for an architecture and a type of organization
created to be attended in a space of time. This constructive method has existed since prehistory
and is in constant development because it contains details where it seeks economics and
practicality. Another solution adopted was the use of digital manufacture, which provides
greater practicality such as the incorporation of sustainability concepts to artefact produced.
From this, the objective of this project is to develop an architecture project that offers spaces
for recruitment, preparation and support work in vulnerable regions. The adopted
methodological procedures are reviewed and displayed with organizations of the organizations.
Finally, it is hoped that this document will contribute as much to the understanding of the levels
of knowledge as to voluntary work as well as future research.

Keywords: Natural disaster. Humanitarian crisis. Volunteers. Ephemeral architecture. Digital


manufacture.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 - Conflito em Gaza. ..................................................................................... 10


Figura 1.2 - Refugiados de Myanmar. .......................................................................... 12
Figura 1.3 - Desastre por mudança climática. .............................................................. 14
Figura 1.4 - Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. ....................................... 19
Figura 1.5 - Fases de um desastre. ................................................................................ 26
Figura 2.1 - Tenda Tipi. ................................................................................................ 30
Figura 2.2 - Tendas dos nômades do deserto. ............................................................... 30
Figura 2.3 - Yurt. ........................................................................................................... 31
Figura 2.4 - Esquema de cobertura. .............................................................................. 31
Figura 2.5 - Nissen Hut. ................................................................................................ 32
Figura 2.6 - Must........................................................................................................... 32
Figura 2.7 - Esquema tenda Tipi. .................................................................................. 34
Figura 2.8 - Detalhes da tenda nômade do deserto. ...................................................... 35
Figura 2.9 - Esquema cabana Yurt. ............................................................................... 35
Figura 2.10 - Esquema Nissen Hut. .............................................................................. 36
Figura 2.11 - Projeto em contêineres. ........................................................................... 38
Figura 2.12 - Projeto em sistema module. .................................................................... 38
Figura 2.13 - Projeto em sistema Tensile...................................................................... 39
Figura 2.14 - Projeto em sistema Pneumatic. ............................................................... 40
Figura 3.1 - CNC Milling.............................................................................................. 45
Figura 3.2 - CNC Routing. ............................................................................................ 46
Figura 3.3 - Water Jet Cutting. ..................................................................................... 46
Figura 3.4 - Laser Cutter. ............................................................................................. 47
Figura 3.5 - Roland CAMM-1 Vinyl Cutter. ................................................................. 47
Figura 3.6 - Subdivisão de superfícies. ......................................................................... 50
Figura 3.7 - Manufatura por camada lateral. ................................................................ 51
Figura 3.8 - Subdivisão Bilateral. ................................................................................. 51
Figura 3.9 - Subdivisão Multilateral. ............................................................................ 52
Figura 3.10 - Sistemas de conexão. .............................................................................. 53
Figura 3.11 - Variações para conexões sistema CE. ..................................................... 54
Figura 3.12 - Variações connection running (CR). ...................................................... 54
Figura 3.13 Diagrama estrutural. ................................................................................. 56
Figura 3.14 - Diagrama comportamental. ..................................................................... 57
Figura 3.15 - Diagrama de interação. ........................................................................... 57
Figura 4.1 - Planta baixa. .............................................................................................. 60
Figura 4.2 - Casa S........................................................................................................ 61
Figura 4.3 - Horta em materiais alternativos. ............................................................... 61
Figura 4.4 - Espaço de convivência. ............................................................................. 62
Figura 4.5 - Espaço recreativo. ..................................................................................... 62
Figura 4.6 - Soe Ker Tie House. ................................................................................... 64
Figura 4.7 - Elementos vazados na construção. ............................................................ 64
Figura 4.8 - Fundação sobre estacas. ............................................................................ 65
Figura 4.9 - Esquema de camas presas na estrutura. .................................................... 65
Figura 4.10 - Balanço com materiais alternativos. ....................................................... 66
Figura 4.11 - Sistema Habitacional Efêmero. ............................................................... 67
Figura 4.12 - Esquema volumétrico.............................................................................. 67
Figura 4.13 - Esquematização da malha do Sistema Habitacional Efêmero. ............... 68
Figura 4.14 - Esquema do processo de montagem. ...................................................... 69
Figura 4.15 - Zoneamento do Sistema Habitacional Efêmero. ..................................... 70
Figura 4.16 - Implantação do Sistema Habitacional Efêmero. ..................................... 70
Figura 4.17 - Prototipo Puertas, Vivienda de Emergencia. ......................................... 71
Figura 4.18 - Planta baixa. ............................................................................................ 72
Figura 4.19 - Pátio central. ........................................................................................... 72
Figura 4.20 Esquema de ventilação. ............................................................................ 72
Figura 4.21 - Esquema de captação da água da chuva.................................................. 73
Figura 4.22 - Esquema de direcionamento da água da chuva para os reservatórios..... 73
Figura 4.23 - Corte esquemático. .................................................................................. 74
Figura 5.1 - Farol náutico. ............................................................................................ 78
Figura 5.2 - Ensaio 1: 18 voluntários (terreno plano). .................................................. 83
Figura 5.3 - Ensaio 2: 36 voluntários (terreno plano). .................................................. 84
Figura 5.4 - Ensaio 3: 72 voluntários (terreno plano). .................................................. 85
Figura 5.5 - Ensaio 1: 18 voluntários (terreno acidentado). ......................................... 86
Figura 5.6 - Ensaio 2: 36 voluntários (terreno acidentado).. ........................................ 87
Figura 5.7 - Ensaio 3: 72 voluntários (terreno acidentado).. ........................................ 88
Figura 5.8 - Planta baixa humanizada do bloco 1 - 18 voluntários. ............................. 90
Figura 5.9 - Planta de modulação do bloco 1 - 18 voluntários. .................................... 90
Figura 5.10 - Planta baixa humanizada do bloco 2 - 18 voluntários. ........................... 91
Figura 5.11 - Estudo de modulação do bloco 2 - 18 voluntários. ................................. 91
Figura 5.12 - Planta baixa humanizada do bloco 3 - 18 voluntários. ........................... 92
Figura 5.13 - Estudo de modulação do bloco 3 - 18 voluntários. ................................. 92
Figura 5.14 - Planta baixa humanizada do bloco 2 - 36 voluntários. ........................... 93
Figura 5.15 - Estudo de modulação do bloco 2 - 36 voluntários. ................................. 93
Figura 5.16 - Planta baixa humanizada do bloco 3 - 36 voluntários. ........................... 94
Figura 5.17 - Estudo de modulação do bloco 3 - 36 voluntários. ................................. 94
Figura 5.18 - Planta baixa humanizada do bloco 2 - 72 voluntários. ........................... 95
Figura 5.19 - Estudo de modulação do bloco 2 - 72 voluntários. ................................. 96
Figura 5.20 - Planta baixa humanizada do bloco 3 - 72 voluntários. ........................... 97
Figura 5.21 - Estudo de modulação do bloco 3 - 72 voluntários. ................................. 97
Figura 5.22 - Planta baixa humanizada do bloco 4 - 72 voluntários. ........................... 98
Figura 5.23 - Estudo de modulação do bloco 4 - 72 voluntários. ................................. 98
Figura 5.24 - Corte A-A. ............................................................................................. 100
Figura 5.25 - Corte B-B. ............................................................................................. 100
Figura 5.26 – Ensaio 1: 18 voluntários (terreno plano). ............................................. 101
Figura 5.27 - Ensaio 1: 18 voluntários (terreno acidentado). ..................................... 101
Figura 5.28 - Ensaio 2: 36 voluntários (terreno plano). .............................................. 102
Figura 5.29 - Ensaio 2: 36 voluntários (terreno acidentado). ..................................... 102
Figura 5.30 - Ensaio 3: 72 voluntários (terreno plano). .............................................. 103
Figura 5.31 - Ensaio 3: 72 voluntários (terreno acidentado). ..................................... 103
Figura 5.32 - Diagrama UML do bloco 1. .................................................................. 104
Figura 5.33 - Detalhe do módulo da porta de 1,20 m. ................................................ 106
Figura 5.34 - Detalhe do módulo da porta de 0,80 m. ................................................ 106
Figura 5.35 - Detalhe do módulo da janela. ................................................................ 106
Figura 5.36 - Detalhe do módulo da janela em sequência. ......................................... 106
Figura 5.37 – Planta de cobertura do bloco 1 (alojamento). ....................................... 107
Figura 5.38 – Vista frontal da cobertura do bloco 1 (alojamento). ............................. 107
Figura 5.39 – Detalhe das estruturas e esquadrias do telhado. ................................... 107
Figura 5.40 – Detalhe das estruturas de apoio do telhado. ......................................... 107
Figura 5.41 - Diagrama UML da circulação e da base. .............................................. 108
Figura 5.42 - Planta de cobertura da circulação do ensaio 1 (18 voluntários) e
detalhamento de divisória............................................................................................109
Figura 5.43 - Esquema de modulação da base do ensaio 1......................................... 110
Figura 5.44 - Esquema de modulação da base do ensaio 2......................................... 110
Figura 5.45 - Esquema de modulação da base do ensaio 3......................................... 110
Figura 5.46 - Ilustração da base com guarda-corpo. ................................................... 110
Figura 5.47 - Ensaio 2 em terreno plano. .................................................................... 112
Figura 5.48 - Ensaio 2 em terreno acidentado. ........................................................... 113
LISTA DE QUADROS

Quadro 1.1 - Comparação entre a logística comercial, militar e humanitária. ............. 25


Quadro 3.1 - Processos subtrativos e materiais. ........................................................... 48
Quadro 3.2 - Materiais selecionados e propriedades gerais. ........................................ 49
Quadro 5.1 - Programa de necessidades. ...................................................................... 80
LISTA DE ABREVIATURAS

AI Anistia Internacional
CCOPAB Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil
CE Conexão de Borda/Aresta (Connection Edge)
CL Conexão Paralelo/Lateral (Connection Lateral)
CNC Controle numérico computadorizado
CR Conexão Perpendicular (Connection Running)
FAB LAB Laboratório de fabricação
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MIT Instituto de Tecnologia de Massachusetts
MSF Médicos sem Fronteiras
ODS Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
ONG Organização não governamental
ONU Organização das Nações Unidas
OO Orientação a objetos
PVC Policloreto de vinil
UML Linguagem de Modelagem Unificada (Unified Modeling Language)
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância
ANA Agência nacional de águas
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 6

1 A CRISE HUMANITÁRIA E OS ORGÃOS DE APOIO ................................................. 8

1.1 Os impactos das guerras e dos desastres naturais na sociedade .................................... 8

1.2 O Terceiro Setor: uma resposta à humanidade ............................................................. 15

1.3 ONGs: histórico e contexto contemporâneo ................................................................... 16

1.4 Os ODS: um passo em direção à mudança..................................................................... 18

1.5 Desafios das ONGs frente as questões políticas ............................................................. 20

1.6 Dificuldades da gestão em desastres ............................................................................... 24

2 A ARQUITETURA EFÊMERA COMO SOLUÇÃO CONSTRUTIVA


EMERGENCIAL ................................................................................................................... 29

2.1 Origem e evolução histórica............................................................................................. 29

2.2 Materiais empregados ...................................................................................................... 33

2.2.1 Os primeiros recursos utilizados na arquitetura efêmera ................................................ 34

2.2.2 Técnicas e materiais contemporâneos ............................................................................. 36

3 FABRICAÇÃO DIGITAL: RUMO AO EMPREGO DE NOVAS TÉCNICAS E


MATERIAIS NA ARQUITETURA ..................................................................................... 42

3.1 Métodos construtivos a partir da fabricação digital ..................................................... 43

3.2 Processos CNC: método subtrativo ................................................................................ 45

3.3 Materiais para fabricação digital .................................................................................... 48

3.4 Métodos para produzir artefatos físicos utilizando as tecnologias de fabricação


digital........................................................................................................................................55

4 REFERENCIAIS PROJETUAIS ....................................................................................... 59

4.1 Tipológico...........................................................................................................................59

4.1.1 Casa S - Equador ............................................................................................................. 59

4.2 Funcional............. .............................................................................................................. 63

4.3.1 Soe Ker Tie House - Tailândia......................................................................................... 63


4.3 Plástico-formal .................................................................................................................. 66

4.3.2 Sistema Habitacional Efêmero: a construção emergencial para desabrigados - Manaus..66

4.4 Tecnológico........................................................................................................................71

4.4.1 Prototipo Puertas, Vivienda de Emergencia - Chile ........................................................ 71

4.4.2 Fitodepuração ..................................................................................................................74

5 O PROJETO ........................................................................................................................ 76

5.1 Condicionantes .................................................................................................................. 76

5.2 Conceito e partido ............................................................................................................. 77

5.2.1 Conceito.................... ....................................................................................................... 77

5.2.2 Partido arquitetônico ....................................................................................................... 78

5.3 Programa de necessidades ............................................................................................... 79

5.4 Setorização............... ......................................................................................................... 81

5.5 Memorial descritivo .......................................................................................................... 89

5.6 Técnicas construtivas e materiais aplicados................................................................. 104

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 114

SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .............................................................. 116

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 117

APÊNDICE ........................................................................................................................... 121

APÊNDICE A - Entrevista aos voluntários ....................................................................... 121


INTRODUÇÃO

Em uma sociedade em que os interesses individuais prevalecem sobre os coletivos, ser


solidário se torna algo excepcional e restrito a uma minoria. A população cresce em seu número
(IBGE, 2018) e se condiciona a uma busca constante por recursos que promovam seu
desenvolvimento intelectual, financeiro e sentimental.
A procura incessante por reconhecimento torna os seres humanos cada vez menos
empáticos deixando de se importar com reflexões profundas acerca de quem são e qual é a sua
missão no mundo. Nesse sentido, existem pessoas que acreditam terem nascido para ajudar o
próximo, razão pela qual buscam em iniciativas de caridade cumprir com sua função social no
meio à qual estão inseridos. Estas são aquelas chamadas de voluntárias.
De acordo com Parboteeah, Cullenb e Lim (2004), conforme citado por Ferreira,
Proença e Proença (2008, p. 3), “O voluntariado pode ser distinguido em informal e formal. O
voluntariado informal inclui comportamentos como por exemplo ajudar os vizinhos ou idosos.
O voluntariado formal caracteriza-se por comportamentos semelhantes, mas que se enquadram
no âmbito de uma organização”. Neste trabalho o foco será estudar as complexidades estruturais
enfrentadas pelo voluntariado formal e os projetos aos quais estão inseridos.
As organizações que recrutam e enviam profissionais para ações missionárias existem
desde o início dos tempos, mas foi a partir dos conflitos enfrentados pelo mundo que as nações
se uniram a fim de elaborar projetos que promovessem a paz mundial. Logo após a Primeira
Guerra Mundial os líderes dos países começaram a se reunir com o objetivo de tomar decisões
que beneficiassem os povos em situações de vulnerabilidade (ONU, 20--?).
Apesar disso, foi depois da Segunda Guerra Mundial que deslancharam os estudos e
assembleias para que o projeto tomasse forma. O resultado de muitas discussões com
representantes dos países foi a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), que hoje é
composta por 193 países-membros e possui uma estrutura extensa e complexa (ONU, 20--?).
Como consequência da criação da ONU, muitos projetos de ações humanitárias
fundamentadas em seus princípios foram implantados no mundo. Essas entidades possuem
formas de gestão diferenciadas e suas instalações físicas podem ocorrer através do governo ou
de iniciativas privadas. Entretanto, apesar de possuírem estrutura, existe uma carência de
estudos sobre as acomodações de profissionais missionários em regiões de extrema pobreza e
que não dispõem de suportes físicos adequados.
Nesse contexto, um instrumento que se tornou alvo de muitos estudos e tem deslanchado
em projetos de abrigos e situações emergenciais é a arquitetura efêmera. Esse tipo de solução
7

construtiva possui caráter transitório. Sua versatilidade possibilita que o próprio usuário possa
montar e desmontar a estrutura de acordo com as suas necessidades. Outro recurso que tem sido
muito pesquisado atualmente por seus diversos benefícios, é a fabricação digital, método que
compreende tanto a fase projetual quanto a fabricação dos materiais e se caracteriza por ser um
processo de construção inteligente e limpo.
Pensando nisso, o objetivo geral deste trabalho é desenvolver um projeto de arquitetura
efêmera que ofereça espaços para recrutamento, preparo e aplicação de missionários em regiões
vulneráveis, e desta forma, proporcionar espaços seguros e com as condições mínimas para
estadia dos voluntários. Além disso, visa-se uma solução arquitetônica prática, de baixo custo,
adaptável a diferentes climas e relevos e construída a partir da fabricação digital, para desta
forma, as organizações atuarem no campo. Também pretende-se apresentar a problemática
socioambiental e contribuir para futuras pesquisas desse ramo.
Light Camp (Love Into Goes Helps To Criate A Mercyful Place), é um nome
desenvolvido pela autora e foi elaborado primeiramente a partir de um acróstico inglês, visto
que esta é uma das línguas mais usadas na ONU a qual se entrelaça com a finalidade deste
trabalho. Sua tradução para o português quer dizer “amor dentro de metas ajuda a criar um lugar
misericordioso”. Esta frase serviu de inspiração para o desenvolvimento deste projeto.
Os dados necessários para o embasamento do trabalho foram coletados através de
pesquisas em jornais e artigos bem como em todos os meios de informação que agregaram
conhecimento acerca do caos que alguns países estão enfrentando e da política de gestão de
risco local, além disso, foram feitas entrevistas com voluntários de diferentes organizações a
fim de obter uma visão multilateral do voluntariado, suas demandas e dificuldades.
Dentro dessas diretrizes a estrutura textual foi organizada em cinco capítulos; o primeiro
abordará um estudo sobre a crise humanitária, o surgimento das organizações sem fins
lucrativos e as problemáticas que envolvem sua atuação. O segundo informará sobre a origem
e as principais características da arquitetura efêmera assim como seu uso em situações
emergenciais. O terceiro capítulo relatará a aplicação da fabricação digital na arquitetura e os
diversos tipos de estruturas, materiais e conexões disponíveis nesse método construtivo. No
quarto serão apresentados os referenciais projetuais que foram de suma importância para o
desenvolvimento da proposta. O quinto capítulo irá expor o projeto desenvolvido pela autora e
por fim, no sexto serão feitas as considerações finais relatando os resultados, dificuldades e
estratégias adotadas para encontrar soluções criativas.
1 A CRISE HUMANITÁRIA E OS ORGÃOS DE APOIO

Em seu livro “O que é a política social” (1991), o autor Vicente de Paula Faleiros
compara o estudo das políticas sociais ao preparo de uma omelete. Fazendo uma analogia com
o seu exemplo, para compreender os aspectos das organizações que surgiram a partir das forças
sociais, e como estas atuam em crises humanitárias, é preciso quebrar os ovos “ou a cabeça”,
por sua grande diversidade de assuntos.
Entre estes, podemos citar os discursos das políticas sociais e seus mecanismos de ação,
a sua relação com a economia, com o Estado e as forças sociais, e por último, com a crise
econômica. Além disso, a forma de preparo da omelete ou, a maneira como são articulados
todos esses processos de interação podem ser variados (FALEIROS, 1991). O importante é que
no final o resultado seja a compreensão do tema aqui abordado.
Para isso, o caminho a ser seguido é primeiramente entender as problemáticas
vivenciadas por diversos países, as inter-relações entre as organizações de apoio (com ênfase
nas Organizações Não Governamentais – ONGs) e com as políticas públicas, e por último,
retratar as dificuldades encontradas na elaboração de mecanismos de gerenciamento que tem
por objetivo diminuir os impactos nas sociedades.
A partir desse estudo, é possível assimilar os processos que essas organizações
enfrentam para oferecer suporte às populações carentes, sejam as afetadas por desastres como
as que passaram ou passam por situações semelhantes.

1.1 Os impactos das guerras e dos desastres naturais na sociedade

Em tempos difíceis, onde as vaidades do homem se sobrepõem aos direitos do próximo,


a frequência de casos de violência e descaso social é progressiva. As nações não são definidas
pelo seu povo e sim pelas riquezas que existem em seu território. Essa perspectiva de
desenvolvimento econômico desfoca aqueles que são realmente dignos de compaixão (SACHS,
1997).
Ao olhar para as atuais problemáticas no mundo, é possível observar a natureza de seres
humanos que são tendenciosos às práticas do que não é legal. Entretanto, existem leis que
asseguram os direitos fundamentais de cada indivíduo. Tais direitos regem ou deveriam reger
as atitudes que os governantes têm para com seu povo.
Porém, o processo de globalização trouxe uma competitividade de mercado onde a
economia se tornou o foco dos olhares daqueles que estão à frente das decisões nacionais.
9

“Afinal, vivemos em um mundo no qual os direitos de propriedade privada e a taxa de lucro se


sobrepõem a todas as outras noções de direitos em que se possa pensar” (HARVEY, 2001,
p.27).
Como consequência dessas questões abordadas, existem inúmeras pessoas que estão
desfalecendo de fome, sem terem como ou onde comprar alimento. Além disso, muitas pessoas
não tem um abrigo. Como se isso ainda não fosse suficientemente sofrido, essas vítimas ainda
veem seus amigos e familiares tendo mortes brutais e repentinas.
Assuntos como esse parecem distantes da realidade ou até mesmo que são hipérboles
para criar o clímax de um capítulo. Entretanto, existem milhares de pessoas neste momento que
passam por situações iguais ou semelhantes a essas. Difícil acreditar que em tempos como este
ainda ocorram tamanhos infortúnios. A verdade é que tratar de conflitos sócio-políticos vai
muito além do que elaborar um guia de boas maneiras.
Conforme relata Bouthoul e Carrère (1979), “[...] o domínio político e social é mais
difícil de estudar que o domínio da astronomia, da eletrônica ou da física”. Eles ainda
complementam que há “entre os fatores que dominam o comportamento dos homens, dos povos
e dos Estados e sua evolução no tempo muito mais complexidade e muito menos estabilidade,
que nos fatores que regem as coisas inanimadas”.
Sendo assim, a luta incessante por formas de amenizar essa realidade se torna um ciclo
que parece não ter fim. Melhorar a situação global não se trata de uma intervenção específica
ou até mesmo de ações de vários projetos humanitários, e sim, de mudança de pensamento e
atitudes daqueles que ocupam o topo da pirâmide.
Viver em um mundo de direitos igualitários parece utopia. Mas se não existirem pessoas
que acreditem nessa possibilidade, de nada adiantaria os estudos desenvolvidos ao longo dos
anos. Mesmo sabendo que somente eles não são capazes de mudar essa realidade atual, acredita-
se que as pesquisas são a engrenagem que direcionam para a mudança.
Para contextualizar essa reflexão, serão abordados alguns casos recentes de crise
humanitária. Em seguida, será feita uma exposição dos trabalhos que estão sendo desenvolvidos
nesses locais pelos órgãos de apoio a fim de amenizar a realidade vivenciada por essas
populações.
Na cidade de Gaza, território Palestino, os conflitos com Israel são frequentes. Os
bombardeios geram o caos em todos os aspectos (Figura 1.1). Somente no ano de 2018, milhares
de palestinos participaram da “Marcha do Retorno”. Em um dia, 2.172 pessoas em sua maioria
jovens, sofreram ferimentos pelas Forças de Defesa de Israel, de acordo com o ministério da
saúde (MSF, 2018).
10

Figura 1.1 - Conflito em Gaza.

Fonte: Geai apud ONU (2018).

Esses confrontos fazem o número de vítimas crescer absurdamente. Em um pequeno


período “subiu para 20 o número de pacientes vítimas de trauma atendidos por semana,
enquanto antes de novembro de 2017, esse era o número de pacientes atendidos por mês” (MSF,
2018).
Os voluntários do MSF têm um grande desafio nesse local, não se trata apenas de muito
trabalho a ser feito, mas de saber lidar com todas as emoções envolvidas. Ao mesmo tempo em
que as motivações para ajudar são intensas, o medo constante do que possa acontecer os deixa
psicologicamente abalados.
Mesmo com todos os dispositivos de segurança, o convívio constante com a incerteza
de permanecer a salvo não é algo fácil de absorver. Até aqueles mais experientes enfrentam
esses dilemas como é o caso do líder da equipe médica de MSF em Gaza, Abu Abed, e sua
família.
Segundo ele, “[...] a todo momento, ficávamos pensando: Qual será o próximo prédio
bombardeado? Quando?” (MSF, 2018). Em ver a realidade a sua volta isso é algo “comum”.
Ele ainda completa dizendo que:

Quando soubemos sobre o cessar-fogo, eu chorei, e minha mulher


também. Minha filha de cinco anos ficou pulando e gritando: “A guerra
acabou, vamos comemorar o fim da guerra”. Já meus filhos, não reagiram
dessa forma a princípio. Eles não conseguiam acreditar que o fim tivesse
realmente chegado até o momento em que puderam dormir em suas próprias
camas. Hoje, as crianças podem brincar no jardim novamente, elas podem sair
e ver outras pessoas (MSF, 2018).
11

Já durante o processo de bombardeios, passar segurança para as famílias também é algo


complexo. “Um enfermeiro, que tem três filhas pequenas, mentia para as meninas: ligava
música em meio às explosões e dizia que era tudo parte de um teatro, para elas não sentirem
aquela realidade” (MSF, 2018).
Apesar da sensação de alívio no instante de receber a notícia de um “momento de paz”,
o caos que os conflitos geraram naquela localidade são permanentes. O cenário é de extermínio
e destruição. Pessoas feridas ou que perderam seus bens por toda parte.
Abu Abed relata que depois que esse reflexo de felicidade passar, essas pessoas “[...]
começarão a olhar suas casas que foram demolidas, tudo que foi destruído. Na maioria do
tempo, não há eletricidade e a água é um problema. Elas verão que há muito a ser feito, e elas
podem voltar a ficar deprimidas novamente” (MSF, 2018).
Com este primeiro exemplo o trabalho dos voluntários já se faz notório. É um trabalho
amplo que envolve muitas áreas de conhecimento. Os MSF são fundamentais sim, o setor da
saúde é emergencial. Mas não se pode esquecer a importância da reestruturação dessas cidades
afetadas em todos os seus aspectos, inclusive a infraestrutura.
As crianças não têm perspectiva um futuro melhor, uma vez que se torna quase
impossível estudar nesses lugares. Locais onde sobreviver já é motivo de muita alegria e
gratidão. “O ano letivo teria começado esse ano. Ninguém sabe quando as escolas estarão
prontas para reabrirem, até porque muitas pessoas que perderam suas casas se refugiaram ali.
Algumas escolas foram bombardeadas também” (MSF, 2018).
Além de não possuírem mais local para estudar, as crianças não têm estrutura
psicológica para sair de suas casas e recomeçar. “Por sete semanas, houve bombardeios, mortes
e feridos. Foi um inferno. Levará tempo para esquecer, para nossas crianças se readaptarem”
(MSF, 2018).
Isto é um pequeno resumo se comparado a grande dimensão do assunto. Uma frase
marcante dita pelo Abu Abed “Nós estamos vivos, é maravilhoso!” (MSF, 2018), deixa
subentendido que se pessoas que trabalham com esse contexto se sentem assim, o que dizer
daquelas que moram nesses locais permanentemente?
Não obstante disso, em Myanmar, a população rohingya (muçulmanos) sofre com a
chamada “limpeza étnica”. Essa população que vive no estado de Rakhine, possui uma
linguagem própria que não é reconhecida pelo país, posto que este é predominantemente
budista. Por não dominarem nenhuma língua oficial e não possuírem os documentos exigidos
por lei, são considerados estrangeiros na própria terra (COSTA, 2018).
12

Nesse contexto, um grupo denominado Exército de Salvação Rohingya de Arracão, se


levantou como representante de seu povo. Entretanto, suas oposições as autoridades geraram
inúmeros conflitos para as pessoas que vivem nesse país (COSTA, 2018).
Segundo a ONG Anistia Internacional, “Milhares de mulheres, homens e crianças
rohingya foram assassinados, manietados e executados de forma sumária, abatidos a tiro
enquanto fugiam ou queimados vivos dentro das suas casas” (AI, 2018).
As forças armadas obrigaram mais de 702.000 pessoas sem nenhuma distinção a fugir
para Bangladesh (Figura 1.2). Tudo isso, somado as atrocidades que estavam ocorrendo,
aterrorizaram as comunidades e contribuiu para fortalecer a campanha de abandono do país (AI,
2018).

Figura 1.2 - Refugiados de Myanmar.

Fonte: ONU (2018).

Entretanto, a situação que esses refugiados encontraram também não foi favorável. Com
a época de ciclones e a superlotação do país, os recursos ficaram escassos (ONU, 2018). Desta
forma, essas pessoas vivem em condições de extrema pobreza.
Diante desse cenário, é possível perceber que os direitos fundamentais não se aplicam a
todos. Os governantes de Myanmar tiraram dessas pessoas os direitos de cidadania e
principalmente o direito à vida. É de difícil compreensão como autoridades podem usar o seu
poder para fazer tais atrocidades.
Apesar de alguns países estarem dispostos a ajudar, sozinhos não são capazes de dar
suporte a casos desta dimensão. É preciso recursos para investir no aumento de estruturas físicas
que comportem e ofereçam as assistências básicas como hospitais e escolas para tantas famílias.
13

Bangladesh é um país em desenvolvimento com recursos que estão sendo


utilizados até o limite. No entanto, enquanto países maiores e mais ricos em
todo o mundo estão fechando as portas para os estrangeiros, o governo e o
povo de Bangladesh abriram suas fronteiras e corações para os rohingya
(ONU, 2018).

Em outras palavras, a questão do auxílio aos desfavorecidos está mais relacionada a


forma de pensamento daqueles que estão à frente da liderança do que com a questão da estrutura
e os recursos financeiros disponíveis em seu território. Empatia é uma palavra chave para a
solução de tantos problemas.
Sabendo da dificuldade que esse país está enfrentando, as organizações humanitárias
trabalham em favor da população. Como se tratam de centenas de pessoas o caso é muito
complexo. Além de dinheiro, toda mão de obra voluntária passa a ser extremamente valorizada.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância é um desses projetos que trabalham em
favor dos rohingyas. Esse órgão tem ajudado de diferentes maneiras, entre elas, a construir
poços de água, instalando milhares de latrinas e realizando campanhas de prevenção contra
diversas doenças (ONU, 2018).
Ainda há muito mais a ser feito por esses refugiados. Esse processo é de longo prazo e
depende de muitos fatores. O importante nesse momento são as medidas tomadas para amenizar
os maiores dilemas encontrados nos locais onde estas pessoas estão sendo instaladas.
Já em uma outra perspectiva, foram tomados como exemplo os desastres de natureza
ambiental, que podem ser classificados segundo a geodinâmica terrestre externa da seguinte
maneira:

desastres naturais de causa eólica – vendavais, tempestades, ciclones,


furacões, tufões e tornados;
desastres naturais relacionados com temperaturas extremas – ondas de frio
intenso, nevadas, tempestades de neve, aludes ou avalanches de neve,
granizos, geadas, ondas de calor, ventos quentes e secos;
desastres naturais relacionados com o incremento das precipitações hídricas e
com as inundações – enchentes, inundações, enxurradas, alagamentos,
inundações litorâneas provocadas pela brusca invasão do mar;
desastres naturais relacionados com a intensa redução das precipitações
hídricas – estiagens, seca, queda intensa da umidade relativa do ar, incêndios
florestais (JUNQUEIRA, 2011, p.12).

Eles ainda podem ser classificados pela geodinâmica terrestre interna segundo a
sismologia, a vulcanologia, a geomorfologia, o intemperismo, a erosão e a acomodação do solo
(JUNQUEIRA, 2011). Diferentes causas, porém, com consequências físico-sociais
semelhantes. Entre elas: desmoronamento de habitações, falta de mantimentos e perda de vidas.
14

Como exemplo de causa eólica temos o caso dos furacões Irma e Maria nos países
caribenhos. Os dois pertencem à categoria 5, porém o Irma foi registrado como o furacão mais
forte no Oceano Atlântico. Eles trouxeram devastação por onde passaram (Figura 1.3), e agora,
mesmo com todo o apoio recebido por países solidários e ONGs, milhares de crianças na região
ainda precisam de suporte (ONU, 2017).

Figura 1.3 - Desastre por mudança climática.

Fonte: AI (2018).

O México e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura,


criaram um fundo para auxiliar esses países a desenvolverem projetos sobre mudanças
climáticas, além disso, enviarão especialistas norte-americanos para contribuírem no
desenvolvimento dessas pesquisas. Desta forma ajudarão os países afetados a se tornarem mais
resilientes (ONU, 2018).
É uma verdade estatística que os “[...] países subdesenvolvidos costumam produzir mais
vítimas, se comparadas às nações do chamado ‘Primeiro Mundo’” (BUENO, 2008 apud
JUNQUEIRA, 2011, p.13).
Isso ocorre por diversos fatores como a “[...] falta de recursos para evitar tais desastres,
pela falta de infraestrutura para minimizar suas consequências ou, simplesmente, pelos aspectos
culturais, que compreendem a ignorância da população ou o descaso das autoridades” (BUENO,
2008 apud JUNQUEIRA, 2011, p.13). Esses diversos fatores serão estudados nos tópicos 2.5 e
2.6 deste capítulo.
Diante dos casos apresentados, é possível perceber que existem países que
compartilham da responsabilidade global, e outros que são “falsos patriotas”. Este último, se
15

refere àqueles que agem pensando na nação como algo isolado e restrito a um grupo
selecionado. A questão a ser pensada é que o que forma um país é a sua diversidade, é o plural.
De acordo com Zeid, autoridade máxima da ONU em direitos humanos:

O verdadeiro patriotismo consiste em ver cada Estado, e a humanidade como


um todo, como uma comunidade de responsabilidade mútua, com
necessidades e metas compartilhadas. O verdadeiro patriotismo consiste no
trabalho de criar comunidades tolerantes que possam viver em paz (ZEID –
ONU, 2011).

A responsabilidade social tem que ser recíproca, envolvendo todas as partes. Não se
pode viver no mundo sem olhar para ele, ou para as partes que o compõe, sejam elas de todas
as cores, raças e línguas. Independentemente do que possuem ou de onde vêm, são seres
humanos dignos de terem seus direitos preservados como os de todos os outros.
O caso dos rohingyas, dos palestinos e das populações dos países caribenhos são só
alguns dentro de um grande quadro de calamidade que o mundo enfrenta atualmente. Há muito
trabalho a ser feito como a construção de novas habitações, auxílio médico, alimentício, e é
nessa circunstância que o trabalho voluntário entra em questão.

1.2 O Terceiro Setor: uma resposta à humanidade

Dentro do contexto de crises humanitárias evidenciadas, uma nova categoria


denominada Terceiro Setor alavancou. Esta se caracteriza por ser uma alternativa para
amenizar as calamidades enfrentadas nas regiões onde o descaso político prevalece ou onde os
projetos sociais do governo não são eficazes (MURANO; LIMA, 2003). Tais motivos de
ineficiência podem variar de acordo com o contexto de cada local.
Este novo setor se relaciona às questões sociais. São as instituições sem fins lucrativos
que lutam pelas causas humanitárias e pela preservação dos diretos civis. Apesar de terem
objetivos em comum, podem pertencer a categorias distintas sendo elas: associações,
organizações filantrópicas e organizações não governamentais (MURANO e LIMA, 2003).
As associações são compostas por pessoas que unem interesses em comum em prol de
adquirir benefícios específicos. Geralmente, esses integrantes exercem atividades semelhantes.
As organizações filantrópicas são voltadas ao assistencialismo, ou seja, ao auxílio dos pobres,
enfermos e excluídos na sociedade. Já as organizações não governamentais lutam pelos
objetivos do povo, entretanto, sem exercer nenhum tipo de caridade (MURANO e LIMA,
2003).
16

Para exemplificar têm-se as associações recreativas e as associações de pais e mestres,


sendo a primeira com objetivo de melhorar a qualidade de vida de seus integrantes com espaços
para lazer, prática de esportes, e incentivo à cultura, e a segunda, o de melhorar o ensino de
seus filhos e, consequentemente, o desenvolvimento escolar.
Nas organizações filantrópicas, as igrejas ganham destaque. Este local desenvolve e
patrocina muitos projetos de caridade como distribuição de alimentos e agasalhos que em suma
alcançam a população local, porém, esses trabalhos não se limitam às proximidades, podendo
ser de maior escala como é o caso dos missionários que evangelizam em outros países ou até
mesmo continentes.
No contexto das ONGs, as propostas de intervenção são mais abrangentes e geralmente
de longo prazo. Uma organização dessa escala pode atuar na própria região como em várias
partes do mundo. Neste estudo o foco serão as organizações não governamentais.

1.3 ONGs: histórico e contexto contemporâneo

Símbolo de luta e polissemia, as ONGs são marcas construídas na sociedade. Essa sigla
que faz menção a vários projetos de cunho social é fonte de diversos estudos na academia, com
grande foco na área de polícias sociais (LANDIN, 1998).
As ONGs não surgiram a partir de um acontecimento específico e sim, como resultado
de fatos históricos em diferentes épocas e regiões (LANDIN, 1998). Suas formas diversificadas
deram a elas a sua característica marcante: o pluralismo.
Apesar de possuir caráter internacional, as influências de cada contexto regional nas
manifestações dessa categoria são fatores a serem considerados em seu processo de formação
(LANDIN, 1998). Essa multilateralidade torna a sistematização do termo ainda mais complexa.
Sem uma definição específica, as ONGs são fortemente associadas a grupos que
possuem algum tipo de identidade e/ou concepções semelhantes. “Surgem quase sempre de
forma incorporada, nunca definida” (LANDIN, 1998, p.27), podendo assumir características
diferentes de acordo com a situação a qual se insere.
Segundo Landin (1998, p.28), traçar a história dessa categoria é, “[...] traçar também a
história de determinados grupos e agentes saídos fundamentalmente de setores variados das
classes médias”. Nesse sentido, ao retrocedermos um pouco sobre essas bases de apoio na
sociedade, temos diferentes relatos em diferentes contextos, porém, que se alinham em algum
ponto de sua existência.
17

Os principais órgãos de ações humanitárias surgiram a partir de conflitos enfrentados


nos séculos XIX e XX. Em 1859, o suíço Henry Dunant em uma viagem a negócios com
Napoleão III, vivenciou um trágico evento chamado de a Batalha de Solferino. Com a falta de
atendimento médico a tantos feridos, ele decidiu abandonar seus planos originais de viagem e
dedicar-se aos tratamentos dessas vítimas (CRUZ VERMELHA BRASILEIRA, 20--?).
Ao retornar à sua cidade, Dunant resolveu escrever um livro sobre a sua experiência,
onde relatou a necessidade de se ter um sistema voluntário nacional de assistência aos feridos
de guerra. Ele ainda acrescentou a importância da proteção que estes médicos neutros deveriam
ter através de tratados internacionais.
O livro alcançou militares e políticos importantes em toda a Europa através de cópias
enviadas pelo próprio autor (CRUZ VERMELHA BRASILEIRA, 20--?). Essas impressões se
tornaram a “[...] base fundadora do direito internacional humanitário e do movimento da Cruz
Vermelha” (COSTA, 2015, p.31).
Um pouco mais a frente, em outro contexto, surgiu a ONU. Com o fim da Segunda
Guerra Mundial e a devastação como cenário dramático, 51 países uniram forças a fim de criar
uma organização que cooperasse com assuntos específicos de caráter humanitário (ONU, 20--
?).
Para completar os exemplos, tem-se a Anistia Internacional. Esta ONG surgiu a partir
da indignação do advogado britânico Peter Benenson ao saber da prisão de dois estudantes
portugueses por fazerem um brinde a liberdade. Benenson publicou um artigo chamado de “Os
Prisioneiros Esquecidos”, que foi inspiração para um movimento de estudantes que
posteriormente deu origem à organização (AI, 20--?).
Assim como essas três, outras organizações que existem nos dias atuais, surgiram em
contextos similares e que apesar de atuarem segundo seus próprios regulamentos, possuem
características muito semelhantes tanto nos valores quanto nos aspectos organizacionais.
Nos valores é importante citar a humanidade, a neutralidade e a imparcialidade. Além
disso, a assistência humanitária deve ser feita por meio de consentimento e apelo do país afetado
(Resolução 46/182 ONU, 1991). Já no organizacional, pode-se tomar como referência a divisão
de seu trabalho em grupos de atuação como ocorre na ONU e nos MSF.
Em alguns casos, as ONGs fazem parcerias umas com as outras alinhando seus objetivos
a fim de alcançar suas metas. Afinal, se essas organizações que visam auxiliar os povos carentes
não souberem cooperar entre si, seu sentido de existência é incoerente.
18

Um exemplo disso é a ONU, que além de fazer parceiras com outras organizações,
também é responsável por elaborar projetos de dimensão mundial. Como relata Soares (2014,
p. 56):

Órgão internacional formado por diversos países congregados, muitos deles


dependentes de seus serviços e auxílio, procura estimular ações e pesquisas
em prol do desenvolvimento humano e a paz mundial, assim sendo, a ela é
delegada a função de responsabilizar-se em gerir programas, fundos, agências
especializadas e organismos que abordam diversos temas, por meio da
Organização Mundial da Saúde (OMS), educação por meio da Organização
das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura (UNESCO), direitos
humanos pelo Alto comissariado das Nações Unidas para os Direitos
Humanos (ACNUDH), refugiados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas
para os Refugiados (UNHCR ou ACNUR) e muitos outros. Instituições não
governamentais, participantes ou não de organismos formadores da ONU,
destacam-se igualmente na busca de soluções exequíveis no intento de mitigar
os impactos de catástrofes naturais e conflitos sociais e políticos.

Diante disso, no próximo tópico será abordado um grande exemplo desses projetos de
nível mundial que retratam o envolvimento das nações pela busca de um direcionamento para
mudar a situação atual do mundo. Essas diretrizes se chamam Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável (ODS).
Para concluir este assunto, entende-se que diferentes organizações, com histórias
distintas, e que atuam em diferenciados locais, buscam operar em conformidade por um bem
maior. Elas não podem ser definidas por sua grande quantidade de características particulares
que foram se construindo ao longo dos anos.

1.4 Os ODS: um passo em direção à mudança

A ONU, por ser uma organização mundial desenvolvida, possui muitos órgãos e
programas em sua estrutura organizacional. Além disso, é composta por agências
especializadas, fundos, programas, comissões, departamentos e escritórios (ONU, 20--?). Estes,
interagem entre si apesar de possuírem suas funções específicas.
Tais instrumentos vinculados “[...] são organizações separadas, autônomas, com seus
próprios orçamentos e funcionários internacionais e estão ligados à ONU através de acordos
internacionais” (ONU, 20--?). Esses organismos seguem os princípios da ONU e as metas
estabelecidas nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
19

Essas diretrizes criadas em 2015 pelos chefes de Estado, de Governo e representantes


da Organização das Nações Unidas têm a finalidade de dar continuidade aos Objetivos do
Milênio (ODM). Estes, que iniciaram suas metas no ano 2000, incluíam oito objetivos de
combate à pobreza que deveriam ser cumpridos até o final de 2015 (ONU, 20--?).
Muitos objetivos foram alcançados, porém, na luta por não deixar ninguém para trás,
tiveram a iniciativa de renovar os objetivos só que desta vez em uma escala maior. Sendo assim,
a nova agenda de desenvolvimento compreende 17 objetivos em vários setores da sociedade. O
grande desafio é alcançar essas metas até 2030 (ONU, 20--?).
Os ODS em outras palavras, são estratégias que servem de ponto inicial na elaboração
de projetos de combate a todas as questões que atualmente são fonte de conflitos e/ou que
futuramente poderão vir a ser, como mostra a Figura 1.4.

Figura 1.4 - Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

Fonte: ONU (20--?).

Essas diretrizes são discutidas em várias organizações a fim de que sejam executadas
pelos programas do governo e em parceria com organizações não governamentais. Além disso,
são feitos relatórios de forma que haja um controle sobre sua aplicação (ONU, 2017).
Apesar das estratégias terem sua importância em dimensão mundial, podem se
apresentar como uma utopia se relacionado aos atuais problemas administrativos que as nações
têm passado. Estes obstáculos serão explicados adiante.
20

1.5 Desafios das ONGs frente as questões políticas

Diante das estratégias mencionadas no capítulo anterior, bem como nas que direcionam
grande parte das instituições de apoio, existem alguns complicadores. As organizações
demandam de muito investimento e precisam assumir responsabilidades que não lhes cabem o
dever.
Para entender melhor esses agravantes na aplicação das estratégias de desenvolvimento,
é necessário voltar a analisar a origem das ONGs e como surgiu sua forte ligação com as
questões políticas. E através deste estudo, discorrer sobre os conceitos de crise humanitária e
direitos fundamentais.
As primeiras representações das organizações de apoio ocorreram a partir do
associativismo comunitário e de atividades filantrópicas no contexto americano (FISCHER e
FALCONER, 1998). Essas organizações de identidade própria e participação popular
assumiam para si, nas mais variadas formas, responsabilidades sociais que na visão política
fortaleciam as interações do povo com o Estado. Esta tradição, de acordo com Putman:

[...] reflete uma concepção do relacionamento entre Estado e sociedade civil,


na qual o primeiro não centraliza em si todas as responsabilidades e papéis
necessários ao desenvolvimento social, porque diferentes atores, sob diversos
modos de formatação de grupos de interesses, assumem algumas funções que,
na ótica destes, fortalecem as características democráticas do modelo do
governo (PUTMAN, 1993 apud FISCHER; FALCONER, 1998, p. 2).

Na perspectiva de Faleiros (1991, p.10), “[...] Os organismos privados e estatais estão


muito entrosados na administração ou gestão cotidiana dos programas sociais, formando um só
conjunto, que alguns autores chamam de Estado ampliado”. Essas duas teorias afirmam as boas
intenções do governo em favorecer o crescimento de alguns programas de cunho social.
Entretanto, o mesmo autor menciona que “[...] com esses vários discursos, as classes
dominantes tentam obter uma aceitação de suas políticas sociais, colocando ênfase no lado
humanista do Estado, na resposta às necessidades e até na participação integrativa do povo no
governo” (FALEIROS, 1991, p.17-18). Sendo assim, eles usam esses discursos de crescimento
colaborativo como um neutralizador dos conflitos existentes nas diferenças de classes da
sociedade.
No Brasil, as primeiras organizações começaram a se consolidar no meado de 1970, no
período do militarismo. A população que na época passava por um momento de transição para
21

a modernidade e a transformação social do país, passou a se confundir como oposição ao


governo (LANDIN, 1998).
Essa expansão de valores sociais, religiosos e políticos, podem ser identificados na
sociedade através de movimentos sociais até os dias atuais. As diversas fases que
essas categorias passaram na linha do tempo foram fatores preponderantes para a criação de
projetos que existem atualmente e servem de base para construir o que entendemos por ONGs.
Segundo Oliveira (1997 apud LANDIN, 1998, p. 26) as ONGs “[...] surgem como um
dado novo da nova complexidade da sociedade (...). São um “lugar” de onde fala a nova
experiência, de onde não podia falar o Estado, de onde não podia falar a academia, de onde só
podia falar (...) uma experiência militante”. São respostas àqueles que não são ou não se sentem
representados, os excluídos socialmente.
Mas quem são os excluídos na sociedade? Este conceito também é assunto para muitas
discussões, entretanto, neste trabalho esta expressão refere-se àqueles que enfrentaram algum
tipo crise, sejam confrontos como as guerras ou desastres naturais. E por conta disso, não
dispõem dos recursos básicos referentes aos direitos fundamentais.
No Art. 5º da Constituição Federal “todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.” Tais
direitos garantidos por lei se assemelham aos que encontramos em outros documentos como:

Todos os homens são, por natureza, igualmente livres e independentes e têm


direitos inerentes, dos quais ao entrar num estado de sociedade, não podem
por nenhum contrato, privar ou despojar sua posteridade, e a busca da
felicidade e segurança (Seção 1 da Declaração de Direitos da Virgínia de 12
de junho de 1776, Independência Americana apud DORNELLES, 1989).

Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos (...) Esses


direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência a opressão
(artigos 1 e 2 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da
Revolução Francesa, 1789 apud DORNELLES, 1989).

Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos (...). Todo


homem tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas
nessa declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo,
língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou
social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição (...). Todo homem tem
direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal (artigos I, II e III da
Declaração Universal dos Direitos do Homem proclamada a 10 de dezembro
de 1948 pela Assembléia das Nações Unidas apud DORNELLES, 1989).
22

Esses trechos refletem a luta dos povos nos diferentes contextos históricos. A
necessidade de possuir leis que defendessem tais direitos revela a busca por uma estrutura
organizacional que garantisse o bem-estar da população. Infelizmente, o que os meios de
comunicação transmitem para seu público é uma desordem nas políticas de controle assistencial
nas classes mais carentes.
Com isso, continua-se dando voltas em torno das mesmas questões, que só podem
melhorar quando a fiscalização da aplicação das leis for eficaz e igualitária para todos os
setores. Enquanto os interesses particulares continuarem prevalecendo sobre os coletivos, a
crise continuará na porta daqueles à margem da sociedade.
A palavra crise recebeu diferentes definições ao longo do tempo e nas diversas áreas de
estudo. Ela remete para o problema da mudança súbita das condições políticas (SARAIVA,
2011). Já o “’humanitarismo’ pode ser simplesmente definido como agir para salvar vidas e
aliviar o sofrimento durante conflitos, turbulências sociais, desastres e exclusão social”
(GLOBAL HUMANITARIAN ASSISTANCE, 2012 apud WHITTALL; REIS; DEUS, 2016).
Nesse sentido, a crise humanitária compreende a alteração repentina das circunstâncias
de um povo, onde este precisa de assistência imediata. Esse termo é fortemente utilizado para
relatar as crises que diversos países têm passado na atualidade.
De acordo com Boin (2004, p.167 apud SARAIVA, 2011, p.17) a palavra crise é “[...]
uma expressão de sentido genérico que se aplica a situações que não são desejadas, que não são
esperadas, sem precedentes conhecidos e que causam instabilidade e incerteza generalizadas”.
Desta forma, a falta de recursos básicos como o acesso a moradia e a alimentação adequada são
características fundamentais de uma crise humanitária.
Entende-se por situações não desejadas as guerras, os desastres naturais e as epidemias
que afetam a população local e seus arredores. Contudo, generalizar que esses fatos não são
esperados é conflituoso visto que em caso de guerras existem fatores precedentes que servem
de alerta para o governo. Um exemplo disso são as mídias que constantemente trazem
informações acerca das divergências entre governos.
Mas se a realidade vivenciada atualmente é o bombardeio de informações em tempo
real e nas diversas partes do mundo, por que ainda é tão difícil amenizar esses conflitos e
desastres iminentes? Conforme Bouthoul e Carrère (1979, p.9), “a humanidade sabe calcular,
quase em uma fração de segundo, os eclipses dos satélites do planeta Júpiter; sabe construir
computadores capazes de operar dezenas de milhões de dados por minuto; mas não sabe nem
prever nem evitar as violências civis [...]”.
23

Esses problemas físico-territoriais têm atingido diversos países como a África, a Síria e
a Venezuela, deixando milhares de pessoas em situações de extrema carência (ONU, 2018).
Segundo a ONU, países pequenos, frágeis e afetados por diferentes conflitos apresentam altos
índices de pobreza.
O suporte que essas pessoas precisam em muitos casos são escassos. E a assistência de
acordo com Faleiros (1991, p.30), “[...] varia conforme a prioridade dada aos recursos do
governo, aos arranjos políticos, às conjunturas eleitorais e não consegue sequer abranger os que
passam fome permanentemente”.
Desta forma, os projetos sociais assumem sobre si a responsabilidade de levar aos
carentes aquilo que lhes é essencial. Mas de onde vem os recursos financeiros? Faleiros (1991,
p.10) relata que “tais organizações privadas recebem subvenções do Estado, de entidades
internacionais, de particulares ou de empresas [...]”.
Em contraponto ao uso de meios políticos para adquirir verbas, Whittall, Reis e Deus
(2016, p. 11) afirmam a importância de “[...] um sistema humanitário em que doadores
emergentes protejam a independência dos agentes humanitários e que aqueles envolvidos na
prestação direta de assistência rejeitem atuar como extensões de políticas externas
governamentais”.
Isso ocorre porque muitas vezes políticos se envolvem nesses tipos de organizações com
interesses particulares. Os deveres se tornam favores para a população em troca de votos pois
“no processo de eleição e votação o indivíduo torna-se soberano e o soberano (governante),
súdito” (FALEIROS, 1991, p. 20).
Sendo assim, se um dos mantenedores dessas organizações é o Estado, e o próprio aplica
os investimentos conforme suas prioridades, que em muitos casos não são as políticas sociais,
como melhorar as condições de permanência dessas instituições? Será que os investimentos
provindos dos outros meios são suficientes para solucionar tantos casos de crise humanitária
que ocorrem simultaneamente no mundo?
Essas perguntas não têm uma resposta única pois variam de acordo com a realidade
vivenciada em cada região específica. Entretanto, nos permite captar um pouco das dificuldades
enfrentadas por essas organizações. Todos esses conflitos pelos quais passamos ao longo da
história e ainda passamos hoje, agregam valores a essas organizações, que são base para
diversos estudos.
Apesar de algumas instituições possuírem essas dificuldades de contribuição das
organizações brasileiras através de políticas de cooperação humanitária, existe a expectativa de
que neste século a situação mude. Um dos casos que confirmam isso é o dos brasileiros do
24

Médicos Sem Fronteiras, que não possuem essa cooperação do país (DEUS, 2016). A diretora-
geral de MSF-Brasil deu ênfase a essa situação dizendo:

Nossa experiência no Brasil, em contato com vários representantes do governo


e da sociedade civil, na última década, trouxe-nos a esperança de que, com a
vontade e as ações que o Brasil vinha demonstrando, de apoio a outros povos,
poderia ser para breve que o país construiria uma política de cooperação
humanitária sólida, com um orçamento anual, com a capacitação de
profissionais alocados para isso e com a sociedade civil organizada como
carro-chefe. Articulando com outros povos, identificando necessidades
independentemente de interesses político-econômicos e trazendo propostas de
ação que seriam atendidas. Esperamos que ainda seja nesta década que o
Brasil possa levar ao mundo uma política de cooperação humanitária criativa,
inovadora, pautada pelos princípios humanitários de independência e
imparcialidade em que o centro das decisões sejam as necessidades da
população (DEUS, 2016, p.8).

As relações entre os órgãos públicos e essa nova categoria emergente são complexas,
porém, determinantes para alcançar os objetivos que são motivos de sua existência e razão pela
qual buscam novos recursos e estratégias para atuarem nos campos missionários de maneira
eficaz.

1.6 Dificuldades da gestão em desastres

Diante dos assuntos abordados nos tópicos anteriores, pode-se constatar que apenas as
boas intenções, e os programas sociais (sejam eles governamentais ou não governamentais) não
são capazes de solucionar tantos conflitos.
Apesar dessas organizações possuírem seus meios de atuação, ainda existe uma lacuna
muito complexa para chegar ao ponto de ser uma sociedade suficientemente preparada para
tamanha complexidade de problemas que tangem as esferas sociais e político-territoriais.
Surge, em meio a essa situação, a necessidade de se elaborar métodos de atuação em
desastres a fim de que as formas de atuação sejam mais precisas. “Os constantes desastres
chamam a atenção para a necessidade de se estruturar procedimentos que tornem mais eficientes
as ações à região atingida, bem como o gerenciamento do risco de tais acontecimentos” (ZAGO
e LEANDRO, 2013).
Coordenar as ações torna os processos mais rápidos e diminuem consequentemente os
custos. Apesar do tempo que será necessário para esse processo, as chances de que os resultados
sejam mais eficazes aumentam, assim, “[...] a coordenação é foco de atenção, pois seus esforços
25

representam até 80% de uma operação humanitária” (WASSENHOVE, 2006 apud COSTA,
2015, p.20).
Em meio a tantas organizações de apoio voluntário nos tempos modernos, nem sempre
as formas de atuação correspondem a demanda de um evento inesperado. Sabe-se que a
multiplicidade de desastres é um fator complicador no desenvolvimento de métodos de gestão
(COSTA, 2015).
Além disso diferentemente das outras áreas da logística, a humanitária é a mais
complexa, isso se evidencia no Quadro 1.1 onde são classificados os três tipos de logística e
suas características principais.

Quadro 1.1 - Comparação entre a logística comercial, militar e humanitária.


Característica Comercial Militar Humanitária
Depende da Desafiadora devido à
Previsível e
Oferta capacidade nacional imprevisibilidade
controlável.
de produção. das doações.

Desconhecido no
Em geral é previsível Conhecida conforme
início da operação e
Demanda com base em planejamento da
sujeita a mudanças
análises de mercado. operação.
rápidas.

Armazéns fixos e de Essencialmente


Fixa e de grande
grande porte, temporários devido à
porte dentro do país,
Armazenagem localizados de forma incerteza do local do
mas temprárias
a otimizar o custo e desastre e a falta de
durante a operação.
o tempo de entrega. infraestrutura local.

Altamente Pouca
Sistemas de
Sistemas de informatizados informatização e
comando e controle
gerenciamento (Softwares de desenvolvimento
bem executados.
gestão). recente.

Atendimento da Sustentação da Atendimento de


Prioridade
demanda do cliente. operação. vítimas.

Minimização de
Limites de recursos
custos é um tópico
Minimização dos implicam na
Custos recente, mas auxiliar
custos é primordial. disponibilidade da
quando se pensa e
ajuda.
uma guerra total.
Fonte: McGinnis (1992); Apte (2009) Nogueira et al. (2009); Holguín-Veras et al. (2012) apud Costa
(2015), adaptado pela autora.
26

Como é possível observar, na logística humanitária a imprevisibilidade torna o processo


de aquisição de materiais e suprimentos desafiadora. Como os países não estão preparados para
a ocorrência de uma catástrofe, seu evento aumenta a demanda de produtos de forma brusca
que em muitos casos os estoques de doações não são suficientes.
Além disso, ao conseguir estes suprimentos é preciso locais de armazenamento
adequados, entretanto, a falta de recursos físicos nesses lugares se torna uma dificuldade para
comportar tudo que chega para a população. Os processos de gerenciamento são falhos pois
estão sendo desenvolvidos recentemente e a comunicação entre ONGs, Governo e o restante da
sociedade é prejudicada pela falta de infraestrutura nessas regiões.
Como agravante, ainda há questões referentes à demanda por mão de obra, o jogo de
interesses políticos, as competições entre organizações e a mídia como grande influenciadora
nesses meios (COSTA, 2015). Dentre todas essas problemáticas serão destacadas aquelas que
se interligam diretamente com a infraestrutura desses locais.
Alguns modelos de gestão de desastres foram desenvolvidos no mundo, entre eles o
modelo de três etapas que possui caráter multidisciplinar. Este, é o que países como Austrália,
Canadá, Estados Unidos e Nova Zelândia consideram (ZAGO e LEANDRO, 2013). Na Figura
1.5 é possível observar como ele se caracteriza.

Figura 1.5 - Fases de um desastre.

Fonte: Tufinkgi (2006) apud Lima; Oliveira; Gonçalves (2011), adaptado pela autora.

A primeira fase, que compreende a preparação, “[...] abrange atividades de


planejamento que antecedem a ocorrência do evento e objetivam melhorar a capacidade de
27

resposta operacional durante uma emergência, visando à prevenção do desastre” (ZAGO e


LEANDRO, 2013, p.4).
Para o aprimoramento das respostas das ONGs, existem vários métodos de recrutamento
que podem ocorrer por meio de sistemas onde os voluntários são separados por regiões e por
suas habilidades enquanto profissionais. Esse sistema funciona como um banco de dados de
civis já preparados e no caso da ocorrência de uma emergência as organizações podem solicitar
os serviços desses profissionais cadastrados (HAMANN, 2012).
Esse sistema quando utilizado por organizações como a ONU pode incentivar os outros
países a aderirem essa estratégia de forma a criar uma rede de organizações parceiras que
seguem um mesmo modelo, porém adaptadas a sua realidade e desta forma podem trocar
informações e até mesmo voluntários (HAMANN, 2012). Segundo Hamann:

Torna-se relevante, portanto, investigar iniciativas nacionais que visam a


recrutar, preparar e empregar especialistas civis em missões internacionais.
Tal mapeamento pode contribuir não somente para a ONU, em sua busca por
identificar onde estão os especialistas civis já preparados, mas também poderá
inspirar outros países, como o Brasil, a desenvolver seus próprios mecanismos
(HAMANN, 2012, p.5).

Também é importante que esses profissionais tenham um treinamento de atuação em


campo a fim de que em eventuais situações eles saibam agir de forma coerente e eficaz. Além
dos profissionais, é necessário que exista uma estrutura provisória que dê suporte na atuação
dos mesmos, pois entende-se que nem sempre esses locais têm estrutura para receber essas
organizações de apoio.
Na segunda fase, entra a resposta ao desastre, que “[...] refere-se ao evento em progresso,
a qual abrange a coordenação dos recursos disponíveis de forma imediata antes, durante ou após
a emergência, visando reduzir perdas materiais e humanas” (ZAGO e LEANDRO, 2013, p.4).
Compreende-se que nesta etapa as organizações precisam administrar os recursos que
entram e saem, não apenas no aspecto do controle de quantidades, mas também nas questões
físicas como estrutura de armazenamento e controle na qualidade da distribuição.
A última fase, que compreende a recuperação, “[...] caracteriza-se pelo restabelecimento
dos sistemas afetados e o retorno às atividades no nível anterior ao desastre, se possível com
melhorias” (ZAGO e LEANDRO, 2013, p.4).
Em todo esse processo é preciso que os voluntários saibam seus devidos papeis e estejam
em sintonia ao realizar as suas atividades. Isso é uma outra questão complexa pois a grande
variedade de pessoas com suas particularidades torna o alinhamento da organização dificultoso.
28

Diante das questões operacionais abordadas, faz-se necessária uma esquematização de


atuação a fim de que as organizações tenham capacidade de operar de forma rápida e eficaz,
independentemente de onde seja o desafio. Sabe-se que um mesmo mecanismo não pode
funcionar em qualquer local por suas peculiaridades, como diferenças climáticas. Entretanto, é
possível pensar em possibilidades que sejam adaptáveis a diferentes situações.
A partir dessa compreensão, no próximo capítulo serão estudadas algumas estruturas
que podem ser utilizadas nesse processo de gerenciamento. E desta forma, criar um repertório
para o desenvolvimento deste projeto.
2 A ARQUITETURA EFÊMERA COMO SOLUÇÃO CONSTRUTIVA
EMERGENCIAL

A arquitetura efêmera passou por diversas etapas até se constituir ao que é atualmente,
uma proposta de caráter temporário. Em seu processo houve mudanças nos materiais e nas
formas, pois estas eram empregadas conforme os costumes das populações e de acordo com as
condições climáticas de cada local. “Ao longo dos anos, diversas sociedades mantiveram sua
existência nômade como parte de sua cultura, algumas por necessidade, outras por opção”
(JUNQUEIRA, 2011, p.19).
Hoje, é possível ver sua aplicação tanto em contextos de desastres ambientais e conflitos
como em eventos e exposições. Essa diferença de usos mostra como esse tipo de construção é
versátil e possui atribuições que favorecem a sua aplicação. Segundo Kronenburg (2003, p.5),
“Embora a arquitetura portátil deva ser entendida como parte de toda a arquitetura, sua
realização nem sempre deriva de circunstâncias convencionais”.
Diante disso, neste capítulo serão abordados alguns dos primeiros relatos históricos e o
desenvolvimento pelo qual essa construção passou. Além disso, serão estudados os materiais e
tecnologias que foram e são empregados atualmente.

2.1 Origem e evolução histórica

Ainda no período pré-histórico, o modo nômade de viver dos homens foi o grande
marco inicial da arquitetura efêmera. Na busca por abrigo, que geralmente eram em cavernas,
e comida, através de caça, coleta e pesca, os antigos povos se deslocavam pelos territórios sem
um local de permanência (FREITAS, 2011 apud ROMANO; DE PARIS; NEUENFELDT
JUNIOR, 2013).
Com as mudanças climáticas e a consequente demanda por maiores fontes de alimentos,
foi despertada no ser humano a inteligência de construir seus próprios locais de refúgio. Desta
forma tem-se "uma possível definição de assentamentos temporários e outros permanentes"
(KRONENBURG, 1995, apud ANDERS, 2007, p. 43). Esses abrigos também eram importantes
para que o homem pudesse sobreviver sem a preocupação de estarem próximos às cavernas.
Segundo Anders (2007, p. 43): “Antes de uma completa mudança nos padrões de
subsistência, como por exemplo, o domínio da agricultura, a domesticação de animais [...] por
milhares de anos, o homem era habituado a um modo de vida transitório”. Apesar de não
30

possuírem um local de permanência eles circulavam pelas regiões de acordo com os períodos
do ano (ANDERS, 2007).
De acordo com Siegal (2002, apud ANDERS, 2007, p.44) essa transitoriedade “deve-
se por várias razões: o estabelecimento de fontes migratórias de alimentos, adaptação às
condições e mudanças climáticas, comércio de mercadorias, procura por proteção comunitária,
e a busca pelo desconhecido”. Entretanto, apesar de viverem sem locais fixos, esses ancestrais
eram conduzidos ao desenvolvimento de cabanas por causa de suas necessidades básicas
(SOARES, 2014).
Com o decorrer dos anos, as sociedades permaneceram como nômades só que com
características próprias de suas culturas e do clima da região onde viviam. Isso refletiu nas
diferentes construções de cabanas que tinham que ser, “duráveis, leves, flexíveis e por fim,
serem transportadas de maneira simples” (ANDERS, 2007, p.44).
Algumas formas de habitação são destacadas nas “tendas Tipi, dos índios Norte-
Americanos; as tendas dos nômades do deserto, localizadas principalmente na região Norte da
África; e o Yurt na Ásia” (ANDERS, 2007, p.43), como mostram as Figuras 2.1, 2.2 e 2.3.

Figura 2.1 - Tenda Tipi.

Fonte: Anders (2007).


.
Figura 2.2 - Tendas dos nômades do deserto.

Fonte: Shelter Publications (1973).


31

Figura 2.3 - Yurt.

Fonte: Anders (2007).

Essas tendas, apesar de suas diferenças, eram usadas tipicamente para fins de moradia.
Com o decorrer dos anos, esse tipo de construção ganhou novos usos como é o caso das
edificações militares e das estruturas utilizadas em eventos, espaços públicos e principalmente
em anfiteatros (ROMANO; DE PARIS; NEUENFELDT JUNIOR, 2013).
Esses mesmos autores retratam que durante o Império Romano uma cobertura retrátil
chamada de Velariae era muito utilizada. Essa estrutura (Figura 2.4) era “retrátil de linho
suspenso por cordas radiais que eram presas a mastros de madeira na parte exterior e presas a
um anel de corda na parte interior”.

Figura 2.4 - Esquema de cobertura.

Fonte: Jota e Porto (2004).

Já segundo Jota e Porto (2004 apud ROMANO; DE PARIS; NEUENFELDT JUNIOR,


2013, p.6), “outro uso de estrutura semelhante ao das tendas foi dos antigos impérios nas suas
campanhas. Entretanto, poucos registros foram encontrados nos dias atuais, existindo como
referência mais antiga as ilustrações do rei Senaquerib da Assíria, descobertas no Iraque”.
32

Em um outro contexto, no início da Primeira Guerra Mundial os soldados utilizavam


barracas para se acomodarem, porém, já havia os planos de utilizarem abrigos como os que
eram usados para caça durante os períodos de baixa temperatura na Europa (ANDERS, 2007).
Com essa evolução, a vida dos soldados melhorou significativamente pois, conforme
Anders (2007, p. 49) destaca em seu trabalho: “A produção de abrigos portáteis no séc. XIX
melhorou muito a vida do soldado; em termos de condições de moradia em campo e também
na provisão de instalações médicas mais adequadas”.
Um desses tipos de construção foi o Nissen Hut (Figura 2.5), abrigo desenvolvido pelo
Capitão Nissen (engenheiro canadense) para os militares, que acabou por substituir todos os
outros que até então existiam (KRONENBURG, 1995 apud ANDERS, 2007). O Nissen Hut
foi muito utilizado nas Primeira e Segunda Guerra Mundiais (ANDERS, 2007).
.
Figura 2.5 - Nissen Hut.

Fonte: Fox (2016).

Uma outra construção desse mesmo perfil voltada para a guerra foi a unidade hospitalar
chamada de Medical Unit, Self-contained, Transportable (MUST) (Figura 2.6). Ela foi
elaborada pelo exército Norte-Americano nos anos 60 (ANDERS, 2007).

Figura 2.6 - Must.

Fonte: Kathleen (1968).


33

O processo enfrentado no período da Segunda Guerra Mundial com muitas pessoas


desabrigadas, a grande quantidade de refugiados e o grande caos na infraestrutura dos países
mais afetados, serviu como momento de “start” que alavancou diversos estudos na área de
abrigos emergenciais (ANDERS, 2007).

Durante a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais o desenvolvimento de


edifícios portáteis e desmontáveis foi enorme; isto se deveu ao fato do avanço
tecnológico nesse período. A velocidade dos avanços aumenta
exponencialmente numa situação emergencial; soluções inovadoras são
levadas a sério para resolver os problemas e seu desenvolvimento se torna
prioritário. Influenciados pelo desenvolvimento de técnicas de pré-fabricação
nesse período, e consequentemente da possibilidade da produção em massa
com uma sensível melhora na estandardização de materiais e componentes,
alguns arquitetos inovadores desenvolveram inúmeros projetos de abrigos
portáteis (ANDERS, 2007, p. 52).

Além disso, Crowther (1999 apud ANDERS, 2007) relata que durante a guerra já
haviam pesquisadores desenvolvendo esses abrigos pensando no período de paz, como foi o
caso do arquiteto alemão, Buckminster Fuller, que projetou diversos modelos de abrigos
temporários e transportáveis. Outro arquiteto de grande influência foi Cedric Price, conhecido
por seu interesse em aplicar conceitos de tecnologias industriais à arquitetura.
Diante do que foi apresentado, pode-se concluir que a arquitetura efêmera se mostrou
importante no decorrer dos tempos. Ela foi a matriz da arquitetura contemporânea e mesmo
com as diversas funções que se encarregou de levar nos diferentes episódios da história humana,
as suas características fundamentais foram preservadas como “a transportabilidade, facilidade
na montagem e desmontagem, resistência às intempéries e adequação ao clima” (ANDERS,
2007, p. 55). É por conta desses atributos que ela persiste ainda nos tempos atuais.

2.2 Materiais empregados

Assim como as variadas formas de usos que a arquitetura efêmera recebeu, seus
materiais também passaram por diversas transformações ao longo do tempo. Isso ocorre pelo
desenvolvimento tecnológico e a necessidade de adaptação das construções para usos distintos.
Esses artifícios foram e são importantes para atingir os objetivos das determinadas questões
impostas pelos diferentes episódios que a humanidade enfrentou e ainda enfrenta atualmente.
Nos próximos subtópicos serão demonstrados esquemas de algumas dessas aplicações no
passado e como elas se alteraram e ganharam novos aspectos.
34

2.2.1. Os primeiros recursos utilizados na arquitetura efêmera

As primeiras manifestações da arquitetura efêmera foram a partir de materiais


disponíveis na natureza em suas formas mais simples. Os primeiros abrigos como as tendas
Tipi, as tendas dos nômades do deserto, e o Yurt, retratam as formas com estes elementos são
aplicados (ANDERS, 2007).
Nas tendas Tipi a estrutura é feita a partir de “uma série de varas principais (em geral 3
ou 4 varas) e complementada por varas secundárias que são amarradas na parte de cima; a
cobertura, definida em uma forma cônica é feita de pele de búfalo” (ANDERS, 2007), como
mostrada no esquema abaixo (Figura 2.7):

Figura 2.7 - Esquema tenda Tipi.

Fonte: Kronenburg (1995).

Diferentemente desta última, as tendas nômades do deserto passam por outro processo.
A tenda, segundo Anders (2007, p. 46), é “[...] tensionada por meio de pinos cravados no
terreno, em alguns casos, quando o terreno não tem resistência suficiente, pedras ou arbustos
enterrados são utilizados como âncoras” (Figura 2.8).
Internamente elas podem ser divididas por cortinas e suas paredes podem ser
completamente fechadas, evitando tempestades de areia, ou permitindo a ventilação interna da
mesma (ANDERS, 2007).
35

Figura 2.8 - Detalhes da tenda nômade do deserto.

Fonte: Shelter Publications (1973).

Já no caso da cabana Yurt, ela possui uma estrutura de madeira onde “a parede é uma
estrutura treliçada de tiras de madeira e juntas articuladas [...] essa estrutura é armada em forma
circular onde uma faixa tensora é colocada na parte superior e amarrada à estrutura da porta”
(ANDERS, 2007, p.48).
Conforme Anders (2007), a cobertura é abobada e estruturada por meio de varas que se
prende em uma coroa circular como mostra a Figura 2.9. Essa estrutura é coberta por lã ou
feltro. Além disso, em suas primeiras aparições elas eram feitas em madeira, porém, ficavam
muito pesadas para transportar.

Figura 2.9 - Esquema cabana Yurt.

Fonte: King (1995).

No contexto militar, os primeiros abrigos eram baseados nos europeus. Em virtude


destes serem feitos de estrutura de madeira, e de difícil montagem (ANDERS, 2007), foram
substituídos pelos Nissen Hut. Estes, eram constituídos em sua maior parte por chapas de ferro,
sendo apenas o piso em paineis de madeira. O abrigo Nissen (Figura 2.10) se destacou por ser
inovador.
36

O abrigo, com dimensões de 8.2 m por 4.9 m, podia ser montado em até 4
horas por 4 homens, sendo necessário apenas uma chave de boca como
ferramenta. Até 1917, perto de 20.000 abrigos Nissen estavam em uso,
fornecendo acomodações para mais de 500.000 soldados. Esse grande sucesso
se deveu ao fato de sua estrutura utilizar componentes fáceis de fabricar,
intercambiáveis e obedecerem a uma coordenação modular, facilitando assim,
sua montagem em campo (ANDERS, 2007, p.48).

Figura 2.10 - Esquema Nissen Hut.

Fonte: Kronenburg (1995).

Nos Musts, diferentemente do abrigo para militares, “a estrutura era formada por
paredes infláveis e complementada por fechamentos infláveis rígidos revestidos com alumínio”
(ANDERS, 2007, p.51).
Com a dificuldade em encontrar aço no período da Segunda Guerra, devido ao seu uso
na indústria bélica, foi necessário o avanço nas pesquisas de materiais alternativos para este
fim. Alguns dos materiais pesquisados foram o concreto e compostos, porém, a dificuldade de
transporte fez com que essas tentativas não procedessem (ANDERS, 2007).
No pós-guerra, os estudos de tecnologias nesses abrigos permaneceram e apesar dos
diferentes materiais utilizados nas confecções, os princípios permaneceram os mesmos como a
adaptabilidade aos locais, flexibilidade de usos, facilidade no transporte e montagem, e
economia na fabricação (ANDERS, 2007).

2.2.2. Técnicas e materiais contemporâneos

Atualmente, com toda a evolução que ocorreu na história, existem diversos estudos e
experiências que objetivam a aplicação de novos materiais e técnicas nas construções efêmeras
(SOARES, 2014). Essas pesquisas e evoluções são apenas parte de um contexto
multidisciplinar para amenizar as problemáticas causadas pelos conflitos e desastres naturais,
como foi visto no capítulo anterior.
37

Segundo Nascimento (2010 apud ROMANO; DE PARIS; NEUENFELDT JUNIOR,


2013), “a aceleração da produção material e industrial e a transformação dos modelos para se
viver e habitar do homem trouxeram propostas diversas e complexas, com conceitos de fluidez,
imaterialidade, transformação e multifuncionalidade”.
Nesse processo de desenvolvimento, as equipes que promovem essas análises são
compostas por profissionais de diversas áreas como arquitetos e urbanistas, engenheiros civis e
sanitaristas, designers, profissionais da saúde e muitos outros (SOARES, 2014).
Percebe-se que grande parte desses estudos são voltados apenas para a questão da
habitação emergencial, por ser o grande alvo em situações de calamidades. Entretanto, para
efeito de pesquisa, serão utilizadas técnicas e materiais testados em abrigos como referência
para este projeto.
Essas técnicas construtivas, segundo Kronenburg (1995 apud ANDERS, 2007), podem
ser classificadas em quatro categorias distintas, sendo elas: Module, Flat-pack, Tensile e
Pneumatic.
O sistema module “compreende unidades que são entregues praticamente prontas ao
uso; não necessitam ser montadas” (ANDERS, 2007, p.118). Elas são geralmente transportadas
por caminhão e podem tanto serem independentes quanto se ligar umas nas outras, ampliando
assim seus espaços (ANDERS, 2007).
Nesse tipo de técnica os módulos precisam, unicamente, ser ligados ao sistema de esgoto
local. Os materiais mais utilizados são o aço e a madeira além de fibras e plásticos nos exemplos
mais recentes. Em casos de emergência essas construções podem ser transportadas por
helicóptero ou avião (ANDERS, 2007).
Um exemplo de aplicação desse método foi a estrutura utilizada como resposta a um
terremoto e tsunami no Japão. O projeto foi desenvolvido pelo arquiteto japonês Shigeru Ban
que ao ficar sensibilizado com o aumento do número de desabrigados por fatores como conflitos
e desastres, passou a atuar na área de arquitetura emergencial (SOARES, 2014).
Em seu projeto, Shigeru aderiu ao uso de contêineres (Figura 2.11) para a instalação de
um conjunto habitacional temporário de três níveis. Segundo Soares (2014, p.57), “Em um
canteiro de obras bastante limpo e dinâmico, destaca-se os elementos metálicos pré-fabricados,
eleitos para agilizar a instalação da proposta”.
Para a implantação do projeto foi preciso nivelar o terreno e preparar fundações simples
em concreto para que posteriormente fossem alocadas as habitações que já chegavam com seus
respectivos sistemas hidráulicos e elétricos adaptados (SOARES, 2014).
38

Figura 2.11 - Projeto em contêineres.

Fonte: Ban (2011).

No sistema Flat-pack o resultado é semelhante ao Module, entretanto, sua diferença é


percebida na maneira da entrega. Enquanto neste o abrigo é entregue montado, no primeiro, as
peças são enviadas para a montagem in loco. Esta técnica facilita o processo de transporte e,
além disso, os materiais são os mesmos do module, porém com a necessidade de eficiência na
fabricação das peças a fim de permitir o processo de montagem (ANDERS, 2007).
Esse artifício foi utilizado por Shigeru na estrutura empregada como resposta ao
terremoto de Kobe no Japão (SOARES, 2014). O projeto foi feito com estruturas pré-fabricadas
a partir de “tubos de papel na estrutura e fechamentos laterais, engradados plásticos como
baldrame e suporte, elevando a habitação do solo, e por fim, lona de PVC para a cobertura e
piso interno” (SOARES, 2014, p.57), como mostra a Figura 2.12:

Figura 2.12 - Projeto em sistema module.

Fonte: Mcquaid (2003).


39

Esses sistemas construtivos são mais elaborados em comparação com os dois próximos
modelos. Por sua estrutura ser maior, eles proporcionam maior conforto interno aos seus
usuários. Além disso o aspecto visual é mais harmônico e aconchegante, com uma aparência de
“casa”.
No sistema Tensile é utilizada “[...] uma armação rígida, geralmente de aço ou alumínio,
que trabalha à compressão; e uma membrana tensionada presa à armação. O material mais
comum utilizado como membrana é a lona” (ANDERS, 2007, p.65). Essa estrutura lembra as
barracas utilizadas em camping e apresentam baixo custo, além de serem leves e fáceis de
montar (ANDERS, 2007).
Para acolher dois milhões de sobreviventes ruandeses das perseguições Zulus em 1995
(SOARES, 2014), o mesmo arquiteto japonês desenvolveu um projeto (Figura 2.13) a partir de
“tubos de papel como estrutura, ligações plásticas, e lona térmica para a cobertura e piso,
reduzindo o tempo de transporte e construção” (SOARES, 2014, p.57).

Figura 2.13 - Projeto em sistema Tensile.

Fonte: Mcquaid (2003).

Por último, tem-se a pneumatic (Figura 2.14), que “[...] funcionam de maneira
semelhante às estruturas tensionadas: sua estabilidade deve-se a uma membrana sob tensão;
entretanto, a pressão é exercida pelo ar” (ANDERS, 2007, p.65). Esse tipo de técnica possui
características semelhantes à anterior como facilidade de transportar, leveza e montagem
rápida. Entretanto, esta se constitui menos resistente (ANDERS, 2007).
40

Figura 2.14 - Projeto em sistema Pneumatic.

Fonte: Made in China (20--?).

Tanto a Tensile quanto a Pneumatic possuem vantagens nos aspectos econômicos. Sua
flexibilidade e redução no volume facilitam o transporte que, em situações emergenciais podem
ser complexos, inviabilizando algumas intervenções. Além das técnicas, atualmente existe um
progresso na difusão do conhecimento.
Com o intuito de preparar profissionais em situações de desastres bem como na
prevenção, em casos de locais que já foram afetados anteriormente, algumas instituições sem
fins lucrativos produzem anualmente material que serve como manual e guia de instruções
orientando sobre como atuar no processo de reconstrução desses locais atingidos. Esses guias
não se limitam aos profissionais como também são para a população que deve auxiliar nesse
processo (SOARES, 2014).
Isso representa um avanço, pois um dos primeiros passos para melhorar a questão dos
problemas físico-territoriais é, além de ter os recursos necessários, saber a maneira correta de
utilizá-los. Desta forma, os investimentos serão mais eficazes.
Essas orientações, segundo Abdiker (2012) apud Soares (2014, p.58), “[...] são frutos
de conhecimentos obtidos pelas experiências adquiridas de voluntários e pessoal de campo,
projetos para gestão de transição e programas para abrigos temporários desenvolvidos em todo
o mundo”.
Outro fator importante a ser destacado é a questão da experiência na elaboração dessas
diretrizes. Elas somadas ao estudo das novas técnicas construtivas, e com um gerenciamento
baseado nas problemáticas atuais, são fundamentais para oferecer uma resposta efetiva. Além
disso, é aconselhável atentar para algumas diretrizes ecológicas e dinâmicas como:
41

- Reutilizável: Após sua desocupação o abrigo emergencial poderá cumprir


outras funções;
- Atualizável: Substituição dos materiais utilizados por opções mais duráveis,
transformando-o em permanente;
- Realocável: O abrigo deve ser transferido por inteiro ou em partes a um local
onde questões de territorialidade estarão bem definidas;
- Vendável: Os usuários de abrigo emergenciais, após serem transferidos a
uma habitação permanente, poderão desmontar e revender os materiais para
nova utilização;
- Reciclável: Aproveita-se os materiais constituintes do abrigo emergencial,
agora sem uso, para compor a habitação permanente ou utilizá-lo a outra
função (SHELTER CENTRE, 2012 apud SOARES, 2014, p.60).

Pensar nessas condições evita maiores investimentos futuros em abrigos além de


contribuir para a redução do acúmulo de entulho, uma vez que esses locais receberão novas
funções após a recuperação das áreas degradadas. A partir disso, no próximo capítulo será
apresentada uma técnica projetual e construtiva que pode ser utilizada para cumprir os
princípios de sustentabilidade e praticidade como foram mencionados acima.
3 FABRICAÇÃO DIGITAL: RUMO AO EMPREGO DE NOVAS TÉCNICAS E
MATERIAIS NA ARQUITETURA

Como já foi abordado anteriormente, a necessidade de meios que facilitem o processo


de resposta em casos de desastres, traz em evidencia estudos sobre novos materiais e técnicas
construtivas. O desenvolvimento tecnológico possibilitou o surgimento de diversos meios de
produção que utilizam métodos mais rápidos e eficazes além de permitirem o uso de materiais
ecologicamente corretos.
Um dos resultados da expansão de pesquisas nesse campo de estudo é a fabricação
digital. Este tipo de produção compreende a materialização de projetos desenvolvidos em
softwares, onde é possível fazer toda a parte de modelagem virtual e concebe-los através de
máquinas capazes de fazerem a leitura de dados computacionais e, trabalhar sobre a matéria
prima (BARROS, 2011).
Segundo Barros (2011), um dos primeiros centros de pesquisa que desenvolvem o tema
foi o Massachusetts Institute of Technology (MIT). O MIT se tornou referência na área e foi
responsável por implantar os primeiros laboratórios de fabricação digital (FAB LAB) pelo
mundo.
Esses laboratórios são compostos por um conjunto de equipamentos com programações
distintas, de forma que, diferentes peças de um modelo computacional possam ser produzidas
em um mesmo local com uma variedade de materiais. Um FAB LAB é um local de pesquisa e
experimentação na área da fabricação digital (BARROS, 2011).
Entre os principais equipamentos desse tipo de laboratório estão as “[...] máquinas de
usinagem por controle numérico computadorizado (CNC), as cortadoras a laser, as cortadoras
de vinil, as impressoras tridimensionais e os seus programas de projeto e operação” (BARROS,
2011, p.13). Esse conjunto de ferramentas está sendo aprimorado ao longo do tempo, e
atualmente, já é possível fabricar diversos artefatos utilizando a plataforma digital.
Em paralelo ao avanço tecnológico e sua importante influência no estudo dos meios de
produção, os impactos ambientais gerados por uma grande multiplicidade de fatores como o
descarte de resíduos na natureza e a exploração de matéria prima, também receberam a atenção
dos estudiosos em diferentes campos de estudo.
A sustentabilidade se tornou um fator amplamente discutido com o propósito de
desenvolver recursos que amenizassem os problemas originários de causas ambientais no
mundo. Conforme Silva (2011) apud Barros (2009, p.14), “a partir da década de 1980, os
43

princípios de sustentabilidade passaram a influenciar a política, a economia, a engenharia, o


design e diversas outras áreas da atividade humana”.
Desta forma, as diferentes áreas passaram a elaborar propostas pensando na qualidade
de vida humana a partir da consciência ambiental. Podemos constatar tal pensamento a partir
da análise dos ODS, que foi discutido no capítulo 1 deste trabalho. Tais objetivos tem como
base o uso consciente dos recursos que deve ser feito de forma a atender as necessidades da
atual geração sem comprometer as futuras.
Na construção civil, essa visão de sustentabilidade está estritamente ligada ao
desenvolvimento de materiais, ao aprimoramento dos métodos projetuais e ao uso de novos
meios de produção que fujam dos convencionais. Os resultados das pesquisas nesses setores
podem ser vistos em uma vasta gama de materiais desenvolvidos por centros de pesquisas e em
universidades.
“Para produzir esses produtos inovadores já existem uma gama de ferramentas que
auxiliam o projetista durante o processo de projeto, interpretação, manipulação, seleção e
comunicação dos artefatos a serem desenvolvidos” (BARROS, 2011, p.14).
Tendo isso em vista, o presente capítulo visa explorar algumas dessas ferramentas a fim
de estabelecer um processo projetual que sirva como base para o desenvolvimento do projeto
arquitetônico de suporte a voluntários em missões humanitárias, que é a proposta final deste
trabalho.
Além disso, será feita uma análise de materiais e procedimentos construtivos a fim de
responder a seguinte questão: Como desenvolver um projeto leve, modular, adaptável a
diferentes climas e relevos, de fácil transportabilidade, com baixo custo e ainda utilizando
materiais e métodos construtivos de baixo impacto ambiental?
Para isso, serão exploradas as técnicas disponíveis de fabricação digital que podem ser
aplicadas na concepção arquitetônica bem como os materiais que foram e/ou estão sendo
desenvolvidos a partir de matéria reciclada e podem ser empregados na produção digital.

3.1 Métodos construtivos a partir da fabricação digital

As formas de se produzir variaram ao longo do tempo conforme as necessidades do


homem foram se modificando. Os projetos eram feitos e representados a partir dos recursos
disponíveis e englobavam processos que iam do físico ao digital através de representações
bidimensionais e tridimensionais (SELLY, 2004).
44

Grande parte desses artifícios ainda são muito utilizados no processo criativo e
representativo. Esboços, desenhos, renderings, animações e modelos físicos são
constantemente confeccionados a fim de representar o produto idealizado para outra pessoa
(SELLY, 2004).
De acordo com Selly (2004, p.13), a representação é muito relevante, pois se trata da
“[...] chave parte do projeto arquitetônico e processo de construção”. Estes recursos são
utilizados tanto por alunos na entrega final de um projeto, quanto por arquitetos atuando no
mercado de trabalho.
Entretanto, os desenhos bidimensionais podem limitar o processo criativo de um
projeto, além de não exporem questões que afetam posteriormente a execução da obra. Portanto,
a maquete é um recurso quase que indispensável por esses profissionais.
As primeiras maquetes eram feitas à mão através do uso de materiais e ferramentas
como tesoura, cartões, papelão, gesso, espuma, madeira, formões, lixas, serras, furadeiras,
fresadoras, tornos dentre tantos outros. Contudo, esses recursos apresentavam limitações físicas
o que fez surgir a necessidade de formas que facilitassem o trabalho de projetistas e
proporcionassem maior liberdade criativa além de trazer praticidade.
A fabricação digital foi uma solução que apesar de inicialmente não ter sido pensada
para fins de arquitetura foi sendo modificada para esse uso. Este tipo de recurso pode ser
definido segundo Seely (2004, p.10) como:

“[...] processos auxiliados por computador que manipulam o material através


de métodos subtrativos ou aditivos. Estes processos podem ser divididos em
dois grupos: computador numérico de controle (CNC) e processos de
prototipagem rápida (RP). A diferença fundamental entre estes dois é que os
processos CNC criam objetos removendo material (subtrativo) enquanto os
processos RP criam objetos construindo camada por camada (aditivo). Um
dos poucos exemplos de processos CNC são moagem (milling), corte a jato
de água (waterjet cutting) e corte a laser (laser cutting). Processos RP incluem
impressão tridimensional, estereolitografia e modelagem de deposição
fundida.”

Nesse processo de fabricação, o usuário desenvolve o objeto através do computador e


após seu envio para a máquina o mesmo não tem controle sobre a peça que está sendo
manipulada, com exceção de alguns casos em que é possível retardar ou acelerar o processo
(SEELY, 2004).
O método de fabricação digital que será utilizado nesse trabalho será o CNC com foco
na utilização de materiais sustentáveis e de baixo custo. Para isso, elaboraremos um estudo
sobre os principais equipamentos e materiais utilizados nessa técnica.
45

3.2 Processos CNC: método subtrativo

Os sistemas subtrativos consistem na remoção de parte da matéria prima através de


fresas, facas, laser ou plasma, em mesas de trabalho com braços robóticos e equipamentos
deslizantes que realizam as operações comandadas pelo usuário através do computador
(SEELY, 2004).
Em uma pesquisa realizada por Seely (2004), foram citados os cinco tipos de CNC
mais utilizados na arquitetura. Entre eles estão o CNC Milling (moagem), o CNC Routing
(roteamento), os Water Jet Cutting (usinagem CNC com jato de água), os Laser Cutters
(cortadores a laser) e as Roland CAMM-1 vinyl cutters (as cortadoras de vinil).
No caso do CNC Milling (Figura 3.1), máquinas de diversos tamanhos modelam
blocos de materiais como metais, plásticos, madeiras e espumas. Este tipo de processo de
fabricação é mais proveitoso para elementos arquitetônicos de pequena escala ou singulares
(SEELY, 2004).

Figura 3.1 - CNC Milling.

Fonte: 3DE (20--?).

O processo de fabricação CNC Routing (Figura 3.2) é semelhante ao CNC Milling, sua
diferença se dá pelo formato do material que é utilizando. Enquanto na CNC Milling a matéria
prima é trabalhada em forma de pequenos blocos, a outra trabalha com folhas grandes e planas.
Esse tipo de fabricação utiliza matéria prima como madeira compensada ou espuma (SEELY,
2004).
46

Figura 3.2 - CNC Routing.

Fonte: Legg (2018).

Na Water Jet Cutting (Figura 3.3), também são utilizados materiais em forma de folhas
grandes e planas, assim como na CNC Routing. Entretanto, esta trabalha com maior diversidade
de materiais como madeira compensada, espuma, metal, pedra, vidro, borracha, compósito de
materiais e muito mais (SEELY, 2004).

Figura 3.3 - Water Jet Cutting.

Fonte: Allcock (2011).

As laser cutters (Figura 3.4) geralmente cortam materiais finos como papelão,
madeira, plástico, aglomerado de madeira e papel. Além disso, elas podem ser de diversos
tamanhos assim como a CNC Milling (SEELY, 2004).
47

Figura 3.4 - Laser Cutter.

Fonte: Calco (20--?).

As Roland CAMM-1 vinyl cutters (Figura 3.5), fazem cortes muito precisos e
trabalham sobre a matéria em forma de folhas muito finas de vinil, papel e acetato (SEELY,
2004).

Figura 3.5 - Roland CAMM-1 Vinyl Cutter.

Fonte: Hasco (2019).

Além destes, existem muitos outros equipamentos utilizados na fabricação digital a


partir do método de subtração como: corte plasma CNC, corte de fios, torneamento e
puncionamento de torre (SEELY, 2004).
48

3.3 Materiais para fabricação digital

Como foi apresentado no tópico anterior, cada máquina utilizada no processo de


fabricação digital opera com determinados tipos de materiais e formatos. No caso da produção
a partir do método subtrativo, os materiais apresentam seu formado sólido, diferente do
processo aditivo em que estes são manipulados através de processos térmicos (ALVARADO e
BRUSCATO, 2009 apud BARROS, 2011).
No quadro 3.1 foi apresentada a relação dos equipamenos mais utilizados na fabricação
digital pelo método subtrativo e algumas das categorias de materiais que podem ser trabalhados
nessas máquinas.

Quadro 3.1 - Processos subtrativos e materiais.

Fonte: Barros (2011).

Observa-se que a cortadora a laser é a que abrange a maior quantidade de materiais


enquanto a cortadora a vinil se apresenta como a mais limitada. Entretanto, cada uma delas tem
a devida importância conforme o que vai ser produzido.
Atualmente existe uma grande diversidade de materiais dentro dessas categorias que
podem ser utilizados no processo CNC. No quadro 3.2, Barros (2011) destacou alguns desses
materiais e de suas respectivas propriedades.
49

Quadro 3.2 - Materiais selecionados e propriedades gerais.


Energia para Produção de Proveniente de Proveniente de Fator de reciclagem*
Grupo Nome usual Membro Planicidade Dureza da superfície
produção CO2 fonte renováel processo de reciclagem 0 -1
Polímeros Acrílico Polymethyl-methacrylate (PMMA) Regular Dura (17 - 19HV) 94 - 104 3,4 a 3,76 Não Sim Medio (0,55)
Thermo-
plásticos PET Polyethylene Terephthalate Regular Dura (17 - 19HV) 80 - 88 2,21 a 2,45 Não Sim Medio (0,55)
Thermo-fixo PU Polyurethane Plana Dura (16 - 18HV) 96 - 106 3,54 a 3,92 Não Sim Baixo (0,04 a 0,05)
Mdf Medium Density Fiberboard Plana Média (6 - 8HV) 25 - 29 -0,1 Sim Não Baixo (0,1 a 0,2)
Híbridos Multilaminado ou
Plywood Regular Macia (1 - 4HV) 25 - 29 -0,1 Sim Não Baixo (0,1 a 0,2)
Compósitos Madeira Compensada
Madeiras OSB Oriented Strand Board Irregular Macia (1 - 4HV) 25 - 29 -0,1 Sim Não Baixo (0,1 a 0,2)
Teka Tectona grandis Regular Média (6 - 8HV) 14 - 15 -1 Sim Não Médio (0,4)
Híbridos
Compósitos Tetlaplak Alumínio e papel Irregular - - - Não Sim -
Mistos
Metal não
Alumínio Aluminium S150 Plana Dura (24 - 125HV) 184 - 203 9,0 a 9,8 Não Sim Alto (0,9)
ferroso
Fonte: Barros (2011), adaptado pela autora.
50

Esses materiais serviram para compor a biblioteca de componetes utilizados no


projeto. Além disso, outros elementos foram selecionados conforme a necessidade das etapas
contrutivas. Estes itens foram extraídos de pesquisas em que foram feitos testes a fim de
comprovar previamente a eficiência dos mesmos.
Para selecionar os materiais utilizados, primeiramente foi preciso transformar o projeto
tridimensional em um elemento composto de várias partes que se conectam. Entre estas partes
estão os objetos de superfície, a estrutura e as conexões.
Segundo Barros (2011, p.33), a confecção desses objetos criados com máquinas CNC
“[...] é feita em quatro passos, que se iniciam com um (i) modelo tridimensional que é traduzido
para (ii) um conjunto de componentes que são posicionados (iii) em forma bidimensional para
a produção (CNC) e, posteriormente, (iv) montado à mão”.
É importante observar que “[...] o tamanho máximo e mínimo dos objetos é limitado
pela máquina utilizada para cortar o componente, pelo tamanho máximo do material e pelas
propriedades estruturais do mesmo (SASS, MICHAUD e CARDOSO, 2007 apud BARROS,
2011). No caso da superfície, a Figura 3.6 demonstra o funcionamento de um esquema de
subdivisão devido a essas restrições.

Figura 3.6 - Subdivisão de superfícies.

Fonte: Sass, Michaud e Cardoso (2007) apud Barros (2011).

Já no sistema estrutural, Sass, Michaud e Cardoso (2007) apud Barros (2011) relatam
que, para materializar objetos virtuais, o objeto pode ser feito de três formas: a Camada Lateral
(Lateral layering - LL), a Camada Bilateral (Bilateral Layering – BL) e a Camada Multilateral
(Multi Lateral Layering – MLL).
No primeiro caso (Figura 3.7), “[...] a manufatura por camadas inicia com uma
subdivisão do modelo virtual em formas bidimensionais, horizontais, distribuídas
51

uniformemente ao longo de um eixo vertical (k)” (SASS, MICHAUD e CARDOSO, 2007 apud
BARROS, 2011, p.34).
Ainda conforme estes autores, o modelo produzido neste processo é estável e atende a
uma grande diversidade de funções, entretanto, são limitados a produzir objetos de pequena
escala e a uma determinada seleção de materiais como polímeros.

Figura 3.7 - Manufatura por camada lateral.

Fonte: Sass, Michaud e Cardoso (2007) apud Barros (2011).

A Camada Bilateral (Bilateral Layering – BL) consiste na “subdivisão de k com um


fator de espaçamento c e q com um travamento da geometria ao longo dos eixos c e q” (SASS,
MICHAUD e CARDOSO, 2007 apud BARROS, 2011, p.34), conforme é possível visualizar
na Figura 3.8.
Além disso, “[...] a geração da geometria inicia com a definição do número de seções n
e m. Após a definição destas variáveis, cada seção é redesenhada com um sistema de
travamento/encaixe e cortada pela máquina. A montagem é feita manualmente” (SASS,
MICHAUD e CARDOSO, 2007 apud BARROS, 2011, p.34).
A conexão dos objetos é feita por atrito/fricção, entretanto neste sistema existe
instabilidade da estrutura quando é aplicada uma pequena força horizontal pela ausência de
contraventamento (SASS, MICHAUD e CARDOSO, 2007 apud BARROS, 2011).

Figura 3.8 - Subdivisão Bilateral.

Fonte: Sass, Michaud e Cardoso (2007) apud Barros (2011).


52

No último caso (Figura 3.9), a Camada Multilateral (Multi Lateral Layering – MLL)
“consiste na modelagem, a manufatura e o processo de montagem estruturado em três direções.
As conexões são mantidas por atrito/fricção" (SASS, MICHAUD e CARDOSO, 2007 apud
BARROS, 2011, p.35). Esse sistema pode ser descrito da seguinte maneira:

“O modelo virtual é sistematicamente dividido ao longo de eixos c, q e com


espaçamento variável em m, n e i (Figura x). A variação paramétrica é possível
de ser aplicada nos eixos descritos. Estudos anteriores dos autores já
mencionados demonstraram que um alto nível de complexidade é atrelado ao
sistema MML, dificultando a montagem do artefato. A caracterização dos
elementos de junção é necessária para aprimorar os componentes em CAD”
(SASS, MICHAUD e CARDOSO 2007 apud BARROS, 2011, p.35).

Figura 3.9 - Subdivisão Multilateral.

Fonte: Sass, Michaud e Cardoso (2007) apud Barros (2011).

Para a montagem e estabilidade de artefatos nesse tipo de processo de produção, é


preciso conexões que possibilitem a união das estruturas com as superfícies dos produtos. Os
pesquisadores Sass, Michaud e Cardoso (2007) apud Barros (2011) em sua obra abordam os
recursos do tipo fit2, que são encaixes que garantem o bloqueio dos objetos sem perder a
reversibilidade dos mesmos.
A reversibilidade é um fator fundamental quando se fala em arquitetura efêmera. Estes
tipos de construções, como já foi mencionado no capítulo dois, são de caráter temporário e por
isso a facilidade de montagem e desmontagem são indispensáveis. Entretanto, simultaneamente
a facilidade de instalação essas conexões devem oferecem robustez as estruturas.
Três dos formatos de conexões conforme Sass, Michaud e Cardoso (2007) apud Barros
(2011, p.36) e representados na Figura 3.10 são: “(a) Conexão de Borda/Aresta (Connection
Edge – CE), (b) Conexão Perpendicular (Connection Running – CR) e (c) Conexão
Paralelo/Lateral (Connection Lateral – CL)”.
53

Figura 3.10 - Sistemas de conexão.

Fonte: Sass, Michaud e Cardoso (2007) apud Barros (2011).

Essas conexões funcionam por causa do atrito entre as peças. As propriedades da


superfície e dos materiais utilizados que são responsáveis por esse atrito. Entretanto, após
alguns estudos e protótipos, Sass, Michaud e Cardoso (2007) apud Barros (2011), constataram
que existem algumas questões que podem interferir diretamente na montagem e sustentação
dos objetos.
Entre elas estão a área da superfície que compõe o sólido, a relação entre o número de
conexões por superfície, e a tensão entre duas superfícies. Na montagem, as questões
observadas pelos pesquisadores foram o alinhamento entre as partes dos componentes e o
sustento do encaixe.
Segundo Sass, Michaud e Cardoso (2007) apud Barros (2011, p.37-38), “em diversos
casos, os objetos não podem ser alinhados, pois a geometria, no espaço virtual, é diferente da
geometria no espaço físico, determinando fatores que devem ser verificados durante a
configuração dos artefatos físicos.
Além disso, no caso do sustento dos encaixes podem ocorrer variações nos três tipos
apresentados. No sistema Connection Edge (CE) (Figura 3.11), o (CE – tipo 1), revela uma
sustentação vulnerável por não haver travamento em nenhum dos lados. Assim, quando
aplicado um esforço lateral essas peças podem se soltar. No caso do CE - tipo 2, além do
transpasse entre as peças, existe um travamento vertical de permite maior sustentação do
artefato (BARROS, 2011).
54

Figura 3.11 - Variações para conexões sistema CE.

Fonte: Sass, Michaud e Cardoso (2007) apud Barros (2011).

Essas variações também podem ser percebidas no sistema connection running (CR)
(Figura 3.12), em que no tipo 1 as peças são interligadas apenas por atrito, porém ainda assim
são mais resistentes que o CE – tipo 1. No CR - tipo 2, o encaixe é feito por atrito somado a um
travamento vertical, impedindo parcialmente a sua reversão. Por último, no tipo CR - tipo 3, os
elementos são conectados através de atrito e travamento por meio de um componente do tipo
cunha (BARROS, 2011).

Figura 3.12 - Variações connection running (CR).

Fonte: Sass, Michaud e Cardoso (2007) apud Barros (2011).


55

Além dessas questões, é importante observar alguns aspectos importantes para que
esses encaixes funcionem na prática. De acordo Sass, Michaud e Cardoso (2007) apud Barros
(2011 p.3) algumas delas são:

Interferência entre elementos do artefato - deve ser observada devido à


necessidade de movimentar e encaixar os elementos durante a montagem.
Quando um elemento bloqueia o movimento de outro, ele pode impedir a
montagem do artefato. A interferência pode ser testada em ambiente virtual
ou em protótipos materializados através da simulação dos encaixes. Sequência
de montagem dos elementos - determina a estruturação do artefato na medida
em que este vai sendo construído e possibilita uma organização nas etapas a
serem realizadas. Esta sequência pode estar orientada através da codificação
das peças e de um manual para a montagem do artefato. Força necessária para
realizar o encaixe – este fator é fundamental para que usuários finais
(consumidores) possam receber o artefato desmontado e realizar a montagem
sem o auxílio de ferramentas especiais. A força necessária também deve
permitir a reversão das conexões.

3.4 Métodos para produzir artefatos físicos utilizando as tecnologias de fabricação


digital

As diferentes associações entre métodos de prototipagem virtual, manipulação de


matéria prima, sistemas estruturais e de conexões trouxeram complexidade no ato de projetar.
Nesse contexto, surgiram algumas técnicas que facilitam a materialização de artefatos a partir
do uso de ferramentas da engenharia de softwares. Neste trabalho utilizaremos as ferramentas
de orientação a objetos (OO).
Este recurso é muito utilizado na programação de softwares e segundo Booch (2007)
apud Barros (2011, p.43), consiste na “identificação e a estruturação de sistemas complexos
através da decomposição de modelos hierárquicos”. Ainda conforme este pesquisador, existem
quatro conceitos fundamentais para OO:

Abstração - consiste na decomposição do modelo em classes, definindo


somente as principais características para possibilitar o entendimento do
conjunto; Encapsulamento - agrupamento de diversos elementos em classes,
segundo uma abstração e a sua separação entre a implementação e a interface,
em que a implementação é formada pelos processos internos e a interface é o
ponto de relacionamento das classes com o conjunto; Modularidade - as
variadas partes de um objeto devem se comportar como módulos, conectando-
se para formar uma estrutura complexa; Hierarquia - consiste na classificação
e na ordenação das classes.
56

Os Diagramas Unified Modeling Language (UML) são algumas das ferramentas da OO.
Neles são empregados diversos tipos de esquemas que visam aprimorar a visualização,
especificação, construção e documentação dos artefatos de um sistema de software. (BOOCH,
2007 apud BARROS, 2011).
Eles podem ser classificados em três categorias: diagramas estruturais, diagramas
comportamentais e diagramas de interação representados respectivamente nas Figuras 3.13,
3.14 e 3.15. No estrutural, é revelado o relacionamento entre os elementos de um produto. No
comportamental são descritas as interações entre os fatores externos e as atividades dentro de
um sistema. Por último, no de interação, são demonstradas questões como a sequência,
interatividade e colaboração, além de exibir a influência mútua entre os objetos e seus
relacionamentos (BOOCH, 2007 apud BARROS, 2011).

Figura 3.13 Diagrama estrutural.

Fonte: Sass, Michaud e Cardoso (2007) apud Barros (2011).


57

Figura 3.14 - Diagrama comportamental.

Fonte: Sass, Michaud e Cardoso (2007) apud Barros (2011).

Figura 3.15 - Diagrama de interação.

Fonte: Sass, Michaud e Cardoso (2007) apud Barros (2011).


58

A decomposição dos problemas e a análise dos contextos que os métodos de OO


possibilitam ao projetista, permitem a incorporação de conceitos como sustentabilidade ao
artefato produzido (BARROS, 2011). Portanto, a sistematização do projeto desenvolvido neste
trabalho foi organizada em três etapas.
A primeira foi composta pela configuração dos espaços em sua forma tridimensional.
Isso foi feito a partir das plantas baixas que teve como base o programa de necessidades
proveniente de entrevistas com voluntários. Após a definição do objeto 3D, foram elaborados
os diagramas UML, onde foi possível identificar todas as partes da construção, suas interações
e demandas. Na terceira e última etapa, foi realizada uma pré-seleção dos materiais, priorizando
suas propriedades em relação as características do projeto. No próximo capítulo, serão
apresentados alguns referenciais que tiveram por objetivo auxiliar as primeiras definições do
projetuais.
4 REFERENCIAIS PROJETUAIS

Para a concepção projetual serão apresentados, a seguir, alguns referenciais que visam
auxiliar nas decisões tipológicas, funcionais, plástico-formais e tecnológicas. Tais referenciais
são provenientes de projetos arquitetônicos consolidados ou oriundos de pesquisas e protótipos
vencedores de concursos renomados e que são relacionados com o tema deste trabalho.
É importante observar que esta divisão de projeto por categoria de referencial representa
apenas uma forma organizacional que visa facilitar o entendimento. Entretanto, todos os
projetos aqui apresentados possuem características positivas multilaterais, impossibilitando sua
restrição a apenas uma esfera do trabalho.

4.1 Tipológico

O referencial tipológico tem por objetivo colaborar nas decisões referentes as


características volumétricas do projeto no que tange a sua essência, sem considerar
particularidades estéticas. Elas se apresentam nas formas básicas como a verticalização de um
bloco, por exemplo, ou se este será térreo. Além disso, questões com a fundação também podem
ser definidas a partir desses exemplos.

4.1.1. Casa S - Equador

A casa S surgiu após um terremoto em abril de 2016 no Equador. A família composta


pelo casal e seus três filhos perdeu sua antiga casa, e na busca por um lugar para se refugiar, se
instalaram em um terreno de 12,00 x 10,00 metros que era parcialmente ocupado pela mãe da
matriarca.
O projeto teve apenas 10 dias de duração, por se tratar de um caso emergencial, e foi
desenvolvido pela Natura Futura Arquitectura juntamente com Cronopios-El Oro (coletivo de
gestão cultural). Após a elaboração do projeto foram recolhidos materiais e ferramentas doados
através da divulgação do caso pela imprensa e pelos próprios envolvidos na localidade. Além
disso, a mão de obra foi feita por intermédio de voluntários que se prontificaram para ajudar a
família.
Esta casa foi escolhida para ser referencial tipológico devido sua concepção baseada em
três volumes que podem ser ampliados em direção à plataforma (Figura 4.1). Dois destes
volumes foram destinados para os quartos e o outro para sala e cozinha. Outro fator importante
60

foi a elevação da casa em relação ao terreno, protegendo assim, a estrutura da umidade


proveniente do solo bem como proporcionando uma corrente de ar sobre o piso.

Figura 4.1 - Planta baixa.

Fonte: Archdaily (2016), adaptado pela autora.

A residência teve sua base foi consolidada sobre pallets apoiados em uma estrutura, tipo
estaca, composta por tijolos e concreto (Figura 4.2). Ela se caracteriza por ser uma construção
modular de madeira pinus. A madeira ocupou espaço desde a estrutura, onde foi trabalhada em
forma de ripas, até as janelas, que foram feitas a partir de uma composição de madeira semi-
dura com ripas de madeira reciclada.
61

Figura 4.2 - Casa S.

Fonte: Archdaily (2016).

No telhado, foram utilizados painéis de zinco, e seu formato (como se fosse um grande
chapéu), protege a casa da chuva e fornece sombra através de sistemas passivos. Devido a
interrupção do trabalho da família, houve a necessidade de propor estratégias que gerassem
economia nessa fase de instabilidade. A primeira solução encontrada foi a de criar uma horta
com caixas de feira recicladas (Figura 4.3), desta forma, a família poderia vender os produtos
na região além de usufruir dos produtos.

Figura 4.3 - Horta em materiais alternativos.

Fonte: Archdaily (2016).


62

Além disso, foi estabelecido espaços que tinham como objetivo a realização de
pequenos eventos como a venda de lanches e comida. Na entrada da casa foi criado um espaço
de convivência a fim de proporcionar interação social entre a família e a nova vizinhança
(Figura 4.4).

Figura 4.4 - Espaço de convivência.

Fonte: Archdaily (2016).

O teto elevado somado às aberturas da residência proporcionou a ventilação cruzada


entre os ambientes. A entrada de luz é feita por meio dos módulos de pallets junto as janelas,
onde os espaços entre as ripas permitem a entrada da luz natural. Além do mais, essas aberturas
funcionam como portas de escape para as crianças, gerando formas recreativas como mostra na
Figura 4.5.

Figura 4.5 - Espaço recreativo.

Fonte: Archdaily (2016).


63

A casa é compacta, porém sua integração trouxe o melhor aproveitamento dos espaços
gerando locais de lazer, serviço, descanso bem como uma maneira de sustento inicial para a
família. Estas últimas características destacadas estão mais relacionas ao próximo referencial,
o funcional, entretanto, vale destacar como este projeto foi eficiente em diversos aspectos,
cumprindo assim, a sua função social.

4.2 Funcional

No referencial funcional são esclarecidas questões como a organização das atividades


desempenhadas dentro do espaço projetado. Ele está diretamente ligado ao programa de
necessidades e tem por objetivo identificar fluxos, organização espacial e seus desdobramentos
no projeto arquitetônico.

4.3.1. Soe Ker Tie House – Tailândia

Este projeto é produto de uma organização sem fins lucrativos composta por estudantes
de arquitetura e financiada por empresas norueguesas. Ele foi concluído em 2009 com o
objetivo de melhorar a situação dos refugiados de Karen, que atualmente vivem em uma aldeia
chamada Noh Bo, fronteira com a Birmânia e a Tailândia.
Muitos desses refugiados são crianças, e por conta disso, o local já dispunha de um
orfanato com capacidade de abrigar 24 pessoas, entretanto, o objetivo era expandir esse número
para 50. Com isso, foi necessário realizar uma ampliação dos dormitórios.
A ideia central era ciar um espaço aconchegante e que de alguma formar trouxesse a
sensação de uma vida na “situação normal”, onde as crianças tivessem espaço para brincar e
interagir bem como uma casa que lhes oferecesse privacidade. Para isso, foram feitos seis
espaços de dormitórios (Figura 4.6), conhecidos como Soe Ker Tie Hias (as casas de
borboletas).
64

Figura 4.6 - Soe Ker Tie House.

Fonte: Archdaily (2009).

A estrutura utilizada na vedação foi feita através da tecelagem de bambu, muito utilizada
em outras casas da região. Esses materiais são recolhidos próximo ao local, o que reduz esforços
adicionais além de evitar maiores gastos com insumos oriundos de regiões mais distantes. Outra
questão interessante do projeto foi a utilização de elementos vazados a fim de permitir a entrada
de luz e ventilação no espaço (Figura 4.7).

Figura 4.7 - Elementos vazados na construção.

Fonte: Archdaily (2009).

O telhado utilizado possui uma forma diferenciada que permite a ventilação natural e a
captação das águas pluviais para os períodos mais secos. O volume é elevado do chão por
intermédio de quatro fundações fundidas em pneus velhos (Figura 4.8), com o objetivo de evitar
que a umidade do solo entre em contato com os outros materiais da construção.
65

Figura 4.8 - Fundação sobre estacas.

Fonte: Archdaily (2009).

Internamente, o ambiente é composto por camas presas na própria estrutura que


aproveita os espaços além de imprimir um aspecto mais divertido ao espaço, como mostra a
Figura 4.9. Na área externa foram feitos brinquedos também com os materiais da região, sendo
o balanço preso na própria estrutura do telhado (Figura 4.10).

Figura 4.9 - Esquema de camas presas na estrutura.

Fonte: Archdaily (2009).


66

Figura 4.10 - Balanço com materiais alternativos.

Fonte: Archdaily (2009).

Apesar deste projeto ter sido apresentado como um referencial funcional, devido ao bom
aproveitamento dos espaços. Este também tem pontos muito positivos e interligados aos demais
referenciais. Isto ocorre por causa do uso de fundação do tipo estaca (tipológico), a ventilação
cruzada por intermédio da cobertura diferenciada e os materiais encontrado com facilidade da
localidade (tecnológico) e por fim pelo uso de pequenas varandas cobertas, criando ambientes
de interação além de proteger as paredes e deixar o volume esteticamente mais agradável
(plástico).

4.3 Plástico-formal

Este referencial está diretamente ligado as particularidades estéticas do projeto. A partir


dele são selecionados materiais, cores, jogo de volumes, se vai ser ou não integrado com o
exterior, dentre outras características de mesmos valores.

4.3.2. Sistema Habitacional Efêmero: a construção emergencial para desabrigados -


Manaus

Este referencial é oriundo de um projeto desenvolvido para o 28º concurso Opera Prima,
onde foi finalista. O trabalho feito pela autora, Marilia Gomes de Sá Ribeiro, em Manaus, teve
67

por objetivo a criação de uma arquitetura emergencial para o bairro do Mauazinho, a fim de
atender aos desabrigados em consequências de desastres naturais na região.
O projeto (Figura 4.11) teve como meta proporcionar as condições básicas para a
população em situação de vulnerabilidade. Além disso, ela utilizou preceitos de
sustentabilidade e a viabilidade econômica como fatores primordiais.

Figura 4.11 - Sistema Habitacional Efêmero.

Fonte: Ribeiro (20--?).

Como o terreno da região se apresentava de forma irregular, foram adotadas soluções


sobre estacas (Figura 4.12), assim como no projeto da Casa S, a fim de superar os obstáculos
topográficos. Ela também incorporou ao projeto a criação de equipamentos modulares, que
podem ser montados e desmontados de acordo com as necessidades locais.

Figura 4.12 - Esquema volumétrico.

Fonte: Ribeiro (20--?).

Para a concepção do abrigo foram consideradas questões climáticas, a durabilidade dos


materiais empregados bem como os pontos característicos sociais e culturais dos usuários.
Outro fator positivo foi a adição dos princípios de permeabilidade, de forma que as disposições
68

dos módulos permitiram a livre circulação do ar, e o melhor aproveitamento do fluxo entre cada
elemento conforme mostra a Figura 4.13.

Figura 4.13 - Esquematização da malha do Sistema Habitacional Efêmero.

Fonte: Ribeiro (20--?).

A construção possui caráter efêmero e foi desenvolvida em módulos que comportam


uma família de até quatro integrantes. Em seu programa de necessidades acrescentaram, além
dos ambientes necessários de uma residência, instalação de estação de tratamento de esgoto,
instalação elétrica e hidráulica, além de espaços de atendimento médico e apoio social.
Outras questões que ganharam espaço nessa proposta de abrigo foram a flexibilidade, a
adaptabilidade, a fácil montagem/desmontagem e transporte, o uso de materiais
recicláveis/reutilizáveis, e a pouca manutenção evitando custos adicionais no período em que
será utilizado, cerca de seis meses, conforme a administração dos órgãos governamentais
competentes.
No esquema a seguir (Figura 4.14), é possível observar o processo de montagem do
projeto onde primeiro é feito o transporte por intermédio de um container (1), a empilhadeira
(2) transposta os componentes para a fase de montagem em loco (3), feito as estacas, começa o
processo de montagem do deck de madeira sobre a estrutura metálica (4) e a locação das rampas
de acesso (5).
69

Com a base feita, começa o processo de montagem da cobertura (6) e em seguida dos
painéis (7). Por fim, são instaladas as áreas molhadas (8) e colocadas as molduras teladas da
cobertura (9).

Figura 4.14 - Esquema do processo de montagem.

Fonte: Ribeiro (20--?).

Entre as diretrizes projetuais também estiveram a facilidade de acesso e a intervenção


mínima no meio. Para viabilizar a construção foram adotados o sistema flat-pack (unidades
montadas in loco), como já foi explicado no capítulo anterior, e o sistema tensile (estrutura
rígida com fechamento em membrana flexível), também esclarecido no capítulo dois deste
trabalho.
O programa de necessidades foi composto por vários módulos entre eles o habitacional,
sendo este constituído pelo dormitório, banheiro, e área externa. Os módulos
comunitários/apoio social, a lavanderia/depósito incluindo um banheiro, área de convivência
com parquinho, recreação esportiva, espaço multiuso e hortas comunitárias, enfermaria,
módulo administrativo e de apoio social incluindo psicólogo e assistência social. A forma como
estes espaços foram distribuídos podem ser observados nas Figuras 4.15 e 4.16.
70

Figura 4.15 - Zoneamento do Sistema Habitacional Efêmero.

Fonte: Ribeiro (20--?).

Figura 4.16 - Implantação do Sistema Habitacional Efêmero.

Fonte: Ribeiro (20--?).


71

Esta disposição em forma de zoneamentos possibilitou a criação de um complexo


interligado por diversas áreas externas, onde é possível estabelecer laços de vizinhança nesse
período em que as famílias usufruirão do abrigo. Tais laços são indispensáveis em um período
pós-desastre.

4.4 Tecnológico

O referencial tecnológico aborda questões como soluções sustentáveis, técnicas


construtivas, materiais de alta tecnologia e tipo de estrutura que ofereça condições para a
construção do projeto considerando suas características estéticas particulares.

4.4.1. Prototipo Puertas, Vivienda de Emergencia - Chile

Produto de um estudo elaborado pelo escritório de arquitetura chileno Cubo Arquitectos


em parceria com Universidade Central do Chile entre 2005-2006, o Prototipo Puertas tem por
objetivo a idealização e produção de uma habitação de rápida montagem/desmontagem
utilizando materiais de fácil acesso.
Tanto a forma quanto a planta dessa residência possuem características nada
convencionais (Figura 4.17). Entretanto, apesar desse aspecto, o marco desse projeto é o uso de
tecnologias simples para soluções arquitetônicas emergenciais. Tais artifícios são capazes de
gerar grandes impactos na construção.

Figura 4.17 - Prototipo Puertas, Vivienda de Emergencia.

Fonte: Plataforma Arquitectura (2010).

O programa é composto por um pátio central coberto que tem a função de separar dois
ambientes: área de dormitório e área de estar (Figura 4.18). A cobertura que é feita independente
72

do restante do volume, além de viabilizar a circulação de ar entre os ambientes, evita o acúmulo


de calor que pode ser prejudicial a sua estrutura, uma vez que esta é feita de uma lona de
polietileno (Figuras 4.19 e 4.20).

Figura 4.18 - Planta baixa.

Fonte: Plataforma Arquitectura (2010).

Figura 4.19 - Pátio central.

Fonte: Plataforma Arquitectura (2010).

Figura 4.20 Esquema de ventilação.

Fonte: Plataforma Arquitectura (2010).


73

Assim como os outros referenciais já apresentados, esse projeto também permite a


incorporação de anexos. Neste caso, especificamente, um banheiro e um outro dormitório
conforme a necessidade dos moradores. Apesar de sua concepção não estar vinculada a nenhum
contexto pós-desastre, ele serve de referencial para o uso neste tipo de situação.
A área do protótipo é de 14 m² e comporta entre 4 a 6 pessoas. Tem uma durabilidade
de 3 meses e pode ser montado em apenas 8 horas por um time de 7 pessoas. Para isso, foi feito
um manual técnico que oferece suporte na etapa de construção. Entre os materiais utilizados
então as placas modulares de OSB, pallets de madeira, madeira pinus, plástico bolha e lona com
perfil de aço.
A cobertura permite a captação das águas pluviais, podendo esta ser reaproveitada pelos
usuários. As Figuras 4.21, 4.22 e 4.23 respectivamente, mostram a forma com a água é retida e
redirecionada para os reservatórios.

Figura 4.21 - Esquema de captação da água da chuva.

Fonte: Plataforma Arquitectura (2010).

Figura 4.22 - Esquema de direcionamento da água da chuva para os reservatórios.

Fonte: Plataforma Arquitectura (2010).


74

Figura 4.23 - Corte esquemático.

Fonte: Plataforma Arquitectura (2010).

O aproveitamento das águas pluviais é um fator de extrema importância em locais


atingidos pela seca ou qualquer outra crise humanitária. Através de medidas simples como esta
é possível abastecer uma comunidade por um determinado período de tempo, que é
correspondente ao clima e a capacidade do reservatório utilizado.

4.4.2. Fitodepuração

Outro referencial tecnológico adotado para este projeto foi o tratamento de águas negras
a partir da fitodepuração. Este sistema inovador apresenta baixo custo, baixo impacto
ambiental, diminui a dispersão de contaminantes além de não necessitar de equipamentos
sofisticados para controle e monitoramento (PAULO; PRATAS, 2008; PRATAS et al., 2010,
2012 apud UNESP).
O objetivo principal da fitodepuração é a utilização de plantas “para a depuração da
contaminação de efluentes, através da remoção, egradação/metabolização, armazenamento e
imobilização dos contaminantes orgânicos ou inorgânicos” (VYMAZAL, 2009; STOUT;
NÜSSLEIN, 2010; VAMERALI et al., 2010 apud UNESP, p. 41).
O êxito desse processo depende de diversos fatores como o tipo de contaminante, a
extensão da contaminação, a tipologia do solo, o tipo de planta disponível para o uso e suas
características, o PH e a disponibilidade de luz (PAULO; PRATAS, 2008; PRATAS et al.,
2010, 2012 apud UNESP).
Para a implantação deste sistema é necessário saber o volume de água residuária gerada,
a partir desta informação e das características da água, o projeto poderá ser elaborado (LASAT,
75

2002 apud). Segundo (BRANCO; BERNARDES, 1983 apud UNESP, p. 39) o funcionamento
desse sistema é

[...] formado por tanques rasos ou canais preenchidos com meio suporte sobre
o qual é adicionada a vegetação adaptada ao plantio em áreas saturadas. Esses
canais podem conter apenas uma espécie de planta ou uma combinação de
espécies. O esgoto escoa horizontalmente pelo leito, com o nível da lâmina
líquida mantido abaixo da superfície do leito, sofrendo ação de
microorganismos aderidos ao suporte, além da ação de plantas e de processos
físicos como filtração e decantação. A manutenção do nível do esgoto abaixo
do nível do leito permite a redução de riscos de geração de odores, exposição
das águas residuárias ao homem ou aos animais e a proliferação de vetores de
insetos.

Após esse tratamento, a água pode ser reutilizada, entretanto, seu uso é limitado
conforme os precedentes da água residuária, que pode variar de acordo com questões
econômicas, com o clima e a cultura local. Portanto, é necessário um estudo dos aspectos
químicos, fisicos e biológicos da água antes de sua reutilização (PAULO; PRATAS, 2008;
PRATAS et al., 2010, 2012 apud UNESP).
A partir desses referenciais e de toda a contextualização realizada nos capítulos
anteriores, é possível pensar em um projeto inovador para auxiliar as organizações de apoio
humanitário. Com isso, será apresentado a seguir o projeto Light Camp.
5 O PROJETO

Neste capítulo será apresentado todo o desenvolvimento projetual, abordando o conceito e


o partido adotado, a elaboração do programa de necessidades e a sua materialização através de
plantas e estudos volumétricos. Além disso, serão descritas as técnicas construtivas e os materiais
empregados para a consolidação do mesmo.

5.1 Condicionantes

A intalação de um local de suporte a voluntários ainda não dispõe de uma norma que possa
estabelecer padrões mínimos para fins de projeto. Entretanto, existem diretrizes fundamentadas
na experiência de agências de apoio e nos princípios que regem a ação humanitária.
Entre tais princípios estão “[...] o direito à vida com dignidade, o direito à proteção e
segurança e o direito de receber assistência humanitária com base na necessidade.” (THE
SPHERE PROJECT, 2011, p.29). Desta forma, é possível assimilar os itens indispensáveis para
moradia adequada.
Estes instrumentos mensionados acima, definem a moradia adequada como aquela que
garante espaço suficiente pra desenvolver as atividades cotidianas, além disso, estas devem
garantir conforto térmico e proteção contra qualquer risco à saúde como vetores de doenças,
problemas estruturais e umidade (THE SPHERE PROJECT, 2011).
Outras questões a serem consideradas segundo o Projeto Esfera é a disponibilidade de
serviços, intalações elétricas e hidrossanitárias, adequação cultural, água potável, depósito de
lixo, local para armazenamento de alimentos, drenagem e serviços emergenciais/fundamentais
como acesso a saúde e educação.
Esses princípios adotados no que são chamados de “padrões básicos de habitação”, não
possuem caráter absoluto, uma vez que as cirscunstâncias podem reduzir a ação das
organzações e consequentemente a possibilidade de cumprir tais padrões (THE SPHERE
PROJECT, 2011).
“Embora principalmente destinado a informar a resposta humanitária a um desastre, os
padrões mínimos também pode ser considerado durante a preparação para desastres e a
transição para a recuperação e reconstrução actividades” (THE SPHERE PROJECT, 2011,
p.80).
Entretanto, apesar de existir essa flexibilidade de execução dessas construções, esses
princípios devem orientar as ações de campo em todos os momentos pois são baseados em
77

preocupações humanitárias universais. Eles devem compreender tanto a fase construtiva quanto
a fase de gerenciamento e desenvolvimento dos projetos executados na região (THE SPHERE
PROJECT, 2011).
Como tudo o que foi mencionado se trata de orientações, sem terem necessessariamente
normas ou leis que determinem as decisões projetuais, foram utilizadas, neste projeto, a norma
reglamentadora 18 (NR-18), e a norma brasileira regulamentadora (NBR 13714).
A NR-18 trata das codições mínimas dos alojamentos provisórios em canteiros de obras.
Por se tratar de uma contrução semelhante aos alojamentos efêmeros de ajuda humanitária, esta
norma foi importante para determinar as dimensões dos ambinetes bem como a quantidade de
aparelhos sanitários. Já a NBR 13714 foi utilizada para o dimensionamento da reserva de
incendio nas cisternas.
Outro fator importante a ser retratado é a impossibilidade de determinar insolação,
ventilação, iluminação e acessos, uma vez que este projeto não possui um terreno fixo. Desta
forma, foram necessarias medidas que permitissem diferentes fluxos e implantações,
viabilizando a construção.

5.2 Conceito e partido

5.2.1. Conceito

A partir dos estudos realizados nos capítulos anteriores, onde foram abordados as principais
funções e a importância dos voluntários em missões humanitárias, optou-se por um conceito
construído históricamente, e que neste trabalho é de cunho simbólico: o farol náutico (Figura
5.1). Essa estrutura surgiu para suprir a necessidade daqueles que precisavam enfrentar os
desafios do mar turbulento e foi se modernizando ao longo do tempo.
Na Antiguidade, os barcos que se encontravam em alto mar eram conduzidos por uma
grande fogueira localizada no alto de uma torre. A visualização da fogueira simbolizava que a
tripulação não se encontrava perdida e sim que estava próxima a terra firme (EASYCOOP,
2018).
Após o surgimento dos faróis, as formas de funcionamento do sistema modificaram,
entretanto, a utilidade permaneceu a mesma: orientar através da luz um caminho certo para as
embarcações. Este instrumento é muito utilizado à noite e em meio a tempestades, auxiliando
aqueles que não são capazes de regressar sozinhos a um local seguro.
78

Figura 5.1 - Farol náutico.

Fonte: Lund (20--?).

Assim como o farol representa um suporte para aqueles que estão “perdidos”, as
organizações de ajuda humanitária cumprem o mesmo papel. Tais órgãos de apoio são
responsáveis por trazer esperança e auxílio aqueles que foram afetados por alguma situção
emergencial.

5.2.2. Partido arquitetônico

O conceito é traduzido no projeto através do conjunto arquitetônico como um todo e sua


representação para os usuários. Em meio a uma área onde os recursos básicos não estão
disponíveis, oferecer um espaço seguro e com infraestrutura adequada representa, tanto para os
voluntários quanto para as pessoas em situação de vulnerabilidade, um local de proteção, abrigo
e refúgio.
Para os voluntários, a estrutura composta por espaços de descanso, alimentação, serviço e
laser remete a sua casa, buscando proporcionar o máximo de aconchego dentro do possível. Já
para as demais pessoas que serão beneficiadas por intermédio dessa estrutura, este local
representa um local de paz, de ajuda e socorro.
Além disso, o complexo representa um ponto de encontro entre todos os envolvidos,
caracterizado por circulações largas que visam proporcionar permeabilidade entre blocos e
fluidez nos caminhos.
79

5.3 Programa de necessidades

Para a elaboração do programa de necessidades foram realizadas entrevistas (Apêndice


A) com voluntários e funcionários de organizações distintas. As perguntas elaboradas tiveram
por finalidade entender a rotina das pessoas envolvidas no trabalho humanitário e, as suas
principais demandas. Também buscou-se compreender a forma de atuação desses organismos,
se estes já possuíam alguma estrutura e, se sim, como esta funcionava.
Foram obtidas oito respostas, sendo quatro de organizações filantrópicas, três de
organizações não-governamentais e uma de órgão militar, o Centro Conjunto de Operações de
Paz do Brasil (CCOPAB). Essa diversificação de entidades permitiu ter um panorama geral da
situação enfrentada no campo. Entre os profissionais envolvidos constaram duas professores,
uma fisioterapeuta, uma dentista, um músico e auxiliares da parte administrativa, de
planejamento e coordenação.
O questionário foi composto por doze perguntas estratégicas, onde foi possível
identificar questões como a necessidade de locais de apoio para estudo e realização de tarefas
com o auxílio de computador, áreas de convivência, refeitório e ambientes frescos e limpos. A
dentista que trabalha nesse ramo, a fim de que seus atendimentos possam ser feitos atendendo
as normas de saúde, fez o seguinte relato:

O ideal é uma estrutura com tapagem e também com “piso” pois na maioria
das vezes trabalhamos na terra, e o negativo é porque levanta poeira. Estrutura
com boa ventilação e boa iluminação e que não permita que o sol cause muito
calor, pois sempre estamos de jaleco e equipamentos de proteção individual
que por si só já torna bem quente.

Outra grande questão percebida foi que a maior parte dessas organizações não possuí
nenhum tipo de estrutura de apoio, sendo dependentes de locais públicos disponibilizados para
sua atuação, ou até mesmo casa de pessoas na região. A seleção da equipe é feita por critérios
como disponibilidade de tempo e de se deslocar para locais distantes. Na maioria dos casos os
envolvidos com este tipo de trabalho recebem acompanhamento psicológico.
Diante disso, foi possível extrair informações relevantes acerca da estrutura que o
projeto deverá oferecer. Estas respostas obtidas, somadas as diretrizes esclarecidas nos
condicionantes deste trabalho, foram responsáveis pelo resultado observado no Quadro 5.1.
80

Quadro 5.1 - Programa de necessidades.


Ambiente Equipamentos
Cama, escrivaninha,
Alojamento
armário e bancos.
Chuveiro, vaso sanitário,
Banheiro lavatório , banco de apoio
e prateleiras.
Mesa, banco, suporte para
Refeitório bebedouro e bancada para
distribuição de alimentos.
Refrigerador, fogão, pia e
Cozinha
armário.
Tanque, suporte para itens
Área de lavagem
sujos e limpos.
Despensa Prateleira.
Lavanderia/DML Tanque, banco e prateleira.
Mesa, cadeira, e itens de
Consultório atendimento de acordo
com o uso.
Lavabo Vaso sanitário e lavatório.
Mesa, cadeira e suporte
Recepção
para bebedouro.
Armazenamento de medicamentos Prateleiras.
Armazenamento de suprimentos alimentícios Prateleiras.
Armazenamento de materiais de limpeza e higiene Prateleiras.
Armazenamento de agasalhos Prateleiras.
Área de convivência Bancos.
Área de tratamento de esgosto -
Cisterna -
Fonte: Elaborado pela autora.
81

5.4 Setorização

Como o projeto foi pensado para atender diferentes tipos de organizações em diversos
campos de atuação, a estrutura deveria se adaptar a casos onde uma pequena ou grande
quantidade de voluntários estaria envolvida. Sendo assim, foram feitos três ensaios de
implantação onde foi possível simular a atuação de 18, 36 e 72 indivíduos respectivamente.
No primeiro caso, o complexo é formado por um alojamento, um banheiro, um
refeitório, uma lavanderia, dois consultórios, um lavabo e uma área de convivência. Além disso,
foi separada área para tratamento de esgoto e para o cultivo de uma horta. Todos estes ambientes
foram dimensionados conforme a quantidade de usuários definidos. Esta disposição pode der
observada na Figura 5.2.
O segundo caso segue o mesmo padrão do primeiro, entretanto, com as adaptações de
áreas e equipamentos (Figura 5.3). Tais alterações poderão ser analisadas no próximo tópico,
neste, é interessante ressaltar a forma como essa nova dimensão foi pensada de maneira a ocupar
o menor espaço possível e, simultaneamente, criando um fluxo agradável entre as construções.
No terceiro caso, a implantação ganhou uma configuração diferenciada (Figura 5.4).
Como a ampliação foi de maior proporção, foram criados três núcleos: o de alojamentos, o de
serviços e o de atendimento a comunidade.
Além disso, esses três ensaios foram adaptados para uma situação onde o solo é plano
ou irregular. Nos casos citados acima, foram utilizados a fundação do tipo radier, já nestes,
foram adicionadas estacas para viabilizar a construção em superfícies mais complexas. Essa
alteração no tipo de fundação resultou em pequenas modificações nos ensaios, conforme
mostram as Figuras 5.5, 5.6 e 5.7, respectivamente.
Pode-se observar que nestes casos também foram acrescentadas rampas de acesso, uma
vez que o complexo é elevado do solo. Neste caso, especificamente, a simulação foi feita
considerando uma altura de um metro, contudo, na prática esta altura pode ser determinada
pelos condicionantes locais.
Uma questão importante a ser destacada nesses ensaios é a circulação ao redor dos
blocos. Isso ocorre devido a necessidade de se ter um espaço para que os voluntários no
momento da construção possam se deslocar. Além disso, esta serve como uma borda de
segurança para que as paredes não fiquem apoiadas nas extremidades da base.
Como já foi mencionado no tópico de condicionantes projetuais, não foi possível
considerar insolação e ventilação para o posicionamento dos blocos, entretanto, foram adotadas
soluções nas próprias construções a fim de proporcionar a entrada de luz e ventilação por todos
82

os ambientes. Isso será descrito no próximo tópico bem como os desdobramentos das plantas
baixas.
83

Figura 5.2 - Ensaio 1: 18 voluntários (terreno plano).

4 2

Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/250

LEGENDA:

1 ALOJAMENTO/BANHEIRO
2 REFEITÓRIO/LAVANDERIA
3 DEPÓSITO DE SUPRIMENTOS/CONSULTÓRIO/LAVABO
4 ÁREA DE CONVIVÊNCIA
5 HORTA
6 FITODEPURAÇÃO
7 CIRCULAÇÃO
84

Figura 5.3 - Ensaio 2: 36 voluntários (terreno plano).

1 1

7 4 2

Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/250

LEGENDA:

1 ALOJAMENTO/BANHEIRO
2 REFEITÓRIO/LAVANDERIA
3 DEPÓSITO DE SUPRIMENTOS/CONSULTÓRIO/LAVABO
4 ÁREA DE CONVIVÊNCIA
5 HORTA
6 FITODEPURAÇÃO
7 CIRCULAÇÃO
85

Figura 5.4 - Ensaio 3: 72 voluntários (terreno plano).

3 1

4 4
6

8 1 7 1

5
4 4

1
2

Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/250

LEGENDA:

1 ALOJAMENTO/BANHEIRO
2 REFEITÓRIO/LAVANDERIA
3 DEPÓSITO DE SUPRIMENTOS
4 CONSULTÓRIO/LAVABO
5 ÁREA DE CONVIVÊNCIA
6 HORTA
7 FITODEPURAÇÃO
8 CIRCULAÇÃO
86

Figura 5.5 - Ensaio 1: 18 voluntários (terreno acidentado).

4 2

Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/250

LEGENDA:

1 ALOJAMENTO/BANHEIRO
2 REFEITÓRIO/LAVANDERIA
3 DEPÓSITO DE SUPRIMENTOS/CONSULTÓRIO/LAVABO
4 ÁREA DE CONVIVÊNCIA
5 HORTA
6 FITODEPURAÇÃO
7 CIRCULAÇÃO
8 RAMPA DE ACESSO
87

Figura 5.6 - Ensaio 2: 36 voluntários (terreno acidentado).

1 1

7 4 2

Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/250

LEGENDA:

1 ALOJAMENTO/BANHEIRO
2 REFEITÓRIO/LAVANDERIA
3 DEPÓSITO DE SUPRIMENTOS/CONSULTÓRIO/LAVABO
4 ÁREA DE CONVIVÊNCIA
5 HORTA
6 FITODEPURAÇÃO
7 CIRCULAÇÃO
8 RAMPA DE ACESSO
88

Figura 5.7 - Ensaio 3: 72 voluntários (terreno acidentado).

3 1

4 4
6

8 1 7 1

5
4 4

1
9 2

Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/250


LEGENDA:

1 ALOJAMENTO/BANHEIRO
2 REFEITÓRIO/LAVANDERIA
3 DEPÓSITO DE SUPRIMENTOS
4 CONSULTÓRIO/LAVABO
5 ÁREA DE CONVIVÊNCIA
6 HORTA
7 FITODEPURAÇÃO
8 CIRCULAÇÃO
9 RAMPA DE ACESSO
89

5.5 Memorial descritivo

Diante da variação do número de voluntários atuando em campo, foi adotado um sistema


construtivo modular. Essa forma de construção torna possível a ampliação dos ambientes sem
grandes alterações na fase de montagem e na fabricação das peças, além disso, possibilita
inúmeros layouts. A partir disso, foram definidas as primeiras plantas baixas, conforme o
programa de necessidades, e estas foram se alterando nos outros dois ensaios de implantação,
onde o número de usuários aumentou.
Neste primeiro ensaio, foram determinados três blocos, sendo o primeiro composto pelo
alojamento e banheiro (Figuras 5.8 e 5.9), o segundo pelo refeitório e a lavanderia (Figuras 5.10
e 5.11), e o terceiro por consultórios, lavabo e depósito de suprimentos (Figuras 5.12 e 5.13).
A junção desses ambientes se justifica pelo fato de diminuir a quantidade de paredes e também
por trazer mais rigidez aos blocos, devido a sua maior dimensão.
No segundo ensaio, os ambientes de alojamento, banheiro, consultório e lavabo
permaneceram com as mesmas dimensões, porém, foram duplicados, como foi possível
observar no ensaio de implantação apresentado no tópico anterior. Já o refeitório e os locais de
armazenamento de suprimentos foram ampliados, mantendo a proporção dos módulos. A
lavanderia como exceção, permaneceu com a mesma área, por apresentar outra possibilidade
de layout que comporta o novo número de voluntários. Essas modificações podem ser
observadas nas Figuras 5.14, 5.15, 5.16 e 5.17.
No terceiro ensaio, tem-se o processo de ampliação similar ao do segundo. Os
alojamentos, banheiros, consultórios e lavabos são novamente duplicados. Entretanto, no
refeitório e lavanderia, os ambientes são modificados de forma a atender o novo número
mantendo a modulação do projeto (Figuras 5.18 e 5.19).
O armazenamento de suprimentos (bloco 3), diferente dos casos anteriores, é separado
do consultório e lavabo (bloco 4). Por essa se tratar de uma opção com maior quantidade de
indivíduos, o que também sugere um maior campo de atuação, os depósitos são separados em
itens para uso dos voluntários e os que serão doados para a comunidade. Tais alterações podem
ser observadas nas Figuras 5.20, 5.21, 5.22 e 5.23.
90

.20
ÁREA TÉCNICA

.90
CISTERNA ÁGUA
A=12.00 m²
DA CHUVA
1.90 1.500 L

.90
.30 .90 1.45 1.90 1.80 1.90

ALOJAMENTO
A=64.80 m² BANHEIRO

1.45
A=23.60 m²

.90
.20
17.00
.50 .50 .50 .50 1.00 .50 .50 .50 .50 1.00 .50 .50 .50 .50 1.00 .50 .50 .50 .50
.50 .50

.50
1.00
.50 .50 .50 .50 .50 .50 1.00 .50 .50 .50 .50
1.00

.50
.50 .50 .50 .50

.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50

.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50


6.20

4.20
1.00
.50 .50

.50 .50 .50 .50 1.00 .50 .50 .50 .50 1.00 .50 .50 .50 .50 1.00 .50 .50 .20 .50 .50 1.00 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50

11.00 6.00
91

Ensaio 1.

Figura 5.11 - Estudo de modulação do bloco 2 - 18 voluntários.


Figura 5.10 - Planta baixa humanizada do bloco 2 - 18 voluntários. .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .05.50 .50 .50 .50

.50 .50
1.90

1.00
ÁREA
TÉCNICA CISTERNA ÁGUA

.50 .50 .50 .50


POTÁVEL

3.00

3.00
A=9.00 m² ÁREA DE DESPENSA

1.10
COZINHA
LAVAGEM A=5.70 m² 10.000 L
CISTERNA ÁGUA A=18.20 m²
A=6.00 m²
DA CHUVA

.50 .50
1.500 L 2.00

.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50


CISTERNA ÁGUA .50 .50 1.00 1.00 .50 .50

7.30
REFEITÓRIO POTÁVEL
A=39.60 m² 10.000 L

2.80 9.90 3.90

4.00
LAVANDERIA
A=11.20 m²
ÁREA

.50 .50 .50


TÉCNICA
A=28.25 m²

1.00 .50 1.00 .50 .50 .50 1.00 .50 1.00 .50 1.50 .50 .50 1.00 .50 1.00 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50
Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75
17.00

Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75


92

Figura 5.12 - Planta baixa humanizada do bloco 3 - 18 voluntários.

ARMAZENAMENTO
ARMAZENAMENTO
CONSULTÓRIO CONSULTÓRIO DE MATERIAL DE
DE AGASALHOS
A=17.00 m² A=17.00 m² HIGIENE/LIMPEZA
A=11.70 m²
A=23.40 m²
Ensaio 1.

ARMAZENAMENTO
DE SUPRIMENTOS
ALIMENTÍCIOS
A=25.20 m²

ÁREA RECEPÇÃO
LAVABO
TÉCNICA A=13.95 m²
CISTERNA ÁGUA A=2.85 m² ARMAZENAMENTO DE
A=2.66 m² MEDICAMENTOS
DA CHUVA
A=13.05 m²

Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75


Figura 5.13 - Estudo de modulação do bloco 3 - 18 voluntários.
20.00

.50 1.00 .50 1.00 .50 .50 1.00 .50 1.00 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50
.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50

.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50
3.40 3.40 6.00 3.00

3.90
5.00
7.20

.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 1.50 .10 1.50 .50 .50 .50
1.00

1.40 .50 .50 .50 .50


4.35 4.65 3.60

1.90 1.50
1.00

1.00
1.90

1.50

.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 1.50 .50 1.00 1.50
.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50

Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75


93

Ensaio 2.

Figura 5.15 - Estudo de modulação do bloco 2 - 36 voluntários.


17.00

.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50
Figura 5.14 - Planta baixa humanizada do bloco 2 - 36 voluntários.

.50 .50

.50 .50

.50 .50 .50 .50 .50 .50


1.90
4.10
CISTERNA ÁGUA
POTÁVEL

3.00

3.00
1.00
ÁREA DE

1.10
COZINHA DESPENSA
LAVAGEM 10.000 L
A=20.68 m² A=5.70 m²
A=11.89 m²

.00.50 .50 .50

.50 .50
.50 .50 .50 .50 1.00 6.60 1.00

.50 .50
CISTERNA ÁGUA
REFEITÓRIO POTÁVEL
CISTERNA ÁGUA 2.80

2.00
A=59.41 m² 10.000 L
ÁREA DA CHUVA

.50 .50
TÉCNICA 1.500 L

9.30

1.00
A=5.71 m² 1.00 .50 .50 .50 .50

.50 .50 .50

.50 .50

6.00
ÁREA

1.00
TÉCNICA

4.00
A=36.25 m²

1.00
LAVANDERIA

.50 .50
A=11.20 m²

.50 .50 .50

.50 .50 .50


2.80 9.90

1.00
Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75 1.00 .50 1.00 .50 .50 .50 1.00 .50 1.00 .50 1.50 .50 .50.00 .50 1.00 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50

Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75


94

Figura 5.16 - Planta baixa humanizada do bloco 3 - 36 voluntários.

ARMAZENAMENTO
ARMAZENAMENTO
CONSULTÓRIO CONSULTÓRIO DE MATERIAL DE CONSULTÓRIO CONSULTÓRIO
DE AGASALHOS
A=17.00 m² A=17.00 m² HIGIENE/LIMPEZA A=17.00 m² A=17.00 m²
A=15.10m²
A=28.80 m²
Ensaio 2.

ARMAZENAMENTO
DE SUPRIMENTOS
ALIMENTÍCIOS
A=32.20 m²

RECEPÇÃO
ÁREA A=15.95 m²
LAVABO ARMAZENAMENTO DE LAVABO ÁREA TÉCNICA
CISTERNA ÁGUA TÉCNICA A=2.85 m² A=2.85 m² CISTERNA ÁGUA
MEDICAMENTOS A=2.66 m²
DA CHUVA A=2.66 m² DA CHUVA
A=15.95 m²

Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75


Figura 5.17 - Estudo de modulação do bloco 3 - 36 voluntários.
30.00

.50 1.00 .50 1.00 .50 .50 1.00 .50 1.00 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 1.00 .50 1.00 .50 .50 1.00 .50 1.00 .50
.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50

.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50
3.40 .10 3.40 .10 7.20 .10 3.80 4.70 3.40 3.40

.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50


5.00

5.00
7.20

.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50.10
.30 1.50 .50 .50 .50 .50 .50
1.00

.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 1.90 .50 .50 .50 .50 .50

1.40 1.90 1.50

.02
1.00

1.00

1.00

1.00

2.10
1.90

1.50

1.50
.50 .50

.50 .50
.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 1.50 .50 .50 1.00 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50

Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75


95

Ensaio 3.

Figura 5.18 - Planta baixa humanizada do bloco 2 - 72 voluntários.

CISTERNA ÁGUA
DESPENSA COZINHA POTÁVEL
A=14.00 m² A=33.82 m² ÁREA DE 10.000 L
LAVAGEM
A=17.08 m²

CISTERNA ÁGUA
REFEITÓRIO POTÁVEL
A=120.24 m² 10.000 L

LAVANDERIA
ÁREA
A=16.91 m²
TÉCNICA
A=36.25 m²

CISTERNA ÁGUA
DA CHUVA
1.500 L

Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75


96

Ensaio 3.

Figura 5.19 - Estudo de modulação do bloco 2 - 72 voluntários.

.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50Ensaio 3. .50 .50 .50 .50
.50 .50

.50
.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50

.50 .50

.50 .50
5.00 6.10

1.00
2.90
.90

.90

.50 .50 .50 .50


.50 .50

.50 .50
.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 1.00 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 1.10

11.60

1.00
.50 .50 .50 .50
6.00

2.80

1.00
.50 .50 .50
.50 .50 1.00 .50 1.00 .50 1.50 .50 .50 1.00 .50 1.00 .50 1.00 .50 1.00 .50 1.00 .50 .50 1.50 .50 1.00 .50 1.00 .50 .50 .50 1.00 .50 1.00 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50
3.90

Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75


97

Figura 5.20 - Planta baixa humanizada do bloco 3 - 72 voluntários.

ARMAZENAMENTO ARMAZENAMENTO ARMAZENAMENTO


ARMAZENAMENTO
DE MATERIAL DE DE AGASALHOS DE MATERIAL DE
DE AGASALHOS
HIGIENE/LIMPEZA A=14.80 m² HIGIENE/LIMPEZA
A=10.80 m²
A=28.00 m² A=24.00 m²
Ensaio 3.
ARMAZENAMENTO
DE SUPRIMENTOS
ALIMENTÍCIOS
A=42.60 m²

RECEPÇÃO DO
RECEPÇÃO DO ESTOQUE ESTOOQUE P/
P/ DISTRIBUIÇÃO VOLUNTÁRIOS
ARMAZENAMENTO DE A=16.05 m² A=13.05 m² ARMAZENAMENTO DE
MEDICAMENTOS
MEDICAMENTOS
A=16.05 m²
A=13.05 m²

Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75


Figura 5.21 - Estudo de modulação do bloco 3 - 72 voluntários.
26.00

.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50
.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50

.50 .50 .50 .50 .50 .50.10.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50
2.70 6.00

7.00 3.70
4.00

4.00
7.30

7.10
1.50 1.50 1.50 1.50
.50 .50 .50 .50 .50 .50

5.35 5.35 4.35


3.00

3.00
1.50

1.50

1.50
.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 1.50 .50 1.00 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 1.00 .50 1.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50
6.00
Esc. 1/75
Fonte: Elaborado pela autora.
98

Ensaio 3.

Figura 5.23 - Estudo de modulação do bloco 4 - 72 voluntários.


7.10
.50 1.00 .50 1.00 .50 .50 1.00 .50 1.00 .50
Figura 5.22 - Planta baixa humanizada do bloco 4 - 72 voluntários.

.50
.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50

.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50
3.40 3.40

CONSULTÓRIO CONSULTÓRIO
A=17.00 m² A=17.00 m²

5.00
7.20
.50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50 .50

ÁREA 1.40 1.90 1.50


LAVABO

1.00
CISTERNA ÁGUA TÉCNICA A=2.85 m²
DA CHUVA A=2.66 m²

1.90

1.00

.50
.50 .50 .50.10 .50 .50 .50
Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75
Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75
99

Todos os blocos possuem um mesmo padrão construtivo, inclusive a cobertura, que


permite a livre circulação do vento pelas quatro laterais. Esses vãos podem ser fechados através
de um esquema de janelas basculantes, que permitem essa flexibilidade conforme a temperatura
local. Além disso, essas aberturas proporcionam a entrada da luz natural nos ambientes. Esses
detalhes podem ser observados nos cortes do bloco 1 (Figuras 5.24 e 5.25).
100

Figura 5.25 - Corte B-B.


Figura 5.24 - Corte A-A.
1.00 .10 .50

.10

.10
3.60
.50 .50 .50 .50

3.00
2.50
1.00

.75
.45

ALOJAMENTO BANHEIRO BANHEIRO

ARMÁRIO BANCO BANCADA DE APOIO BANCO BELICHE BANCO PRATELEIRA


COM PUFFs
Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75 Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75
101

Todos os aspectos do projeto mencionados anteriormente, podem ser observados no


estudo volumétrico dos três ensaios de implantação. Nestes estudos foram simulados os dois
tipos de terrenos: o acidentado e o plano (Figuras 5.26, 5.27, 5.28, 5.29, 5.30 e 5.31).

Figura 5.26 – Ensaio 1: 18 voluntários (terreno plano).

Fonte: Elaborado pela autora.

Figura 5.27 - Ensaio 1: 18 voluntários (terreno acidentado).

Fonte: Elaborado pela autora.


102

Figura 5.28 - Ensaio 2: 36 voluntários (terreno plano).

Fonte: Elaborado pela autora.

Figura 5.29 - Ensaio 2: 36 voluntários (terreno acidentado).

Fonte: Elaborado pela autora.


103

Figura 5.30 - Ensaio 3: 72 voluntários (terreno plano).

Fonte: Elaborado pela autora.

Figura 5.31 - Ensaio 3: 72 voluntários (terreno acidentado).

Fonte: Elaborado pela autora.


104

5.6 Técnicas construtivas e materiais aplicados

Para atingir o objetivo esperado, foram selecionados alguns materiais construtivos


alternativos e que possuem características adequadas para tal aplicação. Tais materiais se
referem a uma sugestão projetual, podendo serem substituídos por outros de mesma função. A
princípio foi elaborado um esquema identificando as partes da construção do bloco 1 (Diagrama
UML) (Figuras 5.32), para facilitar o processo. É importante ressaltar que todos os blocos
funcionam da mesma forma que este, sendo dispensável diagramas dos demais blocos.

Figura 5.32 - Diagrama UML do bloco 1.

Fonte: Elaborado pela autora.

Para as paredes foi pensado em chapas “Mineralizadas” de madeira. Elas são prensadas em
forma de chapas após serem misturadas ao cimento Portland. Entre suas características então:
baixo peso específico (440 kg/m³), baixa capacidade de absorção de água, grande resistência à
flexão, durabilidade ilimitada, bom isolamento termo acústico além de serem incombustíveis e
imputrescíveis. As vantagens desse sistema, segundo Freire (20--?, p.9), são:

[...] facilidade de transporte, pré-fabricação em canteiros de obras ou simples


abrigo, ocupação de mão de obra não especializada, reduz o tempo de
execução e custo de financiamento, não apresenta resíduos de obra, rapidez
no ritmo da obra, tubulações já embutidas nos painéis, montagem dispensa
equipamento pesado, excelente isolamento térmico [...].
105

Tais características são de suma importância para o tipo de construção deste projeto. Para
as janelas foi pensado em uma estrutura de alumínio composto, uma alternativa sustentável sem
abrir mão da estética moderna, com a parte interna em policarbonato. Estas, podem ser
posicionadas uma sobre a outra, de forma a aumentar o tamanho do vão de iluminação e
ventilação. Para as portas a estrutura também seguiria o mesmo padrão, substituindo, entretanto,
a parte em policarbonato por chapa mineralizada de madeira (Figuras 5.33, 5.34, 5.35 e 5.36).
Na cobertura dos blocos optou-se pelo uso da estrutura de suporte em chapas mineralizadas
de madeira e alumínio composto, e as telhas, também em policarbonato (Figuras 5.37, 5.38,
5.39 e 5.40). Para a calha adotou-se o tubo de PVC cortado em forma de “U”.
106

Figura 5.33 - Detalhe do módulo da porta de 1,20 m.

.50
PAINEL EM CHAPA
MINERALIZADA DE
MADEIRA

3.00
2.50
Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75

Figura 5.34 - Detalhe do módulo da porta de 0,80 m.

.50
ESTRUTURA EM
ALUMÍNIO

3.00
2.50

Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75

Figura 5.35 - Detalhe do módulo da janela.


.50 .50 .50 .50 .50 .50

PAINEL EM CHAPA
MINERALIZADA DE
MADEIRA
3.00

Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75

Figura 5.36 - Detalhe do módulo da janela em sequência.


.50 .50 .50 .50 .50 .50

ESTRUTURA EM
ALUMÍNIO
3.00

POLICARBONATO

Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75


107

SUPORTE PARA TELHADO EM CHAPA


DE MADEIRA MINERALIZADA Figura 5.39 - Detalhe das estruturas e esquadrias do telhado.
Ensaio 1.
Figura 5.37 - Planta de cobertura do bloco 1 (alojamento).
12.00
1.00 4.00 1.00 4.00 1.00
ESQUADRIA EM ALUMÍNIO E POLICABORNATO
.50
.50

2.00
CALHA EM TUBO PVC
Ø100 mm
1.00 1.00 4.00 1.00

1.00 4.50 1.00 4.00 1.00 4.50 1.00


7.20

TELHA EM
POLICARBONATO
I= 5%

5.20
Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75

ESTRUTURA DO SUPORTE
DO TELHADO EM ALUMÍNIO
Figura 5.40 - Detalhe das estruturas de apoio do telhado.

1.00

1.00
12.00 6.00
SUPORTE PARA TELHADO EM CHAPA

1.00
DE MADEIRA MINERALIZADA
Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75

1.00
Figura 5.38 - Vista frontal da cobertura do bloco 1 (alojamento).

4.20
.50

2.20
Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75

1.00

1.00
Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/75
108

A partir das pré definições dos blocos, foi elaborado o diagrama UML da circulação externa
e da base, como mostra a Figura 5.41. Os materiais aplicados nessa etapa seguem o padrão dos
já mencionados, a fim de simplificar o processo de produção

Figura 5.41 - Diagrama UML da circulação e da base.

Fonte: Elaborado pela autora.

Para a cobertura dos corredores foi pensado em telhas de policarbonato com uma estrutura
em alumínio composto e calha em tubo PVC (Figura 5.42). Nas laterais, adotou-se um
fechamento em cobogós feito também com tubo PVC. Entretanto, nos locais onde a temperatura
for baixa, estas circulações deverão ser protegidas com algum tipo de cortina de isolamento,
utilizando, por exemplo, o couro ecológico ou algum outro material que se adeque ao clima.
Para a base, foi feito um estudo de modulação onde foram simuladas placas de 50x50 cm
(Figuras 5.43, 5.44, 5.45 e 5.46). Esta medida se justifica por ser de fácil transporte para um
indivíduo carregar sozinho, entretanto, podem ser feitas também na modulação 100x100 cm
para diminuir o número de placas. Além disso, sugere-se que o material utilizado nessa malha,
seja feita com resíduo de pneu. Para a fundação, foi pensado em estacas com madeira de
reflorestamento.
CALHA EM TUBO PVC Figura 5.42 - Planta de cobertura da circulação do ensaio 1 (18 voluntários) CALHA EM TUBO PVC 109
Ø100 mm e detalhamento de divisória. Ø100 mm

TELHA EM
POLICARBONATO
I= 5%

DIVISÓRIA EM ALUMÍNIO DIVISÓRIA EM ALUMÍNIO Ensaio 1.


E TUBO PVC E TUBO PVC

CALHA EM TUBO PVC


Ø100 mm

1.00
POLICARBONATO

POLICARBONATO
PAINEL EM TUBO PVC
Ø100
TELHA EM

TELHA EM
I= 5%

I= 5%
ESTRUTURA EM

2.80
ALUMÍNIO

DIVISÓRIA EM ALUMÍNIO DIVISÓRIA EM ALUMÍNIO


E TUBO PVC E TUBO PVC

1.00
Fonte: Elaborado pela autora.

Esc. 1/75
110

Figura 5.45 - Esquema de modulação da base do ensaio 3 - 72 voluntários.

Figura 5.43 - Esquema de modulação da base do ensaio 1 - 18 voluntários.

Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/500


Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/500

Figura 5.44 - Esquema de modulação da base do ensaio 2 - 36 voluntários.

Figura 5.46 - Ilustração da base com guarda-corpo do ensaio 1 - 18 voluntários.

Fonte: Elaborado pela autora. Esc. 1/500 Sem escala.

Fonte: Elaborado pela autora.


111

Além do estudo de modulação feito na fundação, nas paredes e cobertura, todos os


componentes dos blocos foram pensados de forma a se desmontarem em diversas partes. Estes
elementos, apesar de terem recebido um estudo prévio das subdivisões, deverão ser analisadas
posteriormente, conforme os materiais escolhidos e dos testes feitos por profissionais
especializados nesse campo de atuação.
Para o isolamento térmico, inicialmente foi pensado no de fibra de celulose. Este processo
é feito através de reciclagem de papel de jornal misturado com sais bóricos. Entre suas
vantagens estão: grandes valores de isolamento térmico, regulador da humidade, alta proteção
contra ruídos e é ambientalmente correto.
É importante ressaltar que estes materiais são apenas pré definições, uma vez que é
necessário um estudo mais aprofundado das características de cada elemento, e de cálculos
estruturais que permitam definições exatas como a modulação ideal para determinado material
e as devidas conexões.
Nas ilustrações a seguir (Figuras 5.47 e 5.48), foram representadas as implantações do
ensaio 2 (36 voluntários) em diferentes tipos de solo, nelas é possível observar as aplicações
dos materiais discutidos neste tópico.
112

Figura 5.47 - Ensaio 2 em terreno plano.

Fonte: Elaborado pela autora. Sem escala.


113

Figura 5.48 - Ensaio 2 em terreno acidentado.

Fonte: Elaborado pela autora. Sem escala.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho procurou sintetizar uma reflexão sobre os conflitos humanitários pelos
quais a sociedade passa e suas interligações com os profissionais de apoio. Para isso,
inicialmente, houve um estudo do panorama mundial com foco no estado de calamidade que
algumas nações passam atualmente. Foi feito um breve resumo sobre a origem do Terceiro
Setor bem como as organizações não governamentais, que são o foco deste trabalho.
A partir disso, foram identificados alguns dos métodos que estão sendo empregados para
a redução dos impactos das crises humanitárias e as principais problemáticas que envolvem a
sua aplicação nas nações. Também foram estudados os processos históricos pelos quais a
arquitetura efêmera passou até se revelar como hoje é conhecida. Além disso, foram
identificadas as principais tecnologias e materiais que são utilizados na execução dessas
estruturas.
Outra questão discutida, foi o processo produtivo denominado fabricação digital. Foi
feita uma exposição das técnicas e materiais mais utilizados além de formas de projetar
utilizando recursos como a orientação a objetos. Por fim, foram exemplificados alguns métodos
estruturais e de conexões para artefatos produzidos a partir desse tipo de produção.
Percebeu-se ao longo das pesquisas que o tema é muito complexo por envolver fatores
multilaterais como os interesses políticos e os conflitos entre os órgãos não governamentais.
Entretanto, é em meio ao caos que os estudos se fazem indispensáveis a fim de que estes possam
achar meios de atuação que unam os interesses da maioria e melhore a qualidade de vida dos
indivíduos afetados.
Estudar esse campo da arquitetura lembra a importância do papel do arquiteto, que não
se limita à construções de caráter privado, com ênfase em lucros, mas como ele pode ser
instrumento para amenizar o sofrimento daqueles que estão à margem da sociedade. Desta
forma, o maior pagamento que se pode ter é a gratidão de milhares de famílias.
A maior dificuldade encontrada para a realização deste trabalho foi identificar as
principais necessidades dos profissionais que atuam nesse campo, uma vez que o contato com
esse meio não é simples de ser feito. Isso ocorre porque a cidade de Campos dos Goytacazes
não possui ainda uma organização de apoio humanitário de caráter internacional, tendo sido
necessário contatar pessoas que trabalham em organizações de locais distintos.
A forma encontrada para superar esse desafio foi realizar entrevistas via internet, através
de ligações e indicações de conhecidos. Estas foram de suma importância para compreender os
aspectos sociais, pessoais e logísticos que envolvem esse tipo de trabalho, além disso, foi a
115

partir das entrevistas que foi possível elaborar o programa de necessidades e dar início ao
projeto arquitetônico.
Outra dificuldade encontrada foi a questão do recorte espacial. Como o trabalho possui
caráter internacional, a ideia inicial era uma estrutura que pudesse se adaptar a diferentes climas
e relevos. Com isso, foi necessário adquirir alguns referenciais, principalmente tecnológicos,
que serviram para criar um repertório de soluções em diferentes casos.
A indefinição de um número de voluntários também foi um grande limitador. Pois sem
essa definição não seria possível realizar cálculos de cisterna e dimensionar os ambientes. O
recurso utilizado para resolver tal questão foi aderir a modulação, que permite a ampliação dos
ambientes, sem grandes alterações no projeto.
Estes obstáculos serviram como estímulo a pesquisar cada vez mais o assunto, a fim de
compreender os processos pelos quais muitas pessoas passam todos os anos, e que ainda é pouco
discutido. Sendo assim, espera-se que este documento sirva para futuras pesquisas tanto dos
alunos do Instituto Federal Fluminense, quanto aos demais estudantes e pesquisadores da área.
E através de um registro explicativo e de fácil entendimento possa ser difundido criando uma
rede de estudos sobre o assunto que ainda carece de olhares mais aprofundados.
116

SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Como perspectivas futuras para o desenvolvimento deste trabalho, estão questões como
a análise profunda de materiais a partir de diferentes ensaios, a fim de comprovar sua eficiência
para a aplicação em campo. A elaboração de um banco de dados com os elementos pesquisados
para serem utilizados nos diferentes climas. O estudo de modulação de cada um destes
elementos selecionados, definindo suas dimensões máximas e mínimas sem perder suas
propriedades de resistência aos esforços. A definição dos encaixes e conexões nos diferentes
tipos de materiais, além da criação de manuais de fácil entendimento que sirvam de orientação
no processo de montagem em loco.
REFERÊNCIAS

AI - Anistia Internacional. Militares devem responder perante a justiça por crimes contra
a humanidade praticados contra população rohingya. Disponível em: <0-´koo>. Acesso
em: 29 jul. 2018.

AI - Anistia Internacional. Quem somos. Disponível em: <https://anistia.org.br/conheca-a-


anistia/quem-somos/>. Acesso em: 02 ago. 2018.

AI - Anistia Internacional. Site oficial. Disponível em:


<https://anistia.org.br/noticias/militares-devem-responder-perante-justica-por-crimes-contra-
humanidade-praticados-contra-populacao-rohingya/>. Acesso em: 06 ago. 2018.

ANA - Agência Nacional de Águas. Reúso da água agrícola e florestal. ANA. Disponível
em: <http://capacitacao.ana.gov.br/conhecerh/handle/ana/84>. Acesso em: 27 jan. 2019.

ANDERS, Gustavo Caminati. Abrigos temporários de caráter emergencial. São Paulo,


2007.

BAN, Shigeru. Container Temporary Housing - Onagawa, Miyagi. 2011. Disponível em:
<http://www.shigerubanarchitects.com/works/2011_onagawa-container-
temporaryhousing/index.html>. Acesso em: 10 fev. 2019.

BARROS, Alexandre Monteiro de. Fabricação digital: sistematização metodológica para o


desenvolvimento de artefatos com ênfase em sustentabilidade ambiental. Porto Alegre, 2011.

BOUTHOUL, Gaston; CARRÈRE, René. O desafio da guerra: dois séculos de guerra, 1740-
1974. Rio de Janeiro: Biblioteca do exército, 1979. v.175.

BRASIL. Constituição (1988). Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 06 ago. 2018.

CICV - Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Direito internacional humanitário (DIH)


respostas às suas perguntas. Genebra, 2015.

COSTA, João. Quem são os rohingyas e por que fogem de Myanmar? Disponível em:
<https://observador.pt/2017/09/13/quem-sao-os-rohingya-e-por-que-fogem-de-myanmar/>.
Acesso em: 29 jul. 2018.

COSTA, Otávio Augusto Fernandes. Coordenação em logística humanitária: análise por


dinâmica de sistemas. São Paulo, 2015.

CV - Cruz Vermelha. Origens. Disponível em:


<http://www.cruzvermelha.org.br/pb/movimento-internacional/origens/>. Acesso em: 01 ago.
2018.

DEUS, Susana de et al. Crises humanitárias, cooperação e o papel do Brasil. Rio de


Janeiro: [s.n.], 2016.

DORNELLES, João Ricardo W. O que são direitos humanos. 1. ed. São Paulo: Ed.
Brasiliense, 1989.
FALEIROS, Vicente de Paula. O que é política social. 5. ed. São Paulo: Ed. Brasiliense,
1991.

FERREIRA, Marisa; PROENÇA, Teresa; PROENÇA, João F. As motivações no trabalho


voluntário. Lisboa: Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão, 2008. v.7, núm. 3, pp. 43-53.

FISCHER, Rosa Maria; FALCONER, Andrés Pablo. "Desafios da Parceria Governo


Terceiro Setor". Rio de Janeiro,1998.

FREIRE, Wesley Jorge. Materiais alternativos de construção. Campinas, 20--?

GARCÍA, Guillermo Hevia. Prototipo Puertas - Vivienda de Emergencia / Cubo


Arquitectos. Plataforma Arquitectura. Disponível em:
<https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/02-38122/prototipo-puertas-vivienda-de-
emergencia-para-casos-catastroficos-cubo-arquitectos> ISSN 0719-8914>. Acesso em: 22
nov. 2018.

GEAI, Laurence. Em março, milhares de manifestantes se reuniram na fronteira de Gaza


com Israel durante os protestos da Marcha do Retorno. Disponível em:
<https://www.msf.org.br/fotos/gaza-marcha-do-retorno>. Acesso em: 06 ago. 2018.

HAMANN, Eduarda Passarelli. Mecanismos Nacionais de Recrutamento, Preparo e


Emprego de Especialistas Civis em Missões Internacionais. Igarapé, 2012

HARVEY, David. Paris: capital da modernidade. São Paulo: Boitempo, 2015. In:
LEFEBVRE, H. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2001.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores implícitos na projeção.


Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/sociais/populacao/9109-
projecao-da-populacao.html?=&t=resultados>. Acesso em: 06 ago. 2018.

JOTA, Fabiano de Oliveira; PORTO, Cláudia Estrela. Evolução das estruturas de


membrana. 2004. Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAeqWAAH/
evolucao-das-estruturas-tensionadas >. Acesso em: 10 fev. 2019.

JUNQUEIRA, Mariana Garcia. Abrigo emergencial temporário. Presidente Prudente, 2011.

KING, Paul Robert. A complete guide to making a Mongolian Ger. 1995. Disponível em:
<woodlanyurts.co.uk/yurt_Facts/Build -Your_Own.html>. Acesso em: 10 fev. 2019.

KRONENBURG, Robert. Houses in Motion: the genesis, history and development of the
portable building. Londres: Academy Editions, 1995. 168 p.

KRONENBURG, Robert. Portable Architecture. 3. Ed. [S.l]: Elsevier/Architectural Press,


2003.

LANDIM, Leilah et al. Ações em sociedade militância, caridade, assistência etc. Rio de
Janeiro: Ed. NAU, 1998.

MCQUAID, Matilda. Shigueru Ban. Londres, 2003.


MSF - Médicos Sem Fronteiras. Gaza: Nada se compara a uma explosão de guerra.
Disponível em: <https://www.msf.org.br/noticias/gaza-nada-se-compara-uma-explosao-de-
guerra>. Acesso em: 29 jul. 2018.

MSF - Médicos Sem Fronteiras. MSF aumenta esforços para tratar feridos na Faixa de
Gaza. Disponível em: <https://www.msf.org.br/noticias/msf-aumenta-esforcos-para-tratar-
feridos-na-faixa-de-gaza>. Acesso em: 29 jul. 2018.

MSF - Médicos Sem Fronteiras. Nós estamos vivos, é maravilhoso! Disponível em:
<https://www.msf.org.br/noticias/nos-estamos-vivos-e-maravilhoso>. Acesso em: 29 jul.
2018.

MSF - Médicos Sem Fronteiras. UNICEF: ciclones e violência ameaçam 720 mil crianças
rohingya. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/unicef-ciclones-e-violencia-ameacam-
720-mil-criancas-rohingya/>. Acesso em: 29 jul. 2018.

MURARO, Piero; LIMA, José Edmilson de Souza. Terceiro setor, qualidade ética e
riqueza das organizações. Curitiba: Rev. FAE, 2003. v.6, n.1, p.79-88.

ONU - Organização das Nações Unidas. A história da Organização. Disponível em:


<https://nacoesunidas.org/conheca/historia/>. Acesso em: 02 ago. 2018.

ONU - Organização das Nações Unidas. A história da Organização. Disponível em:


<http://www.un.org/documents/ga/res/46/a46r182.htm>. Acesso em: 02 ago. 2018.

ONU - Organização das Nações Unidas. As perguntas mais frequentes sobre os objetivos
de desenvolvimento sustentável (ODS). [S.l.], 20--?.

ONU - Organização das Nações Unidas. Conselho Econômico e Social, de 11 de maio de


2017. Progresso em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Disponível
em: <https://unstats.un.org/sdgs/files/report/2017/secretary-general-sdg-report-2017--
EN.pdf>. Acesso em: 06 ago. 2018.

ONU - Organização das Nações Unidas. FAO e México liberam US$500 mil para projetos
sobre mudanças climáticas no Caribe. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/fao-e-
mexico-liberam-us500-mil-para-projetos-sobre-mudancas-climaticas-no-caribe/>. Acesso em:
29 jul. 2018.

ONU - Organização das Nações Unidas. Resolução nº 46/182, de 19 de dezembro de 1991.


Assembléia Geral. Disponível em: <http://www.un.org/documents/ga/res/46/a46r182.htm>.
Acesso em: 06 ago. 2018.

ONU - Organização das Nações Unidas. Rumo à agenda de desenvolvimento sustentável.


Disponível em: <https://nacoesunidas.org/pos2015/>. Acesso em: 02 ago. 2018.

ONU - Organização das Nações Unidas. UNICEF: milhares de crianças precisam de ajuda no
Caribe, três meses após furacões. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/unicef-milhares-
de-criancas-precisam-de-ajuda-no-caribe-tres-meses-apos-furacoes/>. Acesso em: 29 jul.
2018.
Parker, Ben. Destruição causada pelo furacão Maria na ilha de Dominica. Disponível em:
<https://nacoesunidas.org/fao-e-mexico-liberam-us500-mil-para-projetos-sobre-mudancas-
climaticas-no-caribe/>. Acesso em: 06 ago. 2018.

PEDROTTI, Gabriel. Projeto Chacras / Natura Futura Arquitectura + Colectivo


Cronopios. ArchDaily. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/792993/projeto-
chacras-natura-futura-arquitectura-plus-colectivo-cronopios?ad_medium=gallery>. Acesso
em: 22 nov. 2018.

REVISTA EASYCOOP. Cooperativa impulsiona sinalização náutica no país, [S.l.], jan.


2018. Disponível em: <http://www.cooperativismo.org.br/Noticias/View.aspx?id=39808>.
Acesso em: 27 jan. 2019.

RIBEIRO, Marilia Gomes de Sá. Sistema Habitacional Efêmero: a construção emergencial


para desabrigados. In: 28º Opera Prima, Manaus: Universidade Federal do Amazonas, 2017.
p. 1-8.

ROMANO, Leonora; DE PARIS, Sabine Ritter; NEUENFELDT JUNIOR, Álvaro Luiz.


Estudo das evoluções e tecnologias da arquitetura itinerante. [S.l.: s.n.], 2013.

SACHS, Ignacy. Desenvolvimento numa economia mundial liberalizada e globalizante:


um desafio impossível? São Paulo: [s.n], 1997. v.11.

SAIEH, Nico. Soe Ker Tie House / TYIN Tegnestue. ArchDaily. Disponível em:
<https://www.archdaily.com/25748/soe-ker-tie-house-tyin-tegnestue>. Acesso em: 22 nov.
2018.

SARAIVA, Francisca. A Definição de Crise das Nações Unidas, União Europeia e NATO.
[S.l.], 2011.

SEELY, Jennifer CK. Digital fabrication in the Architectural design process.


Massachusetts, 2004.

SHELTER PUBLICATIONS. Shelter. California: Shelter Publications, 1973. 176 p.

SOARES, Gustavo Brandão Nogueira. Proposta de abrigo temporário móvel para uso
emergencial em perfis metálicos leves: Análise do desempenho estrutural e térmico. Ouro
Preto, 2014.

ZAGO, Camila Avozani; LEANDRO, Luiz Alberto de Lima. Logística humanitária:


oportunidades e desafios na perspectiva da gestão ambiental. Salvador, 2013.
APÊNDICE

APÊNDICE A - Entrevista aos voluntários

1. QUAL(AIS) ÓRGÃO(ÃOS)/INSTITUIÇÃO(ÕES) VOCÊ


ENTREVISTADO
TRABALHA?
1 Escola e universidade
2 Ação Integral Projetos
3 Agência missionária Volantes de Cristo
4 ONG Casa do Abraço - Morro de São Jorge, Macaé RJ
5 JOCUM Jovens Com Uma Missão
6 Igreja Cristã Maranata
7 CCOPAB
Junta de Missões Mundiais da Convenção Batista Brasileira (não
8
há relação de trabalho propriamente dita, mas de voluntariado)
2. QUAL(AIS) CARGO(S)/FUNÇÃO(ÕES) EXERCE NO
ENTREVISTADO
ÓRGÃO/INSTITUIÇÃO?
1 Professora
2 Fisioterapeuta
3 Secretária da ONG e dentista voluntária no Campo missionário.
4 Professora
5 Administrativo
6 Obreiro / Músico
7 Planejamento e Coordenação
8 Missionário
3. COMO FUNCIONA O PROCESSO DE SELEÇÃO,
PREPARO E EMPREGO DE
ENTREVISTADO
VOLUNTÁRIOS/FUNCIONÁRIOS PARA O TRABALHO
DE CAMPO?
Pré cadastro com a descrição das principais habilidades que o
1
candidato possui e posterior separação do candidato for função.
2 Indicação
O trabalho é sempre todo voluntário, não há funcionários, cada
um arca com seu custo. A seleção é feita mediante desejo do
3
participante e conhecimento de algum membro da agência. São
feitas reuniões prévias.
O trabalho é totalmente voluntário. Normalmente os envolvidos
já tem alguma experiência na área e se disponibilizam para
4 exercer as mais variadas funções. Alguns dão aula de esportes,
outros são moradores que ajudam na cozinha, outros ajudar nos
reforços escolares e etc.
5 Eles terão que ser aprovados em um seminário interno de 5 meses
Normalmente são selecionados aqueles com maior aptidão para
6 lidar com situações improvisadas e com maior disponibilidade
para se deslocar para locais distantes.
Voluntariado,
7 Primeiramente; depois, seleção de pessoal a cargo dos Gabinetes
dos Comandantes das Forças Armadas.

Pessoas evangélicas que se sentem chamadas por Deus para o


ministério missionário se candidatam perante a agência
missionária, encaminhando curriculum e relação de atividades
desenvolvidas na igreja onde congrega, além de uma carta de
recomendação da igreja, assinada pelo pastor. Após, há entrevista
pessoal na sede da agência, chegando-se a uma decisão conjunta
(agência missionária, voluntário missionário e igreja) quanto ao
8 campo de atuação do missionário, tudo debaixo de oração para
buscar de Deus a vontade dEle. Decidido o campo missionário,
há um período de treinamento na sede da agência, onde se estuda
missiologia, antropologia missionária, cultura, idiomas, etc.. Por
fim, o missionário é encaminhado ao campo como voluntário,
para pregar a Palavra de Deus. Algumas vezes, o missionário
também atua com trabalho voluntário social e com trabalho em
situações de calamidade (terremotos, maremotos, secas, etc.).

4. ONDE ESSES PROFISSIONAIS SE INSTALAM


ENTREVISTADO QUANDO ESTÃO TRABALHANDO EM CAMPO?
PRÉDIOS PÚBLICOS? OUTRAS ONGS?
1 ONGs
2 Casas de pessoas
Depende do local. Alojamentos de suporte ou hotel quando
3
possível.
No caso da ONG Casa do Abraço eu morava na cidade então não
era necessário ficar alojada. O local é uma casa que foi comprada
4 para que as crianças daquela comunidade pudessem ficar longe
da violência no período que não estavam estudando. Lá existem
quartos onde é possível alojar alguém que vem de fora também.
5 Nos alojamentos da ONG
Normalmente nos instalamos de forma improvisada dentro de
locais de culto ou em casa de pessoas que apoiam o trabalho.
Juntamos dois bancos e colocamos um colchão ou várias colchas
para dormir, água mineral em suportes térmicos e banheiro. Às
6
vezes levamos fogão de duas bocas e cozinhamos quando não há
apoio para alimentação. Em locais mais difíceis como por
exemplo na amazônia ou na áfrica as equipes montam estruturas
em barcos, balsas ou ônibus.
Nesses locais mais precários essas estruturas são equipadas com
unidades básicas capazes de garantir as necessidades básicas
(Banheiro, cozinha) e os voluntários dormem em redes.
6 Dependendo da necessidade a equipe é acompanhada de médicos
e dentistas com unidades de atendimento tanto para os
voluntários como para as populações a serem atendidas pelo
trabalho social e evangelístico.

7 Prédios públicos
É muito relativo. Em termos gerais, o missionário se instala em
casas ou apartamentos alugados para sua moradia, sendo raro
habitar no próprio local onde atua como voluntário. Quando o
8 missionário desenvolve seu trabalho em cidade diferente daquela
em que reside, costuma ficar em casas de pessoas que apoiam seu
trabalho ou em casas de outros missionários que ficam nessa
cidade onde ele desenvolve seu voluntariado.

5. CASO O LOCAL ONDE OS


VOLUNTÁRIOS/FUNCIONÁRIOS FOREM ATUAR NÃO
OFEREÇA NENHUM SUPORTE FÍSICO PARA ABRIGÁ-
ENTREVISTADO
LOS, A ORGANIZAÇÃO DISPÕE DE ALGUM TIPO DE
ESTRUTURA AUXILIAR QUE POSSA SER LEVADA E
MONTADA PELOS MESMOS?
1 Não.
2 Não
Não. Os atendimentos são feitos em igrejas, muitas vezes sem
3 estrutura física. Às vezes debaixo de árvores. O equipamento que
possuímos é um equipo odontológico portátil e rx portátil.
Não. No caso de falta de espaço normalmente as pessoas se
4
alojam na casa de outros.
5 Buscamos parceiros da ONG que possa acomoda-los.
Sim. Barcos, balsas ou ônibus com banheiro cozinha, dormitórios
6
e em alguns casos até consultórios médicos e odontológicos.
7 Não
Sim. Nesse caso, geralmente existem barracas ou tendas que são
montadas junto ao local de trabalho, principalmente se o trabalho
8 for em local muito distante (meio de florestas, beira de rios,
acampamentos de refugiados, locais que sofreram algum tipo de
catástrofe natural, dentre outros).
6. CASO A RESPOSTA DA PERGUNTA 5 SEJA SIM,
ENTREVISTADO COMO SERIA ESSA ESTRUTURA? O QUE PODERIA
MELHORAR NELA?
1 -
2 -
3 -
4 -
5 -
As estruturas consistem em plataformas aquaviárias ou
6 rodoviárias com banheiro, cozinha, dormitórios e em alguns
casos consultórios médicos e odontológicos.
7 -

São barracas de camping normais, como aquelas compradas em


lojas especializadas em camping, ou tendas maiores, do tipo
"Exército". As barracas e tendas em si são boas e atendem aos
anseios de morada ou trabalho. O problema é a falta de banheiros
(uso de vaso sanitário, pias para lavagem das mãos e chuveiro). O
8 que poderia melhorar seria haver tipos compactos e leves de
cadeiras e mesas, de fácil montagem e desmonte, que poderiam
ser carregados pelo missionário e que o auxiliariam no trabalho,
dentro da barraca (uso de computadores com melhor ergonomia,
pois trabalharia sentado na cadeira, com auxílio da mesa, e não
sentado sobre suas pernas no interior da barraca).

7. CASO A RESPOSTA DA PERGUNTA 5 SEJA NÃO,


QUAL ESTRUTURA FÍSICA ESSES PROFISSIONAIS
ENTREVISTADO
PRECISAM PARA REALIZAREM SEUS TRABALHOS
NESSE TIPO DE SITUAÇÃO?
1 Lugar de guardar equipamentos, lugar de repouso e cozinha.
2 Local coberto, com assentos,sanitários e água potável..
O ideal é uma estrutura com tapagem e também com “piso” pois
na maioria das vezes trabalhamos na terra, e o negativo é porque
levanta poeira. Estrutura com boa ventilação e boa iluminação e
3
que não permita que o sol cause muito calor, pois sempre estamos
de jaleco e equipamentos de proteção individual que por si só já
torna bem quente.
Para eles é importante que seja um local com condições mínimas
4
como: banheiro, local para alimentação e dormitório.
Nesse caso mandamos uma equipe a curto prazo para olhar as
5
opções de ação.
6 -
7 Barracas.
8 -
8. COMO FUNCIONA A LOGÍSTICA DE MATERIAIS
UTILIZADOS PARA SUPRIMENTO DE
VOLUNTÁRIOS/FUNCIONÁRIOS? (RECEBIMENTO,
ENTREVISTADO
ARMAZENAMENTO E CONTROLE DE MATERIAIS DE
HIGIENE, ALIMENTAÇÃO, MEDICAMENTOS,
FERRAMENTAS ETC).
1 Estoque próprio da ONG.
2 São oferecidos os alimentos pelos locais que nos recebem.
Cada membro da equipe é responsável por levar seus pertences
3 individuais. A alimentação fica por conta da equipe que nos
recebe, que anteriormente recebe dinheiro para tal custo.
Na casa do Abraço temos muitos voluntários que são da cidade,
então a maioria não necessita de ajuda externa. Os objetos
4
disponibilizadas são blusas, tocas entre outros equipamentos de
higiene para a produção de alimentos.
5 Na ONG tem alojamento e responsáveis para controle.
As equipes saem para a missão abastecidas de água e alimentos,
remédios e kit de primeiros socorros, itens de higiene pessoal e
coletiva e vestuário. É feito um planejamento para que o
6
reabastecimento seja feito em paradas estratégicas ou pontos de
apoio à missão. Além da equipe que vai para a missão há também
equipes de apoio ao longo do caminho.
Ficam armazenados no CCOPAB e sao entregues aos alunos de
7
nossos cursos sob demanda.

Geralmente, é carregado pelo próprio missionário e pessoas que o


acompanham, levando tudo nas costas e mãos durante o trajeto
(andando e/ou em pequenos barcos). No caso de trabalho
voluntário junto a acampamentos de refugiados ou locais de
8
catástrofe natural, a primeira parte é levada pelos próprio
missionários em mochilas e mãos caso ele já esteja nesse local;
daí em diante chega em caminhões ou aviões juntamente com o
que é enviado para atendimento das vítimas.

9. COMO FUNCIONA A LOGÍSTICA DE MATERIAIS


QUE SÃO RECEBIDOS PARA SEREM DOADOS AS
ENTREVISTADO VÍTIMAS? (RECEBIMENTO, ARMAZENAMENTO E
CONTROLE DE MATERIAIS DE HIGIENE,
ALIMENTAÇÃO, MEDICAMENTOS ETC).
1 Os materiais são avaliados e separados em um tipo de estoque.
2 Local adeuqado para os mesmos.
Cada membro da equipe se compromete em arrecadar insumos
necessários, antes da viagem, é feita um reunião e todo
arrecadado é dividido entre as malas. Uma mala é para pertences
3 individuais e outra a serviço da missão.O material para
atendimento, medicamentos, doações são levadas pelos
voluntários. A alimentação fica por conta da equipe que nos
recebe.
Todos os materiais são recebidos de doação e no caso da Casa do
Abraço são estocados nos cômodos da casa, com exceção dos
alimentos vão para a dispensa na cozinha. Os materiais são
setorizados por categoria: brinquedos, roupas, remédios... de
4 acordo com a quantidade vão sendo usados em prol da
comunidade através de bazares ou ações solidárias de doação. As
refeições sempre são oferecidas três vezes por dia (café da
manhã, almoço e lanche da tarde) se segunda a sexta e preparadas
por voluntários.
5 Tudo é recebido contabilizado e armazenado, depois distribuído.

Primeiramente uma equipe vai ao local para identificar as


necessidades da população. Diante das informações coletadas no
local faz-se um plano de ação. Este plano de ação se divide em
várias atuações. O presbitério então faz um plano logístico para
que esses insumos cheguem às pessoas. Os veículos saem
abastecidos com água, alimentos, itens de higiene pessoal,
medicamentos e materiais para procedimentos médicos,
odontológicos e de enfermagem, além de colchões e cobertas. Na
amazônia por exemplo foi identificado um rapaz que perdeu uma
perna ao ser picado por uma cobra e uma criança com atrofia nas
6
pernas. Diante dessas necessidades foi encaminhado junto com a
equipe um ortopedista que ao chegar no local fez o implante de
uma prótese no rapaz e colocou outra prótese no menino para
corrigir a atrofia. Enfermeiros também são enviados para prestar
cuidados de enfermagem. Pediatras e geriatras também fazem
parte dessas missões. Os dentistas fazem um trabalho de saúde
bucal com as crianças. Todos os insumos doados são fornecidos
pela igreja ou por doações de parceiros. Os voluntários são
médicos de carreira e médicos recém formados alguns até das
escolas militares.

7 Não há
Em casos de desastres naturais em que os missionários venham a
atuar ou em acampamentos de refugiados, os materiais para
doação às vítimas chegam pelo meio mais adequado para o tipo
8
de situação e local, mas, geralmente, de caminhão e aviões. O
armazenamento e controle é feito em barracas/tendas ou locais
improvisados (casa de morador que se disponha a ajudar, etc.).
No caso de missionários que adentram por regiões ribeirinhas,
são levados em pequenos barcos e a pé. O armazenamento e
controle praticamente não existe neste último caso, devido à
8
dificuldade de transporte, o que faz com que os materiais sejam
levados em poucas quantidades e entregues diretamente pelo
missionário às pessoas em necessidade.
10. OS VOLUNTÁRIOS/FUNCIONÁRIOS TÊM ALGUM
ENTREVISTADO TIPO DE SUPORTE PSICOLÓGICO? COMO
FUNCIONA?
Sim, reuniões diárias antes e depois de voltar do "campo". São
1
ministradas palavras de encorajamento.
2 Não.
Sim. Além das reuniões prévias, temos acompanhamento pastoral
3
durante a viagem, com reuniões diárias.
Não oficialmente. A casa era regida por um rapaz que era pastor e
4 também fazia um trabalho de aconselhamento de acordo com a
necessidade.
5 É sempre importante ter um psicologo para mentoria.
Sim. Na saída e no retorno é feito um trabalho para preparar os
6
voluntários para as missões.
Sim. Há um acompanhamento por parte do Centro de Psicologia
7 do Exército, provendo suporte psíquico às atividades de preparo
de pessoal antes de irem para Missões de Paz.
Sim. Na sede da missão, existem psicólogos que estão à
disposição do missionário para conversas online via Skype,
8 chamadas de vídeo por WhatsApp, etc.. Se necessário, o
missionário tem o aval da agência para procurar um psicólogo
local, no país onde se encontra.
11. COMO É A INTERAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO QUE
VOCÊ TRABALHA COM OUTRAS ORGANIZAÇÕES DE
FINS SEMELHANTES? (OUTRAS ONGS, PROGRAMAS
ENTREVISTADO
GOVERNAMENTAIS, EXÉRCITO E DEMAIS
PROFISSIONAIS QUE TRABALHAM EM MISSÕES DE
PAZ OU DE AJUDA HUMANITÁRIA).
1 Sincronizado.
2 Nao tenho relacionamento, mais gostaria de ter..
Nosso trabalho é de suporte a trabalhos fixos já desenvolvidos
por brasileiros no exterior. Nossa equipe é montada para ajudar e
3
reforçar esses trabalhos, dando apoio aos missionários locais e
ajuda aos beneficiários do projeto.
A Casa do Abraço tem algumas parcerias mas não sei especificar
a fundo quais seriam. A maior ligação com outras ONGs vem
4 através de voluntários que aplicam suas experiências lá. Os
eventos promovidos também sempre têm apoio de pessoas que
voluntariamente oferecem
A interação é sempre muito boa porque trabalhamos em parceria
5
com outras organizações para um melhor resultado final.
A interação é muito bem feita. Temos apoio da sociedade bíblica
do Brasil, forças armadas, polícias e órgãos públicos. Essas
parcerias muitas vezes são facilitadas porque muitos irmãos da
6
igreja inclusive pastores são militares ou pertencem às
instituições públicas. Algumas vezes as prefeituras ao receberem
as missões fornecem local para hospedagem em escolas.

Total, pois recebemos diversos integrantes dessas instituições em


nossos estágios ao longo do ano. Além disso, o CCOPAB tem
enviado militares para atuarem na Operação Acolhida, em
7
Roraima, aumentando o contato deste Centro com o pessoal
humanitário que está cuidando da entrada de venezuelanos no
Brasil.

Pelas especificidades do trabalho missionário, a interação se dá


8 mais com ONGs e outras agências missionárias que atuam na
mesma vertente e local, não governos ou outras entidades.
12. COMO É A INTERAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA
ENTREVISTADO ORGANIZAÇÃO QUE VOCÊ TRABALHA COM AS
VÍTIMAS EM CAMPO?
1 Boa.
2 Excelente
Nossa interação se dá através do atendimento médico e
3
odontológico e suporte espiritual.
A interação sempre foi muito boa. Como todos estão ali por um
objetivo específico torna-se mais leve. É um ambiente acolhedor
4
e não é difícil fazer amizades pois sempre existe uma área pra
ajudar e o clima das crianças também permite uma atmosfera boa.
5 Sempre bem proficional.
Ótima. São pessoas preparadas para lidar com as vítmas. Os
voluntários são muito dispostos e abraçam a causa com muito
amor tendo a retribuição das pessoas carentes. Além dos
atendimentos sociais os missionários prestam assistência
6 espiritual com orações, visitas às famílias e trabalhos
evangelísticos de rua como por exemplo serenatas nas casas.
Além do resultado social ficam também os resultados espirituais
como por exemplo famílias reestruturadas, jovens com mais
objetivos e menos futilidades.
Também fazem um trabalho de musicalização com as crianças
(percussão, flautas, escaleta) e após alguns dias de ensino as
crianças da localidade já conseguem tocar no culto especial que é
feito no local. Depois são construídas igrejas nesses locais em
pastores são enviados para dar assistência constante a essas
pessoas. Algumas delas são trazidas para fazerem seminários no
6 Espírito Santo. Normalmente os pastores que vão para esses
locais são em sua maioria aqueles que acabam sendo enviados
por questões profissionais. Alguns militares por exemplo foram
enviados pelo exército para Rondônia por causa dos
venezuelanos e esses militares aproveitaram para desenvolver
missões evangelísticas nesses locais que foram muito bem
sucedidas.
7 Não há.
Não tenho muito como comentar a respeito disso porque,
pessoalmente, nunca estive numa situação de atuação com
vítimas em campo (acampamentos de refugiados, locais atingidos
8 por calamidades naturais, etc.), porém, pelo que ouvi falar e
tenho conhecimento, a interação é muito humana e de dedicação
exclusiva, buscando o bem-estar das vítimas e a retirada delas,
dentro do possível, da situação de vulnerabilidade.

Você também pode gostar