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Perguntas como “com quem ele aprendeu esse conhecimento” “para quê este saber é
útil para as pessoas” e “há quanto tempo ele possuía esse saber”, e “se ele achava importante
que o mesmo fosse passado para outros”, foram feitas ao senhor, que de maneira muito gentil
e coesa as respondeu dizendo que, já possuía esse conhecimento há muito tempo, e que o
havia aprendido quando tinha 18 anos de idade, com uma senhora que na época tinha 107
anos. Enfatizou que, tal conhecimento só deveria ser ensinado por pessoas de sexos
diferentes, um homem só poderia ensinar para uma mulher, e uma mulher só poderia ensinar
para um homem. Caso pessoas de mesmo sexo ensinassem umas as outras, a força da reza ou
a preparação da garrafada enfraqueceria.
Disse ainda que, só Deus era quem sabia de tudo, mas que ele (Antônio Romão)
sabia de vários remédios e umas coisas que ajudavam quando alguém procurava por socorro,
se estivesse com alguma enfermidade. Assim, o seu saber é bastante útil na ajuda destas
pessoas.
Relatou que sabia preparar varias garrafadas, utilizando na composição das mesmas,
vinho branco e ervas. Preferia usar vinho brando, no lugar de cachaça. Tais garrafadas
serviam para pessoas e para animais também, elas ajudavam na melhoria para dores nas
pernas, dores de barriga, problemas intestinais e entre outros. Os animas mais comuns que
faziam uso das garrafadas eram cavalos e bois.
O senhor Antônio acha muito importante que o saber que possui seja passado para
outras pessoas, por que quando ele morrer quem tiver adquirido seu saber dará continuidade
ao que ele fazia, não deixando assim que esse conhecimento seja esquecido.
Ele sabia também varia rezas, dentre as principais estavam, a da cura para o veneno
da cobra, a do vermelhão (que ocorria mais precisamente nas pernas), a do ramo da morfina, a
de bicheira (bichos que corroem algum animal) e a de atalhar sangramento.
Diante de tais fatos, a entrevista realizou-se de modo coerente com o esperado, sendo
as respostas dadas, explicitadas de maneira bastante clara, e assim, os resultados que puderam
ser obtidos sobre este saber tradicional que o senhor Antônio possui, foram importantes a
cerca da questão deste conhecimento, onde foi observado que existe certa crença vinda das
pessoas que fazem uso dessas garrafadas produzidas com ervas e vinho branco, pois elas
acreditam que ao tomarem o liquido contido nas garrafadas, ficariam boas ou até curadas das
enfermidades que possuíam.
Assim, é com base em tudo o que já foi exposto no decorrer do texto, que uma
discussão surge abrangendo certos conceitos, como por exemplo, os fundamentos científicos
ligados a este conhecimento (produção de garrafadas com vinho branco e ervas, para cura de
doenças), sobre a perspectiva da história da ciência, e o que se tem dito sobre a mesma.
Assim, [...]. Como parte da história humana, a história da ciência sofre idas e vindas,
avanços e retrocessos, dificuldades e injunções de toda sorte. A ciência não é algo que existe
de forma estanque em relação à sociedade. Ao contrário, e parte integrante dela e com ela
compartilha as vicissitudes da condição humana. Aliás, sem esses aspectos, a história da
ciência provavelmente não seria tão fascinante como é. (FILGUEIRAS, 2007. p. 91)
Diante de todos os aspectos que aqui foram explicitados, é observável que assim
como na Química, o saber popular de seu Antônio Romão é produzido a partir de produtos da
natureza (ervas), passando por vários processos com o uso do vinho, até alcançar o estado
desejado para consumo. Tais aspectos podem ser melhores entendidos, segundo a perspectiva
de Chrispino, que retrata que a Química está a serviço social da transformação dos produtos
existentes na natureza, visando o bem estar social. A química não cria a partir do nada, retira
da natureza e, num processo de concatinação de reações em situações controladas, transforma
a matéria até chegar ao produto final desejado, passando por quantos estágios intermediários
sejam necessários. (1960 p.23)
Portanto, conforme tudo o que foi exposto, conclui-se que os objetivos foram
atendidos, de modo que a entrevista realizada proporcionou um conhecimento bastante
importante à cerca dos saberes populares, juntamente com o embasamento que permeou a
história da ciência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS