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APOSTILA
APOSTILA
“doutrinária”, os efeitos de uma aplicação técnica que era muito atraente para
mim.
longos minutos pareciam absurdos: qual a razão para ficar uma hora escutando
adolescentes, valendo-se, para isso, tão somente do seu domínio de uma teoria?
Uma teoria que, aliás, negava a própria realidade: como negar o que eu já
Saí daquela aula e daquele curso com uma certeza: um conhecimento que, como
aquele, se negava a olhar para a condição humana deve ter muito pouco valor.
Era preciso aprender algo que me permitisse olhar melhor e mais amorosamente
para a pessoa, e menos idolatricamente para um autor, um livro ou uma teoria, por
Eu, então, intuía o que a Psicologia que eu conhecera poderia me oferecer: seu
olhar parecia ser mais concreto do que aquelas abstrações kantianas. Ainda que
ninguém ainda me havia mostrado, na Psicologia, mais do que tão somente uma
Foi quando caí numa sala de aula da UFMG, em agosto de 1995. Na primeira aula a
que a senhora espera, apesar do estímulo que me dá”, lancei. “Não existe
olhando para a pessoa humana, o melhor seria não me afastar dela, enquanto
caminho por aquele quarto escuro que, naquele momento, pareceu ser ainda mais
a Psicologia.
Por mais de três anos, segui naquelas penumbras, tropeçando aqui e ali,
vacilante ainda. Só não parava porque não queria ter que quebrar a cabeça em
outras sendas, mas também porque eu não estava sozinho – eu tinha uma
Foi nos últimos semestres do curso que, finalmente, encontrei um professor que,
mais do que insistir nas sombras, iluminava o caminho. Com ele, descobri Edmund
Husserl, Edith Stein, Paul Ricoeur, Viktor Frankl... Encontrava neles bons
que sabiam por onde caminhar. E foram eles que me fizeram colocar a pergunta
correta: será que esta Psicologia é mesmo capaz de encontrar a pessoa humana?
Foi essa pergunta que me fez ir atrás de mais conhecimento: afinal, como esta
Psicologia se tornou o que se tornou? Por que ela aceitou caminhar às cegas?
Haverá formas de corrigir esse desvio de rota? Terá mesmo havido um desvio de
numa Psicologia que olhava para a pessoa humana e considerava sua liberdade.
parecia sólida o suficiente, exatamente por não saber para onde me impingia a
ordem social? Sabia que era pouco demais: era como olhar para a unha da mão de
graduação ser, já naquela época, muito cheio de lacunas, também aquilo que eu
atuar e tudo começou a fazer sentido. Até ao ponto de, 18 anos depois de ter me
Hoje, se olho para trás e me pergunto o que poderia ter sido diferente, fica-me
evidente que nada seria alterado. Mas, se não fosse um erro as tantas lamúrias que
resmungamos na vida, eu diria que lamento não ter encontrado, mais cedo,
me esforçar ainda mais na busca pelo humano em tudo aquilo que o homem
faço da minha própria condição humana, que é o filtro a permitir que sempre
Terapeuta, sei que cada um é convocado pela vida a fazer seu próprio caminho.
Não espero e nem quero – além de ser impossível – que você faça o caminho que
me foi dado fazer. Mas, espero que você não tenha nunca como companheira de
ele quem faz você perguntar, ele impulsiona a não desistir, é um guia que não se
satisfaz com as migalhas deixadas no caminho, ele quer mais e mais. E você irá
encontrá-lo, por incrível que possa parecer, nas entrelinhas de cada realidade
humana com a qual esbarrar – de um livro ao seu cliente, de uma poesia aos seus
Se eu puder ser, na sua vida, no espaço de tempo em que estiver ao seu lado, o
Espantalho da Tranqüilidade, darei por certo que, num pequeno âmbito da minha
Gosto de dizer uma coisa, para me despedir: “Te abraço”. E faço-o em segunda
pessoa porque, dessa forma fica mais evidente a sua condição, terapeuta, de “Tu”:
Te abraço.