Séneca
Sobre a brevidade da vida Sobre a brevidade da vida
Sobre a brevidade da vida é a obra mals difundida
do fildsofo Liicio Anneo Séneca (4 a.C.? ~ 65 d.C,)
€ um dos textos mais conhecidos de toda a
Antigiiidade latina. Sao cartas dirigidas a Paulino
(cuja identidade € controversa), nas quais 0 sbio
discorre sobre a natureza finita da vida humana.
Sao desenvolvidos temas como aprendizagem,
amizade, livros e a morte, ¢, no correr das paginas,
vao sendo apresentadas maneiras de prolongar a
vida e livré—la de mil futilidades que a perturbam
sem, no entanto, enriquecé-la. Escritas ha quase
dois mil anos, estas cartas compéem uma leitura
inspiradora para todos os homens, a quem ajudam
a avaliar 0 que é uma vida plenamente vivida.
sua leitura a todos os homens.”
| “Este tratado é lindo: recomendo
(Denis Diderot)Ili
1. Nenhum homem sabio deixaré de se
espantar com a cegueira do espirito humano.
Ninguém permite que sua propriedade seja
invadida, e, havendo discérdia quanto aos li-
mites, por menor que seja, os homens pegam
em pedras e armas, No entanto, permitem que
outros invadam suas vidas de tal modo que eles
proprios conduzem seus invasores a isso. Nao
se encontra ninguém que queira dividir sua
riqueza, mas a vida € distribuida entre muitos!
Sao econdmicos na preservacao de seu patri-
ménio, mas desperdicam o tempo, a tinica
coisa que justificaria a avareza. 2. Agradar-me-
ja questionar qualquer um dentre os mais ve-
Ihos: “Vemos que ja atingiste o fim da vida,
‘tens cem ou mais anos. Vamos, faz 0 célculo
da tua existéncia. Conta quanto deste tempo
foi tirado por um credor, uma amante, pelo
poder, por um cliente. Quanto tempo foi tirado
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pelas brigas conjugais ¢ por aquelas com es-
cravos, pelo dever das idas ¢ vindas pela ci-
dade. Acrescenta, ainda, as doengas causadas
por nossas proprias maos e também todo o
tempo desperdicado. Verds que tens menos
anos do que contas. 3. Perscruta a tua me-
méria: quando atingiste um objetivo? Quan-
tas vezes o dia transcorreu como 0 planejado?
Quando usaste teu tempo contigo mesmo?
Quando mantiveste uma boa aparéncia, 0 es-
pirito tranqiiilo? Quantas obras fizeste para ti
com um tempo téo longo? Quantos nao es-
banjaram a tua vida sem que notasses 0 que
estavas perdendo? O quanto de tua existéncia
nao foi retirado pelos sofrimentos sem neces-
sidade, tolos contentamentos, paixdes dvidas,
conversas intiteis, e quao pouco te restou do
que era teu? Compreenderas que morres cedo”.
4. O que esta em causa entao? Viveste como
se fosses viver para sempre, nunca te ocorreu
a tua fragilidade. Nao te das conta de quanto
tempo jé transcorreu. Como se fosse pleno €
abundante, o desperdicas e, nesse interim, 0
tempo que dedicas a alguém ou a alguma coisa
talvez seja o teu tiltimo dia. Temes todas as
coisas como 0s mortais, desejas outras tantas
31tal qual os imortais. 5. Ouviras a maioria di-
zendo: “Aos cingtienta anos me dedicarei ao
6cio"”, Aos sessenta, ficarei livre de todos os meus
encargos”. Que certeza tens de que hé uma vida
tao longa? O que garante que as coisas se dardo
como dispées? Nao te envergonhas de destinar
para ti somente resquicios da vida e reservar
para a meditagdo apenas a idade que jé nao 6
produtiva? Nao é tarde demais para comecar a
viver, quando ja é tempo de desistir de fazé-lo?
Que tolice dos mortais a de adiar para o qitin-
quaggsimo e sexagésimo anos as sabias decisées
e, a partir dai, onde poucos chegaram, mostrar
desejo de comecar a viver?
17. Seneca adverte contra aquela correria desvairada a que
se entrega a maioria dos homens, que agem como ani-
mais, reiniciando sem cessar 0 mesmo movimento vdo.
(Ora, essa imttil agitagdo nao conduz sendo ao esgotamen-
to das forgas fisicas e a frustragio mental, Ele nao prega a
preguica, conforme afirma: “(..) nao te convido a pregui-
sa nem a inércia” (XVIII, 2), apenas recomenda evitar a
falsa operosidade e a fitil agitacdo.
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