Você está na página 1de 22

16

3. REVISÃO DE LITERATURA

Na literatura pesquisada foram encontrados poucos trabalhos que


enfocassem a noção que a criança disfônica tem de voz e, também, do
impacto do tratamento fonoaudiológico sobre ela. Desta forma,
resolvemos apresentar alguns aspectos da intervenção fonoaudiológica
no atendimento à criança disfônica, que podem interferir nesta noção,
como consulta, avaliação, orientação e terapia, sem descrever as
diversas estratégias que são desenvolvidas durante os atendimentos.

Optamos por apresentar esta revisão em ordem cronológica, uma


vez que esses aspectos estão interligados e não iriam interferir na
organização das idéias.

3.1. A intervenção fonoaudiológica

Procuramos privilegiar neste item os principais aspectos do


atendimento fonoaudiológico à criança disfônica.

LUCHSINGER & ARNOLD (1965) enfatizaram que, para a


prevenção de problemas vocais da criança, é necessário o trabalho
com a higiene vocal principalmente na escola, pois muitos casos de
rouquidão começaram com abusos na infância. Eles salientaram que os
professores deveriam encorajar as crianças a usarem a voz de maneira
17

normal e agradável, lembrando que eles próprios são modelos para a sua
produção vocal.

COOPER (1974) explicou que a disfonia na criança se inicia ou se


mantém por meio de combinações variáveis de vocalizações incorretas e
abusivas. Salientou que o terapeuta juntamente com os pais devem
procurar entender qual a imagem vocal da criança e explorar o que a
atrai ou não nos diferentes tipos de vozes. Para o autor, a terapia
fonoaudiológica tem que ser um procedimento prazeroso e interessante,
no qual ela participe ativamente e possa expressar os seus sentimentos e
impressões, sem ser repreendida.

WILSON (1979) comentou que as alterações vocais na criança


devem ser bem observadas, pois muitas vezes podem afetar a sua auto-
imagem, causando uma inadaptação social. Para ele, o êxito da terapia
depende da motivação da criança para o tratamento, da conscientização
dos abusos que geralmente causam os problemas e da participação
familiar. Explicou que muitas crianças necessitam, além de técnicas para
a voz, uma terapia centrada na comunicação, combinando os princípios
de aprendizagem de diferentes áreas do conhecimento humano.

TABITH JR. (1980) considerou que, para a disfonia infantil, o


plano terapêutico deve estabelecer objetivos adequados às características
da criança, levando em conta a sua idade e o tipo de problema.
Acrescentou que são necessárias orientações sistemáticas à família,
técnicas vocais, além de propiciar à criança o conhecimento sobre o
mecanismo de produção da voz. Salientou, também, a importância de
18

desenvolver na escola, com pequenos grupos, programas de higiene


vocal.

BOONE (1983) enfatizou que, antes de se iniciar uma terapia com


a criança disfônica, é necessária uma completa avaliação médica e o
registro da avaliação fonoaudiológica, para se comparar a evolução. O
autor comentou que o terapeuta deve buscar, continuamente, uma forma
de adequar a produção vocal da criança, com técnicas de facilitação para
se conseguir a melhor voz que ela pode produzir. Ele propõe diminuir a
tensão e o esforço para que a própria voz da criança se transforme em
meta. Concluiu que é necessário que o fonoaudiólogo explique
claramente à criança qual é o seu problema, pois raramente ela tem
percepção da sua disfonia, sendo esta, geralmente percebida pela
professora, pais ou clínico da escola.

VALLANCIEN (1986) salientou que, na infância, é comum


observar que muitas crianças manifestam o seu temperamento pela voz,
desenvolvendo abuso vocal. Sugeriu que uma reeducação vocal para
a criança deve procurar eliminar os maus hábitos, modificando o
comportamento e as condições em que eles se desenvolveram. Concluiu
que é necessário saber como a criança reage em relação ao seu distúrbio
e se ela aceita mudar de voz. Muitas vezes, para a criança, uma melhora
no sentido de que ela não grite mais, pode ser uma garantia de que a
disfonia não se agravará.

BEHLAU & GONÇALVES (1988) comentaram que o enfoque


básico para o tratamento fonoaudiológico para a disfonia infantil consiste
em: orientação escolar e familiar, orientação à criança, fonoterapia e
19

tratamento psicológico, quando se percebe que a terapia fonoaudiológica


não é suficiente. As autoras enfatizaram que a criança disfônica sempre
apresenta alguma consciência do seu problema de voz, mesmo que seja
distorcida. Para elas, é importante que o fonoaudiólogo descubra qual é o
grau de conscientização da criança e como a sua auto-imagem está
contaminada.

BEHLAU & PONTES (1988) explicaram que, para reabilitar a


disfonia infantil, é importante, além do respeito à criança e à sua queixa,
que o terapeuta conscientize os seus pais. Acrescentaram que é
necessário desenvolver a percepção auditiva, que geralmente não é boa,
além de motivar e verificar qual a impressão que a criança tem da sua
própria voz.

GREENE & MATHIESON (1989) estudaram a mudança de voz


da infância até a velhice, e comentaram que, para o recém-nascido, a voz
é usada como sinal de estresse e desconforto e para emitir gritos de
ajuda. As autoras comentaram que o choro, no nascimento, talvez
represente o uso mais dramático da voz, e que provavelmente, o
indivíduo jamais voltará a fazê-lo. É um sinal que a criança está viva e
que começou a respirar.

ARONSON (1990) explicou que, na criança disfônica, o abuso


vocal tem como base a tensão músculo esqueletal associada a fatores
emocionais. Estes abusos ocorrem quando a criança grita, berra, fala em
volume elevado, tosse ou limpa a garganta e podem ocasionar o
aparecimento de nódulos vocais. O autor concluiu que o tratamento
efetivo para os nódulos é sempre a terapia fonoaudiológica, que pode ser
20

individual ou em pequenos grupos, com o propósito de reduzir o trauma


das pregas vocais, através da reeducação da voz e da redução ou
eliminação do estresse emocional.

HERSAN (1990) salientou que as alterações de voz na infância


podem interferir negativamente no desenvolvimento social e até o
afetivo emocional da criança. A autora explicou que, muitas vezes, uma
criança com uma rouquidão acentuada ou até uma afonia, pode
apresentar exame laringoscópico normal. Ela enfatizou que é necessário
conhecer o grau de conscientização que a criança apresenta em relação
ao seu distúrbio vocal e para propor um tratamento é preciso saber: se o
problema vocal provoca reação emocional, se interfere na comunicação e
se existe ansiedade por parte dos pais.

A mesma autora, em 1991, enfatizou que alterações ambientais ou


psicológicas propiciam os abusos vocais ocasionando problemas
funcionais. Ela salientou que a criança disfônica raramente se queixa do
seu problema e o seu grau de conscientização é variado, podendo
demonstrar indiferença ou preocupação em relação aos comentários de
outras pessoas. Concluiu dizendo que, na avaliação, é necessário que se
levante o grau de excitabilidade, pois os padrões vocais geralmente são
compatíveis com os seus temperamentos, como por exemplo a criança
sanguínea (agitada), a colérica (dominadora), a melancólica
(introvertida), e a fleumática (bonachona) e sempre observando como os
pais reagem a esses comportamentos.

BEHLAU (1991) comentou que o desenvolvimento da voz da


criança deve ser estudado e divulgado aos profissionais de saúde, pais e
21

professores. Para a autora, qualquer alteração no desenvolvimento da voz


deve ser identificada, avaliada e tratada, para que não ocorra um
impedimento no crescimento social e emocional da criança. Ela
comentou também que a saúde dos órgãos que compõem o aparelho
fonador, além da possibilidade de uma comunicação livre e eficiente é
que propiciam o desenvolvimento de uma voz normal.

ALBINO (1992) triou 1.256 crianças, em Santos e São Vicente,


provenientes de clínica particular, ambulatório e escolas. Selecionou 31
crianças, na faixa etária de 4 a 12 anos, com alteração vocal, para estudar
as possíveis causas de disfonia, com relação a fatores orgânicos e
aspectos emocionais. Ela constatou que os fatores emocionais e os
ambientais apresentaram grande importância pela freqüência com que
apareceram. Para a autora, o ambiente familiar tenso e dificuldade de
relacionamento entre os membros da família, têm grande participação
nas disfonias. Ela acrescentou que as crianças pesquisadas não souberam
dar opinião sobre a própria voz, embora exteriorizassem os problemas de
comunicação por intermédio dela.

HODKINSON (1992) salientou que, para uma orientação


adequada à criança disfônica, é necessário que se obtenha a sua imagem
global, por meio de uma entrevista com os seus familiares. O mesmo
deve ser realizado com a escola, onde as atividades como leitura em voz
alta, dramatizações e canto, possibilitam à criança perceber a utilização
de uma voz saudável. Quanto à terapia da fala, o fonoaudiólogo deve
propiciar a compreensão das estratégias e técnicas que serão utilizadas
para trabalhar os problemas de comunicação. Ele deve definir os
objetivos e negociar juntamente com a criança um contrato onde são
22

explicitadas as expectativas de ambos os lados. Para concluir, a autora


propõe que, sendo a comunicação uma atividade complexa, devem-se
integrar aspectos da comunicação não verbal, como riso fácil, sorriso,
sem esquecer, contudo, de esclarecer as melhores maneiras de pigarrear
e gritar.

ANDREWS (1993) enfatizou que o terapeuta deve estar atento às


queixas de desconforto físico ou emocional de crianças e pré-
adolescentes, que usam a voz profissionalmente e que cometem abuso
vocal por períodos prolongados. Explicou que o fonoaudiólogo deve
somar às observações perceptuais da voz, informações sobre a variação
de peso, menstruação, além de condições de bulimia ou anorexia
nervosa. Concluiu salientando que, na primeira consulta, o
fonoaudiólogo deverá estabelecer as regras de higiene vocal, definir o
problema, motivar o tratamento e elaborar um contrato terapêutico
simples. A autora lembrou que o paciente algumas vezes pode se tornar
dependente da figura adulta e autoritária do terapeuta ou, em outras,
pode querer desafiá-lo.

HERSAN (1993) explicou que, independentemente da idade, o


tratamento para as disfonias infantis é a terapia fonoaudiológica, cujo
objetivo deve ser o de conscientizar a criança acerca de suas
possibilidades vocais e, acima de tudo, motivá-la para que tenha uma
participação ativa e efetiva, além do treinamento vocal específico.

BOONE & Mc FARLANE (1994) afirmaram que a terapia vocal é


indicada para crianças em idade escolar que apresentam um problema
hiperfuncional. A conduta do clínico deverá ser a de identificar as
23

situações de abuso vocal e realizar um gráfico para registrar o número de


vezes em que eles ocorrem ao dia. Para todos os casos, é ideal que o
terapeuta grave a voz da criança e levante as referências às sensações
corporais como: secura, dor, bolo, aperto na garganta. Os autores
concluíram enfatizando que o fonoaudiólogo deve explicar à criança que
há um problema, qual é ele, o que ela deve estar fazendo de errado com a
voz e o que se pode fazer em relação a esse fato.

MORRISON & RAMMAGE (1994) comentaram que é muito


comum ocorrer problemas vocais em crianças, por abuso e mau uso e
que as menores de 8-9 anos ou imaturas, precisam de um programa que
inclua a família, a escola ou ambos, para que possam integrar um novo
comportamento vocal. Para as autoras, a criança necessita de modelos
apropriados de voz, jogos e exercícios com técnicas adequadas e pouco
invasivas. Ainda segundo elas, a disfonia pode representar uma
variedade de problemas orgânicos, psicossociais ou ambos e devem ser
tratados efetivamente, para que não afetem a comunicação da criança por
muito tempo.

BEHLAU & PONTES (1995) comentaram que as crianças


geralmente têm uma consciência distorcida do seu problema vocal. Eles
enfatizaram que, para a reabilitação da disfonia infantil, são necessários
a orientação a pais, professores, e o reconhecimento do problema
psicológico e de comunicação (deglutição atípica, distúrbio de
aprendizagem e de fala). Para os autores, a plasticidade músculo-
esquelética das crianças favorece a reabilitação vocal e a reabsorção de
lesões, sendo importantes as orientações familiares e um programa de
redução de abusos vocais.
24

MAIORINO; GUILHERME & SILVA (1995) realizaram


avaliação fonoaudiológica e otorrinolaringológica, em escolares
brasileiros e verificaram que a disfonia infantil nem sempre é
considerada sinal de doença pela população. Além disso, que o índice de
disfonia infantil tinha sido alto, na população avaliada, com maior
incidência para as meninas e que os pais e professores revelavam pouco
conhecimento na identificação de problema vocal. Para finalizar, eles
salientaram que também era necessário um trabalho preventivo na
identificação do problema e encaminhamento precoce dessas crianças
disfônicas.

OLIVEIRA; PASTRELLO; RIBEIRO et al. (1995) elaboraram


uma pesquisa com 133 crianças de escola particular de classe média, em
Campinas, São Paulo, na faixa etária de 4 a 9 anos, com o objetivo de se
pesquisar a eficácia da utilização de vídeo em programas de prevenção
de abusos vocais na infância. A pesquisa constou de uma entrevista
com as crianças para que se pudesse obter informações sobre a voz (“boa
voz” e “voz ruim”), a apresentação do vídeo e por fim novamente outra
entrevista com as crianças. As pesquisadoras observaram que o vídeo foi
efetivo, na medida em que as respostas antes e depois da exposição
foram diferentes e concluíram que era um importante recurso na
profilaxia infantil em relação aos abusos vocais.

SANCHÉZ (1995) explicou que o primeiro contato com a criança


disfônica deve ocorrer em um clima distenso e cordial, para que o clínico
possa levantar os fatores que desencadearam ou agravaram a disfonia.
Segundo a autora, é necessário conhecer as características comunicativa-
expressiva da criança, e também de informações sobre postura,
25

respiração e emissão vocal. A autora conclui dizendo que o sucesso do


tratamento para a criança disfônica depende do grau de motivação, do
contato com o médico, da orientação aos pais e à escola para finalizar
um contrato de trabalho adequado.

STEMPLE, GLAZE & GERDEMAN (1995) salientaram que,


para a criança disfônica, o ideal é uma terapia eclética na qual o sintoma,
a etiologia, a fisiologia e os aspectos emocionais sejam considerados. Os
autores propuseram uma terapia com ênfase na higiene vocal para
identificar os abusos como o grito, o falar em volume elevado, emitir
ruídos e raspar a garganta entre outros. Salientaram que era importante
uma descrição dos efeitos desses abusos na voz, verificando se há
desequilíbrio fisiológico para a emissão, definindo as situações em que
eles ocorrem e procurando modificar esses comportamentos abusivos.

COLTON & CASPER (1996) explicaram que o paciente precisa


conhecer o seu problema para que possa assumir responsabilidade no
tratamento. No caso específico da criança, é necessário o
reconhecimento do mau uso e abuso da voz em período de inflamação
tecidual, tosse excessiva, pigarro, gritar e fazer barulho com o trato
vocal, além da participação em esportes e exercícios. Os autores
concluíram que a meta de todo o tratamento é restaurar a melhor voz
possível, no aspecto funcional, visando à comunicação em geral.

Mc ALLISTER & SEDERHOLM (1996) comentaram o trabalho


que realizaram com crianças disfônicas, na clínica do Hospital
Danderyd, na Suécia, onde utilizam como apoio o canto e a música. As
autoras explicaram que não são aplicadas estratégias de adulto e a
26

conscientização do comportamento vocal ocorre quando as crianças


ouvem o que é certo e o que é errado e percebem a diferença. Com os
familiares e com a escola, elas utilizam terapia indireta. Segundo as
autoras, os problemas detectados precocemente desaparecerão
rapidamente se as crianças tiverem chance de mudar seus
comportamentos vocais. Concluíram enfatizando a necessidade de
orientação aos professores de pré-escola e primeiro grau, por meio de um
programa preventivo de utilização correta da voz.

ANDREWS (1997) salientou que o fonoaudiólogo, ao atender


uma criança que usa a voz profissionalmente, precisa fazer uma
avaliação cuidadosa do seu potencial, antecedentes e características
individuais. Deve realizar uma entrevista completa com os pais, com o
médico, com a escola e uma conversa aprofundada com a criança. Na
anamnese são importantes os aspectos médicos e psico-sociais, pois,
mesmo que os sintomas sejam semelhantes aos de outras crianças não
profissionais, estes fatores podem estar precipitando ou mantendo uma
técnica vocal inadequada. Para a autora, a criança que obtém sucesso
profissional com a voz tem um grande medo de perdê-la e este fator faz
com que ela tenha uma aceitação diferente do tratamento.

BONUCCI (1997) pesquisou a disfonia infantil por meio de um


levantamento bibliográfico para verificar como diferentes autores
procediam e abordavam o assunto. Ela relatou que a grande maioria não
recomenda cirurgia em crianças e os que são favoráveis sempre
encaminham antes para terapia vocal. A terapia fonoaudiológica foi
considerada a melhor forma de tratar crianças com disfonia. Alguns
associam o trabalho com familiares para a modificação dos fatores
27

ambientais e eliminação dos abusos vocais. Para a autora, a reabilitação


fonoaudiológica é a forma ideal para se identificar os comportamentos
vocais inadequados, reduzi-los por meio de diversas abordagens
terapêuticas, e associando orientação familiar e treinamento vocal.

FERREIRA; DRAGONE; PELA & BEHLAU (1997) realizaram


um estudo com 41 crianças e pré-adolescentes, na faixa etária de 6 a 14
anos, com e sem alteração vocal e aplicaram um questionário aberto com
sete perguntas. Participaram 18 crianças que já haviam tido orientação
fonoaudiológica anteriormente. O objetivo do estudo foi analisar o nível
do conhecimento das crianças e pré-adolescentes acerca da voz e da sua
higiene. Concluíram que as que já tinham orientação vocal possuíam
algum conhecimento sobre voz. Verificaram que a orientação vocal
melhora o conhecimento e a consciência sobre os conceitos da voz.
Segundo as autoras, para se prevenir um problema vocal são necessários
não só a orientação e conscientização, como também a ajuda profissional
especializada para adequar e reeducar essas alterações.

HERSAN (1997) explicou que, apesar da controvérsia que a


indicação de terapia fonoaudiológica gera, é necessário que se avalie o
grau de prejuízo ocasionado pelo problema vocal e a validade de se
esperar que a alteração regrida com o desenvolvimento da criança. A
autora propôs que a indicação da terapia seja precedida de uma avaliação
criteriosa e detalhada, envolvendo o contato com a criança, a verificação
da dinâmica respiratória, do comportamento vocal, do sistema de
ressonância, do tempo máximo de fonação, do ataque vocal, da
freqüência fundamental e pitch, da extensão vocal, da intensidade vocal
e loudness, de articulação, velocidade de fala, das estruturas fonéticas, e
28

funções reflexo-vegetativas e a avaliação da comunicação interpessoal.


Concluiu que, na terapia de voz, se proceda à conscientização da criança
em relação ao seu problema, o treinamento vocal, a orientação familiar,
mostrando que é importante a sua participação e colaboração.

REILLY (1997) realizou uma pesquisa, por meio de questionário


enviado a 120 membros da Sociedade Americana de
Otorrinolaringologia Pediátrica (ASPO), dos quais 48 foram totalmente
respondidos. O objetivo foi conhecer os métodos de exame de laringe
mais usados; os tratamentos oferecidos; as terapias mais apropriadas; as
diferenças e semelhanças entre a laringe infantil e a do adulto e o que era
conhecido acerca da voz da criança pequena. Com base nas respostas, o
autor comentou que são necessárias muitas pesquisas acerca dos
distúrbios de voz na criança e que a porcentagem de exames preventivos
realizados era pequena em relação à incidência de problemas
encontrados. Acrescentou que, pelos resultados, os
otorrinolaringologistas pediátricos não se utilizavam completamente da
tecnologia empregada com adultos para detectar os problemas de voz na
criança. Concluiu enfatizando a necessidade de se estimular pesquisas na
área de voz infantil, juntamente com programas especializados para
realizar o diagnóstico e o tratamento completo dos distúrbios.

ANDREWS (1998) ressaltou que é importante que o clínico


analise todos os fatores que estão envolvidos ao avaliar uma criança que
fala sem parar, ignorando as respostas do ouvinte. Para ela, o
fonoaudiólogo deve verificar se os comportamentos comunicativos são
imaturos ou se a criança está tão envolvida com suas ansiedades e
necessidades, que não é capaz de prestar atenção no que está ocorrendo a
29

sua volta. Concluiu que crianças com distúrbios de voz fazem uma
tentativa unilateral de comunicação sem, contudo, conseguir realizar
interações interpessoais satisfatórias. Na mesma obra, a autora comentou
que distúrbios de voz crônicos raramente desaparecem sem tratamento.
Apontou que o efeito da rouquidão é insidioso e não dramático, podendo
limitar o desenvolvimento de um potencial completo e embora as
lesões possam desaparecer com a puberdade, os padrões vocais
hiperfuncionais são fixados. Para ela, este fato pode causar várias
inadaptações, inclusive sociais, pois acaba prejudicando as interações
com colegas e as tentativas de satisfazer as necessidades básicas de
aceitação e atenção do grupo. O esforço excessivo e a tensão durante a
vocalização, além da respiração ineficiente, são tendências que a criança
leva para a vida adulta. E para concluir, acrescentou que a falta de
intervenção precoce pode resultar em consequências de alto custo e
longo prazo, que afetarão o desenvolvimento pessoal e profissional do
indivíduo.

DENUNCI; FREIRE; MOR et al. (1998) realizaram uma pesquisa


com 45 crianças disfônicas, que aguardavam vaga no Hospital do
Servidor Público – SP, das quais 27 concluíram o processo. O objetivo
foi caracterizar a população infantil nos aspectos: histórico, antecedentes
fonoaudiológicos e otorrinolaringológicos. As crianças foram submetidas
a uma anamnese, avaliação fonoaudiológica completa, avaliação
audiológica básica e otorrinolaringológica. Em relação à voz, eles
encontraram aspectos significativos quanto à existência de abusos
vocais, antecedentes familiares de disfonia e história pregressa de
alterações das vias aéreas superiores. Comentaram, também, que outros
dados encontrados, como deglutição atípica, alterações na cavidade oral
30

e rinofaringe poderiam estar interferindo na qualidade vocal. Concluíram


que é necessário que o indivíduo seja considerado no seu ambiente
sócio- cultural e que ocorra a inter-relação entre todas as estruturas da
cabeça e do pescoço.

KUMMER & MARCH (1998) enfatizaram que o fonoaudiólogo,


para tratar as crianças com problemas vocais, deve ter as seguintes
competências: conhecimento básico da anatomia e fisiologia do trato
vocal e como a alteração pode afetar a produção acústica durante a
emissão da voz; consciência das causas comuns que ocasionam
distúrbios da voz e da ressonância da infância; habilidade para identificar
as várias características desses problemas por meio de avaliação
perceptual; habilidade nas diferentes técnicas de visualização das
estruturas e das medidas acústicas e aerodinâmicas e finalmente
conhecimento básico dos protocolos de tratamentos para estes distúrbios,
assim como encaminhá-los a um especialista, em casos mais complexos.

NAVAS & DIAS (1998) observaram que a disfonia ocasionada


por abuso vocal ou estresse é a mais comum em crianças, com
predomínio do sexo masculino. Os sintomas vocais mais comuns são:
fadiga vocal, alterações de pitch, alterações ressonantais e extensão
reduzida. A terapia fonoaudiológica para estes casos deve procurar a
causa primária, que é a eliminação do abuso e propiciar uma produção
vocal mais facilitada. Os autores concluíram que a efetividade deste
tratamento vai depender do grau de comprometimento orgânico e do
grau de motivação do paciente à terapia proposta.
31

ALVES (1999) comentou que, para a criança com nódulos, devem


ser averiguados junto à família e à escola, os aspectos causadores e
mantenedores do abuso ou mau uso vocal. Para a autora, o
fonoaudiólogo, de posse desses dados, deverá estabelecer um
procedimento terapêutico que leve em conta o sexo, a idade, o grau de
extensão da patologia, o temperamento e as preferências da criança e
dessa forma realizar a reabilitação vocal.

CAMPIOTTO (1999) ressaltou que para a indicação de terapia


fonoaudiológica nas disfonias infantis são necessárias a compreensão
dos mecanismos de produção da voz da criança e a análise dos
comportamentos inadequados que causam prejuízo nesta comunicação.
Salientou que não se devem desprezar as questões relativas à
individualidade de cada uma e os aspectos afetivos na interação social. A
forma como a criança comunica e expressa a sua emoção e sentimentos é
geralmente por meio do corpo e da voz, principalmente pelo grito. A
autora concluiu que é importante localizar o problema da criança,
verificando se a voz combina com o aspecto físico e qual o grau de
comprometimento vocal, uma vez que a disfonia não pode privar uma
criança das suas atividades diárias.

PELA (1999) realizou uma pesquisa de imagens laringológicas e


de dados de prontuários clínicos em 100 crianças antes da muda vocal. O
objetivo foi o de identificar os principais diagnósticos nas alterações
vocais em crianças atendidas em ambulatório especializado. A autora
explicou que a incidência de alteração laríngea foi maior no sexo
masculino entre 7 e 12 anos. As alterações mais comuns foram o nódulo,
acompanhado de fenda triangular médio posterior e os cistos
32

epidermóides com reação contralateral associada à fenda fusiforme. Ela


concluiu que os distúrbios na infância devem ser tratados precoce e
adequadamente, para que a criança possa realizar suas relações
interpessoais, promovendo-se a intervenção necessária, de tal forma que
a criança não venha a ter problemas na adolescência e na vida adulta.

TEIG (1999) descreveu, discutiu e analisou por meio de revisão


bibliográfica, o tratamento de nódulos para crianças pequenas, assim
como as causas possíveis do seu aparecimento que podem estar
relacionados a fatores diversos, sendo o principal deles o abuso vocal.
Quanto ao tratamento fonoaudiológico, ela concluiu, de acordo com os
diferentes autores analisados, que a terapia vocal é a mais indicada,
podendo ser complementada com medicação, em casos de infecção,
inflamação e alergia das vias respiratórias. Quando necessário, uma
psicoterapia para adequar a dinâmica familiar, e para o tratamento
fonoaudiológico, só iniciá-lo quando a criança tiver idade para cooperar.

ZAFFARI; FEIJÓ & SCALCO (1999) realizaram um estudo com


46 alunos de 4 a 6 anos, de pré-escola e primeira série, de Escola
Municipal, com o objetivo de verificar, que intensidade vocal utilizavam
as crianças que apresentavam análise perceptivo normal. Os sujeitos
foram submetidos à avaliação de intensidade vocal, de vogal sustentada e
canto, registradas com medidor de nível sonoro. As autoras concluíram
que crianças dessa faixa etária apresentam grandes chances de realizarem
abuso vocal, principalmente por aumento da intensidade vocal.
Enfatizaram que é importante alertar escolas, professores e outros
profissionais que estão ligados à criança, para que desenvolvam
programas de prevenção de alterações vocais. Além disso, que era
33

importante a participação e colaboração da família, para adequar a


criança a situações de comunicação mais corretas.

FREITAS; PELA; GONÇALVES et al. (2000) realizaram um


estudo retrospectivo em 49 pacientes disfônicos, de 3 a 16 anos, em
ambulatório especializado de hospital terciário com objetivo de discutir
as principais causas da disfonia, destacando-se a importância do
diagnóstico precoce e a terapêutica adequada. Relataram que os nódulos
vocais foram as lesões mais freqüentes em meninos com menos de 12
anos e meninas a partir desta idade, parecendo sempre estarem
relacionados a abuso e/ou mau uso vocal. Os autores concluíram que
tratar precoce e adequadamente os distúrbios da voz na infância era
tarefa muito importante para os fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas,
uma vez que a criança poderia ter no futuro uma profissão na qual a voz
fosse a sua principal ferramenta de trabalho.

HERSAN & BEHLAU (2000) comentaram que a decisão de se


iniciar uma terapia para a disfonia infantil depende de como o problema
vocal está interferindo social e psicologicamente no desenvolvimento
global da criança. Elas enfatizaram que a terapia para a criança não deve
ser uma adaptação da que se aplica no adulto e sim que se leve em conta
a área da comunicação mais alterada como: linguagem, articulação,
leitura-escrita. Além disso, que se verifique o envolvimento da família
no programa de reabilitação, a motivação, a maturidade e a consciência
do paciente, considerando a saúde geral e o impacto do problema vocal
na vida da criança. Concluíram enfatizando que uma terapia de voz para
criança, deve incluir higiene vocal, valorização dos progressos obtidos,
34

orientação familiar e treinamento vocal com técnicas gerais e


específicas.

DELLA VIA (2000) verificou por meio de questionários


específicos a visão de fonoaudiólogos, otorrinolaringologistas e
pediatras, com relação à disfonia infantil e relatou que, na prática
clínica destas três áreas, ela ocorre com freqüência elevada. Para todas
as áreas, o processo de reabilitação vocal em geral, variou de 3 a 9 meses
e a maior dificuldade foi a conscientização das crianças e a orientação
familiar. A autora concluiu que a disfonia infantil traz uma preocupação
para os profissionais envolvidos, não só quanto ao diagnóstico e
tratamento, mas também quanto à prevenção desses problemas.

MANGEON & GIELOW (2000) apresentaram o caso de uma


menina de 5 anos, com um quadro de disfonia e queixa de desatenção,
hiperatividade, histórico de distúrbio de fala, linguagem e/ou
aprendizagem e alterações do Processamento Auditivo Central (PAC).
Os autores enfatizaram a importância de se desenvolver programas de
tratamento em casos de alteração no PAC, que incluam treinamento
auditivo, higiene vocal e a terapia propriamente dita.

BEHLAU, MADAZIO & PONTES (2001) ressaltaram que o


comportamento vocal abusivo é constante nas crianças com nódulos e a
intensidade vocal elevada é observada em todas as situações de vida da
criança, como nas conversações, na escola, em casa e nas brincadeiras
em geral. Para eles, a terapia fonoaudiológica é a conduta indicada para
este tipo de problema e o seu prognóstico depende do caso. Segundo os
autores, são necessárias a conscientização e colaboração da criança e da
35

família; caso contrário, a tarefa torna-se frustrante e desgastante para o


fonoaudiólogo.

BLOCH (2001) comentou que, no atendimento ao paciente de voz


e fala, é necessário registrar as falhas e analisar as causas do problema. A
partir daí, desenvolver um programa de terapia com o máximo de
rendimento exigindo do indivíduo o mínimo esforço. O autor enfatizou
também que como a função expressiva da palavra está unida à
comunicativa, é importante que ela consiga comunicar o que é verdade,
sem reserva alguma.

DINVILLE (2001) relatou as diferentes alterações vocais,


relacionadas com a idade, levando em conta as condições do seu
aparecimento. Para a autora, a voz é característica de cada tipo de
personalidade e, assim, as mais fortes são encontradas em crianças mais
hiperativas e as menos intensas nas crianças mais tímidas. Para
ela, o ambiente familiar interfere diretamente na forma de falar da
criança mas muitas vezes o alerta vem por parte do professor pois
geralmente os pais não prestam muita atenção no problema até que a
rouquidão se torna freqüente ou permanente.

FABIANO & BRASOLOTTO (2001) elaboraram um estudo


comparativo em 266 crianças disfônicas e não disfônicas, de escola de
Bauru - SP. O objetivo foi verificar as características mais habituais e a
conscientização dos pais quanto às alterações vocais. Concluíram que o
número de crianças com disfonia aumenta com a idade e que 70% dos
pais dessas crianças não são conscientes disso. Enfatizaram a
36

necessidade de conscientização de pais quanto aos distúrbios vocais bem


como a orientação e prevenção desses problemas.

FAWCUS (2001) afirmou que, na criança, o padrão de voz


hiperfuncional pode ocorrer por imitação de adultos, característica da
personalidade ou estrutura familiar como fonte de ansiedade, angústia,
aflição, irritação e amargura. Ela propôs que o fonoaudiólogo faça um
exame detalhado do estilo de vida da criança para que possa eliminar os
fatores ambientais inadequados associando-se técnicas reabilitadoras
específicas. Concluiu enfatizando que é muito importante a boa vontade
e a iniciativa da criança, pois o sucesso final da terapia dependerá do
equilíbrio entre o objetivo ideal e o prático. Acrescentou que o
fonoaudiólogo tem como papel ajudar o paciente a se avaliar
constantemente e este a participar efetivamente no seu tratamento.

PELA & BEHLAU (2001) pesquisaram em um coral de 51


crianças, de 6 a 13 anos, alguns parâmetros vocais decorrentes da
utilização de exercícios para aquecimento vocal e do ensaio
propriamente dito, antes e depois deste. De acordo com os resultados, as
autoras concluíram que o canto, quando bem orientado, pode ajudar no
tratamento das disfonias infantis, mas não substituir o processo
terapêutico. Segundo as autoras, o canto tem reflexo na qualidade vocal,
na freqüência fundamental média e proporção harmônico- ruído,
inclusive colaborando no processo de muda vocal.

PINHO (2001) salientou que a base da terapia fonoaudiológica


para a criança disfônica é a orientação familiar, em que o
comportamento dos pais em relação a ela deve ser alterado. A autora
37

enfatizou a necessidade do tratamento fonoaudiológico para que a


criança possa mudar os hábitos e o comportamento vocal a fim de
prevenir seqüelas para a vida adulta. Ela acrescentou que é necessário o
trabalho com a melodia na fala espontânea, uma vez que as crianças
tendem a usar as variações de intensidade quando desejam alguma coisa
e também que se desenvolva boa percepção auditiva dos aspectos
relativos ao seu distúrbio.

CAVADAS, PEREIRA & BEHLAU (2002) estudaram a


correlação entre disfonia infantil e desordens do Processamento Auditivo
Central-PAC, por meio de considerações teóricas e da descrição de casos
de crianças que apresentavam alterações nessas áreas. As autoras
concluíram que para crianças com disfonia, é necessária a avaliação do
PAC. Elas sugeriram que na presença de alteração fosse realizado o
treinamento auditivo na primeira etapa da terapia. Acrescentaram que
ainda são necessários o controle dos abusos vocais e o desenvolvimento
da higiene vocal adequada. Para elas, a reabilitação fonoaudiológica da
criança disfônica deve ser considerada um trabalho de competência
comunicativa, sendo valorizado o binômio voz-audição.

Você também pode gostar