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Ecofsiologia do Artz Visando Atas Produtvdad vidades 4. Uso da agua em arroz irrigado Jeper Maus Alberto, Felipe Schmict Dalla Porta’, Gonz Snot Zanor®, Anderson Haas Poersch®; Ary José oe nce ee Alencar poim Ribero® Giovana Ghisleni Ribas loran Guedes Rosales teen Piocco%; Lorenzo Dalcin Meus?; Michel Rocha da Siva Molses de Fncetoe Rasemento%; Pablo Mazzuco de Souza; Viadison Foglate Pees itas do Sreck. allato Pereira?; Nereu Augusto A agua € um recurso em escassez a nivel de mundo (Mekonnen & Hoeskstra, 2016) e a racionalizagaio de seu uso é imprescindivel para produzir alimentos de maneira sustentavel, Aescassez de agua pode ser imposta aos agricultores nao ape- nas por secas ou estiagens, mas também por legislagées relaci- onadas ao meio ambiente ou por pressées politicas de tomadores de decisao. O incremento na populagao mundial, associado ao aumento da necessidade de produgao de alimentos acarreta em incremento na demanda de dgua e na competicdo por esse re- curso entre o setor agricola, industrial e urbano. Um dos principais aspectos relacionados a sustentabilidade na agricultura consiste em maximizar a eficiéncia do uso de agua (EUA), aumentando a produtividade da gua (kg arroz m? de Agua aplicado). Outra forma de mensurar a EUA consiste em calcular a produtividade da agua em relagao a agua transpirada (kg de arroz m® de agua transpirada), que pode indicar cultivares e manejos mais eficientes no uso da agua. O cultivo de arroz irrigado em terras baixas requer gran- des quantidades de Agua, pois hd a necessidade manter a lamina de agua sobre a superficie do solo durante a maior parte (cerca de %4) do ciclo de desenvolvimento da cultura, visando maximizar : Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Campus lagu, aqui, Fo Grande do ul, Brasil ® Instituto Nacional de Investigacién Agropecuétia (INIA), Tacuarembe, Uruguas ° Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Departamento de Fitotecnia, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil 145 Ecofisiologia do Arroz Visando Altas Produtividades o crescimento e a produtividade de graos. Na irrigagao por inun. dagao, o uso de agua pela cultura do arroz varia de 8.000 a 15,99 m? ha’', tornando a eficiéncia desse recurso de aproximadamen. te 1,4 m® para produzir 1 kg de graos nas zonas subtropicais da ‘América do Sul (Carracelas et al., 2019c). Apesar do grande con. sumo de agua, a América do Sul ainda possui maior eficiéncia em relagao a valores reportados ao redor do mundo, variando de 0,2. a 1,1 kgm de agua (Bouman et al., 2007; ‘Shudir-Yadav et al., 2020). Além da irrigagdo por inundagao continua, existem alter- nativas para o cultivo do arroz irrigado, sendo elas: irrigacao de lamina variavel ou intermitente, MSA (Molhamento e Secamento Alternado), controle e monitoramento da lamina de agua, uso de mangueiras de irrigagao e irrigagao por aspersao através de pivé central (aerdbica). Essas alternativas permitem maximizar a efi- ciéncia e produtividade de agua de irrigagao. ‘Acficiéncia no manejo da irrigagao nas lavouras de arroz na América do Sul subtropical vem aumentando nas Ultimas décadas, tanto pelo consumo de Agua que foi reduzido, como pelos niveis de produtividade que aumentaram. Esse aumento em eficiéncia se deve principalmente a entrada de agua precoce associada com a aplica~ Ao de nitrogénio em cobertura, langamento de cultivares resistente aenfermidades e com alto potencial produtivo (Menezes et al, 2013). O manejo da irrigagao é uma importante pratica para elevar os nie veis de produtividade, pois além da agua atuar no aumento da dis- ponibilidade de nutrientes na solugao do solo, possui papel funda- mental no manejo de plantas daninhas e na regulacdo das altera- bes térmicas do solo e do ar (Reche et al., 2016). Existe mais de uma forma de se manejar a irrigagao N@ lavoura arrozeira, que dependem da regiéo de produgao e 40 sistema de cultivo adotado: 0s tipicos solos de produgao de arroz so classificados como “terras baixas" (ou solos de varzea’), que * 0 que garante esta condigo de alai a O ondigdo de alagamento esta relacionado com caracterists tisicas desses solos, como baixa profundidade efetva, porosidade o aeracae, 2 le © principaimente a deficiéncia na capacidade de drenagem. 146 Ecotisiologia do Arroz Visando Altas Produtividades tém por caracteristica principal a facilidade de inundagao em pelo menos um periodo do ano. Aseqguir, é abordado 0 método de irrigagao por superficie através de dois sistemas, inundagao ou lamina continua e lami- na varidvel (do inglés Alternate Wetting and Drying - AWD), e 0 método de aspers&o por pivé central para a cultura do arroz. A escolha do método e do sistema de irrigagao deve ser baseada em fatores como tipo de solo, grau de investimento, planejamen- to de uso da area e capacidade de fornecimento de agua. 4.1. Irrigago por inundagao O sistema de irrigago por inundagdo é um método de irrigagao por superficie, caracterizado pela manutengao de uma lamina permanente de agua sobre o solo durante a maior parte do ciclo do cultivo. Nesse sistema pode ser realizado tanto a se- meadura direta em solo seco quanto o sistema pré germinado. Neste método de irrigag&o por superficie 6 necessario o nivelamento ou a sistematizagao da lavoura para a manutengao da lamina de agua durante o desenvolvimento da cultura. A lami- na aplicada deve ser suficiente para saturar 0 solo e atender a evapotranspiracao da cultura e as perdas por percolagao e infil- tragées laterais (Yoshida, 1981; Fornasieri Filho & Fornasieri, 2006). Além do momento de iniciar a irrigagéio, a uniformidade da altura da lamina de agua é outro fator importante a ser mane- jado, principalmente nos estagios vegetativos iniciais. A altura da lamina de agua deve ser de 2,5 a 5 om, nessas condigdes ha o melhor desenvolvimento da planta e eficiéncia no uso da agua. Laminas acima dos 10 cm, podem ocasionar redugao no perfilhamento e estiolamento das plantas nos estagios iniciais, aumentando as chances de ocorrer acamamento. Para a forma- cdo da lamina de agua e inicio da irrigagao recomenda-se uma 147 a Ecofisiologia do Arroz Visando Altas Produtividades vazao média entre 3,0 5,0 L sha", ja para manutengag da lamina de irrigagdo recomenda-se vazées de 0,70 a 1,75L 51 hat (Stone, 2015). : No sistema pré-germinado de cultivo de arroz, a inunda. go do talhdo ocorre antes do processo de semeadura por conta das operagdes de preparo do solo. Este sistema de cultivo pos. sui algumas desvantagens e a principal é a desestruturacao do solo devido, principalmente, a permanéncia da lamina de agua por longos periodos. Como vantagem deste sistema, pode-se destacar a economia de agua durante 0 ciclo de cultivo, visto que as chuvas podem ser utilizadas como fonte para a formacao e manuten¢ao da lamina de agua. No sistema de semeadura do arroz em solo seco, a for- magao da lamina de agua deve ser realizada até o inicio do perfilhamento, visto que 0 momento de inicio da irrigagao e a velocidade com que se completa a formacao da lamina de irriga- 40 sao chaves no manejo para altas produtividades. Em um estudo com 266 lavouras de arroz no Rio Grande do Sul, foi ve- rificado que as perdas de produtividade devido ao atraso em com- pletar a irrigagao e formagao da lamina de agua podem chegar até a 430 kg ha" dia” (Figura 71). Essas perdas ocorrem princi- palmente devido a queda na eficiéncia do uso do nitrogénio devi- do a volatilizagéo da uréia e a menor eficiéncia no controle de plantas daninhas. A velocidade para se completar a irrigaga0 depende principalmente da vazao do sistema de irrigagao, 4° numero de entradas de agua na lavoura, do tipo de solo e oco” réncia de chuvas. 148 Ecofisiologia do Arroz Visando Altas Produthidades 430 kg ha" diat Produtividade (Mg har’) 3 n= 266 lavouras 0 5 10 15 20 25 Dias para completara irrigagaio Figura 71. Produtividade de graos (Mg ha") em fungo dos dias para comple- tara irrigago em lavouras de arroz acompanhadas pelo projeto 10+ nos anos agricolas de 2016/2017, 2017/18 e 2018/19 no estado do Rio Grande do Sul. A linha preta representa a fungdo limite. O valor em vermelho (-430 kg ha dia’) representa a perda maxima de produtividade por dia em funcao do niimero de dias para completar a irrigaco. A cultivar IRGA 424 Rll representa 94% dos Pontos analisados. Fonte: Equipe FieldCrops, UFSM e Irga. 4.1.1. Manejos alternativos a irrigacao por inundagao continua Existem diversos manejos de irrigagao alternativos a irri- gagao por inundagao continua que visam aumentar a produtivi- dade da agua, redugdo da acumulagao de arsénio nos graos (Capitulo 8) e redugdo de impactos ambientais por menor emis- Sao de gases do efeito estufa (Linquist et al., 2015; Tarlera et al., 2016). Dentre esses manejos alternativos se destacam a irriga- 40 intermitente (IRI) e técnicas que alternam entre periodos de Secamento e inundagao do solo, conhecido como molhamento € Secamento alternado (MSA), do inglés Alternate Wetting and Drying - AWD. 149 Ecolisiologia do Arroz Visando Allas Produtvidades Irrigagao por inundagao intermitente 4l O manejo da irrigagao por inundagao intermitente consis. erromper a irrigagao de modo a eliminar a lamina de Agua por periodos intermitentes, e retornando a inundagao antes do secamento do solo, de maneira que a umidade do solo se man- tenha sempre em condigdes proximas a de saturagao. O aumento na eficiéncia do uso da agua ocorre principalmente devido ao au- mento no aproveitamento da agua da chuva e diminuigao de perdas laterais (Massey et al., 2014; Carracelas et al., 2019c). Buscando aprimorar essa técnica, estudos no Uruguai iden- tificaram manejos que permitem redugao no gasto de agua sem decréscimo na produtividade de gréos. Esses manejos permiti- ram economia de agua de cerca de 35% (4000 m® ha"), em rela- Ao a irrigago por inundagao continua, com manutengéo da pro- Gutividade e qualidade de gros. Quando adotada a irrigagao in- termitente durante todo 0 ciclo de cultivo, ha chance de reducao no rendimento de gros inteiros, portanto, deve ser levado em consideragao as condigdes climaticas e tipos de solo da regio para a tomada de decisdo. te em int 41 Irrigagéo por Molhamento e Secamento Alternado (MSA) ou Alternate Wetting and Drying (AWD) Essa técnica consiste em alternar periodos de irrigaga0 por superficie e secamento do solo, sendo que a diferenga entre MSA e a irrigagao por inundacdo intermitente, é que no MSAha © consumo completo da lamina de agua e secamento do solo. Esse manejo pode estar associado a diferentes niveis de estresse hidrico nas plantas, que sera decorrente dos dias de manuten G40 do solo seco e da fase de desenvolvimento da cultura. Na0° recomendado que o potencial de agua no solo atinja nivels me Nores que 20 kPa, pois nesse nivel de estresse comega a ha redugao na produtividade de gréos (Carrijo et al., 2017). Em && tudo realizado no Uruguai, utilizando o MSA na fase vegetal Se conseguiu reduzir 0 consumo de agua em 50% com redugae Na produtividade de grdos de cerca de 15% em relagao a Imig 150 Ecolisiologia do Arroz Visando Altas Produtvidades 40 por inundagao continua (Figura 72). Essa técnica é reco- mendada quando se busca reduzir a acumulagao de Arsénio nos graos de arroz. econ A eg . ——— — eee ‘mrocuendae gan ce mgests tg anaz m) Prt ce tend gute (ge) Figura 72 - Produtividade da égua da irrigagao em fungo do método de irriga- (40 em arroz (A) em diferentes regides do Uruguai (B). Circulos pretos repre- sentam as médias, barras azuis indicam 0 erro padrao e flechas vermelhas 0 intervalo de confianga por Tukey. Letras distintas indicam diferenga significati- va entre tratamentos (P<0,). C: Irrigagao por inundagéo continua, IP: irriga- (40 intermitente até R1, INT: irrigago intermitente durante todo 0 ciclo, AWD: Alternancia entre solo umido @ seco (até 50% da capacidade de campo) até 1. Fonte: Carracelas et al. (2019¢). E importante considerar que a economia de agua a nivel de lavoura comercial so é justificada quando estiver associada com redugo do custo da irrigagdo, de forma que o decréscimo na produtividade de graos seja compensado pela redugao de cus- tos, ou, quando a possibilidade de explorar uma maior drea de produgdo irrigada, de forma que essa area maximize 0 lucro total da operagao. : Para adogao dessa técnica é necessario que a area tenha Nivelagao uniforme e boa vazao de agua, de maneira que se con- siga re-inundar a drea de maneira rapida e precisa. Caso contra- Tio, a redugao na produtividade de graos inviabiliza a pratica. Como alternativa de manejo para facilitar a re-inundagao, 0 uso de man- Queiras de irrigagao (Figura 73) é um sistema eficiente e de facil implementagdo em escala comercial, com capacidade de incrementar a produtividade ao mesmo tempo que reduz 0 con- 151 coisiclogia do Arroz Visando Alias Produitivdades lo a facilidade @ velocidade em que a lan tabelecida (Massey et al., 2014). Gan a adotar esse manejo é a realizagan de nivel varidvel, que permite diminuir dade de escoamento da agua na taveans ra, sumo de agua, devid de agua pode ser rest nica eficiente par nivelamento com des! iar a veloci tos e aument iras logo apos @ Figura 73 - Inicio da irigagao com & utiizagao de manguel ado. Alegreles aplicacao de nitrogenio em solo sere ‘em lavoura de arroz irrig ary Grande do Sul, 2019. Fonte: Cassio Kostulski. © uso de tecnologia também facilta a adogao do monitoramento da irrigagdo por imagens de satélite e drones far cilitam 0 acompanhamento das lavouras e a detecgao rapida d@ reas com problemas na irrigagao. fertilizacdo ou ent fnalitando as decisoes de manejo em DUS imizar a PIO” a de maxi Gutividade de graos (Carracelas et al. 2017b). 152 — ll ee Evofisilogia do Arroz Visando tas Produtvidades Supressao de irrigagao e manejo pés colheita A supressao da irrigacao na lavoura de arroz e o manejo da palhada deixada pelo cultivo desempenham um papel impor- tante no manejo pds colheita e preparo antecipado da area para aproxima safra. Aquantidade de palha produzida em uma lavou- rade arroz € diretamente proporcional a produtividade de graos, numa relacao. chamada de indice de colheita. O indice de colh ta (IC) das cultivares modernas se encontra ao redor de 0,5, por- tanto, para uma lavoura que produz 12 Mg ha"'de graos, a produ- gao total de matéria seca de parte aérea serd de 24 Mg ha’, da qual 12 Mg ha'' sero de resteva que ficarao sobre o solo, o que pode ser positivo do ponto de vista de sistema plantio direto, mas dificultara o preparo de solo para o préximo cultivo de arroz. Quem ir determinar a taxa de decomposic&o da palha s40 os microorganismos presentes no ambiente, onde microorganismos aerébicos sao mais eficientes na decomposi- go de palha que os microorganismos presentes em solos alaga- dos. Por isso, é importante a supressiio da irrigagao para que a colheita seja realizada em solo seco, pois além de proporcionar economia de combustivel e menor desgaste do maquinario, per- mite que a decomposigdo da palha ocorra mais rapidamente. A colheita em solo seco possibilita também que o produtor nao tenha que revolver o solo para corrigir rastros de maquinas, dando con- digdes para o préximo cultivo ser realizado através de plantio direto, e também que o banco de sementes de plantas daninhas no seja estimulado a germinar. Em colheitas realizadas em meados de fevereiro e marco No Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina 0 rebrote da resteva 6 acentuado. Neste sentido, 6 importante a realizagao de alguma pratica de manejo visando controlar essa brotagéio, como, por exem- Plo, a utilizagdo de rolo faca ou aplicagao de um herbicida sistémico. Os beneficios deste manejo contribuem para a decomposigao des- ta palha e ainda favorecem que a palha esteja em contato com 0 Solo @ evitam que a resteva possa produzir sementes. 153 & dd Ecofisiologia do Arroz Visando Alas Produtividades Para a tomada de decisao de quando realizar a Supresss da irrigacdo é importante que seja observado as condicieg + maticas e 0 tipo de solo. Em solos argilosos (de baieg condutividade hidraulica), a supressao da irrigagdo pode corn, de 10 a 15 dias apés a floragao plena. Entretanto, solos reno. sos tendem a secar mais rapidamente, 0 que, associado a tem. peraturas elevadas podem acelerar a maturagao e Ocasionay perda de umidade do grao acelerada, 0 que pode compromete; g rendimentos de graos inteiros. Nestas situagGes, 6 recomengg. vel que o produtor suprima a irrigagao mais prdéximo da Colheita para evitar queda no rendimento de grdos inteiros. 4.2. Irrigagdo por aspersao Airrigag&o por aspersao tem por objetivo aumentar a efici- éncia do uso da agua na lavoura de arroz, com possibilidade de reduzir de 40 a 60% o uso da agua e elevar a eficiéncia no uso de recursos, desde que as caracteristicas técnicas sobre o ma- nejo da cultura sejam conhecidas e adaptadas (Pinto et al., 2016), Na América do Sul, o principal sistema de irrigagao por aspersao 6 através de pivé central (Figura 74). Figura 74 - Vista parcial de ump central em lavoura de arroz em terras baixas, no municipio de Magambara, RS, 2019. Fonte: Rodrigo Toledo. 154 \ Ecofisiologia do Arroz Visando Altas Produtividades Pensando no lucro do produtor, a irrigagao por aspersao através de piv central possibilita reduzir os custos de produgao ematé 15% devido a menor necessidade de m&o-de-obra, dimi- nuigao ou eliminagao do preparo do solo, menor depreciagdo do maquindrio, redugao dos custos com bombeamento de agua, en- tre outros. A possibilidade de adotar o plantio direto 6 um fator importante a ser mencionado nesse sistema de produgao, pois a redugao da atividade mecanizada, decorrente da retirada das cur- vas de nivel, permite 0 manejo conservacionista do solo. Soma- do a isso, a possibilidade de realizar rotacao de culturas e a integragao lavoura-pecuaria (LP) também sao facilitadas, permi- tindo ao produtor diversificar a matriz produtiva e inserir a cultura do arroz em areas no favoraveis ao cultivo de arroz por inunda- gao. Outro fator positivo 6 que a retirada da lamina de agua re- duz a emissao de CH, (metano), importante gés causador do efeito estufa, seguindo os conceitos preconizados pela agricultu- ra de baixo carbono, mitigando os efeitos do aquecimento global (Buendia et al., 1997). Porém, mesmo com todas as vantagens ao sistema pro- dutivo e com a crescente adogao deste método de irrigagéo nos Ultimos anos, sua utilizagéio para a produgdio de arroz ainda gera duvidas entre os produtores. Dentre as principais questées, ha duvidas sobre como o arroz tradicionalmente cultivado em siste- ma de irrigago por inundagao se adapta as condigdes aerdbicas? Quais as melhores cultivares a se utilizar nesse sistema? Qual a necessidade hidrica nas diferentes fases do desenvolvimento? Neste item serao abordados aspectos relacionados a pratica de irrigagdo por aspersao e sanar algumas dessas duvidas. 4.2.1. Como o desenvolvimento e crescimento do arroz 6 afetado pela disponibilidade hidrica? Além da temperatura do ar, a disponibilidade hidrica tam- bém regula a duragao do ciclo de desenvolvimento do arroz, tor- Nando fundamental o entendimento da resposta das plantas em 155 Ecolisologa do Arroz Visando Altas Produtvidades diferentes ambientes de produgao. O cultivo do arroz em Solog com auséncia da lamina de agua altera caracteristicas basicag de seus processos de crescimento e desenvolvimento, pois a exclusao da lmina de agua durante © ciclo de cultivo proporci. na a elevagao da temperatura do dossel, 0 que ocasiona reqy. ao ou alongamento do ciclo, dependendo das condigoes hidricas (Bosco et al., 2009). Em relagdo ao déficit hidrico, 0 impacto no desenvoly. mento do arroz depende da duracao e intensidade desse estresse, e sua resposta ocorre conforme a fase de desenvolvimento em que a cultura se encontra. De maneira geral, quanto menos agua disponivel maior é 0 estresse, ocasionando alongamento na du- ragao do ciclo do arroz (Bartz et al., 2017) (Figura 75). Aresposta do alongamento do ciclo é muito observada na Fronteira Oeste do RS, onde ha 0 predominio do cultivo do arroz sobre taipas com a irrigagdo por inundagao. Dependendo do tem- po em que a agua chega ao final da lavoura, observa-se uma diferenga de ciclo entre as plantas. As primeiras plantas a rece- berem irrigagao completam o ciclo antes das plantas do final do talhdo, gerando desuniformidade de colheita e, por consequéncia, de produtividade. Por conta dessa resposta, conhecer a evapotranspiraga0 da cultura (ETc) garante que uma cultivar sob sistema de irriga- 40 por aspersao finalize uniformemente seu ciclo e express? seu maximo potencial produtivo, pois este parametro é muilo importante na tomada de decisao sobre quanto irrigar. Cultivares de arroz de terras baixas com léminas de irrigag&o acima de 100% da ETc completam o ciclo de desenvolvimento, diferentemenl® Para 0 arroz irrigado com laminas de 0 ¢ 50% da ETc, que a sam ou nao completam o seu ciclo de desenvolvimento na ma” tia dos anos (Figura 75). 156 Ecotisiologia do Arroz Visando Altas Produtividades Lamina (8) Figura 75. Soma térmica acumulada (STa, °C dia) nas fases de desenvolvi- mento vegetativo (EM-R1), reprodutivo (R1-R4) e enchimento de graos (R4- 9) de arroz de terras baixas irrigado por laminas de aspersdo (0%, 50%, 100%, 150% e 200% da evapotranspiragao da cultura), calculado por seis métodos de soma térmica (A= 1.1; B= 1.2; C= 2.1; D= 2.2; E= 3.1 0 F= 3.2), com dados de trés anos agricolas (1= 2010/11; 2= 2011/12 @ 3= 2014/15) em ttaqui - Rio Grande do Sul - Brasil, Letras mintisculas comparam valores de cada método em cada fase de desenvolvimento, para as laminas de irrigagao do ano agricola 2014/2015, sendo que letras iguais no diferem pelo teste de Tukey (p<0,05). Fonte: Bartz et al. (2017) - Unipampa. 157 a Ecotisologia do Arroz Visando Altas Produtividades, Para o crescimento da cultura, a tendéncia é que haja re dugao na altura de planta, pols nao ha necessidade da Planta alongar seus entrends em resposta a lamina de agua. Além dig. 0, em situacao de déficit hidrico, a turgescéncia celular 6 req, zida, impactando nos processos de fotossintese e Tespiracao celular, Quando ha escassez hidrica durante a fase vegetativa, 9 ciclo aumenta (Figura 76), o numero de perfilhos diminuiy e, consequentemente, o numero de paniculas por area. Ja na fase reprodutiva, o numero de graos por panicula e a massa de Graos s40 os componentes de produtividade mais penalizados, Figura 76. Experimento @ campo em Itaqui - Rio Grande do Sul - Brasil, d& monstrando a diferenga no ciclo de desenvolvimento de arroz de terras baixas Submetidos a diferentes laminas de irrigagao por aspersao de R1 a R9 (Counce tal., 2000) no ano agricola 2017/2018. Fonte: Equipe Field Crops e Unipamps 4.2.2. Como quantificar a necessidade de irrigaca0? Para quantiicar a necessidade de irrigagao devemos °° Meta aas caracteristicas fisicas do solo e as condica% teorolégicas predominantes no ambiente. Dos paramet'0S nhecet 158 Ecofisiologia do Arroz Visando Altas Produtividades fisica do solo, a taxa de infiltragao e curva de retengao de agua no solo sao as caracteristicas mais importantes, pois irao deter- minara intensidade © 0 momento correto de aplicagéio. Com base nesses atributos, € possivel realizar o dimensionamento do sis- tema de irrigacéo por aspersao, evitando perdas de agua por escoamento superficial e determinando a frequéncia de irrigagdo necessaria para a cultura. O manejo da irrigacao pode ser feito com medidas do con- teudo de agua do solo, medidas biométricas e fisiologicas da planta ou estimada a partir de elementos climaticos. A escolha do método para definigéo do manejo de irrigagéio dependera de fatores econémicos e das condiges edafoclimaticas do local. A utiiizagao de tensiémetros para decidir 0 momento da irrigagao de arroz de terras baixas, nao se mostra muito eficiente, pois os valores de tensao de agua no solo usados para a cultura sao proximos de zero, devido a alta exigéncia hidrica das plantas. Logo, é necessario realizar a irrigagao didria da cultura, 0 que neste método de irrigagdio, onde irriga-se a capacidade real de armazenamento de dgua no solo (CRA), gera perda por excesso de agua aplicada, onde o solo apresenta-se sempre préximo a capacidade de campo (CC). Uma das metodologias mais usadas para definir quando e quanto irrigar 6 a estimativa da evapotranspiracao da cultura (ETc). A ETc é 0 somatério da perda de dgua por meio da transpiracdo das plantas e evaporacao de agua do solo. Para o cAlculo da ETc, multiplica-se a evapotranspiracao de referéncia (ETo) pelo coeficiente de cultura (Kc) (Allen et al., 1998). Apos quase 10 anos de estudo, trabalhando com diferen- tes laminas de irrigagdo no arroz irrigado por aspersao (0, 50, 100, 150, 200 e 250% da ETc) buscou-se determinar 0 Ke ade- quado para as cultivares de arroz de terras baixas hoje disponi- veis no mercado (melhoradas geneticamente para 0 sistema de irigagao por inundagao). Nestes experimentos, foi possivel ob- servar que elevadas produtividades sao obtidas nas laminas de 150 e 200% da ETc (até 12 Mg ha'') calculada com base nos 159 —_— NE RR Ecofisiologia do Arroz Visando Altas Produtividades Itura indicados por Allen et al. (1998), para Se aeii (Tabela 20) ou seja, as atuais culti a es possuem uma demanda hidrica maior para exp) seu potencial produtivo. : ae Para realizar 0 calculo da lamina de irrigagao bruta (3) para arroz irrigado por aspersao, tem-se a equacao: LB= ETo'Kg) Ea; sendo, LB a lamina bruta de irrigagao (mm); ET) ‘ evapotranspiragao de referéncia (mm); Kc 0 coeficiente da Cultu- ra (Allen et al., 1998); Ea a eficiéncia de aplicagao do sistema dg irrigagao (0 a 1). Os valores de coeficiente de cultura (Ke), utili. zados até 0 momento (lamina de 100% da Etc), foram de 1,05 até 20 dias apés a emergéncia (DAE), de 1,125 de 21 até 49 DAE, de 1,2.de 41 até 95 DAE, ¢ de 0,9 a partir de 95 DAE (Allen et al., 1998). Cada 'Vares Tessar Tabela 20. Laminas de irrigagéio de 100 e 200% da ETc (mm) ¢ chuva (mm) para as fases de EM-R1 (vegetativa), R1-R4 (florescimento) e R4-R9 (enchimento de gréos) (Counce et al, 2000) em lavoura de arroz irrigado por pivé central no ano agrl- cola 2018/2019. Uruguaiana/RS. Fonte: Equipe FieldCrops. Fase de Desenvolvimento [SL EMR1ORL-R4 RRO Lamina de 100% daETe 117,00 158.95 106,94 382,89 Lamina de 200% da ETe 234,00 317,90 213,84 765,74 Chuva 825,00 97,40 59,40 981,80 Dessa forma » Como exemplo pratico, calcula-se a LB Pal? con eae Para 0 municipio de Itaqui-RS com ETo =e | Ea = 0,8 (80%), ao: a cored Vamina de 100% q is s 85 DAE, sendo esta consi la LB= 4,38 + 1,125 /0,8 = 6,15 mm. 160 Ecofisiologia do Arroz Visando Altas Produtividades 4.2.3, Produtividade de gréos em dreas de irrigagdo por aspersao A produtividade do arroz irrigado por aspersao, desde que conduzido em ambiente com correto manejo da irrigagao, é simi- lar as produtividades obtidas com a irrigagéio por inundagao (Fi- gura 77). Além da lamina de irrigagao aplicada na cultura, a chu- va tem influéncia direta na produtividade de graos. Anos com maior volume de chuva e distribuig&o mais homogénea auxiliam a suprir a necessidade hidrica do arroz, reduzindo o numero de irrigagdes. Além disso, existe a expresso genotipica, pois cada cultivar pode apresentar potenciais de produtividade diferentes quando cultivadas no sistema aerébico. 100% daETe M150%daETe m200% da ETe Produtividade de griios (Mg ha) e © IRGA BRIRGA IRGA IRGA IRGA PUITA INOVCL XP 102 424-409-428 417-429 INTACL. cu Figura 77. Produtividade de diferentes cultivares e hibridos de arroz irriga- do sob diferentes lAminas de irrigagao por aspersao (100, 150 ¢ 200% da ETc) Fonte: Equipe FieldCrops e Unipampa. 4.2.4, Qualidade de graos O valor obtido pela saca de arroz esta atrelado a qualida- de de graos de arroz, pois na industria ha bonificagao ou Penalizacao no prego pago aos produtores em fungao da quali- 161 — ——<$ ll Ecolisiologia do Artoz Visando Altas Produtividades dade dos graos de arroz. A qualidade de gros ¢ derivada qe diversos fatores: a caracteristica genética e acdes ligadas, a0 manejo da cultura sdo determinantes sobre a qualidade do ma- terial entregue a industria. eee De acordo com Meus et al. (2018), no foi veriicada dite. renga na qualidade de graos entre arroz de terras baixas itrigado por aspersao e arroz irrigado por inundacao. Nesse estudo foj comprovado que a diferenca na qualidade de graos esta mais correlacionada com 0 gendtipo do que com 0 método de irriga- a0 (Tabela 21). Tabela 21. Rendimento de grdos inteiros e quebrados (%) e ren- da do beneficio (%) de cultivares de arroz de terras baixas (IRGA 417, IRGA 424 e INOV CL) sob lamina de irrigago por aspersao (150% da evapotranspiragdo da cultura) e inundagao, no ano agricola 2011/2012. Itaqui, RS, Brasil. Adaptado de Meus et al. (2018) - Equipe FieldCrops. ieee ceases Irrigagao eee Aspersio Inundado Renda do beneficio IRGA417 67,77 ak 67,01 aA IRGA424 66,73 aA, 67,49 aA Nov ci 65,27 bB 66,93 aA Le” _ ea 61,59 aA 63,53 aA IRGA 424 53,24 ba, 55,93 bA | Nov ci eae payee RGM,

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