1.Introdução: Como funciona a logística da fazenda
No dia 25/05, realizamos uma visita técnica no município de Bragança
Paulista em propriedade rural do produtor rural Beto, que cuida de 12 hectares arrendados e destinados ao cultivo de couve-flor, e em paralelo em alguns talhões ele realiza o cultivo de milho, soja, aveia e triticale ou trigo objetivando a rotação de culturas. Com relação a logística da fazenda, eles contam com oito pessoas na equipe, sendo que durante a época de colheita, mais três funcionários são esporadicamente contratados. Semanalmente são plantados entre 1 e 1,2 ha com densidade de 35 a 40 mil mudas/ha e ao fim desse ciclo a couve-flor é vendida para clientes como Indústrias em geral (exemplo: Cabreúva- responsável pelos produtos da turma da mônica), Hortifruti Solar e outros tipos de mercado fresco também.
2.Escolha de cultivares:
O produtor relata que faz uso de cultivares de verão, meia-estação e inverno
para permitir produção o ano todo. Durante o verão, a variedade mais utilizada é a Veneza por apresentar boa resistência ao estresse hídrico, com produção destinada ao mercado fresco e vendida por unidade, pois nessa época, as cabeças de couve-flor são mais leves, mas além dessa, às vezes ele adota a variedade Verônica. O ciclo da planta durante esse período é curto com colheita aos 60 dias após o plantio. Já como cultivares de meia-estação, o produtor cultiva as variedades Havana e Barcelona com ciclo de 75 a 80 dias, podendo se estender a 90, 100 dias se não ocorrer o frio necessário para produção tendo em vista que elas necessitam de um acúmulo de horas frio para que possam entrar no estádio reprodutivo. Por fim, as cultivares de inverno adotadas são Furlan, Alcala, Curlana e Flamenco. Estas, são destinadas à indústria, por apresentarem maior peso (1 a 1,2 kg/cabeça), coloração branca, compacta e característica de cogumelo, critérios estes exigidos pela indústria. Segundo o produtor, as empresas fornecedoras das cultivares variam entre Syngenta, Bejo e Semilis, sendo que durante a visita, a representante desta última esteve presente para avaliação da situação e desenvolvimento das plantas. É válido ainda ressaltar, que durante a explicação o produtor comentou sobre o fato das cultivares de inverno serem bastante tolerantes a diversos eventos, entretanto, as geadas acompanhadas de granizo são muito problemáticas e causam perda produtiva expressiva, sendo que quando dão abertura para entrada de patógenos como bactérias são piores. Figura 1: Couve-flor observada no campo.
Fonte: Arquivo pessoal (2023).
De modo complementar, e com base na sua experiência a campo, o produtor
também compartilhou que cultivares de verão, quando plantadas durante o inverno ficam submetidas ao não florescimento devido a sua baixa adaptabilidade associada a incapacidade em acumular as horas frios necessárias, bem como tende a ficar com aparência mais rosada e maior pilosidade no caule. Caso contrário, quando as cultivares de inverno são plantadas no verão, ocorre o não desenvolvimento das cabeças de couve devido ao mesmo efeito exposto anteriormente.
3. Preparo do solo, plantio e adubação
Como manejos adotados, além da rotação de cultura com intuito de melhora
das propriedades físico-químicas do solo, especialmente pensando na aeração e estruturação do solo para o recebimento das mudas e visando também redução da população de pragas, para o preparo do solo, são realizadas a gradagem e subsolagem (a depender da compactação avaliada), além da calagem baseada na análise de solo e correção de solo a cada 3 anos. Ainda, as mudas, antes do plantio recebem tratamento para cigarrinha com o uso do inseticida Actara, e no momento do plantio são estabelecidas num espaçamento de 0,45 x 0,80 metros. Com relação a adubação adota-se o NPK HMaster 04-14-08 (1 ton/ha) da empresa Yoorin, sendo que durante o desenvolvimento da cultura também é utilizado o NPK 20-00-20 (4 ton/ha) a lanço vinte dias após o plantio, acompanhado de duas aplicações de fertilizantes foliares que fornecem principalmente Boro e Molibdênio, objetivando mitigar distúrbios fisiológicos e deficiências nutricionais. Além disso, o manejo das daninhas também é fundamental, especialmente para o controle do mato infestante, sendo a beldroega uma das mais problemáticas, para tanto é utilizado o Dual gold logo após o plantio (sistema plante-aplique). 4. Manejo geral da cultura
Para garantir qualidade e produção, a lavoura é irrigada duas vezes por
semana e um dia antes da colheita (garantindo maior frescor e durabilidade ao produto), com quantidade da lâmina d'água não mensurada. Associada ao diesel, a irrigação é um dos maiores custos da fazenda. Além do cuidado com as cigarrinhas a partir do uso do Actara, o produtor também faz uso de biológicos com adoção da tecnologia Bt e pulverização com Bacillus subtili, a cada 4 ou 5 dias voltado para o controle de traça, sendo que quando eles não são suficientes, adota-se então o Cartap, antigo inseticida disponível no mercado.
Figuras 2 e 3: Irrigação via aspersão e Aplicação de Bacillus subitili
Fonte: Arquivo pessoal (2023).
Dentre as pragas, foi comentado sobre a lagarta-rosca também, mas a traça
é realmente a maior causadora de danos na área. No entanto, aproximadamente 25% do que é plantado, perde-se devido a má formação de cabeça e presença de formigas e grilos. Outro fator que afeta a produção é a ocorrência da bactéria Xanthomonas camperis pv. nas cultivares de inverno, as quais são menos tolerantes, com a chuva dificultando o controle. Já em relação a doenças, o míldio é de maior ocorrência na época de inverno quando este é marcado pela presença de precipitação, sendo necessário tratamento preventivo logo após a chuva, uma vez que a bactéria quando associada às precipitações promove o derretimento das folhas. As perdas ocasionadas pela chuva podem chegar a 70% segundo o produtor. Além desta, a hérnia das crucíferas também é bastante problemática. No local, foi observada a presença de mudas finas, moles e estioladas, as quais não formarão cabeças, acarretando na perda de produtividade. No entanto, tais características são comuns em brássicas apesar de todo o trabalho genético realizado para a produção das mudas.
5. Colheita e custos
Durante a realização da colheita foi comentado sobre a importância nos
cuidados com o produto uma vez que amassados, sujeiras e danos mecânicos em geral reduzem o valor do lote. Entretanto, além desses cuidados, o produtor afirmou não ter muito problema no geral uma vez que toda a pós-colheita, e os processos relacionados ao processamento e limpeza da couve não ficam a seu cargo. Com relação aos custos em geral, por cabeça de couve-flor gasta-se aproximadamente R$ 2,00, sendo que o mercado fresco (pesos variando em 0,5 kg) o produtor recebe R$ 3,00 - 4,50, enquanto que a indústria paga R$ 3,20 o quilo (pesos variando de 1 a 1,5 kg). Assim sendo, em média, o lucro do produtor é de R $1-1,50 e a produtividade aproximada de 25 mil couves/ha.