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Epistemologia da Educação I - Turma C

Síntese: relativizando
Eglem das Neves Bergantin
E-mail para contato: eglembergantin@estudante.ufscar.br

“Relativizando: uma introdução à antropologia social” é um livro escrito pelo carioca


Roberto Damatta (1936 -), antropólogo e professor universitário.
No livro, Damatta se propôs a tratar da antropologia enquanto ciência. A primeira
parte do livro nos traz uma comparação entre ciências da natureza (ou naturais) e
ciências humanas (ou sociais).

Sobre as ciências da natureza, discorreu que estas se referem a fatos simples, no


sentido de que se debruçam sobre os fatos que tem causas simples e que podem ser
isolados para observação. Além disso, da observação desses fatos, surgem teorias que
podem ser replicadas em lugares diferentes, por pessoas diferentes de uma forma
previsível, chegando-se, muitas vezes, na criação de novas tecnologias. Por isso, esse
modo de pensar a ciência sugere a construção do conhecimento a partir de um
invólucro de objetividade:

O laboratório assegura de certo modo tal condição de «objetividade», um


outro elemento crítico na definição da «ciência» e da «ciência natural».
Assim, um cientista natural pode presenciar os modos de reprodução de
formigas (já que pode ter um formigueiro no seu laboratório), pode estudar
os efeitos de um dado conjunto de anticorpos em ratos e pode, ainda,
analisar o quanto quiser a composição de um dado raio luminoso
(DAMATTA, 2000, p. 18).

Por outro lado, as ciências humanas se debruçam sobre fenômenos complexos, com
causas e determinações que se entremeiam em redes. Estes fenômenos não são
universalizáveis e não se repetem da mesma forma que ocorreram. Deste modo, as
ciências humanas não têm a mesma pretensão de objetividade que as ciências da
natureza, justamente porque as ciências humanas estão preocupadas em
compreender essa complexidade dos fenômenos que não podem ser isolados e
reproduzidos em laboratórios. Dammata também colocou que há um problema básico
nas ciências sociais que é o de que “os fatos sociais são irreproduzíveis em condições
controladas e, por isso, quase sempre fazem parte do passado. São eventos a rigor
históricos e apresentados de modo descritivo e narrativo, nunca na forma de uma
experiência.” (p. 21).

Assim, a reconstrução desse passado acontece sempre de uma forma incompleta e


parcial, pois depende da existência de documentos, artefatos e passa pelas experiências
de vida, preconceitos e interesses daquele que o observa. Uma outra colocação é a de
que os resultados das ciências sociais são menos visíveis e demoram mais para serem
aceitos (a incorporação de uma nova tecnologia para smartphone em contraposição a
inserção de ideias anti-rascistas, por exemplo).

A seguir, Damatta discorreu acerca de uma diferença crucial entre as ciências naturais e
sociais, que é a do distanciamento entre objeto de pesquisa e pesquisador. Como
exemplo, trouxe as baleias, um pesquisador nunca poderá saber de fato o que sente uma
baleia, porque nunca será uma baleia. Este distanciamento possibilita uma certa relação
de objetividade com o objeto de estudo. Quando o objeto de pesquisa é o ser humano,
há uma aproximação muito grande entre objeto de estudo e pesquisador fazendo com
que ambos fiquem em um mesmo plano. Isso torna o estudo das ciências sociais mais
complexo. Há ainda um outro ponto que é a de que baleias não confrontam um estudo
sobre elas mesmas, humanos sim.

Ainda nesta primeira parte do livro, Damatta, a fim de continuar discorrendo sobre o
lugar da Antropologia Social, apresentou três esferas de interesse que a Antropologia
comtempla: a Antropologia Biológica (que estuda o homem enquanto ser biológico, a
história evolutiva do corpo físico humano e a relação entre o homem e os outros seres
vivos), a Arqueologia (que estuda sociedades passadas através de dados deixados por
essas sociedades) e a Antropologia Cultural ou Antropologia Social ( que trabalha sob a
perspectiva de que a cultura e a sociedade não são apenas resultados da interação entre
homem e natureza, mas se dão principalmente pela própria capacidade humana de
refletir sobre si mesmo, sobre acontecimentos e sobre o ambiente em que vive.

Damatta expôs que esse terceiro ramo da Antropologia, isto é, a Antropologia Social,
pode ser dividido ainda em dois grupos: Instrumental (perspectiva que diz que o homem
foi feito aos poucos, primeiramente como resposta direta a natureza, sem reflexão e
depois veio o resultado social, a ideia de que primeiro veio o grito imitando-se a
natureza e depois a fala), e Cultural/Social (entende um ser humano que reflete acerca
de sua interação com o ambiente, ou seja, há uma dialética entre homem e natureza cujo
resultado não é possível prever). Este último grupo é o que o autor defende e apontou no
livro que há uma oposição entre o pensamento mais ligado a biologia e o ligado à
cultura dentro do campo da Antropologia ou das Antropologias.

Em suma, o autor defendeu que a Antropologia Social permite uma autorreflexão do


próprio homem, pois quando este olha para outras culturas, olha para si mesmo, como
se essas outras culturas fossem um espelho. A relação entre sujeito que pesquisa e
objeto de estudo é muito diferente então das ditas ciências naturais e das ciências sociais
pois as ciências sociais permitem uma relação profunda entre a realidade observada e o
observador, onde estes estão em um mesmo plano e se comunicam.

Referências
DAMATTA, Roberto. Relativizando: uma introdução à antropologia social. Rio de
Janeiro: Rocco, 2010.

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