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Capítulo 16 - Diagnóstico das fibroblastos extravasculares.

Após a
Anormalidades de Hemostasia ativação inicial, com produção de pequena
quantidade de trombina, os fatores de
O sistema vascular está sujeito a coagulação são adicionalmente ativados
lesões mecânicas, inflamatórias ou de por meio de alças de amplificação de
outros tipos. Mas indivíduos normais retroalimentação para exacerbar o estímulo
possuem um mecanismo para impedir a inicial. O ápice da ativação do fator de
perda de sangue, onde se mantém o fluxo coagulação é a conversão de fibrinogênio
sanguíneo e possibilita a cicatrização e a em fibrina e a formação de um coágulo de
reparação dos vasos lesionados. fibrina estável, juntamente com plaquetas,
para ocluir o fluxo sanguíneo do vaso
Considerações gerais sobre hemostasia lesionado. A disfunção do fator de
coagulação, ou a sua ausência, retarda a
Hemostasia é a parada de formação de fibrina.
sangramento. As anormalidades variam
desde hemostasia excessiva, e consequente
trombose intravascular, a hemorragia e
perda de sangue excessiva. Em animais é
difícil detectar e controlar a trombose
intravascular.
Após a lesão vascular, a hemostasia
efetiva envolve respostas integradas de três
principais componentes: fatores de
coagulação solúveis circulantes (i. e.,
proteínas), que formam fibrina insolúvel
estável; plaquetas circulantes; e parede
vascular formada por matriz de células
endoteliais, células de músculo liso e
fibroblastos.

Fatores de coagulação

Coagulopatia é a hemorragia excessiva por


conta da função anormal ou ausência de
um ou mais fatores de coagulação
circulantes. A concentração plasmática dos
fatores de coagulação é muito baixa
(expressa em μg/mℓ) e a maior parte deles
é representada por proteases. Os fatores de
coagulação são ativados com a presença de
tromboplastina tecidual, presente na O esquema de ativação e
superfície de micropartículas circulantes, amplificação da hemostasia compreende a
células endoteliais estimuladas ou
via intrínseca, a via extrínseca e a via importante nessa alça é a ativação dos
comum. fatores de coagulação VII, XI e dos fatores
de aceleração V e VIII pela trombina (fator
IIa)

A trombina ativa vários outros fatores da


cascata de coagulação e amplifica a ativação
inicial da protrombina para formar uma
quantidade muito maior de trombina. Assim
que o fator VII é ativado, alças de
Tradicional cascata de ativação do sistema
amplificação adicionais produzem mais fator
intrínseco por ativação com contato a
VIIa para exacerbar a atividade geral da
superfícies com carga negativa. No entanto, a
cascata de coagulação. O fator VIIa também
ativação do fator XI pela trombina (IIa) pode
ativa o fator IX, originando o fator IXa, a fim
ser mais importante. O fator IX é ativado pelo
de aumentar a produção de fator Xa, a partir
fator XIa (e fator VII ativado) e pode ativar o
do fator X. A função dessas alças de ativação é
fator X na presença de cálcio e de fator
ativar totalmente a cascata e originar muito
plaquetário III. O fator VIII:C não é necessário
mais trombina para, finalmente, reduzir o
para a ativação, mas, quando presente, a taxa
tempo necessário para converter massa crítica
de formação de fator Xa aumenta. A
de fibrinogênio em fibrina para a formação de
designação “a” indica um fator ativado.
um coágulo de fibrina estável.
Acredita-se que o sistema extrínseco seja a via
de ativação da coagulação predominante e isso
ocorre quando o fator III (tromboplastina A ativação por contato não é
tecidual) entra em contato com o fator VII, que essencial para a ativação do fator de
pode ativar o fator X. O fator X é o primeiro coagulação e que o sistema intrínseco atua
fator da via comum ativado pelo fator IX ou principalmente como uma alça de
VII. A via comum culmina na formação de um amplificação que é ativada após a
coágulo de fibrina firmemente aderido e formação inicial de trombina a partir da
estável. Para a ativação de protrombina em ação da tromboplastina tecidual.1 ,2 Há
trombina (IIa), não há necessidade do fator V, evidência que sustenta essa teoria em
mas a ativação é muito mais rápida quando o
pacientes humanos que não manifestam
fator V está ativado.
hemorragia quando há deficiência de
quaisquer dessas proteínas ativadoras de
Há duas vias de ativação: ativação
contato (fator XII, pré-calicreína ou
por exposição à tromboplastina tecidual e
cininogênio de alto peso molecular
ativação por contato com a membrana
[CAPM]). Essa teoria pode não ser
basal e o colágeno. Resultados recentes de
verdadeira para alguns animais
análises cinéticas de fatores individuais
domésticos, pois cães e equinos com
sugerem um esquema no qual a ativação
deficiência de pré-calicreína apresentam
inicial pela tromboplastina tecidual induz à
tendência à hemorragia clínica discreta.
formação de pequena quantidade de
Alguns fatores de coagulação
trombina, a qual é amplificada por
requerem vitamina K, que atua como
subsequente ativação de alças das vias
cofator na carboxilação pós-translacional
intrínseca, extrínseca e comum. O
dos fatores de coagulação II, VII, IX e X,
bem como das proteínas anticoagulantes C
e S, e, recentemente, da proteína Z. 3 A
vitamina K normalmente é oxidada
durante a carboxilação de proteínas de
coagulação e, então, novamente reduzida
para a forma hidroquinona ativa por meio
de um mecanismo de duas etapas que
envolve a enzima epóxido redutase.4 ,5 No
caso de diminuição ou de ausência de
inibidores da vitamina K na dieta, são
formadas proteínas pró-coagulantes e
anticoagulantes, porém sem atividade.
Essas proteínas não funcionais são
denominadas PIVKA (do inglês proteins in
vitamin K absence or antagonism, ou seja, A agregação plaquetária e o
proteínas na ausência, ou antagonismo, de recrutamento de plaquetas adicionais são
vitamina K) e podem ser detectadas por induzidos pela reação de liberação, a qual
métodos imunológicos. esvazia os produtos de grânulos ao plasma.
Os fatores de coagulação armazenados nos
Plaquetas grânulos asseguram a formação de fibrina,
necessária para a estabilização do tampão
Plaquetas são fragmentos de plaquetas. Os grânulos plaquetários
citoplasmáticos de megacariócitos, com liberam seu conteúdo no sistema
várias organelas citosólicas, com formato canalicular aberto (SCO), que se comunica
de disco plano. As plaquetas são com o exterior, ou na superfície de
fundamentais para a hemostasia e plaquetas se elas não apresentarem SCO
propiciam uma superfície para a formação (como acontece em bovinos). Não há lise
do complexo tenase/protrombinase para de plaquetas durante sua agregação. As
formar trombina. São responsáveis pela plaquetas também respondem a agonistas
cessação inicial do fluxo sanguíneo após liberados de grânulos plaquetários
uma lesão no vaso sanguíneo. A mediante um mecanismo de
importância das superfícies das plaquetas retroalimentação (feedback) positivo por
para a ativação da coagulação e meio de receptores de superfície. ADP
hemostasia é evidente em alguns cães da (que estimula receptores de superfície
raça Pastor-alemão que carecem de P2Y12, o importante alvo para inibição
exposição da superfície fosfatidilserina das plaquetas pelo medicamento
normal e que manifestam sintomas clopidogrel), serotonina e histamina são
hemorrágicos. exemplos de agonistas liberados pelas
plaquetas. 15 Tromboxano A2 é produzido
e liberado para se ligar ao receptor de
superfície (TP) a fim de ativar,
adicionalmente, as plaquetas por meio de
um mecanismo de retroalimentação
positivo. O ácido acetilsalicílico e outros O fator XIIa pode ativar quatro cascatas de
AINEs inibem a função plaquetária por proteínas, mas a única perda funcional
impedirem a síntese de tromboxano A2. importante associada à diminuição da
atividade do fator XII no plasma é
representada pela trombose causada pela
Vasos
menor produção de plasmina a partir do
plasminogênio.
Os vasos ajudam na cessação da
hemorragia por meio da vasoconstrição
A deficiência do fator XII não
reflexa das células do músculo liso,
manifesta hemorragia excessiva, mas há
diminuindo o diâmetro do lúmen vascular,
tendência à trombose, por conta da lise
mas também por meio da secreção ou
insuficiente dos coágulos de fibrina pela
expressão de substâncias trombogênicas
plasmina. A plasmina degrada a
pelas células endoteliais lesionadas (fator
fibrina/fibrinogênio e origina pequenos
de ativação plaquetária ou tromboplastina
fragmentos e peptídios.
inicial - promover formação de coágulo).
Lesão ou perda do endotélio reduz a
secreção de mediadores (PGI2),
responsáveis pela infrarregulação da
reatividade plaquetária, aumentando a
responsividade das plaquetas no local da
lesão. Doenças como síndrome de Marfan,
síndrome de Ehles-Danlos, escorbuto e
excesso de esteroides levam a menor Degradação de fibrina e de fibrinogênio em
suporte de colágeno perivascular, fragmentos de peptídios menores, os quais
causando fragilidade vascular e podem ser utilizados em processos anabólicos
hemorragia. pelos hepatócitos. A degradação de fibrina
Assim que o coágulo se forma, a resulta no neoantígeno dímero D.
lise do coágulo de fibrina é feita pela
plasmina, a qual é oriunda da ativação do Detectam-se os produtos da
plasminogênio. A ativação do degradação de fibrina e fibrinogênio pela
plasminogênio em plasmina, in vivo, plasmina (PDF) por meio da identificação
envolve principalmente o fator XII ativo e do fragmento E em teste imunológico. Os
o ativador de plasminogênio tecidual das PDF são removidos da circulação pelos
células endoteliais. O fator XII ativa o hepatócitos. Dímero D é um produto da
plasminogênio, bem como o fator XI, o digestão da fibrina entrelaçada (cross
complemento e as cininas. linked) pela plasmina e tem a mesma
importância diagnóstica de PDF; todavia,
o dímero D é mais específico para a
formação de trombo, pois é detectado
somente quando a fibrina solúvel já foi
entrelaçada pelo fator XIII e a plasmina
clivou a fibrina estável para formar alguns
neoantígenos, ao contrário do que acontece
com PDF, que é oriundo da degradação de
fibrinogênio ou fibrina pela plasmina. AT:trombina é removido pelos hepatócitos.
Mensura-se o Dímero D em amostra de A antitrombina tem peso molecular muito
sangue em tubo com citrato por meio de baixo, sendo excretada na urina do
ELISA ou aglutinação em látex. Na paciente com nefrite glomerular ou
ausência de doença hepática, a implicação amiloidose grave. Com frequência, a baixa
clínica comum decorrente do aumento da atividade de AT no plasma, em decorrência
concentração de PDF ou de dímero D é o de perda ou de deficiência hereditária, está
maior risco de coagulação intravascular, associada a sinais clínicos de trombose. A
com subsequente resolução do coágulo. α2-macroglobulina inibe a trombina, a
plasmina e a calicreína e responde por
Proteínas anticoagulantes 20% da atividade anticoagulante do
plasma. Como inibidor da via extrínseca,
As proteínas anticoagulantes estão tem-se uma lipoproteína sintetizada no
envolvidas na infrarregulação da cascata fígado e nas células endoteliais; acredita-se
de coagulação por meio da inibição das que ela seja o principal regulador da
proteínas pró-coagulantes das vias ativação da via extrínseca. Inibidores da
intrínseca, extrínseca e comum. Essa via extrínseca inativam a tromboplastina e
proteínas estão em equilíbrio com as o fator VIIa e requerem o fator Xa para a
proteínas pró-coagulantes. A deficiência ativação.
de proteínas anticoagulantes, em relação à
atividade de proteínas pró-coagulantes, Avaliação do paciente com hemorragia
resulta em trombose. Logo o equilíbrio
pode ser quebrado pela perda de proteínas Medicamentos e produtos tóxicos,
anticoagulantes ou aumento de proteínas inclusive rodenticidas, podem resultar em
pró-coagulantes. disfunção hemostática. Na evidência de
doença primária, como icterícia, lesão
neoplásica e febre, enfermidades como
doença hepática, hemangiossarcoma e
febre maculosa das Montanhas Rochosas,
respectivamente, podem ser causas
secundárias de distúrbios hemorrágicos.
Também hemorragias petequiais e
equimoses são características de
anormalidades plaquetárias e doenças
vasculares generalizadas, enquanto
grandes hematomas, hemartrose e
hemorragia de músculo profundo são mais
A proteína anticoagulante características de defeitos no fator de
circulante mais importante é a coagulação solúvel.
antitrombina (AT). Para sua atividade na Testes laboratoriais:
superfície endotelial, a antitrombina requer ● Hemograma completo - quantidade
heparina. A heparina possibilita a ligação de plaquetas e hematócrito, ou
de AT à trombina, na razão 1:1, e inativa a volume globular;
trombina. Em seguida, o complexo
● Tempo de tromboplastina parcial animais até que se atinja o valor ≤ 10.000
ativada (TTPa) ou tempo de a 50.000 plaquetas/μℓ. O tamanho das
coagulação ativada (TCA), tempo plaquetas normais é menor do que aquele
de protrombina (TP) - verificar se dos eritrócitos (hemácias). Em cães da raça
há carência de fatores de Cavalier King Charles Spaniel e em gatos
coagulação (exceto fator XIII); que apresentam plaquetas de tamanho
maior do que a de eritrócitos é possível
Avaliação dos componentes da notar pseudotrombocitopenia ocasionada
hemostasia pela subcontagem de plaquetas de tamanho
Fatores de coagulação acima do normal. Na verdade, a
quantidade de plaquetas pode estar
Todos os fatores de coagulação suficientemente diminuída para causar
circulantes são sintetizados no fígado. hemorragia em razão da maior taxa de
Logo, insuficiência hepática leva a remoção do sangue ou de ativação.
hemorragia por redução de fatores de Quando há menor produção de plaquetas
coagulação. pela medula óssea, verifica-se menor
Apenas o fator VIII:C e o fator V quantidade de megacariócitos; ao
não são proteases; esses dois fatores contrário, o número de megacariócitos na
exacerbam a atividade dos fatores IXa e medula óssea é maior quando as plaquetas
Xa, respectivamente. estão sendo destruídas ou consumidas .
A deficiência hereditária de fator Quando há produção e liberação acelerada
de coagulação mais comum é a do fator de plaquetas, elas podem parecer maiores
VII:C (hemofilia clássica ou hemofilia A). do que o normal.
As deficiências dos fatores VIII:C e IX A doença de von Willebrand é a
(hemofilia B) são características ligadas ao disfunção plaquetária mais comum e
sexo e a hemorragia é mais deve-se à síntese anormal do fator de von
frequentemente observada em pacientes Willebrand pelo endotélio e pelos
machos; os outros fatores são controlados megacariócitos. As plaquetas não
por cromossomos somáticos. respondem apropriadamente durante a
agregometria plaquetária induzida por
Plaquetas colágeno e a mensuração da concentração
plasmática do fator de von Willebrand
Disfunção plaquetária ou redução (vWF) possibilita o diagnóstico clínico.
de plaquetas leva a hemorragia excessiva. A trombocitose é uma
A contagem de plaquetas pode ser feita em anormalidade inespecífica em geral não
contador eletrônico ou manualmente. No acompanhada de sinais clínicos, mas é um
esfregaço sanguíneo, deve-se ver, no potencial fator predisponente à trombose e
mínimo, 5 a 10 plaquetas por campo. O a condições de hipercoagulabilidade. Com
número de normal de plaquetas varia de frequência, a trombocitose está relacionada
100.000 a 800.000 plaquetas/μℓ (menor com anemia por deficiência de ferro,
quantidade em equinos e maior quantidade doenças inflamatórias, liberação de
em bovinos). epinefrina e algumas formas de doenças
A diminuição da quantidade de mieloproliferativas.
plaquetas não ocasiona hemorragia em
Anormalidades vasculares PDF ou de dímero D. Nenhum teste avalia
diretamente o aumento da coagulação,
Os pacientes podem apresentar porém a constatação de maior
tempo de sangramento prolongado, com concentração sérica de PDF ou de dímero
função plaquetária normal, ou lesão D representa uma evidência indireta do
vascular localizada que resulta em aumento da coagulação intravascular. Isso
hemorragia. Dependendo da espécie do porque, simultaneamente, a plasmina
animal que apresenta sangramento, pode degrada coágulos de fibrina à medida que
ser útil o exame clínico para a pesquisa de são formados. Ocasionalmente, é possível
sintomas de escorbuto ou de síndrome de verificar aumento da concentração de PDF
Cushing, verificando-se maior fragilidade e, possivelmente, de dímero D, em
de pele e do colágeno em um paciente com pacientes comresolução de hemorragia
hemorragia. extensa no tecido subcutâneo ou nos
espaços pleural ou peritoneal, como pode
ANORMALIDADES DA acontecer em pacientes intoxicados por
HEMOSTASIA COMUMENTE varfarina.
VERIFICADAS Com frequência, os cães com
hemangiossarcoma apresentam,
Coagulação intravascular disseminada simultaneamente, CID e trombose na
(CID) massa tumoral. Alguns tipos de leucemia
secretam proteínas pró-coagulantes
Associada a várias doenças, sendo iniciadoras de CID; também várias outras
provocada pela ativação excessiva do neoplasias estão associadas à CID.
mecanismo de coagulação em determinada Comfrequência, anemia hemolítica
região ou no corpo todo. As causas imunomediada, transfusões com sangue
potenciais para a iniciação da coagulação incompatível e lesão endotelial relacionada
podem variar desde uma lesão tecidual com a endotoxemia iniciam uma crise de
extensa, como acontece na termoplegia, CID. As causas físicas e infecciosas de
até a produção de proteínas CID incluem termoplegia, picada de cobra,
pró-coagulantes pelas populações de pancreatite e infecções por Rickettsia
células neoplásicas, como acontece em rickettsii e Dirofilaria imitis.
alguns tipos de leucemia. É possível a
ocorrência de trombose difusa, Coagulopatias hederitárias
especialmente na microcirculação, e a
consequente depleção de fatores de A coagulopatia hereditária mais
coagulação e diminuição da quantidade de comum em animais domésticos é a
plaquetas. hemofilia A, uma deficiência do fator de
O TTPa comumente se encontra coagulação VIII:C. Há relato de hemofilia
prolongado; outras anormalidades A em ovinos, cães, gatos e equinos. Esse
frequentes incluem prolongamento do TP, distúrbio é hereditário, com padrão
menor concentração de fibrinogênio, recessivo; o gene situa-se no cromossomo
diminuição da quantidade de plaquetas, X. Com frequência, a hemofilia A é
presença de eritrócitos fragmentados (i. e., confundida com doença de von Willebrand
esquistócitos) e aumento dos teores de porque, historicamente, ambas têm sido
denominadas anormalidades do fator VIII. coagulação dependentes da vitamina K em
O fator VIII:C e o fator de vWF circulam decorrência de carboxilação anormal.
no plasma em estreita associação física um Coagulopatias adquiridas
com o outro. A doença de von Willebrand,
anormalidade de hemostasia hereditária A causa mais comum é a exposição
mais comum em animais domésticos, a antagonistas de vitamina K, que inibem a
representa um defeito estritamente da redução da vitamina K oxidada de volta à
função das plaquetas. Enquanto a forma hidroquinona ativa. Entre ele há:
hemofilia A é uma característica ligada ao cumarina (trevo-doce mofado);
sexo, com maior ocorrência em machos, a sulfaquinoxalina (coccidiostático
doença de von Willebrand é uma anomalia adicionado à água); rodenticidas;
autossômica transmitida com igual Rodenticidas to tipo indandiona
frequência em machos e fêmeas. possuem meia vida de 15 a 20 dias no
Deficiências dos fatores de organismo. Rodenticidas do tipo varfarina
coagulação XII, XI, IX, VIII:C, de possuem meia vida de 40h.
CAPMou de pré-calicreína ocasionam A administração de vitamina K
prolongamento do TTPa, com TP normal, possibilita que a vitamina K seja reduzida
independentemente de esses pacientes de volta à forma hidroquinona ativa por
apresentarem ou não hemorragia clínica. A uma segunda via metabólica, a qual atua
deficiência do fator X foi descrita em cães com uma concentração muito maior de
e gatos com tendências variáveis à vitamina K do que aquela em geral
hemorragia. Relata-se deficiência do fator presente. A baixa disponibilidade de
VII em cães da raça Beagle; em geral, está vitamina K também está associada a
associada à hemorragia clínica discreta. doença hepática obstrutiva; síndrome de
Esses cães apresentam TP prolongado e má absorção, com incapacidade de
TTPa e TCA normais. A deficiência do absorção intestinal de lipídios; e baixo teor
fator II (ou seja, trombina) foi descrita em de vitamina K na dieta. Em pequenos
cães. A deficiência de fibrinogênio foi animais, a administração de antibióticos
relatada em cães e caprinos e está que inibem a produção de vitamina K
associada à hemorragia clínica grave. Os pelos microrganismos da flora intestinal
animais com deficiências dos fatores X, V pode resultar em deficiência dessa
e II ou de fibrinogênio apresentam TP, vitamina. Doença hepática grave
TCA e TTPa prolongados. A deficiência comumente resulta em coagulopatia
do fator de coagulação XIII não ocasiona adquirida. A maioria dos fatores de
prolongamento de TTPa ou de TP porque coagulação é produzida nos hepatócitos;
esses testes não requerem um coágulo de além disso, o fígado é responsável pela
fibrina estável. Há relatos ocasionais de remoção de fatores de coagulação ativados
deficiências hereditárias simultâneas de e de PDF do plasma. Causas incomuns de
vários fatores de coagulação em razão de coagulopatia adquirida incluem
diversas anomalias genéticas. Também em amiloidose, que está associada à
gatos da raça Devon Rex e em ovinos da deficiência seletiva do fator X porque esse
raça Rambouilet há relatos de deficiência fator é incorporado à matriz amiloide,
hereditária de todos os fatores de causando a depleção do fator X no plasma.
Doença autoimune, com um auto anticorpo
direcionado contra um fator de óssea e consequente diminuição na
coagulação, também tem sido descrita em produção de plaquetas.
animais domésticos, porém sua ocorrência
é rara. Disfunções plaquetárias
Adquiridas
Trombocitopenia A função das plaquetas pode ser inibida
Condições podem causar diminuição da pela maioria dos anti-inflamatórios não
produção de plaquetas: esteroides, por proteínas plasmáticas
Irradiação corporal total, medicamentos, anormais (paraproteínas do mieloma),
toxinas, microrganismos infecciosos, proteínas como PDF, autoanticorpos,
doenças neoplásicas e doenças tranquilizantes fenotiazinas e catabólitos
imunomediadas podem resultar em menor que se acumulam no plasma do paciente
produção de plaquetas. com uremia.

Obs. Em cães e furões, a intoxicação por Hereditárias


estrógeno é uma causa comum de As plaquetas podem ser não funcionais em
diminuição na produção de plaquetas. decorrência de anomalias hereditárias,
como acontece na doença de von
Maior consumo de plaquetas está Willebrand, ou de anormalidades
associado a CID (coagulação intravascular intrínsecas em receptores ou sinalizadores
disseminada), hemangiossarcoma canino, plaquetários.
vasculite e outros tipos de lesão vascular. O defeito de plaqueta hereditário mais
Hemorragia não resulta em comum em animais domésticos é a doença
trombocitopenia importante. de von Willebrand.
Trombocitopenia imunomediada é uma das A doença de Von Willebrand: deficiência
causas mais comuns de trombocitopenia do fator vWF (uma glicoproteína
em cães. Os anticorpos podem ser sintetizada e secretada pelas células
direcionados especificamente contra endoteliais e pelos megacariócitos).
epítopos de plaquetas ou contra complexos Caso o teor de vWF seja deficiente ou o
antígeno-anticorpo. próprio vWF seja defeituoso, as plaquetas
Em alguns equinos, a administração não são ativadas porque não reconhecem e
intravenosa de heparina pode induzir não respondem ao colágeno das
trombocitopenia discreta; em gatos, dose membranas basais ou do tecido
excessiva de heparina pode resultar em extravascular.
trombocitopenia grave.
Em cães, a principal causa infecciosa de Pode ser de três tipos:
trombocitopenia é a ehrlichiose. Infecções No tipo I, há menor teor de vWF:ag
por Ehrlichia canis e, menos comumente, (antígeno); também há menor conteúdo de
por Anaplasma platys, E. ewingii e E. todos os multímeros plasmáticos. Nesse
chafeensis provocam trombocitopenia. grupo, incluem-se cães das raças Welsh
Na Ehrlichia canis, causa inicialmente Corgi (porcentagem da população
destruição de plaquetas por mecanismos acometida ou portadora: 43%),
imunomediados. Ao final da doença, o Dobermann Pinscher (73%),
microrganismo provoca aplasia de medula Pastor-alemão (35%), Golden Retriever
(30%) e Poodle (30%). O tipo I parece ter evidência de disfunção de plaquetas ou de
um padrão hereditário autossômico fatores de coagulação.
dominante(A), com penetrância
incompleta. Hereditárias
● Doença do colágeno hereditária,
Os animais com a doença tipo II como ocorre na síndrome de
apresentam menor teor de vWF:Ag, com Ehlers-Danhos e na síndrome de
diminuição desproporcional no conteúdo Marfan, bem como a anormalidade
de multímeros de alto peso molecular. de colágeno adquirida, como
Cães da raça Pointer-alemão de pelo curto verificada no escorbuto e na
são exemplos notáveis desse tipo de síndrome de Cushing, tem sido
enfermidade. O padrão de herdabilidade é associada à hemorragia clínica.
desconhecido. Obs. A hemorragia deve-se à maior
fragilidade vascular causada pelo colágeno
Os animais portadores da doença tipo III anormal, ou por sua diminuição, e, em
apresentam teor indetectável de vWF:Ag. alguns casos, também pode ser decorrência
Cães das raças Scottish Terrier (30%), da menor receptividade das plaquetas ao
Chesapeake Bay Retriever e Shetland colágeno anormal.
Sheepdog (23%) são exemplos desse tipo
de doença. O padrão de herdabilidade Trombose
parece ser homozigoto recessivo(aa) em Pode ser uma condição de risco à vida do
animais Scottish Terrier e Chesapeake Bay paciente, causa terminal comum de óbito
Retriever e parece ter característica em uma ampla variedade de doenças
autossômica dominante(A) com clínicas que envolvem alteração do fluxo
penetrância incompleta em cães da raça sanguíneo, lesão endotelial ou
Shetland Sheepdog. hipercoagulação.
Causas vasculares de hemorragia Animais com síndrome nefrótica nota-se
Adquiridas menor teor de proteína anticoagulante(AT)
● Lesão de endotélio vascular, como circulante, porque a AT é uma proteína de
ocorre na febre maculosa das baixo peso molecular que se perde no
Montanhas Rochosas ou no caso de ultrafiltrado glomerular.
termoplegia(alta incidência de raios Menor teor de AT também é constatado em
solares), pode causar hemorragia resposta a alguns medicamentos, como a
disseminada e subsequente asparaginase, um quimioterápico utilizado
ativação da coagulação. em pacientes com linfossarcoma.
● Doença do colágeno adquirida, Aumento da concentração de fatores da
como acontece no escorbuto, pode coagulação torna o sangue
estar associada à hemorragia hipercoagulável.
decorrente da maior fragilidade da Ex: Possível a ocorrência de trombose no
parede dos vasos sanguíneos. final da prenhez, após a aplicação de
● Doença inflamatória localizada implantes de hormônio de crescimento ou
pode estar associada à hemorragia. de alguns medicamentos, como a
Obs. Caso seja detectada hemorragia asparaginase. Em cães, a doença de
localizada recorrente, porém sem Cushing está associada à trombose.
Trombose localizada pode ser: decorrente
de fluxo sanguíneo turbulento ou fluxo em
direção inapropriada. Cão
Trombose generalizada pode ser: induzida O antígeno do eritrócito do cão ou o
por lesão vascular disseminada causada sistema de tipos sanguíneos é conhecido
por produtos químicos, endotoxinas, como sistema DEA e inclui DEA 1(1 neg.,
reações imunológicas ou microrganismos 1.1, 1.2, 1.3) e DEA de 3 a 8.
infecciosos, como o vírus da hepatite Aloanticorpos de ocorrência natural são de
canina infecciosa ou Rickettsia rickettsii. pouca importância clínica em cães
diferente do que ocorre em gatos.
Conclusão
Hemostasia efetiva é: o produto da atuação Os tipos sanguíneos caninos mais
conjunta de fatores de coagulação, importantes são os DEA 1.1 e 1.2 →
plaquetas e vasos sanguíneos com intuito correspondem a 60% dos grupos
de cessar o sangramento de um vaso sanguíneos da população canina. ( Esses
lesionado, permitindo sua cicatrização e antígenos induzirão reações transfusionais
reparação, de modo a restabelecer o fluxo graves em cães previamente
sanguíneo aos tecidos. sensibilizados. )
Disfunção: grau excessivo de hemostasia Ex. Na Austrália tem sido descrito o tipo
(ou seja, trombose) ou hemostasia DEA 1.3 em Pastores-alemães.
inadequada (i. e., hemorragia).
Deve-se examinar, no mínimo, TTPa ou O DEA 4 é um antígeno com alta
TCA, TP e contagem de plaquetas. frequência que pode resultar em reações
transfusionais hemolíticas em cães
negativos para DEA 4 previamente
sensibilizados por meio de transfusões
com sangue positivo para o DEA 4.
Ou seja, o paciente que não possível
sangue do tipo DEA 4 recebe esse tipo
Capítulo 17 - Princípios para sanguíneo e forma Aloarticorpos para
transfusão sanguínea e reações DEA 4.
O DEA 7 pode produzir resposta humoral
cruzadas
(anticorpos) em cães carentes do antígeno.
Já os tipos DEA 3 e 5 são antígenos de
Grupos sanguíneos/ Tipos baixa incidência nos quais pode haver
Grupos ou tipos sanguíneos são aloanticorpos de ocorrência natural.
classificações feitas com base nos Anticorpos anti-DEA 3, 5 e 7 podem
antígenos espécie-específicos na superfície resultar em reações transfusionais tardias.
dos eritrócitos. A produção de anticorpos
contra os antígenos dos eritrócitos é Tem sido demonstrada a falta do antígeno
induzida em resposta à exposição, tanto eritrocitário Dal de alta frequência em
via transfusão sanguínea, exposição alguns Dálmatas, resultando, dessa
transplacentária ou, no caso da isoeritrólise maneira, em potencial para reações
neonatal, pelo colostro.
transfusionais clinicamente importantes
nessa raça Equinos e Asininos
Os sete grupos sanguíneos reconhecidos
Gatos internacionalmente no cavalo, A, C, D, K,
Três tipos sanguíneos são rotineiramente P, Q e U, incluem mais de 30 antígenos.
reconhecidos no grupo sanguíneo AB em Devido a essas várias combinações
felinos. O tipo A é o mais comum (mais de antigênicas, não existe doador universal.
95% dos gatos). O tipo B ocorre em Para minimizar as chances de reações
frequência variável (< 5 a 25%) nas raças transfusionais, é ideal, mas geralmente
Abissínia, Birmanesa, Himalaia, Scottish pouco prático, realizar a tipagem
Fold, Somali, Sphinx, Maine Coon, gato sanguínea do doador e do receptor;
dos Bosques da Noruega e Persas e em deve-se realizar, ao menos, o teste de
frequÊncia maior em frequências maiores reação cruzada antes da transfusão.
(25 a 50%) têm sido registradas nas raças Os aloantígenos Aa e Qa são
British Shorthair, Cornish Rex, Devon Rex extremamente imunogênicos; ambos são
e Angorá Turco. hemolisinas e, na maioria dos casos de IN,
estão associados aos anticorpos anti-Aa e
O risco de realizar uma transfusão anti-Qa.
sanguínea potencialmente fatal com Anti-Aa e anti-Ca são aglutinantes → o Qa
sangue A ou AB em um gato que seja do terá resultado negativo no teste de
tipo B pode ser tão alto quanto uma em aglutinação.
cinco. → Gatos apresentam aloanticorpos O anticorpo anti-Ca não causa IN e, na
de ocorrência natural: anti-A, anti-B e verdade, pode atuar ao prevenir a
anti-Mik. Todos os gatos do grupo B têm ocorrência de IN, removendo da circulação
altas concentrações séricas de as células potencialmente sensibilizáveis.
aloanticorpos que são potentes
hemaglutininas e hemolisinas contra os Bovinos
eritrócitos do tipo A. Os gatos do grupo A Os onze grupos sanguíneos reconhecidos
apresentam hemaglutininas e hemolisinas em bovinos são A, B, C, F, J, L, M, R, S, T
fracas contra eritrócitos do tipo B. e Z, sendo que os grupos B e J são os mais
relevantes clinicamente.
A isoeritrólise neonatal (IN) ocorre em O grupo B apresenta em si mais de 60
filhotes em amamentação que tenham os antígenos, tornando, dessa maneira, difícil
tipos sanguíneos A ou AB e em filhotes de a realização de uma transfusão sanguínea
gatas com tipo sanguíneo B, as quais com compatibilidade.
passam os aloanticorpos anti-A via O antígeno J é um lipídio encontrado no
colostro. plasma que não é um antígeno eritrocitário
O antígeno Mik torna-se clinicamente verdadeiro, ele geralmente é adquirido
relevante naquelas transfusões sanguíneas muito cedo em graus variáveis.
entre gatos do grupo AB, com sangue Vacinas de origem sanguínea (algumas
positivo para o antígeno Mik em gatos que vacinas para anaplasmose e babesiose)
não tenham esse antígeno, podendo podem sensibilizar os bovinos aos
resultar em hemólise pós-transfusional antígenos eritrocitários, o que pode
aguda. resultar em IN nas crias subsequentes.
sensibilização primária e, assim, diminuir
Ovinos e caprinos o risco de as futuras proles desenvolverem
Sete grupos sanguíneos têm sido alguma doença hemolítica.
identificados em ovinos (A, B, C, D, M, R A tipagem sanguínea para o DEA 1.1
e X). canino e para os tipos A e B em felinos é
O sistema B tem mais de 52 fatores. realizada na rotina clínica diária.
O sistema R é semelhante ao sistema J dos
bovinos (ou seja, os antígenos são solúveis Resumo:
e passivelmente absorvidos pelos
eritrócitos).
O grupo sanguíneo M-L em ovinos ativa o
transporte de potássio nos reticulócitos.

Animais de estimação exóticos (pouca


importância)
Em furões pode realizar a transfusão
sanguínea para com segurança sem a
necessidade de realizar o teste de reação
cruzada, pois não foram identificados
grupos sanguíneos.
Pouca ou nenhuma informação está
disponível sobre o grupo sanguíneo de
coelhos, de aves e de répteis criados como
animais de estimação. Nesses casos, é
recomendado realizar o teste de reação
cruzada antes da transfusão.

Transfusão sanguínea
Princípios gerais e indicações

Transfusões sanguíneas não devem ser


realizadas sem serem feitas previamente a
tipagem sanguínea e a prova de reação
cruzada entre o doador e o receptor a fim
de diminuir a probabilidade de reações Transfusões sanguíneas não são isentas de
transfusionais. risco.
Potenciais reações adversas, a curta Transfusões sanguíneas não são isentas de
sobrevivência das células transfundidas risco → tornará necessária a prova de
sem compatibilidade →terapia ineficaz. reação cruzada.
A prova de reação cruzada e a tipagem A transfusão de sangue total ou de algum
sanguínea são particularmente importantes componente sanguíneo deve ser realizada
em fêmeas reprodutoras para evitar a
dependendo da disponibilidade e do recebido transfusões sanguíneas prévias
motivo da transfusão. não devem ser doadores. Para animais
Indicação primária para a transfusão que irão receber transfusão pela
sanguínea: é o tratamento de anemias primeira vez, doadores negativos para o
graves causadas por hemorragias, DEA 1.1 podem ser considerados como
hemólise, falha na eritropoese, anemia doadores universais.
hemolítica imunomediada, doenças Os cães negativos para DEA 1.1 são ideais
inflamatórias crônicas ou infecciosas ou para a primeira transfusão,
neoplasias. independentemente do tipo sanguíneo do
Regra geral para o tratamento de anemias é receptor, e os doadores positivos para
realizar a transfusão quando o volume DEA 1.1 devem ser limitados a doar aos
globular (VG) for menor do que 10 a 15%. receptores também positivos para DEA
No entanto, animais com anemia de início 1.1.
agudo, em geral, necessitam de transfusão
antes de seu VG chegar a 15%.
Trombocitopenia, o ponto geralmente
aceito para a transfusão de plaquetas é
quando sua contagem estiver em
10.000/μℓ.

Indicações adicionais: para transfusões


incluemhipovolemia, deficiências de
fatores de coagulação primária ou
secundária e hipoproteinemia.
Os cães doadores devem pesar mais do que
Seleção do doador 25 a 30 kg, ser utilizados menos de uma
Todos os doadores devem ser adultos vez por mês para evitar deficiência de
jovens e saudáveis, que nunca tenham ferro e ser bem nutridos.
recebido transfusão. submetidos
periodicamente a exames físicos, assim
como a avaliações hematológicas e Gatos
bioquímicas, devem receber vacinas e ser Gatos doadores podem doar entre 10 e 12
testados quanto à ausência de parasitas mℓ de sangue por quilo de peso corporal.
sanguíneos e outras doenças infecciosas. Gatos adultos saudáveis podem doar entre
Devem ter valores basais normais do VG e 45 e 60 mℓ a cada 6 semanas e em geral
da concentração de proteínas totais. Para necessitam ser tranquilizados para a coleta.
evitar interferência na função plaquetária, Assim como em cães, os doadores devem
não deve ser utilizada acepromazina como ter os exames fecais e para dirofilariose
sedativo. negativos como parte da triagem geral da
condição de saúde do animal. Por causa da
Cães ocorrência natural de aloanticorpos em
Cães podem doar aproximadamente 15 mℓ gatos, não existe um doador universal para
de sangue por quilo (kg) de peso corporal a espécie.
a cada 6 semanas. Animais que já tenham
Os animais doadores devem ser testados e A ave doadora deveria ser negativa para
ser negativos para o vírus da leucemia clamidiose, doenças de bico e penas de
felina (FeLV), vírus da imunodeficiência psitacídeos e polioma vírus.
felina (FIV), citauxzoonose e
hemoplasmose. Anticoagulantes
O CPDA-1 (citrato, fosfato, dextrose e
Equinos adenina) é o melhor anticoagulante, pois
Cavalos adultos podem doar com mantém níveis maiores de
segurança 6 a 8 ℓ de sangue. O sangue 2,3-difosfoglicerato (2,3-DPG) e trifosfato
total pode ser coletado a cada 2 a 4 de adenosina (ATP) no sangue coletado. O
semanas e o plasma pode ser coletado toda sangue pode ser armazenado por
semana, caso os eritrócitos sejam aproximadamente 35 dias em CDPA-1.
transfundidos de volta ao doador. Deve-se utilizar a relação de 1 mℓ do
Os doadores devem estar saudáveis, ser anticoagulante para cada 7 mℓ de sangue.
negativos para anemia infecciosa equina e A heparina não é recomendada para a
apresentar valores normais de VG e de coleta de sangue, pois ativa plaquetas;
concentração de proteínas totais, é porém, caso seja empregada como
preferível que os doadores sejam machos, anticoagulante (5 U por mℓ de sangue), o
pois é menos provável que eles já tenham sangue deve ser utilizado imediatamente.
sido sensibilizados anteriormente.
Administração
Bovinos e ovinos O sangue deve ser filtrado antes ou durante
Bovinos podem doar de 8 a 14 mℓ de a administração utilizando filtros sem
sangue/kg de peso corpóreo. Nessa espécie látex.
é muito difícil conseguir uma transfusão Para evitar a hipotermia, o sangue deve ser
compatível; a primeira transfusão em geral aquecido até 37°C antes da administração,
é de baixo risco, mas o doador deve ser temperaturas mais elevadas causam a lise
idealmente negativo para o antígeno J. dos eritrócitos e a inativação dos fatores de
coagulação. O sangue é administrado por
Doenças priônicas são transmitidas pela via intravenosa.
transfusão sanguínea em ovinos e Líquidos, como o Ringer com lactato, a
deveriam, portanto, ser consideradas na glicose 5% e soluções salinas hipotônicas,
triagem do sangue antes da transfusão em são contra indicados pelos seguintes
ruminantes. motivos: o Ringer com lactato causa a
quelação do cálcio com o citrato contido
Espécies exóticas (pouca importância) nos anticoagulantes e a subsequente
Em furões, a melhor escolha para doador formação de coágulos; a glicose causa o
são os machos adultos, grandes e ingurgitamento e a lise dos eritrócitos; e as
vacinados, que devem ter o VG e a soluções hipotônicas também causarão a
concentração de proteínas totais normais, lise dos eritrócitos.
ser negativos para o vírus da doença
aleutiana do vison (ou plasmocitose) e ser A aplicação rápida e excessiva de sangue
triados quanto à presença de microfilárias. ou de plasma pode resultar em sobrecarga
circulatória e em insuficiência cardíaca.
Em geral, o sangue deve ser administrado
por via intravenosa a taxas que não
ultrapassem 10 mℓ/kg/h (iniciando sempre
mais lentamente e gradualmente Preparações utilizadas para transfusão
aumentando o fluxo). O sangue total fresco é indicado para o uso
Exs. Pacientes hipovolêmicos podem em hemorragias agudas, anemia, distúrbios
necessitar de taxas de infusão de até 20 de coagulação e trombocitopenia.
mℓ/kg/h, enquanto pacientes com O sangue total estocado é indicado para o
problemas cardíacos, renais ou hepáticos, uso em anemia, mas não fornecerá
ou, ainda, bezerros deitados podem plaquetas nem fatores de coagulação.
necessitar de taxas de infusão de apenas 1 A papa de eritrócitos é recomendada para
mℓ/kg/h. animais anêmicos, particularmente
naqueles com alto risco de sobrecarga de
Caso o sangue seja administrado muito volume.
rapidamente, podem ocorrer salivação, Os usos para o plasma fresco congelado e
vômito e fasciculações musculares. A para o plasma estocado congelado incluem
transfusão deve ser completada em até 4 h as deficiências congênitas ou adquiridas de
para evitar a contaminação do sangue fatores de coagulação e a hipoproteinemia.
aquecido. O plasma fresco congelado é indicado para
Uma diretriz simples para pequenos o uso quando ocorrer insuficiência da
animais é a de que 10 a 15 mℓ de papa de passagem passiva de globulinas
eritrócitos ou 20 mℓ de sangue total (hipogamaglobulinemia) em bezerros,
aumentam o VG em 10%, caso o VG do potros, filhotes de cães e gatos.
doador esteja em torno de 40%. Crioprecipitados preparados a partir do
São descritos cálculos mais específicos plasma fresco congelado são indicados
para bovinos que dependem da indicação para a reposição de fatores de coagulação,
da transfusão; para choque hemorrágico, o especialmente os fatores VIII:C, vWf e
volume, em regra geral, é de 7 ℓ de sangue fibrinogênio, mas não para proteínas.
total para um animal de 600 kg. Criossobrenadantes (plasma pobre em
Em cães e gatos, os casos de crioprecipitados) fornecem maiores
trombocitopenia nos quais se utiliza quantidades dos fatores de coagulação II,
sangue total fresco para o tratamento, a VII, IX e X, podendo ser armazenados por
regra geral é administrar 10 mℓ/kg para até 5 anos.
aumentar a contagem plaquetária do O plasma rico em plaquetas ou o
receptor em um máximo de cerca de concentrado de plaquetas é indicado em
10.000/μℓ. casos graves de trombocitopenia e
Meia vida dos eritrócitos: trombocitopatia.
● Em cães, em caso de O plasma equino hiperimune ou o plasma
compatibilidade sanguínea é em equino rico em anticorpos antiendotoxinas
torno de 21 dias. têm sido utilizado em potros gravemente
● Em gatos, varia entre 30 e 38 dias. doentes, sendo relatado aumento na
● Já em equinos e bovinos, em sobrevivência dos animais que estavam em
transfusões compatíveis é de sepse.
apenas 2 a 4 dias.
Os substitutos do sangue estão disponíveis No entanto, a administração de uma
e têm sido utilizados para o tratamento de transfusão inicial sem que haja
anemias emdiferentes espécies animais, compatibilidade poderá sensibilizar o
incluindo cães, gatos, equinos, aves e receptor a antígenos imunogênicos, tais
furões. O produto mais amplamente como o 1.1, 1.2, 7 e outros, podendo
utilizado é fundamentado na hemoglobina resultar em diminuição no tempo de
e no transportador de oxigênio; é sobrevivência das células na primeira
conhecido como Oxyglobin (que teve seu transfusão e subsequente predisposição a
uso aprovado apenas em cães). O reações transfusionais graves. → o
Oxyglobin ® não está mais à disposição. antígeno mais reacional em cães, o DEA
Os substitutos do sangue apresentam 1.1, estimula as reações transfusionais
várias vantagens, como ser desnecessária a mais graves.
tipagem sanguínea e as provas de reação
cruzada; o risco de transmissão de uma Em gatos, a transfusão com sangue
doença infecciosa é mínimo; e o tempo de incompatível com o tipo AB, quer seja a
validade é maior (3 anos no caso do inicial ou a subsequente, pode causar
Oxyglobin). reações agudas de incompatibilidade
É um produto é caro e deve ser descartado hemolítica. Os eritrócitos são destruídos
dentro de 24 h caso não seja totalmente imediatamente devido aos aloanticorpos;
utilizado; uma vez administrado, ele tem isso contrasta com a situação em cães, em
meia-vida de 18 a 40 h. que há maior probabilidade de ocorrência
de reações transfusionais tardias.
Reações transfusionais e sequelas Já a transfusão de sangue do tipo A para
As potenciais reações transfusionais um gato com sangue do tipo B resulta em
podem ser agudas ou tardias. A hemólise reações transfusionais hemolíticas agudas
intravascular aguda com hemoglobinemia com hemólise intravascular massiva, sinais
e a hemoglobinúria podem ser vistas em clínicos graves e, possivelmente, óbito –
animais que receberam sangue não mesmo se for a primeira transfusão.8 ,16
compatível. A liberação de substâncias Gatos com sangue AB podem receber com
tromboplásicas pode levar à coagulação segurança sangue dos tipos AB e A.
intravascular disseminada. Podem ocorrer A administração de sangue Mik-positivo a
hipotensão e choque, secundários a receptores Mik-negativos também pode
liberação de substâncias vasoativas, resultar em reações transfusionais
insuficiência renal aguda e óbito. hemolíticas agudas.

Em geral, a primeira transfusão em cães A isoeritrólise neonatal é a destruição dos


pode ser feita com segurança, sem levar eritrócitos na circulação de recém-nascidos
em consideração o tipo sanguíneo do pelos aloanticorpos de origem materna
doador (caso o receptor nunca tenha absorvidos por meio do colostro. Filhotes
recebido transfusão), pois os aloanticorpos de gatos em risco incluem os do tipo A ou
contra os antígenos eritrocitários 1.1 e 1.2, AB e que mamam o colostro de fêmeas
comuns em cães, não existem. tipo B nas primeiras 16 h de vida. Quase
todos os casos em potros são causados
pelo fator Aa no sistema A e pelo fator Qa
no sistema Q (aloanticorpos adquiridos, detectáveis de anticorpos no receptor, quer
não ocorrendo naturalmente). Os sinais em sejam de ocorrência natural ou induzida,
geral desenvolvem-se de 24 a 36 h depois contra os antígenos dos eritrócitos do
de mamarem, com anemia e insuficiência doador. A prova de reação cruzada
hepática e kernicterus (encefalopatia primária deve sempre ser realizada em
bilirrubínica) resultantes, sendo as causas animais que apresentam grandes
primárias de óbito em potros. A quantidades de anticorpos de ocorrência
isoeritrólise neonatal também é importante natural, como os gatos, ou naqueles que
em potros asininos e em bezerros, sendo possam ter anticorpos induzidos devido a
raramente relatada em cães. transfusão prévia.

A intoxicação por citrato pode resultar na O procedimento da prova de reação


diminuição aguda no nível sérico de cálcio cruzada secundária segue os mesmos
ionizado, o que pode ser especialmente passos da primária, mas avalia a presença
significativo em bovinos doentes já ou a ausência de anticorpos detectáveis no
hipocalcêmicos. Nesses animais pode ser plasma do doador contra os eritrócitos do
indicada a administração simultânea de receptor. É uma prova considerada menos
cálcio em uma via separada à da importante; supostamente o volume de
transfusão. plasma é menor no sangue doado se
A intoxicação por amônia pode ocorrer comparado ao do receptor e é, em última
com sangue estocado por longos períodos, análise, diluído, particularmente quando se
pois a concentração de amônia aumenta transfunde papa de eritrócitos.
com o passar do tempo.

Tipagem sanguínea
Princípios gerais
Kits de tipagem sanguínea disponíveis
comercialmente incluem ensaios de
aglutinação com base em cartões
(Laboratórios DMS, Inc., Flemington, NJ),
um cartucho imunocromatográfico
(Alvedia, França) e um ensaio de difusão
em coluna de gel (DiaMed, Suiça).

Reação cruzada do sangue


Princípios gerais
As provas de reação cruzada testam quanto
a aglutinação e/ou reações hemolíticas
entre o doador e o receptor, sendo
classificadas como primárias e
secundárias.
A prova de reação cruzada primária avalia
quanto à presença (achados positivos) ou à
ausência (achados negativos) de níveis

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