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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Centro de Ciências Sociais


Instituto de Ciências Sociais
Departamento de Sociologia
Disciplina: Tópicos Especiais em Sociologia IV - Sociologia Urbana
Prof. Lia de Mattos Rocha
PAE 2020.2

HARVEY, David. “A Geografia da acumulação capitalista: uma reconstrução da teoria marxista”. In:
______. A Produção Capitalista do Espaço. São Paulo: Annablume, 2005 (pp. 39-71).
Harvey, David. “A Acumulação via Espoliação". In: ______. O Novo imperialismo. São Paulo:
Edições Loyola, 2004 (pp. 115-145).

David Harvey (Kent, 7 de dezembro de 1935) é um geógrafo britânico formado na Universidade de


Cambridge. É professor da City University of New York e trabalha com diversas questões ligadas
à geografia urbana.

No capítulo “A Geografia da acumulação capitalista: uma reconstrução da teoria marxista” Harvey


discute a Teoria da Acumulação, de Marx, sua influência na organização geográfica mundial e seus
rebammentos para o desenvolvimento do capitalismo hoje.

Marx coloca a acumulação no centro do capitalismo - é o motor do carro, que no capitalismo


acelera mais ainda. Por isso é um modo de produção “revolucionário”, porque está sempre em
expansão. “missão histórica da burguesia” é “acumulação pela acumulação, produção pela
produção”.

A crise é consmtumva do capital - quando está tudo calmo é exceção. Processo de contradições
internas.

Do que a acumulação precisa para acontecer:

1. mão de obra excedente - exército industrial de reserva. Então a classe trabalhadora tem que
estar em expansão, seja pelo crescimento populacional seja pela incorporação de novas
populações ao mercado de trabalho;

2. meios de produção em quanmdade suficiente - matéria prima, máquinas, infra-estrutura


produmva (estradas, portos, trilhos, etc.)

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3. um mercado que possa absorver essa produção. Se esses não forem absorvidos não há
acumulação capitalista.

As barreiras em cada um desses elementos impede a acumulação. Por isso no capitalismo as crises
são endêmicas:

‣ crise por realização: não tem mercado consumidor para o que foi produzido; superprodução,
subconsumo => superprodução de capital precedente que levou a produção para além das
capacidades de absorção do mercado consumidor.

‣ superacumulação: desemprego e subemprego crônicos, o excedente de capital e a falta de


oportunidades de invesmmento, as taxas decrescentes de lucro, a falta de demanda efemva no
mercado e assim por diante - podem, desse modo, remontar à tendência básica da
superacumulação” (p. 44)

‣ as crises “impõem algum mpo de ordem e racionalidade no desenvolvimento econômico


capitalista” (p. 44)

‣ solução para a crise: criação de condições apropriadas para a renovação da acumulação (p. 45)

- produmvidade avança com novos equipamentos

- custo da mão de obra diminui devido ao desemprego provocado pela crise

- excedente de capital será atraído para linhas de produção novas

- a demanda efemva expandida por produtos esvaziará o mercado

Mas para que a demanda aumente é preciso (mistura complexa de quatro elementos):

• penetração do capital em novas esferas de amvidade (por exemplo, industrialização do campo);

• criação de novos desejos e necessidades;

• estmulo para crescimento populacional;

• expansão geográfica para novas regiões (organização espacial e expansão geográfica, que se
torna mais necessária quando fica mais diucil a intensificação da amvidade social e dos
mercados, referente aos 3 primeiros pontos).

Diz ele:

“A sobrevivência do capitalismo é atribuída à capacidade constante de acumulação pelos


meios mais fáceis. O caminho da acumulação capitalista seguirá por onde a resistência for
mais fraca. É tarefa das análises histórica e teórica idenmficar esses pontos de menor
resistência, de maior fragilidade” (2005, p. 69, grifos do autor).

Acumulação por despossessão ou por espoliação (como no livro O Novo Imperalismo, de 2004)

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São as polímcas neoliberais que resultam em centralização da riqueza e do poder nas mãos de
poucos, “despossuindo” enmdades públicas e privadas de suas riquezas ou terras. Tais polímcas são
observadas nas nações ocidentais desde 1970 até os dias de hoje. Harvey argumenta que tais
polímcas são realizadas sobretudo por quatro prámcas: privamzação, financeirização, gerência e
manipulação de crises e redistribuição estatal.

Que fenômenos compõem a Acumulação primimva (recuperando o conceito)

‣ mercadificação e a privamzação da terra e a expulsão violenta de populações camponesas;

‣ conversão de várias formas de direitos de propriedade (comum, colemva, do Estado, etc.) em


direitos exclusivos de propriedade privada;

‣ supressão dos direitos dos camponeses à terras comuns (parmlhadas);

‣ a mercadificação da força de trabalho e a supressão de formas alternamvas (autóctones) de


produção e de consumo;

‣ processos coloniais, neocoloniais e imperiais de apropriação de amvos (inclusive de recursos


naturais);

‣ a monemzação da troca e a taxação, parmcularmente da terra;

‣ o comércio de escravos;

‣ a usura, a dívida nacional e em úlmma análise o sistema de crédito

Todos os elementos permanecem fortemente presentes na geografia histórica do capitalismo até


os nossos dias (2004, p. 121).

Para o autor, o Imperialismo é uma forma atual de acumulação via espoliação, pelos seguintes
elementos:

‣ Intervenções militares (como não lembrar da Guerra ao Iraque em busca de armas de


destruição em massa que não exismam, mas que abriu o mercado para a exploração das
empresas petrolíferas americanas);

‣ A abertura forçada de mercados em todo o mundo mediante pressões insmtucionais exercidas


por meio do FMI e da OMC, apoiados pelo poder dos Estados Unidos (e, em menor grau, pela
Europa) de negar acesso ao seu próprio mercado interno aos países que se recusam a
desmantelar suas proteções;

“O pecado original do simples roubo mnha eventualmente que se repemr para que o motor da
acumulação não morresse de repente” (2004, p. 148)

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