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Do mito da democracia racial questao politica de €tnico-racial Outro marco para a critica da democracia racial é a produga do livro de Carlos Hasenbalg, Discriminagao e desigualdades ra. ciais no Brasil, em 1979. Sua contribuigo se expande do ambito académico para a sustentagdo das reivindicages da do Movimento Negro brasileiro no periodo da ditadura. Nesse ro, © autor vai reafirmar 0 que jé fora levantado por Florestan Fernandes quando afirmava que 2 marginalizagio do negro estava ligada as préticas “racistas" da sociedade brasileire que foram reproduzidas mesmo apés a aboligo. No entanto, ele di fere da abordagem de Florestan Fernandes por entender que 0 preconceito racial no & apenas resquicio do escravismo, mas se reproduz concretamente na sociedade capitalista, nas relagdes sociais, em diferentes esferas. Segundo ele, a diser 'ag30 @ preconceito racisis no s80 mentidos in tactos apés @ aboligo, mas, pelo contrério, adquirem novos significados e fungdes dentro das novas estruturas e as pré- ticas racistas do grupo dominante branco que perpetuam 8 subordinago dos negros nao so meros arcaismos do pasado, mas esto funcionalmente relacionadas da desqual 1979, p.85) Nao ha tre as desi na perspectiva de Haser Ig (1979), uma hierarquia en- jualdades de classe e a opressio racial; pelo contrétio, elas se articulam e corroboram para @ manutengo da exploragso do negro. Para esse autor, a possibilidade de mobilidade social esta intimamente ligads & cor da pele, de maneira que o acesso as ‘oportunidades sociais distingue os individuos a partir da categoria raga e no apenas pela classe social. A distribuig3o desigual das oportunidades para as diversidades étnico-raciais, nesse sentido, também é determinante para as desigualdades sociais, icasciscriminatérias sutise de meca Devido 20s efeitos de pr rigmosracistas mais gerais, os no brancos tém opo" educacionais mais limitadas que os brancos da mesma origem social, Por sua ver, as realzacdes educacionais dos negros & mulatos sio traduzides em ganhos ocupacionais ¢ de renda proporcionalmente menores que os dos brancos (ibid, p. 22). A reprodugéo dessa estrutura é reforgada, na visio de Ha: nibalg (1979), pelo papel de controlar ideologicamente 2 estrutura vigente da so- ‘iedade, marcade pelas desigualdades raciais. A propaganda da lemocracia racial teria contribuido para a manutencao de uma cociedade “racista” camuflada, por ndo se assumir como tal, e, a0 mesmo tempo, impediu que a questo racial fosse tomada como tema politico que possibilitasse acdesespecificas que in- fade. to da democracia racial, que cumpre 0 terviessem na rea 1979) vai demonstrar ‘que os brancos tiveram acesso a oportunidades diferenciadas que os colocaram em melhores condigSes sociais e econémicas que os no brancos. Iso fica claro se retomarmos a citago anterior, “os ndo bran- ‘cos tém oportunidades educacionais mais limitadas que os brancos da mesme origem", ¢, como consequéncia, tem-se que a colocago profissional também seja desigual, resultando em ganhos despropor- Por meio de dados empiricos, Hasenbalg cionais em fungao da cor. ‘Apoiado nesse tipo de estudo 6 que o Movimento Negro, na década de 1980, entra para o debate politico. Ao questionar as desigualdades racieis mantidas na sociedade de classes € 2 visive! submisso dos negros a postos de trabalho de menor prestigio, esse movimento social consegue politizar a questo racial para pleitear politicas especificas que atendam as deman- das promovidas pela exclusio. Silvério et al. (2009) destacam que ao longo da década de 1980 vérios mov negra, forentados principalmente pela fundacdo do INU, em 1978. Assim, a reforma constitucional e a nova redac3o da Cons- 0 Federal de 1988 apontavam para ura nova concepgio social dos direitos civis. nentos deram visibi ide a luta politica da populacgao Podemos relembrar alguns trechos iniciais da Constituicao Federal de 1988 para pensarmos sobre as mudangas que se es. tabeleciam politicemente em relagio as diferencas e desigqual- dades. No artigo 14, parégrafo Ill, temos que & fundamento da Replica Federativa do Brasil “a dignidade da pessoa huména"; em seguide, 0 artigo 3, parégrafo IV, constitui urn dos objetivos fundamentais da Republica “promover 0 bem de todos, sem preconceites de crigem, raca, sexo, cor, idade © quaisquer outras formas de discriminagao”. O artigo 5¢ prevé que “todos so iguais. Perante a lei, sem distingo de qualquer natureza” (Brast, 1983) Dessa maneira, no se tratava apenas de proibir a discriminacéo, a0 afirmar a igualdade, mas, sobretudo, de garantir medidas que efetivemente produzissem a igualdade para todos os cidadaos portadores de direito Como haviamos dito anteriormente, no campotesrico jase pro- nunciava que as praticas de discriminago racial eram produtoras de desigualdades sociais e que 0 acesso aos direitos elementares, ‘como satide e educacao, se diferenciavam em fungao da cor. Dessa forma, 2 sociedade brasileira produzia a expansao das diferencas sociais a partir de praticas racistas, ofuscando as hierarquias so- Ciais. Essas questées ficam claras na exposigo de Da Matta (1987), no artigo “Digresséo: a fabula das trés races, ou 0 problema do racismo a brasileira’ Numa sociedade fortemente hierarquizada, onde as pessoas se ligam entre si e essas ligagdes S80 consideradas como fandamentais (valendo mais, na verdade, do que as leis Universalizantes que governam as instituigGes © as coisa: {as relagées entre senhores @ escravos podiam se realizar com muito mais intimidade, confianga © consideracio, ‘Agui, o senhornio se sente ameacado ou culpado por estar submetendo um outro homem ao trabalho escravo, mas, muito pelo contrério, ee vé o negro como seu complemen. to natural, como um outro que se dedica ao trabalho duro, nas complementar 3s suas proprias atividades Go espirito. Assim a lbgica do sistema de relagies Brasil € a de que pode haver intimidade entre senhores © escravos, superiores e inferiores, porque 0 mundo oy realmente hierarquizado, [.J © ponto etco de todo 0 nosso sistema 6 a sua profunde desigualdade. Ninguém é igual entre si ou perante a lei; nem senhoras (diferenciados pelo los, propriedades, educagao, soais passiveis de manipulago etc) nem es- 1dos ou subalternos, igualmente diferenciados sangue, nome, dinheiro, relagdes ‘entre si por meio de vérios crtérios. Esse 6, parece-me, um onto chave em sistemas hierarquizantes, pois, quando se estabelecem distingSes para baixo, admite-se, pela mes ma légica, uma diferenciago para cima, Todo o uni entéo, acaba pagando o preco da sua ext desiqualdade, colocando tudo em gradagdes. Neste siste- ma, nao ha necessidade de segregar.o mestico,.o.mulato, cindio e o negro, porque as hierarquias asseguram.asupe- rioridade do branco come grupo.dominante, A intimidade, ‘ consideraco, 0 favor e a confianga, podem se desenvalver. como tacos e valores associados a hierarquia iniscutivel que emoldura a sociedade e nunca ~ como supds Freyre como um elemento de carster nacional portugués ibid, P.75, grifo nosso) Quando o autor chama a atengo para 0 fato de que “ndo ha necessidade de segregar o mestico, 0 mulato, 0 indio e o negro” (ibid, p. 75), reafirmando que a hierarquia para os “de cima” ja fora definida, e neste campo cabem os brancos, ele nos faz refletir que os grupos éinicos, até enti, foram representados pelo mito da democracia racial como um corpo homogéneo. No acreditamos que seja neutra a invisibilidade dada politicamente 205 grupos sociais que no esto no topo da hierarquia social, mas que tenha contribuido estrategicamente para a desmobilizagio, dos povos indigenas, quilombolas, negros e mesticos, Estudos como o de Hasenbalg (1979) ¢ 0 de Hasenbalg & Valle e Silva (1988) vo apontar, com base em dados demogrsficos e es isticos, que a desigualdade racial naturalizada evidenciada quando se analisa © confronto de varidveis como cor, rendimen to, entrada no mercado de trabalho e acesso ao ensino superior. Um estudo mais recente de Ricardo Henriques, nos anos 2000, 8 apresenta a conclusio de que a pobreza no Brasil tem cor: dos 40% do total de pobres no pais, cerca de 64% so negros, além de estes responderem também pelos 69% de ‘ues, 2001), igentes (Heng. Essas questées vo compor a reivingicago e o debate politico ‘dos movimentos sociais que emergiram na década de 1980, como & © caso da rearticulagio do Movimento Negro no Brasi Como conquista do engajamento politico-social dos movi- entos sociais, no campo das relagées étnico-raciais, podemos citar a criminalizagio do racismo (1987 ¢ 1988) e a reivindicacao Por politicas de ago afirmativa (1995). Somam-se a esta luta Outros grupos identitérios também organizados em movimento, como € 0 caso dos movimentos indigenas e do movimento de mulheres que qualificam o debate sobre cidadania no pai Assim, 2 partir da década de 1990 a questo racial entra definitivamente para 8 agenda politica e qualifica-se o debate acerca de medidas que compensem e/ou reparem o processo de discriminagao e desigualdade.estabelecido na-sociedade. brasileira. Por parte dos movimentos, exigem-se aces con- cretas que combatam a desigualdade racial. Destacam-se dois eventos que marcam a cobranca para a revisdo politica sobre as uestées éinico-raciais: a Marcha Zumbi de Palmares contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida, em 1995, em Ambito nacional a Conferéncia de Durban, em 2001, em nivel mundial, realizada na Africa do Sul, tendo como pauta o manifesto contra 0 racismo, a xenofobia @ intolerancias correlatas. Medeiros (2008) destaca Que a criagao, nesse periodo, de Grupos de Trabalho que visa- vam a elaboragio de sugestées de politicas antidiscr foi sendo cons ‘olidada como resposta a esses marcos histéricos. Os Grupos de Trabalho, em geral, so formados dentro de pastas ‘ministeriais e secretarias especiicas.e eontam com a participagéo a sociedade civil A partir dessa iniciativa ages concretas co. ‘mesam a ser construidas no sentido de ampliar a questéo racial como pauta na agenda piblica 4 A aprovagio do Programa Nacional de Direitos Humanos, IDH |, em 19%, e posteriormente a Conferéncia de Durban e 1 aprovago do PNDDH Il demonstram importantes conquistas, assu- las pelo governo diante da pressdo social para combater as desi- idades raciais. ima afirma que urn dos destaques do PNDH II foi ‘apoiar 0 reconhecimento, por parte do Estado brasileiro, de o transal que a escravidéo et ico de escravos consti- tuiram violagdes graves e sistematicas dos direitos humanos, ‘que hoje seriam considerados crimes contra a humanidade; ‘apoiar 0 reconhecimento, por parte do Estado brasileiro, da marginalzago econémica, social e politica a que foram. submotidos os "sfrodescendentes" em decorréncia da escra- vidio; estudar a viabilidade da criagode fundos de reparacdo ‘social destinados a financiar politicas de ago afirmativa e de promo¢io da igualdade de oportunidades (La, 2011 p. 81), Juntamente com a aprovagao desse programa também é efe- tivado 0 Programa Nacional de Agées Afirmativas, Silvério et al. (2009) destacam que a campanha presidencial de 2002 colocou em evidéncia a importéncia de se tretar a ques- 180 raci Bes sociais, forgando os candidatos a debaterem sobre as ages afirmativas. No inicio do governo Lula, as expectativas aumentaram « algumas mudanges positives puderam ser apontadas. A aprova sio da Lei n# 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que altera a Lei de Diretrizes © Bases da Educago Nacional n# 9.394, de 20 de dezembro de 1996, a0 introduzir a obrigatoriedade da temética histérica e cultural afro-brasileira no ensino basico, e a criagdo da de Educacao Continuada, Alfabetizagao e Diversidade igada ao Ministério da Educacdo, e da Secretaria Especial ticas de Promos da lqualdade Racial (Serre), também em 2003, sio exemplos concretos da insergdo das questées étnico- ‘como mecanismo para o equacionamento das condi- Secretar -racias na esfera politica , Silverio et al. (2009, p. 205-206) também er ‘que tais ages nao foram suficientes para atender as expectativas, Principalmente dos movimentos sociais, de reversio do cenario das No entant 85 desigualdades sociais. A dificuldade orgamentaria de uma secre. teria especifca, a sobreposigso de interesses politicos 8 atuagio técnica e até mesmo a discordancia sobre o peso do racismo coro estruturante das desigualdades sociais sio indicaclores que apon. tam para a dificuldade do éxito das politicas acisis. Dessa maneira, compreende-se que as politicas praticades elo Estado na tltima década ainda se constituem timidas para reverter a situagdo de exclusao das populagdes marginalizadas ‘em fungao de sua raga e/ou etna. As ages afirmativas também ndo se apresentam como uma politica de oportunidades iguais, Contudo, na perspectiva de uma politica que reconhece os obstaculos socials, para de- terminados grupos, de fato existentes |. que nom sempre tomam a forma de discriminagio manifesta, inclusive em Certas politicas que, aparentemente, s30 neutras mas que podem operar desvantagens pare individuos de género ou eticidade diferente de outros (bid, p. 144), ica de direitos Atnico-raci gitima e deve estar consolidada na efetivago de atendimentos a demandas minimas, como é © caso das cotas, mas também na reivindicagao constante de politicas que busquem a eliminago das diferengas sociais, valorizando ao mesmo tempo as diferen- 628 étnico-raciais e culturas, lil, Pensando as relacées étnico-raciais a partir dos conceitos de cultura e diversidade E aquito que nesse momen se revelard aos poves todos, no por sere ler sempre estado oculto ‘Quando ter sido o obvio (Castano Vetoso) % 4 5 Como é possivel que apés tantos anos de convivéncia em uma iedade marcada pelas diferencas culturais, como a brasileira, 1» indio, um quilombola sejam ainda tratados com desconheci- to? Seré que, de alguma forma, no afastamos de nés aque- fe consideramos diferentes e os tornamos exdticos? Esses, juestionamentos nos levam a pensar que, antes de discutiemos mplesmente a incluso do tema da diversidade nos curriculos scolares, temios que refletir sobre a nose propria posture ag0_8s diferencas sociais e culturais. Anossa formagéo escolar, na maioria das vezes, no problema- lizou a questo da diferenca cultural nas relages sociais. Fomos lormades para aceitar. que o. modelo hegeménico (o europeu) ¢ © mais correto, o mais evoluido, aquele que devemos alcangar, 0 que por diversas vezes nos distanciou daqueles que sio diferentes ddesse modelo, No nosso caso, os negros, indigenas e homossexvais foram 08 que mais sofreram os resultados desse processo. Foram a0 mesmo tempo excluidos da condicao de ter a valorizagéo de sua identidade e vitimas de discriminaco racial em funcdo de sua cor e/ou de suaetnia, ou ainda estigmatizados por se afastarem do modelo de.comportamento considerado correto. Propomos, portanto, discutir a leitura que fazemos sobre a diversidade e as diferengas. Embora 0 campo tedrico que discute a alteridade seja vasto, este & um ponto de partida para a com: preensio das relagdes sociais, problematizando as diferencas. Acreditamos ser no campo.do questionamento e da reflexio que poderemos avancar no respeito ao outro e no reconhecimento da diferenga, e acreditamos ainda que a sala de aula é 0 ponto na qual 58a reflexdo deve culminar Portanto, esperamas que esse debate possibilite a todos/as que fazem parte do contexto escolar novas, interpretagSes pare os contetidos e para as relagdes cotidianas. O confronto com 0 outro~ 0 etnocentrismo O confronto com 0 outro sempre fot fundamental a exper humana, Esse outro, ainda pensado de forma genérica, se caracte- Fiza por todo aquele que é diferente de nds mesmos. Em termos de 7 2740s socials, © outta 6 todo grupo com caracterisicas distintas, Gulls incviduos agem e pensam de forma diferente da nossa, nn tas veres de maneira tio radical que se torna dificil dar sentdo inteligiblidade a sua prética de acordo com o nosso ponto de vises © contato com um grupo que age em seu cotidiano de form, completamente dversa da nossa faz com que nos perguntomes © Poraué dessa diferenca. E ndo apenas isso, mas 0 questions mento, muitas vezes, do porqué de 0 outro néo ser igual a mirn Essa questéo permeou e permeia até hole no s6 nossa veo ie mundo, mas também gerou e gera grandes debates no inte- rior das ciéncias que t8m como foco o homem, Historicamente, 3 Bart do Renascimento(inciado no século XIV) a amplacio de Contato gue 08 eurapeus tiveram com grupos sociais completa. ante diferentes de qualquer conhacimento que tinham epoca os fez pensar sobre essas quesiéer, procurando dar senile as izagao" europeia. Esse sentido ja dava a esses ou. {ros um significado pejorativo, na medida em que: 16358 definigio se Gleva de forma negativa, ou sej,caracterizando-os pela ousénee das Corecteristicas reconhecidas como boas para 0, colonizador europeu. Essa atitude frente a0 outro, ou seja, de consicderé-lo + partir 28 préprias referéncias é, no entanto, muito ususl em diversos po- ‘os. determinando, muitasvezes, prépria denominayso do grupo: © grupo do ‘eu far, entso, da sua visio a nica possivel ou, mais discretamente se for 0 caso, a melhor, a natural, asa, Petior 9 certa. O grupo do ‘outro fea, nesta iSgica, como Sendo engrasado, absurdo, anormal ou ininteligivel. tate Drocesso resulta num considerével relorgo da identidade do R98S0' grupo. No limite, algumas sociedades chama Por nomes que querem dizer ‘perfeitos, ‘excelentos” ‘muito simplesmente, ‘ser humano’ e a0 ‘outro’, ao estren, Sete, chamam, por vezes, de ‘macacos da terra" ou ‘oves cle Piolho: De qualquer forma, a sociedade Uo ‘eu’ dg melhor. 2 superior, representada como 0 espago de cultura trabalho, 0 progresso. A sociedade do ‘outro’ & atrasada, Eo espago de natureza. So os selvagens, os birbaros. S50, qualquer coisa menos humanos, pols, estes somos nés. O barbarismo evoca a confusdo, a desarticulacso, a desor- dom (Roca, 1996, p. 5: Essa atitude, que pode ser chamada de “etnocéntrica”, foi sticada pelos europeus no momento em que entraram em stato com povos radicalmente diferentes deles. A primeira ‘sto colocada era se tais “seres” seriam realmente bumanos, teriam alma. Essa visio redominante durante varios sécu- ofa considerando os “selvagens” como ruins, ora como bons, a8 Sempre em oposigao 3 “ci " europei ‘\classificaco do outro ~ 0 evolucionismo. Com a intensificasao das narrativas de vigjantes, no século XIX, bre esses povos estranhos, até entdo desconhecidos, e com 0 contexto da Revolugzo Industrial e @ posterior expansio coloniza- dora europeia, surgiram teorias que procuravam explicar as dife- rengas entre os povos. Essas explicagées tinkam sempre como referéncia a sociedade europeia como a mais desenvolvida, perspectiva esta derivada da nogo de “progresso” nascente nesta sociedade. Desa for- ma, defendia-se que tais povos longinquos seriam “primitivos", ‘ou seja, estariam em um grau inferior de desenvolvimento dentro de uma escala, em cujo topo estaria a civilizagdo ocidental, Assim, foram criadas escalas evolutivas, muitas vezes con- siderando 0 controle de certos meios técnicos produtives como determinantes de cada estagio. No entanto, esse tipo de classifi casdo deixava a pergunta: por que esses povos atrasados nio se desenvolveram como nés, europeus? Isto seré respondido prin- Sipalmente por meio de explicagées fundamentadas em deter- mos biolégicos © geograficos. Esto iltimo considerava que © “atraso” seria definido a partir das diferengas principalmente de clima entre as regiées geograficas. J pelo determinismo biol6- gico dizia-se que tais diferencas se dariam por uma determinacdo 8 Inerente as racas humanas. A partir deste crit éric Essas teorias, a0 Priorizarem o cri ante das condigdes sociais, ceforgaram tes na sociedade ocidental frente a estes fisicamente @ culturalmente dos europer floridade branca foi logo difundida, gan! Brasil ainda no século XIX. 9 preconceitos existen, S Outros, que se diferiam us. A afirmagao da supe- hando espago também no Tei teorias S30 completamente refutadas hoje Pelas Ciéncias Socials, tendo sido largamente combatidas desde o século XIX, Por exemplo, com a teoria relativista de Franz Boas (1858-1942) A Preocupagio da busca por uma refutagdo dessos teori ben ass ara além do ambito propriamente académico, ten. bém levou insttuigdes internacionais 9 Produzir materiais nesse. Roce 2 Strauss (1908-2009, por exemplo, escrevou o rons Raga e Histiria", sob encomenda da Unesco, publicade i mente em 1952, afirmando: . mes © Pecado original da Antropoloata consiste na confusio 6g de aca (eupondo, ais, Gue, mesmo neste tereno lmitado, esta nogde purioae Pretender 8 objetividade, 0 que a genética moderes nn total 28 rodugdes sociligicasepsicolégicas da cuties hhumanas (ew-Siauss, 1993p. 329) Assim, a0 invés de se considerara raga, tiondvel, serdo consideradas as especificida gicas das culturas humanas, Dessa forma seré fundamental para se pensar o outro com suas caracteristicas especificas categoria em si ques. des sociais @ psicok wos diferentes teriam uma origem comum e as mesmas causas, | também 0 método comparativo sem restrigbes, ulizado por is modelos. Sua teovia foi de fundamental importancia para lberto Frey © conceito de cultura Na verdade, 0 conceito de cultura estava presente desde as ias evolucionistas, especialmente a partir de Edward B. Tylor 11321917), que a definiu como .0.gue inclui conhecimento, erenga, arte, moral, costume e quaisquer outras capacidades e hébitos ‘dauiridos pelo homem na’ condigéo de membro da, s0- ciedade (Twor, 2005, p. 69). Essa perspectiva foi defendida por um longo periodo e ainda @ encontrada no senso comum de hoje. Ela é.combatida porque tende a desconsiderar a légica interna dos grupos, tomando al- gumas de suas caracteristicas que, do nosso ponto de vista. .Acesso em: 05 maio 2013 al dos nogées de 263, racismo, identidade ‘das peseuisas populacionsie pore o Rewwdo 8 ANPED, 29, 2008, Casamiva 9 br/reunioes/2ratrabalhos) ERG RL Cort 901 Que reacimos? Revita USP, S30 Poulos 6, P7687, des Referéncias 1 de couleur dans Sasnoe, R; Femuannes, F l6gico sobre aspectos da de cor na sociedade 105 do precone Companhia Editera Nacional, 1959 Boss, F Antropologia cult Blah, A. Diferenga,cversidac Disrio Ofeal de Republica Federativa do B utubro de 1998 Frew Ltint 9394, de 20 de dezembro de 1996. 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