Você está na página 1de 27
O Brtnts de Rirho Pundo (a vida ¢ a obra, em pequena dinensio, do pocta Anténio Tavemard). Prémio «Carlos “Nascitnentos da Academia Paraense de Tetras Beleny © Meir © mice to Pars Baler Couselbes Estadual de Culm 1970. © Ormagro ne Para, ob 0 regime ta escrurvtay (Vediyao] Rio de Janciro: Punilagio Getilio Vargas cm convénio com a ‘Universidade Federal do Pari, 1971. (2! edigio} Belém - Cejup/Pindagao Cultural do Pard « Tancredo Neves +, 1988. © A mists ¢ 9 compo 00 Grito Pant. Belém: Conselho Pstadiaal de Cultura, 1980, © Suntarim: wes oerenda noetcrt Belen: UVIA/Lnprensa Universitaria, 1981. & Prulin Chaves (Centenino do pianists ¢ compositor) Belém. Consetho Estadual de Cultura, 1983 + Biblingafie analhica do artestmco brasileéro. Rio de Janci ro: Punarte/Instituto Nacional do Folclore, 1984 : © Soietudes de Euterpe. As bandas de misica no Grae Pasi Brasilia: Edigdo do autor, 1985 . te ¢ vondel Vateratura popular ctw versos 1a Ainaco nia. «Préinio Silvio Romero 1981», Rio de Janciro. Punar te/lustituto Nacional do Poklore, 1985 © Memorial ds Cabanagem. Bsboso do pensamento politico teyohwionirio no Grio Pari. «Premio Osvaldo Orico- da Academia Brasileira de Letras 1983. Belém: Cejup, 192 © Beas do teatro ma Grto-Pard ow ioroluyio uo teatro fon Belem: UPPA/Imprensa Universitiria, 104 2 vs aac aN pan Baletin do Muse Paracase Eno Goch _ Soanes, Anténio Joaquim de M exftico (1875-1878). Coligida, Hesiae ‘omp) scu filho Julido Rangel de Macedo Soares. Rio Instituto Nacional do Livro, 1954 1955. 2 v. IMPRENSA A Constituigéo, Belém, 23.08.1876 Diario de Noticias, Belém, 15.11.1882, 7. 24.05.1885, 17,10, 1893 , Yolba do Norte, Belém, 12.09.1920 O Liberal, Belém, 23 09.1976 1984, 29.04. sieht 6.05.1984, 13.1 02.1849. Revista da Academia Paraense de Letras, 1953 “A Semana, Belém, 17.03.1890 A Semana Tlustrada, Belém, 0.04 1888. © Se erkone ¢ Maraons no Grito Pant. Brasilia: Micro eciiyar do autor, 1994 81 p. 50 copias. © Berto Aranba. Histéria de um jomahsta revolucot Brasilia: Micro edigdo do autor, 1994. 76p. 30 cOpias 4% Jats Cartas Wegande. Pioneiro da caricatura no Grio Para Brasilia: Micro edigio do autor, 1994 23 p. 20 vopias 9 Sotohnter de Mulberss Negras no Gnto Pant. Brasihs Micro edigao do autor, 1994. 32)» 20 edpias © A dejeon pessoa! Lo negra. A capocine no Part. Brasilia: Micro exdigio do autor, 1994. 48p. 20 edpias Teaducao: + Tellers tranilere, de Prederico José de Santa Anna Nery [folk Lore brévléen, Paris, 1889). Apresentagio, tadusac, Gonologia ¢ notas adicionais de Vicente Salles. Recife Pundagio Joaquim Nabuco/Editora Massangina, 1992 oe ee ters Wis de Covet Se ieee ane cm 27.11.1981. Viveu a infancia em Castanhal, 2 javentude em Belém Desde cedo, interessouse pela literatura, 2 mica ¢ @ foleloce, Fim 1948, por intermédio de Romeu Mariz, publicou os primeiros trabalhos em A Provincia do Pant: depois colaborou em Escada do i ‘, Mcaect cone os gupoe ja bumbds. De jancis i oe pissaros ¢ bumbis. De janciro a maio de 1954 viven em Algodoal, Maracana, Marapanin, Curugi, Si0 Caetano e Vigia, pesquisando bandas de misica. Em jumho, em contato cam Edison Cameiro, que visitava o Pari pela primeira vex, decidin transferir se para o Rio de Janeiro, embarcando em agosto. Em dezembro ingressou no Ministério da Educagio ¢ Cultura, MEC, mediante concurs do DASP. Fez joralismo, colaborou em diversos jomais revistas, bacharclou se no curso de Ciéncias Sociais da Paculdade Nacional de Filosofia, Universidade do Brasil De 1961-72 trabalhou na Campanha de Defesa do Foldore Brasileiro, onde organizou ¢ dirigiu a Biblioteca Amaden Amaral, foi redator da Rerissx Brasileéa dy Folelare, arganizon a edigio de livros ¢ discos. 1972.74, trabalhou no Conselho Federal de Cultura, secretariando a Camara de Artes. Em 1971 foi eleito membeo do- Consetho de Musica Popular do Museu da Imagem ¢ do Som, RJ, sucedendo a Eneida. Em 1974 passou a residir em Brasilia, DP, € colaborou na criagio da Punarte, onde se manteve até 1980. Bim 1985, com a criagio do Ministénio da Culmara, ficou lotade no SPHIAN, Pro Meméria. Com o desmonte do drgio, optou pela aposentadons. Paralehmente 3s atividades de servidor paiblicg fol professor no Instituto Villa-Lobos, RJ, ¢ m1 Faculdade de Artes, DF; organizon edigio de obras de Joao Ribeiro, Renato Almeida, Edison Cameiro, Mocart de Araujo; cohborou no Projeto Lendo oPa rf, na edigao dos 10 primeiros tinulos; participou de encontros de pesquisadores. da MPB, cursos, seminifios, congressos ete, ¢ ainda colborou na_prosuglo con® Gingiienta discos de miisica follérica ¢ MPB Gores, Luis Leiveira [Jacques Flores] — Panela te barre Rio de Janeiro, 1947 2* cd. Belém, Secretaria de Estado da Cultura/Fundagao Cultural do Pari Tancredo Neves, [900 (Colesio «Lendo o Pari», 6) Jusanmtn, Dalcidio — Belan do Grace Para’ Roman ce Sao Palo, Martins, 1960 Jonamom, Dalcidio ~ Chae dos Lobes. Romance Rio de Janeiro, Record, 1976 Mostrones, Marcos Carneiro de - A Amazdnia na tira Pombilina. Rio de Janciro, Instituto Histérico ¢ Geo gritico Brasileino [1963] 3 v. Moraes, Bruno Batugue In Obvas conmpletas te Bruno de Menezes. Vol 1, Obra Pottica. Belém, Secretaria de Estado da Cultura, 1993 (Colerao «I endo o Bards, 14 Mexizes, Murilo — -Belém ao findar do século» Revita da Ncadesnia Paraense de Letras, 1953, p 118 126 Misawa, Vicente Chermont de Glossario parnenve on colleca0 de vocabulos peculiares 4 Amazonia c espe calmente 4 ilha do Marajé. Pari, Liv. Maranhensc, 1905 Moss, Raimundo © O mew diccionario de cousis oa Amazonia Rio de Janeiro [s.ed.] 1931. 2 v Pasian, Lauro ~ O Gorereba (romance). Scenas da vida proletaria do Brasil. f1. de Correia Dias. Rio de Janei- ro, Bd de Verra de Sol, 1931, Pearoaino Jono [Joao] ~ Pussanga. Bpisddios « paisagens du Amaz6nia Rio de Janciro, Typ. Hispano Americana, 1920, Res, Ndio Suburbie (romance) Rio de fanciro Liv José Olympio Editora, 1937 Rinemo, José Sampaio de Campos. Gostosa Belém de outrora Belém, Imprensa Universitiria, 1008 44 Em obras coletivas: . i ‘ 5 Anes cultura amasinica, de Carlos Rocque. Texto: « astorinhas». Belém: Amazonia Fdigber Culnurss Lda. (Amada), 1971. 6° vol, * Atlas Cultura? do Brasil. Textos: +Ante indigena», «Mani- festagoes folcléricass, «Artesanato regionals. Rio de ened. ro: Conselbo Pederal de Cultura/Penamne, 1972 * Hoxdria da cukura brasilera. Textos: «As artes ¢ os aff cos, «O Artesanator, Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura/Pename, 1973, * Artestrtto brastleéro, Texto dos capitulos. Rio de Janeiro: Funarte/Instituto Nacional do Folclore, 1978. * Brasil: Festa popular. Introdugto ¢ textos. Rio de Janeiro: Livrourte Editora, 1980. * Antologia do folclore brastleiro, org. de Américo Pellegrini Filho, Texto; «Classificagio decimal do folelores. Sito Paulo: Edarte/etc., 1982 + Historia geral da arte, org, Walter Zanini. Testo: «Artesana- » Paulo: Instituto Walther Moreira Salles, 1983, 2° vol * Carlos Gomes: wma obra em foc. Texto: «Carlos Gomes Passagem e influéncia em varias regiOes brasileiras». Rio de Janeiro: Punarte/Instituto Nacional de Musien/Projeto Men ria Musical Brasileira, 1987. * Estudos de folelore em homenagem a Manuel Drégues Junior Texto: «O ciclo épico do cordel-nove no Grito-Pari», Rio de Janeiro: Comissito Nacional de Folclore’Maceio: Insti- tuto Amon de Melo, 1991 adas: © 0 narra e as transformapses sovtais mi fim do shealo XIX we Gnte Pant. Trabalho apresentado no semindrio Aboligsoy Dalcidio Jurandir refere-se aqueles cantos arro- gantes, revestidos porém de uma toada terna, dir-se mesmo dengosa, que lhes desenterravam avs, cativei- vo, iranspiravarn hberdade: Olba Li pore contrixio mete a farce na basaba se tess couro € come 0 mew frost Picket # como a minha Liberdade que 0 negro con a defender com o préprio corpo. Com a capoeira sgoUu a conquistar ¢ Peco licenca ao Félix, nosso artista do Lipis, para ilustrar com sen trago firme este mal tracado cavaco Devenbe de Félix publicado em 0 Liberal Belem 23/00/1976, 2 sobre a instulacho da A Flaten de Capoeira Late Nossa, pele carloce Mesire Ro 42 Bibliogratia Acvaamyca, Oncyda ~ «A infludncia negra na mist ca brasileira”, Boletsn Latinoamericano de msisica, Montevi déu [Rio de Janeiro] Instituto Latino Americano de Musi cologia [1946] Anunctagao, Luiz Almeida da - ~O berimban da Bahia». Revista Brasileira de Folclore, Rio de Janeiro, U1 (29): 24-33, jan./abr. 1971 Beaureraine Ronan, visconde de [Henrique de] - Diccionario de vocabiles brasileires. Rio de Janeiro, Impren sa Nacional, 1889 Carnuro, Edison ~ Folguedas madicionais. Rio de Janciro: Civiliziagio Brasileira, 1982 Caaneiro, Edison — Samba de umixgada. Rio de Janciro: Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, 1961 CarvaLio, Jodo Marques de ~ Horténeis (roman cc). Belém, 1888, 2* ed. Belém, Secretaria de Estado da Cultura/ Fundagio Cultural do Pard Tancredo Neves, 1989. (Colegio «Lendo o Pard», 3) Cascupe, Luts da Camara ~ Diewonarie do Folclove Brusiteivo. 3.cd, Brasflia: Instituto Nacional do Livro, 1972, 2v Cornea, Inocéncio Serzedelo ~ 0 prodlerrna econd mico to Brasit. Rio de Janciro, Casa de Ruut Barbosa, 1980. Cosra, Francisco Augusto Pereira da ~ Folk Love pernambucano, Rio de Janciro, Liv. J. Leite, 1906. Cuma, Antonio Geraldo da ~ Dicionddrse Ttimoligp co Nova Frontesra da Lingua Portugues: Rio de Janciro: Editora Nova Fronteira, 1982. 43 marnjda, eo Braganga, € que parece ser denonina- ‘fo local do Iundu. Produto do artesanato regional, como a pene- talidacdte dos instrumentos musicais folcléricos, 0 tam bor “onga" tem seu correspondente sofisticado a cuica de procedéneia externa, indusmialzada, da qual fizem largo uso as atuais escolas de samba de Belém. ‘Tanto a cufca como o berimbau-de-barriga sao instrumentos de procedéncia angolana. Sobre 0 be rimbaw hi o estudo definitivo de Edison Carneiro. Jé foram elaborados métodos que ensinam seu toque, o primeto, salvo erro, produzido pelo percussionista brasileiro Luis Almeida da Anuneiagao, Pindaca. Principal instrumento da capocira, no extremo norte tamlxim esteve, algum tempo, associado ao carimbs, como 4 referimos e damos em seguida mais dois testetmunhos insuspeitos: 0 primeiro se encontra na documentagao obtida pela Missao Folelérica Paulista, 1938, que filmou no arrabalde de Joao Panlo, Sao Luis do Maranhao, o carimbs tendo como instrumento acompanhante 0 arco-sonoro denomina- do marimba (Cf Oneyda Alvarenga, A influéacia HEPA na musica brasleira, 1946: 368-369); 0 segundo se enconua no conto “Carimbs", de Pe: grin Junior (Passanga, 1948:59), cuja agao se localiza entre os negros mocambeiros do Trombetas, Pars. No texto: +O batuque, o wrucungo, © carimbd acordavam fas solidées misteriosas das florestas amazénicas as 40 vores nostalgicas das praias afticanas, cheias de ritmos lentos, ondulantes, preguigosos... Mamd-cumanda B bumbd! Acie babs age bebe B busnbitle Os registros literdrios suprem muitas vezes as deticiéncias da pesquisa da cultura popular. No Paré, pelo menos. z ‘\creptio. ter reunido dados suficientes para demonstrar que a capoeira, heranga do negro de Angola, deixou marcas profiundas no Par ¢ desapare- ceu por forga de novas cireunstincias. Para Dalefdio Jurandir, Chao des Lobos (1956: 208), 05 encontros sangrentos restavam na memdria: "Gessada a briga de capocira ¢ nayalha, iiaerets a rixa, agora 06 Bois se respeitam, até se cumprimen- tam, trocam oficios, usam de educagio. A palavra contrdrio, num tom de desafio, é s6 pura toada, ¢ 50 um garbo, tudo o mais € faceiro. Acabou a emboanga, cdntico de vera, que xingue, trate o rival de resto, tem mais nao, Cavalaria jf nio vai atras num tropel, de chanfalho em cima". 41 baw lembrada ; € pelo poeta Bruno de Mencres 38 Edison Carneiro fez 0 levantamento das fontes de informagao (Folguedas Pmadsctonais, 1984: 45), nao tendo encontrado referencias no Paré. Mas 0 poeta Bruno de Menezes, sabedor de nossas coisas © das coisas dos negros, lembra no seu poema "Cachaca" (Batugue, 1982: 121-125) o preto velho arrancado ao seu torrao congolense: «Tocaste srucungo nos brigues corsitios...» Os «brigues corsérios» cram antigos fol- guedos dos negros do Pard, variantes de «marujadas» ¢ «naus catarinetas» que se interiorizaram no baixo Amazonas, dando os tiltimos sinais de vida em Santa- rém, Obidos, Maués, Parintins, onde também rara- mente aparecem hoje. A contribnicao africana ao instrumental miisi- co nao se hmitou entre nés ao berimbau, urucungo ou marimba, mas também se exprimiu na contecgao de tambores de variados tamanhos e feitios. Alexandre Rodrigues Ferreira documentou, no sec. XVII, 0 uso pelos negros do Part da marimba, que era uma espécie de sanca, e da viola, o que constitui remota e valiosa contribuigae a esse estudo. Da classe dos tambores, mas com sua peculiar maneira de tocar, herdamos também o “onga", espécie de pufta ou cufca, encontradigo na regiao bragantina. © protessor Armando Bordallo da Silva (Cantribuigaio no estudo do folclore amacénico na cana brigantine, 1981: 71) incluiu o tambor “onga” entre os instru mentos tipicos do retumbio, danga de preferéucia da 39 da», 180 bem estudace por Edison Carneiro na mono- _prafia Samba de wmbrgnds, 1961. A esse samba se fila o tambor-de-cnoula, do Maravhao, donde certamente procedem muitos cle mentos constituuves do carimbs, associados as ver- tentes curopelas ¢ indigenas, possiveis de idenuticar. A capoeina-danga nao foi pervebida pelos pri- tmettos «romistas, que observaram apenas luta ou jogo de destreza, alguns associando-a por analogia a brig: de-galy muna visao simphista do fenomeno. © canto estimulador do desforgo fisico, como a dula de Juvens, anotada por Bruno de Menezes, ¢ uma importante caracteristica cultural, embora nao exclusiva, do povo de Angola. Antagomsmos étnicos podem ser detectados em versos satiricos ¢ em refrGes populares em todo o Brasil, revigorados aqui e ali pelos antagonismos de bairros ou mesmo de simples grupos rivais. A crénica belemense mostrou-se fecunda, como temos visto. Pereira da Costa catalogou expressivos exemplares em Pernamlano (Volk lore pernambucano, 1947;:235-243) A tradicao derxou ainda 0 canto tixado no Auto dos Quilombos, folclore alagoano, que os estu- dinsos remontam aos tempos da guerra dos Palmares: Forga négo Forga négo Branco nao vem c& Se vinhé? O diaho hid de leviie Formulas de agressao verbal reveladoras desses antagonismos ¢ preconceitos existem também na tra- digo oral no Para: «Tua mae é uma coruja Qyte mora no oco do paw Tew pai é um negro velho Tocador de berimban.» Nao obstante o sentido insultuoso, 0 registro de extrema valia: 0 negro velho é tocador de berim- bau. Também € conhecido, entre nds, 0 remoque: Voce pena gue bevimban ¢ gnitar» Nosso desenhista Biratan Porto mostra, pag. 38, 0 negro velho tocador de bebimbau. Contudo, o berimbau, marimba, niarimbau, urucungo, é presenca africana escassamente documen- tada no Grao-Pard. Palo do berimbau-de-barriga, aqui como no Maranhao, chamado marimba ou marimba, instrumento que teve sua presenga assinalada com exatidao abundante na Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro ¢ Maranhao, ou seja, nos grandes centros na- cionais de distribuigao de escravos. 37 Outro cronista, Jacques Flores (pseuddnimo do poeta Luis Teixeira Gomes, 1898-1962), publicou no seu livro Panela de Barro, Rio de Janeiro, 1947, pp. 97-103, entrevista com o negro Zé Roberto, ji bem vellio — «com 90 ¢ tantos invernos» ~, natural da Vila da Barra, Piaui, ¢ que chegow ao Para j4 hommem feito, apds ter lutado nos campos do Paraguai, fato que the serviu para calcular aproximadamente a idade do velho. A tinica data lembrada por Zé Roberto foi a de seu casamento, cm 1878, no Pard, com a preta cametauara de nome Rosa dos Santos Vasconcelos. Figura popular em Belém, festeiro do Divino (por promessa) e cheio de recordagoes, esse Zé Ro- berto era um negro que se considerava "gente fina”, negando os cararadas do Umarizal porque residia na "cidade". Era pois "cidadao"; "Nunca foi preto de baruques ¢ carimbds", afirmava, segundo Jacques Flores, mas nao negava que fora batuta na capocira Jacques Flores explorou o antagonismo entre o Umarizal, bairro dos negros, ¢ a «cidade»: ‘i - ae que, antigamente, quem morava no imarizal tava de motava nv centro da ae quem + Sim, sinhd! No Umarizd era a Campi Morava os campinéro, Na cidade, os cidadios". E arrematava - "Eu morava na Rua Sao Vicente, hoje Paes de Carvalho, Cidadio do Umariz4 eva venedo...- 34 6 A. assoctagao do canto & capoeira exigiu, como nao podia deixar de acontecer, o acompanha- mento de palmas, tambores ou outro instrumento musical, que sempre variou conforme as disponibili- dades do momento. O registro da capoeira como simples vadiacao, no Parad, nao ficou bem determinado, por falta de suporte documental, mas nao se pode descartar esta situagae, considerando-se que h4 informagGes seguras de sua interse¢ao no carimbé. Ora, © carimbé, no Pard e no Maranhao, por onde se espalhou principalmente pela faixa litoranea, mostra ter origem comum: o batuque dos negros abrigado a tambor. Tambores que irmanaram 0 pavo mina-nagd € 0 povo mina-jege com o povo banto- sudanés. A pele negra foi reduzida pela escravidio a uma s6 coisa achatada: a massa de escravos. Esse mesmo barque derramou-se nas dangas rituais, quando foi possivel restaurar as tradicOes religiosas africanas; ¢ se multiplicou nas dangas de terreiro, muitas delas agrupadas na grande familia do samba. No Pard, como nas regides de mais densa po- pulagio negra, hd abundantes registros do batuque e do samba, muitas vezes confundidos. Conjunto classi- fieado em razdo da vénia como «samba de umbiga- 35 rasteiras habeis, incautos basbaques que estacionavam A frente das calgadas» De Campos Ribeiro lembrou essa manuifesta- (40 junto as bandas de misica. Ficou também no ji teferido pocma «Pac Joao» de Bruno de Menezes, re- cordando: ~ "Eita!... Era 0 pé comendo, quando a banda marca! sta arua.com tanto soldado de calea encarnada” ? Daf, conchiiram cronistas permambucanos, da ging 4 frente das bandas marciais teria surgido o passe do trevo, Como na Bahia, capociras famosos no Pard foram consagrados nas chulas tradicionais. O pocta Bruno de Menezes lembrou, no citado poema, a chula do celebrado Juvens, émulo do seu camarada baiano Manpanga, ao menos na gléria do canto consagrador da habilidade do grande capocirista: | Transcrigio da prota, Maria Tenora Meneves de Brito, filha do (Porta, que grafou 8* abaixo) 32 Juvend Juvend! Arrebate esta faca Juvend!" Texto lembrando com o verso «O ronco ¢ 0 vetumbo do conzo som molengo do carimbde. Teria efetivamente o carimbd se associada, al- gua vez, a capoeira? Bruno de Menezes deixou-nos uma ineégnita. Mas € sabido que o carimbé era dangado outrora, em Belém, nos terreiros, como o batuque, com solista ou par no centro de wma grande roda. Af a corcografia pode ter sido, com o canto provocador, uma demons- tragao de capociragem? E licito supor, ou mesmo especular neste senti- do, considerando que o carimbé admite outras tantas afias imitativas, a exemplo do “peru”, do "ca- , do "bare", da "onga” ¢, por que nao, da capoeira? Bruno de Menezes, profundo conhecedor da vida urbana de Belém, nao introduziria arbitrariamen- te a meméria do negro Juvend, no terreiro do carim- bo, num desafio de Pai Joao, famanaz capoeira navalhista. Figuras do povo que fazem a histéria nao sao. esquecidas tao facilmente. Histéria ¢ meméria nutrem © folclore de qualquer povo. 33 — sobrevivencia, como ocorreu particularmente na Bahia. Dela restou a pernada ou raster que, acrescida da cabegada, constitui uma espécie de uta popular caracteristica no Marajé com expansao para o Ama O negro aprenden a defender-se; na capo: OM suas gingas ¢ negagas. A crénica urbana de Belém guardou muitos nomes de capoeiras célebres, alguns j4 mencionados, geralmente negros, quase sempre confundidos com marginais ¢ delingiientes, 0 que ¢ um erro. O capoeira nao era necessariamente 0 vadio das ruas, das docas do Ver-o-Peso e/ou do Reduto. Muitos deles tinham profissio definida: 0 Panta era encadernador; Periquito, foguista; 'Trincheta, fer- reiro; Benga, barbeiro: Teodoro Medonho, fiuncio- nario do tesouro; Mané Baiao, operdrio do Arsenal de Marinha, tantos outros. Estes os da «terra», negros valentes; incontavel seria a malta dos «marujos», a maioria oriunda de outros Estados. Capoeiragem ¢ miisica, esta pode parecer uma aproximacao insdlita, mas é verdadeira; expressao da Nidica popular que, mum certo sentido, combina mitisica e danga, com resultandos surprendentes no context cultural brasileiro de inspiracao africana. A capociragem & sem diivida heranga cultural slo negro. O aprendizado se fazia, ainda molecote, ¢ se adestrava imitando os maiorais. Esse molecério wa exibir-se fazendo «tragos», a frente das dos cordées carnavalescos, dos bumbds, balizas célebres, ou acompanhando, por fora, bandas de miisica, inclusive militares, em desfile. Registrou o Didrio de Notscias, Belém, 17.10, 1893, p. 2 esta associagao do capoeira & banda de mnisica: +Caposma - Quando as bandas de musica voltavam de Nazaré, ao som de um dobrado, o indi- viduo de nome Francisco Bayma Esperanga, depois de j4 ter posto diversas pessoas no chao, fez um ferimen- to no cidadao Raymundo Ferreira da Rocha, com uma navalha que trazia na cinta, Foi preso em flagrante & tevado para a cadeia de S, José.» Murilo Menezes, cronista de Belém de outro- ra, fala da existéncia de muitos capoeiras no alyorecer do século XX © que, como seus congéneres de Pernambuco (como da Bahia e do Rio de Janeiro), seguiam as bandas militares, especialmente nos dias em que havia exercicios nas maiores pragas da cidade. Lembra na crénica "Belém ao findar do século", transcrita na Revista da Academia Paraense de Letras, 1953, p. 124, que em tais dias: <0 molec6rio, 06 capoeiras ¢ desordeires ti- nham seu dia de gala. Dobrados melodiosos eram executados pelas bandas de anisica dos batalhoes em marcha, produzindo aquilo grande entusiasmo entre os cafagestes... em frente das milicias em andamento, a3. pulava a massa de brigadores, derrubando com suas 31 ie : : $6 De Campos Ribeiro informa haver emsu do, em Belém, a pratica da capoeiragem como “diver- sao domingueira’. Nao encontrei outra indicacao, além da que nos detxou: «Bram ajuntamentos em terreiros bem varri- des, com “torcidas" de lado a lado para os “pegas" entre bonzbes, tal como uma briga-de-galos". Esse talvez 0 tinico momento (devido aos per- nambucanos?) em que a capoeiragem assumiu no Pard o papel de jogo de destreza, ou simples vadiagao, sem aquiclas motivacées engendradas pelas rivalidades de bairros, como a que separava e tornava quase ir- reconcilidveis os habitantes do Umarizal ¢ do Jurunas, redutos de famosos capociras: Teodoro Medonho, funcionirio do Tesouro do Estado; Mané Baiao, preto, operirio do Arsenal de Marinha que, com uma semana de aprendizagem resolveu experimentar a forga surrando o préprio mestre; Pé-de-bola ¢ seu companheiio Norato, que foi agente de Policia, tudo isso era povo do Jurunas. Do Umarizal: 0 encaderna- dor Pantaleo, o Panta, primitivo dono da oficina que depois pertenceu ao miisico Té Teixeira; Peri- foguista maritimo; Trincheta, Honorato, ter- reiro do Gasémetro; Gasolina, que chegou a ser bom boleito © moreu tisico no Domingos Freire; Benga, barbeito (da Pratinha) — «todos ‘balizas ‘de carnaval e ‘eaboclos’ de grupos Joaninos» — as feras do Umarizal 28 Ainda em 1914 a crénica policial de Belém denuneciava a existéncia da coligacao negra do bairro do Jurunas, onde pontificavam valentées conhecidos pelos nomes de guerra Caxings, Peixe Podre, Pipi- ra e Uruba, Eram estes adversdrios de outro grupo denominado «Clube dos Pesados», com Bembém, Passarinho, Massa Branca e Borboleta. Mais recente é a noticia estampada na Folba do Norte, Belém, 12.09.1920, sob o titulo «Exercicio de Capociragem», na segio Na Poticta 8 Nas Ruas: «Estava para encerrar, anteontem, as 8 horas da noite, as suas portas o Café Manduca, ¢ o empregado Jos¢ Gomes, satisfeito com isso, pos-se a dangar na cozinha. Na ocasiio chegou ali um outro cmpregado, de apelido "Caboclo" ¢ os dois puseram-se a jogar capoeira, estando 0 Gomes armado de uma faca ¢ o "Caboclo" de uma navalha de barba. © "Caboclo", porém, mostrou mais agilidade que 0 Gomes e em dado momento, riscowo no pé direito, cortando-the uma das veias, de que resultow abundante hemorragia, A vitima recolheu-se ao Hospital D. Luts Ie, 5 A carorma nfo evoluiu, no Para, para um tipo de exercfcio ou jogo atlético que permitisse sua 29 valentoes. H, de fato, 4 marinhagem desordeira deve a erdnica policial de Belém matéria abundante. ‘Tao numerosos eram os capoeiras ¢ tao fre- glientes as arruacas, no comeco do século até o cre piisculo da terceira década, que Belém andou bem perto de se tornar num dos empdnos da capoeiragem, segundo De Campos Ribeiro: «Os ginastas da valentia, auténticos uns, outres simples valentées de costas quentes, por aqui ganha- ram fama, por agocs na maioria de execravel memoria, executadas que cram por mereenaria motivagao.» Daqueles capociras, 0 cronista recorda, do principio do século, o perigosissimo Macaco, que cra «especialista em brigas com a Cavalaria, delas saindo ileso e deixando no chao gente sangrando...» e, por volta de 1920, 0 cognominado Gato. A luta era sempre «pra valer». A descricao de De Campos Ribeiro lembra os desenhos deA Semana Mustrada, de 1888, reproduridos na pig. 18: +A cada reencontro, titans surgiam de lado a lado, em cabegadas fulminantes, pés gizando no ar "passaportes para © Inferno". E quase sempre, como complemento da rasteira, pés no ar, macs no solo, o relimpago da navatha aberta, rasgando ventres, abrin- do tanhos em caras ¢ bragos de retardado gesto defen SIVO., Contudo, 0 cronista navega nas aguas daqueles que afirmam ter sido a capociragem importada em “pleno zénite do lemismo", a servica de politicos, como capangas: «Foi o terror daqueles dias o temivel Antonio Marcelino, capanga-mor, Trouxera, escothido a dedo, um bando da mesma laia, de Pernambuco, para a specifica missao de arriar o junco ou a “volta” de ferro. torcido em quem, onde ¢ quando conveniente fosse a seus importadores.» Esse Anténio Marcelino, revela ainda De Campos Ribeiro, foi o introdutor no Paré dos cor- does carnavalescos 4 moda pernambueana, os chama- dos "clubes", tal como o Clube dos Caiadores, mo- delo de quantos surgiram posteriormente em Belém: Lenhadores, Varredores, Figaros, Malhos, Martelos cte., cujos balizas cram respeitados ases da capoei- ragem, Os quais também passavam &s «malocas» de bumbis. Recorda-se o Pé-de-bola", valentio do Jurunas, famoso baliza do bumbd Pai-do-Campo na- turbulentos encontros de outrora, cantando © «Olha ld pore contrirw Mete a fica na bainha Se tes couro € como omen Tua vida é como a minha». 27 mata-rato mais de 50 calangros: "— Bom di mais aqucle pony pina = diziam eles, justamente quando os vadios corriam as burugangas no tombo do préxi- M0. A vista de tal estado de coisas, quando ¢ fato averiguado que o grupo de vagabundos cresce de dia para dia, causando dano 4 sociedade moralizada, por- que eles 540 ladrées ¢ malfeitores, voltamo-nos para 0 Jado do cidadao, que felizmente governa este Estado, ¢ pedimos-the, em nome da Moral, que decrete uma medida repressiva desses abusos, Dé-se um ocupagio, um destino qualquer ao vadio, que dorme de dia ¢ vagueia 4 noite, furtando aqui ¢ acolé ¢ embriagando-se & custa de companhei- ros, que {{ limparam as algibeiras do cidadio laborio- 50. Na capital federal os capocinas desapareceram, ¢ ninguen: se lembrou de dizer que a policia alentava contra a fiberdade individual. Por que ravae havemos nds de suporté-los?+ A repressao foi providenciada, como pedida, aterendo aos reclamos ¢ consta de vasta lepislagao Contude, a capociragem s3 desapareceu de Belém quando atenuaram as hitas partidfrias ©, com a expul sto de Amnio Lemos, liquidou-se a oligarquia que durante muitos anos dirigiu os destinos politicos do > os bois, finalmente, foram proibidos de pela cidade, limiando-se as exibigocs aos Aablados dos sens «currais» ¢ dos «parqnes juninos. 4 4 Test west interessante & a que defende 0 cro- hista € poeta De Campos Ribeiro no seu livro Gostos Belém de outroma..., dedicando todo um capinilo, p. 51-55, aos «Ginastas da Valentias, isto é, aos capoei- ras de Bel hos primeiros anos deste século. Diz ele: +A introdusio da capoeira entre nds, é fora de duvida, teve como autores marinheiros que o Sul nos mandava, para aqui servir no velho Arsenal de Mari- nha ¢ nos navios da Armada, tais o patacho "Guajara” ou a canhonei Gente cuja disciplina a bordo se fazia ao “canto” © ao “bailado" rebolante da chibata, aqui fora, na rua, nao compreendia uma "licenga” sem um rele,dos bons, para nao perder a forma ¢ manter viva a agilidade, num "rabo de arraia" ou numa entrada de "tesoura”. Adversirios preferidos, os homens da policia, a Brigada que ganhara cartaz de duceva, “singue na guelra" em Canudos, A Doca do Reduto, ali pertinho mesmo do Primeiro de Infantaria, foi mmiita ver arena para sangrentos "entreveros". Nada agradava a um “marinheiro de bordo” quanto fazer "voar" um "soronha", um "meganha", um "mata-cachorro", os nomes pelo sareasmo da rua dados aos soldados de Policia. Velho servidor do Arsenal de Marinba, De Campos Ribeiro conheceu de perto muitos cesses an ‘ges safadas, que com eles insultam as familias ¢ os pacatos cidadaos, que se recolhem aos seus domicilios, Sendo tais individuos prejudiciais & sociedade, para que suport 4-los? Pode cidadao laborioso estar sujeito aos ata- ¢s brutais da canalha das ruas, vadia, imoral, traigoei ra, assassina? Quase todas as noites os cidadaos sa0 espanca- dos pelas estradas (3), conforme diz a parte policial. Basta de condescendéncia com os capangas, que chegaram a encontrar protetores até no ‘Tribunal aes Haja um pouco de energia da parte do sr. chefe de segurangal» A erénica policial revela material abundantissi- mo sobre os capociras do Pard, a esta altura dos acon- tecimentos ainda largamente protegidos pelos polfti- 05, 205 quais serviam como capangas. As divergéncias partidérias, nos albores da Republica, tomaram feicées agressivas no Pard, enca minhando-se para um clima de violéncia que se esten- deu por varias décadas. Tanto lawristas como lemisas (4) valeram-se da protegio de capangas, quase sempre tradicional das avenidas de Belém (4) Pattidiries, respectivamente, de Lauro Sodré ¢ Anténio _ Lemos, cups rivalidade politica deu causa a numerosos episddios quis de resultado sangrento. Inimigos irreconcilid (3) Berada, denominagio 22 A campanha nao visava Pparneularmente os capangas politicos, mas a sticia ociosa, que tinha seus locais préprios de reuniio, como a crnica indica, ¢ portava as armas tradicionais: cacete ¢ navalha. Como se contavain mais de duzentos, a dar crédito 4 dentin- cia de.A Semana, o pacato cidadao nao podia transitar livremente & noite sem ser por eles molestado. Belém estava pois bem provida de capoeiristas. Esclarece ainda A Semana (ano 4, n° 5, 24.03. 1890, p. 2) em outro editorial: «O grosso cacete ¢ a arma predileta para os exercicios de capocimagems; a navalha, a tima-teima, se porventura o fregués estd jurado, A policia ¢ a Uinica que nao vé os vadios, em grupos, pelos cantos ¢ fascas, fazendo a apologia da cachaga ¢ pondo em risco a vida dos pacificos cida- daosts E, adiante, na sua linguagem pitoresca, civada de pfria: «Ainda na noite de 17, quando as autovidades policiais, repimpadas no Cire, babavam-se ante os exereicios acrobdticos das belas ¢ simpaticas mis, ef fora, a capociragem, discutindo com trés negrinhas debochadas, promovia um rolo, que nenhum soldado teve a glévia de assistir! E dentro do Ciro, além dos delegados, subde- legados, inspetores ¢ escrivies, atiravam baforadas de 23 ‘ ‘espécie local denominada "luta marajoara’, da qual alids nos faltam informes antigos. © que se pretendia agora, nos albores da Repiiblica, cra hompar dos vadios a capital do pais, principalmente negros, que, apds a Aboligao, pulu- lavam pelos quatro cantos da cidade sem ocupagao definida ¢ provocando freqiientes disnirbios. O capitalismo nacional nao gerou empregos suficientes para absorver a mao-de-obra dispontvel. E a inchistria se implantava sob a égide da desnaciona- lizagao. O paraense Inocéncio Serzedelo Corréa publi- cou em 1903 © livro O problema econémico do Brasil, reeditado recentemente pela Casa de Rui Barbosa em convénio com 6 Senado Federal (1980), que discute pioneiramente a luta da indkistria nacional contra o colonialismo econémico, estimulado, j4 naquela épo ¢a, pela expansio do capital externo. E mostra que cerca de 80% do comércio estava nas maos de cstran geiros ¢ mais de 80% dos lucros da atividade comer- dal nao nos pertencia. A policia carioca tinha pois que Se esmerar para conter os capoeiras. E desterr4-los. A imprensa local fazia cco, como outrora, a campanha moralizadora empreendida na capital do pais, vendo © mesmo desassossego na capital paracn- ‘se, Comesou quase num tom de adverténcia ¢ espirito de com as autoridades policiais. Sob o wlo «Os vagabundose, assim se promunciou, entre 10s, a folha ilustrada A Semana, Belém, ano 4, n° 17.03.1890, Pp 2? 20 +O ilustre st. chefe de seguranga, desembarga- dor Gomensoro, j4 reparou para a malta de vagabun- dos, que infesta a nossa capital? Depois daquele pequeno PeBa-pega, ainda no tempo da monarquia, ninguém quis mais reparar nos vadios, bébados de profissao, que se rednem pelas tascas, a provocar desordens ¢ a insultar a gente seria. Que protegao sera essa? Na capital federal, © governo, vendo que os capoeinas causavam grande dano 4 sociedade, tratou de persegui-los ¢ prendé-los, Hoje ja no se encontra af um 86 vagabundo, de chapéu & banda e navalha no bolso, Por que razao nao se ha de fazer 0 mesmo com os capocims do Pard, que tém por chefe um vadio assassino, muito conhecido da policia? Saia de seus cémodos, numa noite de sdbado ou domingo, © sr. desembargador, e va dar um pas~ seio, a pé, por todo o bairro da Campina. Visite o Reduto, o Ver-o-Peso, o largo de Sant'Ana, todos os froqes que ai existem; passe depois pelas Travessas dos Mivandas ¢ Gaivotas (1) © ditija-se até a porta do Circo, 4 praga de Pedro IH (2). Garantimos que © sr. chefe hd de encontrar mais de duzentos vagabundos, armiados de navalhas ¢ cacetes, d'envolta com meretri- (1) Anal Travessa P 150. (2) Refere-se a0 Teatro-Circo Cosmopolita, instaldo ma Praca Pedro IT, atual Praga da Repiiblica, no preciso higar onde ‘ se construiu o Teatro Polytheama, que den higar a0 bi Theatre, embutido no Grande Hotel, substituido pelo § estrelas = mmultinacional construide com © dinheirinho da Sudam. mo 21 [foes 10 fron | Aas cobeeoulet dos cobor'ra: 12 arier ostonrole Kora reve nates se) bell de 18%, pag. 465), Coleco do autor 18 alos novalhereos, qe ashe ac Nema de deseahos ‘aturtsta he cm Belem sa Pacrenion sca “hfomana haem ‘Due docum: Mustrada”, meets, fentou 0 exerciclo de Belem, Ano Il, n*17, de recebera «carta branca» do marechal presidente para desincumbir-se da missdo de exterminar os capoeiras €, a0 execund-la, geraram-se efeitos politicos, entre os quais a demissao do ministro Quintino Bocaitiva. Os capoeiras deportados nao foram apenas pa- ta Fernando de Noronha. Alguns se espalharam pelas capitais dos Estados, assalariados e/ou protegidos de politicos. Belém os recebeu. Muitos também foram recrutados para a Marinha. Edison Carneiro (op. cit., 1982; 118) informa que o Cédigo Penal de 1890 previu penas corporais € desterro para os que se entregassem 4 capoeiragem. Informa ainda que as maltas da Bahia foram desorga- nizadas por ocasiao da guerra do Paraguai: 0 governo da provincia recrutou a forga os capoeiras, fazendo-os seguir para os campos de batalha como «voluntirios da Pétria». Manoel Querino conta que muitos deles efetivamente se distinguiram por atos de bravura no campo de batalha Da Bahia e de Pernambuco também vieram capoeiras para o Para. Mas, como vimos, a capoeira gem h4 muito estava ambientada na capital paraense. J4 nos primérdios da Cabanagem, maltas de capoeiras se manifestaram. No brinquedo do boi-bumba, como em outros folguedos populares, constitula-se uma es~ peécie de vanguarda aguerrida. Nos campos do Marajé desenvolvia-se, entre vaqueiros negros ¢ mulatos, uma 19

Você também pode gostar