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Leituras Psicanalíticas Sobre Os Desafios Da Atualidade
Leituras Psicanalíticas Sobre Os Desafios Da Atualidade
Organizadora
LEITURAS PSICANALÍTICAS
SOBRE OS DESAFIOS DA
ATUALIDADE
AVALIAÇÃO, PARECER E REVISÃO POR PARES
Os textos que compõem esta obra foram avaliados por pares e indicados para publicação.
Bibliografia.
ISBN: 978-65-5368-052-4
https://doi.org/10.37008/978-65-5368-052-4.06.04.22
R
ISBN 978-65-5368-052-4
www.editorabagai.com.br /editorabagai
/editorabagai contato@editorabagai.com.br
1.ª Edição - Copyright© 2021 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Bagai.
O conteúdo de cada capítulo é de inteira e exclusiva responsabilidade do(s) seu(s) respectivo(s) autor(es). As
normas ortográficas, questões gramaticais, sistema de citações e referencial bibliográfico são prerrogativas de
cada autor(es).
Revisão Os autores
INTRODUÇÃO
1
Especialização em Clínica Psicanalítica na Contemporaneidade (UNILASALLE). Psicanalista.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9770-8990
2
Doutorado em Teoria Psicanalítica (UFRJ). Docente e coordenadora. Psicanalista. Membro do Coletivo
Entrelinhas da Psicanálise. CV: http://lattes.cnpq.br/8233551200025079
3
Doutorado em Psicologia (UFF). Docente. Psicanalista. Membro do Coletivo Entrelinhas da Psicanálise.
CV: http://lattes.cnpq.br/9656843819889888
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CONSIDERAÇÕES
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NOTAS SOBRE O LUTO EM FREUD E LACAN
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PARA CONCLUIR...
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O OLHAR DA PSICANÁLISE PARA OS
TRANSTORNOS DE ANSIEDADE E PÂNICO
NO CONTEXTO DA PANDEMIA DE COVID-19
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
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Leituras Psicanalíticas
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A CLÍNICA PSICANALÍTICA COM CRIANÇAS
EM TEMPOS DE PANDEMIA: LUTOS E
PERDAS NA CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO
INTRODUÇÃO
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ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4314-1121
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ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8431-0513
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DESENVOLVIMENTO
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SE ESSA RUA FOSSE MINHA: DO LUGAR DE
OBJETO À TRILHA DO DESEJO
INTRODUÇÃO
fica como enigma para que a criança possa dar um destino melhor ao
resto, tornando-a capaz de fazer escolhas e de assumir uma posição
desejante na vida. Nosso destino enquanto ser humano é estarmos
submetidos à linguagem, e esta, enquanto código coletivo, traz consigo
uma lei do código, à qual é preciso consentir para que haja a entrada
na linguagem e, por conseguinte, na cultura. Ao nascer, o sujeito é
estruturalmente desamparado, ainda não banhado pela linguagem e
quando recebe o alimento do Outro, é marcado pela primeira expe-
riência de satisfação, que deixa um traço mnêmico e instaura o S1. Este
é o significante mestre, irrepresentável isoladamente, estando sempre
situado em referência a S2, o qual é um significante denominado saber
do Outro, que comporta todos os significantes que vêm após S1, em
linha de substituição infinita.
A dificuldade de lidar com o resto que fica do encontro com
a falta aparece na forma de sintoma, que “se define, nesse contexto,
como representante da verdade” (LACAN, 1969/2003, p. 369). Nesse
viés, Lacan (1969/2003) pontua a existência de duas maneiras de a
criança expressar o que existe de sintomático na estrutura familiar, seja
como sintoma do casal parental ou como objeto da fantasia materna,
quando a criança faz parceria de gozo com a mãe.
Quando Lacan (1969/2003) estabelece como modalidade de
resposta da criança, que o seu sintoma ocupe o lugar do sintoma do
casal parental, ele coloca o sintoma da criança como representante da
verdade da estrutura familiar. Entretanto, como a verdade nunca pode
ser toda dita, então a criança revela alguma coisa que não vai bem na
parceria amorosa, algo que de tão íntimo, a eles escapa e nunca poderá
ser completamente decifrado. Outra possibilidade de resposta é vista
quando o sintoma da criança está atrelado à fantasia materna, hipó-
tese em que o manejo clínico encontra menor margem de articulação.
Isso porque é mais difícil barrar a parceria de gozo com a mãe, gozo
enquanto prazer não-sem sofrimento, pois a criança está no lugar de
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CONSIDERAÇÕES
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LUTO: ASSUNTO DE FAMÍLIA OU DE
DOMÍNIO PÚBLICO?
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Doutoranda em Psicologia (UFF). CV: http://lattes.cnpq.br/5231853178177141
18
Doutora em Psicologia. Professora (UFF).
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LUTO E POLÍTICA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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IMPACTOS DA GESTÃO NEOLIBERAL NA
PANDEMIA DE COVID-19: O TESTEMUNHO
MELANCÓLICO DO SUJEITO NEOLIBERAL
INTRODUÇÃO
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Mestranda em Psicologia (UFRJ). CV: http://lattes.cnpq.br/2925624309388207
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Doutorado em Psicologia (UFRJ). Professora Permanente (UFRJ e UFF).
CV: http://lattes.cnpq.br/3127001494331912
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Mestranda em Psicologia (UFRJ). CV: http://lattes.cnpq.br/6806753942326650
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Mestrando em Psicologia (UFRJ). CV: http://lattes.cnpq.br/1432828321344496
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Leituras Psicanalíticas
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Essa agenda liberal-conservadora esteve presente no Reino Unido (Margareth Thatcher, 1979), nos
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111
A ARTE DE UM BOM VENDEDOR ESTÁ EM
VENDER... A FELICIDADE
Pâmela Mizurini24
Paulo Eduardo Viana Vidal25
24
Mestra em Psicologia Clínica (UFF). Psicanalista associada ao Corpo Freudiano Escola de Psicanálise.
CV: http://lattes.cnpq.br/7998663787880002
25
Doutorado em Teoria Psicanalítica (UFRJ). Professor-associado (UFF).
CV: http://lattes.cnpq.br/3921736842674257
112
Leituras Psicanalíticas
115
Flavia Gaze Bonfim (org.)
117
Flavia Gaze Bonfim (org.)
26
No original: qu’une demande non satisfaite «laisse à désirer».
119
Flavia Gaze Bonfim (org.)
28
No original: Le désir, avons-nous rappelé, est toujours désir d’Autre chose et donc justement ce qui
se distingue du besoin. Et c’est pourquoi rien de tel qu’une connerie, que le superflu, que quelque chose
dont on n’a nul besoin, pour faire miroiter l’objet du désir. Après quoi il s’agira en effet de pousser le
sujet à demander cet objet à l’Autre, c’est à dire de l’inviter à substituer à la logique de son désir celle de
la demande, selon le principe de la névrose.
121
Flavia Gaze Bonfim (org.)
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CONSUMO E MÍDIAS DIGITAIS NO MUNDO
CONTEMPORÂNEO: CONTRIBUIÇÕES DA
PSICANÁLISE
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
29
Pós-graduação em Clínica Psicanalítica (UNILASALLE). Psicanalista.
CV: http://lattes.cnpq.br/2460838552626728
30
Doutorado em Teoria Psicanalítica (UFRJ). Docente e coordenadora. Psicanalista. Membro do Coletivo
Entrelinhas da Psicanálise. CV: http://lattes.cnpq.br/8233551200025079
123
Leituras Psicanalíticas
126
Flavia Gaze Bonfim (org.)
Figura 2: Os discursos
131
Leituras Psicanalíticas
não é do sujeito (agente) com o outro, mas com um objeto (a), que
nesse caso é a mercadoria, gadget, fabricado pela ciência e tecnologia
(S2) e que é vendido como se fosse o objeto de desejo do consumidor
(QUINET, 2012). Além disso, não existe o vetor indicando a relação
de impossibilidade que caracteriza os discursos como laço social, não
ligando o agente ao outro, portanto, não fazendo laço.
Assim, o sujeito dividido tem acesso direto, sem mediação do
saber, ao objeto a (mais-de-gozar), resultando em uma alienação e em
um sujeito submetido ao imperativo do significante mestre, que é o
imperativo do gozo. Isso indica uma passagem do “supereu freudiano”
que nega e que proíbe o gozo, para o “supereu lacaniano, que diz ‘goza’
(consuma), ‘trabalhe’ (funcione) e goze trabalhando” (DUNKER, 2019,
p. 126). Por essa relação direta, o sujeito, reduzido a consumidor, é ele
mesmo consumido. Assim, o próprio consumidor, de certa forma, se
confunde com o produto que passa a definir o sujeito (DUNKER, 2019).
134
Flavia Gaze Bonfim (org.)
CONSIDERAÇÕES
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136
Flavia Gaze Bonfim (org.)
137
FUTURO DE MERCADOS COMUNS:
EFICÁCIA E DOCILIDADE
CV: http://lattes.cnpq.br/3882607540204690
138
Leituras Psicanalíticas
A política que não se faz pelo laço social gera como resultado o
indivíduo tecnologicamente dócil que tem como causa o objeto produzido
145
Flavia Gaze Bonfim (org.)
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147
Flavia Gaze Bonfim (org.)
148
DISCURSO DO CAPITALISTA, SEGREGAÇÃO
E RACISMO
DISCURSO DO CAPITALISTA
32
Psicanalista. Doutora em Psicologia (UFF). CV: http://lattes.cnpq.br/9692197970915576
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Leituras Psicanalíticas
150
Flavia Gaze Bonfim (org.)
33
Essas condições serão retomadas no próximo item “Capitalismo e racismo”.
151
Leituras Psicanalíticas
CAPITALISMO E RACISMO
34
Em seu livro A ética protestante e o Espírito do Capitalismo, Weber considerou que a teologia da
predistinação do Calvinismo é uma das condições para a emergência do capitalismo. Criticando a doutrina
católica da indulgência, o Calvinismo considerava que não era possível fazer nada para garantir a ida para
o céu e que os escolhidos de Deus eram predestinados ao nascerem. Sem saber se era um escolhido ou
não, o sucesso financeiro tornou-se indícios da benção divina e do fato de ser um predestinado. Assim,
formalizou-se uma ética no qual devia-se trabalhar muito, manter uma modo de vida pautado na vir-
tude racional e abster-se de gastar o que conquistou com os paixões carnais. (STANGROOM, 2008)
157
Leituras Psicanalíticas
ÚLTIMAS CONSIDERAÇÕES
fazer uma distinção quanto àquilo que converge para práticas propria-
mente segregadoras e excludentes, especialmente, quando levamos em
consideração os efeitos trágicos do racismo produzido pelo capitalismo.
Historicamente, o capitalismo vem encontrando no racismo
meios para acumulação de capital e para os problemas na produção.
Notadamente, essa temática tem sido abordada pelo viés político,
econômico e social, por outro lado, a aposta aqui foi introduzir a
psicanálise neste debate, indicando que ela pode contribuir para esta
discussão a partir de um elemento heterogêneo: o gozo. O capitalismo
opera por uma intensificação de uma universalização e homogenei-
zação em termos de bens de consumo e oferta de gozo, que anula as
particularidades e fomenta ainda mais os impasses dos sujeitos com
infamiliar que concerne à própria dimensão do gozo. Assim, a forma
diferente do Outro gozar é tomada como roubo de gozo, fazendo
dos corpos negros sinônimo de ameaça fruto dos mitos racializantes.
Um mito que inversamente coloca as vidas negras sobre uma con-
creta ameaça, haja vista o genocídio dos jovens negros pelo Estado e
o seu encarceramento em massa.
Assim, encerro com um trecho da música, “A carne”, inter-
pretada de maneira visceral e em tom de denúncia por Elza Soares,
que recentemente nos deixou. Sua voz única que, como ela afirmou,
era usada para dizer o que se cala, vem assim perturbar o descanso
e a mudez conveniente dos que colhem os privilégios simbólicos e
materiais da branquitude sem se responsabilizar pelo problema do
racismo. Sem sombra de dúvidas, sua letra diz de maneira mais con-
tundente sobre os efeitos da relação entre capitalismo, segregação e
racismo do que aqui pude empreender.
A carne mais barata do mercado
É a carne negra
Tá ligado que não é fácil, né, mano?
Se liga aí
A carne mais barata do mercado é a carne negra (4X)
Só-só cego não vê
161
Leituras Psicanalíticas
REFERÊNCIAS
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Esta música faz parte do álbum “Do Cóccix Até O Pescoço”, lançado em 2002, tendo sido escrita por
Seu Jorge, Ulises Capelleti e Marcelo Fontes Do Nascimento.
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STANGROOM, Jeremy. Pequeno livro das grandes ideias. São Paulo: Ciranda Cultural
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A SEGREGAÇÃO E SEU FURO: O DISCURSO
DO ANALISTA À LUZ DE FRAGMENTOS DE
UM CASO CLÍNICO
36
Pós-doutor em Teoria Psicanalítica (UFRJ) e em Psicologia (UFF). Professor Associado III (UFS).
CV: http://lattes.cnpq.br/6173994821157043
37
As dimensões do dizer e do escrever estão no centro da experiência analítica, na medida em que o que
se diz e o que se escreve, em uma psicanálise, se enlaçam e estabelecem o ponto extremo da relação do
sujeito com o inconsciente (BONNAUD, 2014, p. 123). Não à toa, Lacan (1969-70/1992, p. 47 e seg.)
toma a repetição em Freud, que se funda num retorno e numa perda do gozo, para elucidar sua noção
de “mais-de-gozar”, articulando-a ao traço unário: “...é no traço unário [marca de gozo] que tem origem
tudo o que nos interessa, a nós, analistas, como saber” (LACAN, 1969-70/1992, p. 48). Todavia, não
se trata de qualquer saber, mas do saber na condição de “gozo do Outro” (ibid., p. 13). “É com o saber
como meio de gozo que se produz o trabalho que tem um sentido, um sentido obscuro. Esse sentido
obscuro é o da verdade” (ibid., p. 53). “É ao analista [...] que se endereça essa fórmula que tantas vezes
comentei, Wo es war soll Ich werden. [...] É lá onde estava o mais-de-gozar, o gozar do outro, que eu,
na medida em que profiro o ato analítico, devo advir” (ibid., p. 55).
38
Lacan (1972) afirma: “O discurso é o que? É o que, na ordem... no ordenamento do que pode ser
produzido pela existência da linguagem, faz função de laço social” (p. 20).
164
Leituras Psicanalíticas
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Flavia Gaze Bonfim (org.)
167
Flavia Gaze Bonfim (org.)
39
Grosso modo, trata-se de fazer existir a relação sexual (no sentido de Lacan) entre o ser humano e as
máquinas. Isso ressoa na “epistemologia mutante” de Paul Beatriz Preciado e sua noção de “monstro”
ilustrada, no Brasil, com a HQ de Lino Arruda Monstrans: experimentando horrormônios. O hibridismo
entre o humano e a biotecnologia é uma das ilusões que perpetuam o ideal do discurso do capitalista.
168
Leituras Psicanalíticas
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Flavia Gaze Bonfim (org.)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Leituras Psicanalíticas
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Flavia Gaze Bonfim (org.)
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O RACISMO E A RECUSA DA
TRANSFERÊNCIA: RESISTÊNCIAS DO
PSICANALISTA
INTRODUÇÃO
40
Doutora em Teoria Psicanalítica (UFRJ). Pós-Doutoranda (PNPD/CAPES). Professora colaboradora
(UFRJ). CV: http://lattes.cnpq.br/2046000937874008
41
Doutor em Psicologia (UFMG). Professor (UFES). CV: http://lattes.cnpq.br/7078731129867747
175
Leituras Psicanalíticas
paterna: pai, Sr. K. Só depois ele pôde extrair do ensino de sua própria
resistência, a impossibilidade de legitimar a questão que Dora trazia
acerca do saber sobre a feminilidade que supunha presente na Sra. K.
Partindo dos consultórios de psicanalistas que são negras e
negros, Kwame dos Santos e Fernando Teixeira-Filho (2020) afirmam
que a vantagem da escolha por identificação, segundo os analisantes,
é, primeiro, não sofrer racismo na análise, já que os brancos estariam
tomados, sem que eles próprios percebam, pelos cruéis e naturaliza-
dos vícios do racismo estrutural. Além disso, o analisando não ficaria
incumbido de apresentar ao analista as discussões sobre o tipo de
opressão que sofre, já que partem de certo conhecimento sobre um
pior atravessado no próprio corpo.
Apesar desses riscos e efeitos, entretanto, se essas razões são leva-
das para a análise, significa que podem ser interrogadas e enfrentadas,
visto que cada corpo é afetado de maneira singular pelas opressões
sociais. Dois fragmentos de casos atendidos na clínica do Ocupação
Psicanalítica42 podem ilustrar o acolhimento dessa dimensão sin-
gular. Em um deles, uma jovem negra confessa a sua analista, tam-
bém uma mulher negra, que preferia ser atendida por um homem.
Em vez de simplesmente repassar o caso sem escutá-lo, a analista
suporta essa rejeição inicial e abre espaço para que aquela demanda
fosse interrogada. Após algumas associações, outro significante surge
para redefinir a primeira afirmação. Além de relatar uma experiência
anterior positiva com um analista homem, ela alega a dificuldade de
falar sobre algumas questões com seu corpo diante do olhar de outra
mulher, ainda mais se tratando de uma mulher magra. Depois de várias
sessões, um dos pontos em torno do qual a análise da paciente gira é,
justamente, o olhar racista de sua mãe, com uma ostensiva demanda
para que a paciente emagrecesse. O outro caso, foi com um analista
42
Trata-se de um coletivo de psicanalistas que vem investindo, desde 2020, na pesquisa, na transmissão
e na prática clínica voltada para uma psicanálise antirracista. Atualmente, está vinculado ao Núcleo de
Psicanálise e Laço Social – PSILACS (UFMG) e conta com núcleos no Rio de Janeiro (UFRJ), no
Espírito Santo (UFES) e na Bahia (UFRB).
183
Leituras Psicanalíticas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Leituras Psicanalíticas
190
SOBRE O TECNOPOPULISMO E A
“SERVIDÃO APAIXONADA”
INTRODUÇÃO
CV: http://lattes.cnpq.br/0225116375934219
191
Leituras Psicanalíticas
DESENVOLVIMENTO
196
Flavia Gaze Bonfim (org.)
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199
Leituras Psicanalíticas
200
UMA LEITURA PSICANALÍTICA SOBRE
PÓS-VERDADE
INTRODUÇÃO
47
Conjunto de fontes de dados variados e complexos que chegam em grandes volumes e velocidade.
205
Leituras Psicanalíticas
48
Aplicativo digital de comunicação por texto, fotos, vídeos, áudio e telechamada.
206
Flavia Gaze Bonfim (org.)
209
Leituras Psicanalíticas
212
Flavia Gaze Bonfim (org.)
A renúncia do gozo pleno tem que ser realizada para que uma
cultura progrida, mas, como menciona Freud, a renúncia de poderosas
pulsações leva à frustrações e a causa de todas as hostilidades que
ocorreram na história humana. Os relacionamentos de hoje em dia,
principalmente nas questões políticas, são de extrema intolerância,
quase que da ordem do insuportável, algo que se pode considerar o
que Freud (1920/2011) chamou de narcisismo das pequenas diferenças.
Algumas figuras políticas são idealizadas pelas massas como uma
idealização do próprio Eu reprimido, quando esses líderes atacam
ou prometem políticas que prejudiquem determinados grupos. Esses
sujeitos ficam em fácil posição de manipulação justamente pelo con-
ceito do narcisismo das pequenas diferenças. Arão (2020) explica que o
medo do diferente, a impotência e a ânsia de uma resposta demanda
a procura de uma figura poderosa, como o extremista que age de uma
forma que os outros membros não são capazes de fazer sozinhos.
O desenvolvimento da nossa civilização não é retilínea. Para
Bauman (2017), trata-se de um movimento pendular. Em sua espe-
culação a respeito do diagnóstico de Freud sobre o mal-estar de nossa
cultura nos dias de hoje, acredita que nossa principal fonte de insa-
tisfação seja a carência de segurança, um temor de desamparo na
qual a troca de uma certa liberdade seria o suficiente para tamponar
213
Leituras Psicanalíticas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ARÃO, Cristian. “As Redes Sociais e a Psicologia das Massas: A Internet como Terreno e
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215
Leituras Psicanalíticas
216
A SEXUALIDADE E SUAS MANIFESTAÇÕES
CLÍNICAS: NOTAS SOBRE O GOZO E O AMOR
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
218
Flavia Gaze Bonfim (org.)
219
Leituras Psicanalíticas
uso com o companheiro e com os seus amigos. Sua mãe, sempre teve
questões com a homossexualidade de Daniel; em alguns momentos
convivia com seu parceiro, mas, em outros, se afastava, mantendo seu
desconforto por vezes velado, por vezes explícito, oscilações análogas
as que fazia com a religião. Até que, em um momento de aproximação
com a religião, ela pede que o filho retorne com ela ao convívio religioso
como condição da aproximação entre ambos: “não há felicidade fora da
religião”, dizia ela. Ao ouvir a negativa de Daniel, ela completa: “se é
sua escolha, arque com ela. Eu não vou mais conviver com vocês. Eu te
amo muito, mas amo meu Deus mais que a você e ele não permite que
eu aceite essa vida que você leva”. Daniel localiza esse como o momento
em que passou a usar drogas de um outro modo, ou seja, diariamente,
em situações que iam do lazer ao trabalho, chegando a passar dias em
quartos de hotéis onde consumia drogas e sexo em um movimento
masturbatório: “não importava quem estava comigo. Ficava horas e
mais horas sem nem ter orgasmos. Foi assim que perdi tudo, quase
morri e continuo gastando o que não tenho porque não consigo parar”.
Caso 2: Fernanda chega em análise ao saber que a pesquisa
acadêmica de quem escolheu para ser a sua analista tinha relação com
as mulheres, o amor e a clínica das toxicomanias: “isso aí que você
descreve, já fiz tudo”. A primeira vez em que se apaixonou, Fernanda
tinha 15 anos: uma amiga do colégio lhe apresentou o Rafael, um
traficante que vendia drogas próximo à escola. Fernanda já tinha usado
maconha algumas vezes com amigos, mas começou a comprar com
Rafael para se aproximar dele, o que funcionou. Certa vez, antes de
transarem, ele lhe entrega um saquinho com cocaína e diz: “você não
tem ideia de onde isso aqui pode levar a gente. Eu não tinha mesmo.
Mas com ele, eu ia para qualquer lugar”.
Ao descobrir esse namoro, sua mãe começou a proibir suas
saídas, trocou Fernanda de escola, mudaram para uma cidade vizinha
e não lhe dava dinheiro para nada. Naquela época, começou então a
sair com um homem muito mais velho, com quem passou a fazer sexo
225
Leituras Psicanalíticas
em troca de dinheiro; dinheiro esse que passou a ser usado como meio
para encontrar Rafael: “Eu era muito louca. Tudo que ele pedia, eu
fazia: fugi de casa, larguei a escola, levava droga escondida em bolsas,
roupas e até no meu corpo. Eu passava melhor pela polícia por ser
mulher, nunca me paravam. Nessas horas eu só pensava: esse homem
nunca mais me deixa depois desse risco todo que corri por ele... Nem
sei te dizer se aquela altura eu tinha prazer usando droga. Eu gostava
mesmo era de como ele me olhava quando eu chegava com a droga”.
Retornando às fórmulas quânticas para pensar a desproporção
entre os gozos apontada por Lacan, temos, do lado do homem, o gozo
fálico que aponta para uma relação de exclusividade com o significante
e que toma o parceiro como objeto da sua fantasia. No entanto, a partir
das vinhetas clínicas trazidas aqui, o que podemos perceber com o
caso Daniel é um recurso à droga na tentativa de tamponar a angústia
frente à castração, atualizada na escolha de sua mãe por Deus e não
por ele. Daniel, então, elege a droga como seu próprio deus, em uma
relação exclusiva onde passa a não mais se relacionar com parceiros
que possam ocupar o lugar de objeto a na sua fantasia, suscitando,
com isso, um rompimento com o gozo fálico. O que temos, a partir
disso, é uma relação mortífera em busca de um gozo todo que aponta
para um desintrincamento pulsional, uma pura cultura da pulsão de
morte, como já apontava Freud desde 1923.
Fernanda, por sua vez, se utiliza da droga para se ligar a Rafael.
Na divisão entre o gozo fálico e o Outro gozo, Fernanda se agarra ao
significante fálico, tendo um parceiro que lhe serve como conector,
pois, do outro lado, o que encontra é S (Ⱥ), ou seja, aquilo que falta
como significante no Outro e que é vazio de significação. É por essa
ligação das mulheres com o Outro barrado da linguagem e pela falta
de um significante que diga Ⱥ mulher, que Lacan nos lembra que
quando se trata da relação das mulheres com o amor, há algo da ordem
da loucura: “a ponto de não haver limites às concessões que cada uma
faz a um homem: de seu corpo, de sua alma, de seus bens” (LACAN,
226
Flavia Gaze Bonfim (org.)
CONSIDERAÇÕES
Uma vez que a coisa não vai, propomos considerar algumas ques-
tões sobre o amor como suplência ao impossível da relação sexual, falha
que faz surgir a aposta na ficção e implica na distinção entre o modo
masculino e o modo feminino de lançar mão do amor51 como aquilo
que pode vir a ocupar o lugar do que rateia. Por um lado, temos um
homem, cujo gozo é limitado ao gozo fálico, uma vez que O Homem,
o Todo-Homem, esse não existe; ou melhor, só existe como proposição
universal, como significação produzida por efeito de discurso: um
Totem. Por outro, Ⱥ mulher que não existe, mas se duplica, na medida
em que além de sua relação com o falo [Ⱥ → Φ] – meio pelo qual as
mulheres podem encontrar o significante de seu próprio desejo –, elas
também mantém relação com o Outro [Ⱥ → S(Ⱥ)]; questão que nos
lança a um retorno a Freud quando afirma a diferença advinda por
efeito do complexo de castração: se para os homens incide a angústia
de castração, para as mulheres a angústia se dá pela via do abandono,
pelo medo da perda do amor (cf. MARQUES, 2016).
Embora sem o recurso da lógica, Freud já havia desde cedo
percebido que o fracasso da relação sexual determinava a diferença
entre o modo masculino e o feminino de amar. Entre 1910 e 1918,
escreve três textos de contribuição à psicologia do amor: Sobre um
tipo particular de escolha de objeto nos homens (1910/2007), Sobre a mais
generalizada degradação da vida amorosa (1912/2007) e O tabu da vir-
51
Aqui estamos tratando do amor como amor-paixão. O amor como paixão é imaginário, é o amor que
tem como visada ser amado pelo outro (LACAN, 1953-54/1983|) e (cf. FERREIRA, 2004).
227
Leituras Psicanalíticas
REFERÊNCIAS
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FERREIRA, N. P. (2004). A teoria do amor. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
230
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231
Leituras Psicanalíticas
232
ADOLESCÊNCIA, INTERSEXO E SEXUAÇÃO.
QUESTÕES QUE SE COLOCAM À
PSICANÁLISE
52
Doutora em Psicanálise (UERJ). Psicóloga (UDA) de Urologia do Hospital Universitário Pedro
Ernesto (HUPE/UERJ). CV: http://lattes.cnpq.br/5453106128938553
53
Professora Titular e Procientista (PGPSA-UERJ). Pesquisadora do CNPq e Membro da Escola de
Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano (A.M.E.). ORCID: https://orcid.org/ 0000-0002-5120-5247
233
Leituras Psicanalíticas
55
Distúrbios do desenvolvimento do sexo. Termo que tem sido substituído por Diferenças do desen-
volvimento do sexo numa tentativa de despatologização da condição intersexo, termo adotado pelo
movimento social.
56
Hermafrodita é um termo que caiu em desuso por ser considerado estigmatizante, uma vez que a
sociedade o atrela ao que é considerado aberrante.
236
Flavia Gaze Bonfim (org.)
gestação, gerando desenvolvimento genital atípico no sexo feminino. No sexo masculino, os sinais clínicos
se tornam mais sutis, já que estes podem não apresentar alterações ao nascimento, levando ao diagnós-
tico tardio. Na puberdade, com controle medicamentoso irregular, os androgênios virilizam a menina.
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Flavia Gaze Bonfim (org.)
por aí sozinha, como uma menina “perdida”. Carla, por sua vez, não
consegue dizer nada além de “se eu fosse um menino eu seria livre”!
Passados alguns meses, Carla retorna ao Ambulatório. Agora
está namorando, diz se sentir mais livre e introduz a demanda por uma
intervenção cirúrgica, pois, em suas palavras, sua vagina é diferente
e ela queria que fosse normal. “Os pequenos lábios são grandes, que
piada, não? Se eu tiver clitóris, é uma bolinha estranha que fica muito
lá no alto... Eu não tenho aquela linguinha que fica no meio e o buraco
que eu tenho só cabe a ponta do meu dedo. Tem uma paredezinha
que segura”, Carla fala sobre sua vagina:
- É estranha. Diferente e eu queria uma normal!
- Vou anotar aqui no meu caderno que você quer o
normal para ver se você me explica que normal é esse
que eu não conheço!
Carla então questiona:
- Você anotou o que eu te disse da última vez? Que se
eu fosse um menino eu seria livre?
- Não anotei, mas vou anotar agora! (Anoto: Se eu
fosse um menino eu seria livre!) Bem... Você chegou
aqui dizendo que está se sentindo livre, mas ao que
parece, você não virou um menino... Como você se
virou com isso?!?
- Ahh, eu arrumei um menino!
Conta então, agora já sem o casaco, que, na verdade, tudo no
seu próprio corpo sempre a incomodou: aqueles músculos, aquela
barba, aquele peito chapado... “tudo é tão masculino... Aí, da última
vez que eu vim aqui, você me falou uma coisa bem estranha sobre me
sentir menina... Não sei explicar, mas foi a primeira vez que alguém
me perguntou como eu me sentia”.
O namoro e a demanda pela cirurgia estética genital não duram
muito tempo... Passados alguns meses, Carla retorna ao Ambulatório
e em poucas palavras diz que não quer a cirurgia agora porque isso
239
Leituras Psicanalíticas
241
Leituras Psicanalíticas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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MASCULINIDADE E FEMINILIDADE COMO
MODOS DE GOZO: SEXUAÇÃO, DIFERENÇA
SEXUAL E MAIS ALÉM
CV: http://lattes.cnpq.br/2932481213382246
244
Leituras Psicanalíticas
unívoca, genital e adulta). Mas, por outro lado, essa conexão também
pode nos permitir localizar criticamente de que modo tais complexos
operam como elementos de normatização do gênero e da sexualidade
no percurso de um sujeito, sempre falhando em produzir uma unificação
completa da subjetividade em torno da genitalidade.
Ao mesmo tempo, gostaríamos ainda de apostar aqui na noção de
bissexualidade enquanto um modo de Freud se aproximar da dimen-
são de indeterminação e da multiplicidade que constituem a sexua-
lidade humana, tornando obsoletas as tentativas de definição binária
e inequívoca de uma posição sexuada. Nessa perspectiva, o Édipo e a
castração podem ser relidos como modos neuróticos de se relacionar
à masculinidade e à feminilidade a partir das teorias sexuais infantis
que equacionam a feminilidade com a castração e a masculinidade com
a posse do falo, tornando o feminino um campo de horror diante do
qual os sujeitos identificados com a masculinidade passarão a recuar.
Não estaria uma análise na direção de buscar dissolver essas ficções
infantis e permitir a um sujeito melhor circular entre a masculinidade
e a feminilidade que todavia já o atravessam? Nesse sentido, a contri-
buição de Freud ao debate da diferença sexual, entendida aqui como
uma subversão interna ao regime epistemológico do qual ele parte,
repousa em sustentar que não existe um conceito (uma determinação
específica de conteúdo) de masculino e de feminino e que, ao mesmo
tempo, cada sujeito é atravessado por masculinidade e feminilidade
em proporções diversas, ainda que não saibamos ao certo o que são.
Podemos considerar que Lacan (1972-1973/2008) retorna a
esse cenário ao formular que “homens” e “mulheres” não são mais
que significantes, isto é, elementos de linguagem que, por si só, não
possuem nenhuma significação a priori, não estão colados a nenhuma
significação, podendo ser empregados de maneiras as mais diversas, mas
sendo frequentemente chapados de forma normativa nos processos de
subjetivação – a exemplo do que o psicanalista francês chamará de “leis
da segregação urinária”. Trata-se do problema do uso dos banheiros
249
Flavia Gaze Bonfim (org.)
250
Leituras Psicanalíticas
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A INDIVIDUALIZAÇÃO DO RITO NA ERA DO
OUTRO QUE NÃO EXISTE EM UM CARTAZ
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REFLEXÕES SOBRE A DOMINAÇÃO
MASCULINA A PARTIR DE TEXTOS
FREUDIANOS
INTRODUÇÃO
CV: http://lattes.cnpq.br/6132106075115936
270
Leituras Psicanalíticas
Então nos cabe, aqui neste trabalho pensar, qual a oferta sim-
bólica centrada na cultura patriarcal que habilita a condição de ser
mulher, tendo em vista, o lugar estrutural de sujeição e subalterni-
dade, a partir do qual se habita o mundo (bell hooks, 2020). Interes-
sa-nos também refletir se a psicanálise pode oferecer recursos para
enfrentar o patriarcado. Ou se trata, pelo contrário, de um dispositivo
que reifica a submissão e a dominação masculina? A psicanálise nos
oferece escopo para desnaturalizar a condição de gênero ou nos apri-
siona ainda mais em suas amarras? Nossa aposta é a primeira opção.
Isto é: que este campo de conhecimento pode oferecer ferramentas
importantes para a luta feminista.
65
Grifo e tradução nossos – documento da cátedra I: Psicoanálisis: Escuela Francesa. Teórico n 6
22/06/1995: “lo imaginario, lo simbólico, lo real” – Profesora Diana Rabinovich. “Entonces. Lacan en
cierto momento, enfoca lo simbólico no solo en el sentido de la lingüística, de la historia cultural, de la
determinación social, de todo lo que Hegel puede agregar a esto, de todas las determinaciones filosóficas
complejas de lo simbólico, dando un vuelco, y lo simbólico pasa a significar las pequeñas letras de sus
matemas, es decir, de sus fórmulas. (…) Lacan siempre dejó un punto de vacilación al respecto. Hay
épocas en que enfatiza más uno que otro. Por ejemplo, en la primera época enfatiza más el simbólico en
el sentido cultural que el simbólico en el sentido matemático. (…) Pero, no hay que considerar que uno
anula el otro. Se suele tomar lo simbólico matemático olvidando la otra dimensión de lo simbólico de
una articulación original en ambos los aspectos”.
272
Leituras Psicanalíticas
DESENVOLVIMENTO
66
Este livro somente foi traduzido para o português 33 anos depois de sua publicação.
67
Este livro somente foi traduzido para o português 33 anos depois de sua publicação.
273
Flavia Gaze Bonfim (org.)
CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
BONFIM, Flavia: A sexuação do homem na contemporaneidade: entre o declínio do
ideal viril, o feminismo e o feminino – tese defendida no PPGP/UFF, Niterói/RJ, 2021.
BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo. Vol. 2: A experiência vivida. Rio de Janeiro/RJ:
Ed. Novas Fronteiras, 1949.
BROUSSE, Marie-Hélène. O inconsciente é a política. São Paulo: Escola Brasileira de
Psicanálise, 2018.
284
Leituras Psicanalíticas
285
MAUS HÁBITOS: SINTOMAS ALIMENTARES
NO CORPO EM CENA
69
Psicanalista. Mestra em Psicologia e Estudos da Subjetividade (UFF).
CV: http://lattes.cnpq.br/3510369887584090
70
Psicanalista. Mestra em Alimentação e Nutrição (UERJ).
CV: http://lattes.cnpq.br/3182922979961172
286
Leituras Psicanalíticas
DO TRANSTORNO AO SINTOMA
288
Leituras Psicanalíticas
290
Leituras Psicanalíticas
OUTROS HÁBITOS
REFERÊNCIAS
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Completas de Sigmund Freud, v. XVIII. Rio de Janeiro: Imago Ed. 1987. p. 13-85
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Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio
de Janeiro: Imago, 1996.
294
Leituras Psicanalíticas
LACAN, J. O seminário, livro 4: a relação de objeto (1956). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
MILLER, J.A. Curso de Orientação Lacaniana, lição VI e VII. 2007-08.
RECALCATI, M. Clinica del vacío: Anorexias, dependencias y psicosis. Madrid: Editorial
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RECALCATI, M. O “demasiado cheio” do corpo: por uma clínica psicanalítica da obesidade.
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SEIXAS, C.M.; BIRMAN, J. O peso do patológico: biopolítica e vida nua. História, Ciências,
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S0104-59702012000100002. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_art-
text&pid=S0104- 59702012000100002&lng=pt&tlng=pt. Acesso em: 18 fev. 22.
SIBILIA, P. O pavor da carne: riscos da pureza e do sacrifício no corpo-imagem contem-
porâneo. Revista FAMECOS, Porto Alegre, n. 25, p. 68-84, 2004.
295
NOTAS SOBRE A CLÍNICA PSICANALÍTICA
DA OBESIDADE: O CORPO GORDO, O GOZO
E O FEMININO
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
ruptura do laço afetivo com a mãe não é uma tarefa fácil, e sim atra-
vessada pela hostilidade. Marcada, assim, pela falta-a-ter, as mulheres
buscam diferentes saídas (CAMPISTA & CALDAS, 2013).
Contudo, faz-se importante destacar que as formulações sobre a
sexualidade feminina apresentam acréscimos e avanços na teoria psi-
canalítica, principalmente com as contribuições lacanianas (LACAN,
1972-73/1982) apresentadas em O seminário, livro 20: mais ainda.
Lacan apresenta nesse seminário as fórmulas da sexuação, em que
apresenta o lado do homem e da mulher para além dos aspectos anatô-
micos. Trata-se de posições subjetivas que os sujeitos podem ocupar em
face da sexualidade. A divisão do sujeito ante o sexual não é uma divisão
entre os dois sexos, mas entre dois modos gozos: enquanto do lado
do homem o gozo aparece limitado pelo significante fálico, um todo
fálico, do lado da mulher encontra-se um gozo que vai além do falo, um
gozo Outro, suplementar, o gozo não-todo (LACAN, 1972-73/1982).
Quando retomamos algumas referências na história da obesidade,
observa-se a existência de estátuas de mulheres obesas encontradas na
Babilônia e Egito. Então, na antiguidade havia uma admiração pelo
corpo feminino obeso, que estava ligado a um ideal de abundância
e fertilidade, tal como descrito por Varela (2006). Com o passar do
tempo esse ideal de um corpo obeso simbolizando abundancia será
visto pela medicina como um distúrbio emocional causado pelo estresse.
Segundo a autora, o aumento do número de pessoas obesas atingiu
vários países durante o século XXI e se tornou uma questão de saúde
pública. Soma-se a este problema, nos dias atuais, a pressão da cultura
à adequação do corpo a um ideal de beleza do corpo magro, de forma
que a obesidade passou a ser vista de forma negativa, gerando um
mal-estar diante das cobranças exigidas pela sociedade.
A obesidade na clínica psicanalítica não está somente ligada
ao excesso de peso adquirido pelo alto consumo de calorias através
de alimentos, especialmente os industrializados, mas considera-se
também a relação do sujeito com esse objeto privilegiado de satisfa-
298
Leituras Psicanalíticas
Jéssica, nome fictício, é uma jovem de vinte e sete anos, que apre-
senta como queixa principal o ciúme que sente do seu namorado. Em
uma situação específica ela sente muita raiva e ciúmes quando o namo-
rado conversa com uma amiga sua que é “gorda”, e ela diz “não me con-
formo em ser trocada por uma pessoa pior do que eu”, “mais gorda do que eu”.
299
Flavia Gaze Bonfim (org.)
consegue responder a demanda do outro, ela busca “na comida uma com-
pensação”, ainda que não saiba dizer o quê estaria buscando compensar.
A partir daí a paciente começa a falar da dificuldade de olhar-se
no espelho e das críticas que recebe do outro, principalmente da mãe
e de ex-namorados, em relação ao seu excesso de peso, alegando ter
vergonha de seu corpo. Como solução, começou a usar camisas mais
largas para esconder o seu corpo. Nesse sentido, Recalcati (2003)
afirma que a clínica da obesidade aponta para uma clínica do olhar e
nos surpreende por seu caráter obsceno, pois “o corpo obeso produz
vergonha e marginalização (...) a evidência horrorosa da obesidade
se configura mais como uma autêntica devastação da imagem, como
um triunfo do obsceno em relação ao ideal” (p. 274).
A paciente relata que desde a infância é “gorda” e que a mãe a
submetia a dietas rigorosas e a idas constantes a nutricionistas e aca-
demias. Ela se recorda que chorava por estar com fome, e que quando
conseguia ficar sozinha, comia compulsivamente, o que revela a marca
da compulsão à repetição e um empuxo a um gozo mortífero. Esse
corpo-gordo indica uma queda do domínio do eu e uma posição de
objeto de gozo do Outro materno, em que o sujeito ao se manter “sob
o imperativo massivo da demanda do Outro” (GUIMARÃES, 2007,
p. 5) se afasta do campo do desejo.
Diferente da anorexia onde o corpo-magro é um significante da
beleza feminina e que guarda uma relação estrutural com a castração,
mas pela via da recusa, do não, a obesidade, de modo contrário, está
orientada pela “lógica fálica do masculino” (RECALCATI, 2003, p.
289), pela incorporação/retenção dos objetos, de modo que “o cheio
do corpo-gordo é simplesmente o índice unilateral de uma negação
brutal da subjetividade” (p. 276).
Desse modo, Recalcati (2003) assinala que a obesidade está mais
próxima do masculino do que do feminino, pois se trata da apropriação
ou do gozo do objeto ao invés de buscar a falta do Outro.
301
Flavia Gaze Bonfim (org.)
tração quando este for movido pelo medo de que o seu pai o castre
por desejar a mãe, pondo fim, assim, ao referido complexo. Porém, na
menina, este é o início do complexo, vivenciando assim um destino
diferente do menino diante da trama edipiana. A menina então, ao se
ver castrada, consola-se com a esperança de que mais tarde terá a posse
fálica de volta. Contudo, observamos que a saída edípica da paciente
revela um retorno à mãe, agarrando-se à posição de masculinidade,
e que, ao se fixar nessa posição, a menina pode se identificar à mãe
fálica ou ao pai (ANDRÉ, 1987).
A paciente Jéssica parece ter uma identificação ao pai, ao se ver
algumas vezes na posição de marido da mãe, em que traz para si o
peso da responsabilidade de ter que pagar as contas da casa e cuidar
do irmão. A mãe cobra dela que ensine os deveres de casa ao irmão.
Essa identificação é reforçada pelo discurso da mãe que sempre a com-
para com o pai, o que a incomoda. Contudo, ao mesmo tempo que se
identifica ao pai e assume uma posição fálica, ela sente raiva por ficar
neste lugar. Os sentimentos de raiva e frustração são “compensados”
por ela pelo comer em excesso.
Podemos associar esse comer sem limites com o conceito de afâ-
nise, de fading, de desaparecimento do sujeito, apresentado por Lacan
(1964/1985) em O Seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da
psicanálise ao discorrer sobre a alienação e a separação. Essa referência
nos permite entender o excesso de peso como um sintoma que revela
uma escassez de recursos simbólicos para lidar com a castração, com a
falta (ZUCCHI, 2002). Assim, em função da tentativa de escapar da
castração, os sujeitos obesos se mantêm alienados ao Outro e através
do fading escapam da responsabilidade no ato compulsivo de comer.
A constituição subjetiva se inicia, em um primeiro momento,
a partir do processo de alienação, ou seja, da identificação do sujeito
com um ideal. Essa identificação precipita a possibilidade de um reco-
nhecimento primitivo de si como indivíduo e unidade psíquica. Lacan
(1964/1985) utiliza a teoria dos conjuntos a fim de elucidar a lógica
304
Leituras Psicanalíticas
OUTRAS PERSPECTIVAS
REFERÊNCIAS
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BARROS, R. M. M.; LIGEIRO, V. M. “O que é ser mulher?”-entre o enigma e o desamparo.
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lógicas completas de Sigmund Freud (Vol. XXI). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original
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Editor, 1982.
308
Leituras Psicanalíticas
309
SOBRE A ORGANIZADORA
310
ÍNDICE Corpo 10, 16, 20, 50, 56, 73, 74, 76,
77, 91, 112, 123, 124, 137, 138, 140,
Falta 8, 16, 19, 20, 23, 26, 31, 34, 44,
47, 48, 58, 61, 64, 68, 69, 71, 73-75,
REMISSIVO 146, 155, 156, 158, 163, 169, 171-
174, 177, 180, 183, 184, 200, 209,
108, 119-121, 129, 133, 135, 136,
141, 142, 145, 151, 168, 173, 185,
214, 218, 219, 221, 223, 224, 226, 214, 217, 221, 223, 226, 229, 237,
227, 234-243, 246, 248, 250, 251, 267, 283, 297, 301, 304-306
253-259, 262, 264-268, 277, 280,
283, 285-298, 300, 301 Família 8, 29, 32, 33, 53-55, 57, 59,
61, 68, 76-78, 81, 91, 93, 101, 172,
A Cultura 32, 51, 69, 82, 110, 114, 186, 234, 264, 274, 276, 286
124-128, 136, 138, 148, 165, 174,
Adolescência 9, 48, 64, 65, 233, 237, 179, 189, 199, 200, 213, 214, 226, Feminino 10, 227, 229, 230, 234,
238, 240-242, 262 241, 244, 246, 250, 252, 253, 255, 236, 238, 244, 245, 247-250, 257,
256, 258-260, 270, 272, 282, 284, 259, 270, 271, 281, 284, 285, 296-
Amor 9, 24, 29, 45, 60, 86, 87, 105, 291, 294, 298, 305 298, 301, 302, 306
127, 152-155, 180, 182, 189, 197,
199, 217, 218, 221, 225-231, 257- D Feminismo 10, 189, 243, 259, 270,
259, 280, 297, 302, 303 273, 277, 284, 285
DSM 7
Angústia 7, 12, 18, 23, 25, 28, 31, 34, Freud 7, 13-18, 24-29, 31, 33-36,
36, 37, 39, 41-47, 49, 50, 73-76, 80, Demanda 10, 23, 71, 72, 79, 91, 41-43, 45, 46, 48-50, 53, 56, 57, 60,
102, 110, 172, 210, 214, 226, 227, 118-121, 129, 134, 168, 176, 181- 62, 65, 66, 68, 70, 71, 73, 74, 77, 80,
229, 263, 303, 305, 306 183, 194, 198, 207, 213, 221, 229, 82-90, 93, 94, 102, 104-110, 112,
239, 240, 289-292, 297, 299, 301, 116, 117, 122, 124-127, 129, 132,
Anorexia 289, 290, 301, 306 305, 306 136-139, 148, 154, 155, 162-165,
174, 175, 177-180, 182, 184, 186,
Ansiedade 7, 12, 38-41, 44-46, Democracia 101, 139, 140, 199, 200, 188, 189, 191, 193, 194, 196-200,
48-50, 102, 128 212, 216, 271 205, 207, 208, 210-215, 217-224,
Análise 14, 16, 23-25, 34-36, 48-50, 226-232, 243, 245, 247-249, 260,
Denegação 9, 175, 182 269, 271, 273-275, 277-281, 283,
56, 62-65, 72, 74, 77, 86, 90, 91, 103,
104, 110, 137, 162, 174-176, 180- 285, 289, 290, 294, 296, 297, 299,
Desamparo 7, 12, 16, 23, 26, 43-51, 302, 303, 306, 308
189, 191-194, 196, 197, 199, 202, 58, 78, 79, 82, 92, 102-104, 200, 209,
205, 207-209, 211, 215, 216, 224,
225, 235, 249, 260, 274, 276, 278,
213, 219, 305, 308 G
281, 284, 290, 299, 300, 307 Desejo 7, 8, 10, 14, 19, 21-24, 26, Gozo 9, 10, 22-24, 32, 69, 72, 78,
28, 29, 34, 36, 37, 45, 62, 64, 67, 126, 130, 132, 133, 136, 137, 145,
Atualidade 47, 50, 126, 130, 139, 68, 70-75, 77-79, 95, 100, 114-116,
166, 170, 191, 194, 196, 240, 243, 147, 149, 152, 153, 155, 156, 159-
119-122, 133, 135, 136, 145, 152, 161, 163-174, 178, 202, 208-211,
275, 276 153, 166, 168, 170, 173, 181, 186, 213-218, 222-224, 226, 227, 230,
196, 202, 208, 209, 217, 221, 223, 242, 244, 247, 250-259, 267, 268,
B 224, 227-230, 255, 268, 271, 286, 290, 294, 296, 298, 299, 301, 306,
289, 292-294, 301-303, 305-307 307
Bulimia 289, 290
Desigualdade social 159, 160, 276 Gênero 9, 33, 37, 169, 178, 188, 195,
C 209, 234, 235, 237, 238, 242-247,
Diferença sexual 10, 77, 241, 242, 249-251, 253, 259, 260, 262, 271,
COVID-19 7, 8, 11, 12, 26, 32, 38, 244-247, 249, 253, 254, 272, 276
39, 41, 44, 46, 47, 49, 51, 52, 54, 272, 274, 275, 278, 279, 281, 283
65, 66, 73, 75, 96, 97, 109, 111, 146 Direção de tratamento 7, 11, 33,
34, 292, 299 I
Capitalismo 8, 53, 96, 102, 110, 114,
115, 119, 120, 134, 136, 144, 149, Discurso do analista 9, 114, 132, Infância 43, 45, 48, 49, 56-58, 60,
151-153, 156, 157, 159-161, 163, 149, 164-166, 170, 171, 173, 174 64, 66, 68, 70, 71, 79, 112, 172, 237,
169, 177, 191, 199, 200, 269, 274, 241, 242, 255, 261, 269, 286, 301
276, 278, 281 Discurso universitário 114, 165-168,
172-174 Intersexo 9, 233-237, 241-243, 245
Ciência 13, 17, 20, 55, 82, 93, 99,
103, 112, 114, 132, 133, 143, 145, Docilidade 8, 104, 106, 138 L
159, 163, 166, 168-170, 172-174,
191, 192, 200, 202, 203, 233-235, Dominação masculina 10, 270- Lacan 7, 12, 13, 15-21, 23, 25, 26,
240-243, 260, 270, 291, 292, 309 273, 276 28-31, 35-37, 50, 68, 69, 71, 73-75,
77, 80, 82, 83, 86, 90-92, 95, 107,
Clínica 7-14, 16, 18, 22-24, 26, 33, E 111, 114, 115, 120-122, 130-132,
37, 38, 41, 44, 46-48, 50, 52, 55-57, 137-139, 142-145, 148-153, 155-
62, 64, 65, 67, 74, 82-84, 86, 89, 94, Eficácia 8, 59, 109, 110, 138, 145, 157, 159, 160, 162-168, 170-172,
112, 123, 137, 138, 175, 181, 183, 146 174, 179-182, 187, 189, 191, 193,
184, 187, 190, 196, 199, 218, 222, 195-200, 210, 217, 222-224, 226,
225, 231, 233-237, 240, 241, 263, Empresa-de-si 8, 145-147 227, 229-236, 243, 245, 249, 250,
268, 277, 282, 284, 285, 290, 293, 254, 255, 260, 263, 267-269, 271,
295-298, 301, 302, 309 F 272, 276, 289, 295, 298, 299, 302,
304, 305, 308
Fake news 9, 26, 200, 201, 203, 209,
214-216
311
Laço social 7, 8, 76, 79, 83, 93, 101, P Separação 10, 26, 32, 34, 45, 58, 67,
103, 114, 115, 122, 128-130, 133, 68, 70, 73, 75, 78, 86, 87, 154, 201,
138, 140, 145, 149, 152-155, 160, Pandemia 7, 8, 11, 12, 21, 22, 24, 26, 265, 297, 299, 302, 304-307
162-166, 168, 180, 182, 183, 187, 30, 33, 38, 39, 41, 43, 44, 46-49, 52,
191, 196, 198, 200, 208, 252-254 54-57, 60, 62-66, 73, 75, 76, 91, 96, Servidão apaixonada 9, 191
109, 111, 146
Liberdade 8, 47, 48, 59, 62, 92, 96, Sexo 61, 209, 225, 226, 229, 233-
98, 101, 109, 110, 128, 144, 155, 169, Parcerias amorosas 9, 218, 224 238, 241, 242, 260, 261, 265, 284,
213, 214, 240, 277, 283 293, 296, 303
Perda 26-32, 34, 35, 45-48, 53,
Luto 7, 8, 12, 22, 26-37, 49, 52-55, 59-61, 63, 73, 84-86, 89-92, 94, Sexualidade 9, 13, 23, 57, 58, 186,
57, 58, 60, 62-65, 81, 83-95, 102, 95, 104, 108, 109, 127, 131, 138, 217-221, 223, 235, 243, 245, 246,
108, 110 150, 156, 164, 165, 169, 210, 215, 249-251, 253, 259, 260, 262, 265,
222, 227, 279 277-281, 285, 286, 296-299, 302,
M 303, 308
Política 9, 32, 33, 37, 82, 83, 90, 93,
Masculino 223, 227, 229, 234, 236, 98, 99, 101, 103, 107, 110, 112, 139, Sexuação 9, 10, 217, 233, 237, 241,
238, 239, 244, 247-250, 252, 271, 140, 142, 144, 145, 148, 149, 153, 242, 244, 245, 250-254, 256, 258-
297, 301 157-159, 163, 169, 177-179, 182, 260, 284, 298
184, 188, 191, 192, 194, 198, 199,
Melancolização 8, 96, 97, 99, 204, 205, 207, 214, 216, 244, 270, Singularidade 8, 14, 41, 49, 88, 115,
107-110 277, 284 142, 160, 185, 215, 234, 259, 284
Mercados comuns 8, 138, 139, 143, Pornografia 10, 261, 262, 268, 269 Sujeito 7-10, 12-20, 22-24, 27, 28,
147, 159 30-32, 35, 36, 39-43, 45-49, 52,
Psicanálise 7-15, 18, 20, 21, 23-25, 55-57, 59, 61, 62, 64, 67-75, 77,
Morte 8, 16, 26, 29, 35, 36, 44, 46, 29, 35-38, 41, 46, 48, 55-57, 61, 62, 83, 85-89, 92-94, 96, 99, 100, 107,
48, 52-66, 82, 85, 91-94, 108, 125, 65-68, 72, 80, 82, 83, 86, 87, 90, 94, 108, 114-116, 118-123, 127, 129-
126, 143, 146, 148, 155, 191, 197, 99, 112, 114, 122, 123, 135-137, 142, 131, 133, 136, 142-147, 149, 150,
222, 226, 246, 252, 289 161-164, 171, 173, 174, 176, 177, 152-156, 160, 163-172, 179, 181,
179, 180, 182-189, 194, 199, 200, 182, 184-187, 196, 197, 199, 202,
Mulher 29, 72, 183, 218, 224, 226- 202, 203, 208, 210, 212, 215-217, 203, 208-211, 214, 217, 219-223,
228, 232, 246-248, 250-254, 260, 222-224, 230-234, 237, 240-243, 228-230, 233-235, 237, 240-242,
265, 270, 272-275, 277-285, 293, 245, 247, 248, 253, 260, 263, 268, 244, 248, 249, 251, 253, 254, 256,
296-299, 302, 305, 306, 308 270-274, 276, 277, 282-285, 288, 271, 274, 277, 288, 290, 292-294,
290, 292-294, 296, 297, 304, 308, 297-299, 301, 302, 304-306
Mídias sociais 8, 9, 44 309
T
N Psicologia das massas 103, 104,
110, 162, 177, 194, 199, 205, 207, Tecnopopulismo 9, 191, 192
Neoliberalismo 8, 96-101, 108-110, 211, 215
139, 144, 158 Transferência 9, 14, 34, 62, 142, 175,
Pânico 7, 38-41, 44, 46, 49, 50 176, 179-182, 184, 187, 189, 208,
O 217, 222, 277
Pós-verdade 9, 201-205, 207-209,
Obesidade 10, 288, 291, 295-298, 215, 216 U
301, 302, 306, 308, 309
R Universalização 143, 147, 159-161,
Objeto a 18, 19, 28, 29, 36, 73, 75, 170
115, 133, 142, 147, 150, 153, 165- Racismo 8, 9, 149, 151, 155-158,
167, 169, 171, 197, 224, 226, 255- 160-163, 174-177, 179-184, 188,
257, 259 189, 211, 214, 246, 252, 260
Objetos de consumo 8, 32, 118, 128, Real 7, 11, 12, 16, 18-21, 23-25, 28,
132, 135, 152, 168 30, 34-36, 39, 42, 62, 73, 75, 77, 92,
97, 130, 134, 143, 164, 165, 171, 173,
Outro 7, 10, 18, 22, 26, 28, 32-36, 174, 179, 195, 208-210, 212, 214,
41, 42, 47, 54, 57, 58, 60, 62, 67-71, 217, 224, 229, 233-235, 237, 240,
73-75, 77-79, 93, 94, 105-107, 109, 241, 263, 268, 272, 289, 290, 306
113, 115, 116, 119-121, 124, 126,
127, 129-133, 138, 140, 148, 150, Relações raciais 9, 175, 176, 189
151, 154-156, 160, 161, 164, 165,
167, 168, 170-172, 176, 179, 180, Resistência 9, 17, 175, 176, 178,
183, 187, 188, 192, 193, 196, 197, 182-184, 187
202, 205, 206, 208-211, 214, 218-
221, 223-230, 234, 237, 242, 249- Rito 10, 261
252, 254-257, 259, 261-264, 267,
271-273, 277-279, 282, 289, 291, S
294, 297-301, 303-307
Segregação 8, 9, 107, 134, 138, 139,
142, 143, 147, 149, 153-156, 159-
161, 163, 164, 169-171, 173, 174,
176, 177, 195, 205, 214, 236, 246,
249, 252, 254
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Este livro foi composto pela Editora Bagai.
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