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ESTRUTURAS PSICANALÍTICAS

AULA 4

Profª Juliana Santos


CONVERSA INICIAL

Em conteúdos anteriores, buscamos percorrer as trilhas de Freud e Lacan


para entendermos de que modo as estruturas clínicas se constituem. Freud se
indagava a respeito de por que uma pessoa “escolheria” a neurose ao invés da
psicose. Através dessa indagação, ele, ao longo de sua teorização, foi
encontrando alguns mecanismos que operam no início da vida psíquica e
condicionada à subjetividade em sua forma de apreender a realidade.
Freud, ainda que não tenha usado o termo estrutura, deixou pegadas para
que Lacan pudesse fundamentar a sua tese sobre a constituição das estruturas
clínicas. Isso porque foi através da interpretação do texto A negação (1925) que
Lacan apreende o conceito da Bejahung, uma afirmação primordial, que opera
no psiquismo a verificação de posse e de realidade das representações
internalizadas, atribuindo um juízo de existência.
A Bejahung é, portanto, a operação mais primordial de todas. Na sua
contraposição, está o que Freud nomeou de Austossung (expulsão), que,
segundo Lacan, é o campo do o real “na medida em que ele é o domínio que
subsiste fora da simbolização” (Lacan, 1954, p. 384). Contudo, se a Bejahung é
pura afirmação, para que ela se constitua como tal, algo tem que ser expulso, ou
melhor negado. A negação é, então, a forma possível da Bejahung se constituir
e se produzir no campo da consciência. Desse modo, o não viabiliza a existência
de um Bejahung.
É nesse sentido que Freud elabora a sua teoria da constituição da neurose
e perversão, onde é sob a égide da negação, da castração propriamente, que a
afirmação se institui por outras vias, isto é, pela via do recalque na neurose e por
via do desmentido na perversão.
Assim, para esta etapa, iremos nos deter nas ocorrências dessa
afirmação primária — a Bejahung, priorizando a ocorrência do recalque da
castração, em que o neurótico, para negar sua existência na consciência,
perpetua essa afirmação no inconsciente. E é daí que o sujeito se divide: por um
lado, pela força em que essa afirmação se institui; e por outro lado, por um não
querer saber nada sobre isso. E aí está a fórmula do conflito neurótico, que se
dá entre os impulsos do id e do ego.

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Portanto, se as investigações acerca das neuroses sempre tiveram nos
holofotes da clínica psicanalítica, cabe-nos agora nos aprofundar sobre essa
estrutura, a fim de compreendermos o modo como o sujeito neurótico lida com a
sua realidade.

TEMA 1 – A NEUROSE

A neurose é o resultado de um conflito psíquico no qual resulta em


bloqueio das descargas necessárias, criando, desse modo, um estado
recalcado. Otto Fenichel (2004, p.119) afirma que, por definição, “o conflito
neurótico é um conflito que surge entre uma tendência que luta pela descarga e
outra tendência que tenta impedir esta última”.
Para entendermos a origem do conflito neurótico, vamos retomar o Projeto
para uma psicologia científica (1985), em que Freud apresenta a perspectiva
econômica do aparelho psíquico, aferindo à consciência o processo de descarga
do excesso de energia psíquica. Contudo, na evocação de lembranças muito
penosas, a consciência fica incapaz de reagir a essas representações, daí ela
se defende pela operação do recalque.
O recalque é, portanto, um mecanismo de defesa característico da
neurose, cujo objetivo é, essencialmente, afastar da consciência as ideias
incompatíveis. Porém, diante da queixa de seus pacientes, Freud se deu conta
que a operação do recalque é ineficiente e de que tais representações
insuportáveis retornam à consciência pelas formações inconscientes, a qual
Freud nomeou de sintoma.
Na Carta 105 (1899, p. 329), Freud destaca que “o sintoma surge ali onde
o pensamento recalcado e o pensamento recalcador conseguem juntar-se na
realização do desejo”. Desse modo, o sentido do sintoma é um par contraditório
de realização de desejo, conclui Freud.
Nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, (1905), Freud nos indica
que a amnésia infantil se produz por uma ação do recalque e, por isso, tais
lembranças poderiam ser trazidas de volta em análise, já que elas não foram
apagadas. Nesse ponto, ele afirma que os neuróticos sofrem da mesma amnésia
infantil e, que, na sexualidade adulta seria um resíduo dessas experiências
infantis, que resistiria à recordação em virtude da moralidade impressa.

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Assim, a sexualidade desempenha um papel fundamental na etiologia das
neuroses, pois é nesse encontro inevitavelmente traumático, que o sujeito
constitui sua defesa pela escolha de uma neurose.

1.1 O recalque

Freud concebeu o recalque como um mecanismo de defesa no qual as


representações insuportáveis são retidas e separadas da consciência, tal
operação estaria a serviço do princípio do prazer e se organiza no sistema
inconsciente. Com o desenvolvimento da teoria até a segunda tópica, o aparelho
psíquico é formulado em três instâncias: o eu, o id e o superego. Nessa nova
organização, o eu e o superego participam de determinada parcela inconsciente.
Desse modo, o recalcado é apenas parte do inconsciente, e não a parte inteira
dele, como se pensava antes.
A partir do conceito de pulsão de morte, o recalque passa por uma
revisão. No texto Inibição, sintoma e angústia (1926), o recalque é articulado a
“fora-da-lei”, visto que ele está submetido à lei do id, não a serviço do princípio
de prazer. Entretanto, o eu segue impondo uma censura, mas as moções
pulsionais não cessam de buscar a satisfação (Freud, 1926, p. 150). Assim, o
sujeito é impelido a uma compulsão à repetição inconsciente.

TEMA 2 – PULSÃO E FANTASIA

Freud, após comunicar à sociedade a existência da sexualidade infantil,


pôde conceber a teoria da pulsão como uma atividade primária. Nesse sentido,
a pulsão é posta como uma quantidade de energia que exerce força constante
em busca de satisfação, que só se encontra ao ser descarregada pelas zonas
erógenas (boca e ânus). É sob esse ponto de evacuação que a pulsão cria uma
fixação.
Assim, o corpo é uma superfície onde se inscrevem as primeiras marcas,
sede dos investimentos pulsionais. É a partir das incidências da linguagem que
o corpo perde a sua relação com a natureza e se transforma em um corpo
simbólico. O resultado dessa operação é a perda do objeto, isto é, a renúncia
pulsional imprescindível para a entrada no campo simbólico. Contudo, as zonas

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erógenas não deixaram de buscar esse reencontro com o objeto perdido da
satisfação.
É nesse sentido que Freud declara que o neurótico sofre por
reminiscência. Ele se recusa a renunciar o objeto perdido, o objeto da satisfação
plena. Trata-se de das Ding, a coisa freudiana inominável, que se apresenta no
campo simbólico como falta.
Portanto, é em torno desse vazio que o sujeito vai se constituir no campo
simbólico, se utilizando dos sistemas de linguagem (metáfora e metonímia)
inconscientemente para tentar tamponar sua falta. A partir daí, surgem vários
objetos que vão sendo inseridos na cadeia significante e que têm por aspiração
o “eu ideal” (i(a)), a imagem plena. Trata-se do investimento feito na fantasia que
tenta articular o sujeito e o objeto.

2.1 A clínica da fantasia

Freud se deparou com a fantasia desde o início de sua prática clínica com
as histéricas. De início, chegou a acreditar nas cenas de sedução, as quais suas
pacientes relatavam nas entrelinhas. Mas, com o desenvolvimento da sua teoria,
pôde se dar conta que se tratava de uma realidade que não se conjectura com
o real, mas de uma realidade psíquica. Alessandra Fernandes Carreira (2009)
explica assim:

É justamente em função de seu caráter traumático que a


verossimilhança dessas cenas, narradas pelas histéricas freudianas,
não pôde ser tomada como inverdade, mas como ficção que dá
estrutura à verdade. Tal verdade é reiterada na enunciação que
subsiste nos enunciados dessa ficção e os engendra, fixando o sujeito
em um instante eterno e inenarrável: instante em que ele (não) é
tomado pelo desejo do Outro. (Carreira, 2009)

A fantasia passa a assumir o ponto crucial da escuta clínica, pois nela se


constitui um saber inconsciente onde o sujeito busca responder à questão sobre
o seu ser, tentando encobrir a falta inerente a ele.

2.2 Do Édipo à fantasia fundamental

Já sabemos que a constituição psíquica do sujeito se situa na vivência


edipiana, onde ocorrem os três tempos lógicos do Édipo. No primeiro tempo, a
criança está identificada ao objeto desejado da mãe (o falo materno), sendo

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assim, a relação mãe-bebê plena; o segundo tempo ocorre a partir da presença
de um terceiro elemento, que faz a criança perceber que o desejo da mãe não
está dirigido apenas para ela, mas a mãe deseja outra coisa, geralmente o pai.
A interpretação da criança de que a mãe deseja o pai faz emergir uma rivalidade
imaginária com o pai, pois, para a criança, o pai tem o falo, que falta à mãe.
Assim, conforme nos ensina Lacan, é a função paterna, através do significante
Nome-do-Pai, que introduz a falta na relação mãe-bebê. A criança, então, perde
a identificação ao falo materno e recalca; começa o terceiro tempo lógico, onde
a criança se dá conta da castração da mãe e, assim, da sua própria castração e
vai em busca de ter falo. Portanto, o falo é elevado ao nível simbólico, fazendo
de todos castrados, inclusive o pai.
Ocorre que a criança, ao perder sua identificação ao falo, irá demandar
ao Outro, tesouro do significante, que responda sobre o seu desejo. Contudo, o
que surge desde aí é a pergunta: que quer você? (Lacan, 1960, p. 829).
O vazio pela falta de resposta do Outro indica que o Outro também é
faltoso, pois não existe nada que supra essa incompletude do Outro, portanto,
declara Lacan (1960, p. 833): “não há Outro do Outro”. Desse modo, o sujeito se
constitui pela falta do Outro, advindo como um falta-a-ser, pois do Outro não
receberá a resposta para o seu desejo. A falta, portanto, é irremediável, sendo
assim, a fantasia se forma para dar conta dela.
Portanto, a fantasia pode ser considerada o produto da operação do
complexo de Édipo, cujo registro é imaginário, mas que se articula ao simbólico,
e sua montagem inconsciente se ergue na tentativa de sanar o vazio deixado à
questão “Che Vuoi?”.
Coutinho Jorge (2010) afirma que a fantasia é um elemento que se
instaura para a criança como uma verdadeira contrapartida ao gozo que ela
perdeu. Assim, ela se constrói, essencialmente, como uma fantasia de
completude.

TEMA 3 – A FANTASIA FUNDAMENTAL

Freud (1919), em seu texto Bate-se numa criança, onde ele privilegia o
espancamento, mas poderia ser qualquer outra coisa, afirma que a fantasia
fundamental é uma fantasia origem edipiana, cuja dissolução desse complexo

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faz emergir a fantasia como um resíduo que irá determinar a posição do sujeito
em seu modo de gozo.
O mecanismo principal que organiza a estrutura fantasmática, declara
Nasio (1993), está sempre encoberto por uma frase organizada em torno de um
verbo fácil de identificar no relato do paciente. O autor diz, ainda, que a
identificação do sujeito à posição de objeto, de fato, está no verbo da frase:
morder, espancar, sujar, ignorar etc.
Para entendermos isso, voltemos ao texto Bate-se numa criança, onde
Freud nos indica três tempos da fantasia:

1. Uma criança é espancada: é o relato de uma primeira cena emergente,


onde o relator não faz parte da cena, portanto, ela não é uma cena
masoquista nem sádica: bate-se.
2. Estou sendo espancada pelo meu pai: o relator da cena coincide com a
criança espancada. É uma cena de masoquismo, mas, segundo Freud,
trata-se de uma cena que nunca existiu, assim, diz respeito a uma
construção de análise.
3. Provavelmente estou olhando: o relator surge na cena apenas no lugar de
quem olha, não coincidindo com a criança espancada. Há presença de
excitação sexual masturbatória cujo caráter é sádico manifesto.

Freud, que de início considerou o sadismo de caráter primário, resultado


da rivalidade com a figura do pai, em 1920, com o conceito de pulsão de morte,
dá um passo atrás e reconhece no texto O problema econômico do masoquismo
(1924), que na origem está o masoquismo e permanecerá na base da estrutura
do sujeito. Portanto, com a nova leitura do masoquismo primário, podemos
entender que sobre o mecanismo da fantasia há um masoquismo nuclear, assim:
uma cena primária (deixa um traço de memória); depois, com a dissolução do
Édipo, a criança vai se identificar ao objeto da cena (a criança espancada), ou
seja, retroativamente (S1-S2), construindo a sua fantasia de base masoquista,
onde se vincula o gozo; e no terceiro tempo, o que caracteriza essa fase é que
a fantasia está fortemente ligada a uma excitação sexual e seu modo de gozo
resquícios dessas experiências. Sobre esse texto, Coutinho Jorge declara:

Os três tempos da fantasia “Uma criança é espancada” parecem,


assim, caminhar precisamente na seguinte direção: do amor ao gozo.
Da posição de sujeito, $, que a criança ocupa no primeiro tempo, para

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a posição de objeto, a, que se delineia no segundo tempo e se
configura rapidamente no terceiro. (Coutinho Jorge, 2010, p. 108)

Portanto, a fantasia não se trata de um devaneio, ela porta o desejo.


Sendo assim, é a forma como o sujeito tenta encadear o seu desejo na cadeia
de significantes. Mas, em contrapartida, é justamente nessa tentativa de
passagem ao significante que o recalque é gerado.
Surge, então, o sintoma para encobrir a verdade do sujeito e, na clínica
psicanalítica, ele recebe voz para denunciar o desejo recalcado e desvelar o
modo de gozo da estrutura. Portanto, é dessa forma que o sujeito se apega ao
seu sintoma. Lacan situa o sintoma numa estreita relação com o corpo, que se
impõe para além das construções imaginárias e simbólicas que atravessam o
sujeito, pois há algo da dimensão do real, do sem sentido que não entra no
campo da linguagem do Outro.

TEMA 4 – A HISTERIA

Para a psicanálise, a histeria é, antes de mais nada, um dos modos como


o sujeito neurótico se enlaça e tece a suas relações com os outros a partir de
suas fantasias. Coutinho Jorge (2010) declara que a fantasia é uma espécie de
matriz psíquica que funciona mediatizando o encontro do sujeito com o real.
Desse modo, a fantasia constitui o princípio da realidade de cada sujeito. “Essa
fantasia, em que o sujeito é preso, é, como tal, o suporte do que se chama
expressamente, na teoria freudiana, o princípio de realidade” (Lacan citado por
Coutinho Jorge, 2010, p. 77).
Isso significa que o histérico, assim como qualquer sujeito neurótico, vai
se posicionar na relação afetiva com o outro de acordo com lógica de sua
estrutura, condicionado, sempre, por sua fantasia inconsciente sem que ele
tenha poder sobre isso.
A fantasia inconsciente diz respeito a algo traumático inerente à
sexualidade do histérico, contudo, Coutinho Jorge e Travasso (2021) sublinham
que se trata de um trauma contingencial, visto que não há como não ocorrer,
pois refere-se à falta de inscrição da diferença sexual no inconsciente. Sendo
assim, a própria concepção do sexo é, inevitavelmente, traumática. “Trata-se
aqui do real inerente ao pulsional, do inassimilável inerente à sexualidade, com
sua intensidade e excesso” (Coutinho Jorge; Travasso, 2021).

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Freud descobre um paradoxo da sexualidade histérica, no qual aponta
para uma grande necessidade sexual, no mesmo passo que demostra uma
profunda aversão ao sexo. Assim, constata que o sujeito histérico erotiza o corpo
e amortece o órgão sexual. Na histeria, o corpo é sexualizado, exceto o próprio
sexo. Nesse sentido, os sintomas histéricos ocorrem geralmente no corpo,
obedecendo ao significante inconsciente. No texto Fragmento da análise de um
caso de histeria, Freud (1905, p. 37) declara: “Eu tomaria por histérica, sem
hesitação, qualquer pessoa em quem uma oportunidade de excitação sexual
despertasse sentimentos preponderantes ou exclusivamente desprazerosos,
fosse ela ou não capaz de produzir sintomas somáticos”.
A inibição sexual histérica, contudo, não significa um retraimento, destaca
Nasio (1991), pois, na verdade, trata-se de um movimento ativo de rechaço. Diz
mais em A Histeria:

A impotência, a ejaculação precoce, o vaginismo ou a frigidez, todos


são distúrbios característicos da vida sexual do histérico, os quais, de
uma maneira ou de outra, exprimem a angústia inconsciente do homem
de penetrar no corpo da mulher, e a angústia inconsciente da mulher
de se deixar penetrar. O paradoxo do histérico diante da sexualidade
caracteriza-se, portanto, por uma contradição: de um lado, há homens
e mulheres excessivamente preocupados com a sexualidade,
procurando erotizar toda e qualquer relação social, e de outro, eles
sofrem — sem saber por que sofrem — por ter que passar pela
experiência do encontro genital com o sexo oposto. (Nasio, 1991, p.
45)

É preciso compreender, o quanto antes, que a sexualidade histérica não


é uma sexualidade genital, mas um “simulacro de sexualidade”, visto que seu
gozo está mais em criar sinais sexuais que raramente vão estar articulados ao
ato sexual que ele enuncia. “E, no entanto, se há um desejo a que o histérico se
atém é o de que esse ato (sexual enunciado por ele) fracasse; mais exatamente,
ele se apega ao desejo inconsciente de não realização do ato” (Nasio, 1991, p.
18), pois para o histérico, o desejo é que o desejo continue insatisfeito.
Mas, por que sustentar um desejo insatisfeito, se deveríamos ir em busca
de satisfação? Nasio (1991, p. 15) responde:

o histérico é fundamentalmente um ser de medo que, para atenuar sua


angústia, não encontrou outro recurso senão manter incessantemente,
em suas fantasias e em sua vida, o doloroso estado de insatisfação,
pois, para ele, o perigo pressentido que o levaria a seu aniquilamento
é “o perigo de viver o gozo máximo”.

Portanto, a questão da histeria é posta por Nasio da seguinte forma:

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Pouco importa que ele imagine esse gozo máximo como o gozo do
incesto, o sofrimento da morte ou a dor da agonia; e pouco importa que
imagine os riscos desse perigo sob a forma da loucura, da dissolução
ou do aniquilamento de seu ser: o problema consiste em evitar a
qualquer preço qualquer experiência que evoque de perto ou de longe
um estado de plena e absoluta satisfação. Esse estado, de resto
impossível, é pressentido pelo histérico, no entanto, como o perigo
supremo de um dia ser arrebatado pelo êxtase e gozar até a derradeira
morte. (Nasio, 1991, p. 16)

O sujeito histérico é aquele, então, que para se defender de um gozo


máximo, ele se mantém num estado fantasmático de insatisfação. O histérico se
afasta da ameaça do gozo, construindo inconscientemente um cenário
fantasmático, do qual tenta provar a si mesmo que há falta e, portanto, o seu
gozo permanecerá insatisfeito.
A realidade histérica, consequentemente, terá os moldes de sua fantasia.
Desse modo, as pessoas de seu convívio também serão portadoras da falta, pelo
qual o histérico desenvolve, de formas aguçadas, meios incessantes de busca,
para poder apontar a falta do outro.

4.1 O caso Dora

O caso Dora é o caso clínico de histeria mais paradigmático da


psicanálise. Dora era uma jovem de 18 anos quando chegou para receber o
tratamento psicanalítico. Segundo relato de Freud, Dora apresentava todos os
sintomas que caracterizavam uma pequena histeria: enxaquecas, tosse nervosa,
perda da voz, abatimento e tédio da vida. Mas o fato que levou o pai de Dora a
buscar ajuda de Freud foi ter encontrado uma carta de despedida endereçada
aos seus pais, pois ela “não podia mais suportar a vida”, somada a um ataque
de perda de consciência.
A trama que rodeia a vida de Dora é formada pela relação conturbada
com a sua mãe, pois ela se recusa a ajudar nos afazeres domésticos; pela
relação com o pai, que manteve uma relação de amante com a Sra. K; pelo Sr.
K, que a cortejava e ela fingia não ver, pois, por causa da relação de amantes
entre o seu pai e a Sra. K, Dora se colocava como objeto de troca dessa relação.
Dora admite à Freud que era cúmplice dessa relação amorosa
extraconjugal de seu pai, pois todas as vezes que visitavam a Sra. K, cuidava de
seus dois filhos para deixá-los sozinhos.

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Dora e a Sra. K eram amigas, confidentes e conselheiras. Nas vezes em
que Dora dormia na casa da Sra. K, o Sr. K deixava o quarto para que elas
dormissem na mesma cama, já que entre as duas não havia nada que não
pudessem ser conversado. Dora elogiava o corpo, a pele e a aparência da Sra.
K para Freud, o que lhe parecia mais um relato de amantes do que uma mulher
se referindo a uma rival.
Nessa relação com a família K, Dora relata a Freud que, quando tinha 14
anos, o Sr. K a convidou para encontrar-se com ele e a Sra. K, para juntos irem
à procissão. Ocorre que quando Dora chega à loja do Sr. K, ele estava sozinho,
e quando os dois vão sair, ele abraça Dora e lhe dá um beijo na boca. Dora conta
que sente uma violenta repugnância. Nadiá P. Ferreira e Marcus A. Motta (2014)
destacam essa cena e apontam para o horror histérico:

Esse beijo, um segredo só revelado na análise, opera, segundo Freud,


um trauma sexual que se conecta com outras experiências sexuais
traumáticas da infância. Referindo-se a esse episódio, Jacques-Alain
Miller comenta que o horror que Dora passa a sentir por um homem
sexualmente excitado e o nojo, que provém do recalque da parte
erógena dos lábios, permitem “afirmar que a interpretação que Freud
realiza centra-se no mau encontro de Dora com o gozo sexual”.
(Ferreira; Motta, 2014, p. 15)

Um segundo episódio é relatado por Dora. Ela conta que num passeio à
beira do lago com o Sr. K, ele a beija novamente e lhe faz uma declaração de
amor. Dessa vez, Dora lhe bofeteia e sai correndo. Passados uns dias, Dora
conta à mãe o que ocorre. Esta, por sua vez, relata ao seu marido. Contudo, o
Sr. K, ao ser procurado pelo pai de Dora, nega a acusação e diz ser fruto da
imaginação de Dora. O Sr. K tinha ao seu favor a denúncia de que Dora, junto
com sua esposa, tinham o hábito de ler livros inapropriados para a idade dela.
Freud aponta para a traição da Sra. K com a sua amiga, pois revelara o
segredo das duas, mas o que surpreende Freud é que Dora, no lugar de sentir
ódio de sua amiga, sente ciúmes da relação amorosa que ela tinha com o pai.
Lacan (1951), em seu texto Intervenção sobre a transferência, assinala
para a inversão dialética estabelecida por Freud, pois ele se dá conta de que o
repentino ciúme de Dora pelo pai mascara, na verdade, uma fascinação pela
Sra. K, motivo pelo qual Dora se mantém leal, mesmo depois da traição e ela
própria se passando por mentirosa.

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Numa primeira interpretação dada por Freud, ele acreditou que se tratava
de um amor recalcado pelo Sr. K. Mas, com a cena do lago, esse amor, por
motivos ainda desconhecidos, fez desencadear uma violenta resistência,
fazendo ressurgir o amor infantil. Já na última interpretação, Freud descobre a
face homossexual da neurose histérica, de modo que, a nível inconsciente, o
ciúme de Dora pela Sra. K é, de fato, fruto de sua identificação com o homem.
“Essas correntes afetivas masculinas, ou, melhor dizendo, ginecofílicas, devem
ser consideradas típicas da vida amorosa inconsciente das jovens histéricas”
(Freud citado por Ferreira; Motta, 2014, p. 16).
No seminário 4, Lacan (1957) sublinha que o laço libidinal que liga Dora à
Sra. K trata-se de uma identificação histérica à imagem viril. Portanto, ela, por
via do Sr. K, na medida em que está identificada imaginariamente ao Sr. K, está
ligada à Sra. K. Assim, conforme nos explica Ferreira e Motta, entre Dora e a
Sra. K, é muito mais do que uma paixão, mas trata-se de uma questão histérica:
o que é uma mulher?

Muito mais que uma paixão, o que liga Dora à Sra. K. é uma questão:
o que é ser mulher? É a partir dessa questão, encarnada na Sra. K.,
que Dora se situa em uma relação triangular. Todos, ou seja, ela, seu
pai e o Sr. K., idolatram a Sra. K. Dora, de certa forma, é
condescendente com o assédio do Sr. K. Mas ela o esbofeteia quando
ele lhe diz que a Sra. K. não é nada para ele. (Ferreira; Motta, 2014, p.
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Freud apreende, a partir do caso Dora, que a estrutura da fantasia


histérica é atravessada pelo desejo da bissexualidade que se enuncia através
da questão do impossível do sexo: sou homem ou mulher?

TEMA 5 – NEUROSE OBSESSIVA

Que a psicanálise foi inventada pelo encontro de Freud com as histerias,


todo mundo já sabe, mas o que é menos evidenciado é que Freud “inventou” a
neurose obsessiva. Pois bem, Maria Anita Carneiro (2011, p. 23), em seu livro
Um certo tipo de mulher, enfatiza que Freud foi o pai da neurose obsessiva: “sua
cria, surgida do rigor da pesquisa e do cuidado meticuloso com o diagnóstico
diferencial”. Ao contrário da histeria que os sintomas se manifestam
primordialmente no corpo, na neurose obsessiva, o sujeito sofre dos
pensamentos.

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Na neurose obsessiva, o encontro com o sexo, que é sempre traumático,
é acompanhado com um excesso de gozo, que posteriormente, ao surgir na
consciência, será acompanhado de culpa e autorrecriminação. Desse modo,
será recalcado, e o afeto é deslocado para uma ideia substitutiva. O sujeito
obsessivo passará, então, a ser atormentado por uma autorrecriminação sobre
fatos aparentemente fúteis e irrelevantes.

Freud diz que, na verdade, a ideia obsessiva é correta no que tange ao


afeto e à categoria, mas é falsa em decorrência do deslocamento e da
substituição por analogia. Ou seja: a ideia obsessiva pode ser contrária
a qualquer lógica, embora sua força compulsiva seja inabalável.
(Carneiro, 2011, p. 16)

A formação dos sintomas da neurose obsessiva tem como efeito o


deslocamento do afeto e a substituição por analogia da representação
traumática. Por isso, a operação do recalque é mais frágil do que de uma histeria
que converte o sintoma no corpo. A consequência dessa fragilidade do recalque
pode ser observada facilmente na clínica, pois o obsessivo acaba colocando na
sua fala elementos que deveriam estar recalcados. Por exemplo: com
frequência, vemos relatos de sonhos eróticos, que ao final o analisante diz: “não
era a minha mãe”. Assim, através da negação, Freud vai nos dizer que o sujeito
se autoriza a dizer a frase proibida: “era a minha mãe”, pois, afinal, foi o próprio
analisante, que colocou a mãe na conversa.
Outro fenômeno presente nos sintomas obsessivos é a crença na
representação recalcada, pois o obsessivo crê na autorrecriminação, crê na
representação recalcada, e é porque crê, ele se permite duvidar. A dúvida, que,
como destaca Carneiro (2011), Descartes elevou à dignidade de um método
filosófico, não será apenas um sintoma da neurose obsessiva, mas também uma
defesa contra a angústia, contra o afeto que se desloca de uma representação
à outra. Desse modo, o neurótico obsessivo tende a esvaziar o seu afeto.
É nesse ponto, da crença, que Freud distingue a paranoia da neurose
obsessiva, pois em ambas o encontro com o sexo é vivenciado com gozo
excessivo, mas enquanto na neurose há uma autorrecriminação, na paranoia o
sujeito não crê na autorrecriminação, pois ele projeta a culpa para o outro.

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5.1 Do sintoma da neurose obsessiva a sua fantasia

A neurose, como bem vimos, é resposta do recalque ao trauma sexual.


Através dessa descoberta, Freud conclui que não há indicação de realidade
objetiva no inconsciente, portanto, a realidade é psíquica, fruto de uma fantasia
inconsciente. Assim, quando tratamos do inconsciente, não há como distinguir a
verdade da ficção, pois a verdade do sujeito é tecida pela sua ficção. Sendo
assim, a fidedignidade dos fatos não nos interessa, visto que a verdade está no
que o sujeito conta.
Na neurose obsessiva, o sujeito está preso ao tema da morte, pois ela
configura o tema da castração, visto que na fantasia inconsciente, o pai pode
matá-lo por ter desejado e gozado da mãe. Essa ideia está na origem do sintoma,
que se constitui como compromisso à representação intolerável do trauma que
provocou gozo e culpa.
Outra consequência dessa fantasia inconsciente, na neurose obsessiva o
sujeito tenta, a todo custo, anular o seu desejo, cujas estratégias são de várias
consequências clínicas, mas com o mesmo objetivo: dar um curto-circuito no
desejo. Maria Anita Carneiro (2011) declara:

A estratégia obsessiva divide-se em duas partes: em primeiro lugar,


trata-se de fazer calar o desejo do outro reduzindo-o aos pedidos que
o outro lhe faz. Assim, um obsessivo pode ser muito solícito, muito
gentil, atendendo da melhor maneira a tudo que lhe pedem para não
deixar espaço para o desejo, que está oculto para além do que se pede
explicitamente. Ou então pode ser um sujeito “do contra”, que se opõe
aos pedidos dos outros, mantendo assim a ilusão de que anula o
desejo. São manobras opostas a serviço da mesma estratégia.
(Carneiro, 2011, p. 25)

Para se afastar do seu desejo, o sujeito obsessivo o mantém no lugar do


impossível. Assim, a procrastinação faz parte de sua vida, visto que ele joga para
o tempo o seu desejo. Portanto, só faz o que precisa quando não tem mais tempo
e precisa fazer. Carneiro sublinha que os sintomas da neurose obsessiva estão
articulados ao pai.

O obsessivo crê no pai, crê no traço identificatório tomado do pai e,


portanto, crê nas palavras, crê no pensamento, e é a partir dessa
crença que combate o desejo. O desejo é contra a lei, incestuoso — o
desejo proibido pela mãe inclui o desejo da morte do pai. O obsessivo,
submisso, se identifica ao traço tomado do pai (identificação simbólica),
mas também se identifica imaginariamente ao pai, cujo lugar quer
ocupar. E é a partir daí que a culpa cobra seu preço. (Carneiro, 2011,
p. 26)

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5.2 O caso do homem dos ratos

O caso do homem dos ratos é paradigmático na clínica da neurose


obsessiva. Trata-se do relato de um jovem tenente de nome Lehrs, que buscou
Freud (1909), em meio a muito sofrimento. Ele conta que em seu acampamento
militar havia um certo capitão, que narrou uma crueldade que se aplicava no
Oriente, onde, segundo o capitão, tomava-se um tonel com uma única abertura
e nele se colocavam muitos ratos famintos. E sobre a abertura do tonel, era posta
uma pessoa completamente nua para ser torturada, oferecendo-o, assim, como
única saída o seu corpo.
A partir dessa história, o jovem tenente passou a se sentir perturbado com
uma viva impressão, que a história que deixara. Passados uns dias, os óculos
que ele havia encomendado, após perder os seus, chegaram de Viena, e o tal
capitão, erroneamente, cobrou-lhe, dizendo que ele deveria pagar o reembolso
postal ao tenente Z, pois este havia pagado a dívida. Prontamente, jurou
mentalmente fazê-lo, e completou em pensamento a frase do capitão: “senão o
suplício dos ratos será aplicado à moça que eu amo e a meu pai”. O detalhe é
que seu pai já havia falecido.
Ocorre que quando vai pagar a sua dívida, descobre que quem pagou a
sua postagem foi uma senhora que trabalhava no correio. Então, armou de pagar
o tenente Z, para que ele pagasse a senhora do correio, mas o tenente Z havia
sido transferido para outro regimento em outra cidade. O tenente Lehrs resolveu,
então, pegar um trem e ir ao encontro do tenente Z, para convencê-lo a voltar
com ele para que ele o entregasse à senhora do correio, para que assim o
dinheiro fosse entregue ao verdadeiro encarregado do correio, o tenente B. Todo
esse jogo logístico ocorreu para que o tormento dos ratos não fosse aplicado à
sua namorada e ao seu pai, que aliás já estava morto.
Freud se dá conta de um elemento central em todos os casos de neurose
obsessiva — a dívida. A dívida, no caso do homem dos ratos, tem uma estreita
relação com a imagem do seu pai, pois, seu pai morreu devendo uma dívida de
jogo. “Diante de sua própria dívida para com a senhora do correio, agravada pelo
juramento que fizera, o tenente Lehrs se vê identificado ao pai devedor”
(Carneiro, 2011, p. 31).

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No relato do homem dos ratos, Freud destaca que, em sua fala de
suplício, era possível observar em seu rosto um gozo desconhecido para o
próprio sujeito, pois parecia que ele se sentia fascinado e assustado pelo próprio
relato. Outro ponto destacado por Freud é que, o obsessivo, traz uma fala
interrompida, incompleta, mostrando dificuldade de tocar em assuntos difíceis,
trata-se de “mecanismo auxiliares do recalque”, pois o obsessivo sabe que ao
falar o desejo escapa. Nesse sentido, ele tenta anular a significação dos seus
atos e fala, por conta disso, que é necessário ao analista auxiliá-lo, emprestando-
lhe palavras.

NA PRÁTICA

Na clínica da neurose obsessiva, o Outro goza, como o capitão do homem


dos ratos, pois o Outro é patente do pai da horda primitiva que barra o seu acesso
ao gozo. Assim, para não deixar emergir o gozo do Outro, o sujeito anula o seu
desejo, com a dúvida, com pensamentos trágicos, com cálculos impossíveis,
pois, diante do Outro, o sujeito está sempre na posição de escravo.
Por exemplo: um analisante que desde criança buscava ganhar dinheiro,
pois achava que não podia ser um peso para sua família. Começou a trabalhar
logo que pôde e arcou com muita dificuldade a todo custo da sua faculdade. Diz
ser muito dinheirista e nunca se sentiu à vontade para pedir as coisas para a sua
mãe.
Nesse caso, a relação com o dinheiro se agravou quando a analisante
perde o seu pai, e sua mãe fica muito “depressiva”. Essa situação a levou a
assumir o papel de supridor, cuja falta da família não podia parecer que
prontamente se forçava por tamponar. Entrava em relacionamentos abusivos,
dos quais não conseguia sair.
Quando a analisante começa o tratamento, aos poucos ela vai se dando
conta de todas as contradições de sua vida, pois sempre se direcionava para
caminhos que se opunha ao que deseja, visto que seu desejo era diminuído
frente ao desejo do outro, uma relação de escravo. A fantasia do neurótico
obsessivo é sustentada por uma dívida simbólica impagável, que o coloca
sempre culpado diante do seu desejo.

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FINALIZANDO

A neurose: vimos que a neurose é resposta do recalque que opera no


encontro com o sexo, que, inevitavelmente, é da ordem do trauma.
A clínica da fantasia: assim, na neurose, o sujeito retira o investimento da
libido no objeto da realidade e o investe no objeto da fantasia.
A fantasia fundamental: na base estrutural de toda fantasia, existe o
masoquismo original, pelo qual o sujeito constitui o seu modo de gozo apoiado
em sua fantasia fundamental.
A histeria: em sua fantasia, o sujeito histérico se questiona: sou homem
ou mulher? Visto que seu corpo é entregue, mas seu gozo se mantém
insatisfeito.
A neurose obsessiva: em sua fantasia, o sujeito obsessivo está preso ao
tema da morte, pelo qual a morte é a grande figura da castração.

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REFERÊNCIAS

CARNEIRO, M. A. A neurose obsessiva. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

CARREIRA, A. F. Algumas considerações sobre a fantasia em Freud e Lacan.


Psicologia USP [online], v. 20, n. 2, p. 157-171, 2009. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/S0103-65642009000200002>. Acesso em: 8 maio
2022.

COUTINHO JORGE, M. A.; TRAVASSO, N. P. Histeria e sexualidade. Rio de


Janeiro: Zahar, 2021.

FERREIRA, N. P.; MOTTA, M. A. A histeria: o caso Dora. Rio de Janeiro: Zahar,


2014.

FREUD, S. Carta 125. In: Obras completas, Vol. 1. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

_____. Fragmentos da análise de um caso de histeria. Obras completas, Vol.


1. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

_____. Projeto para uma psicologia científica. In: Obras completas, Vol. 1. Rio
de Janeiro: Imago, 1996.

_____. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Obras completas, Vol. 1.


Rio de Janeiro: Imago, 1996.

NASIO, J. D. A histeria: teoria e clínica psicanalítica. Rio de Janeiro: Jorge


Zahar, 1991.

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