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AULA 4
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Portanto, se as investigações acerca das neuroses sempre tiveram nos
holofotes da clínica psicanalítica, cabe-nos agora nos aprofundar sobre essa
estrutura, a fim de compreendermos o modo como o sujeito neurótico lida com a
sua realidade.
TEMA 1 – A NEUROSE
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Assim, a sexualidade desempenha um papel fundamental na etiologia das
neuroses, pois é nesse encontro inevitavelmente traumático, que o sujeito
constitui sua defesa pela escolha de uma neurose.
1.1 O recalque
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erógenas não deixaram de buscar esse reencontro com o objeto perdido da
satisfação.
É nesse sentido que Freud declara que o neurótico sofre por
reminiscência. Ele se recusa a renunciar o objeto perdido, o objeto da satisfação
plena. Trata-se de das Ding, a coisa freudiana inominável, que se apresenta no
campo simbólico como falta.
Portanto, é em torno desse vazio que o sujeito vai se constituir no campo
simbólico, se utilizando dos sistemas de linguagem (metáfora e metonímia)
inconscientemente para tentar tamponar sua falta. A partir daí, surgem vários
objetos que vão sendo inseridos na cadeia significante e que têm por aspiração
o “eu ideal” (i(a)), a imagem plena. Trata-se do investimento feito na fantasia que
tenta articular o sujeito e o objeto.
Freud se deparou com a fantasia desde o início de sua prática clínica com
as histéricas. De início, chegou a acreditar nas cenas de sedução, as quais suas
pacientes relatavam nas entrelinhas. Mas, com o desenvolvimento da sua teoria,
pôde se dar conta que se tratava de uma realidade que não se conjectura com
o real, mas de uma realidade psíquica. Alessandra Fernandes Carreira (2009)
explica assim:
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assim, a relação mãe-bebê plena; o segundo tempo ocorre a partir da presença
de um terceiro elemento, que faz a criança perceber que o desejo da mãe não
está dirigido apenas para ela, mas a mãe deseja outra coisa, geralmente o pai.
A interpretação da criança de que a mãe deseja o pai faz emergir uma rivalidade
imaginária com o pai, pois, para a criança, o pai tem o falo, que falta à mãe.
Assim, conforme nos ensina Lacan, é a função paterna, através do significante
Nome-do-Pai, que introduz a falta na relação mãe-bebê. A criança, então, perde
a identificação ao falo materno e recalca; começa o terceiro tempo lógico, onde
a criança se dá conta da castração da mãe e, assim, da sua própria castração e
vai em busca de ter falo. Portanto, o falo é elevado ao nível simbólico, fazendo
de todos castrados, inclusive o pai.
Ocorre que a criança, ao perder sua identificação ao falo, irá demandar
ao Outro, tesouro do significante, que responda sobre o seu desejo. Contudo, o
que surge desde aí é a pergunta: que quer você? (Lacan, 1960, p. 829).
O vazio pela falta de resposta do Outro indica que o Outro também é
faltoso, pois não existe nada que supra essa incompletude do Outro, portanto,
declara Lacan (1960, p. 833): “não há Outro do Outro”. Desse modo, o sujeito se
constitui pela falta do Outro, advindo como um falta-a-ser, pois do Outro não
receberá a resposta para o seu desejo. A falta, portanto, é irremediável, sendo
assim, a fantasia se forma para dar conta dela.
Portanto, a fantasia pode ser considerada o produto da operação do
complexo de Édipo, cujo registro é imaginário, mas que se articula ao simbólico,
e sua montagem inconsciente se ergue na tentativa de sanar o vazio deixado à
questão “Che Vuoi?”.
Coutinho Jorge (2010) afirma que a fantasia é um elemento que se
instaura para a criança como uma verdadeira contrapartida ao gozo que ela
perdeu. Assim, ela se constrói, essencialmente, como uma fantasia de
completude.
Freud (1919), em seu texto Bate-se numa criança, onde ele privilegia o
espancamento, mas poderia ser qualquer outra coisa, afirma que a fantasia
fundamental é uma fantasia origem edipiana, cuja dissolução desse complexo
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faz emergir a fantasia como um resíduo que irá determinar a posição do sujeito
em seu modo de gozo.
O mecanismo principal que organiza a estrutura fantasmática, declara
Nasio (1993), está sempre encoberto por uma frase organizada em torno de um
verbo fácil de identificar no relato do paciente. O autor diz, ainda, que a
identificação do sujeito à posição de objeto, de fato, está no verbo da frase:
morder, espancar, sujar, ignorar etc.
Para entendermos isso, voltemos ao texto Bate-se numa criança, onde
Freud nos indica três tempos da fantasia:
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a posição de objeto, a, que se delineia no segundo tempo e se
configura rapidamente no terceiro. (Coutinho Jorge, 2010, p. 108)
TEMA 4 – A HISTERIA
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Freud descobre um paradoxo da sexualidade histérica, no qual aponta
para uma grande necessidade sexual, no mesmo passo que demostra uma
profunda aversão ao sexo. Assim, constata que o sujeito histérico erotiza o corpo
e amortece o órgão sexual. Na histeria, o corpo é sexualizado, exceto o próprio
sexo. Nesse sentido, os sintomas histéricos ocorrem geralmente no corpo,
obedecendo ao significante inconsciente. No texto Fragmento da análise de um
caso de histeria, Freud (1905, p. 37) declara: “Eu tomaria por histérica, sem
hesitação, qualquer pessoa em quem uma oportunidade de excitação sexual
despertasse sentimentos preponderantes ou exclusivamente desprazerosos,
fosse ela ou não capaz de produzir sintomas somáticos”.
A inibição sexual histérica, contudo, não significa um retraimento, destaca
Nasio (1991), pois, na verdade, trata-se de um movimento ativo de rechaço. Diz
mais em A Histeria:
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Pouco importa que ele imagine esse gozo máximo como o gozo do
incesto, o sofrimento da morte ou a dor da agonia; e pouco importa que
imagine os riscos desse perigo sob a forma da loucura, da dissolução
ou do aniquilamento de seu ser: o problema consiste em evitar a
qualquer preço qualquer experiência que evoque de perto ou de longe
um estado de plena e absoluta satisfação. Esse estado, de resto
impossível, é pressentido pelo histérico, no entanto, como o perigo
supremo de um dia ser arrebatado pelo êxtase e gozar até a derradeira
morte. (Nasio, 1991, p. 16)
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Dora e a Sra. K eram amigas, confidentes e conselheiras. Nas vezes em
que Dora dormia na casa da Sra. K, o Sr. K deixava o quarto para que elas
dormissem na mesma cama, já que entre as duas não havia nada que não
pudessem ser conversado. Dora elogiava o corpo, a pele e a aparência da Sra.
K para Freud, o que lhe parecia mais um relato de amantes do que uma mulher
se referindo a uma rival.
Nessa relação com a família K, Dora relata a Freud que, quando tinha 14
anos, o Sr. K a convidou para encontrar-se com ele e a Sra. K, para juntos irem
à procissão. Ocorre que quando Dora chega à loja do Sr. K, ele estava sozinho,
e quando os dois vão sair, ele abraça Dora e lhe dá um beijo na boca. Dora conta
que sente uma violenta repugnância. Nadiá P. Ferreira e Marcus A. Motta (2014)
destacam essa cena e apontam para o horror histérico:
Um segundo episódio é relatado por Dora. Ela conta que num passeio à
beira do lago com o Sr. K, ele a beija novamente e lhe faz uma declaração de
amor. Dessa vez, Dora lhe bofeteia e sai correndo. Passados uns dias, Dora
conta à mãe o que ocorre. Esta, por sua vez, relata ao seu marido. Contudo, o
Sr. K, ao ser procurado pelo pai de Dora, nega a acusação e diz ser fruto da
imaginação de Dora. O Sr. K tinha ao seu favor a denúncia de que Dora, junto
com sua esposa, tinham o hábito de ler livros inapropriados para a idade dela.
Freud aponta para a traição da Sra. K com a sua amiga, pois revelara o
segredo das duas, mas o que surpreende Freud é que Dora, no lugar de sentir
ódio de sua amiga, sente ciúmes da relação amorosa que ela tinha com o pai.
Lacan (1951), em seu texto Intervenção sobre a transferência, assinala
para a inversão dialética estabelecida por Freud, pois ele se dá conta de que o
repentino ciúme de Dora pelo pai mascara, na verdade, uma fascinação pela
Sra. K, motivo pelo qual Dora se mantém leal, mesmo depois da traição e ela
própria se passando por mentirosa.
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Numa primeira interpretação dada por Freud, ele acreditou que se tratava
de um amor recalcado pelo Sr. K. Mas, com a cena do lago, esse amor, por
motivos ainda desconhecidos, fez desencadear uma violenta resistência,
fazendo ressurgir o amor infantil. Já na última interpretação, Freud descobre a
face homossexual da neurose histérica, de modo que, a nível inconsciente, o
ciúme de Dora pela Sra. K é, de fato, fruto de sua identificação com o homem.
“Essas correntes afetivas masculinas, ou, melhor dizendo, ginecofílicas, devem
ser consideradas típicas da vida amorosa inconsciente das jovens histéricas”
(Freud citado por Ferreira; Motta, 2014, p. 16).
No seminário 4, Lacan (1957) sublinha que o laço libidinal que liga Dora à
Sra. K trata-se de uma identificação histérica à imagem viril. Portanto, ela, por
via do Sr. K, na medida em que está identificada imaginariamente ao Sr. K, está
ligada à Sra. K. Assim, conforme nos explica Ferreira e Motta, entre Dora e a
Sra. K, é muito mais do que uma paixão, mas trata-se de uma questão histérica:
o que é uma mulher?
Muito mais que uma paixão, o que liga Dora à Sra. K. é uma questão:
o que é ser mulher? É a partir dessa questão, encarnada na Sra. K.,
que Dora se situa em uma relação triangular. Todos, ou seja, ela, seu
pai e o Sr. K., idolatram a Sra. K. Dora, de certa forma, é
condescendente com o assédio do Sr. K. Mas ela o esbofeteia quando
ele lhe diz que a Sra. K. não é nada para ele. (Ferreira; Motta, 2014, p.
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Na neurose obsessiva, o encontro com o sexo, que é sempre traumático,
é acompanhado com um excesso de gozo, que posteriormente, ao surgir na
consciência, será acompanhado de culpa e autorrecriminação. Desse modo,
será recalcado, e o afeto é deslocado para uma ideia substitutiva. O sujeito
obsessivo passará, então, a ser atormentado por uma autorrecriminação sobre
fatos aparentemente fúteis e irrelevantes.
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5.1 Do sintoma da neurose obsessiva a sua fantasia
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5.2 O caso do homem dos ratos
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No relato do homem dos ratos, Freud destaca que, em sua fala de
suplício, era possível observar em seu rosto um gozo desconhecido para o
próprio sujeito, pois parecia que ele se sentia fascinado e assustado pelo próprio
relato. Outro ponto destacado por Freud é que, o obsessivo, traz uma fala
interrompida, incompleta, mostrando dificuldade de tocar em assuntos difíceis,
trata-se de “mecanismo auxiliares do recalque”, pois o obsessivo sabe que ao
falar o desejo escapa. Nesse sentido, ele tenta anular a significação dos seus
atos e fala, por conta disso, que é necessário ao analista auxiliá-lo, emprestando-
lhe palavras.
NA PRÁTICA
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FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
FREUD, S. Carta 125. In: Obras completas, Vol. 1. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
_____. Projeto para uma psicologia científica. In: Obras completas, Vol. 1. Rio
de Janeiro: Imago, 1996.
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