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Sociedade Cultural e Educacional de Garça Faculdade de Ensino Superior

e Formação Integral – FAEF


XXVI Simpósio de Ciências Aplicadas e V Simpósio
Internacional da FAEF

EFEITO DA DEFICIÊNCIA DE BORO NO EUCALIPTO

BENITIS, Kauane Larisse de Oliveira¹,


SOUZA, Nayara Lima de1,
DALEVEDO, Gabriela de Alcantara2.

RESUMO
A eucaliptocultura representa aproximadamente 78% das florestas plantadas no Brasil, no entanto
apresenta distúrbios fisiológicos característicos, ainda de causas desconhecidas. Diante da grande
importância do eucalipto no setor florestal, o presente estudo foi desenvolvido com objetivo de mostrar os
distúrbios fisiológicos oriundos da deficiência de boro no eucalipto por meio de revisão de literatura.
Palavras chave: Deficiência fisiológica, distúrbio fisiológico, florestas plantadas, micronutriente.

ABSTRACT
Eucalyptus cultivation represents approximately 78% of planted forests in Brazil, however it presents
characteristic physiological disturbances, still of unknown causes. Given the great importance of
eucalyptus in the forestry sector, the present study was developed with the objective of showing the
physiological disturbances arising from boron deficiency in eucalyptus through a literature review.
Keywords: Physiological deficiency, physiological disorder, micronutrient, planted forests.

1. INTRODUÇÃO

O setor florestal brasileiro segundo Relatório Anual (2022), em 2021, totalizou


para fins industriais uma área de floresta plantada de 9,93 milhões de hectares, onde a
maioria é constituída pela eucaliptocultura (75,8%) com 7,53 milhões de hectares, e
19,4% de pinus, com aproximadamente 1,93 milhão de hectares e o restante composto
por espécies como teca, acácia, seringueira, paricá e pinus. (INDÚSTRIA
BRASILEIRA DE ÁRVORES, 2022).
A destinação dos plantios são principalmente ao segmento de papel e celulose
(35%), cultivos independentes (30%), ao setor de siderurgia e ao carvão vegetal (13%).
Existe pouca expressividade no setor com investimentos financeiros (9%), painéis de
madeira e pisos laminados (6%), produtos sólidos de madeira (4%) e outros (3%)
(INDÚSTRIA BRASILEIRA DE ÁRVORES, 2020).
Distúrbio fisiológico do eucalipto (DFE), ou dieback, foi o nome dado ao
conjunto de modificações que ocorrem em árvores de plantios florestais que sofreram
perda de seu fenótipo normal. O DFE é caracterizado por uma interação complexa dos
seguintes fatores: climáticos, genéticos, nutricionais e edáficos (REIS, 2011). Ainda é
desconhecida a etiologia do DFE e os sintomas causados por essa desordem fisiológica

1
Discente do curso de Engenharia Florestal da Faculdade de Ensino Superior e Formação Integral –
FAEF; E-mail: kauane.lo@gmail.com; limadesouza.na@gmail.com;
2
Docente do curso de Engenharia Florestal da Faculdade de Ensino Superior e Formação Integral –
FAEF; E-mail:alcantaragabbi@gmail.com
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incluem, abscisão foliar, perda da dominância apical e emissão de brotações adventícias


ao longo do tronco, trincamento de casca, entre outros. O DFE interfere no crescimento
e na produtividade dos plantios e podendo gerar a morte das plantas (JURSKIS, 2005;
ALFENAS et al., 2009; CÂMARA et al., 2018).
O micronutriente que apresenta maior frequência de deficiência no solo é o boro,
necessitando de maior incidência de doses de adubação com esse elemento. O Cerrado
tem apresentado expansão do cultivo do eucalipto no Brasil, e, dentre as várias regiões
brasileiras, é o solo que se destaca na deficiência desse micronutriente. Na fase jovem,
um dos condicionamentos mais limitantes para o crescimento do eucalipto é a
deficiência de boro, segundo os autores Sgarbi et al (1999). Diante disso, o presente
estudo visa através de revisão de literatura mostrar os distúrbios fisiológicos oriundos
da deficiência de boro na cultura do eucalipto.

2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Eucaliptocultura no Brasil
O Brasil apresenta notório papel no cenário mundial quando o assunto é
produtividade de plantios florestais, com alto volume de produção anual de madeira por
área e um curto ciclo, e está concentrado principalmente nos estados de Minas Gerais,
Mato Grosso do Sul e São Paulo.

Figura 1: Distribuição da área com plantios de eucalipto por estado, 2021

Fonte: RELATÓRIO ANUAL(2022)


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Tal fato é decorrente da adoção de boas práticas de tratos culturais,


melhoramento genético, das condições edafoclimáticas propícias e da adequação das
espécies a elas, da existência de grande área oportuna à produção das espécies do
gênero, mão de obra qualificada, investimentos em pesquisas, desenvolvimento
científico e práticas sustentáveis(GOMIDE; FANTUZZI NETO; REGAZZI, 2010;
INDÚSTRIA BRASILEIRA DE ÁRVORES, 2021).
Segundo Relatório Anual (2022) o Brasil tem potencial produtivo dos plantios
de eucalipto superior ao de outras regiões do mundo. A produtividade média no plantio
de eucalipto tem evoluído bastante ao longo dos anos, em 1970 era 10m³/há/ano e
atualmente é de 38,9 m³/ha/ano em 2021.

2.2. Distúrbio Fisiológico do Eucalipto


O distúrbio fisiológico do eucalipto está diretamente relacionado à perda dos
seus atributos fenotípicos normais, denotado por uma relação complexa de quatro
principais fatores: climáticos, edáficos e nutricionais. As florestas com distúrbios
fisiológicos manifestam perda de dominância apical, intensidade no desfolhamento,
ocasionando
à necrose do tronco principal que se torna quebrável. Paralelamente, acontece a
emergência de um tronco secundário e os sintomas são subsequentemente relacionados
com perda de turgidez foliar, amarelecimento das folhas e encarquilhamento, morte do
ponteiro, ramificação na copa e até morte das árvores, como podem ser observados no
esquemático da Figura 2.
Estes sintomas que demarcam o estado de distúrbio fisiológico são bem
marcantes na fase adulta, sendo que, na fase de clones jovens, estes sintomas são
confundidos comumente com respostas típicas de estresses abióticos e estresses
bióticos, o que atrapalha a seletividade em campo de clones jovens com a menor
possibilidade de serem atingidos pelo distúrbio fisiológico.
A escassez de definição de estratégias para a identificação prévio do distúrbio
fisiológico é acentuada porque os mecanismos moleculares abrangidos no
desenvolvimento dos sintomas e no retorno de defesa da planta ao distúrbio são
completamente icógnitos (HUSSAR, 2021).
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Figura 2: Distúrbio Fisiológico do Eucalipto

Fonte: LOSS (2019).

2.3. Deficiência nutricional do micronutriente boro no eucalipto


A principal fonte de boro é a degradação da matéria orgânica pelos
microrganismos presentes no solo, portanto a deficiência desse nutriente é maior em
solos arenosos que apresentam baixo teor de matéria orgânica. É comum a deficiência
de boro em solos brasileiros, especialmente em solos do Bioma Cerrado, pois sua
disponibilidade é influenciada pelo déficit hídrico e a umidade do solo é importante para
o transporte do nutriente até as raízes (SILVEIRA; MALAVOLTA, 2000; BARRETTO
et al. 2007; MATTIELLO, 2009).
Em plantações florestais a carência de boro tem sido encontrada desde a década
de 50, conforme Tokeshi et al., (1976), Rocha Filho et al. (1978), Dell e Malajaczuk
(1994), Silveira et al. (1996) e Dell et al. (2001) alguns sintomas são folhas jovens
cloróticas, com mal desenvolvimento e pequenas, com aspecto de “falta de pedaços”;
coriáceas e encarquilhadas; aparição de nervuras excessivamamente salientes com
posterior necrose, produzindo aspecto de “costelamento”; seca de ponteiro seguida de
brotações das gemas axilares e morte da gema apical, com imediata bifurcação do fuste;
rachaduras da casca com exudação de goma e necrose dos tecidos; ramos e caules
retorcidos devido à escassez de lignina; achatamento do caule devido ao falecimento do
câmbio e morte descendente dos ramos. Alguns sintomas podem ser observados na
Figura 3.
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Figura 3 - A. Nervuras salientes dando aspecto de “costela” em folha de Eucalyptus grandis; B.


Avermelhamento e necrose das folhas novas de Eucalyptus grandis; C. Avermelhamento das folhas novas
de Eucalyptus grandis; D. Sintomas foliares em Eucalyptus sp.- limbo foliar reduzido, folhas retorcidas e
morte da gema apical; E. Folhas normais e deficientes em Eucalyptus globulus; F. Perda de dominância
apical, folhas novas com necrose das margens em E. urophylla x E. Grandis

Fonte : Adaptado de DE ARRUDA SILVEIRA E CASARIN, (2020?)

A carência de boro no caule faz com que não apresentem ou tenham baixo
número elementos de vasos, deformações nas estruturas e arranjo dos vasos, sendo que
os raios medulares organizam-se em fileiras duplas, ampliação do número de fibras,
hipertrofia das células dos raios medulares e as células meristemáticas do câmbio
necrosadas ou deformadas, sendo o mesmo notado no floema (CARVALHO et al.,
1980). A falta severa no campo ocasiona a morte das árvores, enquanto que a
deficiência leve pode acarretar apenas danificação nos galhos e troncos (necrose e
gomose dos tecidos) e diminuição da qualidade da madeira. Entretanto deve-se
notabilizar que a exigência de boro e as irregularidades provindas pela carência
distinguem-se entre genótipos espécies (STONE, 1990).
A sintomatologia relatada por Malavolta et al. (1997) configura-se por raízes
escuras com pontas grossas e subsequentemente ramificadas e necróticas. É de sumo
interesse s efeitos da deficiência de boro no desenvolvimento das raízes, uma vez que, o
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crescimento anormal das raízes enfraquece a habilidade das plantas na absorção e no


transporte de outros nutrientes DELL e HUANG(1997).
Segundo Matiello (2009), os efeitos decorridos da deficiência de B em eucalipto
transfigura conforme seu material genético, onde o autor verificou sintomas visuais
típicos de deficiência de B nas plantas crescidas com baixa quantidade disponível do
nutriente. Algumas plantas manifestaram clorose nas folhas jovens, seguida de
encarquilhamento, tornando-as frágeis. O caule das plantas deficientes em B denotaram
maior rigidez, com aparência vitrificada, quebrando-se sem dificuldade. Esses sintomas
favorece com observações de campo em que o efeito do vento em áreas com baixa
concentração B é muito mais marcante, com quedas de árvores e quebra de galhos e
caules.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho permitiu observar que embora o distúrbio fisiológico tenha se
tornado um desafio para a qualidade da madeira de eucalipto, não se sabe quais os
fatores ambientais que induzem este estado fisiológico anormal e que a adubação e
nutrição florestal têm assumido papel importante na obtenção de maiores produtividades
no setor florestal brasileiro. A constatação de exigências nutricionais diferenciadas dos
materiais genéticos (espécies ou clones) pode contribuir para melhor dimensionamento
das áreas de plantio.
A indisponibilidade de boro nos cultivos pode acarretar uma série de alterações,
como disfunções metabólicas, integridade e bom funcionamento da membrana celular
além da diminuição do crescimento das árvores.
Os trabalhos permitiram verificar que os sintomas de deficiência do nutriente
aparecem nos orgãos mais novos e regiões de crescimento, principalmente no
atrofiamento radicular e necroses de folhas jovens
Adicionalmente, a deficiência de B reduz a permeabilidade da membrana
plasmática e o fluxo de água, afetando a absorção dos nutrientes. A redução da
condutância hidráulica do xilema pode estar associada à menor transpiração, absorção
de B e crescimento de plantas deficientes sob deficiência de B características
observadas no trabalho de Mattielo (2009).

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