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1.

Psicologia do Desenvolvimento

1.1 Conceito

A psicologia do desenvolvimento é a ciência que foca os seus interesses na área do crescimento


humano, nos processos que se alteram durante o curso da vida, na infância, na adolescência e na
idade adulta. Os especialistas desta vertente da psicologia procuram estudar e compreender os
processos do desenvolvimento pré-natal (período que antecede o nascimento) e pós-natal
(período que ocorre após o nascimento), bem como investigar e estabelecer os princípios e as leis
da maturação, ou seja, do desenvolvimento do nosso comportamento ao longo da vida até ao
estádio terminal da vida, ou seja, a velhice e a morte.

Biaggio (2009), define Psicologia do Desenvolvimento como sendo uma disciplina que se dedica
a estudar as mudanças ou a ausência delas que atingem as pessoas no decorrer de suas vidas.
Dessa forma, a Psicologia do Desenvolvimento pode ser definida como a área que estuda o
desenvolvimento humano em todos os seus aspectos: físico-motor, intelectual, afectivo
emocional e social, compreendendo desde o nascimento até o fim da vida (Bock; Furtado;
Teixeira, 2008).

2. Psicologia e história: A origem e evolução da psicologia

Os seres humanos, como os conhecemos hoje, apareceram na Terra há cerca de 100.000 anos. A
humanidade desde sempre colocou inúmeras questões acerca do mundo que a rodeia, procurando
respostas que lhe atenuassem a angústia e a inquietação. Contudo, a natureza não foi o único
objecto destas interrogações. Este também passou a reflectir sobre si mesmo e sobre a vida
humana, nomeadamente sobre as suas emoções, inquietações, sentimentos, o porquê da
existência, do nascimento, da morte.

Neste contexto, tem-se afirmado que a psicologia é uma ciência com um longo passado, mas
com uma curta história. Com efeito, apesar dos primeiros pensadores e filósofos já se
debruçarem sobre questões que fazem hoje área de estudo da psicologia, foi no séc. XIX que os
investigadores, apoiados na investigação e na experimentação, puderam construir uma identidade
própria, aperfeiçoando os instrumentos, técnicas e métodos de estudo da psicologia.

3. Importância no estudo da Psicologia de Desenvolvimento


Segundo Xavier e Nunes (2015) abordar o desenvolvimento humano é explorar terreno vasto,
cuja natureza central é a de descoberta, mudança, avanços, novas aquisições e crescimento. Da
concepção à morte, a cada instante e de forma singular, vivemos esse processo. Por conseguinte,
diz respeito a nossa vida quotidiana com questões que vão desde a aquisição da fala ou do andar,
passando pelo processo de aprendizagem escolar e pelas inquietações da adolescência, até as
transformações biopsicossociais que a vida adulta e a velhice trazem consigo.

Em sua perspectiva, Xavier e Nunes (2015) abordam que ao estudarmos o desenvolvimento


humano estamos lidando com mudanças universais, como no caso das transformações físicas e
hormonais que marcam a puberdade. Por outro lado, como o ser humano é singular, as diferenças
individuais também precisam ser consideradas. Afinal, nenhum indivíduo, mesmo irmão gémeo,
é igual ao outro. Cada adolescente vai viver as suas mudanças corporais de uma forma particular,
vai viver as suas mudanças corporais de uma forma particular, atribuindo-lhes um significado
específico, de acordo com suas experiências. Não faz sentido, então, falarmos de um
desenvolvimento linear e universal, pois há também a diversidade cultural, social, política e
económica que constitui os contextos nos quais se desenvolvem os seres humanos.

Para Gerrig e Zimbardo (2005) podemos dizer que o estudo do desenvolvimento humano está
relacionado ao como e ao porque do nosso organismo crescer e se modificar ao longo de nossa
existência.

De acordo com Arendt (1997) é de grande importância o estudo da Psicologia do


Desenvolvimento, pois o desenvolvimento nos remete a múltiplos termos como: continuidade,
crescimento, mudança, etapas, interacções, conhecimento, acção, dentre outros. Diversas são as
formas de entendê-lo, gerando distintas concepções sobre os factores preponderantes nesse
processo. Um clássico exemplo é a dicotomia hereditariedade versus ambiente, cuja polémica
estimula discussões até os dias de hoje, como poderemos constatar nas ideias explicitadas a
seguir, as quais trazem três influentes concepções sobre o tema:

4. Concepções de desenvolvimento
Inatismo: parte do pressuposto de que os eventos ocorridos após o nascimento não são
relevantes para o desenvolvimento. Este seria influenciado apenas pelas qualidades e
capacidades básicas do ser humano, praticamente prontas, desde o nascimento.

Empirismo ou ambientalismo: atribui grande poder ao ambiente como factor interveniente no


desenvolvimento humano. O Homem é visto ao nascer como uma folha em branco a ser escrita
pelo ambiente, ou seja, como um ser flexível, que desenvolve suas características apenas em
função das condições presentes no meio no qual se encontra.

Interaccionismo: Essa perspectiva considera que são múltiplos os factores constituintes do


desenvolvimento humano, ou seja, entende o sujeito como ser activo e interactivo no mundo,
com diversas influências em sua trajectória. Por conseguinte, é ser que constrói e é construído na
permanente interacção dos aspectos biológicos com o meio no qual está inserido.

5. Normalidade e patologia no desenvolvimento humano

De acordo com Xavier e Nunes (2015) no estudo do desenvolvimento humano há uma


necessidade de análise e descrição minuciosa do termo “normal”. Portanto, os autores ressaltam
que o termo “normal” ao tratar da evolução humana, não deve ser entendido como um
julgamento de valor do que é melhor ou pior, mas como um parâmetro científico para avaliar
diversos caminhos, formas e expressões do desenvolvimento.

Segundo Foucault (1989), a ideia de normalidade tem sido usada como instrumento de controlo
social, definindo a partir de determinadas camadas da sociedade os comportamentos,
pensamentos e sentimentos “adequados” para a população, em geral. Assim, faz referência à
ideia de enquadre e ajustamento (citado por Xavier e Nunes, 2015).

Para Bee (2000), é ténue a linha entre o que se dá de forma atípica ou não, pois alguns problemas
considerados desviantes da média geral, podem, em determinados estágios, fazer parte do
desenvolvimento “normal”. Além do mais, é preciso atentar para ritmos e singularidades dos
sujeitos, reconhecendo que em alguns aspectos, o desenvolvimento pode ser visto como
patológico e em outros não. Por exemplo, a criança pode expressar dificuldades no andar, mas no
aspecto afectivo e cognitivo está dentro do que se espera na sua faixa etária.
Porém, há outros autores que apresentam a importância do estudo da Psicologia de
Desenvolvimento como assentada nos aspectos de “continuidade” ou “descontinuidade do
processo evolutivo”.

6. Continuidade versus descontinuidade no processo evolutivo

Para Xavier e Nunes (2015) a maioria dos teóricos do desenvolvimento está de acordo, quanto à
continuidade de muitas mudanças que ocorrem ao longo da vida de modo gradual e tendendo a
um aperfeiçoamento. Por exemplo, no aspecto motor, a criança começa a sentar, depois se arrasta
ou engatinha, melhorando continuamente seus movimentos. Contudo, quando se trata de definir-
se também no desenvolvimento, há mudanças descontínuas, nem todos têm o mesmo ponto de
vista.

Essa descontinuidade no desenvolvimento tem sido chamada de fases ou estágios, indicando que
haveria diferenças qualitativas importantes em determinados períodos do desenvolvimento
humano, seja no aspecto físico, afectivo, cognitivo ou social. Por exemplo, o pensamento na
criança dos 7 aos 10 anos, vai mudar significativamente na adolescência.

Outra característica importante é que estágios/fases têm uma sequência fixa, não sendo possível,
por exemplo, passar da fase “A” para a fase “C”, sem ter passado pela “B”. Assim, como já
explicitado, as crianças podem até passar pelos estágios em idades diferentes, mas o farão
sempre na mesma ordem, como descritos na teoria psicanalítica de Sigmund Freud, na teoria da
recapitulação de Anna Freud, na teoria psicossocial de Erik Erikson, na epistemologia genética
de Jean Piaget, na Psicologia histórico-cultural de L. S. Vigotski, entre outras.

Referências bibliográficas

Arendt, H. (1997), A condição humana. (8.ª ed), Rio de Janeiro, Forense Universitária;

Bee, H. (1997), O ciclo vital, Porto Alegre, Artmed;

Biaggio, A. (2009). Psicologia do Desenvolvimento. Petrópolis:Vozes.

Gerrig, R. J. e Zimbardo, P. G.(2005), A Psicologia e a Vida. Porto Alegre, Artmed;


Xavier, A. S. & Nunes, A. I. B. L. (2015), Psicologia do desenvolvimento, (4ª ed), Fortaleza,
EdUECE.

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