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BERNARD CHARLOT EpucAcAO ou BARBARIE? UMA ESCOLHA PARA A SOCIEDADE CONTEMPORANEA Sesion PRIMEIRA PARTE SSS O desejo e a norma: a questao antropoldgica no discurso pedagégico io pedagégica nio é colocada na sociedade contemporinea. Ela se muito pela aprendizagem, em abordagens didaticas, neurol6gicas, dig mentar a produtividade das técnicas de aprendizagem € mesmo uma de suas maiores preocupagées. Porém, nao ouvimos mais os grandes debates pedags. gicos como aqueles que se desenvolveram 20 longo da histéria pelos J pelos republicanos ou por Dewey, Freinet, Montessori ¢ outros grandes teéricos ¢ praticantes da “nova pedagogia". Esses di citamente, em determinadas representagées, além de diferentes ¢ m opostas, do destino do Homem, como espécie ¢ como individuo. Por que os atuais discursos sobre educacio nio esto mais interessads Wx questi de onde vem o homem e para onde esti indo? Por que esse siléncio antropolégico Nio analisarei uma esséncia atemporal da pedagogia para dizer 0 qite cla “deve” ser e do que ela “deve” falar, Partirci do que, de fato, cla tem sido histo- ricamente, e do que falou. Quais sio as fungées cultura ideolégicas e sociais preenchidas pelos discursos pedagégicos ao longo da histéria? Elas variam de n a corrente, ou existem constantes? Comecaremos nos debrugando, ‘no primeito capitulo, sobre as pedagogias “tradicionais", depois, no segundo acordo «4 CAPITULO 1 [eee seme) O discurso pedagégico tradicional: a educacao contra a corrupgao natural do homem Ai ecvesgio tm por objetivo extirpar do homem o que o atrai para a animalidade ¢ atualizar nele o que define sua mais ata vocagio: que; sob as diversas formas h durante séculos, pelos menos no mundo ocidental A educagio é assim conce- bida como atualizagio da esséncia humana, universal e temporal, lua contra tudo 0 que degrada o homem em animal, contra todas as formas de corrupcio de seu Espirito, de sua Alma e de sua Razio (Charlot, 20132). ssa ideia foi desenvolvida sob diversas formas, que hoje podemos conside- rar como tradicionais: filosdfica, religiosa, racionalistarepublicana. ‘A filosofia de Platio organiza 0 Cosmos de acordo com um cixo sensi -inteligivel: abaixo, o mundo da matétia indeterminada; acima, o céu das Ideias, prema, fundamenta 20 mesmo tempo 0 Verdadeiry, ideal, em por fungio conduzira my zem harmonis n> Pet t sofa, forma mais completa de ser humana, Mas nem todos 05 homen, catho aptos a receber esa educagio. Existern ma cidade ers classes de homey, vel que esteutura 0 conjunto do Cosmas, g, artesios, cuja alma é do ‘os guardiies da cidade, em quem, lomina. Os artesios redomina a conagem: os fidsofos, em quem a mente d akesi0s si , € feliz €a cidade que tem, pel rnumerosos do que os gua menos, uim fildsofo; 0s escravos, que nio sio verdadeiramente humanos, nig 1 da educagio, consegue contemplar a ideia de lade € asi mesmo de acordo com a ordem |, duas outras classes de cidadios receberig bom e pode, portanto, gov do mundo. Segundo Plat ceducagio, mals limitada, que corresponde a seu tipo de alt “Tl filosofia da educagio se bascia em uma concepeio pluralista da natu. reza humana, cujas diversas formas sio hierarquizadas em referéncia 8 ordem do mundo, Essa ordem & estruturada por um eixo no qual © polo nega ia referenciada de dite desigualdades sociaise sexuais Assim como Platio distingue ‘mento, as do artesio, do guardiio da cidade e do fil6sofo, Aristételes considera {que o escravo ea mulher devem, por natureza, obedecer ao homem live, pois io dispdem de plena razio, a0 cont 10s de almas sob um eixo desejo-pensa- 1 superioridade natural, € um & por natureza 20 comando, ¢ © outro a ser comandado (1254b-2t ‘Quase todas as coisas comandam e sio comandadas conforme a natures. Entreanto, os tipos de comand diferem: © homem livre comanda seu ‘scrvo de uma mancia diferente que © macho comand a fea, ou que 24 alucaio ou Babi 1 pai o faz com seu flho, Ainda que as pares da alma excjam presentes fem todos cles, clas esto presents em diferentes graus. Pos 0 exravo é umente desprovido da Faculdade de deliberr; a mulher a poss, mat <ébil cineca a crianga também a posi, mas nela esta faculdade ands € imperfita, nio esté completamente dexrvolvida (Aristéeles, 12602- 2011, p.75). (© processo é sempre 0 mesmo: as diferengas socas so colocadas como legi- cimas uma vee que traduzcm a ordem natural do mundo, A edueagio tem, portan- ee tum, dentro de um mundo caracterizado por uma tensio permanente entre pensamento.A pedra angular do processo idcolégico .cantropologia fiancionam como um sistema de legitimagio \dadessociais esexusis, ransmutadas em diferengas. natura De forma um pouco diferente, & © mesmo proceso bisico que opera no pensamento religioso dos séculos-XVI-e-XVIL.A natureza humana foi ‘orrompida pelo pecado otiginal ea ctanga, que nasce do ato sexu ao pecado, €4 mais corrupta de todos os seres (Snyders, icoéa “A quem essa cianga recém-nascida enganou, qual €o seu rime", pergun= «a BossuetE ele responde: "Ele ¢ filo de Ado, cis scu rime, ‘ fax nascer na ignorincia ena fiaquers, o que colocou em seu coragio 3 Fonte de toda sorte de maus descos (apd Snyders, 1975, p. 192). Portanto, nio é de surpreender que Bérulle considere a infincia como 0 ‘© mais abjeto da natueza humana, depois do da morte” (apud ago natural para 0 mal” ). Mesmo Séo Francisco de Sales, conhecido por sua gentileza, em especial no dislogo com os protestants, e que considera que as “eriangas sio agradiveis por sua inocéncia” (apud Snyders, 1975, p. 196) prega que “nascemos no mundo na maior despraga que se pode imaginat, um: ficil de constata, como jo fez Patio, que se dei xarmos uma crianga sem supervsio, ela fard bobagens. Carireio = 0 dice pedgig Aedacigo conta 3 coma No entanto, 0 pecado original nio é a palavra final da nacureza human, uma ver que Jesus a redengio—e pedi que as criangas f sé cle; além disso, o Menino Jesus é objeto de adoragioS Aantropologiar tiga, divide assim a natureza do homem, que, ao mesmo tempo, nasce originalmengg corrompida pelo pecado e pode imita Jesus, 0 Fitho de Deus. Por causa de aug jdade, a crianga est mais préxima da corrupgio original, mas é também quem, sobedece, uma ver que a corrupgio ainda nfo teve tempo de se apossar def ‘vamente de sua alma. A infincia & por exceléncia, a época da lua entre as dass raturezas coneraditérias do homem; o resultado dessa luta depende da educagig, Para a ar 0 pecado e salvar a alma, a educagio deve ensinar resisir a0 desejo, portanto, a desconfiar do corpo, © a imitar os grandes mode, Ios. dos santos, mas também os da Antiguidade, que sobreviveram & passagen do tempo. Sobre essas bases antropoligicas ¢ religisas, 08 jesuitas dfiniram uma pedagogia que, posteriormente,seré qualificada de “tradicional” (Snyder, 1975). Essa pedagogia foi implementada nos colégios que reeebiam criangas da, camadas sociais dominantes e abastadas. Essa ideia de uma naturcea corrompida da crianga € entio tio evident, que a encontramos com forga em textos néo diretamente in thio, por exemplo, em um livo de Raymond de Varennes, publicado em 1799, que, como ‘culo, participa da corrente em favor de uma “educagig nacional” que se desenvolve na Franga apés @ cexpulsio dos jesuitas, em 1792, Idées patriotiques sur la Méthode et I'Importance dune Education Nationale, pour ‘asurer la Régénération de la France [Ideias patriticas sobre 0 Mécodo ea Im. portincia de uma Educagio Nacional para garanir a Regeneragio da Franca), é uma grande obra, muitos outros defendem as mesmas ideas ng clas sio apresentadas de uma forma particularmente clara, mesma época, mas Segundo Varennes, a educagio do homem “teve por objetivo submerer seu cariter selvagem 3s leis frequentemente severas dos locais ¢ dos tempos nos aquais ele nasceu” (apud Charlor, 2013a, p. 210). De fato, a crianga é “um leio idade", “sua tendéncia para a m ‘em luta com a sensil seria inconcebj se a imperfeigio de seus autores no perpetuasse sua causa". A educagio deve, portanto, combater 0 “germe vicioso”, “a combinagio perversa”, a “razdo dege- nerada", que a crianga recebeu a0 nascer por causa de sua “natureza corrompida’ (p. 210-211). Mas a crianga se afasta dos bons 3s que queremos Ihe io que 0 vai domé-lo” (p. 211). “Elese acaminha, perde-se, se apenas for décil sua fraqueza.E preciso, pois, con- Jo, atormenti-lo, para torné-lo melhor” (p. 210). Os term cea foe livro podem chocar uma consciéncia contemporinea se Pos ‘crianga inocente”, mas, de fato, essa interpretagio da natureza infantil J muito préxima da que as “escolas normals’, um século mais tarde et dda sociologia emergente de Durkheim, divulgario aos futuros professores dese! a os! apoio da cso! | Na verdade, 0 pensamento racionalista e republicano contestari os con- « veiculados por essa concepgio rel inscrugio bisica para todos, gra cetidos deum? Ce “(sa versio, construida a partir da i no mesmo tempo, cultural e sociopa iar a0s jovens 0 acesso & Razio ¢ a0s saberesr a Republica. Mas s6 alcanga a Razio quem s liberta de ua selageria natural. Portanto, a palavra-chave dessa antropologia é 1, como imposigio de normas a0 gue é da ordem, ou, mais precisamente, da desotdem, da natuteza. Assim, para Kant (1999, p- 12), “a disciplina transforma a animalidade em humanidade”, mandadas cedo escola, nio para que af aprendam alguma coisa, mas para {que af se acostumem a ficarsentadas tranquilamente e a obedecer pontual- mente aquilo que thes & mandado, 2 fim de que no futuro elas nio sigam de fat imediatamente cada um de seus caprichos (Kant, 1999 p. 13). ‘A educagio deve combinar disciplina e instrugio para dar & natureza hu- mana “aquela forma, a qual em verdade convém & humanidade” (Kant, 1999, p. 17). Nao é por acaso que a palavra “disciplina” tem um duplo significado de comportamento correspondente is normas, ¢ de matéria ensinada: ensinamos as ramana &s criancas nascidas em um estado sclvagem — pelo menos, na vendade, as das classes socizis dominantes. Durkheim consirdi uma versio socoligica dessa ancropologia Kantian €2.. Gedade que, pe educasio, inseaura 2 disciplina ¢ liberta o homem de sus schageci, |i vimos que a educagio tem por objeto superpos, 30 scr que somos ap ancer individual e associal nteiramente novo. Eh dae condy. zir-now a ulrapassar a narureca individual: 6 sob essa condisSo, 3 eriansy romarsed um homem (p. 54). E a sociedade que nos Langa fora de nés mesmos, que nos obriga . considerar outros interesses que no os nossos, que nes ensina a dominar a, sistema de representacio que mantém em nés a ideia ¢ 0 sentimento dale, da disciplina intema ou externa, é instiruido pela sociedade (Durkheim, 1963. p. 45). 1a. Sem disciplina, néo hi humanidade; “se co a sociedade Ihe empresta: retornaria 4 con- digio de animal” (p. 47). O objetivo nao é mais a salvagio da alma, 0s jesuitas, é a Razio que pode ocorrer no homem ¢, portanto, na cc de Condorcet, que posbilia a Replica, basa na razio ¢ 40 é a ordem do Cosmos; nos jesuitas, Deus-na Fi 1 que se inspira em Kant, Durkheim ¢ na escola e- publicana, ela éa vorasio e canquista de Homem. Mas tata-se sempre de liber — taro hosent Ge uma “narureza inicial” que o atrai para a animalidade. Também a educacio republicana herda as formas pedagégicas tradicionais: imposigia de regras ¢ inculeagio de model a norma invade todo 0 processo pedagé- ico, que s¢ Fefere-zos-comt odos de comportamento ¢ relagées, estru- turas espaci normait, A chave do sistema € a avaliagio, que impoe o padrio a todos os niveis, Essa ideia de uma natureza inicial selvagem é expressa com uma forga bem particular no pensamento pedagégico clissico (Charlot, 2013a), mas nio é 0 nico campo em que é encontrada. Marshall Sahlins demonstrou como ela im- pregna o pensamento ocidental, ém particula? no campo politico, de Tucidides aos pais fundadores americanos, ou a Durkheim, passando por Santo Agosti- nho, Maquiavel, Hobbes, Adam Smith e muitos outros. ira ou formacio de professores nas escolas dele? Uma escutha para a sociedade Toc mais de dois milinios, os poves que chamamos de "os rates pelo espectro das priprios sees interores: umd Tucidides. Jando contra a ooenjaade a queda de Ad na Itilia, Nao é um acaso ele apés sua conversio): a p. ga, com cheiro de diabo, ¢ (Lourengo de Mé te da Franga, Em 166 08). No balé, o corpo langa-se em diregio a0 eéu, em espe € aos movimentos dos bragos, nos movimentos codificados co de natural (Garaudy, 198 que é 20 mesmo tempo, softimento e fonte de prazer. O corpo natural Isso 56 ¢ possivel gragas a um longs para que se liberte beleza e hatmonia. Nao é de estranhar que Beauchamp, mas seja qual for a forma, ser controlado € sempre & controlado, incapar, por natureza, de determinar-se a si mesmo, fem duas figuras de referéncia: uma figura pedagégica, a crianga, € uma figura antropolégica, 0 “selvagem". A mulher, 0 povo, o indigena sio considerad basicamente, como filhos crescidos que precisam ser protegidos. E a crianga, a mulher, © povo sio variantes de uma mesma figura, a do “selvagem”; enquanto ada recebe diversas qualificagées (santo, herbi, nobre, cida- ‘nio humanidade tem apenas um nome: selvagem. Essas duas figuras, logicamente, podem ser superpost: selvagem € uma crianga é um pequeno selvagem, ianga grande. Portanto, fo surpreende que Jules Ferry, aca, seja também um dos francesa, na Tunisia, em Mada- giscar, na Africa e, sobretudo, na Indochina, ao ponto de receber 0 sobrenome de “Tonkinois” (Tonquin: educador de eriangas to era presidente do Cons inferiores. Digo que ha um dit Elas sem 0 dever de civil Que se trata de vigiar, punir, controlar, dominar, impor os minipoderes 20 ais intimo da vida cotidiana, sob a ética foucaultiana, nao ha qualquer divida. nao devemos ignorar a ambivalén No entan as suas fungées repressivas € mistificantes, ou interpretar a definigio de padres como puro autori Em primeiro lugar, 0 dominio do corpo, a di apenas impostas aos dominados pelos dominantes, elas sio igualmente inculca~ ddas aos préprios dominantes, em particular a seus filhos, jovens nobres ¢ bur- fgueses a quem sio propostos os ideais alternatives ao prazer, outra forma de jumanidade que possa ser objeto de outro tipo de desejo (cavalheirismo ou sucesso social acompanhado de uma pleni 1). Assim, analisando 0 ¢s- pitito do capitalismo nascente, Max Weber mostrou que austeridade e aseetismo nao s40 apenas uma moral para uso dos pobres, mas também o efeito de uma representagio puritana do mundo que governa © comporramento do proprio mo (Weber, 2004). © controle do corpo € a disc comportamento dos préprios dominados, embora sob formas especi ‘ambiguas. Para o agricultor ou trabalhador, o corpo € 0 lugar, ao mesmo tempo, de prazer e de dor: ele deve ser forte e deve saber aproveitar todas as sensagées que pode proporcionar, mas é necessirio também respeitar seus limices pois, seéa morada da vida, é também instrumento de sobrevivéncia e, como tal, deve ser cuidado. Aquém, de suas elaboragées pedagégicas, politicas religiosas, artisticas etc.,a questio da do- ‘minagéo do desejo e da normatizagio se enraiza em uma com 0 mundo, que é também relagio com os outros ¢ cor Tal relagio com o mundo estrutura as formas nas sociedades pobres ¢, de modo mais geral, naquelas onde reina a austeridade, ide Farni ipios de regulagio do ;ponivel (em franets), por exemplo, em hup:/iwwwan-lecanardtépublicain jb. v: 27 out. 2018. Em 30 de Estas no si ricas o suficiente para satisfazer a todos os desejos, € muitas Vezes, ney, scquer podem garantir um minimo de bem-estar coletivo. Nessas condigécs, ceelebram o dominio do desejo, o controle do corpo, a disciplina do comporamen, co. E uma questio de limitat o desejo, de justificar/consolar¢, 8s ve7es, até mesmy glorificar ou santficar a pobreza ¢ a austeridade por meio de diversas formas qj. inculcagio (cducagio, religiio, arte, ilosofia, tradigdes, costumes...). Entretanto, nao se deve esquecer de que essas mesmas sociedades que cele, varia de acordo com a época ¢ 0 destinatério: “sil da Republica”, “patriora’, “bom trabalhador, bom pai, bom marido”, tuosa” exc. A definigao de ideal varia, mas é sempre uma questio de vislumbrar, compensa¢io ao desejo a0 qual se deve renunciar, outra figura de humanidade (o, de super-humanidade), também desejavel, embora de outra forma. ‘Aantropologia oferece, assim, uma versio positiva de uma natureza hum. na duplaGe a educagio ar no homem sua natureza inj, cial, selvagem, comrompi fous ascender forms superior de huma Iiberta do pecado ou do cidadio rep ~~ daquilo"Gue, em sua vertente “realizagio", Razio ca Repiblica, ou, na versio religiosa, a salvagio). Se a crianga precisa de um mestre que, segundo 0 duplo significado gy fungio discipl a é a vertente repressivg acesso ao dpice da humanidade (g Jos que as transformario em homens.” “Aantropologia dualista, que opée uma humanidade modelada e controlads a uma natureza primitiva selvagem, nio pode, entretanto, ser reduzida a uma simples ideologia de dominasio. E certo, é claro, que ela serve de instrumento de classificagio € hierarquizagio de diversas formas ¢ momentos da humanidade 1. Ei frances, aluno ¢ de, 0 que gta 0 duplo sentido com elev, verbo que significa ‘clevar (N.T) 9, Ou, is vores, em mulheres, mas ex é uma questio pouco tratada pelo discurso pedapigico lato, que & considera secundaria. rie? Una exolha para a 0 - goliticas eaucacionas © \si0. Mas, em suas virias formas, polos, o da selvageria e 0 da ¢ ado encontro do desejo eda uestio fundament. “antropologia levanta uma questi “"m Segundo Aristétcles (1276b-2011), 0 des eza do desejo nao ter limites. A norma, 0 con falada, como sabedoria, santidade, nobreza, Ravi pologias sempre Perposigio, entre descjo norma, Tedemos ver nesasantropoogias da naurezs humana d Iégica que mascara as fungdes sociais da ‘aducagio por eds da narracio de uma luta m 2013). Podemos Simbém consideri-las como “um grande erro” lusio que ji se tenha (Sahlins, 2009, p. 55¢ centre dois dania etc. Essas antro- ‘evocam uma natureza humana colocando em cena o encontro, |. Mas, se essa mistifica- porque exploram uma mba 0 pensamento ocidental, a do desejo ¢ da norma. questo que asso 130s sobre a disciplina nao sio meros instrumentos de domina- Esses di ¢ politica, cles fazem parte de pensamentos mais amplos, floséficos, aticos, F So desejo ¢ da norma da qual os seres humanos nio conseguem se desprender estio universal e fundamental, como bem explicitou a psicanilise. Essas ide que, por mais di- do aceitas como ~* Configuragdes antropolégicas definem figuras da hum: ferentes que sejam (0 sdbio, 0 santo, o cidadao, o patriota e legitimas porque, fundadas na natureza, sio compativeis com as estruturas s0- ificacao. ngular em , cujas contradig6es superam, ¢ propéem ao sujeito meios de ide! Elas permitem articular as priticas efetivas de educagio do suj uma definiggo universalista de humanidade desejivel, mantendo aberto um es- paco de justificagio das desigualdades sociais. Nao é de surpreender, portanto, que essa antropologia da natureza humana seja tio resistente ¢ que reaparesa sempre, para além de todas as criticas que lhe possam ter sido feitas (Charlot, 2013a; Descola, 2005; Sahlins, 2009). No entanto, veremos, no préximo capi- tulo, que outra versio da configuragao antropopedagégica é possivel, colocando a natureza como norma, ¢ no mais como fonte de corrupgio. 1 ~O discurso pedagégico tradicional: 33 40 contea a corrupsio natural do homem

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