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Anexo VI - Manual Boas Práticas - Hipocoagulação
Anexo VI - Manual Boas Práticas - Hipocoagulação
Documento de controlo
Siglas e Abreviaturas
ÍNDICE
Introdução .................................................................................................................................................. 5
Terapêutica anticoagulante........................................................................................................................ 6
Indicações principais............................................................................................................................... 7
Organização dos serviços na USF – Consulta de hipocoagulação .............................................................. 8
Circuito do utente ................................................................................................................................... 8
Competências e atividades do secretariado clínico ............................................................................... 9
Competências e atividades de enfermagem .......................................................................................... 9
Competências e atividades médicas .................................................................................................... 10
GOTA - Programa de Gestão e Organização da Terapia Antitrombótica ............................................. 10
Como iniciar hipocoagulação ................................................................................................................... 12
Como iniciar AVK .................................................................................................................................. 13
Como iniciar NOAC ............................................................................................................................... 13
Monitorização da hipocoagulação ........................................................................................................... 14
Intervalo terapêutico do INR ................................................................................................................ 14
Monitorização e oscilações do INR....................................................................................................... 15
Interações dos ACO............................................................................................................................... 16
Indicadores de Monitorização .................................................................................................................. 18
Referências bibliográficas......................................................................................................................... 19
Introdução
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), as doenças cardiovasculares continuam a ser
primeira causa de morte em Portugal.
Sabe-se que a maioria das doenças cardiovasculares está intimamente associada a eventos
tromboembólicos, sejam eles arteriais ou venosos. Por sua vez, existem condições clínicas que
predispõem os doentes a um risco trombótico aumentado, nomeadamente a fibrilhação auricular (FA), as
próteses valvulares cardíacas e os eventos trombóticos passados, nomeadamente tromboembolismo
venoso (TEV).
Como forma de prevenir e/ou tratar estes eventos tromboembólicos, é recomendada a instituição de
medicação hipocoagulante nos utentes considerados de risco.
Olhando para os últimos dados do INE, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) constitui a principal causa
de mortalidade e incapacidade por doença cardiovascular. Por outro lado, a FA, que é a arritmia cardíaca
crónica mais frequente, é responsável por cerca de 15% dos AVC, pelo que se entende a importância da
adoção de medidas preventivas capazes de diminuir estes números.
De facto, a terapêutica com anticoagulantes verificou-se ser uma medida eficaz na prevenção e
tratamento de eventos tromboembólicos, pelo que o seu uso tem vindo a aumentar ao longo dos últimos
anos, sendo expectável a manutenção desta tendência nos próximos anos, dado o aumento da esperança
média de vida e a crescente prevalência das doenças cardiovasculares.
A utilização de alguns tipos de anticoagulantes orais (ACO) implica uma vigilância regular e atenta, pelo
que foram instituídas nas Unidades de Saúde Familiar (USF), as consultas de hipocoagulação de forma a
prestar um melhor acompanhamento dos utentes que usam este tipo de medicação.
Terapêutica anticoagulante
Nos cuidados de saúde primários, os ACO mais amplamente utilizados são a varfarina e os NOAC.
Durante décadas, a terapêutica com os AVK e as heparinas eram o tratamento mais eficaz para a
prevenção de eventos tromboembólicos, e ainda hoje continuam a ser utilizados em situações específicas
ou que, por exemplo, contraindiquem os NOAC.
O tipo de ACO escolhido, a dose e duração da terapêutica instituída variam de indivíduo para indivíduo
em função de diferentes fatores:
• Idade;
• Fatores de risco trombóticos e hemorrágicos;
• Função hepática;
• Taxa de filtração glomerular (TFG);
• Interações farmacológicas;
• Efeitos adversos;
• Fatores económicos e socias.
Indicações principais
• na prevenção de AVC e do embolismo sistémico em doentes adultos com FA não valvular, com
um ou mais fatores de risco, tais como insuficiência cardíaca congestiva, hipertensão arterial,
idade ≥ 75 anos, diabetes mellitus, antecedentes de AVC ou de acidente isquémico transitório
(AIT);
• no tratamento de TEV: trombose venosa profunda (TVP) e embolia pulmonar (EP);
• na prevenção de TVP e EP recorrentes em adultos;
• na prevenção de TEV em doentes adultos submetidos a artroplastia eletiva da anca ou joelho.
Os AVK ainda são os anticoagulantes orais com indicação principal na prevenção de fenómenos
tromboembólicos associados a:
Circuito do utente
As consultas de hipocoagulação são parte integrante dos cuidados de saúde primários (CSP). Na nossa
USF é realizada pelo enfermeiro de família (EF), podendo ser agendadas por iniciativa do utente ou pelo
profissional de saúde. Na ausência deste, a consulta poderá ser realizada por outro enfermeiro em regime
de intersubstituição.
Sempre que necessário, poderá ser também prestado apoio por parte do médico de família (MF), ou
outro em intersubstituição, nomeadamente para ajuste de terapêutica.
O acesso a estas consultas deve ser garantido, em igualdade de circunstâncias, a todos os utentes
inscritos na unidade e que necessitem deste tipo de acompanhamento.
• Na Primeira Consulta:
o Prescrever hipocoagulação oral se indicado;
o Utilizar as ferramentas CHA2DS2-VASc para avaliar o risco de AVC e tromboembolismo
na fibrilhação auricular e HAS-BLED para determinar o risco hemorrágico, antes de
prescrever hipocoagulação;
o Entregar ao utente a quem foi prescrita pela primeira vez hipocoagulação oral folha
com diagnóstico principal, comorbilidades, terapêutica prescrita, esquema
terapêutico, alvo terapêutico e eventual necessidade de HBPM.
• Em Todas as Consultas:
o Avaliar a adesão e o cumprimento do esquema terapêutico;
o Proceder a ensinos e esclarecimentos, nomeadamente sobre alimentação adequada,
horário das tomas, interações medicamentosas e sinais de alarme;
o Disponibilizar-se para ser contactado pelo utente em caso de dúvida;
o Reajustar a dosificação da terapêutica de acordo com o resultado do INR, quando este
se encontrar fora do alvo terapêutico;
o Enviar ao Serviço de Urgência se necessário;
o Proceder aos registos em Sclinico e GOTA;
o Encaminhar para o enfermeiro de família ou outro na ausência daquele para novo
agendamento de consulta.
O programa GOTA pode ser acedido através de link externo, utilizando credencias próprias para o
efeito, ou pode ser acedido diretamente através do SClínico, clicando com o botão direito do rato sobre
o nome do utente agendado.
Pretende ser uma ferramenta útil na monitorização da coagulação, através do INR, e na gestão do
regime terapêutico e suas intervenções. Está organizado da seguinte forma:
• Dados demográficos do utente: pode conferir-se o nome, data de nascimento, idade, nº SNS e
nº de processo;
• Programa Terapêutico e Diagnóstico(s): podem consultar-se as características da terapêutica
(fármaco e intervalo terapêutico), bem como o(s) diagnóstico(s) que originou(aram) a
hipocoagulação, agravantes e algumas notas;
• Histórico do utente acerca das últimas consultas (valor de INR, fármaco, dose prescrita,
médico/enfermeiro que validou a consulta e local da validação);
• Ecrã da presente consulta: onde se deverão inserir todas as informações referentes à presente
consulta;
• Notificações: chamadas de atenção para algumas informações que poderão ser relevantes
para a presente consulta.
Dependendo do tipo de indicação ou objetivo para o qual se quer iniciar a hipocoagulação, podem ser
utilizados diferentes ACO, cada um com a sua posologia e duração de tratamento.
No que diz respeito à prevenção do AVC e embolismo sistémico em doentes com FA não valvular,
deverá ser previamente estudada a estratificação de risco tromboembólico e hemorrágico, e ponderada
a necessidade ou não de hipocoagular.
De salientar, que os AVK ainda são os únicos anticoagulantes orais com indicação em determinadas
situações, acima referidas, nas quais os NOAC estão contraindicados.
Assim, com base em diferentes fatores de seguida exposto, procede-se à avaliação do tromboembólico
e hemorrágico:
De notar que um elevado risco hemorrágico não deve contrariar a terapêutica anticoagulante. Nessas
situações, e no caso de existirem fatores e risco modificáveis, deve-se optar pela sua correção.
NOTA: Se tivermos uma emergência em anticoagular, iniciar o AVK com HBPM e suspender a heparina
logo que o INR seja ≥2.0, continuando depois apenas com a terapêutica oral.
Dabigatrano
150mg de manhã e à noite 110mg de manhã e à noite
Pradaxa®
Apixabano
5mg de manhã e à noite 2,5mg de manhã e à noite
Eliquis®
Edoxabano
60mg 1x/dia 30mg 1x/dia
Lixiana®
Rivaroxabano
20mg 1x/dia 15mg 1x/dia
Xarelto®
No que diz respeito ao tratamento de TEV (TVP e EP), este é chamado de curta duração (mínimo 3
meses), e deve basear-se em fatores de risco transitórios (ex: cirurgia ou traumatismo recentes,
imobilização…). A duração total do tratamento deve ser ajustada a cada doente, após avaliação cuidadosa
do benefício do tratamento em relação ao risco hemorrágico.
Por fim, no que concerne à prevenção de TVP ou EP recorrentes, a duração de tratamento tende a
ser mais prolongadas e devem basear-se em fatores de risco permanentes ou TVP ou EP idiopáticas.
Monitorização da hipocoagulação
Deste modo, em 1983, a Organização Mundial de Saúde (OMS), instituiu o INR como ferramenta de
padronização mundial dos resultados do TP obtidos em diferentes laboratórios, possibilitando a sua
comparação fidedigna.
A manutenção dos níveis de coagulação, num determinado intervalo de INR, é indispensável para uma
anticoagulação segura e eficaz. Valores de INR abaixo dos níveis mínimos de segurança, poderão
representar um risco tromboembólico aumentando, enquanto valores de INR superiores ao limite
máximo de segurança poderão conduzir a hemorragias espontâneas. Em indivíduos saudáveis, o INR
deverá ser próximo de 1,0. Porém, em caso de terapia anticoagulante oral, o valor será superior, situando-
se usualmente entre 2 e 3. Mais especificamente, de acordo com a condição clínica, o intervalo do INR
deverá ser:
Após instituição da terapêutica ACO e até se alcançar um valor de INR dentro do intervalo terapêutico,
preconizam-se monitorizações semanais ou com intervalos entre 4 a 5 dias, seguidas do ajuste
farmacológico mais apropriado.
Uma vez encontrada a dosagem de ACO que mantém os valores de INR nos intervalos adequados, o
controlo terapêutico é, regra geral, realizado com uma menor frequência.
Contudo, oscilações inesperadas no valor de INR em doentes cujo valor já se encontra estável podem
ocorrer, sendo potenciadas por:
• Má adesão à terapêutica;
• Auto-medicação;
• Erros de laboratório;
• Alterações à alimentação habitual, incluindo o consumo de álcool.
Os NOAS têm como uma das suas grandes vantagens a não interferência com outras substâncias,
nomeadamente medicamentos ou alimentos.
Pelo contrário, os AVK, nomeadamente a varfarina, apresentam inúmeras interações que facilmente
levam a oscilações do valor de INR e colocam em risco a vida do utente. Deve ser sempre realizado o
ensino ao utente nesse sentido e explicados os sinais de alerta.
Dado os vários efeitos benéficos desta vitamina não está preconizada a restrição da sua ingestão em
doentes hipocoagulados com ACO. Mais importante do que uma restrição na ingestão de vitamina K, é
assegurar o seu aporte constante ao longo do tempo, evitando grandes flutuações que possam
comprometer a eficácia da hipocoagulação.
O consumo agudo e excessivo de bebidas alcoólicas inibe o metabolismo dos AVK, aumentando o seu
efeito anticoagulante e, consequentemente, o risco de hemorragias, refletindo-se num aumento do INR.
Algumas plantas medicinais influenciam a farmocinética dos AVK, podendo gerar alterações no estado
de coagulação. Algumas das interações mais comuns são:
Álcool
Aspirina, clopidogrel, ticlopidina
Paracetamol (≥4 g/dia), AINE’s e coxibs
Amiodarona, propafenona
Sertralina, fluoxetina, parotexina, fluvoxamina, trazodona
Ciprofloxacina, levofloxacina, azitromicina, claritromicina, metronidazol,
cotrimoxazole, cloranfenicol, isoniazida, fluconazol, itraconazol, miconazol
Aumento do Sinva/prava/atorva/lova/fluvastatina, fenofibrato, gemfibrozil, ezetimibe
INR Esome/lanso/panto/rabe/omeprazol, cimetidina, ranitidina
Corticoterapia
Esteróides anabolizantes, androgénios
Levonorgestrel
Levotiroxina
Fenitoína, valproato
Alopurinol
Alho, manga, arando, ginkgo biloba
Estrogénios, progestativos
Fenobarbital
Rifampicina
Carbamazepina
Diminuição do Colestiramina
INR Sucralfato
Espironolactona
Brócolos, repolho, couve, espinafres, grão-de-bico, soja, alface, salsa, ervilhas,
beterraba, nabo, aipo, feijão-verde, agrião, abacate (alimentos ricos em vit.K)
Chá verde, erva de S. João, ginseng, hipericão
Indicadores de Monitorização
Referências bibliográficas
• J Altirriba, P Aparicio; Oral anticoagulation in primary care; Rev Esp Sanid Penit; 2017;