Você está na página 1de 42
Comecando: consciéncia fonémica e conhecimento do alfabeto A abordagem fénica envolve o estudo da relagdo entre fonemas e grafe- mas em nossa lingua. Em sua maioria, as criangas usam os fonemas e entram em contato com grafemas muito antes de serem apresentadas a eles na sala de aula. Este capitulo: = examina a consciéncia fonémica e a sua importancia no inicio da leitura; = discute o ensino do alfabeto elaborado para familiarizar as criangas com 08 nomes das letras e os seus sons; ™ sugere técnicas que realcam os aspectos mais importantes do aprendi- zado inicial de criangas pequenas. desenvolvimento inicial das criangas na fénica passa pela consciéncia fonémica e pelo conhecimento do alfabeto, dois fatores que se prova- ram alicerces do ensino inicial da leitura e os melhores preditores do seu sucesso no aprendizado posterior. A consciéncia fonémica envolve a habi- lidade de reconhecer e manipular os sons basicos que compoem as palavras faladas. Ji 0 conhecimento do alfabeto envolve saber os nomes das letras e, mais tarde, também os seus sons, 0 que se funde ao ensino formal da fénica. A crescente consciéncia por parte das criancas dos sons e simbolos de sua lin- gua é manifestada por meio da ortografia inventada (ver Cap. 5) em suas ten- tativas iniciais de escrever sozinhas. CONSCIENCIA FONEMICA Os fonemas sao as unidades basicas da fala. Sao unidades minimas e in- divisiveis que compéem os étomos das palavras faladas. Estar ciente dessas unida- des basicas é 0 que se entende por consciéncia fonémica. Aprender a ler e a escrever a partir da fonica_ 45, ‘A consciéncia fonémica é 0 entendimento de que as palavras faladas e as silabas séo formadas por sequéncias de sons bésicos discretos e pela habili- dade de ouvir, identificar e manipular esses sons. Apés jé ter sido definida e descrita de maneiras variadas por especialistas diferentes (CALIFORNIA DE- PARTMENT OF EDUCATION, 1996; EHRI; NUNES, 2002; SNOW; BURNS; GRIFFIN, 1998; STANOVICH, 1994; SULZBY; TEALE, 1991; WILLIAMS, 1995; YOPP; YOPP, 2000; BECK, 2006), a consciéncia fonémica essencialmen- te envolve o conhecimento dos sons basicos das palavras e a habilidade de ma- nipular esses sons de maneiras diversas. Torgesen e Mathes (2000, p. 2) a defi- nem da seguinte forma: “[...] sensibilidade a, ou consciéncia da, estrutura fo- nolégica das palavras da sua lingua. Em sintese, envolve a habilidade de perce- ber, de pensar sobre e manipular os sons individuais das palavras” A consciéncia fonémica envolve mais do que a habilidade de ouvir ou produzir fonemas em palavras faladas; diz respeito, na verdade, a aten- gao consciente aos sons que formam as palavras, e néo ao sentido dessas palavras. A consciéncia fonémica ajuda as criangas a ficarem mais atentas ao funcionamento da lingua. Embora nao seja importante no aprendizado da fala, ela é importante no aprendizado da leitura. “Falantes e ouvintes ndo necessitam ter consciéncia dos fonemas; leitores e escritores iniciantes, sim” (RICHGELS, 2001, p. 274). Embora as vezes sejam usados como sinénimos, os termos consciéncia fonolégica, consciéncia fonémica e fonica nao significam a mesma coisa. Consciéncia fonolégica é um termo geral que se refere ao entendimento dos aspectos sonoros da linguagem falada. Inclui a habilidade de separar as frases faladas em palavras individuais e de separar as palavras faladas em sflabas. Consciéncia fonémica foca especificamente os fonemas, as unidades basicas dos sons falados. A consciéncia fonémica esta sob um “guarda-chuva” maior, que a consciéncia fonolégica. Fénica envolve simbolos escritos. As consciéncias fonolégica e fonémica envol- vem a linguagem oral; jd a fonica, o texto escrito. Claro que sao relacionadas, jé que o texto escrito representa sons falados, mas as criangas podem reconhecer os sons das palavras sem saber as letras que as representam. As criangas nao precisam saber as letras do alfabeto para participar de atividades de consciéncia fonémica, embora os professores com frequéncia in- tegrem ambos os aspectos no ensino inicial da leitura, jé que a instrugdo da consciéncia fonémica é mais eficaz quando 0s alunos sao ensinados a manipu- lar fonemas ao mesmo tempo em que aprendem a usar letras. Pesquisas indi- cam que 0 exercicio dessa consciéncia de fonemas, acompanhado pelo ensino da correspondéncia grafema-fonema, é mais eficaz do que o exercicio da cons- ciéncia fonémica por si s6 (TROIA; ROTH; GRAHAM, 1998). 46 John F. Savage ‘A consciéncia fonémica é uma drea cada vez mais importante da pes- quisa e do ensino da leitura. Por muito tempo, educadores especializados em letramento consideravam dbvio que, se as criangas conseguiam produzir lin- guagem oral, elas sé podiam estar conscientes dos sons das palavras faladas. Embora a consciéncia dos sons das palavras seja automética para algumas criangas, a maioria precisa de ajuda para adquirir o entendimento de como os sons se juntam para formar palavras. Na lingua falada, os sons se fundem no que os antigos gregos chama- vam de “rio de som”. Conforme aprendem a falar, as criangas combinam séries de sons aleatérios até aprenderem a juntar pequenos segmentos de sons de modo a formar combinagées que signifiquem algo. Elas aprendem, por exem- plo, que, quando juntam /p/, /a/ e /y/, essa combinagéo nomeia alguém que Ihes é muito importante. Combinar esses sons em geral produz uma resposta ou reagéo muito positiva dos adultos importantes de seu ambiente, ¢ os peque- nos aprendem, assim, a repetir essas combinagées significativas de som. Con- forme continuam aprendendo a falar, seu rio de linguagem corre sem muita atengao a separacdo dos segmentos sonoros que compdem as palavras. Os sons que elas fazem nao sao acusticamente distinguiveis uns dos outros. As criangas aprendem a juntar sons sem ter a consciéncia de seus elementos individuais - os fonemas — que formam as palavras faladas por elas. Embora as criancas componham sequéncias de sons para formar palavras, a consciéncia dos segmentos que formam essas palavras nfo ¢ automatica, “Em programas foénicos convencionais, uma consciéncia assim (da composigao fonémi- ca das palavras) geralmente era considerada dbvia, e nisso esté a forca da pesquisa. sobre a consciéncia fonémica’ (SNOW; BURNS; GRIFFIN, 1998, p. 55). A consciéncia fonémica é parte do conhecimento metalinguistico en- volvido no letramento emergente. A consciéncia metalinguistica é definida como a “atengao consciente, por parte do usudrio da lingua, da lingua como um objeto por si s6” (HARRIS; HODGES, 1995, p. 153). Envolve a habilidade de refletir e conversar sobre os conceitos da lingua. Por meio de seus conta- tos iniciais com os livros, as criangas adquirem conceitos sobre a lingua es- crita. Desenvolvem uma compreensao do que é 0 texto escrito e de como ele se relaciona a fala, do direcionamento da linguagem escrita, da relacao entre fala e escrita e de outros componentes de como a lingua funciona. Esse co- nhecimento comega cedo, com o contato com livros em casa, ¢ continua com as ligdes de leitura compartilhada, com a experiéncia com histérias e outras atividades de leitura-escrita que, em geral, fazem parte do ambiente do aprendizado da primeira infancia. Embora muito desse conhecimento meta- linguistico se estenda para além da consciéncia fonémica, o conhecimento dos sons das palavras é, certamente, uma parte da metalinguistica. Aprender a ler e a escrever a partir da fonica_ 47 Aimportancia da consciéncia fonémica Por que a consciéncia fonémica é tao importante no processo de alfabeti- zag’o de criangas? Para leitores iniciantes, a consciéncia fonémica forma a base da fénica que ajuda os alunos a adquirir a habilidade de decodificar répida ¢ cor- retamente. Sem ela, o ensino da fonica deixa de fazer tanto sentido, jé que as criangas sem consciéncia fonémica suficiente tem dificuldade de relacionar os sons falados as letras. “Na produgio da fala, ndo hé distingao clara entre fone- mas, porque um fonema se sobrepée ao outro. Mas a consciéncia fonémica é ne- cessdria para o aprendizado da decodificagéo de uma lingua alfabética, pois de- codificar 0 texto escrito depende do mapeamento de fonemas para grafemas” (JUEL, 1988, p. 437). Torgesen e Mathes (2000, p. 4-5) listam as seguintes razées do porqué a consciéncia fonémica ¢ importante no aprendizado da leitura: (1) Ajuda as criangas a entender o princfpio alfabético (como as palavras que elas falam séo representadas na escrita); (2) Ajuda-as a perceber os padrdes com que as letras representam os sons nas palavras (como combinar letras aos sons na decodificacdo de palavras); e (3) Torna possivel gerar possibilidades para palavras no contexto em que so apenas parcialmente pronunciadas (d4 as criangas pistas de como decodificar palavras nao conhecidas). Vacca et al. (2009, p. 148) resumem a importancia da consciéncia foné- mica da seguinte maneira: “A consciéncia fonémica é importante porque de- sempenha um papel causal no aprendizado da leitura, aprimora 0 leitor para 0 texto escrito e ajuda a dar sentido ao ensino fonico”, ‘A pesquisa sobre a consciéncia fonémica e a sua importincia no inicio da aprendizagem da leitura é muito impressionante no que diz respeito forte corre- lacdo entre a consciéncia fonémica e o letramento (ADAMS, 1990; EHRI; NUNES, 2002; NATIONAL READING PANEL, 2000; SULZBY; TEALE, 1991; MANYAK, 2008). Sumérios de pesquisa relacionados consciéncia fonémica reportam que essa habilidade é a mais fortemente relacionada ao ensino da leitura e possui um valor preditivo poderoso no seu sucesso, muito mais do que outros fatores gerais como inteligéncia, prontidao para leitura e compreensio auditiva. “O nivel de consciéncia fonémica de uma crianga ao entrar na escola é vastamente considera- do o determinante isolado mais forte do sucesso da sua experiéncia no aprendiza- do da leitura - ou, de modo oposto, da probabilidade de ela falhar” (ADAMS et al. 1998, p. 2). A habilidade para desempenhar tarefas de consciéncia fonémica é “..] 0 melhor prognosticador da facilidade na aquisicao inicial da leitura - melhor do que qualquer outro, inclusive o QI” (STANOVICH, 1994, p. 284). A falta de consciéncia fonémica traz um prejuizo importante para o aprendizado da leitura. A consciéncia fonémica ¢ um dos principais fatores que separam leitores proficientes dos ineficientes. Dada a forte relacdo entre consciéncia fonémica e o sucesso na leitura, pode-se dizer que a falta de cons- 48 John F. Savage ciéncia fonémica é um obstdculo a ser ultrapassado no inicio da leitura, e que a consciéncia fonémica é um dos principais fatores que separam leitores tipicos dos leitores com dificuldades. “Vinte anos de pesquisa mostraram consistente- mente que muitos leitores iniciantes, e quase todas as criangas com transtorno de leitura, tém dificuldade nas tarefas de consciéncia fonolégica” (MOATS, 1994, p. 83). Criangas que entram no primeiro ano com pouca consciéncia fonémica correm um risco maior de fracassar no aprendizado da leitura e da escrita. O nivel de consciéncia fonémica da. crianga que ingressa no primeiro ano do ensino fundamental é mais importante para prever 0 seu sucesso na leitura do que qualquer tipo de instruco (.e., mais tradicionais e baseadas em habilidades ou abordagens mais holisticas) que ela ira receber. Devido a natu- reza ortogrdfica da lingua inglesa, e da portuguesa, por exemplo, a habilidade das criangas de reconhecer e manipular os sons é essencial em qualquer abor- dagem ou modelo de instruco da leitura adotado em sala de aula. A consciéncia fonémica ¢ importante no aprendizado da ortografia e da escrita também (JUEL, 1988; ORTON, 2000). Conforme as criangas pequenas desenvolvem as habilidades de ortografia e escrita, elas precisam reconhecer os sons das consoantes e das vogais das palavras, para assim selecionar as letras que representam essas palavras em suas primeiras tentativas de escrever narra- tivas, poemas, mensagens ¢ outras formas de composisio. Enquanto estudos que abordam a relacdo entre a consciéncia fonémica € O sucesso inicial da leitura consistentemente mostram uma alta correlagio entre os dois, alguns tém questionado a natureza dessa relagdo - ou seja, a competéncia fonémica leva ao sucesso na leitura, ou as criancas adquirem a consciéncia fonémica como resultado da conquista da competéncia de leitura? Desconsiderando essa questdo, o fato ¢ que a consciéncia fonémica continua um elemento importante para o letramento emergente da crianga e um com- ponente importante no ensino inicial da leitura. Desenvolvendo a consciéncia fonémica A consciéncia fonémica nao é uma entidade ou habilidade unitéria e singular. Ela se desenvolve gradualmente ao longo da educagao infantil, mas nao é também uma habilidade que as criangas desenvolvam espontaneamente. Envolve uma variedade de tarefas, que variam da habilidade de identificar pa- lavras & habilidade de decompor silabas e reconstrui-las, formando novas pa- lavras.” Envolve tarefas apropriadas a alunos iniciantes e outras que séo ade- quadas, no que diz respeito ao desenvolvimento, ao fim do primeiro ano do ensino fundamental. * N. de R-T: Nesse pardgrafo o autor usa o termo consciéncia fonémica (phonemic awareness) embora esteja se referindo a consciéncia fonolégica (phonological awareness). Aprender a ler e a escrever a partir da fonica_ 49 No mundo pratico da sala de aula, os alunos pequenos podem desen- volver a consciéncia fon ea fonémica por meio de atividades diretas e explicitas, de ocasides incidentais ou informais que surgem muitas vezes na rotina da classe e de atividades que surgem por meio da literatura infantil. As ocasiées para esses trés tipos de praticas aparecem a todo momento no contex- to da educacao infantil. Atividades diretas envolvem o ensino especifico que é usado para de- senvolver a consciéncia fonolgica e fonémica. As criangas sao instruidas para contar o ntimero de silabas da palavra computador, identificar 0 som inicial da palavra mesa, dizer quais palavras rimam com bola, determinar qual palavra é criada quando som /b/ é excluido da palavra bela e dizer qual palavra é for- mada quando os sons /u/, /v/ ¢ /a/ sao unidos. Essas atividades diretas e claras envolvem a manipulacao de sons nas palavras e focam a consciéncia fonol6gi- cae fonémica que se provaram importantes no ensino da leitura. Ocasiées incidentais surgem ao longo de todo o dia para ensinar e pra- ticar a consciéncia fonolégica e fonémica no contexto de brincadeiras de lin- guagem e outras atividades orais. Quando a rotina da aula é ditada e transcri- ta, o professor pode chamar a atengdo para quantas silabas ha na palavra anche. Enquanto as criangas formam fila para ir ao parquinho, o professor diz “O li- der da fila hoje é 0 /2/.../¢/” (Zé) ou “As primeiras criancas da fila sero os me- ninos cujos nomes rimam com ‘el” (Rafael e Gabriel). Essas ocasides inciden- tais sio oportunidades para praticar tanto a consciéncia fonolégica quanto fo- némica, pois o professor pode chamar a aten¢ao para os elementos sonoros durante o dia a dia escolar. O Comité Nacional de Leitura (NATIONAL READING PANEL, 2000) sugere que o ensino da consciéncia fonémica passe de tarefas simples para ta- refas mais complexas, abordando a manipulacéo dos fonemas com as letras e um ou dois tipos de manipulasao fonémica por vez, e que o ensino para gru- pos pequenos é mais eficaz do que para a classe inteira ou para um sé aluno. Ao descrever como o ensino da consciéncia fonémica deveria ocorrer na sala de aula, Yopp e Yopp (2000) sugerem que deve ser apropriado ao nivel de de- senvolvimento dos alunos e também deliberado e direcionado a um objetivo, e ser apenas parte de um programa de letramento mais vasto realizado em um ambiente rico em linguagem e literatura. Além do ensino para criancas bem pequenas, a consciéncia fonémica nio ¢ menos importante para alunos um pouco mais velhos e para os que estdo sendo alfabetizados. Embora a natureza da tarefa permaneca a mesma, as técnicas de ensino obviamente precisam ser ajustadas a idade e ao nivel de desenvolvimento do aluno. A literatura infantil pode ser de maneira eficaz. integrada e balanceada com as atividades de consciéncia fonémica. “Muitos livros infantis dao énfase ao sons falados por meio da rima, aliteragao, assonancia, substituigao fonémica ou 50 John F. Savage segmentacdo e fornecem as brincadeiras de linguagem como traco dominante” (YOPP, 1995a, p. 27). Livros para criangas que focam as brincadeiras de lingua- gem - como os livros populares estrelados pelo Dr. Seuss, o Is Your Mama a Llama (Sua mamie é uma lhama?), de Débora Guarino, e cléssicos como Henny Penny, recontados por Paul Gaudone e outros autores” - sio veiculos para ajudar as criangas a prestar atencdo aos sons de sua linguagem ao mesmo tempo em que se divertem com as histérias. Livros como esses contém elemen- tos de rima, aliteragdo e substituigéo de sons. J4 que as brincadeiras de lingua- gem sao um traco explicito das obras, as historias exigem que os pequenos pres- tem atencdo aos sons de sua lingua. Além disso, so pura diversao! Pré-escolares e alunos do primeiro ano adoram ouvir historias, respondendo aos sons € repe- tindo frases muitas e muitas vezes. Versos populares entre as criancas sio um veiculo especialmente fruti- fero para o desenvolvimento da sua consciéncia fonémica. Pesquisas indicam que “[...] uma relagao forte e altamente especifica foi encontrada entre 0 co- nhecimento de versinhos infantis e o desenvolvimento de habilidades fonolé- gicas, que permaneceram significativas quando diferencas de QI e contexto social foram controlados” (MACLEAN; BRYANT; BRADLEY, 1987, p. 255). ‘A experiéncia das criangas com versinhos nao apenas desempenha um papel im- portante em seu desenvolvimento fonolégico, como também agrada aos ouvidos e as envolve em algo que faz parte de sua heranca cultural ha centenas de anos. Listas de livros que se prestam especialmente ao desenvolvimento da consciéncia fonémica em lingua inglesa foram sugeridos por Bishop et al., (2000), Opitz (1998) e Yopp (1995b). Opitz também sugere atividades que ajudem os pais a usar esses livros em casa. “A pesquisa do Comité Nacional de Leitura também descobriu que 0 uso de softwares para computadores, desde que adequados ao nivel de desenvolvimento da crianca, funcionam eficazmente no ensino da consciéncia fonémica” (COWEN, 2003, p. 64-65). Entre os componentes da consciéncia fonolégica/fonémica, estao: + arima, a habilidade de reconhecer e de produzir palavras que rimem; + a segmentagao, a habilidade de separar palavras em componentes fo- nolégicos; + o isolamento, a habilidade de identificar sons individuais dentro das palavras; + aexclusio, a habilidade de apagar elementos fonol6gicos ao falar palavras; + a substituicao, a habilidade de criar uma nova palavra substituindo um fonema por outro; + a sintese, a habilidade de identificar uma palavra baseando-se na es- cuta dos fonemas discretos que a compéem. *N. de R-T: Em portugues temos, por exemplo, ABC doido, de Angela Lago, e Ciranda das vogais, de Zoé Rios, ambos sugeridos pelo MEC (BRASIL, 2012). Aprender a ler e a escrever a partir da fénica 51 Cada um desses componentes pode ser parte de atividades incidentais e diretas de ensino como parte de um programa de letramento abrangente nos primeiros anos escolares. O ensino da consciéncia fonémica é mais eficiente quando foca um ou dois componentes de uma vez, em vez de muitos ao mes- mo tempo. Além disso, [...] 0 ensino deve se desenrolar em uma sequéncia légica de atividades que exigem habilidades metafonoldgicas gradualmente mais sofisticadas... Por exemplo, j4 foi demonstrado com relativa consisténcia que algumas habilida- des metafonolégicas parecem mais féceis do que outras e, por isso, surgem mais cedo no desenvolvimento da crianga. Especificamente, rimar é mais facil do que sintetizar sons, que ¢ mais facil do que segmentar sons, que é, por sua vez, mais simples do que a exclusio fonémica. (TROIA; ROTH; GRAHAM, 1998, p. 5). Além disso, integrar os simbolos do alfabeto nessas atividades reforga a consciéncia de sons e 0 conhecimento do alfabeto. “Um consenso emergente sugere que, apés a educacao infantil’, 0 ensino da consciéncia fonémica é mais eficaz quando é aplicado no contexto da lingua escrita. (Beck, 2006, p. 29). Rima Rimar, comparando e contrastando sons, talvez seja o aspecto mais es- sencial da consciéncia fonolégica, um indicador claro das habilidades fonolé- gicas. Qualquer pessoa que jé tenha ouvido criancas no parquinho conhece bem a propensao infantil a construir versos de sons similares (muitas ve- zes sem sentido) baseando-se nos nomes dos colegas e em outras palavras usuais. Embora possa ser a mais facil de todas as tarefas de consciéncia fono- logica, rimar exige, sim, um nivel de abstragao na abordagem do som das palavras. “Para dizer se as palavras boné e chulé rimam, a crianga precisa ser capaz de abstrair o som /e/ das duas palavras, compar4-los e perceber que séo 0 mesmo som” (GUNNING, 2000, p. 3). A habilidade de rima envolve tanto a capacidade para reconhecer quan- to para produzir uma rima. © foco no reconhecimento de palavras que rimam pode comecar assim que as criancas perceberem que algumas palavras “combinam” e outras nao. As criancas sempre adoram o elemento da rima quando ouvem versinhos nos primeiros anos da educacdo infantil. Na verdade, é a partir desses poemas que elas, em geral, adquirem o conceito da rima. 52__ John F. Savage Sugestées de ensino Reconhecendo palavras que rimam Combinando ‘Com uma pilha de figuras, 0 professor pede aos alunos que indiquem palavras que rimam: “Mostrem-me a figura que rima com sabéo.” ‘As criangas mostrarao, por exemplo, o desenho do baldo. Pares minimos professor pede que as criancas formem pares de palavras e digam se elas rimam: gato-pato copo-bola. cao-mao ‘As criangas respondem com “Sim” ou “Nao” levantando plaquinhas com ‘ou com o sinal de polegar para cima ou para baixo. Classificando palavras professor diz trés palavras, sendo que uma delas no pertence a esse grupo pois ndo rima com as outras. As criangas deverdo indicar qual a palavra nao pertence ao grupo: gato-pato-vaca ‘copo-bola-cola c40-06u-mao De novo, as criangas respondem com “Sim” ou “Nao” levantando plaquinhas com “S” ‘ou “N” ou como sinal de dedéo para cima ou para baixo. SENTA! professor mostra trés palavras, duas entre elas rimam, para cada crianga. Estas fa- lam as palavras na ordem (ou 0 professor fala as palavras da crianga com a mao na cabeca dela) @, quando a palavra que nao rima é dita, a classe inteira grita “SENTA!”. Cadeiras que rimam ‘Como uma variago da tradicional danga das cadeiras das festinhas infantis, arrumam- -8e as cadeiras em circulo. O professor diz uma série de palavras em grupos de rimas enquanto as criancas andam ao redor das cadeiras - por exemplo, mao, néo, ando; pato, gato, rato, mato; asa, casa, brasa; céu, mel, véu. A cada vez que o professor mi dar de grupo, as criangas sentam-se nas cadeiras ou mudam de diego. Figuras que rimam ‘As criangas podem fazer desenhos ou encontrar figuras em revistas cujos nomes ri- mam — por exemplo, anel, papel, céu ou caracol, girassol, anzol — e junté-los em gru- pos. As figuras podem ser distribuidas para os alunos, que devem encontrar os seus “companheiros de palavras’. (As mesmas figuras podem ser usadas mais vezes para outras atividades de consciéncia fonolégicalfonémica.) Ei, Isso rima! O reconhecimento das rimas pode ser aplicado quando os professores ditam frases, algumas das quais com palavras que rimam @ outras ndo. Por exemplo: ‘4 um movimento no vento. Hé um pote de mel no céu. Hé um ldpis no chao. ‘Hé uma menina bela na janela. ‘As criangas dirdo quais frases possuem palavras que rimam. Aprender a ler e a escrever a partir da fonica_ 53 ‘A produgao de elementos que rimam é um segundo nivel do exercicio da rima, Reconhecer que, as vezes, gato rima com mato é um nivel: produzir uma palavra que rima com gato jé é outro nivel. Versinhos infantis sao recursos importantes na pratica da rima. Além da alegria de compartilhar versinhos, rudimentos de consciéncia fonémica po- dem ser plantados nas criangas que os aj m. Sugestées de ensino Produgao de palavras que rimam Passe a bola ‘As criancas se sentam em um citculo com uma bola de borracha ou um saquinho de ar roz. Uma crianca diz uma palavra, como gato. Ela joga a bola ou o saquinho de arroz para um colega, que deve dizer palavras que rimam com aquela — mato, rato, pato, etc. Sons de animais ‘As criangas adoram imitar os sons dos animais. © professor (ou um dos alunos) pode inventar charadas simples que envolvam palavras que rimam com sons de animais. Por exemplo: “Estou pensando em palavras que rimam com o som que a vaca faz." (urubu, bad, caju) “Estou pensando em palavras que rimam com o som que 0 cachorro faz." (tchau, quintal, cacau) ‘As criangas podem elencar palavras que existam ou néo, desde que rimem. Complete a rima professor Ié versos de uma cantiga ou parlenda popular, fazendo uma pausa antes das palavras que rimam: Um, dois, feijéo com (pausa) Trés, quarto, fejjéo no (pausa) Corre, Cutia Na casa da (pausa) ‘As criangas completardo as frases com a palavra que rima. Rimas alternativas professor fala um versinho popular e pede para as criangas substitulrem por pala- vvras alternativas que rimem no fim das frases: Batatinna quando nasce Espalha a rama pelo chao ‘Menininha quando dorme Pe a mao na ... (cao, porto, cordéo, ledo) ou ou Era uma casa muito engragada ‘Nao tinha teto, ndo tinha ... (calgada, entrada, almofada) As palavras sugeridas pelas criancas tm de fazer sentido no contexto. (continua) 54 John F. Savage Produgao de palavras que rimam (continuagao) Rimas expandidas ‘Adicione estrofes a rimas conheoidas e pega para as criangas completarem: Batatinha quando nasce Versinhos originais Nao ha um passo gigante entre pedir para as criangas completarem versos populares ‘com rimas e pedir que fagam rimas para os versos simples que elas mesmas criaram. professor pode comegar fomecendo um esquema sobre 0 qual elas podem cons- tuir as rimas: Eu olhei para o ar Evium... Fui no mercado comprar baléo Mas s6 encontrei Depois, as criancas podem sugerir palavras que rimam para terminar as frases. Dando ritmo Embora 0 foco de atividades como esta seja a rima, outro aspecto importante da poe- sia - 0 ritmo - sempre aparece. No primeiro verso acima, algumas criangas completa- rao com uma Unica palavra que rima, como colar, celular e pomar, enquanto outras su- geriréo um padréo ritmico consistente com a primeira linha ~ passaro cantar, aviéo voar, baléo passar, etc. (E claro que outras diréo uma palavra que nao rima, como pas- sarinho, 0 que aponta para a necessidade de exercitar muito mais as palavras que ri- mam, como parte da consciéncia fonolégica!) Quem disse isso? O livro infantil can’t, said the ant (No que eu consiga, disse a formiga), de Polly Ca- meron (Scholastic, 1961), 6 um ponto de partida ideal para uma atividade com rimas. Quando o bule se quebra, todos os outros objetos da cozinha comentam - “Qual é o babado?”, disse 0 cadeado. “O bule caiu’, disse o funil. Apés ler livro (ou outro nessa mesma linha) em voz alta, 0 professor pode sugerir outros versos para o uso de palavras que rimam, adotando o mesmo modelo de linguagem. Por exemplo: No parquinho “Fale manso”, disse o (balango). “Vocé esté com calor?", perguntou-me o (escorregador). Na salade aula “Faca uma careta”, falou a (caneta). “Seu pai trabalha de terno?”, gritou o (caderno). rico contevido de outros livros infantis pode ser usado em atividades de rima simi- lares. Aprender a ler e a escrever a partir da fénica_ 55. Versos, cantigas, parlendas e poesia infantil constituem um ingrediente basico da dieta do letramento da maioria dos ambientes infantis. Embora formas simples de poesia possam ser usadas de forma eficaz no desenvolvimento da consciéncia fonoldgica/fonémica, 0 foco instrucional no pode ofuscar a alegria das criancas de entrar em contato com esses belos exemplares da nossa cultura e com a 6tima poesia de grandes autores em seus primeiros anos escolares. A literatura infantil é um verdadeiro tesouro de materiais por explorar tan- to no reconhecimento quanto na produgao de rimas. As criangas podem focar em palavras que rimam quando os professores lhes apresentam livros como:* + Brown bear, brown bear, what do you see? (Urso marrom, urso marrom, © que vocé vé?) de Bill Martin Jr, ilustrado por Eric Carle, um livro muito popular entre as criangas norte-americanas (Essa dupla de autor/ ilustrador também assina Polar bear, polar bear, what do you hear?). + The fat cat on the mat (O gato cansado sentou no mato), de Nurit Kar- lin, um livro simples de uma colegdo chamada I can read (Eu posso ler) repleto de pavras rimadas. « Silly Sally (Lola boba), de Audrey Wood, uma hist6ria amada por crian- gas pequenas sobre uma menina que anda para trés com as mos. + Louella mae, she’ run away (Louela Mae, ela fugiu), de Karen Beaumont Alarian, ilustrado por Rosanne Litzinger, em que as criancas tém de virar as paginas para ver as palavras que rimam. + Drummer Hoff (nome do livro e do personagem principal), adaptado por Barbara Emberlay e ilustrado por Ed Emberlew, um livro brilhan- temente ilustrado com rimas e outros elementos linguisticos que po- dem ser adaptados para diferentes aspectos da consciéncia fonémica. O folclore popular também é repleto de rimas como parte das narrati- vas, como Pela estrada afora, eu vou bem sozinha Levar esses doces para a vovozinha e Eu vou, eu vou, para casa agora eu vou. Lembre-se, ainda, dos elementos de rimas nos nomes de personagens infantis, desde os tradicionais contos de fadas, como Joao ¢ o Pé de Feijao, até os mais contemporaneos, como Angelina Ballerina e Gatola na Cartola. Em suma, os professores raramente tém de sair das prateleiras da sala de aula para encontrar materiais que podem ser usados de maneira eficaz como parte do ensino focado na consciéncia fonolégica, ajudando os alunos a reconhecer e produzir rimas. “*N. de R-T: No final deste capitulo sio sugeridos alguns livros em lingua portuguesa. 56 John F. Savage Segmentagao A segmentacdo envolve separar as palavras em seus componentes fono- lgicos. Requer uma consciéncia de elementos sonoros e a habilidade de reco- nhecer esses elementos na linguagem falada. A segmentacio inclui identificar elementos independentes nas palavras compostas, silabas em palavras mais longas, ataques (onsets) e rimas, além de fonemas em palavras. Palavras compostas no sao dificeis de segmentar, porque consistem em duas partes independentes ou de morfemas independentes, que as crian- as conseguem identificar, com frequéncia, como unidades de sentido. (A re- lacdo entre as duas partes é interessante: supermercado é um mercado que é super, guarda-chuva guarda a gente da chuva, mas um aeroporto nao é um porto para aeros, mas sim para avides. Esse é um assunto, porém, para outra discussao.) Obviamente, é importante que as criangas entendam o conceito de palavras compostas antes que sejam usadas em atividades de consciéncia fonolégica/fonémica. Sugestées de ensino ‘Segmentando palavras compostas Batam palmas O professor diz a primeira parte de uma palavra composta, sequida da segunda parte, s6 ‘que cerca de meio segundo depois: Vou falar para vooés algurmas palavras compostas. Ba- tam uma palma para cada pequena palavra que ouvirem em cada palavra composta: ‘guarda-sol sofé-cama couve-fior ‘As criangas batem palmas para cada parte independente que ouvirem da palavra. ‘Segmentando palavras compostas em partes Para ver como as palavras compostas podem ser separadas em duas unidades inde- pendentes, as criangas podem usar duas pecas de Lego ou bloquinhos de madeira. ‘Cada uma ganha duas pegas que se encaixem de cores contrastantes. Usando pala- vras compostas familiares, 0 professor pode demonstrar como os blocos se separam. conforme ele diz as duas partes da palavra - guarda/chuva, beljaifior. As criangas se- Param as pecas quando ouvem o professor dizer as duas palavras separadamente. As Pegas ou os blocos também podem ser usados para as criangas separarem silabas e/ ou identificar fonemas nas palavras. Além disso, também podem juntar as pegas em atividades que exijam formar palavras ou reunir partes de palavras. Jogo de adivinhacéo Para estender ainda mais a compreensdo, as criancas podem adivinhar paavras com- postas em resposia as pistas dadas pelo professor, por exemplo: quando sabernos que vai chover, 0 que levamos junto ao sair de casa? (quarda-chuva); que doce de amendoim comemos na Festa Junina? (pé de moleque); ¢ assim por diante. (continua) Aprender a ler e a escrever a partir da fonica_57 Segmentando palavras compostas (continuacao) Palavras para praticar: palavras compostas Aqui esté uma lista de palavras compostas, sem e com hifen, que podem ser citeis em exercicios: ‘aeroporto guarda-roupa pé de moleque arco-ris ‘malcriado peixe-espada corde-rosa ‘maria-mole i cowve-flar meiatua ferro-velho segunda-feira ‘guarda-chuva passatempo supermercado A segmentacao também envolve a identificagao do niimero de silabas de uma palavra. As silabas séo conjuntos de vogais e consoantes que formam as palavras. Assim, contar silabas tem, hé muito tempo, feito parte da ins- trugdo fonolégica de criangas. A habilidade de separar a palavra em sila- bas auxilia a crianga em seu processo de tentativa de pronunciar palavras desconhecidas de um texto. Jé que 0 conceito de silabas, de inicio, pode ser estranho para criangas pequenas, Cunningham (2009) sugere que os pro- fessores se refiram as silabas como “pedacos” ¢ usem para descrever obje- tos comuns da sala de aula, como: Idpis é uma palavra com dois pedacos, caderno é uma palavra com trés pedagos e computador é uma palavra com quatro pedacos. Sugestoes de ensino ‘Segmentando as silabas Toque 0 queixo Bater palmas é a técnica de resposta ha tempos usada quando as criangas precisam identificar 0 ndmero de silabas das palavras. Apoiar 0 queixo sobre as maos é uma maneira mais silenciosa de ajudé-las a responder ao niimero de silabas das palavras. ‘As criangas colocam as pontas dos dedos no queixo ¢ contam os movimentos do queixo conforme pronunciam as palavras. (Como todas as silabas possuem algum som de vogal e a boca tem de abrir para o som sair, cada silaba produziré um movi- mento de abrir e fechar de boca, isto 6, um movimento do queixo.) ‘Cabeca, ombros, joelhos e pés Quando 0 professor disser a palavra, as criangas devem apontar partes do seu corpo. Para palavras de uma silaba, as criangas deverdo tocar as suas cabegas. Nas palavras de duas sflabas, tocardo suas cabegas e seus ombros (duas silabas, duas partes do corpo). Para palavras de trés silabas, apontardo as suas cabecas, ombros e joethos. (continua) 58 John F. Savage ‘Segmentando as silabas (continuagao) ‘Quando for uma palavra de quatro silabas, indicaréo suas cabecas, ombros, joelhos € és. Por exemplo, o professor diz: sol (aponta cabega), livro (cabega, ombros), profes- ‘sor (cabega, ombros, joelhos) e assim por diante. Assim, as criangas também se exer- citam enquanto praticam a consciéncia fonolégica. ‘Quantas silabas tem 0 seu nome? As criangas gostam de contar as silabas dos seus nomes. Zé um nome de uma sfla- ba; Pedro, de duas; Sofia, de trés; Mariana, de quatro. Além de contar as silabas dos ‘seus nomes, elas podem contar as silabas dos nomes de personagens das histérias que escutam, como Rapunzel, Cinderela, Chapeuzinho Vermelho, e outros nomes de Personagens de livros lidos em classe. Pode-se juntar o nome ao sobrenome do aluno para contar 0 total de silabas. Para estender a mateméttca, o professor pode fazer uma tabela com o néimero de criangas cujos nomes possuem o mesmo ntimero de silabas. Tabuleiro dos niimeros Cada crianga ganha um tabuleiro com os niimeros 1 2.3 4. Os alunos, marcam, entéo, no tabuleiro 0 néimero de silabas que escutam em uma palavra. Como marcadores, podem. sser usados fichas de pldstico, quadradinhos de papel-cartéo ou brinquedinhos. Usando um alimento para o lanche, como uvas e biscoitos, limpar ficard bem facil depois! Passos gigantes ‘As criangas formam fila ¢ déo passos gigantes para cada silaba que ouvem em uma palavra. Elas podem contar 0 nimero de passos de que precisam para atravessar a sala de aula ou estimar quantas silabas-passos serao necessérias para percorrer todo © corredor. (Palavras longas, como paralelepipedio, ajudam-nos a percorrer longas dis- tancias rapidamente.) Palavras para praticar: monossilaba, dissilaba, trissilaba, polissilaba ‘Aqui esté uma lista de palavras que podem ser titeis nos exercicios: Uma silaba Duassilabas Tréssilabas Quatro silabas_—_—_Cinco silabas dez bala batata abacaxi adormecido a bola crianga, alfabeto apartamento mel casa diretor almotada calculadora n6 cinco domingo borboleta felicidade pa folha garrafa ‘computador hipopétamo pe lapis jacaré dinossauro imaginagéo pO mapa morcego geladeira interessante ra mesa professor tartaruga matematica sol rosa sapato telefone tinoceronte v6 urso silaba televisAo supermercado ‘A atengao ao sentido das palavras pode, aqui, ajudar as criangas a expandir o seu vo- cabulério. No que diz respeito aos fonemas, a segmentacio envolve identificar os sons individuais que formam uma palavra. Quando o professor pronuncia uma palavra, 08 alunos identifica as unidades discretas (fonemas) que a compéem. Nos mo- Aprender a ler e a escrever a partir da fénica_59 mentos iniciais, é mais ficil para os alunos identtficar o fonema inicial das palavras do que os seus fonemas mediais e finais. E importante que o professor selecione palavras com sons continuos que sio mais faceis de serem percebidos, como /{/, WI, /si, /al, II] e BJ. Também é mais recomendavel usar sons representados por uma tinica letra, em vez de digrafos e outras combinagées de letras. Sugestées de ensino ‘Segmentando os fonemas Contando os sons professor pronuncia palavras curtas e bem conhecidas, como v6, uva, sim. As criangas contam o numero de fonemas de cada palavra, indicando o numero com pulinhos, colocan- do as maos nos pés ou batucando um tambor para cada som que identiicarem na palavra. Bate aqui! Duas criancas ficam de costas uma para a outra enquanto o professor fala as palavras. AS criangas mostram com 0 dedo quantos fonemas elas ouvem em cada palavra. Quando o professor fizer um sinal, elas viram-se de frente uma para outra e comparam as suas respos- tas. Se as duas tiverem indicado 0 mesmo numero de fonemas, comemoram batendo as palmas das mos no ar. Se no, 0 professor revisa o numero de fonemas de cada palavra. Quadrados de sons As criangas usam figuras de objetos comuns coladas em cartées. Em cada cartao esta uma caixa de Elkonin* (quadrados conectados com um quadrado para cada fonema da palavra da figura). Enquanto o professor pronuncia lentamente o nome do objeto, as criangas movimentam disquinhos de plastico ou outros marcadores de uma “caixa” (quadrado) para outra, de acordo com os fonemas que elas escutam nas palavras. ° 2 we & fs © que tem no nome? Os nossos nomes so preciosos para todos nés, assim fica mais facil para as criancas identificarem fonemas individuais que compdem os proprias nomes. J4 que muttas aprenderao a escrever o seus nomes, af esté um gancho para aprender as correspon- déncias som-simbolo. Segmentar palavras em fonemas isolados nao é uma tarefa facil para as criangas, mas focar em sons individuais das palavras é um componente essen- *N.de R.'T: A caixa de Elkonin foi popularizada pelos estudos realizados pela pesquisadora neozelan: desa Marie M. Clay, que propés um programa denominado Programa de Recuperagao da Leitura (Rea- ding Recovery), recurso muito utilizado nos Estados Unidos para estimular a consciéncia fonémica, 60 John F. Savage cial da consciéncia fonémica. Ligar simbolos a esses sons individuais pronun- ciados € essencial para a decodificagao que vird depois. Tsolamento Isolar sons envolve a habilidade de identificar sons individuais no inicio, no meio e no fim das palavras. Exige que as criangas nao apenas identifiquem quais sons compéem as palavras, mas também saibam quando esses sons ocor- rem. Atividades que envolvam o isolamento de sons pronunciados em geral come- am com fonemas iniciais, j4 que 0 som inicial costuma ser o mais ficil de ser identificado. Assim como com a segmentago, é uma boa ideia comecar com pala- vras que possuam o padrao consoante-vogal-consoante-vogal, j4 que o som inicial pode ser facilmente separado do resto da palavra. Também é recomendével come- ar com sons continuos, como /m/, /s/ ou /f/, pois esses sons podem ser sustenta- dos sem que sejam distorcidos. Sons iniciais como /b/ ou /t/ exigem um qualidade vocalica (“ba” ou “ta”) para serem mantidos. Sugestées de ensino Identificando sons iniciais Sons secretos O professor pronuncia uma série de quatro ou cinco palavras com o mesmo som inicial (vaca, vela, vila, vov6). As criangas escutam 0 som inicial e © cochicham para um colega [V-¥-1}. Eu espio com os meus olhinhos... Esse jogo popular nos Estados Unidos envolve dizer “Eu espio com os meus olhinhos... [e descrever um objeto visivel a todos]", ndo s6 agrada muito as criangas como pode ser usado para identficar os sons iniciais. Olhando ao seu redor na sala de aula (ou no parquinho ou ‘outro ambiente em que estejam), os alunos identficam objetos pelos sous sons iniciais: Eu espio com os meus olhinhos uma coisa que comega com |m). Eu espio com os meus olhinhos uma coisa que comega com /s].* Na brincadeira Eu espio com meus olhinhos, a consciéncia fonémica exige que 0 foco seja 0 som inicial, ndo a letra. A identificagao da letra 6 certamente apropriada quando 0 jogo € usado no aprendizado do alfabeto, mas a identificagao de som € 0 foco prima- rio da consciéneia fonémica. Trava-linguas Criangas e adultos hé muito tempo se divertem com trava-linguas** como “Trés tigres tristes para trés pratos de trigo. Trés pratos de trigo para trés tigres tristes". As criangas podem inventar as suas aliteragdes baseando-se nos sons iniciais, talvez em seus no- mes, como: Sofia suga seis sucos. As criangas podem ditar e ilustrar as suas frases, ‘que podem ser reunidas no livro da classe. *"N. de RUT: As criangas deverio procurar objetos que iniciam com esse som, por exemplo, mesa. “+N, de R-T: No final do capitulo so sugeridos alguns livros em lingua portuguesa. Aprender a ler e a escrever a partir da fénica_ 61 Os sons finais ndo so tao ficeis de identificar quanto os sons iniciais, j& que os sons finais nao sdo to proeminentes quanto os do comeco. As criancas podem precisar de prética, com listas de palavras com sons finais similares. Sugestées de ensino Identificando sons finais \Nham, nham! © professor fala de uma comida que adora prolongando o som final da palavra, como Eu adoro pizzaaaaaaaaaa ou Eu adoro frutassssssssss. As criangas identificam, entdo, os sons finals. Elas também podem se revezar ao contar de quais comidas gostam (ou nao gostam). Xicaras dos sons Cada crianga ganha duas xicaras de papel, uma com um I de “inicial” e outra com F de “final”. O professor diz uma palavra, identifica um fonema e pergunta se 0 som ocorre no comego ou no fim - por exemplo: A palavra é “uva”. Vocés ouvem o Jul no inicio ou no fim da palavra? As criangas colocam, entéo, um disquinho de pléstico ou outro marcador na xicara | ou F, indicando onde ouviram o som. Mais uma vez, pode-se incrementar a atividade usando lanchinhos coma marcadores, como uvas e bisooitos. Excluséo A exclusao de fonemas ¢ outras partes maiores das palavras indica a consciéncia que a crianga tem dos sons e como esses sons sao usados para construir as palavras. A exclusdo envolve retirar mentalmente uma parte da palavra para criar outra palavra. A habilidade de apagar uma das unidades individuais de uma palavra indica a consciéncia de que a palavra é composta por unidades maiores. A exclusao de silabas permite que as criancas prati- quem a manipulagio de unidades maiores do que fonemas individuais e re- forca a consciéncia auditiva do numero de silabas das palavras. A exclusio fonémica comega com palavras pequenas e requer a consciéncia de como os fonemas se combinam para formar palavras. 62_ John F. Savage Sugestées de ensino Excluséo de sons em palavras Palavras compostas professor diz uma palavra composta (veja a lista de palavras compostas na p. 57) € pede aos alunos para repetirem a palavra sem uma de suas: partes: Digam supermercado sem super. Digam guarda-chuva sem guarda. AAs criangas podem usar a nova palavra para formar frases. Silabas professor diz “Vou dizer algumas palavras que possuem mais de uma silaba. Escutem ‘com cuidado, porque quero que repitam cada palavra sem uma das silabas. Prontos?” Digam lépis sem pis. Digam mamao sem ma. Palavras dissilabas funcionam melhor nesta atividade. til para professores selecio- nar palavras que, quando tém uma silaba apagada, resultem em outras palavras que fagam sentido para as criangas (mesmo que a forma de escrever ndo seja a mesma, 0 importante 6 0 som). Lista de palavras para a excluséo de silabas lista seguinte pode servir de base para a exclusao de silabas criando novas palavras. Palavras dissilabas: Excluindo a silaba inicial Excluindo a silaba final Limao (mao) ‘Arco (ar) Lixdo (cho) Barco (bar) Maméo (mao) Margo (mar) Nuvem (vem) Cito (oi) Paixdo (cho) Paixéo (pa) Pincel (céu) Pato (pa) ‘Sacdo (cdo) Paulo (pau) Soff (té— nota musical) Pole (pé) Sopa (pa) Régua (ré) Trené (n6) Verde (ver) Palavras trissflabas: Excluindo a silaba inicial Excluindo a staba final ‘Argola (gola) Boneca (poné) Escola (cola) Caracol (cara) Fivela (vela) Casaco (casa) Galinna (linha) Folhagem (folha) ‘Sacola (cola) Jacaré (jaca) Sapato (pato) Mesada (mesa) Sorpente (pente) Pathago (palha) ‘Soldado (dado) Peruca (peru) “Tubardo (bardo) Salada (sala) Tucano (cano) ‘Sapato (sapa) (continua) Aprender a ler e a escrever a partir da fénica_63 Exclusdo de sons em palavras (continuagao) Fonemas* © professor diz "Vou dizer algumas palavras. Escutem com cuidado, porque quero que repitam cada palavra sem um dos sons. Protos?” Digam mar sem o /m/. Digam luva sem /V. Novamente, é interessante que o professor selecione palavras que, quando tém o fo- nema apagado, resultem em outras palavras que fagam sentido para as criangas (mes- ‘mo que ndo possuam a mesma letra). Lista de palavras para a excluséo de fonemas Allista seguinte pode servir de base para a excluséo de fonemas criando novas palavras. Sons iniciais casa - asa novo - ovo ‘chuva - va ano - ano galho - alho pilha ~iha molho - olho sonda onda nave - ave touro—ouro Sons finais colar cola paz ~ pa cruz — cru peca—pés mar — ma pés — pé nos nd sol- 86 par ~ pa voz ~ v6 A manipulacdo fonémica realizada na exclusio de sons unitérios nem sempre é facil para as criangas. E importante que professores elaborem o pro- cesso de modo que as criangas entendam o que estd sendo feito. Substituigdo Uma parte da consciéncia fonémica, a substituigao envolve alterar uma palavra mudando o seu som inicial, final ou central para criar uma nova pala- vra. Tal processo requer a habilidade de excluir um fonema e colocar outro em seu lugar - por exemplo, na palavra mela se trocar 0 /m/ pelo /v/ vai formar a palavra vela, ou substituir o /o/ pelo /a/ para mudar a palavra pato para pata. A substitui¢ao deve ser feita com fonemas iniciais ¢ finais. . de R. T.: Nas tarefas que envolvem a consciéncia fonémica ¢ indicado que o professor use preferen-

Você também pode gostar