Você está na página 1de 14
Psicossomatica psicanalitica hoje: © modelo pulsional da Escola de Paris fur po M an m - pit Diana Tabacof = ry va la in Ps Revista Brasileira de Picandie ‘ust ratcor€ pricloga tinea so volume 50, 1.2, p. 94-107 - 2016 Fermada pela Ponifla Univesidade Catlin de So Paul (P00) tvebro da Sociedade sicanalicn “ de Pris sr), memo data do tu Instat de Paconomatice Pee ’ - Rewsmo Mary (180 Pas}, memo da ‘Neste trabalho, as linhas ditetrizes do compo te6rico-linico Jaron gehen Ps da Escola Psicossomatica de Pais so esbogadas dentro de ue q e ¢ ‘ima pesspectiva histrics, desde a sua fundagto nos anos 1 até das de hoje. A partir dos trabalhosrecentes de c seus seguidores o pensamento de Pierre Mary, pioneto a da psicosomdtica psicnaltca, € apresentadoeariculado 4 40 modelo pulsional freudiano périg20 « a0 jogo deforgas centre as pulstes de vida ea destrutividade, integrando-o ° fssim ao movimento da pscandis francesa contemporanes t (Os transtornos da economia pscossomatica sfo formulados d alu do problema do traumatismo, da fungo do objeto ¢ fi dos riscos de desntricago pulsonal edesorgaizagio do i suit, As falas nos processs de elaboragio psquica (de rmentalizagdo, préprias & somatose, so situadas nas falhas Ga ligagdo do afeto A representasto. = ‘ Palowaschove ; cacitag; pulsto; dsintrcagto pulsional somatizacio; } ato; epresentaclo. ’ H 4 cinquenta anos, na Pitié-Salpétriere, onde Freud com a equipe de Charcot des- cobra histeria, um grupo de psicanalistas da Sociedade de Paris, reunido em torno de Pierre Marty, comecou uma nova aventura. ‘A investigagdo psicossomdtica, obra fundadora publicada em 1963, assinada por Marty, Christian David Michel de M'Uzan, foi o resultado desses primeiros anos de uma pesquisa psicanalitica esti- mulante e original, iniciada no meio hos- pitalar, com pacientes que apresentavam patologias somaticas diversas, e que levou 4 construgdo de um conjunto teérico ino- vador e de um pensamento clinico singu- lar. Um novo objeto de estudo foi criado, inserito no terreno jd conquistado da meta- psicologia fteudiana: a organizagao psicos- somdtica. Rompendo com as classificagées psi- cossomaticas existentes até entdo, sobre- tudo aquelas da medicina psicossomética, esses precursores no procuraram definir os perfis dos doentes em fungdo de doengas especfficas, como fazia a Escola de Chi- cago, nem estenderam, como nas outras correntes analiticas, o modelo da histeria as doengas somaticas. Para os precursores da Escola de Paris, nem as doengas nem 0s doentes seriam considerados psicossomd- ticos: o ser humano € psicossomatico por definigdo, A abordagem de um psicanalista formado nesta clinica 6 que seria denomi- nada psicossomdtica. Voltando aos anos 1g60, um espfrito de descoberta se impos verdadeiramente no contato dos analistas com esses pacientes. Devemos lembrar que estes ndo se encon- tram espontaneamente nos consultérios 95 dos psis, menos ainda naquela época, sendo pottanto assiduos frequentadores dos servi- gos médicos. Gisele W. ou Gilbert C., dois exemplos dentre as sete observagdes contidas em A investigagdo psicossomdtica (Marty, M’'Uzan & David, 1963) — a primeira sofrendo de enxaquecas severas ¢ esterili- dade; o segundo, de uma cardiopatia -, se afastam muito das descrigdes de Augustine ou de Anna O. Neles, nenhum sintoma ruidoso ou grande eloquéncia teatral se manifesta; 0 drama se passa em surdina. Esses casos se aproximam daqueles que foram denominados ulteriormente de nor- ‘mopatas — ou, dito de outra maneira, esses pacientes revelam uma sintomatologia psi- quica negativa. Apresentando sintomas propriamente organicos (fancionais ou lesionais), nem conversivos portanto nem hipocondria- cos, esses pacientes so bem adaptados a0 mundo que os rodeia, no manifestam sofrimento ou queixa na esfera psicoafe- tiva ou comportamental: eles consultam por seu softimento fisico. Retomando os termos dos autores da investigagdo psicos- somética: esses pacientes esto absorvidos por um objeto interior somatico, opaco € resistente a interpretagdo, impressionan- temente dissociados de sua subjetividade. Em um comentario recente sobre Gisele W., M'Uzan (2009) evoca a contratransfe- réncia doutrinal, segundo a qual o psica- nalista tende a “neurotizar” o paciente, privilegiar a inscrigdo da problemética no registro psicossexual e procurar 0 “sentido” do sintoma. Na releitura de Gisele W., ele cita sua tendéncia inicial de interpretar 0 9% aparecimento das cefaleias no primeiro dia das regras da paciente como dependente do psiquico ¢ da angistia de castragao, para logo em seguida “cair na realidade”, pois a visdo de conjunto do material mos- trou a fragilidade de seus esforgos. Nesta paciente, a infiltragio do pré-genital no seu funcionamento, suas limitadas possi- bilidades de simbolizagdo e a restrita mani- pulagdo mental dos fantasmas denotavam ‘uma problematica narcisica fundamental ‘Aemergéncia dos conflites na esfera geni tal teria reavivado sua oralidade primé- ria, eujo teor agressivo torava insolivel a equago edipica e seu tratamento psfquico. ‘As enxaquecas ocupariam 0 espaco do confito intrapsiquico — este, inelaborével. Mulher hiperativa, tendo se organizado a partir de uma not6ria reivindicacio filica, “praco direito de seu pai” e “suplente” de sua mde, nos seus préprios termos, sem- pre pronta a “ajudar os outros” e particu- Jarmente a “cuidar de criangas”, desejando ‘mesmo “possi criangas”: seu funciona- mento conduziu os investigadores ndo em direcdo a um confto inconsciente préprio a neurose, mas na pista de uma neeurose de comportamento. O componente de des- carga motora era indispensavel no seu fun- cionamento ¢, ao invés de interna, a cena psfquica parecia se desenrolar externa- mente, mediante seus atos e seu! comporta- ‘mento, na auséncia da culpabilidade ou da rivalidade manifestas através dos sintomas neutéticos cléssicos. Por trés de sua apa- rente forca e duvidosa capacidade de meta- forizagdo, ilustradas por expresses como “Fu sou como um ledo!”, em Gisele W. a ferida nareisica estava pronta a despertar e Revista Brasileira de Psicanlise volume 50, n.2 2016 orisco de desabamento espreitava, fazendo dela uma paciente muito frdgil. No final de seu comentério, M'Uzan se refere a0 tra- balho com esse tipo de paciente dizendo que este impée uma politica de beira de abismo, Foi o mesmo M'Uzan que propés, nos anos go, a eloquent expresso escravos da quantidade (M'Uzan, 1994). em referén- cia a esta clinica. Neste mesmo sentido, para dizer algu- mas palavras sobre Gilbert C., a atitude extremamente comedida, feita de “tensio e alma”, desse paciente coronariano visava ‘0 dominio total de sua angtistia durante a investigacdo psicossomatica, vivida por ele como uma penetragio intolerdvel e peri- gosa. A precariedade de suas defesas psi- quicas, diante do contato caloroso criado pela proximidade do psicanalista, em vez de mobilizar, por exemplo, defesas obses- sivas, desencadeou seus sintomas somati- cos, anunciadores de uma crise de angina transpiragoes, palpitagdes, problemas de dicgdo etc. Foram experiéncias desse tipo «que conduziram Marty a recomendar aos psicossomaticistas a terem a prudéncia de um desarmador de minas, ou seja, a prudén- cia de quem se aproxima de zonas explosi- vas do psiquismo. Um certo ntimero de entidades clinicas provenientes dos estudos psicossom foi desde ento descrito — entidades hoje bem conhecidas ¢ muitas vezes integradas a linguagem psicanalitica contemporanea. Assim, citamos 0 pensamento operatério, a depressao essencial, a reduplicagdo projetiva lise ne ale sie Psicossomética priconalitica hoje: © modelo pusioncl da Escola de Paris 7 Diana Tabocot ou, mais recentemente, os procedimentos autocalmantes, A fenomenologia do fac- tual e do atual, presente no discurso des- ses pacientes, foi amplamente reconhecida. Interessantes relagbes foram estabelecidas com outras pesquisas, como no caso da alexitimia Esse conjunto semiolégico regular- mente observado pelos psicanalistas em contato com doentes somaticos, caracteri- zado pela auséncia de liberdade associativa, pela raridade de expressbes afetivas ¢ fan- tasmaticas espont4neas, pela relativa inefi- cécia do trabalho do sonho, dos processos sublimat6rios e simbélicos diversos, permi- tiu que se pudesse constatar uma auséncia de fluidez entre os processos inconscien- tes e a consciéncia, ¢ postular a existén- cia de falhas no tratamento psiquico das excitagdes corporais mobilizadas pelas experiéncias vividas e de sua ligagdo as representagoes mentais. ‘A emergencia de angtistias difusas ¢ invasivas, uma intensa utilizagao do regis- tro perceptivo e da sensorio-motricidade como vias de regulagdo das tenses com- péem também esse quadro, caracterizando o que se denomina de clinica da excitagao (Tabacof, 2008). ponto de vista econémico é, deste modo, central no corpo teérico-clinico da Escola de Paris. Trata-se de um ponto de vista transformacional, que abarca as mutagoes energéticas nos dois sentidos: tanto das excitagées de origem somética em material psfquico como da degradacdo dos materiais psfquicos em somitico. Em confrontagio constante com 0 modelo habitual das neuroses de transfe- réncia e & luz de observacées elinicas que se multiplicaram coma criagdo do Centro de Atendimento de Adultos e Criangas em 1978, nossos pioneitos psicossomaticistas distanciaram-se da linhagem das psiconeu- roses de defesa e aproximaram-se da linha- gem das neuroses atuais, assinaladas por Freud no infcio de sua obra, ¢ das neuro- ses traumsticas mais tardias. Assim, surgiu ‘uma nosologia mais adaptada as somatoses (para diferenciar das neuroses e das psico- se5), ditribuidas em dois grandes grupos: as regressbes somdticas, que sao as doencas funcionais ow passageiras, ¢ as desorganiza- g6es progressinas, que constituem 0 quadro das doencas mais graves e/ou degenerati- vas. Trés grandes grupos foram delimitados na classificago econémica de Marty (uti- lizada na investigago psicossomatica do centro de consultas e retomada no fim do tratamento para a apreciagao da evolucao dos casos): as neuroses com sintomatologia psiquica, as neuroses de cardter com ntveis varidveis de mentalizagao e as neuroses de comportamento ~ cada categoria desta clas- sificagao sendo associada a particularidades semiol6gicas oriundas da psicandlise, des- critas caso a caso. Marty (1976, 1980, 1984,1990) legou uma verdadeira chave para a compreenséo da economia psicossomatica, propondo trés modos de transformagdo do fluxo das exei- tages: a mentalizacao (através das opera- ‘ges psiquicas, das mais simples as mais complexas), 0 comportamento (através dos 98 atos e das descargas musculares ¢ sens6- rio-perceptivas em geral) e a somatizagao (através dos sintomas mais passageiros até as doengas mais graves). Cada individuo disporia de uma gama pessoal — coma pre~ senca de gradientes varidveis desses modos de expresso (mentalizagdo, comporta- mento e somatizagdo) ~ mais ou menos constante no seu funcionamento habi- tual, mas sujeita a alteragdes em diversos ‘momentos € circunstancias da vida. Isto pode ser concebido igualmente como uma referéncia no interior de uma mesma ses- sao e a fortiori ao longo de um processo analitico, o paciente podendo privilegiar certas modalidades de expressdo no inf- cio, ou num momento dado, vindo sensi- velmente a modificé-las em contato com co analista e 0 trabalho analitico. Para ilustrartais remanejamentos, pode- ‘mos considerar como exemplo um paciente ceujo discurso de tipo operatério, invasivo € detalhado — sobre a doenca, sobre 0s tra- tamentos ou os fatos cotidianos, cuja fun- ‘do defensiva e antitraumética deve, sem diivida, ser preservada enquanto for neces- séria — 8 lugar, no seio da relagdo transfero- contransferencial, a uma redinamizaga0 significativa. O reinvestimento libidinal progtessivo, tanto narcisico quanto obje- tal, permitiré que o paciente, apoiado num tipo de relagao inédita e identificado a0 funcionamento do analista, venha a inte- riorizar o prazer do funcionamento mental, mobilizando sua associatividade e desen- volvendo novos recursos intemnos. A sinto- ‘matologia negativa de ordem psfquica e @ austncia do afeto de dor psfquica propria mente dito vio ceder no mais das vezes, Revista Brasileira de Psicondlise volume 50, 9.2 - 2016 ainda que lentamente ou de forma descon- tinua, fazendo com que, a partir do regime econdmico antitraumstico, sequéncias psi- codinamicas se construam. Estarfamos af no amago do que, em termos atuais, chama- ‘mos de trabalho de somatizagdo (Smadja, 2013). Analogamente & expresso de traba- Tho de luto ou de melancolia, 0 trabalho de somatizagio se desenrola a medida que, através do processo analitico, um encadea- mento de eventos psiquicos significativos toma forma e se revela como precondigao econdmica 2 “solugdo somdtica” encon- trada pelo paciente. © movimento de reor- ganizacdo é assim impulsionado. Voltando & nossa breve genealogia das ideias, 0 ponto de vista econdmico baliza a obra freudiana desde os Estudos sobre a histeria (Freud & Breuer, 1895/1967) até 0 Moisés (Freud, 1939/2010), através do tema do traumatismo. Freud se refere & neurose traumatica insistindo sobre o carater soma- tico (o choque do organismo provocando tum afluxo de excitagdo) € 0 psfquico (0 terror) do traumatismo. Foi a partir desse mesmo modelo que os processos de desor- ganizagio foram concebidos. Desse modo, uma potencialidade trau- mitica, trazendo em si uma potencialidade de desorganizagio psicossomitica, existe a0 longo de toda a vida e em cada um. Trauma- tismos precoces ou mais tardios, sabitos ou curmulativos, ou ainda reativados de modo inesperado: so esses choques que colocam a prova a capacidade das fungdes psiquicas para regular a homeostasia do humano. slse 016 ‘on- psi- saf ma dia, ‘ba: ode que, lea. ivos sao das liza rea téo "ma ‘ose mé- nado osse sor rau ade ao ma- sou odo am icas acca sa: 7 Psicossomética psicanaltica hoje: © modelo pulsionel da Escole de Poris Dione Tabocof (O traumatismo na perspectiva psicosso- mitica ndo se define pelo tipo ou extensdo de um evento ou situagdo dada, mas pela gravidade de desorganizagio que produz em um individuo determinado. Quando a tensdo interna gerada pelas excitacdes desencadeadas escapa ao tratamento men- tal e persiste em quantidade excessiva, uma fungdo fisiolégica ou um sistema funcio- nal corte o risco de desorganizacio, pois, de acordo com Marty (1980), cada funga0 s6 pode integrar uma quantidade limitada de excitagées. A resisténcia aos impactos desorganizadores dependeria das capaci- dades defensivas e, no nivel do aparelho psfquico, da funcionalidade das representa- ‘ges mentais dispontveis no pré-consciente, de sua quantidade e de sua qualidade, e da Aluidez de sua circulagdo entre a conscién- cia e 0 inconsciente. pensamento de Marty se apoia em uma teoria da representago que circula no interior da primeira t6pica freudiana, sendo © pré-consciente a plataforma girat6ria da economia psiquica, lugar de enriqueci- mento recfproco entre as representagdes de coisa e de palavra, Esse pressuposto, que tem base na primeira tépica, foi ampliado com a evolugio do pensamento da Escola de Pari, como serd desenvolvido mais adiante. Para compensar a insuficiéncia dos mecanismos mentais neurdticos, foi postu- Jada pelos psicossomaticistas(e isto marca uma ruptura com Freud) sua substi glo por mecanismos de defesa somiticos, muito arcaicos no plano evolutivo. Isso se embasaria na nogdo de uma energética comum as fungdes psfquicas e &s fungdes sométicas. Um principio de equivaléncia energética foi proposto por Marty (1963): entre a atividade relacional com um objeto exterior, aatividade relacional com a repre- sentagdo [interna] de um objeto exterior; a atividade mental enquanto tal, intelectual cu fantasmiética; e aatividade somstica per- turbada |...) E por isso que se pode observar tum problema visceral ou muscular substituir a relagdo do sujeito com uma pessoa signi- ficativa. (p. 13) Do ponto de vista clinico, esse prinefpio de equivaléncia energética entre diversos registros de expresso nos conduz a ampliar 2 escuta dos contetidos psiquicos — explici- tamente formulados e ligados a representa- ‘g6es —a todas as manifestacées perceptivas ¢ observaveis no face a face analitico: mimi- cas, gestuais, sensGrio-motoras, Algicas, neurovegetativas etc. A captacao da expres- sa0 associativa do paciente (assim desig- nada para diferencié-la da associaedo livre) através da atengdo flutuante perceptiva do analista (Botella, 2014) abre o campo das transformagées do material emergente, ins- crevendo-o numa dinamica de figurago e de inteligibilidade. Nisto 0 papel transfor- mador do analista, pela sua pr6pria capa- cidade de regressio formal e de restituiga0 progressiva ao paciente dos diversos estratos do material, torna-se central Podemos considerar, seguindo os recen- tes desenvolvimentos da Escola de Paris que essa equivaléncia energética entre fun- ges somticas e fungbes psfquicas procede 100 de clas terem em comum seu fundamento pulsional. Seriam as transformagdes quali- tativas da energia pulsional que conduzi- iam a toda gama de expressdes clinicas, das mais psiquicas &s mais sométicas e com- portamentais, Notemos que Freud indica ‘em varios momentos esses movimentos de reparticao libidinal, que tém por con- sequéncia 0 desaparecimento de uma sin- tomatologia psiquica com o aparecimento de um estado doloroso ou lesdo corporal, e vice-versa (Freud, 1920/2002, 1924/1992) ‘Vemos assim a nocdo de energia pulsio- nal se delinear na problemética aqui tratada, € de fato a questio da pulsio foi tornando- -se central na continuidade dos trabalhos de nossos pioneiros. Vamos tentar declinar, em algumas palavras os “avatares” e “dest- 1nos” dessa problematica, porque as posigdes divergem e 0 campo € vasto e complexo. Pierre Marty era absolutamente monista. Ele jamais aderiu ao duslismo pulsional proposto na segunda teoria freudiana das pulsées. Evolucionista antes de tudo, con- cebeu a existéncia de uma energia vital ‘inica, que alimentava tanto os instintos quanto as pulsdes. Para ele, 0 principio evo- lucionista seria responsével pela mutagdo do instintual em pulsional. Ele propés um modelo no qual o movi- mento energético, em seu sentido evolu- tivo, ganharia mais e mais em qualidade libidinal, 0 nivel mais alto deste modelo piramidal sendo a organizagao psfquica edipiana, tendéncia que se inscreve no movimento de vida. Esse mesmo tronco cenergético pode tomar um caminho con- traevolutivo, regressivo, de desorganizacio ¢ desqualificagio libidinal, sew nivel mais Revista Brasileira de Psicandlise volume 50, 9.2 2016 baixo sendo representado pelos processos organicos letais, inscritos no movimento de morte. Notamos que no interior do monismo martyniano esto inclufdos os dois movimentos de vida e de morte, que recorta o dualismo formado pela pulsto de vida e a pulsdo de morte, sem que, entre- tanto, este faga parte de seu modelo. ara Smadia (2001, 2008), que representa hoje, de certa forma, a nova tendéncia do pensamento da Escola de Paris, o monismo psicossomético € indiscutivel, porém deve ser articulado de forma resoluta com 0 dualismo pulsional. Finalmente, € através da pulsto que “se atam e se desatam as ligagdes psicossomaticas” (2008, p. 87). O corpo da psicossomatica fica assim rede- finido como um corpo pulsional, e nessa logica as funcdes fisiol6gicas esto subme- tidas ao funcionamento das pulsdes. Con- siderando o escrito de Freud de 1923, O ego @ 0d, em que afirma que “em cada pedaco da substdncia viva estariam ativas as duas espécies de pulsées, [...] em uma mistura em proporgées desiguais” (1991, p. 270), @ nogao de energética pulsional se comple- xifica, Partindo dessa ideia, o psicanalista deve construir sua compreensio dos fend- ‘menos psicossomaticos em referencia aos ‘movimentos pulsionais eréticos e/ou des- trutivos em jogo, no seio da organizagao de seu paciente. Observamos entio que, a0 longo do tempo, a nogio econémica de excitagao ‘em excesso, presente na linguagem psicos- somética desde o seu infcio para designar Pri Di Slse 2016 sso onto Sos que ode itre- onta ido smo leve avés Pricossomética psiconalitica hoje: © modelo pusional de Escola de Poris 101 Diene Tabacat a origem das desorganizagdes, tomna-se, no espirito dos psicossomaticistas contempo- raneos, 0 equivalente a uma desintricagao pulsional, trazendo a marca seja de uma insuficiéncia, seja de uma diminuigao, seja de uma perda de libido, o que tem como consequéncia a liberacao da destrutividade interna, rompendo desse modo 0 equilf- brio da unidade psicossomstica (Aisens- tein, 1990). ‘Assim sendo, nas teorizagdes mais recen- tes, o paradigma da excitagao vai dar lugar a0 paradigma da pulsio e do seu dinamismo Parece-me evidente que um novo retorno ao “conceito-limite” entre o soma- tico e 0 psiquico fezse necessério neste vasto campo que nos ocupa, pois 0 trajeto da pulsto inscreve nele mesmo 0 devir psi- cossomético, e as falhas nesse trajeto so também as falhas na ligagdo soma-psique. [A definigdo freudiana de 1932 esclarece de maneira precisa a trajet6ria somatopsi- quica da pulsto: Da pulsio, pode-se distinguir a fonte, o objeto ‘ea meta: a fonte € um estado de excitagdo corporal; a meta, supressio dessa excitagdo. E no caminho da fonte & meta que a pulsio tomase psiquicamente eficiente, Em regra geral, ness trajeto encontra-se interposto um objeto externo. (1995, P- 166) Nessa definigio, 0 objeto esté situado no caminho do tornar-se psfquico da pul- fo, entre a fonte corporal e a meta, que € a satisfacao. Para André Green (1997, 2002), que trouxe uma grande contribuigdo ao pensa- mento psicossomatico nas tiltimas décadas, pulsio e objeto formam um par indisso- cidvel, um ndo pode ser concebido sem © outro, Para 0 autor, 0 objeto faz parte da montagem pulsional: seja porque ele falta, modificando seriamente seu trajeto, seja porque ele € 0 meio através do qual seu alvo pode ser atingido. O objeto, nessa perspectiva, é ao mesmo tempo o revelador da pulsio eo agente da intricagao das pul- sdes. Adinamica objetalizagao-desobjetali- zagio, sobre a qual ndo posso me estender aqui, € equivalente a dinamica intricago- -desintricacdo pulsional e, a fortiori, a dina mica organizagdo-desorganizacao. Em psicossomética, uma verdadeira teo- ria da relagdo de objeto se esboga, a meu ver, através da nogdo de fungdo matema. Criada por Marty para situar a importan- cia das interag6es precoces na construcdo da unidade psicossomatica, mas também para designar a base do trabalho do ana- lista nesta clinica, esta nogio continuou sendo enriquecida por seus sucessores a0 longo do tempo. Eno amago da fungdo materna que os processos transformacionais se produzem, permitindo que, a partir do corpo biol6- gico, advenha o corpo pulsional. A meté- fora proposta por Christophe Dejours (2001) da roda que transforma a 4gua em energia descreve esse processo de apoio ¢ transformagao do corpo biolégico em tum corpo erdgeno, 0 que esse autor pro- Iifero no campo da psicossomitica indica como sendo da ordem de uma subversio libidinal 102 Da qualidade do investimento do corpo € dos sistemas funcionais somaticos da tianga (alimentar, excretor, respiratério, do sono e outros) dependerd a ancoragem de pontos de fixagdo somitica e das tramas psicossométicas ulteriores. Com a irrigagdo do corpo da crianga pela libido, a ener- gia sexual psiquica de Eros proveniente do mundo pulsional dos objetos, através dos didlogos tateis, tOnicos, sonoros, verbais € pré-verbais, o trabalho de ligagdo das exci- tagdes somaticas e da destrutividade, sem- pre ameacadora, torna-se eficiente. Sio essas trocas libidinizantes que asseguram a instalagdo das zonas erégenas e da dimen- sto piconeral propriamente dita com Michel Fain (1971, 1975, 198, 1991) que o desenvolvimento pulsional indi- vidual sera minuciosamente elaborado na teoria, Ble formularé a nogdo de imperative de complexificagao do instintual origindrio, a partir das negociagbes operadas entre a autoconservacdo e as pulsdes sexuais, que conduz a organizacdo genital edipiana. Somente ao longo desse caminho pode- -se considerar que o destino da pulsao seré coneluido (acabado). Os obstéculos nesse caminho, devidos aos percalgos do encon- tro com o objeto, difcultariam o movimento de complexificagio, substituindo-o para fins defensivos por um imperativo de desenvol- vimento prematuro das puls6es do ego. O amadurecimento etapa por etapa do apa- relho psiquico e de suas instancias se vé assim comprometido; o ego toma as rédeas, de modo que © destino pulsional perma- nece num estado “inacabado”” (Os trabalhos conjuntos de Michel Fain e Denise Braunschweig (1975) vo fornecer Revista Brasileira de Psicondlise volume 50, n.2 2016 os elementos para que se compreenda como essa complexidade do destino pul- sional poderd advir ou fracassar. A libidinizagao do sono do bebé pela mae é apontada por esses autores como o prekidio a vida fantasmatica e onirica, em outras palavras, como abertura aos pro- cessos de mentalizagdo. O investimento ‘matemno, paraexcitante e tingido da ter- nura que provém de sua puls4o sexual ini bida quanto a meta, assegura a crianga 0 rebaixamento do ténus corporal ea integra- gdo progressiva dos autoerotismos, dando acesso as satisfagbes passivas, indispensé- veis 20s processos de interiorizacdo ¢ de coexcitagdo libidinal. A instalagdo do sis- tema sono/sonho assegura as bases do na cisismo primério e representa a primeira forma auténoma de identificagdo. Esse movimento € marcado pela descor dade do investimento da mie, que se des- via de sua crianga para se voltar ao pai da crianga. A mae, tornando-se amante do pai, impde & crianga uma censura, equi- valente a uma mensagem de castragio, designada por Fain e Braunschweig como a censura da amante, Nessa configuracio edipica precoce, altamente carregada de erotismo, a identificagao da crianga com sua mae ou, mais precisamente, a identifi- cacao da crianga com o prazer dos autores da cena primitiva, da qual ela é a0 mesmo tempo exclufda, torna-se 0 protétipo do traco mnésico inconsciente e dos primei- 10s recalques. A passagem do corpo a corpo da mae com seu filho ao corpo a corpo lise oie ada oul- rela res mo rei- po po Psicossométice pricancliica hoje: @ modelo pulsionel da Escola de Peris Dione Tabocot com seu amante exige, de sua parte, uma sélida ancoragem superegoica, herdeira de seu préprio Edipo, que assegure o trabalho de dessexualizagio e de ressexualizagao0 no nivel de seu pré-consciente. ‘As falhas nesse processo, resultantes dos ‘mais diversos obstéculos, fazem a crianga correr um risco permanente de desin cacdo pulsional, pois as massas de exci- tagdo sfo intensas ¢ necessitam da forga intricante de Eros para serem reguladas. ‘A instalagdo do masoquismo erégeno pri- ‘mario tem aqui um papel estruturante, de guardio da vida, pois somente aligagdo da libido as forcas da destrutividade, desen- cadeadas pelos estados de frustragao e de angiistias das mais diversas magnitudes, pode assegurar 0 fragil equilibrio. ‘Na auséncia ou insuficiéncia dos proces- s0s inricantes, no lugar dos fantasmas ori- gindrios organizadores e da riqueza da vida fantasmética, uma brecha se abre, na qual ‘um autoerotismo irrepresentével se instala. Para tratar dessa excitacdo indiferenciada, que 0s autores chamam de sensorialidade traumética priméria, sio convocadas medi- das calmantes para reduzir as excitagdes a zero, por meio das propriedades da pulsdo de morte. Estarfamos af no registro do cha- mado masoquismo erdgeno mortifero, des- crito por Benno Rosemberg (1995). Nessa conjungdo paradigmatica de um estado traumdtico que coloca em perigo a construgdo das bases narcisicas da criance, de acordo com 0 modelo de Michel Fain uma prematuridade do ego se instala, apoiada pelo sistema percepgao-conscién- cia e pela sensério-motricidade. Diferen- temente da configuragdo descrita, na qual a censura da amante € eficaz e alimenta © inconsciente recalcado, este sistema defensivo convoca a supressio e a cliva~ gem, deixando em suspenso 0s “restos” nao representados, 0s fueros evocados pot Freud (1950{1896]/1986), numa configura- ‘glo igualmente proxima da descrita por Ferenczi (1933/1999), em que prematuri- dade e clivagem sucedem ao trauma. Para 'A. Green (2002), processos dessa mesma ordem induziriam a uma introjegao do negativo. ‘Note que as defesas antitraumaticas do ego e a tentativa repetitiva de redusao da excitagdo deseritas na linhagem traumé- tica pela psicossomitica estdo na origem de uma série de procedimentos ditos autocal- antes, como propuseram G. Szwec (1998) ‘eC. Smadia (2001), assim como do funcio- namento operat6rio, considerado hoje em dia como um vasto sistema autocalmante. Para Fain e Braunschweig, em conclu- sdo, a fungdo matema estrutura 0 aparelho psiquico e organiza as pulsées parciais da sexualidade infantil, criando uma reserva de representagées mentais de natureza pst cossexual, aptasa ligar as excitagdes sexuais, assegurando assim 0 equilfbrio entre Eros € a destrutividade, indispensdvel 8 conserva- 0 do equilfbrio psicossomatico. ‘Nessa perspectiva, que integra a segunda t6pica, no podemos mais conceber 0 fun- cionamento do pré-consciente, tio impor- tante em nosso modelo depois de Marty, ‘como sendo apenas o lugar das represen tacées. No modelo pulsional da segunda 103 t6pica, 0 inconsciente abriga as mocdes pulsionais do id, “a mais velha provincia” nos termos freudianos de 1924, enraizadas nna organizagéo somética. No pré-cons- ciente atravessam as cargas energéticas pro- venientes do id, que exercem uma pressdo do inconsciente sobre o consciente € que esto em busca de qualificagdo, como enfa- tizou M. Aisenstein no recente artigo “As cexigencias da representagio” (2010). Trata-se de cargas de afeto, presentes de forma rudi- ‘mentar no id, verdadeiraforga pulsional em busca de significagio e, através desse mesmo movimento, em busca do objeto. ‘A questdo do afeto vem assim ocupar uma posigdo de destaque no léxico psicos- somético atual. Trata-se de restituir ao afeto seu lugar na teoria psicanalitica, enquanto quantidade psfquica vinculada as fontes sométicas da pulsio, e de redimensionar a importancia da eficécia da ligagdo do afeto & representago no trabalho de ela- boracao psiquica ~ principalmente por- que sabemos que este processo fracassa em uma clinica como a nossa, na qual o des- ligamento do afeto prevalece. C. Smadja (zon) indica, nesse sentido, uma passagem em O ego e 0 id em que Freud anuncia que as formagées de afetos podem chegar diretamente & consciéncia sem estar asso- ciadas &s representagdes e que, no plano clinico, elas tém a forma de descargas de afetos brutos e desorganizados. Estamos aqui outra vez no coragio das problemé- ticas contemporaneas do irrepresentavel, Revista Brasileira de Psicondlise volume 50, n.2 2016 do “informe”, da clinica da violencia, do ato e da somatiza¢ao. A partir dos trabalhos de Green, tomando aqui como referéncia 0 set livro O discurso vivo (1973), 0 afeto e a represen- tacdo sto considerados como duas moda- lidades do sistema representacional. Esse processo primitivo de qualificagao da quan- tidade de excitagdo no interior da célula afeto-representacao foi enfatizado por Green, que nota que isto pode ser alterado, objeto de desqualificagao e de requalifica- ¢fo, em fungdo das oscilagdes do equiltbrio de Eros e da destrutividade. No cerne desse processo, manifestam-se as diferentes figu- ras do trabalho do negativo. Ora, a depressio essencial, o estado que precede a desorganizagio somtica descrita por Marty encontrada regularmente em nossa clinica, €caracterizada por uma abra- sao dos afetos. Em certas organizagées, essa desafetagdo pode ser uma marca de funcionamento instalada muito precoce- mente. Joyce McDougall (1989) no ces- sou de apontar a questdo da desafetagao do “antianalisando", paciente para ela vulnerdvel & somatizagio. Na perspectiva greeniana, a neutralizagao de afeto corres- ponderia a uma repressio radical de todo espectto representacional. C. Delourmel (2014), em um texto publicado hé pouco tempo, elaborou essas questdes a luz da Escola de Paris. Eu o cito: “este processo de desqualificagio do afeto ataca a raiz. do pulsional, produzindo uma degradagio da splay ibn oe lise ne do 0 mn je sse an sla Dor to, ca rio sse ye ue ita 2m Te es, ce es ‘do cla iva es do rel co da sso do Psicossomética psicanalitica hoje: © modelo pulsional da Escola de Poris Diana Tabocot excitagdo que vai até os confins do id, isto 6 [0] soma” (p. 54). Neste sentido, a desor- ganizacao somatica € concebida como ‘uma figura do negativo. ‘Uma pequena digressio se impde aqui. E curioso observar que foi pela clf- nica das organizacdes no neuréticas (dos estadoslimite prineipalmente) e por seus impasses que a nogio de trabalho do nega- tivo surgiu € que a questio da destrutivi dade tornou-se um centro de preocupagbes na paisagem psicanalftica francesa contem- pordnea. Recordemo-nos que foi convo- cando 05 fatos clinicos que colocavam em. dificuldade o método analitico ~a neurose traumética, a compulsio a repeticdo, a rea- ‘go terapéutica negativa, o masoquismo — que Freud (1920/2002) avangou a ideia de tum além do prinefpio do prazer, em que dominam as forgas destrutivas. Notamos assim a continuidade existente entre nossas pesquisas psicossomaticas € 0 movimento evolutivo do pensamento ps canalitico. Essa evolugao da teoria ndo deixa de afetar o pensamento clinico, inclusive em sua dimensio técnica. Infe- lizmente, ndo posso aprofundar aqui essas questées fundamentais. Gostaria de concluir citando um traba- Tho de Claude Smadja (2011) em que ele afirma: “O ponto de convergéncia concei- tual entre as diversas correntes psicossomé- ticas é 0 dos lagos existentes entre a vida afetiva e os sintomas do corpo” (p. 148). Ele constréi esse artigo através de um habil desenvolvimento acerca da metapsi- cologia do afeto, da montagem pulsional e da formagio da dupla primordial afeto/ representagz0 ‘Vou extrair desse texto duas assergdes que sintetizam muito bem nossa proposta “Eu qualifico de trabalho de psiquizacdo do corpo o processo de transformagao do afeto que o conduz do seu estatuto incons- ciente 2o seu reconhecimento consciente” (p. 155). Em seguida: destino do trabalho de psiquizagdo do corpo depende do equiltbrio entre os meca- nismos de unio e desunido no interior da ligagdo do afeto e da representagéo.(...] E ‘mais fundamentalmente ¢ precocemente ainda, iso repousa na formagdo inicial da ccélula pulsdo-objeto, isto é, da unio do corpo com 0 mundo dos objetos. (p. 155) Tudo isso nos pareceria muito abstrato se ndo tivéssemos nossa clinica psicosso- mitica, mas nao somente, na qual se reco nhece imediatamente essas implicagdes ‘metapsicol6gicas. A clinica contemporanea nos convida continuamente a discriminar estes encadeamentos e desencadeamentos.’ Note 1 Agradegoa Ana Matia Baccari Kuhn por sua colabo- rato na adaptagdo deste texto ao portugués 105 106 Peicosomética psicoonaliica hoy: el modelo pulsonal de lo Escuela de Paris En este trabajo lat linea directrices del cuerpo teéricoclinico de la Escuela Psicosomética de Parts se esboran dentro de una perspectivahistrica, deide su fundacién en los aos 16 hasta nuestros das A partir dels obras recientes de sus seguidores, cl pensamiento de Pierre Marty, fundador de 1a prcosomtica prcoanaltica, es presentado ¥ atticulade aqui al modelo pulsonal feudiano post: tgao yl ego de fuerzas entre la pulsin de vids y Ja destructividad,integrindolo asi al movimiento del psicoanlisis francés contemporineo, Les tratornos de a economia psicosomtica se formulan a a Juz del problema del traumatismo, de la funcion del objeto y de oe resgos de desntieacin pulsional y desorganizacign del individu. Los fallos en los procesos de elaboracién pafquiea (la mentalizacin),propios dela somatosis, 56 sitéan en los fillos de la unin del afect ala representacion. ‘PALaBRAs CLAVE: excitacin;pulsin; desinrieacion pulsona;somatiacin; fect; representacion Referéacias _Aisenstein, M1990 propos dela dsidence, quelques Variations sur Texcittion et désinrcation pulsion- tele Revue Panga de Peychanalys, 543), 659-650. Aiserten, M. (200). Les exigences dela representation. Ree Frangais de Pychonayse, 74151355330 Botella, C. 204). De Iattention fottante™ de Freud 2 TMexpresion asoiative” de Marty. Revue Prangaise de Prychosomatique, 45, 83302 Dejous, C. (201) Le corps, fabord: corps biologique, con Gtigque et ses marl Pais ayo Delourmel C. 20) Aft et plsions en médecine et ten poychosomatque: questions clinique, thoriques et epstémologiques. Rene Fanpate de Prychosoma tig, 45, 4°75 Fain, Magy) Prlude& a wie fantasmatique, Revue Frangie de Pychanabe 35(°3) 29368 Fai, M (8), Ven conception pychosomatique de Tinconscient. Rerue Pangaite de Pychanae 45() Sop Fain, Mg). Péambule & une étude métapycholo- que dela vie opératoice. Rene Pang de Pycho tomatigue, 15979. Fain, M6 Braunschweig D. (173). Lamu, le jour es Ppockanayiquesuleonctonnement mena. Paris PF. Ferenez, 8, (1990). Confusion des langues entre le tule et enfant. In , Ferenczi, Oxwres completes Revista Brasileira de Psicandlise volume 50, 9.2 - 2016 Peychoanalyic poychosomatcs fey: ‘model érve theory) ofthe Pes School “The author outne, na historical penpetv, the uielines forthe theoreial and clinical framework ofthe Pris Pychetomatc School, ating Fom its foundation inthe Ses unt nowadays By studying Pere Mary's follower’ recent wos, the autor presents Marty's thinking, Marty was the pioneer ofthe pryhoanaltic prychoromatics. The author alo links Marys thinking tthe postasn0 Freudian érive theory, and to the balances between Iie dive and destructiveness. This emphasis places ‘Marty's work within the contemporary French prchoanalytie movement. Diturbances ofthe ‘yehosomtic economy are formulated in ight of the trauma sue the objets fineton andthe ik of insintalextcation, and disorganization of the subject The failures in the process of psychic elaboration (mentalization) which are pial of fomatosis leon the aus ofthe connection betmoenalfectand representation xerwonDs excitation; drive nstinetalextiaton; somatization; aft representation. pyhanalyse (C. Heron, Ted, pp 136198) Pas: Payot. (Trabalho original publicado em 1933) Feud (186) Let du 6 décembre 196. In 8. Freud, Te neitance dela peyehanalya (A. Berman, Ta. pp ispi6o). Pars: Fr. (Tablho orginal pbliado em 930(896)) Freud, & (991), Le moi ete ga In S. Freud, Oeuvres comptes). Altounian eta, Trads, Val. 36, pp spor), Pars: PUF. (Trabalho original publicado em 1923) Freud, & agg). Le probleme économique du maso- hiame. In Feud, Oewes comple (.Altounian tal Tags, VBL 17, pp 39a: Pr. (Tinbalho signal publicado em 192) Freud Sigg) Nouvelle suite des legos dintodueton ‘la pyehanalyse.InS. Freud, Oewres completes ‘Altounian et al, Trads., Vol. 19, pp. 165-194). Par (Trabalho original publicado em 1933) Freud, §. (2002). Aurdela du principe de plaisir. In S. Fre, Oesres completes (J. Altouian etal, Trade, Nols pp. 277338). Paris or. (Trabalbo orginal publiado em 1929). Freud, § (2010). Lhomme Mose et la religion mono- thééste In S. Freud, Ove eomplate (| Altouian etal, Tras, Vol. 20, pp. 7528) Pas POF (Tabalho exigital pblieado em 3939) ini oO nélse 2016 evel work thie Paris Feu, Trad, Ticado 6. pp. licado vbalho section es (. Ins. rads, iginal ‘balho ~ ia aaah Psicossomética pricanalitica hoje: © modelo pusional da Escola de Poris Dione Tabocof Freud, S. & Breuer, J. (1967). Etudes sur 'hystérie (A Berman, “Tin Pts rr. Talo orginal publica em 93) Green, A (973) Le dicount vivant. Pris: Pr. Green, A. (997). Le chatne d ror: dtuaités du exe Patis: Odile Jacob. Green, A. (2002). Idées directrices pour une psychanalyse ‘contemporaine. Pats: Po". ‘Marty, P. (1976). Les mouvements individuels de vie et de mont esi deonomie pychosomatque Paris: Payot Mary, Pig). Lode prychotomatiue Pais Pay Mary, (gh Des proces desomatiaton. In M, Fain &C, Dejouss Diss), Comp malade ters érotique (pp. ots) Pars Masson “Mary, (650) Le pehawomatique de ada Pai: Pr. Marty, P, M’'Uzan, M. de & David, C. (1963). Linves- tigation pychoromatiqu: sept obsenations clinique Paris: UF. ‘MeDougall, J. (198g). Les théétres du cone le prychosoma en paychanabe aris: Gallimard. [Recebide em 25.01.2016, aceito em 29.03.2016] Diana Tabscof 1, Boulevard de Clichy 75909 Paris “Tels + 33 6rosas499 itabacofafree MUzan, M. de. (1994) Esclaves dela quanti. In M. de MUzan, La bouche deFinconcient (pp. 155368) Pais Gallimard MUzan, M. de, (2009). Cinguante ans aprts.. Revie Frangaise de Pychosomaiqu, 35,935, Rosenberg, B (995). Masochismemertifwetmasochisme garden dela vie. Pais: Po. Smadia,C. (2001). La vie opatoire: des prychanaly. tiqus, Pais 0. ‘Smad, C. 2008). Les models peychanaiytiqus dea fy chosomatigu. Pats: PUP. Smadia, C. (Zo). Le travail de psychisation du corps. Revue Frangate de Prchovometique 39,4736 Smadja,C. (2015). Deuil, mélancolie et somatisation. ‘Renu Frangcite de Prychovomatique, 4,74 Sewec, G. (998) Les galéiens volotaires: essai url ‘procédé autocalmants. Pais: PU. “Tabacot, D. (2008). En gutted Eros. Revue Franpaive de Prychoromatique, 33, 165179 107

Você também pode gostar