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MILHO I

NíVEL DE CONTROLE
Até recentemente o controle de pra-
gas, de modo geral, era baseado na pre-
sença do inseto na cultura, independente
de seu nível populacional. No momento,
devido ao desequilíbrio biológico provo-
cado pelo uso indiscriminado de defensi-
vos, pelo alto custo destes produtos e por
maior conhecimento da bioecologia dos
insetos, procura-se controlar a praga so-
mente quando seu nível populacional
causa danos maiores do que o custo de
seu controle. O dimensionamento dos da-
nos provocados pela maioria das pragas
não é, contudo, conhecido. Especifica-
mente para as principais pragas do milho,
já se têm alguns dados que permitem sa-
ber quando combatê-Ias. Para isto, de-
ve-se conhecer o nível de controle (NC),
ou densidade populacional da praga, para
que sejam tomadas medidas para impedir
prejuízos na produção. Para se calcular o
NC das pragas, certos parâmetros, além
do dimensionamento dos danos, devem

MANEJO DE PRAGAS ser considerados: população de plantas,


estimativas da produção, estimativa do
valor desta produção (VP) e o custo de
tratamento (CT) da praga (inseticida +
mão-de-obra).

NA CULTURA DO MILHO MANEJO DAS PRAGAS


DO MilHO

/van Cruz j] da planta, fazendo uma galeria ascendente


• Pragas Subterrâneas
José Magid Waquil~ que destrói o ponto de crescimento da
Paulo Afonso Viana_l.f planta, o que provoca a sua morte. A la- No Brasil pouco se conhece sobre o
garta-do-cartucho alimenta-se das folhas dano provocado pelas pragas subterrâneas
centrais do milho, podendo matar plantas e a importância de seus inimigos naturais.
o milho é um cereal sensível a um novas ou causar sérios danos em plantas Recomenda-se o controle cultural sempre
complexo de pragas que podem se instalar maiores. que possível, utilizando-se rotação de
desde o plantio até o seu armazenamento. Um outro grupo de pragas que, de- cultura, controle de plantas daninhas e
Dentre estas pragas, citam-se o perceve- pendendo das condições favoráveis, pode aração após a colheita. Em casos de con-
jo-castanho (Scaptocoris castanea) e a causar problemas para a cultura inclui: o trole químico, o mais eficiente é o pre-
larva-arame (Conoderus spp.), que se curuquerê-dos-capinzais (Mocis latipes), a ventivo.
alimentam da raiz e da semente, respecti- broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea sac-
vamente. Outro grupo, considerado o charalis), o pulgão (Rhopalosiphum mai- • lagarta-elasmo
mais importante no campo, é representa- dis) e a lagarta-da-espiga (Heliothis zea). Segundo dados da literatura, o nú-
do pela lagarta-rosca (Agrotis ipsilon), la- Recentemente foi observada a presença mero de pesquisas sobre controle desta
garta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus) e de insetos adultos de cigarrinha-das-pas- praga pode se enquadrado, em ordem de-
lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugi- tagens (Deois flavopicta) atacando e cau- crescente de importância, em métodos
perda). A lagarta-rosca secciona o colmo, sando sérios prejuízos à cultura do milho quúnicos, culturais e biol6gicos. As la-
podendo causar a morte da planta. A la- em regiões do Mato Grosso do Sul, Goiás gartas desta praga são pouco afetadas por
garta-elasmo perfura um orifício na base e Minas Gerais. inimigos naturais, porque estão sempre

1/ EngP Agr'2, Pn. O, Pesq. EMBRAPA/CNPMS, Caixa Posta/151, CEP 35700 Sete Lagoas, MG.
2/ EngP Agr'2, Ph. O, Pesq. EMBRAPA/CNPMS, Caixa Posta/151, CEP 35700 Sete Lagoas, MG.
3/ EngP Agr'2, Pesq. EMBRAPA/CNPMS, Caixa Posta/151, CEP 35700 Sete Lagoas, MG.

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bem protegidas, ora dentro da planta ora períodos secos ap6s as primeiras chuvas. tram que o dano da lagarta-rosca depende
dentro de um casulo por elas construído. Também ela terá maior probabilidade de do estádio de crescimento da planta e
Cultivo, mínimo e manutenção da ocorrer quando se planta o milho logo também do ínstar da lagarta. Isto porque,
cultura livre de plantas daninhas servem ap6s o plantio de outro hospedeiro, como se o seccionamento provocado for acima
para reduzir a população de elasmo no o arroz ou trigo, ou em cultivos sucessi- do ponto de crescimento, a planta pode
campo. Corno a praga é adversamente vos de milho. recuperar. Diante desse fato, foram con-
afetada por alta umidade no solo, se esta Quando se optar pelo tratamento de feccionados os Quadros 2 e 3 que podem
condição ocorrer durante o plantio e per- sementes, o método mais econômico, de- ser aplicados no Brasil, principalmente
sistir por cerca de 30 dias, dificilmente ve-se plantar a semente tão logo seja feita nas regiões onde se obtêm altas produti-
o inseto causará danos à cultura. A irriga- a mistura com o inseticida, para evitar vidades.
ção é, portanto, uma prática que ajuda possíveis problemas fitot6xicos, reduzin-
a reduzir as infestações da lagarta-elas- do assim a germinação das sementes.
Quadro 2 - Largura de Cápsula
mo.
A decisão sobre o uso de produtos
Cefálica da Lagarta-rosca nos
• Lagarta-rosca
químicos deve ser baseada no nível de Dif s Ínstares
controle mostrado no Quadro 1. Neste A lagarta-rosca não em sido proble-
quadro, tem-se o nível de controle para mática para a cultura de milho no Brasil, a
diferentes valores da produção e de custo não ser em áreas de baixadas e/ou áreas
de tratamento, com umidade de solo favorável à praga.
Como os inseticidas aplicados logo Portanto, em regiões cujo plantio é efe- 3
ap6s o aparecimento da praga não têm tuado em solos mais secos, como o cerra- 4
dado bom controle, recomendam-se os do, por exemplo, o inseto não tem causa- 5
inseticidas sistêmicos granulados, aplica- do problemas. 6
dos no sulco de plantio ou misturados à O controle biol6gico desta praga, 7
semente, como o carbofuran ou thiodi- à semelhança do que ocorre com a lagar-
carb. Neste caso a aplicação será preven- ta-elasmo, não tem sido eficiente, princi-
Método de Amostragem
tiva, o que, na maioria dos casos, é viável, palmente pelo fato de a praga ficar es-
dado ao baixo valor do nível de controle condida sob a terra, protegida contra os - Selecionar cinco pontos da cultura.
(Quadro 1). Mesmo assim deve-se levar inimigos naturais. Inspecionar 20 plantas consecutivas,
em consideração, na decisão de usar pre- Existem poucos trabalhos sobre o ní- anotando-se o número de plantas ataca-
ventivamente ou não o inseticida, que a vel de controle desta praga no Brasil. das. Determinar a percentagem de plantas
praga ocorre com maior freqüência em Entretanto, dados da literatura interna- infestadas em cada área amostrada e ex-
culturas instaladas em solos arenosos e em cional, principalmente americana, mos- trapolar para a área como um todo.
- Contar e anotar o número de fo-
lhas totalmente abertas, na 19~ e 20~
planta de cada área amostrada. Determi-
nar o número médio.
- Coletar no mínimo dez lagartas vi-
(i1ustode vas. Utilizando o Quadro 2, computar as
Tratamento medidas de cápsula cefálica e determinar
(BTN) 135 180 225 270 314 o Instar médio das espécimes coletadas.
- Entrar no Quadro 3. No ponto de
interseção entre Instar médio de lagartas
(horizontal) e número de folhas inteira-
mente abertas (vertical) tem-se a percen-
tagem de plantas cortadas ou danificadas,
acima da qual se deve decidir sobre o
t
V1Válores cor
controle (Nível de Controle). Uma vez
decidido sobre o controle químico da pra-
1
I
mente. ga, deve-se ter o cuidado de dirigir o jato
BTN = 2,6956 (setembro/89) da calda de inseticidas para a base da
Preço por saco de 60 kg = 5,56 BTN planta, que é o local onde a praga ataca.
F6rmula para cálculo: NC (%) = 100 CT
VP • Lagarta-elo-cartucho
A lagarta-do-cartucho no milho,
além de ser a praga mais disseminada no
Brasil, é, sem dúvida, a mais importante.

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tura de milho. Entretanto, quando ocorre,
vem em grandes populações, o que causa
sérios prejuízos, pois ela destrói total-
mente a área foliar da planta, deixando
apenas a nervura principal. O controle
químico deve ser realizado imediatamente
após constatada a presença de lagartas na
lavoura. Como o inseto ataca primeira-
mente gramíneas nativas ao redor da la-
voura de milho, deve-se, como medida
cultural, deixar a cultura no limpo, isto é,
eliminar os hospedeiros intermediários .

• Broca-da-cana-de-açúcar e Pulgão

Os danos ocasionados por estes in-


setos à cultura do milho não têm sido sig-
nificativos a ponto de justificar o seu
controle.

Embora possa atacar a planta em todos


estádios de crescimento, esta é mais sus-
cetível a ataques iniciados no estádio de
8-10 folhas, ou aproximadamente 40-50
dias de idade, quando os danos provocam
uma queda na produção em média de
20%.
o controle cultural através da aração
após a colheita tem a fmalidade de matar
as pupas do inseto diretamente por esma-
gamento ou indiretamente pela exposição
dos raios solares. Estes provocam uma
elevação da temperatura na superfície do
solo, que podem atingir até 55°C. Manter
a cultura no limpo, eliminando-se prová-
veis hospedeiros da praga, também ajuda
a diminuir a infestação na cultura princi-
pal.
Diversos parasitos e predadores são
citados como fatores reguladores im-
portantes da população natural da la-
garta-do-cartucho. Atualmente tem-se
estudado, no Centro Nacional de Pes-
quisa de Milho e Sorgo - CNPMS, da
EMBRAP A, o predador de ovos e larvas
recém-nascidas, o inseto conhecido vul- se por esta última modalidade de aplica- • Lagarta-da-espiga
gannente como tesourinha (Doru luteipes ção, deve-se utilizar bicos do tipo leque, Os dados da pesquisa têm demons-
- Forficulidae, Dennaptera) e o vírus 8002 ou 6502 que, além de manterem a trado que esta praga não é problemática
NPV, do grupo Baculovirus. Ambos têm- eficiência dos inseticidas, são também para a cultura do milho, quando este se
se mostrado promissores no controle da econômicos do ponto de vista de consumo destina à produção de grãos. A sua im-
praga. de água. Em locais onde ocorre a "tesou- portância é maior no caso de exploração
A decisão sobre controlar ou não a rinha", produtos seletivos como delta- de milho verde, especialmente no caso de
lagarta-do-cartucho deve ser baseada no methrin, pennetrin, methomil, triclorfon milho doce. Neste caso, a importância do
nível de controle mostrado no Quadro 4. ou carbaryl são os indicados. ataque do inseto está relacionada mais ao
O Controle químico desta praga pode ser aspecto visual da espiga do que propria-
• Curuquerê-dos-capinzais mente ao aspecto de perda em peso. En-
feito mediante o uso de inseticidas gra-
nulados ou veiculados em água. Optando- Esta é uma praga ocasional na cul- tretanto, considerando-se a dificuldade de

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MILHO I

Quadro 5 -lnseticidas Registrados para o Controle das Pragas da Cultura do Milho em Condições de Campo

Formulação 11 Dosagem Período


Princípio
e por de Carência Pragas
Ativo
Concentração l1ectare (días~'

Baccilus
Thuringiensis

Carbaryl
PM3,2

P 5,0
0,5kg

24kg 14
• Curuquerê-dos-capinzais
lagarta-do-cartucho

Curuquerê-dos-capinzais
e

P7;5 18 kg 14 Lagarta-do-cartucho
P 50 2,3 kg 14 Lagarta-elasmo
PM60 1,9kg 14 Lagarta-da-espiga
PM80 1,5 kg 14 L~garta- rosca
PMS5 1,2kg 14
G5,0 20kg 14
CE40 2,SQ 14
SC 30 3,3Q 14
SC36 2,SQ 14
SC48 2,1 k 14
FW48 2,2Q 14
FW 50 2,2Q 14

Carbofuran 05,0 30kg - Lagarta-elasmo


-
Se35 ,
'lSQ2
Chlorpiriphos CE44,8 0,5Q 21 Curuquerê-dos-capínzais
Ethyl Lagarta -do-cartucho

Deltamethrin CE2,5 0,15 Lagarta-do-cartucho


Demethon

Methyl CE 18 0,5 21 Pulgão

Díazinon 1> 2,5 20kg 14 Cagarta-do-cartucho


P 5,0 lOkg 14 Pulgão
PM40 1,2kg 14 Broca-da-cana-de-açúcar
Curuquerê-dos-capinzais,
ti lagarta-do-cartucho e
lagarta-espiga
G 14 lOkg 14 Lagarta-do-cartucho e
lagarta-rosca
CE60 1Q 14 Broca-da-cana~de~açúcar,
't(I,jffií ciftUquerê-dos-capinzais,
lagarta-do-cartucho,
,
lagarta-da-espiga e pulgão
---t
EPN CE45 0,5 Q 14 Curuquerê-dos-capinzais

•Fenitrothion CE50 1,3Q 14 Lagarta -do-cartucho

Malathion CE50 1,5 Q 7 Lagarta-do-cartucho


CE60 1,3 Q 7 Curuquerê-dos-capinzais
e pulgão %

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MILHO I Contínuação
. -

Quadro 5 - Inseticidas Registrados para o Controle das Pragas da Cultura do Milho em Condições de Campo

Methomyl

PS90 O,40kg 3
SC 21,S 1,7 Q 14

Parathion
!!Ethyl

Permethrin Lagarta-do-cartucho

Tetrachlorvinphos PM50 l,2kg 10 Lagarta-do-cartucho

-do-car
lag ta-da-espiga
Cumquerê-dos-capinzais,
lagarta -do-cartucho,
lagarta-da-espiga e
lagarta- rosca

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MILHO I
se fazer um tratamento quúnico em uma • Cigarrinhas-das-pastagens dois dias após a manifestação dos sinto-
lavoura de milho já formada e a carência mas. Plantas mais desenvolvidas (acima de
Os dados de pesquisa já disponíveis,
dos defensivos, não se tem recomendado 17 dias) já toleram bem até níveis mais
gerados pelo CNPMS, embora não per-
o controle desta praga com inseticidas. altos de infestação.
mitam determinar exatamente o nível de
Para a lavoura destinada à exploração de Finalmente, o Quadro 5 mostra os
controle da praga, indicam que plantas jo-
milho verde, deve-se adotar o controle produtos registrados no Ministério da
vens, ou seja, com idade de cerca de dez
mecânico, ou seja, eliminação da ponta da Agricultura para uso contra as diferentes
dias, são muito sensíveis ao ataque da ci-
espiga com um facão, por exemplo, onde pragas da cultura do milho.
garrinha. Dois insetos adultos por planta
geralmente a praga está localizada por ocasionam severos danos. Infestações
REFERÊNCIA
PARDUE UNIVERSITY. Field crop insect
ocasião da comercialiaação. Devem-se com três cigarrinhas por planta provocam and weed pest management decision -
utilizar cultivares que apresentem bom sintomas de ataque dois dias após a ocor- making guide. Indiana, Cooperative Ex-
empalhamento da espiga. rência. A morte da planta pode ocorrer tension Service, 1979. n.p.

MANEJO DE
"
IRRIGA~AO E FERTILIZANTES NA
CULTURA DO MILHO
Morethson Resende 1/ positivamente, como: cultivar, espaça- MANEJO DE IRRIGAÇÃO
Vera Maria Carvalho Alves 2/ mento e população de plantas, adubação,
Gonçalo Evangelista de França f/ manejo de irrigação, controle de insetos e Considerando que a irrigação é um
José de Anchieta Monteiro ~I plantas daninhas, dentre outros. complemento tecnol6gico para obtenção
Embora a área irrigada no país venha de altas produtividades e de alto custo,
apresentando incremento significativo, a após a implantação de um projeto de irri-
baixa produtividade e a falta de alternati- gação, o produtor necessita ser orientado
INTRODUÇÃO
vas de culturas para uma exploração in- para que possa obter o máximo rendi-
O uso de irrigação pressupõe dois tensiva têm sido os principais problemas mento do sistema em uso. Esta orientação
princípios básicos: primeiro, o uso inten- para o produtor rural após a implantação técnica em manejo de irrigação significa
sivo do solo; e segundo, o emprego de alta de um sistema de irrigação. O milho tem estabelecer lâminas de água a serem apli-
tecnologia. sido considerado como uma alternativa, cadas e determinar o momento de apli-
Assim, é importante diferenciar agri- principalmente para o cultivo de verão. cá-Ias. As fases mais críticas à deficiência
cultura irrigada de agricultura de sequeiro Esta cultura pode alcançar altas produti- de água na cultura do milho são, em or-
mais água, sendo que a primeira, devido vidades, principalmente com o uso ade- dem decrescente, o florescimento, enchi-
aos altos custos de investimento e opera- quado de fertilizantes e um bom manejo mento de grãos e desenvolvimento vege-
ção do sistema de irrigação, faz com que a de irrigação .. Por isso, este trabalho dará tativo (Eck 1986; Museck & Duser 1980;
viabilidade econômica dependa de altas enfoque especial a estes tópicos, além de Beltrame & Oliveira 1986). Denrnead &
produtividades. Portanto, é necessário considerações econômicas sobre milho ir- Shaw (1960) apontam reduções na produ-
que um conjunto de fatores se integrem rigado. ção de milho de 25%, 50% e 21% quando

1/ Eng9 Agr9, Ph.D, Pesq. EMBRAPA/CNPMS, Caixa Posta/151, CEP 35700 Sete Lagoas, MG.
21 Eng? Agi', M.Sc, Pesq. EMBRAPAICNPMS, Caixa Posta/151, CEP 35700 Sete Lagoas, MG.

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