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RELATORIO DA COMISS#O DE AVERIGUACKO DE VIOLENCIAS SOBRE FRESOS SUJETTOS ‘AS_AUTORIDADES MILITARES (Naneada par resoluggo do Conselho da Revolugao, de 19 de Janeiro de 1976) DoIce pag -s Capitulo I - Intredugio see eeereeeee Capitulo II - Gencralidades . Capitule III - Queixas e averiguagées A~ Preambulo . B - 28 de Setantro de 1974 C = ll de Margo de 1975 Cl = Bn Lisboa... C2 - No Parto wee (3-H Beja... C4 ~ duventude Centrista eesseeree D = 25 de Noventrro de 1975 see ee eee E ~ Fx-Regimento de Policia Militar (RPM)... 64 a 76 F ~ Regimento de Artilharia de Lisboa (RALIS) . 71 a 84 6 ~ Diversos G1 - Servigo Director ¢ Coadenalar da Informgio (SICT) we eeee G2 - Prisdes em 28 de Maio ic 1975 ...... 86 a 89 Prisdes nos Agares - JUN7S 90 eg G4 - Prisées em Cabo Verde... wn 92 93 3 G6 ~ Geupagio © desuzupydo da Herdaie do Rondo ~ Cancetho de Odanina sss a 98 GE ~ Elenentos e Colabrraicres da PIDE/DGS a 104 GT = Outros casos ais Capitulo IV ~ Amreciagdo @eftica - Recanerdagics A ~ Aweciagdo critica seeseeeees cesses 116 a 133 B ~ Recemerdagdes Capitulo V ~ Conclusées finais Nota final e assinaturas sees ee Declaragées de voto eeee eee 1 ~ INTRODUGAO A Canissdo de Averiguago de Violéncias sobre Fresos Sujeitos 4s Autoridades Militares foi aviaia por Resolug&o do Conselho da Revolugao, de 19 de Janei- vo do ano corrente, publicada no Diario do Governo, I Série, de 29 do mesmo més, sendo constituida por quatro militares (o Presidente e trés representan ‘tes dos diferentes vamos das Forgas Armalas) e quatro civis de formigo ju- ridica (um juiz de Direito, nanewio pelo Ministério da Justiga, e trés aivo galos designatos pela respectiva Ordem). A posse foi conferida pelo Presidente da Repiblica em 26 de Janeiro e a Co- misso inicion inediatamente os seus trabalhos. 2 - A Canissdo foi assinado o prazo de 60 dias para realizar o inquérito e apre- sentar o respectivo relatGrio. Porém, tal prazo teve que ser prerregaio, pois doutra forma seria impossivel fazer averiguacSes can um minimo de pro furdidaie e extensio. & que, enquanto os elementos militares da Omissao se pitleram dedicay a tempo inteiro aos trabalhos do inguérito, os elementos ci- vis tiveram de conciliar a sua vida profissional can as exigéncias da tarefa de que faram encarregados. 3 = No preambilo da aludida Resolugao, 0 Conselho da Revolugao justificou os mo ttivos que determinaram a criagSo da Camisséo. Por un lao, teve em conta "as queixas que tém chegado ao Conselho da Revo- lugao, ¢ de que a imprensa se tem feito ecc, de prisdes arbitrarias, de fal ta de garantias juliciarias, de tortura, tratamentos ceuéis, desumanos ou degradantes da pessoa humana, ¢ de cutras vicléneias e abusos canetidos no acto da prisdio, e durante esta, por autoridates militares ou a coberto de- las, desde 25 de Abril de 1974 até ao presente". Por outro lado, considera: que “a instituigao de um sistema polftico-juridi co em que se varificassem o respeito pela pessoa humana e as garantias cons tantes da DeclaracZio Universal dos Direitos do Homem foi uma das mais no- bres finalidades da Revolug’io de 25 de Abril". Pode, pois, dizer-se que foram as proprias Forcas Armadas que tomaram a de- cisdo de mandar averiguar a corduta de alguns dos seus membros, facé aos cla mares de uma opinido piblica que no padiam ignorar. Ao conferir posse aos seus membros, o Presidente da Repiblica, simultaneamen te Chefe do Estalo-Meior General das Forgas Armadas ¢ Presidente do Conselho da Revolug3o, considerca que a CanissZo visava um objective que "'se revestia de inportancia primordial pera a danoaratizagio da vida nacional". E, contrapordo a justiga face 4 tirania, e a liberdale face 4 opressio, o Chefe do Estado, invocando o direito das gentes, que respeita o préprio ini migo, marmente quando prisionciro, ndo deixau de referir que os factos cujo conhecimento deu origem & constituigSo da Caniss%e conf iguravam crimes gre- ves, a que os militares cram particularmente sensiveis, punindo can extrema gravidade os seus infractores. NGo @ 36 a Declaragiio Universal dos Direitos do Hanem, cujo 279 aniversario ainda ha pouco se comemarau, que cordena a prisao arbitraria, a tortura, os tratamentos crudis ai degraiantes, a falta de garantias de defesa. Dum modo geral, todas as legislages do Mundo punan ean severidade infrec- des deste tipo, muito cmbora haja tanto mais dificuldade om detect4-las quanto mais autoritdrio for o regime politico dos paises en que ocorram. Crimes dessa natureza so gevalmente praticalos por autoridales ai forgas polfticas que actuan protegidas pelo Estaio, o que torna mito rare, dificil e até perigoso, detectar as vicléneias. $5 uma verdaleire Democracia tem en si forga suficiente para derunciar ou consentir que aitros denunciem as vi- cléneias sobre os direitos humanos. Nesse aspecto, e quanto a esta Conisso, a joven Democracia Portuguesa revelai-se suficientenente forte para nio te- mer a deniincia daquilo que estd errade a1 merece piblica censura. Portugal aderiu aos principios humanitarios, no s6 nas convengdes interna- cionais, camo no seu direito interno. So exemplo disso varias disposigdes do C&digo Penal, do Cddigo de Processo Penal e da Reforma Prisional, onde se proibem ¢ punan violéncias sobre os presos e os tratanentos discriminatérios ca vexatérios, e se respeita o direito da defesa. Tanbém 0 Cédigo de Justi- ga Militar, mau grado a necessidade da sua gente actualizagao, manifesta a preoaupagio da defesa, mesno oficiosa, dos presos sujeitos ao foro militar. A Constituigdo da Republica Partuguesa, que acaba de entrar an vigor, consa~ gra mumerosos artigos & garantia das liberdales individuais do cidaigo, ins- pirando-se no respeito 4 lei demor&tica e na dignidade da pessoa humana. TT - GENERALIDADES 1 - A Canissao nao sofreu pessies fosse de quem fesse, nem Ihe foram feitas, di recta ou iniirectanente, quaisquar sugestées. As dificuldades que lhe surg: ram, ¢ qie mais adiante se relatam, resultaran dcutras circunstancias. ‘A Oomisso cuviu quam julgou fitil cuvir, atemleu queixas a exposigdes, de militares e de civis, deslocou-se a unidates © a estabelecimentos prisionais militares, observou celas disciplinares, estove em locais de interrogatério, censultoa processos j4 orgenizalos cu arquivaios, nao podendo no entanto dei, xap de assinalar que a negagde de acesso a determinslos processes em segrelo de justica constituiuum séio obst&culo 4 pessibilidade de averigiar o fun- danento de algumas queixas. Obteve a colaboragac de entilales militares e civis mas deparou com algumas incompreensdes . Forem postos 4 sua disposigio os meios matariais de apoio indispensSveis ao cumprimento da tarefa assumida, inclusivamente a colabaragio de mis quatro elementos militares. 2 - No se fez, nem era Ielto fazer, qualquer distingio de ordem politica entre os queixosos cu entre os presumiveis culpalos, que expuscram livrenente, por escrito, tule o qe quiseram, ditaram directamente as suas declaragées ou in, teeferiran activanente na elaboragSe das mesmas. N&o foram acolhidas, par ra vies Svias, queisqer dentncias antnimas . os acusados foi dada a possibilidaie 1e prestarem ou deixarem de prestar declaragées e de se assistirem de alvogaio ou defensce militar, se o pret dessem. 3 ~ Para além de repetides convites feitos na Inpensa Jiapia, que motivaram a apresentagao de queixas, foram mmerosas as entidades militares ¢ civis is quais a Comissio se d. posigdes cu requerimerttos, fotoodpias de processos, ete. gu para obter clementos de apreciagdo, cépias de cx Entre as entidales a quem foi paiida mis directa colabarag& a Policia Juliciaeia Militar, a Comissio para Exame e Destino a dar a Docu- > mencionam-se mentos do extirto COPCON, o Servigo de Coordenagao da Extingao da PIDE/DGS flitar de Lisboa. € LP, 08 Servicos Prisionais Militares e 0 Gov Entre as entidaies civis contactalas, referem-se a Ordem dos Alvogados, a respect iva Comissao dos Direitos do Hanem ¢ a Liga Portuguesa dos Direitos do Honen. politica e ‘Tanou-se conhecinento dos relatGrios feitos acerca da situa! social do nosso Fais, com seus reflexos nos direitos humanos. Assim aconte- ceu com o miito campleto relat@rio da"Ligue Belge pour la Défense des Droits de i'Hionme" © com os produzidos pela "Union Internationale des Juristes", pela "Amnesty International” e pela Cruz Vermetha Internacional. A Comisso pretenian informar-se e documentar-se o mais possivel, para se integrar na averiguagZo dos factos e, apesar das dificuldades de certa cr- dem can que deparou, averigucu para cima de 200 queixas, ouviu algumas cen- tenas de pessoas ¢ examinou centenas de documentos, totalizando varios mi- Thares de paginas os processos organizaios. 0 trabalho da Canissdo s3 nao foi exaustivo porque, para o ser, teria que demcrar largo tempo, cm utilizag3o de meios de investigagio, pessoais e materiais, que nao se ajustarian natureza de um inquérito deste tear, ne- cessariamente rapido para que os seus resultados nfo fossem apresentates quando a mat@ria a investigar ja estivesse ultrapassada cu, até, esquecida par novos acontecimentos da vida nacional. HA, param, que destacar duas dificuldaies com que se debateu a Comissao. ‘A primeira residiu an que Ihe ndo foram fernecidos, ou desapareceram por forga das mutagdes bruseas da RevolugSo Portuguesa, além de cutros documen- tos, muitos requerimentos, petigdes ou protestos das pessoas detidas ou vi- ‘timas de violénci, justiga, camo j4 foi referido. as, assim como nfo teve acesso a processos em segredo de A segunda dificuldate esteve om que miitas pessoas que foram vitimas de vi- olncias, de tratamentos inumanos, de discriminagdes, de prisdes arbitrari- as, nfo apresentaram queixa & Comissao. E se alguns o nao fizeram por pudor cu até receio de consequéncias de ordem pessoal (certos presos maltratados nfo estariam inocentes da pratica de actividaies delituosas), o que ficou patente, e € mis grave, foi o facto de muitos temeren que os carcereiros de conten, ainda que prosentemente afastalos dos ongacs do poder, pulessem re- gressap ao oxercieia das antigas fungdes; isto os levou a eximir-se quanto puteram a prestar declaragées. Deve ainda acrescentar-se a atitude generali- zada de deserenga nos resultados priticos de "mais um inquérito". Enbora se saiba que nao vai ser de um dia para o artro que se modificara es- te estado de espirito, reflexo de uma certa inseguranga que as mutagdes beus cas de opientagSo da polftica nacional explicam e, até, justificam, no po- de deixar de se realgar que a consolidagdo das néveis InstituigSes Democra- ‘ticas Portuguesas tard de ser obra laberiosa de todos os cidadaos, ainda que realizala 4 custa de incémodos, mas de modo a erraiicar definitivamente os excessos © atropelos, venham de onde vierem. Sempre que lhe foi possivel, a Canissiio solicitou, e em alguns casos conse- guiu, que fossem reparadas situagdes andnalas. Assim, interveio na restituig&o de objectos indevida e inittilmente apreenii- dos no acto das capturas au das buscas daniciliarias; na cessagio de algumas media: domic#lio; na alteragio de férmulas nos mandaios de soltura, susceptiveis de residéncia fixa a1 de interdigSo de saida do Pafs cu da area do de causar prejuizos miteriais cu morais aos libertalos; no estabelecimento do prineipio de que todo o preso tem direito 4 assisténcia juridica do seu defensar, a quem poderd cutorgar procuragiio sempre que o pretenda; fazendo ver junto de entidaies responsaveis e interessaies no estabelecimento de re- gras democraticas em Portugal, da urgente necessidade de reformar a legisla gS, sobretuio militar, om matéria de garantias juliciarias. Conforme 44 se afirmou, a Canissdo nao teve possibilidade, nem de tempo nem de meios, de levar a averiguaco dos factos que se revelaram ser da sua can- peténcia até 5 incriminagHio de eventuais culpados. Nem essa era a sua missaa Tal como, ainda recentemente, estabeleceu o decreto~lei n? 285/75, de 21 de Abril, que aprovou o Regulamento do Servigo de Policia Judiciaria Militar, a este organismo que pode ser cometida a investigago dos crimes sujeitos jurisdicio militar, a descoberta dos seus agentes ¢ a instrugio dos res- pectivos processos. pr ay Dai que esta Caisse va propor a renessa Aquele Servigo de tados os proces, 508 que organiza, os quais indo accmpanhalos de relatdrios parciais can vista a facilitar a sua tarefa, sintetizamio os iniicios apuraios ¢ alguns apontanio os presumiveis arguides. A CanissGo conduziu as suas aver’ pages nfo tanto cam 0 propésito de escla recer na méxima profundidade as queixas concretas que Ihe foram chegando, bem cane as de que foi tendo conhecimento, mas principalmente por forma a conseguir uma visdo geval do que se passou, em matéria de prisces, nas da~ tas mais significativas de todos conhecidas e en certas unidades a: estabe~ lecimentos militares. Por isso, o relato des factos vai surgir can referéncia As prisdes efectua- das na sequéncia dos acontecimentos de 28 de Setembro de 1974, de 11 de Mar go de 1975 (can sua especial incidéncia en Lisboa, Porto © Beja), de 28 de Maio de 1975, @ de 25 de Novembro de 1975, As ocarridas no Regimento de Polfcia Militar ¢ no Regimento de Artilharia de Lisboa, passando par outros grupos de cascs de menor relevo ¢ pela actuagéo das autaridades que estive- ram no centro destes acontecimentos. Por se julgar de maior clareza de exposigiio, a Comissdo eruncia no final de cala uma das rubricas a simila dos factos mais significativos que considera apuraios, reservardo para outro capitulo a sua apreciagao critica de conjun to © as recomentagSes sobre as providéncias qu: importa adoptar. Merece mengZo especial o facto de s6 muito raramente apanecerem indicados no relatério os nones dos intervenientes nos factos, quer queixoses quer a~ cusaios ax outros. A Comissdo considerou desde inicio que 2 divulgagao pu- blica das identidades daqueles a quen se atriluem responsabilidades por a tropelos praticalos, é matGria de extreno melinire, dada a fase prévia des- ta imiagagio, sd se justificando depois de apurada ¢ reconhecida definitive, mente pela autoridade judicial cu disciplinar campetente. Prejuizos imepa~ raveis de arden pessoal poderiam resultar de diferente atitude, além de uma perniciosa influéncia na isengSo dos que tiveram que julgar. Quanto as vita mas, entendeu-se que a divulgagio da sua identidate poleria ofenier senti- mentos de puior e desrespeitar o resguardo da devassa piblica dos actos que as ofenderam. -10- Todavia, no se usou essa reserva nos relatGrios parciais, a que j4 se alu- diu, dada a sua finalidade e 0 facto de nio se destinaren a ser divulgaics a0 piblico. Também, par outro lado, a Comissao abriu algumas poucas excepgdes para os casos de queixosos cujas identidales se tornaram sobejamente conhecidas do pdblico e ainda para a referéncia a algumas entidades que s6 pela simples meng&io se tornam identificdveis. Fé-lo, no primeiro caso, por considerar nao existirem os inconvenientes acima inlicados e, no segundo, por nao ser pos~ sivel, sem absurdo, ir mais além no grau de abstrago. -u- TIT - QUEIXAS E_AVERTGUAQOES 2 A ~ PREAMHJLO 1 ~ Ao longo das queixas e averiguagdes a que se vai fazer referGncia, surgirdo alusdes diversas as entidades que pediram, ordenaram e executanam pris’ os durante o perfodo a que as diligéncias da Camissao se reportaram. Parece-nos pois opartuno dar una visio ampla, mas rigarosa, do que, na matéria, aconte ceu, ao mesmo tempo que se procurana articular com a estrutura legal ao tem po vigente. 1.1 - Muitas das prisdes efectuadas depois de 25ABR74, e de que agora ha queixas, fooam cedenadas e efectuadas pelo Comando Operacional do Con tinente (COPOON). Porém, algumas delas a pedido de outras entidales, a saber, do Servigo Director e Coordenalor da Informaco (SDCI), do Servigo de Coordcnag&o da Exting%io da PIDE/DGS ¢ LP, da Comissdo ad hoc para 0 "28 de Setenbro", da Comissdo de Inquérito ao "11 de Mar- co", do Gabinete do Primeire Ministro, do Gabinete do Almirante Rosa Coutinho. Salvo quanto aos pedidos de deteng3o farmulados pelo Servigo de Coor- denag&o da ExtingSie da PIDE/DGS e LP, que j4 constavam de mandado de captura e que 0 COPCON se limitava a executar, ere o COPCON que emi- tia o mardado, assinaio pelo Atjunto do Canandante, mais tarde Conan dante. Estd averiguaio que esta entidade assinou em branco muitos impressos de mandaios de captura, alguns dos quais sairam assim do COPOON. Em grande parte das prisdes, o motivo invocado foi a suspeita de o deti- do pertencer a uma associag3o de malfeitares - art. 263? do Cédigc Pe nal - construgio juridica que levantou justificales reparos, sendo certo que oom ela se pretendeu formalizar a pri pa forma. de pessoas sem cul, 1.2 = Na versio do Conantante do COPCON houve duas razdes determinantes da 13 - -n- ] Ip atribuigao de competéneia a esta entidade para ordenar e executar pri- sGes. Por un lalo, o Cemudo Distrital de Lisboa da Policia de Segu- vanga Piblica, alguns diss antes dos acontecimentos de "28 de Setem- bro", recusara-se a efectuar prisGes ordenadas pelo Servige de Coor- denagao da Extingio da PIDE/DGS ¢ LP cm virtude de nao Ihe reconhecer campeténcia legal para o cfeito. Por outro lado, deteccada a acti dade de civis empenhatos na aquisig&o de arms, a qual se pensava re~ Jacionala can a preparagdo da manifestagao da "maioria silencicsa", foi considerato inperioss proceder A captura desses suspeitos. paf que, em reuni3o realizada na residéncia oficial do Primiro Minis tro, cm a presenga de elementos da Conisséic Coordenalora de Novimen- to das Forgas femadas, Chefe do Estado: General das Forgas Arma- das (CEMSFA), Princire Ministro e outros militares, tivsse sido deci dido que forgas militares, scb o Comando do COPCON, efectuariam as prisdes reforidas, tendo sido cometida ao Comandante Adjunto daquele orgie a respensabilidade da assinatura dos marlalos de captura que fosse necessario emitir. ‘A Directiva n? 1, de 100UI74, omanada do CEMGFA, conferia expressamen te ao Comandante Adjurito do COPCON campeténcia para a passagem de man. dados de busca, captura © soltura, can delegagSo nos Cmardantes des Regides Militaces, salvo Lisboa. Ai se dizia sor “absclutanente proi- bida qualquer iniciztiva ca participagiio de elementos civis nas ac~ Ses de busca © captura” deverdo ser severamente punida qualquer in~ fracofis desse tipo. Existe cnotagiio de ter sido enviada uma cSpia des, ta directiva ao Gabinete do Ministro da Justiga. Vojams © que s¢ passa quanto 4 definigfio da competéneia para instru gio de crimes contra 2 soguranga do Estalo. Logo am 25ABK74, perante a exting’io da Direcgao-Geral de Seguranga, o art. 69 do Dec. Lei. n? 171/74 atribuiu & Policia Juliciaria competi cia pera "efectuar a investigacSe des crimes contra a seguranga inte- pior ¢ exterior do Estaio, procederro 4 instrugao preparatéria dos pespectivos processes". Este texto aparece apoiaio no Programa do Mo~ vimento das Forgas Ammadas, lei constitucional publicada em anexo a la 1S - -1B- Lei n? 3/74, de 14 de Maio, quanio, em B) - Medidas a curto Frazo - nimero 5, alinea e), 2), dix: "Os crimes cometidos contra o Estado no novo regime serdo instrul dos por juizes de Direito e julgalos em tribunais ordinarios, sen do datas todas as garantias aos arguidos. As avepiguacdes serdio cametidas 4 Policia Judicifria". Porém, nas "Modidas imediatas", nimero 2, alinea d) do mesmo Programa do MFA, estabeleceu-se que a Junta de Salvacdo Nacional (JSN) decreta ra: "A entrega Ss forgas armylas de iniividuos culpados de crime con- ‘tra a ordem politica instauraia enquanto durar o perfodo de vi- géncia da Junta de Salvag3o Nacional, para instrug’io de processo © julgamento", Ferante tais textos foi entendido, inclusivé pela Procuradoria-Geral da Repiblica, que a medida imediata se sobrepumha 4 medida a curto Frazo ce, om razfo da hierarquia das leis, ao citalo art. 69 do Dec. lei ne 171/74. Em face de tal reserva a favor da JSN no admira que no Programa do Governo ProvisGria - Dec. Lei n° 203/74, de15 de Maio-se omita qual~ quer referéncia & mitéia e apenas se diga que se procedera A 'revi- 880 da legislagao relativa & polfcia judiciaria e co habeas corpus" © que se assogurard a "garantia e regulamentagSo do exerefoio das 1i, berdades civicas, naneadamente das definidas om DeclaragSes Universais de Direitos do Homem". O art. 19 da Lei n? 3/75, de 15 de Fevereiro, confere 3 USN competén cia para campletar ¢ desmantelamento da ex-DGS/LP e organizagdes de~ Perdentes ¢ pramover © apuranento "através do foro nilitar" da respon sabilidade dos seus dirigentes politicos, membros o1 colaboraiores (munea, alls, esteve em diivida que a prisiio dos ex-funcionarios da PIDE/DGS « da LP no cailsse na algala do foro militar, o que j4 resul tava do disposto no art. 365°, alfnea ¢) do Cédigo de Justiga Militar 1.6 - 17 - =e WS e art, 32° do Dec. Lei n? 44062, de 26NOV61; & face da Lei n? 16/75, de 23 de Dezenlro, o seu julgamento caupete aos tribunais militares territoriais de Lisboa). A Lei n@ 3/75 igualmente confere & JSN competéncia para "vigiar e con trolar as operagGes econGmicas e financeiras © cutros canportamentos, com vista a impalir manokeas lesivas da econania nacional, ©, bem as sim, aplicar ou promover a aplicagSo aos responsaveis das madidas ne~ cessaries" (n? 79 do art. 19). Esta competéncia deveria ser actuala através de deeretos-leis € decretos que fossem necessarics, A falta de legislag&o adequaia 4 existente - art. 29 (ver também o art. 49 do Dec. Lai n? 129-A/75, de 13 de Margo, que cric os Servigos Execu- tivos da JSN). A Lei n@ §/75, de 14 de Mango, extingue a JSN © institui o Conselho da Revolugao pera o qual transitam as atribuigdes daquela. Entretanto, o art. 69 do Dec, Lei n? 207-A/75, de 17 de Abril, estabe leceu que a instruc&o e julgamento dos crimes de uso, parte e deten~ cio de varias armas e munigSes pertence A jurisdig#o comm "exceptu- ando cs cases de conexdo can animes sujeites av foro militar". Porém, este artigo foi alterado pelo Dec, Lei n? 651/75, de 19 de Novembro, que veio alargar a competéneia do foro militar nesta matéria, trans~ formanio a exaepgSo om regra. Mais estabeleceu que os detidos em fla grante delito "continuaro nessa situagio até julganento", regime que 86 recentemente foi modificado no sentido de maior bonevoléncia. 0 Dec. Led n? 207~B/75, de 17 de Abril, de acomio com o n? 7 do art. 19 da Lei n? 3/75, acima mencionado, veio tipificar alguns delitos de sabotagem econémica susceptiveis de pratica por certos sectares do pa tronato, ordenamio no seu art. 4? que os arguidos destes delites se~ jam “detides ald yue © respective proceso seja envialo acs tribunais camuns para julgamento' aplicando-se quanto & prisdo preventiva "o que se encontra estabelecido para o foro militar’. NAo se infere que a campeténcia para a prisdio fosse do foro militar, antes pelo contra~ rio. 1.8 - 2 = Que concluir schre a reguanidate formal das prisé -~1s- Em 15NOW5, através do Dec. Lei n? 640/15, ficam definitivamente re~ solvidas as divides cxistentes sobre 2 competéncia para instrugio e julgamento de crimes contra a soguranga intericn ¢ exterior do Estalo. Serfo sempreinstruidos pela Policia Jujiciaria e julgalos nos tribu- nais comuns sc comctidce por individuos no sujeitas ao for militar; seréo instuidos ¢ julgados no foro militar se cometidos por individu- 08 sujeitos ao foro militar. No caso de haver, no mesme processo, in- divifiucs sujeitos ao foro camum ¢ outros sujeitos ao foro militar, a competéncia cabe, cn relagao a todos, a> foro militar. S que as autoridades mi- Litares foram efectuarrlo depois de 25ABK74, em especial através do COPCON? 2.1 - HA que distirguir, desic logo, entre prisdes de pessoas sujeitas ao 2.2 - foro militar (en regra s* 03 militares esto sujeitos ao foro militar, senio exccpeicnal a conpeténcia do foro militar, em razdo de matéria) e de pessoas néo sujcitas 2c faro militar. Quanto aquelas, a Camis forma centralizala, pelo CEMSFA ao COPCON, nao sofria de irregularida de, face ao disposto nos art. 2459 © sgs. do Cédigo de Justiga Mili~ tar e art, 109 alfnea a) do Deoreto-Lei n? 400/74, de 29 de Agosto (iploma organico de EMSFA) enbora o Dec. Lei n? 301/74, de 8 de Ju- tho, diploma que criou o COPOON, tencia especifica de polfeia juliciaria militar. so entende que a competéncia atribulia, de Ihe conferisse qualquer compe- Quanto As pristies de inlividuos nfo sujeitos ao foro militar, sé se> pio legitimas desde que efectualas em flagrante delito e se proceda, de dmediato, & entra dus detides ao fare canum. Furdamentalmente, as autoridaies militares realizaram prises, no pe- iodo que analisams, por suspeita da pratica dos crimes seguintes: contra a seguranga Io Estaio, de sabotagem cconimica e exportagio ili, cita de valores ou capitais, de detengdo ilfcita de armas ¢ munigées, e de assooiagio de malfeitores. 23 - 24 - 2.5 ~ 2.6 - -16 - a So do Dec. Pelo que 4 se disse, a interpretacio seguida até 4 publicac’ Led n? 640/75, de 15 de Novembro, era no sentido de que campetia ao foro militar a instrugSo dos crimes contra a seguranga do Estado. Este diploma, de cariz interpretativo, aporta para a conelusao de que era duvidosa a linha seguida até af, ac considerar-se que era o foro militar © canpetente para instruir e julgar cs crimes ccntra a seguranga do Estaio oometidos por individuos nfo militares. De harmonia cam o que se expés, fica claro que as prisdes efectuatas pelas autoridales militares sobre civis, por suspeite de sabotagem econémica ou exportagSo ilicita de valores ai capitais, fora de fla- grante delito, mantendo aqueles 4 ordem das autoridaies militares, sic formalmente irregulares, devendo ter sido facultaio recurso de habeas corpus porquanto no art. 129 do Dec. Led n? 181/74, de 2 de Maio, preceitua-se expressamente que a instrugio preparatGria desses delitos cabe & Policia Juiiciaria; a igual conclusdo se chega quanto aos crimes de sabctagem econémica previstos pelo Dec. Lei n? 207-B/ 15. Quanto aos delitcs de usc, parte e detengio de armas e mmigdes, por que, em regra, tero aparecidc em conexZo com a pratica de delitos contra a seguranga do Estaio, as prisdes nao enfermavam de irregula- pidade se efectuatas pelas autoridaies militares, mesmo quanto a ci- vis. Finalmente, vamos referir-nos 4s prisdes por suspeita da pratica do crime de asseciag&o de malfeitores, previsto e punivel pelo art. 263° do Cddigo Penal. Esta incriminaglo parece ter sido sugerifta para ultrepassar as difi- culdaies com que 0 Servigo de Coordenaglo da Exting&c da PIDE/DGS e LP se defrontava ao pretenier atribuir a cada detido um delito con- ereto, j4 que quanto a mitos deles nao havia indicics de pratica de cutros crimes previstos nas leis penais vigentes. Segundo o Decreto n? 11990, de 30JUL26, o julgamento do crime de as -v- Be sociagiio de malfeitores & da competéncia do foro militar qualquer que seja a qualidade dos seus agentes. A “descoberta" da incriminagdo mencionala, tendo em vista resolver a- queles casos, niio pode deixar de ser considerala artificial e, portan to, errata. Mas acresce que depressa foi, estendida a hipdteses de to- do descabidas. Passcu a ser invocada na generalidade dos mandados de captura emitidos pelo COPCON, numa espécie de “ealdeirdo" em que to- dos os factos podiam entrar. Tanto servia para capturar um ex-PIDE aa ex-legionario ccmo um suposto contraditar do "proceso revolucionario". 3 = Apenas ficam referidos os aspectos formais das capturas, cu seja, se a pri- sto ena efectuala par autoridade competente, mediante mandaio esarito no ca so de executala fora de flagrante deLito, em que se invecasse um crime atri buido ao arguido. Ponto diferente - ¢ mais importante - est em saber se as prisdes eram corde nalas com base em suspeita funiamentada da pr&tica de um crime previsto nas leis penais vigentes, se os detidos eram interrogados em prazo curto aps a peisao e instruidosos seus processos, se Ihes era garentida assisténcia de aivogado ou defensor, aspectos que sero discriminalos 4 medida que se fizer a apreciagic das queixas apresentadas. - £ estranho que entre as entidaies que fizeram pedides de captura ao COPCON aparegam 0 Servigo Director ¢ Ooordenador da Informacio, organismo criato com a missdo de coardenar os programas de pesquisa ¢ de informagSes dos di versos orgies canpetentes para o efeito - Decreto-lei n? 250/75, de 23 de Maio - 0 Gabinete do Primciro Ministro ¢ o Gabinete do Almirante Rosa Cou- tinho. Quanto Aquele primeiro Servigo, ficou, alias, demonstrado que promoveu junto do COPCON a realizaciio de diversas capturas, colaboranio, Por vezes, na sua execugio e Ficanto alguns dos presos 4 sua ordem, procedeu 2 interrogats~ rios por intermédio de alguns dos scus militares, os quais, em regra, nao reduzian a esopito,e interferiu no regime prisional dos detidos, designada- mente no aspecto da incomunicabilidale, No tocante a interrogatérics, hd diversas queixas sobre o modo como evam efectuatos, a que mais aliante se aludira. - 1 - Quanto ao Gabinete do Prineiro Ministro, solicitoi ao COPCON um nimero redu- zido de capturas, serio mis correntes os pedidos de interndigao de sada do Pais e de congelamento de contas bancarias. 0 Gabinete do Almirante Rosa Coutinho também ordenava capturas e libertagdes. Existem varios despachos confirmativos desta actuagao, um dos quais, de 15 MAI75, diz textualmente: "Fica detido até 22 de Maio data em que sara Libar- talo. Deve ser informado, bem camo as autoridales locais, qe seed novanente detido se incorrer em actos de natureza senelhante ao que originou a sua pri sao". -19- B - 28 DE SETEMBRO DE 1974. 1 = Bn 2 de Setentro de 1974, aconteceu uma convules> politica da qual resul- tou uma s&ie de actos dirigidos contra a liberdaie de mitos cidaiacs por ‘tugueses, contra os seus direitos infividuais e a sua prépria seguranga. Esse conjunto de actos constituem um auténtico proceso colectivo, que mi, ‘to enbara se desdobre om centenas de casos e aspectos individuais, mantém uma unidale de inspiragdo e de acgio que determinam logicamente um tratamen to de andlise canum. A Coniss&o interessam os factos que se enguatram como forma de violéncia; interessa determinar até que ponto os acontecimentos do "28 de Setembro" desencadearam essa violéncia. A panir de 28SET74, a ratica do Governo e o exercicio do Poder passaram a tonar caracteristicas distintas das até ai existentes, com uma interpreta- gio diferente de certos objectives afirmalos pelo Programa do Movimento das Forgas Armadas. A preocupagao de pautar a actividale governamental segundo nonmas de legalidade cbjectiva, sucedeu uma nogiio de eficdcia revolucion3- ria, segundo a qual o Gwerno ou as autoridales militares auto~letermina- van a legitimidale da sua actuagio de acordo cam os objectives a ating No plano que intaressa & finalidale desta Coniss&o, esta mulanga de proce- dimento coneretizou-se no anicio duma actividate repressiva, traduzida em grande niimero de prisdes ¢ varias aitras formas coercitivas dos direitos individuais que veio representar una violagio cortinuaia das normas constan ‘ica do Governo tes do Programa do MFA e das normas de actuagao prograniit Provisério, publicadas respectivamente no Diario do Governo, 1 série, de 1WMAT74 e de 1SMAI7H, . Segundo estas, fora conetida aos Tribunais Comunse 4 Policia Judiciaria a competéncia de apreciaggo ¢ investigagéio dos orimes canetidos contra a se- guranga do Estalo. Porém, como }4 se selicntoa, em aparente contradigdo can estes principios, © Programa do Movimento das Forgas frmaias previa, nas "Melidas imediatas" a enteega as Forcas Armalas dos individuos culpaios de crimes contra a or~ dem politica instaurala, para instrugSo do processo e seu julgamento, enquan -20- to duasse ¢ perSodo de vigéncia da Junta de Salvag&io Nacional. Parece, pois, do exame comparative das duas norms, que se poeterdeu, duran te o perfadc inicial da Revolugio (medida imaiiata) sulmeter ao foro mili: tar as actividaies pollticas de indole criminosa cu subversiva, que depois seriam entregues 4 jurisdig&o ordin&ria com process de investigagao con- duzido pela Policia Wu: aria (matida a curto prazo). 0 limite no tempo paraa adpgiio sucessiva dos doi © periodo de vigéreia da Junta de Salvagio Nacional. regimes parece ter sido De qualquer forma, h4 que observar que sé a Junt# tinha competéncia para ordenar a prisiio cu a instauragZo de processos por actividales criminosas contra a ordem politica estabelecida. Ore o fengmeno que se verifica no "28 de Setenbro" & que essa campeténoia exclusiva da Junta cessa, e a competéncia no dominic dos factos passa a s@ exercida pelo COPCON. A partir de 28SET74, 0 COPOON surge com poderes ilimitalos sobre a seguran ca ea liberdate das pessoas, arvorando-se até no direito de decidir plei- tos, dirimir questies civis, resolver problems de habitagc, enbara sem atribuiclo legal de competéncia c sem a organizagio necess@ria para a re~ alizar, cano o declava frontalmente © seu Comandante. 0 mesmo diz ainda que, uma vez presos, o COPOON deixava de se ocupar dos individuos-vitimas, pois no tinha meios humanos para dctuer interrogaté- vios ou orgenizar processes. 0 OOPOON efectuava ainda apreensées de bens © congelanentos de contas ban pias, e decrctava mdidas Limitativas da Liberdale, tais caro interdigfc de saida para o estrangeiro, residéncia fixa, ete.. £ precisamente no dia 28SET74 que o COPCON inicia a sua actividade cano corparagio policial. JA fixdmos o trace original dessa competéncia, a qual lhe foi atribuida nu ma veuniio extracrdinaria realizaia a 27SDT74 na vesidéncia oficial do Pri- meiro Ministro, referida no capitulo antericr. A partir dessa reunidio, o COPCON passa a ordenar prisdes por inspiragio prépria cu a rogo de cutras entidades. Verifica-se que em muitos cases a -2- seh sigestio para o OOPOIN agin, Limitando a liberdaie ¢ os direitos individue ais, se radicou em organizagées partida@rias que gradualmente se procuraram apoderar da maquina repressiva do Estaio, porro-a ao servigo dos seus in~ teresses politicos e por vezos até de simples vingangas pessoais ou locais. 2 ~ Adificuldaie em esclarccer os factos relatives ao "28 de Setembro" é qua- se intransponivel. a. £ do conhecimento garal e piblico que foi aviala e chegou a funcionar uma chamada “Comissio ad hoc para o 28 de Setembro". Essa Gomissao chegou a elaborar um relatGrio que foi publicado nes jor- nais nas vésperas das eleigGes de Abril de 1975. 0 RelatGrio do "28 de Setenbro" @ uma extensa andlise da situagio poli- tica e das actividaies jornalisticas e de organizagao das forgas de di-~ reita, antes dos acontecimentos do "28 de Setembro" e uma minuciosa des. crigo da preparagio da manifestagao da 'mioria silenciosa". Desse conjunto de actividales politicas da direita e do planeamento da manifestag3o ao Chefe do Estalo, o RelatGrio procura extrair a demons- ‘tragdo da existémia dum plano para tomala do poder por meios subversi- vos - ilegais ou violentos. Porém, essa demonstracao @ apenas uma dedugao e nao assenta em factos nem documentos. De resto, em toda a actividale investigatéria ou polici al conheci , determinada pelo "28 de Setembro", nfo existe trago de in diciagao deactos subversivos ai violentos. b. 0 Conselheiro da RevolugSo. responsavel pelos servigos de Justiga desde AGOTS revelou 5 Camissao que: - quando assumiu as citalas fungdes 58 desaparecera totalmente a Oomis- sao ai hoc do'28 de Setembro"; ~ julga que ela, ou pelo menos uma grande parte dos, seus elementos, tera sido absorvida pelo SDCI; = julga que nessa Oomissdo existian elementos civiss == in Revela ainda o mesmo Conselheirs que quando tancu posse das suas Fungdes. se encontravan ainda nos estabelecimentos prisionais sob jurisdigao mi- Liter mitos ind tuada por ocasido do "28 de Setenbro", sem que existissem quaisquer pro duos presos, cuja prisdo se relacionava ou fora efec cessos arganizalos cu sem que qualquer entidale se encontrasse cnearre- gala de investigagdes a seu respeito, cu de superintendéncia no sou des tino. A situagdo desses individuos era uma situagao de facto. Encontravam-se jwadioanente abandonalos ou esquecidos, mitos sem que jamais houves- sem sido interrogados e sem que fosse frrmuledla qualquer acusagao con- twa cles. A libertagio destes individues foi feita em seguida, depois do exama de cada caso ¢ de se estabelecer conaretamente que se desconhecia qualquer vazSo que fundanentasse a manutengdo das prisdes e até, possivelmente, para a sua ofectuagSo inicial. Sabe-se que logo de seguida ao "28 de Setembro". todo o conjunto de no ticias foi sistematicamente publicaio pelos orgles de camunicagao soci al, procuranio furdamentar a tese de que se teriam tentaio organizar para aquele dia acgdes @ mo armada, intepratas mma vasta conspiragiio contra-revolucionaria. Porém, segundo informagSes prestalas por instancias oficiais, nao foi possivel encontrar factos justificativos dessa tese, quer quanto 4 e- xisténcia de armanento clandestino, quer quanto 4 preparagao ou prati- ca de quaisquer atentalos, acgdes violentas ou tentativas ilegais de alteragiio do Governo. Assim, para além da manifestag3o da "maioria silenciosa" e des fins po Lticos que nela se continham, parece no ter sido possivel determinar que existisse a 28SET74 qualquer outra intencio ou acto de natureza subversiva. £ evidente que,dala a licitude da manifestagin, oficialmente autoriza- da, e até avalizaia pelo Presidente da Repiiblica, e par membros da Jun. ta de Salvagao Nacional, a determinagc ou investigagao de ilicito pe- nal contra os detidos do "28 de Setenbro" se revelava extremamente di- ficil, scnio impossivel, devido 4 clara inexisténcia desse ilicib. De qualquer forma, nio existiu qualquer organizagao juliciaria de proces, so nem indiciag&o por servicgos de promtania de justiga. Fosse qual fosse a intengdo e a acgSo desenvolvida pela ComissSo al hoc, nfo Ihe cabia a ela fungan juliciaria. Tio leva a crer que haja furci- conado apenas com uma misséio politica. e. £, pois, necess@io concluir que as prisdes do "28 de Sevembro" se efec ‘tuaram sem notivacSo criminal, 4 wargem de qualquer finalidale processu al © sem preocupagiio de legalidade. 0 "28 de Setembro" constitui, assim, a data-chave em que verdadeiramente se inicia o ciclo da violéncia e da abitraviciale, pelo abandono das finalidaies revolucionarias de garantia de direitos e de criagdo dum es- tado legal ¢ pola criagiio dun aparelho repressive cam poderes extrema~ mente latos ¢ inlefinidos. 3 ~ Na noite de 28SEI74, depois de ter sido cancelada a manifestagdo da "waio- pia silerciosa", inicia~se uma acgdo que, continuando por varios dias, con duz 4 prisdo de miitas pessoas. Nao é possivel determinar o seu nimaro e~ xacto, mas julga-se que deve andar 4 roda de 300. Pelos depoimeritos do Comandante do COPCON e do responsavel pelo Service de la PIDE/DGS ¢ LP, e pelos da dos conhseidos, podemos distinguir quatro tipos de pessoas vitimas dessa operagao: Justiga do Servigo de Coordenag&o da Extingio (a) Elementos ligailos 4 organizagao da manifestagao malograia; (b) Elementos cuja poisdo tinha sido anteriormente prevista dentro do ambi, to da actividale do Sepvigo de Coondenagio da ExtingZo da PIDE/DGS e LPs (c) Elementos politicos do antigo regime e dos partidos e jornais situalos A direita depois do 25 de Abril; () Elementos em destaque da vida financeira e social. =m As prisdes sn efectuadas com base em maniados de captura emitidos’ pelo COPCON © pelo SCE da PIDE/DGS e LP. 0 motive inlicato nos maniados 4 0 de patica de aime de "associagao de malfeitores", Essa inceiminagio fara sugerida num reunifo efectuala algum tempo antes, cano férmilla possiivel para instaurar procedimento criminal aos agentes da PIDE/DGS ou seus informaiores, contra os quais nao fosse possi- vel a incriminag3e par outro tipo de crime. 0 SCE da PIDE/DGS ¢ LP resolvera, pois, subsequentemente & refarida reuni- Zo que tivera lugar na Cova da Moura ¢ & qual assistiram, entre outros, 0 Almirante Rosa Coutinho eo Ministro da Justiga Salgaio Zenha, aloptar, atS fixagSo de definitiva deutrina jusHica sobre o problema criminal dos agen tes da PIDE/DGS, 0 critério de incriminagSo por "associagaio de malfeiteres' aos elementos Ligalos & PIDE/DGS ¢ a determinados servigos da Legifo Portu guesa. Ao comegar a sua actuag&o no "28 de Setembro”, o COPCON, sem qualquer jus- tificagio plausivel para emissdo dos mandados de captura, aloptou a ineri- minagSo utilizaia par aquele Servigo. Subsequentemente, sive raras excep- Ses, essa fGrmula da “associag3o de milfeitares" generalizou-se camo for- mula-chapa, sendo universalmente utilizala pelo COPCON durante mais de un ano, nos mais vaniados casos © para as pessoas mais diversas. As prisdes foram efectuaias por forgas militares do COPCON, mas ‘também par grupos civis ou pelo menos opientaios por civis. E de registar scbretuio a intensa actividale dusenvolv ida por um m&dico, membro do PCP. Aceim, tem— se corhecimanto de ter sido esse mdico quem participou nas prisdes do Dr. Anténio Maia Pereira, de Francisco Hipélite Raposo, de José Raposo e de varios outros. fs prisdes foram efectuadas - salvo os c#sos (a) ¢ (b), isto 3, des clemen tos ligados A organizacao da manifestagiio ¢ dos elementos pertencentes 4 FAC, da LegiZio Portuguesa, e informatores da PIDE/DGS, cuja prisio se en- contrava previanente determinaia pelo SCE da PIDE/DGS e LP ~ de acordo com Listas que foram fornecidas ao COPCON. Quem forneceu ao COPOON as Listas para cfectuagio de prisdes? = 0 Comandante do COPCON diz que "se fez uma lista"; -%- hoy = 0 entfo Chefe do Fstato-Maior do COPOON presune que “houve uma investi- gagéio que corduziu & elaboragfo de uma lista de pessoas a deter"; = 0 Comandante Conceigo ¢ Silva declana que "foram emitides mandaics de captura indiscriminadamente, com a colaboragao de elementos civis, efec~ ‘an, acabando por sungir duas ou trés centenas de tuaram-se varias pris? individuos presos", Uma coisa & carta: nao existiu qualquer investigagao a que aluie o Chefe do Estado-Maior do COPOON. As Listas aparecem "cozinhalas" no auge da cx- citagao ¢ da confus3o dodia 28SET74. Quarto 4.origem das prisdes,é ainda de evidencian: = A publicagdo em jornais de parade e folhas volantes, sob a responsabili- date do MDP/@E, de Listas de nanes de pessoas ja detidas a adeter, ao longo de tado o dia 29SEI74 e das quais constavamelementos que nao che garam a ser detidos por nie terem sido encontralos em casas = 0 MDP/@E chegara a anunciar come acontecidos factos e detengdes qe se encontravan apenas programados mas ainda niio realizados. Depois de terem transitaic pelo RAL 1, 05 presos eram condusidos para Caxias. 4s poisdes foram cfectuadas por vezes de form: incorreta e grosseira, acan panhaias de insultos e ameagas, de buscas nem sempre autarizadas com man~ daio para tal fim e do desaparecimento de objectos de valor e dinheiro. 0 prépeic Comantante do COPOON confirma no seu depoimento a existéncia de “oxcessos doploraveis" cometides na efectuagao dessas prisdes, atribuindo- os & falta de preparagao das unidales para o desempenho de tarefas polici~ ais. ~ Ura queixosa, Maria Jilia Loureiro Rebelo, diz que foi presa por cito in dividucs armados,sem mandado de captura, que ameagaram de a matar se nao os accmpanhasse. = 0 wofessar de Liceu José Gongalves Narciso qucixa-se de ter sido feita, por um oficial de Marinha & frente de una forga militar, uma busca 3 sua ~ 2% - 7 casa sem qualquer mandado ¢, pelo mesmo oficial, ter sido preso em Caxi- as e colovalo incanunicavel mma cela do reduto norte, onde esteve dez dias sem que Ihe fosse dala qualquer justificago nem apesentalo manda~ do de captura, Foi posto em liberdaie no dia SOUT74 por se averiguar, segundo declara, que fora vitima de uma denincia falsa, Nao Ihe foi oo- municaio nom o tear nem a autoria dessa dentincia, Caplos Rodrigues Machalo, estando ausente em f@rias desde 26SET74, na Ga liza, soube telefonicamente que o procuravam para ser detido, tento-se apresentaio no final das farias, a 14OUI74, na Rua Anténio Maria Cardosa Foi imeliatamente levao pana Caxias. Esteve oitenta dias preso, quarenta e cinco dos quais incomunicavel. Nao existe processo nem nos arquives do COPCON nen nos Senvicos de CoordenagSo da Extingdio da PIDE/DGS e LP. 0 Eng? desé Joaquim Fetroso Santos foi preso a 27SET74, parece que par denfincia falsa relativa a um carro que vendera tempos antes, mas que ainda se encoritrava em seu ndne. Muito doente de uma filcera no duodeno, sofreu um hemorragia interna na caleia de Caxias. Mal tratato, teve que ser sujeito a uma oparagio, depois da sua Libertagio, em 170U74, e mar- eu a @EITL. Foi transportato do RAL 1 para Caxias num carro aberto, guardaio por sol. datos con metralhaloras apontalas, sendo no parcurso, ele e os autros yresos (2), vaialos pela miltiddo, fotografalos ¢ filmalos. 0 seu nane foi publicaio nos jomais de pareie e mum camunicalo om papel verde do MDP/@E atixaio nas ruas de Lisboa e intitulaio "Relag&o dos fascistas peesos", 0 General, Arnaldo Schulze, Ministro do Interior no antigo regime, foi pre so em condigdes de ultraje degradantes parante uma pequena multidao, provavelmente alertade peles ccmunicaios do MDP/CDE, que ja publicara 0 seu nome em Listas de detidos. A forga militar que o foi deter ea consti, tufiia por um subalternc e trés pracgas. 0 préprio Comandante dessa forga denunciou a forma desnecessariamente humilhante como decorreu a prisio. Estes casos que apontams, entre os detectalos, servem cono exemplo dos métodos seguidos. -7- 4 ~ ARBITRARTEDADE DAS PRISOES - Verifica-se que na maior parte das prisdes de que esta Comissio tem conhecimento, elas foram efectuadas com arbitra- vielale manifesta, sem sequer terem relagiio cam os factos ocorrides no "28 de Setembro", algumas sobre deniincias sem fundamento e quase todas de acardo com listas fornecidas ao Comandante do COPCON. Ja vimos que a pro- veniéncia dessas listas foi, relativamente aos elementos ligaos A Legifo Portuguesa, o SCEdaPIDE/DGS ¢ LP. Quanto As outras, ha dados que permitem atribuir um papel decisive ao WP/E, quer pela extraordinaria actividade desenvolvida por essa angenizagio durante toda a anise, quer pela publica~ 40 dos jarnais de pared das folhas volantes e cartazes, da sua responsabi, lidaie. 5 - VIOLENCIAS NO ACTO DA PRISKO - Verificaram-se arronbamentos de casas, com roubos de objectos e valores, prisdes efectuadas durante a noite, ameagas aos detidos e detergSo em condigdes insélitas. ~ luis Manuel Caldeira Castelo Branco Cordovil afirma ter sido levaio pa ra o RAL 1 vestido apenas com umas calgas de pijama, pois era assim que se encontrava na cama e "para o que era no precisava de mais". A sua iso 6 significativa: altas horas da noite, mirros na porta e intima- 80 de abrir "em nome das Forgas Armadas". A sua exigéncia de identifi- cagdo respondem com tiros. Cano tinha uma pistcla, atirou também através da porta. Depois abiu na presenca da GNR. Foi acusado de ter farido ou morto alguém, mas nunca tal acusagSo foi concretizala. Esteve vigorosamen te incommicvel mites meses e sd foi solto em DEZ75. N3o existe proces, 50. ~ Quase todas as queixas apresentaias 4 Comissdo referem a prisao durante a noite. ~ As buscas efectuadas foram quase sempre sem mardaio. 6 - INOOMUNICABILIDADE £ NEGACAO DE ASSISTENCIA JUDICIARTA - Hn muitos casos, a incomunicabilidaie prolongou-se durante meses , sem sequer ser consenti- da a visita dos familiares mais péxims. Mesmo depois de autorizadas as visitas da familia, continuou a ser negaio - 2 - 0 direito aos alvogains de varem ¢ falarem can os seus constituintes. Par vezes, essa autarizacHo foi dada, como favor pessozl e excepcional, pelo Co mandante do Farte de Caxias e sempre na presenga de estranhos. 0 direito a intervengao de advogaics chegau a ser negaic em termos desagradaveis e des- corteses para os prépeios aivogades. 0 caso mais flagrante foi o do General Kaiilza de Arriaga, a quem a visita do aivogaio foi negada em termos defini- ‘tivos par despacho do Comandante do COPCON. Em nenhum caso foi permitida, contra a lei, a assisténcia de aivogados aos interrogatarios. ‘TEMPO _INDETERMINADO WAS PRISOES - 0 tempo de prise cscilai entre 15 dias € 15 meses (até 17 meses no caso especial do General Kaiilza de Arriaga) pois hhouve miitos detidos no "28 de Setembro" que s6 foram postos em libaviale no final do ano de 1975. Muitos encoritravam-se presos em SET75, A partir dessa data, inicio das fun- ges dos actuais respons4veis, conegau a ser analizala a situagac dos pre~ sos, investigardo-se o motivo das prisdes e qual a situagio dos processos respectivos, quarlo estes existiam, tendo sido progressivamente Libartalos; esse movimento de Libertagio acentuai-se a partir de 25NOV7S, ficamio total mente conclude antes do final do ano de 1975, 0 que torna partioularmente grave este tempo das prisées € a sua total imie ‘terminagio encontrar-se & margem de qualquer Findlidale juliciaria cu in- vestigat@ria. Como se tratou, duma forma geral, de prisdes arbitrarias, em que os presos enaneno no par factos cometidos cu inliciales mas sim poo caracteristicas ideolégicas ai sociais, a prisdo cra un fim em si mesmo e ngo se destinava a nada. guns detides conseguiam utilizar moios de press4o ou empenhos suficiente- mente valides para serem restituides A libanlale. Outros chegaram a sex pu- vamente esquecides: o Dr, Peiro Manuel Reis esteve preso até JUL75 sem nun- ca sep interrogaic, a no ser no dia em que foi Libertalo e The perguntaram (estava ele na Penitenciaria) "que diabo estava ele al a fazer". 0 posta Florentino Goulart Nogueira, sem familia nem alvogaio, esteve preso até fi- nal de 1975, mito doente, sem nunea ser inteerogado nem acusalo de coisa nenhuma. -2- Por outro lado, a constante mrtago dos préprios responsaveis pelas prisdes © pelos estabelecimentos prisionais ariginava situagSes de esquecimento e de tempo inlefinido de deteng&o. FR que verificar, partanto, que, efectualas sem qualqicr base criminal, nio sero necessarias para a efectuagao de qiaisquer diligéncias investigatari- as € ndo constardo de precessos devidamente crganizaios, as situagdes de prisdo dos chamados implisados no "28 de Setembro" se constituiram e prolan, garam & margem de qualquer legalidade como puras situages de facto. 8 ~ ILEGALIDADE DO PROCESSO DO "28 DE SETEMBRO"-Apesar de terem sido presas cor ca de 300 pessoas, nao foi, ao que parece, instauraio um dinico processo cri. minal, ¢ nem sequer foi entregie qualquer queixa cu acusagio a algum serv: go regular cu especial de Promotoria de Justiga. Trata-se, pois, dum acto de violéncia colectiva, cuja amplitude delineata eva alias mito maior, pois centenas de pessoas fugiram e mitas oxtras nao foram encontradas em casa, o que fez cam que fossem naturalmente esquecidas. 0 motivo geral da persegiigio foi ideolégios. Cano ja se disse, miitas pri- sées foram determinalas pelo que as pessoas tinham sido, artras pela sua lit gagao can o acto politico da manifestagao e cutras airda nao se inserem em qualqier contexto, resultando cu de deniincias irresponsaveis cu da inclusi do nane em Listas. Bernard ino Mendes de Almeida, ouja prisao durara até DEZ74 para depois se re- novar de 11MAR7S a QUITS, e Manuel Goncalves, detido durante 20 dias, repre- sentam simbolicamente, no "28 de Setembro", o ataque, depois generalizaio, a tedos os chofes de empresa e daiaes de trabalho. 9 - QUTRAS VIOLENCIAS PAR a. A maioria dos detides,e nanealamente em todos os casos de queixa apresen tados & Comissdo, foram congelaias as contas bancarias por determinagao do COPOON cu da Comissio ai hoc. Aira existem alguns casos de contas congelaias, que assim se mantém, ja passaios quase dois anos, e apesar de todas as exposigdes e requerimentos apresentalos, nameadamente 20 Con selho da RevolugSo. Esto nestas circunstncias, par exemplo, © Coronel Fernando Cavaleiro e 0 ex-gerente comercial Francisco José Borges de = 30 - Freitas, apesar da intervengio desta Camis io. © congelanento representa uma violéncia inteiraments arbitréria, sem fun damento legal, determinade par uma autaridaie n3o campetente e suscepti- vel de causar prejuizos e sofrimentos 4s vitimas. Grande nimeo de detidos no "28 de Setenbro" parderam a sua situagio pro fissional, par, nos locais de emprego, em plenrio de trabalhalores, ser imeliatamente decrctalo o seu saneamento. Dada a arbitrariedaie das pri- sées, 0 saneamento profissional vem canpletar o quatro da violéncia, can um aspecto odieso que nio se verificara, no regime anterior, ao nivel de empresas particulares - o da perseguigSo social ao preso politico. fo estudante Paulo Correia Seabra, par exemplo, preso em Coinbra onde frequentava a Universidaie, com 19 anos, tornou-se impossivel depois da sua prisio, na qual esteve 52 dias incomunicdvel, continuar os estuios, sero cbrigaio a emigrar para o Brasil. 0 mesmo aconteceu aos seus trés colegas presos na mesma ocas: Os presos detidos a "28 de Setembro” ndo se queixam de violéncias fisi~ cas, embara haja repstidas queixas de violéncias morais e psiquicas, de insultos © ameagas. Para a generalidaie dos detidos, foi ccmetida a vicléncia da publicidade das pistes, feita om terms de exacerbagHo das massas, com acusagdes fantasistas. Essa publicidaie foi fcita pela Televisa0, pela R&dio, pela Inprensa, por fohas volantes do MDP/CDE e par jornais de parede (sem qualquer indicagSo de factos nem principio de prova), acarretamio conse- quéncias graves para as vitimas e miitas vezes para os seus familiares. Chegcu-se a procurar, e par vezes foi cbtido, determinan o auténtico fe~ némeno da "proscrigio social”, obrigando os visados, mitas vezes sem se quer existir furdamento ideoldgico, a abamionarem a casa, a profissao ea Patria e temarem o caminho do exflio. Para os detidos militares, foi sistematicamente conetido o vexame da pri sao & margem do preceituaio pelo Cédigo de dustiga Militar e, normalmen- te, em condigées particularmente humilhantes. ~~ kok hee coNCLUSKo ‘Todo © processo do "28 de Setembro" foi uma violéncia colectiva e continuala, assente num procadimento ilegal e arbitrario e no desprezo pelo direito das gontes. Neste contexto, a conrespordente responsabilidale & compartilhata desde os mais altos escaldes do Poder até Aqueles que ordenaram cu exeoutaram os pro- cedimentos directos sobre as vitimas. A Comissao @ do parecer que essa responsabilidaie seja apurada no processo e foro préprics. = 32 = C = 11 DE MARCO DE 1975 Cl - EM LISBOA Os acontecimentos de 11 de Margo de 1975 determinenam a alopgo de milidas repressivas, com larga expresso no seio das Fargas Armadas e também em meios exclusivemente civis. Tal cano no "28 de Setenbro", tais metidas caracterizam-se pela maginali- daie 4 lei, pela sua finalidade politica e pelo desprezo Jos direitos in- dividuais, noneadanerite do direito fundamental de defesa dos arguidos. 1 ~ Camo pimeiro trago essercial, ha que notar que renhum servigo de justiga can caracteristicas de Ministério Pablico ou de juizo de instrugao criminal recebeu a incumbéreia da investigagio dos factos e preparagio de autos para juizo. 0 Conselho da Revolugo, precisamente crialo como crgao maximo da soberania, em substituigio do Conselho dos 20, ¢ qie passou a reunir a competéncia da primitiva Junta de Salvac%io Nacional e do Conselho de Estalo, extintos lo- go no dia 12 de Margo, limitou-se a ariar uma Comissdo de Inquérito ao "11 de Margo" e a ammoiar a oriagSo dum Tribunal Militar Revolucionario para posterice julanento dos factos. A Comissdo de Inquéito @ dada wma canpeténeia iniefinida mas suficiente~ mente lata para: = Onderar prisées ¢ malidas coercitivas da libendale das pessoas cu da 1i- vre disposigic dos benss ~ Procades a uma instrugSo extra-julicial do eventual processo, apesar da sua total deperdGnoia dos argéios governativos ¢ da sua evidente nfo com- peténcia e falta de garantias de imparcialidale; = Determinar o regime prisional dos detidos ¢ cs moldes da assistéreia ju- ridica que lhes podia ser facultala. Alguns meses depois, foi criato (Dec.-Lei n? 425/75, de 12 de Agosto) o Tri tural Militar Revolucionaeio - dissolvido apés o "25 de Novembro" - pela Lei 2 ~33- ne 15/75, de 23 de Dezentro. $6 em SET75, apds a remoielag3o do Conselho da Revolugao, posteriar aos a- contecimentos de Tamos, 6 que foi criala a Pranotopia de Instrugao do Tri- banal Revolucionario, que 86 ent®o inicia ~ 6 meses depois - a instrugao regular dos processes do "11 de Marg’ Quer dizer, toda a actividaie incriminatGria subsequente ao "11 de Margo" @ desenvolvida e organizaia cxtra~julicialmente, numa deliberala e total conf entre a vontade politica do Poder e a acgSo Jurisdicional. Além disso, avulta, caro clemento tipico dos pericdes de violémia, a ariagdo de um tribunal especial (que seria constituido por 15 elementos, senio 14 mili tares) para julgan "os implicatos na tentativa contra-nevolucionaria de 11 de Margo de 1975", em flagrante oposigic ac principio afirmaio no Programa do MPA de nfo aceitagSo de "tribunais especiais". Como segunia caracteristica furdamental do prceesso em exame, HA que apon- tar os fins praiominantemente politicos que se preterdeu atingir através do exercicio da acttividale pré-julicial. Verifica-se especialmente essa caracteristica na natureza das prisdes efec- 1, ena sua manutengio por * tualas, quer no meio militar quer no meio civ longo tempo. a. Foram presos muitos 1 itares sem Ligacdio directa ccm os acontecimentos subver: vos, par exemplo oficiais e of iciais-alunos da Acalemia Militar. Esses militares foram detidos, essencialmente par ideias ou atituies que hes eram atribuidas, sem que existisse uma ligagdo formal com os aconte- cimentos ou una imputagic directa de vesponsabilidade nos mesnos. b. As prisdes de civis foram, essencialmente, de trés tipos: - Ex-militares milicianos ea intenvengGo directa nos acontecimentos, que estiveram presentes em Tances e que foram detidos quando procwa~ vam fugie para Espanha; ‘terminaios elementos da LP e ANP 34 anteriormente detidos e sem qual =a quer Ligagio confessada au provada com cs acontecimentos 5 ~ Elementos do meio financeiro e inlustrial, detidos can base em acusa~ g6es de Trabalhalores. Se as peimeires prisdes sio perfeitanente Ijyicas e inteiramente furla~ mentalas - como foram as prisGes dos militares directamente implicaios nos acontecimentos - 44 as sepurias sfo inquinzias de arbitrariclate e tmaduzem-se naqiela pratioa, sobejamente conhecida por todas as policias, da "priso dos suspeitos do costume". Quanto ao terceiro tipo de pistes, a sua ilepalidale e arbitrariclade sdo flagrantes ¢ reqresentam uma indtil violénia. Com efeito: ~ As acusagdes que vicram a sev conhecidas, verificaram-se julicialmente camo destituidas de furdamento; - Foram quase todas ardenalas por autoridaie njo campetente para o efei to - 0 gabinete do Primeiro Ministro; ~ 0s servicos do COPCON foram indevidamonte utilizalos, pois as acusagées formilalas constituiriam, se indicialas, delitce de direito comm, cu- ja competéneia para investigar cabia 4 Policia dudiciaia; = Apesar de tal aspecto ter sido imaiiatenente deruniaio, alguns deti- des foram mantidos lango tempo em prisSo militay antes de seem arre~ sentados aos juizos de inetrugSo criminal, e outros, contra os quais murea foi formilaia acusagiio, ficaram sujeitos a prisdo militar até 4 sua libertagio, largos meses depois. 3 ~ As queixas apresentadas revestem os soguintes aspectes: 3.1 - Queixas comns 2 militares ¢ civis a. PrisGes cfoctualas som a necess&rie apresentagao e entrega do com- petente manfato de captura ¢, em alguns casos, durante a noite. b. Tratamentos humilhantes no acto da entraia no Tarte Militar de Ca~ xdas. -35- c. Auséreia de interrogat@rios, durante pericios mais ai menos longos, apés a prisio, havendo casos de pesos Libertalos sem serem inten- rogalos nem terem processos organizalos. d. Ausémia de acusago ecnaeta, meano verbal, quer no acto da prisao que dweante esta, nos casos em que néio foram exibidos mandaios de captura tiem realizelas inquirigies. e. No parmissao de assisténcia juridica. £. Nlo parmissdo do exercicio do direitc de voto nas eleigdes para a Assembleia Constituinte. g. Congelamento de contas banc@rias. h. Graves rrejuizos mais e materiais causades a0s presos ¢ aos seus familiares ses, bem come pelo tratamento vexatiric, cu mesmo calunioso, que Passarem a tar nos comnicados divulyalos ¢ que se thes refeririam. ‘las razées publicamente invecadas para as suas pri- 3.2 - Queixas apesentalas sO por militares a. Prisdo (reventiva de 2.2 10 meses, cum periades iniciais de inoo- municabilidate que cheraram a atingir 2 meses. D. Violago das negras da hierarquia no tratamento recebido dos mili- tares em seevigo no Forte Militar de Caxias ¢ omissSo dos postos hierarqaicos no teatamento recebide dos guardas prisionais. c. Inquinigées feitas por oficiais de patente inferias & dos inqiri- dos. d. Precedimentos incoreactos do Comandante do Forte Militar de Caxias (no perialo inicial da deteng&o), quer nas suas relagdes cam os press, igncranio a graduago hicrarquics dos mesnos, nfo os visi- ‘taro € recusento auliémeias, quer estabelecendo ou parmitinto nan mas de regime prisional arbitrarias « prepotentes. - 36 - 3.3 - Qeixas amesentalas s6_ par civis a. Atitules m acto de prisdo. nconvenientes, reyrovaveis, humilhantes e até viclentas b. Busoas efectuadas a residéncias e escritérios profissionais sem que os exccutantes tivessem exibido o capetente mrdaio, nalleuns casos durante a noite e na sequainia das prisdes. ¢. Desaparecimento de objectes © valares durante as buscas. d. Prisdo preventiva de 1 dias a 6 meses, com pericdos iniciais de incomnicabilidade que chesaran a atingin 3 meses. 4 = Sobre os aspectos juridicos das queixas apresentalas, transcrevens, por eludidativas, as declaacies prestadias % Comissfio pelo Adjunto do Director dos Servigos Prisiomis Militares: "Na pe&tica, © processc seguia da seguinte forma: contacto inicial con o COPCON, uma vez que: os mandados de captura cam dai emanados. No caso de tia~se imeliatamente pana que o detido fosse inquinino ¢ definida a sua situagdo +++ No caso de OOPOOK dopa responsavei,, tinhe o Comndante Xavier (Director dos Servigos Prisio rais Militares) que se deslccar a0 S0CL, A Comissio de Inquérito ao "LL se obterem elementos itcis, insis porante o regulamento prisional scorihecer a capture cu nio ser a entidaie inuird de Margo" e a cutras comissdes. Normalmente e até porque essas comissdes, ciosas do seu sogpedo, nio farneciam as irlicagdes que Ihes eram palidas, decarria um pazo de uma cu duas semanas sem que se conhecesse o respons’, vel pela detengao. Conhocide este, insistiz-se pelo ardamento do processo, Tela inquirigi, pela comparéncia de advogilos, o que era mitas vezes re cusado, quer verbalmente quer par oficios". Por outro lalo, a proibigéo de os detidos excrcarem o direito de voto pasa a Asscmbleia Constituinte contrariou 0 estabelecido na lei eleitaral visto que nerhum dos detidos se encontrava promumiaio. Sobre as humilhagdes sofridas 4 entrada do Forte de Caxias, s&o elas con- firmalas por depoimento do Comandante, que alega a existémia de preaei- Ses regulamentares que obrigavam a que os meses se despissem, embara se- ja evidente qe a lusca ¢ revista dos detides nfo deveria ser efectuala am cordigées vexatérias . Quanto & auséncia e demara nos interrcpatérios ¢ nfo assistércia dos alvo gatos, so factos plenamente confinnaios. Note-se, parém, que a partir da altura am que se iniciou a insteugio pelos sevigos de Tromotoria de Ins- truco do ex-Tribunal Revolucionario ~ sete meses passeics sobre as deten gdes ~ camecaram a ser obsepvaiias todas as regras legais da instrugo pro cessual. A Comissao nao ultrapassou es dificuldales de acesso aos autos qe esta~ vam cm instrugio naquela Promotoria, dala a sistematica invocagdo de se encontraren om segraio de justiga, ficanto, assim, par esclarecer a razao de bastantes queixas apresentalas. Tor outro lado, a Comissio de Inquérita ao "11 de Margo", aimia n&o dissol. vida, negai-se praticamente a colabarar con esta Comissao, declarardo n3o possuir quaisquer clomentos que nos pulessem interessar, mau graio tay mantido sob sua responsabilidale, durante sete meses, mais de una centena de presos, alguns em manifesta prisdo arbitraria, fixerdo-Lhes um regime qwisional. que abrangeu longos periodos de ircammnicabilidaie. A confirmagio da arbitrarialale de, pelo meros, grande parte das prisdes e, até, da sua nula funlamentagfo, est no facto de grande nimero dos mi- Litares detidcs ¢ tolos os civis inlicatos nas duas Oitims alineas de 2b tevem sido, nfo 56 restituldos 4 Liberlale, cano ilibaios de qualquer pesponsabilidaic nos acontecimentns do "11 de Margo", A malida que a ins~ trugio do processo foi serdo efectuada par un auténtico sevigo de justi- a Bn nimeros globais foram Jetides can pretexto nos avontecimentos do "11 de Marco", 144 militares e 39 civis, além de artros nicleos difererciatos de prises, nancadamente no Forto e em Boje. Grande parte destas prisdes nado tiveram furtamento plausivel e representa, yam, na sua manutengo par prazos iniefinidos e prolongalos, uma violén- cia injustificale. -B- it Nio foi possivel a esta Comissdo detarminar o nimero exacto de autos ja ar- quivalos ai le supostos ineriminaios definitivawnte ilibutos, pois tais nimeros nfo nos foram fornecidos nem sio airda definitivos. 7 = CONCLUSOES De tudo que fico exposto @ licito concluir relativamente aos acontecimen- tos do "11 de Margo": a. Com base nos actos de sublevagio militar cca ides, desencaleou-se uma vasta acgdorepressivada qual resultou a poisdo de cerca je duas cente- ras de pessoas, uma boa parte delas sem qualquer Ligagée can os aconte~ cimentos . b. A Assenbleia do MFA, de 12MAR7S, na qual chofou a ser pelido o fuzilamen to imediato dos implicatos na sublevagio teve um papel furlamental quan- to as prisdes efectuaias. c. A ceiagio de un Tribunal Militar Revolucionaric bem cano a instituigzo 3 do Poder politico, subtrainio a instrugao dos processos aos ongaos julicifrios narmais violaram as nor de uma Camissao de Inqu@eito, depenient mas com valor constitucional do Programe do MFA e os sfios pranefpios da administragio da justiga. d. A semelhanga do que sucadeu no "28 de Setembro", a responsabilidale canpartilhada desde os mais altos escaldes que ardenaram os roced imen- tos até aos que os executaram, nestes se incluinlo, em especial, a refe vida Comissio de Inquérito. 8 - A Coniseio propée que essa responsabilidale scja apwala no processo e foro réprios. C2 ~ NO PORTO 1 - Na sequéncia dos acontecimentos em Lisboa, em 11NAR75, foram presos entre aquela data e 27MAR75, na cidade do Porto, trés individuos militares ¢ on ze civis. Todos foram detidos por ordem do Comando da Regio Militar do Norte (RMN), por suspeita de pertencerem ou colabararem com o chamao Exér cito de Libertago Portugués (ELP) que, na opiniao daquele Comando, esteve intimamente lLigedo can a organizago ¢ os implicatos nos referidos aconte- cimentos. Admite-se que terham sido efectuadas mais detengdes, pelos mesmos motivos, nfo sendo possivel referencia-las devido 4 inexisténcia de registos no Quan tel General da Regido Militar do Norte (QG/RMN) e as deficiéncias notadas nos registos do Estabelecimento Prisional do Porto (Custdias). Anota-se, a este propdsita, que a DirecgZo do Estabelecimento Prisional referido apre- sentou 4 Camissdo uma velagZo de individuos que ali estiveram presos por cordem do QG/RMN, entre 25ABR74 ¢ Q0SET75, que inclui 53 nomes ¢ em relagio & qual foram detectadas algunas anissdes ¢ deficiéncias. 1.1 ~ Dos detides em causa, doze foram conduzides para o Centro de Instru- ao de Condugao Auto do Porto (CICAP) imediatamente apds a sua deten cGo, onde, na sua maioria, foram submetidos a frequentes interrogati vios, ¢ onde parmancceram durante um perfodo de 10 a 17 dias, findo o qual. foram restitufdos 4 liberdaie dois militares e removidos para a ivis; os dois detidos restantes prisdo de Custéias um militar e nove devam entraia directamente naquele estabelecimento prisional. 1.2 - De Custdias, trés dos detidos foram restituidos 4 liberdade (cordici- onada) em 26ABR75, 24MAI75, 1MJUN7S, dois dos quais por motives de salle; ainds por motivos de sailie, um outro foi transferido para o Hospital-Prisdo de S. Jodo de Deus (Caxias) em fins de JUL75; apés a realizag&o duma manifestagao can confrontagdes, junto do QG/RMN, foi transferido para o Forte Militar de Caxias um outro detido, cuja situagio esteve na origem da referida manifestagio (27JUN75); os res. tantes foran transferidos para o mesmo forte militar em 20SEI75, por iniciativa do actual Comandante da RMN, com vista a apressar a conclu = 40 - sGo dos seus processos através do Servigo de Policia dwliciaria Mili- tar (SPUM). 2 - Foi instruido um processo pelo SPUM, a partir de mealos de 0UT75, abrangen- do treze individuss acusaios da pratica de crimes contra a seguranga exter- na ¢ interna do Estado, mais coneretamente, de pertencerem ou colabarerem com o ELP. Dos arguidos fazem parte dez dos catarze individuos referides no ne 1. 2.1 ~ Da leitura do relatGrio do processc, ressaltam claramente: a. Ligagdes de alguns dos arguidos com individuos de nacionalidade por tuguesa refugialos en Espanha apéds os acontecimentos de 28SET74, @ individuos de nacionalidaie desconhecida, aparentemente com o propésite de serem instalaios naquele Pais um cu dois emisso res de radio que cobrissem Portugal, destinalos 4 difusao de propa ganda dita anti~comunista e defensora da ideologia crist4,"da inte gridale e da indeperdéncia da Patria Portuguesa" e do coneeito cristiio tradicional da Familia. com outros b. Realizagiio de reunides em Portugal, com participagio de alguns des arguidos ¢ de individuos vindos de Espanha. Numa, realizada em fins de JAWS, foi vida uma proclamagéa do ELP ¢ referida a necessidale desta orpanizagéo, para dar cobertura e apoic aos futuros emissores, tendo sido acrescentado sar necessario que o ELP se articulasse em "oSlulas" © dispusesse duma lista cu ficheiro de antigos ccmbaten- tes do Ultraman. Neutra, realizada na mesma altura, foi novamente abordada a organizagio do ELP para cobertuna ¢ apoio dos emissores, falou-se dos seus cbjectivos e de formas de conbater o camunisno, tendo side adimtala a necessidaie de ce obterem cartas de condu- go © passaportes "em branco". c. Contactos estabelecides com dois dos arguidos, en mecdos de FEV/S, por individuss que se diziam representantes duma orgenizagao que qretendia a alianga do ELP para a exccugo dum golpe de Estato na segunda quinzena do mesmo més. A proposta nao teria sido accitc, muito embora fosse acompanhala da -41- promessa duma comparticipagao de 8UU contos para a aquisigio dos e~ missores de ratio. d. Entrega a um dos arguidos, por um emissario vindo de Esparha, pro- vavelmente entre 7 ¢ 10MAR?5, de uma pasta contendo documentos re- lativos ac ELP “para guandar". ¢. Travessia ilegal da fronteira por alguns dos anguides para tanarem pacte em reunides realizadas om Espanha cu para transportarem os emissarios vindos de 13. 2.2 - 0 referido processo ficou a aguardar produgfo de melhor prova, por des acho de 1SJAN76. Foi instruido mais um processo, pelo SAJM, contra um outro dos individuos referidos no n? 1, sob a acusagdo de ter subsidiado, com cerca de 400 contos, aquisigdo dos emissores, dinheiro que teria acabalo por ser transportaio ilegalmente para fora do Pais. 0 processo foi mandado anquivar, em 22MAR76, "por se ter verificalo nao existir matéria indiciiria susceptivel de incri- minaggo penal", Todos oc detides removillos para Caxias (Forte Militar e Hospital-Prisin de 8. Joao de Deus) foram restituidos 4 liberdale, uns na pendéneia, outros a+ Pés terem sido conclufdos os respectives processes: ~ Un em 8NOV7S © por decisdo do Gonselho da Revolugdo (trata-se do deti- do referido no n? 3). - Dois em 6DEZ75 e os cinco restantes en 23DEZ75, par deciséin do SPIM. Dos 14 individucs referidos no n? 1, quatro apresentaram expontaneamente queixa & Comissiio, quer através de depoimentos escrites envisios pelo corre’, © Gois), quar em dedaragdes que, 2 seu padido, Ihes foram tanadas (dois); quatro faram convocaios para prestar declaragées, no decurso das quais apre- sentanam queixas, convocagao que decorreu do facto do SPUM ter envialo 3 Co- miss&o elementos constantes dos autos que censiderou como contendo matéria do @mbito da competéncia desta; quatro no foram cuvidos nem enviaran depoi, = 42 = mentos escritos, mas foram consideraias as queixas referidas nas exposicées eseritas que apresentaram, a padido do Comandante do Forte Militar de Caxi- as, enquanto ali estiveram presos; dois foram considerados por ter sido re- cebida, do Q6/RM!, fotocdpia parcial de um auto de corpo de delito por de- sergao que refere mat@ria do ambito da canpeténeia da Comissao, quer rela- tivamente ao arguido, quer relativamente a uma testemunha (dois dos trés militares refarides no n? 1). §.1 ~ As queixas apresentaias revestan os sequintes aspectos: a Detengdes ofectuadas sem a necessfnia apresentagdo e entrega ao de. ‘ttido do ccmpetente mandalo de captura. Buscas cfectualas a residéncias sem terem os executantes exibido © competente maniado. Atitules inconvenicntes, ou mesmo reproviveis, no acto das deten~ gGes, tais com aneaga de arms nio justificala, nio permissio de contactos telefGnicos dos individuos a deter com as respecti- vas familias, entrada nas residéncias dos individuos a deter, du- rante a noite, sem justificagZo e com aparato despropositato. Reousa de identificagéio ou deficiente identificagio dos captores € imlicag’o muito vaga, quando n&o omissie, dos motives da deten- So, da entidadte que a determinara e do local de destino reserva- do aos detites. Longo periodo inicial de detengdo para interrogatériv, mums uw de militar - CICAP - em isolamento completo do exterior e em ambi. ente de franca hostilidale por parte dos militares encarregaios da guarda, vigilancia e controlo dos detidos. Repetidos interrogatGrios, efectuados predominantemente de noite, com utilizagao de mitodes de provocagao, intimidagao e ameaga (de morte, utilizande armas de fogo apontaias acs interrogados, de julgamento em "tribunal revolucionfrio" e de entrega ao "poder po pular"), de insultos e de agressdes fisicas, durante a fase de deteng3o para internogatérios (CICAP).

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